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Cora Coralina_ 10 poemas essenciais para compreender a autora - Cultura Genial

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03/05/2019 Cora Coralina: 10 poemas essenciais para compreender a autora - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/ 1/15
Literatura Poesia/
Cora Coralina: 10 poemas essenciais para
compreender a autora
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Ana Lins dos Guimarães Peixoto (20 de agosto de 1889 - 10 de abril de 1985) era o nome de
batismo da poeta Cora Coralina, uma brasileira que começou a publicar os seus trabalhos
quando tinha apenas 76 anos.
Em termos literários, é espantoso como uma mulher que cursou até a terceira série do curso
primário tenha criado versos tão preciosos.
Para ganhar a vida, Cora Coralina trabalhou como doceira enquanto levava a escrita como
um hobby paralelo. A poeta chegou a ser convidada para participar da Semana de Arte
Moderna, mas não pode se juntar aos seus pares devido às limitações impostas pelo marido.
Sua poética é baseada numa escrita do cotidiano, das miudezas, e é caracterizada por uma
delicadeza e por uma sabedoria de quem passou pela vida e observou cada detalhe do
caminho. Em resumo: a lírica de Cora é impregnada da história que a doceira viveu.
Apesar do início tardio na carreira literária, Cora Coralina é dona de uma produção
consistente e tornou-se uma das mais celebradas poetas do país. Seus versos ganharam fãs
mundo afora e a lírica goiana, sutil e ao mesmo tempo poderosa, vem sendo cada vez mais
divulgada.
1. Aninha e Suas Pedras
Não te deixes destruir…Não te deixes destruir… 
Ajuntando novas pedrasAjuntando novas pedras 
e construindo novos poemas.e construindo novos poemas. 
Recria tua vida, sempre, sempre.Recria tua vida, sempre, sempre. 
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. 
Faz de tua vida mesquinhaFaz de tua vida mesquinha 
um poema.um poema. 
03/05/2019 Cora Coralina: 10 poemas essenciais para compreender a autora - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/ 2/15
E viverás no coração dos jovensE viverás no coração dos jovens 
e na memória das gerações que hão de vir.e na memória das gerações que hão de vir. 
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.Esta fonte é para uso de todos os sedentos. 
Toma a tua parte.Toma a tua parte. 
Vem a estas páginasVem a estas páginas 
e não entraves seu usoe não entraves seu uso 
aos que têm sede.aos que têm sede.
Um dos poemas mais conhecidos de Cora é Aninha e Suas Pedras. Nele vemos um eu-lírico
disposto a dar conselhos ao leitor, criando com a audiência um espaço de intimidade e
partilha.
A linguagem informal e coloquial pode ser percebida no tom de oralidade da escrita. Os
verbos no imperativo sugerem quase uma ordem (recria-remove-recomeça-faz), sublinhando
a importância daquilo que se diz e a necessidade de se seguir em frente.
O poema aborda com frontalidade a questão da resiliência e a urgência de tentar outra vez
quando o plano não deu certo, mesmo que pareça não haver mais forças.
Confira o poema Aninha e Suas Pedras recitado:
2. Saber Viver
03/05/2019 Cora Coralina: 10 poemas essenciais para compreender a autora - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/ 3/15
Não sei…Não sei… 
se a vida é curtase a vida é curta 
ou longa demais para nós.ou longa demais para nós. 
Mas sei que nada do que vivemosMas sei que nada do que vivemos 
tem sentido,tem sentido, 
se não tocarmos o coração das pessoas.se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:Muitas vezes basta ser: 
colo que acolhe,colo que acolhe, 
braço que envolve,braço que envolve, 
palavra que conforta,palavra que conforta, 
silêncio que respeita,silêncio que respeita, 
alegria que contagia,alegria que contagia, 
lágrima que corre,lágrima que corre, 
olhar que sacia,olhar que sacia, 
amor que promove.amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:E isso não é coisa de outro mundo: 
é o que dá sentido à vida.é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que elaÉ o que faz com que ela 
não seja nem curta,não seja nem curta, 
nem longa demais,nem longa demais, 
mas que seja intensa,mas que seja intensa, 
verdadeira e pura…verdadeira e pura… 
enquanto durar.enquanto durar.
Os versos acima celebram antes de tudo a comunhão, a partilha, o viver em comunidade.
A vocação principal do poema é sublinhar a importância da vida em conjunto, do afetar e
do deixar ser afetado pelo outro. É desse encontro que surge o que há de mais precioso na
vida.
Os versos nos ensinam a estarmos uns para os outros: a ouvir, a enxergar, a identificar a
necessidade de quem está ao nosso lado e muitas vezes passa despercebido. Ao invés de
olharmos para nós mesmos, o poema nos estimula a olhar para a fora e a ir de encontro ao
outro.
03/05/2019 Cora Coralina: 10 poemas essenciais para compreender a autora - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/ 4/15
Cora sabiamente conclui em Saber Viver que só faz sentido existir e estarmos aqui se for para
aproveitarmos a companhia que temos.
Confira esse belíssimo poema recitado por Juca de Oliveira:
3. Mulher da Vida
Mulher da Vida,Mulher da Vida, 
Minha irmã.Minha irmã. 
De todos os tempos.De todos os tempos. 
De todos os povos.De todos os povos. 
De todas as latitudes.De todas as latitudes. 
Ela vem do fundo imemorial das idadesEla vem do fundo imemorial das idades 
e carrega a carga pesadae carrega a carga pesada 
dos mais torpes sinônimos,dos mais torpes sinônimos, 
apelidos e ápodos:apelidos e ápodos: 
Mulher da zona,Mulher da zona, 
Mulher da rua,Mulher da rua, 
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Mulher perdida,Mulher perdida, 
Mulher à toa.Mulher à toa. 
Mulher da vida,Mulher da vida, 
Minha irmã.Minha irmã.
Mulher da Vida - o título do poema - é uma expressão informal que se usa de modo
costumeiro para nomear as prostitutas. Ao invés de lançar sobre essas mulheres um olhar
contaminado de preconceito e distanciamento, o que o eu-lírico faz é sublinhar a comunhão
que estabelece com ela.
Nem o eu-lírico nem a mulher da vida são nomeados no poema. Quando diz "Mulher da Vida,
minha irmã", Cora destaca o que há de empatia e senso de união entre as duas: apesar de
terem escolhidos caminhos distintos são irmãs, parceiras, desejam o bem uma a outra.
Conhecida como a profissão mais antiga do mundo (e os versos retratam essa ancestralidade
quando afirmam "Ela vem do fundo imemorial das idades"), as prostitutas são identificadas
no poema também pelo lugar onde estão: na zona, na rua.
Apesar de estarem em espaços distintos e possuírem condutas diferentes, as duas
personagens são identificadas a partir do que têm em comum, o fato de serem mulheres.
4. Ofertas de Aninha (Aos moços)
Eu sou aquela mulherEu sou aquela mulher 
a quem o tempoa quem o tempo 
muito ensinou.muito ensinou. 
Ensinou a amar a vida.Ensinou a amar a vida. 
Não desistir da luta.Não desistir da luta. 
Recomeçar na derrota.Recomeçar na derrota. 
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.Renunciar a palavras e pensamentos negativos. 
Acreditar nos valores humanos.Acreditar nos valores humanos. 
Ser otimista.Ser otimista. 
Creio numa força imanenteCreio numa força imanente 
que vai ligando a família humanaque vai ligando a família humana 
numa corrente luminosanuma corrente luminosa 
de fraternidade universal.de fraternidade universal. 
Creio na solidariedade humana.Creio na solidariedade humana. 
Creio na superação dos errosCreio na superação dos erros 
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e angústiasdo presente.e angústias do presente. 
Acredito nos moços.Acredito nos moços. 
Exalto sua confiança,Exalto sua confiança, 
generosidade e idealismo.generosidade e idealismo. 
Creio nos milagres da ciênciaCreio nos milagres da ciência 
e na descoberta de uma profilaxiae na descoberta de uma profilaxia 
futura dos erros e violênciasfutura dos erros e violências 
do presente.do presente. 
Aprendi que mais vale lutarAprendi que mais vale lutar 
do que recolher dinheiro fácil.do que recolher dinheiro fácil. 
Antes acreditar do que duvidar.Antes acreditar do que duvidar.
O poema acima se constrói com base na afirmação de uma identidade: ao longo dos versos
vemos o eu-lírico destacar aquilo que se tornou.
O poema contempla ao mesmo tempo três tempos: o passado, onde adquiriu as
experiências, o presente, onde declara com orgulho ser aquilo que é, e o futuro, onde está
aquilo que deseja se tornar.
Com uma construção muito simples e um desejo de se aproximar o máximo possível do
leitor, encontramos um eu-lírico honesto e despido de vergonhas, que reflete sobre os
rumos que a sua vida tomou. Com uma postura sempre solar e otimista, os versos nos
incitam a sermos criaturas melhores.
A autora sublinha em Ofertas de Aninha (Aos moços) - e de modo geral ao longo de toda a sua
poética - a necessidade de ser resiliente, de perseverar, de tentar outra vez.
5. Becos de Goiás
Becos da minha terra...Becos da minha terra... 
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.Amo tua paisagem triste, ausente e suja. 
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa. 
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio. 
E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia,E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia, 
e semeias polmes dourados no teu lixo pobre,e semeias polmes dourados no teu lixo pobre, 
calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo.calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo.
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Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,Amo a prantina silenciosa do teu fio de água, 
Descendo de quintais escusos sem pressa,Descendo de quintais escusos sem pressa, 
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.e se sumindo depressa na brecha de um velho cano. 
Amo a avenca delicada que renasceAmo a avenca delicada que renasce 
Na frincha de teus muros empenados,Na frincha de teus muros empenados, 
e a plantinha desvalida de caule molee a plantinha desvalida de caule mole 
que se defende, viceja e floresceque se defende, viceja e floresce 
no agasalho de tua sombra úmida e caladano agasalho de tua sombra úmida e calada
Os versos acima foram retirados de um poema mais extenso presente no livro Os Poemas dos
Becos de Goiás e Estórias Mais, publicado em 1965.
O poema é um elogio à terra de Cora Coralina e pretende fazer um retrato da paisagem com
um olhar apurado e voltado para o detalhe. O registro honesto contempla o bem e o mal: a
umidade, o lodo, mas também o sol e a vitalidade representada pela avenca que renasce.
Os versos se encaminham do pequeno para o grande, do detalhe para a paisagem ampla,
basta observar como o fio de água corre e logo parece se perder na perspetiva, dando lugar à
visão do cano velho.
Com uma escrita visceral, Cora chama a atenção para aquilo que habitualmente achamos
feio e que passa despercebido: os muros empenados, a planta quase morta com o caule
mole.
Aqui também vemos impressa uma característica forte da lírica da poeta goiana: apesar da
paisagem inóspita, existe um desejo de resistência, de perseverança, ou como diria Cora, de
se defender, vicejar e florecer.
6. Meu Destino
Nas palmas de tuas mãosNas palmas de tuas mãos 
leio as linhas da minha vida.leio as linhas da minha vida. 
Linhas cruzadas, sinuosas,Linhas cruzadas, sinuosas, 
interferindo no teu destino.interferindo no teu destino. 
Não te procurei, não me procurastes –Não te procurei, não me procurastes – 
íamos sozinhos por estradas diferentes.íamos sozinhos por estradas diferentes. 
Indiferentes, cruzamosIndiferentes, cruzamos 
Passavas com o fardo da vida…Passavas com o fardo da vida… 
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Corri ao teu encontro.Corri ao teu encontro. 
Sorri. Falamos.Sorri. Falamos. 
Esse dia foi marcadoEsse dia foi marcado 
com a pedra brancacom a pedra branca 
da cabeça de um peixe.da cabeça de um peixe. 
E, desde então, caminhamosE, desde então, caminhamos 
juntos pela vida…juntos pela vida…
Meu Destino é, antes de tudo, um poema de um amor sereno, bem sucedido e duradouro. Os
versos são um retrato da vida antes, durante e depois do encontro com o parceiro.
Nos quatro primeiros versos vemos o casal já junto: as linhas das mãos, o destino dos
amantes se confundindo, a vida de um se misturando com a do outro. Depois parece haver
um recuar no tempo e somos transportados para um tempo em que os dois ainda não se
conheciam.
Por mero acaso, aparentemente, as vidas se cruzam, e ela vai em direção ao amado. O
encontro que é descrito por dois verbos singelos: "Sorri. Falamos.". Tudo é narrado com
profunda naturalidade e parece que o destino do casal foi todo encaminhado de modo aos
dois ficarem juntos para sempre.
7. Ressalva
Este livro foi escritoEste livro foi escrito 
por uma mulherpor uma mulher 
que no tarde da Vidaque no tarde da Vida 
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recria a poetiza sua própriarecria a poetiza sua própria 
Vida.Vida.
Este livroEste livro 
foi escrito por uma mulherfoi escrito por uma mulher 
que fez a escalada da que fez a escalada da 
Montanha da VidaMontanha da Vida 
removendo pedrasremovendo pedras 
e plantando flores.e plantando flores.
Este livro:Este livro: 
Versos... Não.Versos... Não. 
Poesia... Não.Poesia... Não. 
Um modo diferente de contar velhas estórias.Um modo diferente de contar velhas estórias.
Os versos acima inauguram o livro Poemas dos Becos de Goiás e Estorias Mais, lançado pela
primeira vez em 1965. Trata-se de um poema profundamente autobiográfico e metapoético,
que descortina os bastidores da escrita. Cora Coralina publicou o seu primeiro livro de poesia
quando tinha já certa idade - para ser mais precisa a poeta possuía 76 anos na época -, o que
fica claro nos primeiros versos de Ressalva.
A experiência de vida marca a poética de Cora e fica clara também nos versos acima.
Notamos rapidamente que as palavras foram escritas por alguém com profunda vivência e
que se aproveitou do tempo para colher sabedoria.
Em Ressalva encontramos uma metaliteratura, isto é, um texto que fala sobre si mesmo, que
olha para dentro, para o seu próprio conteúdo, e o comenta. No poema o eu-lírico diz aquilo
que pensa sobre a própria criação: não são versos nem poesia, é "um modo diferente de
contar velhas estórias".
8. Todas as Vidas
Vive dentro de mimVive dentro de mim 
uma cabocla velhauma cabocla velha 
de mau-olhado,de mau-olhado, 
acocorada ao pé do borralho,acocorada ao pé do borralho, 
olhando para o fogo.olhando para o fogo. 
Benze quebranto.Benze quebranto. 
Bota feitiço...Bota feitiço... 
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Ogum. Orixá.Ogum. Orixá. 
Macumba, terreiro.Macumba, terreiro. 
Ogã, pai de santo...Ogã, pai de santo...
Vive dentro de mimVive dentro de mim 
a lavadeira do Rio Vermelho.a lavadeirado Rio Vermelho. 
Seu cheiro gostosoSeu cheiro gostoso 
d'água e sabão.d'água e sabão. 
Rodilha de pano.Rodilha de pano. 
Trouxa de roupa,Trouxa de roupa, 
pedra de anil.pedra de anil. 
Sua coroa verde de são-caetano.Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mimVive dentro de mim 
a mulher cozinheira.a mulher cozinheira. 
Pimenta e cebola.Pimenta e cebola. 
Quitute benfeito.Quitute benfeito. 
Panela de barro.Panela de barro. 
Taipa de lenha.Taipa de lenha. 
Cozinha antigaCozinha antiga 
toda pretinha.toda pretinha. 
Bem cacheada de picumã.Bem cacheada de picumã. 
Pedra pontuda.Pedra pontuda. 
Cumbuco de coco.Cumbuco de coco. 
Pisando alho-sal.Pisando alho-sal.
Vive dentro de mimVive dentro de mim 
a mulher do povo.a mulher do povo. 
Bem proletária.Bem proletária. 
Bem linguaruda,Bem linguaruda, 
desabusada, sem preconceitos,desabusada, sem preconceitos, 
de casca-grossa,de casca-grossa, 
de chinelinha,de chinelinha, 
e filharada.e filharada.
Vive dentro de mimVive dentro de mim 
a mulher roceira.a mulher roceira. 
- Enxerto da terra,- Enxerto da terra, 
meio casmurra.meio casmurra. 
Trabalhadeira.Trabalhadeira. 
Madrugadeira.Madrugadeira. 
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Analfabeta.Analfabeta. 
De pé no chão.De pé no chão. 
Bem parideira.Bem parideira. 
Bem criadeira.Bem criadeira. 
Seus doze filhosSeus doze filhos 
Seus vinte netos.Seus vinte netos.
Vive dentro de mimVive dentro de mim 
a mulher da vida.a mulher da vida. 
Minha irmãzinha...Minha irmãzinha... 
Fingindo alegre seu triste fado.Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:Todas as vidas dentro de mim: 
Na minha vida -Na minha vida - 
a vida mera das obscuras.a vida mera das obscuras.
Todas as Vidas é dos poemas mais celebrados de Cora Coralina. Ao longo dos versos vemos a
questão da identidade como um dos norteadores da lírica da poeta goiana.
Observamos também como as imagens do cotidiano e os pequenos objetos são elencados
ao longo dos versos e ajudam a caracterizar as personagens que o eu-lírico deseja ilustrar. A
chinelinha, por exemplo, é um símbolo da mulher do povo que nos auxilia a visualizar com
mais precisão essa personagem.
Ao falar da sua própria identidade, Cora acaba abordando a complexa identidade das
mulheres que viveram entre o final do século XIX e o princípio do século XX no Brasil. Criadas
para serem esposas e mães, muitas abandoram a escola (caso de Cora, que cursou apenas
até a terceira série do curso primário) e ficaram inteiramente voltadas para a vida familiar.
Em Todas as Vidas, no entanto, vemos que as mulheres vão muito além daquilo que havia
sido planejado para elas. Na leitura dos versos vemos a maestria de uma mulher que não
desistiu do mundo da literatura, muito embora tenha sido profundamente estimulada a
abandonar esse caminho. Com uma linguagem simples e marcada pela oralidade, Cora em
Todas as Vidas abarca as suas múltiplas facetas.
9. Cora Coralina, Quem É Você?
Sou mulher como outra qualquer.Sou mulher como outra qualquer. 
Venho do século passadoVenho do século passado 
03/05/2019 Cora Coralina: 10 poemas essenciais para compreender a autora - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/ 12/15
e trago comigo todas as idades.e trago comigo todas as idades.
Nasci numa rebaixa de serraNasci numa rebaixa de serra 
entre serras e morros.entre serras e morros. 
"Longe de todos os lugares"."Longe de todos os lugares". 
Numa cidade de onde levaramNuma cidade de onde levaram 
o ouro e deixaram as pedras.o ouro e deixaram as pedras.
Junto a estas decorreramJunto a estas decorreram 
a minha infância e adolescência.a minha infância e adolescência.
Aos meus anseios respondiamAos meus anseios respondiam 
as escarpas agrestes.as escarpas agrestes. 
E eu fechada dentroda imensa serraniaE eu fechada dentroda imensa serrania 
que se azulava na distânciaque se azulava na distância 
longínqua.longínqua.
Numa ânsia de vida eu abriaNuma ânsia de vida eu abria 
o vôo nas asas impossíveiso vôo nas asas impossíveis 
do sonho.do sonho.
Venho do século passado.Venho do século passado. 
Pertenço a uma geraçãoPertenço a uma geração 
ponte, entre a libertaçãoponte, entre a libertação 
dos escravos e o trabalhador livre.dos escravos e o trabalhador livre. 
Entre a monarquiaEntre a monarquia 
caída e a repúblicacaída e a república 
que se instalava.que se instalava.
Todo o ranço do passado eraTodo o ranço do passado era 
presente.presente. 
A brutalidade, a incompreensão,A brutalidade, a incompreensão, 
a ignorância, o carrancismo.a ignorância, o carrancismo.
Os versos acima fazem parte do extenso e fundamental poema Cora Coralina, Quem É Você?.
No decorrer da criação vemos um retrato do contexto histórico e cultural que proporcionou
o nascimento dessa grande poeta.
Ficamos conhecendo desde o seu contexto familiar específico como também as dificuldades
que enfrentou para conseguir estudar. Revisitamos inclusive a condição política do país,
marcado por um momento de transição.
03/05/2019 Cora Coralina: 10 poemas essenciais para compreender a autora - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/ 13/15
Conforme avançamos nos versos, descobrimos não só o percurso pessoal de Ana Lins dos
Guimarães Peixoto ao longo dos diversos períodos da sua vida (infância, adolescência, vida
adulta e velhice), como também desvendamos os hábitos da sua região, no interior do Brasil.
10. Assim Eu Vejo a Vida
A vida tem duas faces:A vida tem duas faces: 
Positiva e negativaPositiva e negativa 
O passado foi duroO passado foi duro 
mas deixou o seu legadomas deixou o seu legado 
Saber viver é a grande sabedoriaSaber viver é a grande sabedoria 
Que eu possa dignificarQue eu possa dignificar 
Minha condição de mulher,Minha condição de mulher, 
Aceitar suas limitaçõesAceitar suas limitações 
E me fazer pedra de segurançaE me fazer pedra de segurança 
dos valores que vão desmoronando.dos valores que vão desmoronando. 
Nasci em tempos rudesNasci em tempos rudes 
Aceitei contradiçõesAceitei contradições 
lutas e pedraslutas e pedras 
como lições de vidacomo lições de vida 
e delas me sirvoe delas me sirvo 
Aprendi a viver.Aprendi a viver.
O poema, autobiográfico, narra as lutas e dificuldades vividas por essa mulher madura. É
como se Cora Coralina, já no final da vida, olhasse para trás e refletisse sobre os caminhos
que escolheu ao longo do percurso.
Em Assim Eu Vejo a Vida é sublinhada a capacidade de superação, de resiliência e a força
para superar os obstáculos. O eu-lírico observa o seu princípio - os "tempos rudes" - e
pondera as decisões que tomou até chegar onde chegou. Até em situações más, o sujeito
poético consegue extrair algo bom: "o passado foi duro, mas deixou o seu legado".
As pedras, que o eu-lírico menciona, são o símbolo da adversidade. Elas têm um significado
ao mesmo tempo positivo e negativo: por um lado são terríveis porque atravancam o
caminho e provocam sofrimento, por outro são essenciais porque servem como lição de vida
e aprendizado.
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03/05/2019 Cora Coralina: 10 poemas essenciais para compreender a autora - Cultura Genial
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Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela
Universidade Federal do Rio deJaneiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).
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