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CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Thiago Pires do Carmo Gonçalves SÃO JOÃO DEL REI – MINAS GERAIS 2018 ANÁLISE DE CICLOS TERMODINÂMICOS PARA RECUPERAÇÃO DE CALOR RESIDUAL DE UM FORNO SIDERÚRGICO THIAGO PIRES DO CARMO GONÇALVES ANÁLISE DE CICLOS TERMODINÂMICOS PARA RECUPERAÇÃO DE CALOR RESIDUAL DE UM FORNO SIDERÚRGICO Trabalho apresentado como requisito parcial para a Conclusão do Curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de São João Del Rei. COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________________ Prof. Dr. Flávio Neves Teixeira Universidade Federal de São João Del Rei ______________________________________ Prof. Dr. José Antônio da Silva Universidade Federal de São João Del Rei ______________________________________ Prof. Dr. Luiz Gustavo Monteiro Guimarães Universidade Federal de São João Del Rei São João Del Rei, ____ de____________ de 20__ DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha mãe Maria Doralice Pires do Carmo, meu pai Alfeu Guimarães Gonçalves, meu irmão Vinícius Pires do Carmo Gonçalves, minhas irmãs Nathalia Pires do Carmo Gonçalves e Thalita Pires do Carmo Morais e a minha namorada Estefany da Silva Esteves. AGRADECIMENTOS Ao professor Dr. Flávio Neves Teixeira por aceitar fazer esse tcc sob sua orientação, seu apoio e confiança no meu trabalho e sua habilidade para guiar minhas ideias tem sido uma contribuição inestimável, graças a sua guia e o conhecimento adquirido durante o desenvolvimento de meu trabalho hoje posso me sentir um melhor profissional. À minha família, pelo apoio e confiança, e em especial a minha mãe e meu pai por ser o motor pelo qual dia a dia quero chegar a ser melhor pessoa. Aos meus amigos Pedro Campos Ferreira pelos conselhos e a Guilherme Oliveira Godtfredsen por me dar suporte por não estar morando em São João del Rei. A minha namorada pelo amor, carinho, confiança, compreensão, apoio e cobranças que me foi dado. GONÇALVES, Thiago Pires do Carmo. Análise de ciclos termodinâmicos para recuperação de calor residual de um forno siderúrgico. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Engenharia Mecânica. Universidade Federal de São João Del Rei, 2018. RESUMO Este trabalho apresenta uma análise de diferentes ciclos termodinâmicos para a recuperação de calor residual de um forno siderúrgico. O objetivo foram o estudo paramétrico das variáveis com maior influência sobre a geração de potência e uma comparação da performance. A análise compreendeu o os ciclos Kalina KCS11, Rankine e Rankine orgânico na recuperação de calor dos gases de processos de um forno EOF de 30/35 t. Foi realizada a modelagem termodinâmica dos ciclos no software Engineering Equation Solver® (EES), contendo os balanços de massa e de energia. O estudo paramétrico foi realizado para demonstrar o impacto da pressão de entrada na turbina na performance dos ciclos. O ciclo Rankine foi o que apresentou melhores resultados, com uma potência líquida de 2981 KW e eficiência de 32,83 %, seguido do ciclo Kalina com potência líquida de 2786 KW e eficiência de 30,68%. Palavras-chave: Ciclos termodinâmicos; Ciclo Kalina; Ciclo Rankine; Calor Residual GONÇALVES, Thiago Pires do Carmo. Analysis of thermodynamic cycles for recovery of residual heat from a steel furnace. Monograph for the Bachelor Degree in Mechanics Engineering. Federal University São João Del Rei, 2018. ABSTRACT This work presents an analysis of different thermodynamic cycles for the recovery of residual heat from a steel furnace. The objective was the parametric study of the variables with the greatest influence on power generation and performance comparison. The analysis comprised the Kalina KCS11, Rankine and Organic Rankine cycles in the gas heat recovery process of an EOF furnace of 30/35 t. The thermodynamic modeling of the cycles was performed in Engineering Equation Solver® (EES) software, containing mass and energy balances. The parametric study was performed to demonstrate the impact of the input pressure on the turbine in the performance of the cycles. The Rankine cycle presented the best results, with a net power of 2981 KW and efficiency of 32.83%, followed by the Kalina cycle with net power of 2786 KW and efficiency of 30.68%. Key Words: Thermodynamic cycle; Kalina cycle; Rankine cycle; Residual heat. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Geração de gás de processo EOF 30/35 t-SLR Metaliks............ 14 Tabela 2 - Energia térmica do gás de processo........................................... 14 Tabela 3 - Equações referente aos componentes do ciclo Rankine............ 22 Tabela 4 - Equações referente aos componentes do ciclo Kalina................ 23 Tabela 5 - Equações globais dos ciclos........................................................ 23 Tabela 6 - Variáveis do ciclo Rankine........................................................... 24 Tabela 7 - Variáveis do ciclo Kalina.............................................................. 24 Tabela 8 - Resultado do estudo paramétrico................................................ 29 Tabela 9 - Resultado encontrado nas otimizações....................................... 30 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Classificação das tecnologias RCR............................................. 2 Figura 2 - Esquema de um ciclo vapor e diagrama T-S isentrópico............ 6 Figura 3 - Ciclo Rankine orgânico................................................................ 7 Figura 4 - Esquema de um ciclo Kalina 11 (KCS11) ................................... 9 Figura 5 - Modelo 3D do reator EOF............................................................ 11 Figura 6 - Processo de ebulição da mistura amônia-água........................... 16 Figura 7 - Perfis de temperatura entre fonte quente e o fluido de trabalho nos ciclos Rankine e Kalina......................................................... 16 Figura 8 - Painel de configuração dos parâmetros do método genético no EES.............................................................................................. 20 Figura 9 - Esquema básico de um ciclo Rankine......................................... 22 Figura 10 - Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P6 no ciclo KCS11.......... 26 Figura 11 - Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P3 no ciclo Rankine.......... 27 Figura 12 - Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P3 no ciclo ORC usando amônia......................................................................................... 28 Figura 13 - Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P3 no ciclo ORC usando P-Xyleno...................................................................................... 28 Figura 14 - Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P3 no ciclo ORC usando SES36.......................................................................................... 29 LISTADE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS Siglas e Abreviações EES- Engineering Equation Solver EOF- Energy Optimizing Furnace KCS-Kalina Cycle System ORC- Organic Rankine Cycle RCR-Recuperador de Calor Residual SLG- Sistema de Limpeza dos Gases Lista de Simbolos �̇� - Vazão mássica (kg/s) �̇� - Taxa de transferência de calor (kW) �̇� - Taxa de transferência de trabalho (kW) h - Entalpia específica (kJ/kg) v - Volume específico (m³/kg) x - Fração massica de amônia η - Eficiência f - Função objetivo X - Variável independente da função objetivo a - coeficiente da função objetivo b - coeficiente da função objetivo c - coeficiente da função objetivo Subscritos 1,2...n - Referente ao estado 1,2...n ent - Referente à entrada do ciclo ou equipamento sai - Referente à saída do ciclo ou equipamento bomba - Referente à bomba turb - Referente à turbina liq - líquido s - Isentrópico ciclo – Referente ao ciclo LISTA DE EQUAÇÕES (3.1) - ∑ �̇�𝑒𝑛𝑡 = ∑ �̇�𝑠𝑎𝑖.............................................................................. 18 (3.2) - �̇� − �̇� = ∑ �̇�𝑠𝑎𝑖 ℎ𝑠𝑎𝑖 − ∑ �̇�𝑒𝑛𝑡 ℎ𝑒𝑛𝑡.................................................. 18 (3.3) - η = 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑙𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎⁄ ...................... 18 (3.4) - 𝑓 = 𝑎𝑋2 + 𝑏𝑋 + 𝑐............................................................................ 22 (4.1) - �̇�1 = �̇�2......................................................................................... 22 (4.2) - �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = �̇�1 ∗ (ℎ2 − ℎ1)................................................................. 22 (4.3) - �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = �̇�1 ∗ 𝑣1 ∗ (𝑃2 − 𝑃1)/η𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎.............................................. 22 (4.4) - η𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = (ℎ2𝑠−ℎ1) (ℎ2−ℎ1) ............................................................................. 22 (4.5) - �̇�2 = �̇�3......................................................................................... 22 (4.6) - �̇�𝑒𝑛𝑡 = �̇�2 ∗ (ℎ3 − ℎ2)..................................................................... 22 (4.7) - �̇�3 = �̇�4......................................................................................... 22 (4.8) - �̇�𝑡𝑢𝑟𝑏 = �̇�3 ∗ (ℎ3 − ℎ4)................................................................... 22 (4.9) - η𝑡𝑢𝑟𝑏 = (ℎ3−ℎ4) (ℎ3−ℎ4𝑠) ................................................................................ 22 (4.10) - �̇�4 = �̇�1......................................................................................... 22 (4.11) - �̇�𝑠𝑎𝑖 = �̇�1 ∗ (ℎ4 − ℎ1)...................................................................... 22 (4.12) - �̇�1 = �̇�2......................................................................................... 23 (4.13) - �̇�𝑠𝑎𝑖 = �̇�1 ∗ (ℎ1 − ℎ2)...................................................................... 23 (4.14) - �̇�1 = �̇�2......................................................................................... 23 (4.15) - �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = �̇�2 ∗ (ℎ3 − ℎ2) ............................... ............................... 23 (4.16) - �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = �̇�2 ∗ 𝑣2 ∗ (𝑃3 − 𝑃2)/η𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎............................................. 23 (4.17) - η𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = (ℎ3𝑠−ℎ2) (ℎ3−ℎ2) ............................................................................. 23 (4.18) - �̇�7 = �̇�8......................................................................................... 23 (4.19) - �̇�3 = �̇�4......................................................................................... 23 (4.20) - �̇�7 ∗ (ℎ7 − ℎ8) = �̇�3 ∗ (ℎ4 − ℎ3) ............................... .................... 23 (4.21) - �̇�4 = �̇�5......................................................................................... 23 (4.22) - �̇�𝑒𝑛𝑡 = �̇�4 ∗ ℎ5 − ℎ4........................................................................ 23 (4.23) - �̇�5 = �̇�6 + �̇�7................................................................................ 23 (4.24) - �̇�5 ∗ ℎ5 = �̇�6 ∗ ℎ6 + �̇�7 ∗ ℎ7) ............................... .......................... 23 (4.25) - �̇�8 = �̇�9......................................................................................... 23 (4.26) - ℎ8 = ℎ9........................................................................................... 23 (4.27) - �̇�6 = �̇�10........................................................................................ 23 (4.28) - �̇�𝑡𝑢𝑟𝑏 = �̇�6 ∗ (ℎ6 − ℎ10) ............................... ................................ 23 (4.29) - η𝑡𝑢𝑟𝑏 = (ℎ6−ℎ10) (ℎ6−ℎ10𝑠) .............................................................................. 23 (4.30) - �̇�9 + �̇�10 = �̇�1............................................................................... 23 (4.31) - �̇�9 ∗ ℎ9 + �̇�10 ∗ ℎ10 = �̇�1 ∗ ℎ1......................................................... 23 (4.32) - �̇�𝑒𝑛𝑡 − �̇�𝑠𝑎𝑖 = �̇�𝑙𝑖𝑞........................................................................... 23 (4.33) - �̇�𝑙𝑖𝑞 = �̇�𝑡𝑢𝑟𝑏 − �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎................................................................... 23 (4.34) - η𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 = �̇�𝑙𝑖𝑞 �̇�𝑒𝑛𝑡 ⁄ ............................................................................ 23 SUMÁRIO RESUMO iv ABSTRACT v LISTA DE TABELAS vi LISTA DE FIGURAS vii LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS viii LISTA DE EQUAÇÕES ix 1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 01 1.1 Apresentação......................................................................................... 01 1.2 Objetivo.................................................................................................. 02 1.2.1 Objetivos específicos............................................................................... 03 1.3 Motivação............................................................................................... 03 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................... 05 2.1 Ciclos de Potência................................................................................. 05 2.2 Ciclo Rankine......................................................................................... 05 2.3 Rankine Orgânico.................................................................................. 07 2.4 Ciclo Kalina............................................................................................ 08 2.4.1 Ciclo Kalina 11 (KCS11) .......................................................................... 09 2.5 Energy Optimizing Furnace.................................................................. 10 2.5.1 Operação do EOF.................................................................................... 13 3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS................................................................. 15 3.1 Fluido de Trabalho................................................................................. 15 3.2 Balanço de Energia e Massa................................................................. 17 3.3 Método Genético................................................................................... 19 3.4 Aproximação Quadrática..................................................................... 21 4 METODOLÓGIA..................................................................................... 22 4.1 Modelagem Termodinâmica dos Equipamentos................................. 22 4.2 Otimização.............................................................................................23 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................ 25 5.1 Estudo Paramétrico............................................................................... 25 5.1.1 Ciclo KCS11............................................................................................ 25 5.1.2 Ciclo Rankine.......................................................................................... 26 5.1.3 Ciclo ORC................................................................................................ 27 5.2 Estudo Comparativo............................................................................. 29 5.3 Resultados das Otimizações............................................................... 30 6 CONCLUSÃO......................................................................................... 32 6.1 Recomendações Para Trabalhos Futuros........................................... 32 7 REFERÊNCIAS....................................................................................... 33 ANEXO I.................................................................................................. 37 ANEXO II................................................................................................. 38 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação O consumo de energia primária aumenta em todo o mundo exponencialmente, ano após ano, devido ao crescimento contínuo da população mundial e à maior demanda humana por energia e, em consequência, aumenta-se a geração de poluentes e outros resíduos que afetam a camada de ozônio. A taxa de crescimento do consumo de energia sendo maior do que a taxa de renovação, produz um modelo insustentável da matriz energética global em três eixos: o esgotamento de recursos energéticos não renováveis, mudanças climáticas desfavoráveis à sustentabilidade ambiental e a cada vez mais débil segurança energética dos países que não têm os seus próprios recursos ou tecnologias para transforma-la em formas úteis. Soluções para este problema estão relacionadas à utilização de fontes locais de energia não baseados na queima de hidrocarbonetos e no desenvolvimento de tecnologias que permitam sua comercialização e introdução na matriz energética do país em médio prazo [1]. Diante disso, torna-se imperativa para as empresas a busca por fontes alternativas de energia com o intuito de reduzir os custos operacionais. Neste contexto o aproveitamento de calores residuais apresenta-se como uma opção. As tecnologias para recuperação de calor residual (RCR) podem ser classificadas em passivas ou ativas dependendo se o calor é aproveitado diretamente ou se é convertido em outra forma de energia, respectivamente [2]. A Figura 1 apresenta as principais tecnologias para RCR atualmente. Trocadores de calor e o armazenamento de energia térmica são as tecnologias passivas mais utilizadas, enquanto bombas de calor e ciclos Kalina e Rankine são exemplos de tecnologias ativas. 2 Figura 1. Classificação das tecnologias para RCR Fonte: [3] Porém, a geração de energia elétrica a partir de fontes de baixa temperatura, como fontes geotérmicas e calores industriais residuais, apresenta geralmente baixa eficiência[4]. Para melhor aproveitamento destes gases é necessário reduzir as perdas exergéticas. Para este fim foram propostos diversos ciclos de potência com várias configurações possíveis. Dentre esses, estudos mostram que o ciclo Kalina desenvolvido pelo pesquisador russo Dr. Alexander Kalina em 1982 e suas diversas configurações apresentam desempenho, na maioria das aplicações, superior às demais alternativas como os ciclos Rankine e Ciclo Rankine Orgânico(ORC) [4]. 1.2 Objetivo Este trabalho tem como objetivo a análise e otimização do desempenho de ciclos Kalina para recuperação de calor residual do gás de processo da aciaria tipo Energy Optimizing Furnace (EOF), valendo-se dos princípios da termodinâmica clássica, além do estudo paramétrico das variáveis com maior influência sobre geração de potência comparando os resultados com os do ciclo Rankine e Rankine 3 Orgânico. 1.2.1 Objetivos específicos Os objetivos específicos são: a) definir as características dos ciclos termodinâmicos e da fonte de calor; b) desenvolver os modelos termodinâmicos dos ciclos Kalina, Rankine e Rankine Organico no software EES (Engineering Equation Solver). c) simular os ciclos para o aproveitamento do calor residual conforme as características da fonte de calor; d) realizar estudos paramétricos investigando o efeito das variáveis no desempenho dos ciclos; e) otimizar o desempenho dos ciclos com base na potência gerada; f) comparar os resultados obtidos em cada ciclo do ponto de vista termodinâmico. 1.3 Motivação A forma como o nível de vida das sociedades desenvolvidas cresceu, fez com que os requisitos energéticos destas atingissem patamares muito elevados. Grande parte da produção energética mundial é feita com recurso a combustíveis fósseis e estes estão na iminência de se esgotarem. A produção de energia através desses combustíveis constitui, assim, um dos maiores paradigmas da Humanidade. Recursos fósseis como o petróleo ou o carvão estão, atualmente, a ser consumidos a um ritmo muito mais elevado do que aquele que a Terra necessita para os produzir (na ordem dos milhões de anos) [5]. Além das vantagens inerentes que a utilização eficiente da energia traz às indústrias, como maior competitividade, existe atualmente um ambiente promissor, seja pela dinâmica do setor energético, seja pelas mudanças institucionais, a configurar uma gama de oportunidades para que o uso racional da energia seja buscado de forma integrada. Esta atuação integrada em eficiência energética torna- se ainda mais decisiva em função dos seguintes fatores: o preço dos energéticos é crescente em todo o mundo, a universalização do atendimento energético ainda é um desafio para o Brasil, os riscos de interrupção ou redução do abastecimento de 4 energia estão sempre presentes, além de que a importação de energéticos e de diversos equipamentos usados na produção e transporte de energia têm impacto direto no desempenho das contas públicas[6]. Nesse sentido, há que reunir esforços a fim de produzir tecnologias e concretizar instalações para maximizar o aproveitamento energético, e diminuir a dependência energética exterior, sendo o aproveitamento de calores residuais uma opção. O desenvolvimento deste trabalho tem como justificativa o desenvolvimento incompleto do estudo do ciclo Kalina e suas configurações assim como sua aplicação que não está completamente desenvolvida, se comparada aos ciclos de potência tradicionais. No Brasil não existem usinas operando no ciclo Kalina até o momento, portanto é necessário estudos que apontem o desempenho e custos desta tecnologia no cenário nacional. 5 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Nesta seção apresenta-se uma revisão da literatura a respeito do ciclo Kalina, Rankine e Ciclo Rankine Orgânico seu desempenho no aproveitamento de diversos tipos de fontes de calor, otimização das variáveis mais influentes, comparativos com outros ciclos e a estimativa dos custos relacionados à implantação e operação do ciclo. 2.1 Ciclos de Potência Os dispositivos ou sistemas utilizados para produzir potência são geralmente chamados de motores(ou máquinas), e os ciclos termodinâmicos nos quais eles operam são chamados de ciclo de potência [7]. Os ciclos termodinâmicos podem também ser categorizados como ciclos a gás e ciclos a vapor, dependendo da fase do fluido de trabalho. Nos ciclos a gás, o fluido de trabalho permanece na fase gasosa em todo o ciclo, enquanto que nos ciclos a vapor, o fluido de trabalho existe na fase vapor durante uma parte do ciclo e na fase liquida durante a outra [7]. Os ciclos térmicos de potência convertem energia térmica em trabalho, de tal maneira que é possível utilizar água, vapor, gases ou até mesmo fluidos orgânicos como fluidos de trabalho. Os principais componentes do ciclo a vapor são: bomba, caldeira, turbina e condensador. O fluido de trabalho superaquecido é gerado em uma caldeira para logo ser expandido numa turbina para gerar trabalho de eixo ou potência elétrica por meio de um gerador [7]. 2.2 Ciclo Rankine A turbina é o acionador utilizado no ciclo Rankine para a geração de energia. De modo geral, uma turbina é um dispositivo no qual o trabalho é desenvolvido como resultado da expansão de um gás ou vapor que passa através de um conjunto de pás conectadas a um eixo de metal que serve para transmitir o movimento de rotação [8]. Além disso, o restante dos componentes deste ciclo são: a caldeira, o condensador e a bomba. A bomba é empregada para o aumento da pressão da água no início do ciclo, 6 de modo que na saída da bomba se tenha um líquido comprimido. A caldeira é utilizada para a transformação da água do estado de líquido comprimido (com uma pressão maior que a do ambiente) em vapor com uma alta temperatura. A expansão do vapor, com a diminuição da sua temperatura e pressão, ocorre na turbina, com a consequente geração de trabalho mecânico. O condensador é utilizado para resfriar o vapor, fazendo com que o calor seja transferido do fluido para as suas vizinhanças (rejeição de calor). O vapor é resfriado no condensador e convertido outra vez em líquido, voltando novamente para a bomba, dando início a um novo ciclo [8]. Na Figura 2 se mostra um esquema de Ciclo Rankine simples, o qual conta com os quatro componentes básicos: bomba, caldeira, turbina e condensador. Figura 2. Esquema de um ciclo vapor e diagrama T-S Isentrópico. Fonte: [9] Além da versão anterior, mostrada na Figura 2, há algumas décadas tem-se empregado algumas versões melhoradas do ciclo Rankine, as quais formam os ciclos de reaquecimento e regeneração, fazendo com que possa existir uma ampla variação das condições de operação. A pressão de operação do vapor pode variar de 2 até 300 bares, a temperatura do vapor pode variar de 350 até 600°C e a potência de saída varia entre 0,5 até 1900 MW [10,11]. [ 7 2.3 Rankine Organico O ciclo ORC é um ciclo de conversão de energia térmica de baixa e média temperatura em eletricidade. Este ciclo é semelhante ao ciclo de Rankine a vapor envolvendo os mesmos componentes (evaporador, máquina de expansão, condensador e bomba), mas ao invés de se empregar água como fluido de trabalho é utilizado um fluido orgânico. Um dos maiores problemas no ciclo ORC é a escolha do fluido de trabalho orgânico mais apropriado e da configuração do próprio ciclo [12,13]. Estes sistemas podem ser utilizados para a produção de energia, principalmente a partir de fontes quentes provenientes da combustão de biomassa, e também a partir de outras de energia térmica, tais como, a geotérmica e a solar. O fluido orgânico pode ser aquecido de modo direto ou indireto. O caso indireto é o mais utilizado, no que a energia produzida pela combustão é transferida para um fluido térmico (óleo térmico na maioria dos casos) através de uma caldeira. Conforme pode ser visualizado na Figura 3, o fluido térmico é usado como meio de transferência de calor no ciclo ORC através de um trocador de calor. A utilização do fluido térmico permite que a troca de calor seja efetuada praticamente à pressão atmosférica [10]. Figura 3. Ciclo Rankine Orgânico Fonte: [10]. 8 O ciclo ORC é aplicado em instalações com potência elétrica de pequena escala variando entre 5 kW e 3 MW (para configurações comerciais) para o qual a utilização do ciclo Rankine convencional, que usa vapor em alta pressão, pode não ser viável. Devido ao elevado custo de investimento e as limitações da tecnologia, o ciclo ORC só pode ser utilizado para baixas potencias [10]. 2.4 Ciclo Kalina Nos ciclos tradicionais, como ciclos do tipo Rankine, por exemplo, é utilizada apenas uma substância como fluído de trabalho. Os ciclos do tipo Kalina se diferenciam dos ciclos tradicionais por utilizarem uma mistura como fluido de trabalho. Esta mistura é composta por água e amônia. A mistura água-amônia já é utilizada em sistemas de refrigeração há mais de 100 anos, e sua utilização em ciclos de potência foi proposta por Alexander Kalina em 1982. Ele criou uma companhia e a chamou de Exergy como pioneira no desenvolvimento do ciclo amônia-água. Este trabalho culminou na construção da primeira planta de demonstração em Canoga Park, na Califórnia. Esta planta foi testada entre 1992 e 1997 [14]. A principal vantagem do ciclo Kalina é a troca de calor mais eficiente tanto na aquisição de calor quanto na dissipação de calor ao ambiente. Isto se deve à característica da mistura NH3-H2O, que permite temperaturas variáveis de ebulição e condensação reduzindo as irreversibilidades no processo de troca de calor. Quando a mistura NH3-H2O é aquecida, a amônia mais volátil tende a evaporar em temperatura inferior à da água pura. À medida que a concentração de amônia do líquido restante diminui, a temperatura de saturação aumenta, proporcionando uma melhor troca de calor com uma fonte de gás residual, por exemplo, do que a evaporação em temperatura constante de uma substância pura (água/vapor). No ciclo Kalina o fluido de trabalho é dividido em fluxos com diferentes concentrações, proporcionando um grande grau de flexibilidade que permite otimizar a recuperação de calor e permitindo a condensação a uma pressão maior do que a atmosférica [4]. Existem várias variações do ciclo Kalina básico baseado em aplicação. Por exemplo, o ciclo Kalina cinco (KCS5) é aplicado quando se usa combustível fóssil como fonte de energia, o ciclo Kalina seis (KCS6) é voltado para ciclos combinados, e o ciclo Kalina 11 (KCS11) é usado em no aproveitamento de energia geotérmica, 9 calor residual e baixa temperatura[15]. 2.4.1 Ciclo Kalina 11 (KCS11) Um dos principais benefícios do uso do KCS11 na recuperação e conversão do calor residual industrial em comparação com o uso do Rankine e ORC é o fato do KCS11 conseguir alcançar eficiências térmicas maiores [16, 17, 18]. A eficiência térmica de um ciclo de potência é de extrema importância na produção de um sistema economicamente viável, sendo um importante parâmetro de avaliação [19]. Mesmo o KCS11 sendo um ciclo simples, tem alguns passos e parâmetros adicionais para se entender completamente o ciclo. A figura 4 mostra o esquema básico do KCS11. A forma mais fácil de se compreender o ciclo é percorrendo etapa por etapa do ciclo, começando pelo estado 5. Figura 4. Esquema de um Ciclo Kalina 11 (KCS11) Fonte: [19] No estado 5, a mistura total de água e amônia deixa o evaporador. Quando se considera o ciclo Rankine, o fluido de trabalho está pelo menos como vapor saturado quando sai do evaporador ou caldeira. No KCS11, o fluido de trabalho sai como uma 10 mistura saturada. A qualidade da mistura é umafunção da concentração de amônia no fluido de trabalho, da temperatura da fonte quente e da pressão do fluido. Assim que o fluido deixa o evaporador, ele entra no separador de fase, cuja função é separar o fluido em dois fluxos. A parcela de vapor saturado passa através do separador para o estado 6, com uma mistura rica em amônia. Esse vapor saturado continua até a turbina sofrendo uma expansão para produzir trabalho, nesse trabalho esta expansão será considerado isentrópica. O vapor expandido deixa a turbina como uma mistura saturada no estado 10. A fração de massa do fluido de trabalho que não evaporou deixa o separador como liquido saturado no estado 7. Essa porção de liquido saturado é uma mistura mais pobre de amônia do que a parcela de vapor do estado 6. Esse liquido saturado quente passa pelo regenerador, onde transfere parte de sua energia térmica para o fluido de trabalho frio que sai do condicionador. Após perder calor nessa transferência, a mistura deixa o regenerador no estado 8. Mesmo sendo resfriado, a mistura no estado 8 continua com uma pressão alta. Para que se misture a fração do fluido que veio do regenerador com a fração do fluido que sai da turbina, a fração do estado 8 tem que diminuir sua pressão. Essa queda de pressão é feita por uma válvula de expansão. O fluido do estado 8 sai da válvula, estado 9, na mesma pressão do fluido de trabalho que passou pela turbina. Agora que os dois fluidos estão na mesma pressão, eles entram no absorvedor, onde as duas frações do fluidos são reunidos em um só. A mistura recombinada deixa o absorvedor no estado 1, ainda como uma misturada saturada. O fluido então passa através do condensador onde calor é rejeitado para a fonte fria, e o fluido volta ao estado de liquido saturado, deixando o condensador no estado 2. Uma bomba, nesse trabalho considerada isentrópica, é usada para comprimir o fluido de trabalho aumentando a pressão para o estado 3. O fluido no estado 3 entra no regenerador com o objetivo de recuperar parte da energia térmica usada no aquecimento da parcela de liquido saturado (estado 7). O fluido do estado 3 pré-aquecido, deixa o regenerador no estado 4, onde então entra no evaporador iniciando todo ciclo de novo [19]. 2.5 Energy Optimizing Furnace (EOF) O EOF – “Energy Optimizing Furnace” – é um forno de fusão/refino associado com sucata pré-aquecida para a produção de aço líquido, trabalhando com combinado sopro atmosférico e submerso de oxigênio em uma carga inicial que 11 contém o gusa líquido, sucata pré-aquecida continuamente e fluxos para a formação de escória. O sopro submerso do oxigênio reage com o carbono do gusa líquido, gerando bolhas de CO que viajam do banho líquido para a atmosfera do forno, onde CO é queimado para CO2 pelo sopro através dos injetores atmosféricos e lanças supersônicas. Tal borbulhar do CO gera um agito muito forte que aumenta bastante a área de banho, permitindo a transferência de uma porção apropriada de calor para o banho [20]. A figura 5 mostra o reator do processo EOF em 3D, com seus principais componentes. Figura 5. Modelo 3D do reator EOF Fonte: [21] O processo EOF compõe-se do reator propriamente dito e seus sistemas auxiliares. O reator é composto por bottom, shell, pré-aquecedor e downcomer [21]. Bottom: base metálica em forma de cilindro, revestida internamente de material refratário. É assentado sobre um carro, que é usado para basculá-lo durante a operação e transportá-lo até a área de manutenção para reparos. Um 12 segundo bottom permite que o forno continue a operar durante a manutenção. Shell: montada sobre o bottom, é uma estrutura fixa, constituída por painéis refrigerados nas laterais e teto. Pré-aquecedor: torre com painéis refrigerados, por onde são carregados sucata e fundentes. Constitui também o caminho de saída do gás de processo. Possui um conjunto de garfos hidraulicamente acionados, onde a sucata é pré-aquecida antes de carregada no forno. Downcomer: tubulação de saída do gás de processo para o Sistema de Limpeza de Gases. No projeto atual do EOF, o gás de processo recebe injeção de água para diminuição da temperatura no downcomer. Os principais sistemas auxiliares do EOF são: Preparação de carga: do tipo convencional, com correias transportadoras, calhas e peneiras vibratórias. Compõe-se também do carro e da ponte rolante de transporte da panela de ferro gusa líquido e pátio de sucata. Sistema de refrigeração: composto pelos painéis refrigerados da shell, pré- aquecedor e do downcomer – tubulação de saída dos gases. O fluido refrigerante é água, que circula em um sistema semi-fechado. Basculamento: o vazamento do EOF se dá por cilindros hidráulicos, que permitem que o forno bascule, vazando escória e aço líquido em direções opostas. Blowing: sopro de oxigênio no banho líquido. É feito através de um sistema triplo, composto por ventaneiras submersas, lança supersônica e injetores atmosféricos. Sistema de Limpeza dos Gases (SLG): responsável por succionar o gás de processo da atmosfera do forno e deixá-lo em condições aceitáveis de temperatura e material particulado para que possa ser emitido ao meio ambiente. O SLG do EOF é do tipo úmido, ou seja, a limpeza e o resfriamento do gás ocorrem pela aspersão de água. Sistema de Despoeiramento: responsável pela coleta de material particulado no manuseio de matéria prima, vazamento do aço e do prédio em geral. Estação de Tratamento de Efluentes: conjunto de equipamentos e procedimentos que visam o tratamento da água de contato usada no SLG. 13 2.5.1 Operação do EOF O processo EOF acontece por bateladas, ou seja, não é um processo contínuo. As bateladas, doravante denominadas corridas, têm duração aproximada de 40 minutos, e são divididas em carregamento, sopro e vazamento. A corrida se inicia com o carregamento das matérias-prima. São carregados a sucata, o gusa líquido, fundentes e ligas conforme análise das matérias primas carregadas e tipo de aço desejado. Terminado o carregamento, é iniciado o sopro, que consiste na injeção de oxigênio no EOF a partir de ventaneiras submersas, lança e injetores atmosféricos. Primeiramente, o carbono presente no banho se oxida com o oxigênio das ventaneiras, se libertando da carga na forma de gás de processo. Devido ao ventilador do Sistema de Limpeza dos Gases, SLG, o gás é succionado para a parte acima do banho, onde o carbono se oxida novamente em contato com o oxigênio da lança e injetores. A presença da lança supersônica logo acima da carga, além de fornecer oxigênio para a oxidação do carbono, provoca também turbulência na superfície do banho, acelerando e otimizando o processo de oxidação. O final do sopro ocorre com a interrupção da injeção de oxigênio. Nesse momento, a carga do EOF é composta de aço líquido e escória. A escória por ser menos densa se mantém na superfície do banho, facilitando assim a separação do aço. O forno é então basculado com o auxílio de cilindros hidráulicos. Primeiro, é movido para uma posição de 8º além do seu ponto de operação, 0º, vazando escória a partir de uma porta específica. Em seguida é movido para a posição contrária de - 8º, vazando aço líquido em um carro panela a partir de um furo realizado em um nível inferior a saída da escória. O gás de processo succionado pelo ventilador do SLG passa pela sucata a ser inserida na próxima corrida, fornecendo energia térmica para seu pré-aquecimento. Em seguida, o gás é enviado para o SLG em si, onde é lavado e então emitido para a atmosfera através de uma chaminé com temperaturamédia de 100 °C [22]. Foi considerado para o estudo um forno de 30/35 toneladas de aço por corrida, tendo como base as temperaturas média da fase 1, 800°C, assim como a energia térmica média dos gases, 9,08 MW obtida pelas médias dos valores dos primeiros 12 14 minutos da corrida. As tabela 1 e 2 apresentam as características desse processo. Tabela 1 – Geração de gás de processo EOF 30/35 t – SLR Metaliks Fonte: [22] Tabela 2. Energia térmica do gás de processo Fonte: [22] 15 3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS A seguir são apresentados os fundamentos teóricos que norteiam este trabalho. Os fundamentos se referem às características da mistura NH3-H2O, à análise energética, ao cálculo dos trocadores de calor e ao algoritmo de otimização utilizado. 3.1 Fluido de Trabalho A amônia e a água são substâncias fortemente polares e de estrutura e massa molecular semelhantes. Ambas as substâncias apresentam ligações de hidrogênio, sendo essas mais fortes na água. Diferenças acentuadas são referentes ao ponto de ebulição (-33,4ºC contra 100ºC para amônia e água, respectivamente, para uma pressão de 1 bar), e a temperatura e pressão do ponto crítico [23]. Há décadas a mistura binária zeotrópica NH3-H2O é utilizada como fluido de trabalho em processos como refrigeração por absorção, bombas de calor e ciclos de potência. O que caracteriza as misturas zeotrópicas é a alteração da composição e da temperatura durante o processo de ebulição, a uma dada pressão, para qualquer concentração. A Figura 6 ilustra o processo de ebulição da mistura amônia-água, onde o ponto (a) indica a temperatura do ponto de início da ebulição para uma concentração de amônia de 50%, no ponto (b) (na metade do processo de mudança de fase) a concentração de amônia na fase líquida é de 37% como indicado no ponto (c) e a concentração de amônia na fase gasosa é de 70% como indicado no ponto (d). No ponto de orvalho, ponto (e), a mistura completamente vaporizada tem novamente concentração de amônia inicial de 50%. A mudança de temperatura durante os processos de ebulição e condensação é uma característica que permite ao fluido de trabalho manter seu perfil de temperatura mais próximo do perfil de temperatura da fonte de calor, levando a uma troca de calor mais eficiente, como demonstrado na Figura 7. Nela, a troca de calor entre o fluido de trabalho de um ciclo Rankine e de um ciclo Kalina é comparada sobre as mesmas condições de contorno. Percebe-se que no ciclo Kalina são transferidos 6.8 MW, enquanto no ciclo Rankine são transferidos 5.4 MW, mostrando assim a maior eficiência no processo de transferência de calor já mencionada [23]. 16 Figura 6. Processo de ebulição da mistura amônia-água Fonte:[23] Figura 7. Perfis de temperatura entre fonte quente e o fluido de trabalho nos ciclos Rankine e Kalina Fonte: [23] 17 Com relação às propriedades termodinâmicas do fluido como temperatura, pressão, volume específico, entalpia, entalpia, entre outras, as mesmas podem ser utilizadas para determinar seu estado termodinâmico. Na literatura existem diversas correlações entre as propriedades termodinâmicas da mistura NH3-H2O, porém a maioria foi desenvolvida para pressões e temperaturas inferiores às utilizadas geralmente nos ciclos de potência. Os tipos existentes de correlações entre as propriedades termodinâmicas podem ser divididas em nove grupos, são eles: equações cúbicas de estado, equações de estado de virial, excesso de exergia de Gibbs, métodos dos estados correspondentes, teoria da perturbação, grupo da teoria da contribuição, modelo de Leung-Griffiths, energia livre de Helmoltz, e as equações polinomiais. Diferentes correlações entre as propriedades termodinâmica da mistura NH3-H2O são utilizadas nas simulações de ciclos termodinâmicos presentes na literatura [3]. Neste trabalho é utilizado o software EES que fornece as propriedades termodinâmicas da mistura agua-amônia em diversos estados. O programa EES utiliza a correlação de Ibrahim e Klein (1993) [24,25]. 3.2 Balanço de Energia e Massa O desempenho dos ciclos são avaliados para diversos pontos de projeto e, no caso do ciclo Rankine, diferentes fluidos orgânicos. Para simplificar os modelos, as quedas de pressão nos componentes, com exceção da turbina, são ignoradas. Para cada componente individual do sistema térmico, são aplicadas a Primeira Lei da Termodinâmica para determinar o trabalho realizado ou consumido, o calor adicionado ou rejeitado de cada um destes componentes e do sistema em geral, assim como as eficiências térmicas e otimização trabalho gerado. Neste modelo se levaram em conta as seguintes considerações: Regime permanente. O sistema opera em estado estacionário, as mudanças de energia cinética e potencial são desprezadas e as perdas de calor e por fricção são desprezadas. São consideradas variações do diferencial de temperatura pinch, mínimo diferencial de temperatura no processo de troca de calor, como 4 K em todos os trocadores de calor. 18 Temperatura da fonte fria assumida como 295 K. A eficiência isentrópica da bomba e da turbina é de 85%, eficiência da caldeira de 90%. Os trocadores de calor são assumidos adiabáticos. A válvula redutora de pressão, separador e absorvedor são assumidos adiabáticos. O fluido nas saídas do separador foram definidos como sendo vapor saturado e líquido saturado. Os balanços de massa e energia para cada componente do ciclo são calculados segundo as Eq. 3.1 e 3.2. ∑ �̇�𝑒𝑛𝑡 = ∑ �̇�𝑠𝑎𝑖 (3.1) �̇� − �̇� = ∑ �̇�𝑠𝑎𝑖 ℎ𝑠𝑎𝑖 − ∑ �̇�𝑒𝑛𝑡 ℎ𝑒𝑛𝑡 (3.2) Onde: �̇�𝑒𝑛𝑡 = Vazão mássica que entra no volume de controle (kg/s); �̇�𝑠𝑎𝑖 = Vazão mássica que sai do volume de controle (kg/s); ℎ𝑒𝑛𝑡= Entalpia especifica na entrada do volume de controle (kJ/kg); ℎ𝑠𝑎𝑖= Entalpia especifica na saída do volume de controle (kJ/kg); �̇� = Taxa de transferência de calor para o volume de controle (kW); �̇�= Taxa de transferência de trabalho pelo volume de controle (kW); O rendimento de ciclos termodinâmicos, baseada na primeira lei da termodinâmica, é obtida através da relação da energia gerada pelo ciclo pela energia fornecida ao ciclo, como descrito na equação 3.3: η = 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑙𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎⁄ (3.3) 19 3.3 Método Genético O método genético é um algoritmo de optimização robusto designado para localizar de forma confiável o ponto ótimo global na presença de pontos ótimos locais. Porém é mais lento. Este algoritmo deve ser considerado quando outros métodos como direções conjugadas e métrica variável, falham na obtenção do ponto ótimo global [25]. O método genético implementado no EES é derivado do programa de domínio público Pikaia [26]. Esse método pretende imitar os processos que ocorrem na evolução biológicas. Uma população de indivíduos é inicialmente escolhida aleatoriamente dentro do intervalo admitido para cada variável independente. Aptidão destes indivíduos é então testada, ou seja, os valores da função objetivos são analisados conforme seu interesse pré-determinado (maximizar ou minimizar). Na próxima etapa é criada uma nova população pela recombinação dos indivíduos mais aptos da geração atual A combinação das características dos indivíduos selecionados é aleatória, além disso, variações aleatórias adicionais são introduzidas através da mutação, desta forma os descendentes podem ter características muito diferentes.Os três parâmetros mais importantes no método genético para identificar o ponto ótimo e diminuir o esforço computacional são o número de indivíduos na população, o números de gerações e a taxa de mutação máxima. Estes parâmetros são especificados no programa, conforme mostrado na figura 8. 20 Figura 8. Painel de configuração dos parâmetros do método genético no EES Fonte: [25] Valores grandes para taxa de mutação fazem com que o algoritmo procure pelo ponto ótimo mais agressivamente em pontos distantes do ponto ótimo atual. Valores menores focam a procura em torno do ponto ótimo atual. Existem outros parâmetros no algoritmo genético, que foram configurados nos valores padrões sugerido no programa Pikaia e que não podem ser alterados no EES. O número de indivíduos varia de um valor mínimo de 16 até o máximo de 256, o número de gerações varia de 16 até 2048 e a mutação de 0,0875 a 0,7. Para esse trabalho foram considerados os valores máximo de número de indivíduos e de geração e o mínimo para a mutação dando um total de 524288 iterações Esse método é robusto porém lento. O número de funções avaliadas requeridas é aproximadamente igual ao produto do número de indivíduos e o número de gerações. No EES, configurando esses parâmetros no máximo, resulta em mais 21 de 524000 função avaliadas. Dependendo da complexidade da função objetivo, os cálculos pode ser curtos ou extremamente demorados [25]. 3.4 Aproximação Quadratica A aproximação quadrática é um método de otimização disponível no EES para achar máximo e mínimo em problemas com um grau de liberdade. Quando usado, o EES requer que seja especificado uma faixa de variação da variável independe, X, antes da busca começar. O programa avalia a função objetivo, f, nos limites da faixa e em um ponto dentro dela. A função objetivo é assumida como dependente de X em maneira quadrada conforme a equação: 𝑓 = 𝑎𝑋2 + 𝑏𝑋 + 𝑐 (3.4) Conhecendo o valor de X e f em três pontos (nos limites e em um dentro da faixa), é possível determinar os coeficientes a, b, c, resolvendo 3 equações linear com 3 incógnitas. Em seguida, o valor ótimo da função objetivo é estimada considerando igual a 0 a derivada de f em relação a X, gerando Xopt=-b/(2a). O valor da função objetivo nesse novo valor de Xopt é determinado, Idealmente, este ponto tem o menor valor da função objetivo (para minimização) do que qualquer dos três pontos originais. O ponto com o maior valor da função objetivo é eliminada e o processo se repete até se alcançar a convergência [25]. 22 4 METODOLOGIA Nesta seção é apresentada a metodologia da análise dos ciclos termodinâmicos para recuperação de calor residual, de acordo com os objetivos, as considerações usadas nos modelos e as temperatura da fonte conforme tabela 1. 4.1 Modelagem Termodinâmicas dos Equipamentos Os ciclos Rankine e Rankine Organicos modelados nesse trabalho seguem a configuração da figura 9, e a modelagem dos seus componentes são descritos na tabela 2. Figura 9. Esquema básico de um ciclo Rankine Fonte: [19] Tabela 3. Equações referentes aos componentes do ciclo Rankine Fonte: Elaborado pelo autor. Equipamento Balanço de massa Balanço de energia Eficiência Bomba �̇�1 = �̇�2 (4.1) �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = �̇�1 ∗ (ℎ2 − ℎ1) �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = �̇�1 ∗ 𝑣1 ∗ (𝑃2 − 𝑃1)/η𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 (4.2) (4.3) η𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = (ℎ2𝑠 − ℎ1) (ℎ2 − ℎ1) (4.4) Caldeira/Evaporador �̇�2 = �̇�3 (4.5) �̇�𝑒𝑛𝑡 = �̇�2 ∗ (ℎ3 − ℎ2) (4.6) - Turbina �̇�3 = �̇�4 (4.7) �̇�𝑡𝑢𝑟𝑏 = �̇�3 ∗ (ℎ3 − ℎ4) (4.8) η𝑡𝑢𝑟𝑏 = (ℎ3 − ℎ4) (ℎ3 − ℎ4𝑠) (4.9) Condensador �̇�4 = �̇�1 (4.10) �̇�𝑠𝑎𝑖 = �̇�1 ∗ (ℎ4 − ℎ1) (4.11) - 23 A modelagem do ciclo Kalina segue o esquema da figura 4 e a modelagem dos seus componentes são descritos na tabela 3. Tabela 4. Equações referentes aos componentes do ciclo Kalina Equipamento Balanço de massa Balanço de energia Eficiência Condensador �̇�1 = �̇�2 (4.12) �̇�𝑠𝑎𝑖 = �̇�1 ∗ (ℎ1 − ℎ2) (4.13) - Bomba �̇�1 = �̇�2 (4.14) �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = �̇�2 ∗ (ℎ3 − ℎ2) �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = �̇�2 ∗ 𝑣2 ∗ (𝑃3 − 𝑃2)/η𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 (4.15) (4.16) η𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = (ℎ3𝑠 − ℎ2) (ℎ3 − ℎ2) (4.17) Regenerador �̇�7 = �̇�8 �̇�3 = �̇�4 (4.18) (4.19) �̇�7 ∗ (ℎ7 − ℎ8) = �̇�3 ∗ (ℎ4 − ℎ3) (4.20) - Evaporador �̇�4 = �̇�5 (4.21) �̇�𝑒𝑛𝑡 = �̇�4 ∗ ℎ5 − ℎ4 (4.22) - Separador �̇�5 = �̇�6 + �̇�7 (4.23) �̇�5 ∗ ℎ5 = �̇�6 ∗ ℎ6 + �̇�7 ∗ ℎ7) (4.24) - Válvula �̇�8 = �̇�9 (4.25) ℎ8 = ℎ9 (4.26) - Turbina �̇�6 = �̇�10 (4.27) �̇�𝑡𝑢𝑟𝑏 = �̇�6 ∗ (ℎ6 − ℎ10) (4.28) η𝑡𝑢𝑟𝑏 = (ℎ6 − ℎ10) (ℎ6 − ℎ10𝑠) (4.29) Absorvedor �̇�9 + �̇�10 = �̇�1 (4.30) �̇�9 ∗ ℎ9 + �̇�10 ∗ ℎ10 = �̇�1 ∗ ℎ1 (4.31) - Fonte: Elaborada pelo autor. As equações referente ao ciclo são as mesma independente do ciclo. Essas equações são apresentadas na Tabela 4. Tabela 5.Equações globais dos ciclos Balanço de Energia �̇�𝑒𝑛𝑡 − �̇�𝑠𝑎𝑖 = �̇�𝑙𝑖𝑞 (4.32) Trabalho Líquido �̇�𝑙𝑖𝑞 = �̇�𝑡𝑢𝑟𝑏 − �̇�𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 (4.33) Eficiência do Ciclo η𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 = �̇�𝑙𝑖𝑞 �̇�𝑒𝑛𝑡 ⁄ (4.34) Fonte: Elaborada pelo autor. 4.2 Otimização Após a modelagem termodinâmica e dos ciclos foram utilizada as ferramentas de otimização disponíveis no EES. No caso do Rankine é método da aproximação quadrática e a do ciclo Kalina o de algoritmos genéticos, visto que no ciclo Kalina há mais variáveis independentes. 24 Os ciclos foram modelados para as temperaturas da fonte quente de 800°C e energia térmica dos gases igual a 9,08 MW (Tabela 1 e 2), a temperatura da fonte fria foi considerada como 295 K. As variáveis selecionadas em cada modelo para serem otimizadas estão listadas na Tabela 5 no caso do Rankine e Tabela 6 para o Kalina. Nessas tabelas são apresentadas as faixas de variação de cada variável. Essas faixas foram definidas para permitir avaliar os valores máximos e mínimos que as variáveis podem assumir e o impacto delas no desempenho computacional dos modelos. Tabela 6. Variáveis do ciclo Rankine Fluido Água Amônia SES36 P-Xileno Variável Limite Inferior Limite superior P3 1000 kPa 2500 kPa Fonte: Elaborada pelo autor. Tabela 7. Variáveis do ciclo Kalina Variável Limite Inferior Limite superior P6 1000 kPa 2500 kPa X1 0 0,1 Fonte: Elaborado pelo autor Onde P3 é a pressão de entrada na turbina do ciclo rankine, P6 é a pressão de entrada na turbina do ciclo Kalina e X1 é a fração mássica de amônia na entrada do condensador do ciclo Kalina. 25 5 RESULTADOS E DISCUÇÕES A seguir são apresentados e analisados os resultados obtidos neste trabalho. Na primeira parte desta seção apresenta-se o estudo dos parâmetros de maior impacto nos ciclos. Logo após, são descritos e analisados os resultados da otimização dos ciclos. Por fim é apresentado um estudo comparativo entre os ciclos. 5.1 Estudo Paramétrico Após a implementação da modelagem termodinâmica dos ciclos no software EES e através de diversas simulações foi possível selecionar as variáveis com maior impacto no desempenho dos ciclos. A seguir é apresentado e discutido como as variáveis selecionadas interferem no desempenho dos ciclos. 5.1.1 Ciclo KCS11 Para o ciclo KCS11 a variável analisada foi a variação da pressão de entrada naturbina (P6), fixando a fração mássica de amônia na entrada do condensador (x1). Conforme mostrado na Figura 10, com o acréscimo no valor de P6 ocorre também o aumento da potência líquida (Ẇ liq) e consequentemente da eficiência, esse aumento é de aproximadamente 9%. O acréscimo em Ẇliq, se deve principalmente a uma maior diferença de entalpia entre o fluido de trabalho na entrada e na saída da turbina, ocasionando uma maior potência. 26 Figura 10. Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P6 no ciclo KCS11 Fonte: Elaborado pelo autor. 5.1.2 Ciclo Rankine Para o ciclo Rankine a variável analisada foi a variação da pressão de entrada na turbina (P3) e o fluido de trabalho a água. Conforme mostrado na Figura 11, com o acréscimo no valor de P3 ocorre também o aumento da potência líquida (Ẇ liq) e consequentemente da eficiência, esse aumento é de aproximadamente 7%. Assim como no ciclo anterior, acréscimo em Ẇliq, se deve principalmente a uma maior diferença de entalpia entre o fluido de trabalho na entrada e na saída da turbina, ocasionando uma maior potência. 27 Figura 11. Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P3 no ciclo Rankine Fonte: Elaborado pelo autor. 5.1.3 Ciclo ORC Para o ciclos ORC as variáveis analisadas foram a variação da pressão de entrada na turbina (P3) e os fluido de trabalho. Conforme mostrado na Figura 12,13 e 14, o ciclos ORC apresentam perfil semelhantes aos anteriores, ou seja, Ẇ liq cresce com o aumento da pressão entrando na turbina, devido a maior diferença de entalpia. 28 Figura 12. Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P3 no ciclo ORC usando amônia Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 13. Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P3 no ciclo ORC usando P-Xyleno. Fonte: Elaborado pelo autor. 29 Figura 14. Variação de �̇�𝑙𝑖𝑞e ηciclo em função de P3 no ciclo ORC usando SES36. Fonte: Elaborado pelo autor Para a amônia, a geração de potência começou a dar início a partir de uma pressão em torno de 1035 kPa e gerou a menor eficiência e, assim como o p-xyleno, em alguns pontos atuam fora de suas faixas recomendáveis. O p-xyleno apresentou um acréscimo de aproximadamente 11% e o SES36 de aproximadamente 27%, a maior taxa de crescimento de todos os ciclos. 5.2 Estudo comparativo A tabela 8 apresenta um resumo comparativo do resultado paramétrico Tabela 8. Resultado estudo paramétrico Kalina Rankine Rankine Organico Fluido Agua-amônia água amônia P-Xyleno SES36 Potência mínima 2559 kW 2770 kW - 1636 kW 1224 kW Eficiência mínima 28,18 % 30,51% - 18,02% 13,49% Potência máxima 2714 kW 2981 kW 865,2 kW 1831 kW 1592 kW Eficiência máxima 29,89 32,83% 9,53 % 20,16% 17,53 % Variação 9% 7% - 11% 27% Fonte: Elaborado pelo autor. 30 5.3 Resultados das otimizações A seguir são apresentados e comparados os resultados obtidos pelas otimizações. A tabela 9 apresenta o resultado ótimo encontrado e o valor das propriedades que acarretam nesse resultado. Tabela 9. Resultado encontrado nas otimizações Kalina Rankine Rankine Orgânico Fluido Amônia-água Água Amônia P-Xyleno SES36 Pmax (kPa) 1328 2500 2500 2500 2500 X1 0,0115 - - - - ηciclo (%) 30,68 32,83 9,53 20,16 17,53 Ẇliq (KW) 2786 2981 865,2 1831 1592 Fonte: Elaborado pelo autor. Os resultados mostraram que o ciclo com maior eficiência e potência produzida foi o Rankine clássico, 7% maior que o Kalina segundo ciclo mais eficiente e 16% maior do que o ORC com P-Xyleno, mais eficiente dentre os ORC. Resultados em que o Rankine apresenta eficiência maior se comparado com o Kalina é presente em estudos anteriores [27,28,29]. Isso se deve ao comportamento físico e químico dos fluidos de absorver e transferir calor nas condições de temperatura e pressão propostas. Os fluidos escolhidos para o ORC são fluidos comumente citados na literatura. A escolha de outros poderia aumentar a eficiência do ciclo. Os ORC são mais utilizados para fontes de baixa e média temperatura e apresentaram resultados bem inferior aos outros ciclos, nas condições de entrada desse estudo. Dentre os fluidos do ORC o P-Xyleno foi o que apresentou melhores resultados, mais do que o dobro da eficiência da amônia e aproximadamente 15% maior do que o SES36. O ciclo Kalina também é comumente aplicado em fontes de baixa e médias temperaturas. Outras configurações poderiam ter levado a eficiências maiores, como 31 KCS1 ou o KCS34. Quando se otimiza tendo em conta outros parâmetros além de apenas a pressão na entrada da turbina, o valor ótimo pode não ocorrer na maior pressão possível, como é o caso desse estudo. Pelo resultado apresentado na tabela 6 o ciclo mais recomendado seria o Rankine pela maior potência líquida produzida, além de ser um ciclo mais simples e com custos de investimentos mais baratos, o que se justifica só pelo fato de operar usando menos equipamentos. 32 6 CONCLUSÃO A análise da otimização chegou à conclusão que nos ciclos Rankine o aumento da pressão de entrada na turbina acarreta num aumento de potência gerada, como já esperado. O ciclo Rankine clássico apresentou melhores resultados que os outros, mostrando-se mais interessante em aplicações de temperaturas mais altas. Mesmo estudos sugerindo que o ciclo Kalina mostram desempenho superior [16, 17, 18], existem casos [27,28,29] onde isso não ocorre, como esse trabalho. Uma fonte de temperatura menor que a estudada acarretaria resultados melhores tanto para o Kalina quanto para o ORC, devido as características dos fluidos de trabalho. 6.1 Recomendações Para Trabalhos Futuros Por ser comparativo, muitas simplificações foram utilizadas, um modelo mais próximo da realidade daria resultados mais confiáveis sobre a viabilidade da aplicação desses ciclos, assim como uma análise de custo e exergia. Diferentes configurações de ciclo Kalina (KCS 11, KCS 34, entre outros) poderiam ocasionar em performance melhores, embora sejam mais complexos. O estudo de outras misturas binárias como fluido de trabalho poderiam levar a ciclos com rendimento superiores aos atuais. Diferentes fluidos e configurações do ciclo Rankine (regenerativo, com reaquecimento, entre outras), geram mais opções de análise na escolha do melhor sistema para recuperação de calor residual. 33 7 REFERÊNCIAS [1] RODRÍGUEZ, Carlos Eymel Campos. Análise Paramétrica das Opções Tecnológicas para a Geração de Eletricidade a Partir de Fontes Geotérmicas Melhoradas de Baixa Temperatura. 2014. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) – Universidade Federal de Itajubá, Itajubá-MG. [2] BRÜCKNER, Sarah et al. Industrial waste heat recovery technologies: An economic analysis of heat transformation technologies. Applied Energy, S.I., v. 151, p. 157-167. 2015. http://dx.doi.org/10.1016/j.apenergy.2015.01.147. [3] BARBOSA JR, Elviro Pereira. Análise de Ciclos Kalina para Recuperação de Calor Residual. 2017. Tese (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG [4] ZHANG, Xinxin; HE, Maogang; ZHANG, Ying. 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Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.energy.2010.04.036. 37 ANEXO I Nesse anexo é apresentado o código usado no EES para otimização do ciclo Rankine e ORC. {Ciclo Rankine} P$ = 'water' {P$ é variavel usada para corresponder ao fluido usado} T_q = 800 [C] {Temperatura da fonte quente} T_f = 22 [C] {Temperatura da fonte fria} T_pinch = 4 [C] {variação de temperatura pinch para todos os trocadores.} ETA_bomba = 0.85 {eficiência isentrópica da bomba} ETA_Turbina = 0.85 {eficiência isentrópica da turbina.} T1 = T_f + T_pinch {temperatura saindo do condensador.} x1 = 0 {fluido deixa o condensador como liquido saturado.} P1 = Pressure(P$,T=T1,x=x1) h1 = Enthalpy(P$,T=T1,x=x1) s1 = Entropy(P$,T=T1,x=x1) v1 = Volume(P$,T=T1,x=x1) w_bomba = m*(v1*(P2-P1))/ETA_Pump {assumindo bomba isentropica} P2 = P_max m*h2 = m*h1 + w_pump P3 = P2 T3 = T_q - T_pinch h3 = Enthalpy(P$,T=T3,P=P3) s3 = Entropy(P$,T=T3,P=P3) s4s = s3 {assumindo expansão isentropica na turbina.} P4 = P1 h4s = Enthalpy(P$,P=P4,s=s4s) h4 = h3 - (h3 - h4s)*ETA_Turbine {entalpia real baseada na eficiencia} x4 = Quality(P$,P=P4,h=h4) w_turbina = m*(h3 - h4) w_dot_liq=w_turbina-w_bomba qh = m*(h3 - h2) qh=0.9*9080 QL=m*(H4-H1) QCHECK=QH+W_bomba-QL-W_TURBINA ETA_th = (w_dot_liq/9080)*100 38 ANEXO II Nesse anexo é apresentado o código usado no EES para otimização do ciclo Kalina. {ciclo Kalina} {Procedimentos} PROCEDURE PXH(P,X,H:T,S,v,Q) CALL NH3H2O(234,P,x,h:T,P,x,h,s,u,v,Q) END PROCEDURE TXQ(T,X,Q:P,H,S,V) CALL NH3H2O(138,T,x,Q:T,P,x,h,s,u,v,Q) END PROCEDURE TPX(T,P,X:H,S,v,Q) CALL NH3H2O(123,T,P,X:T,P,x,h,s,u,v,Q) END PROCEDURE TPQ(T,P,Q:X,H,S,V) CALL NH3H2O(128,T,P,Q:T,P,x,h,s,u,v,Q) END PROCEDURE PXS(P,x,s:T,h,v,Q) CALL NH3H2O(235,P,x,s:T,P,x,h,s,u,v,Q) END FUNCTION THEFF(w_net,qh, Q_CHECK, S11) IF (w_dot_net<=0) OR (qh<=w_net) THEN THEFF := 0; step1 := 0 ELSE THEFF := (w_dot_net/(qh/0.9))*100 step1 := THEFF ENDIF IF (Q_CHECK=0) OR (S11>=0) THEN THEFF := (w_dot_net/(qh/0.9))*100 step2 := THEFF ELSE THEFF := 0 step2 := 0 ENDIF IF (step1=step2) THEN THEFF := THEFF ELSE THEFF := 0 END {DADOS DE ENTRADA} ETA_turb=0.85 ETA_pump=0.85 P[1]=PB ;Xa=x[1]; 39 P[2]=PB;X[2]=XA; Q[2]=0 P[3]=PAL;X[3]=XA P[4]=PAL;X[4]=XA P[5]=PAL;X[5]=XA P[6]=PAL;X[6]=XB;Q[6]=1 P[7]=PAL;X[7]=XC; Q[7]=0 P[8]=PAL;X[8]=XC P[9]=PB;Xc=x[9] P[10]=PB; XB=x[10] p[11]=pb;xb=x[11] T_sink =295 [K] T_pinch=4[K] T_source = 1073 [K] {absorvedor} MT*h[1] = M1*h[9] + M2*h[10]; M1+M2=MT {CONDENSADOR} T[2] = T_sink + T_pinch; QL=MT*(H[1]-H[2]) {BOMBA} MT*H[3]=W_PUMP+MT*H[2] w_pump = MT*(v[2]*(P[3] - P[2])*CONVERT(BAR,KPA))/ETA_pump{REGENERADOR FLUXO FRIO} MT*h[4] = q_regen +MT* h[3] q_regen = M1*(h[7] - h[8]) {EVAPORADOR} T[5]=T_source - T_pinch; QH=0.9*9080 {SEPARADOR} T[6]=T[5] T[7]=T[5] MT*H[5]=M1*H[7]+M2*H[6] {REGENERADOR FLUXO QUENTE} T[8] = T[3] + T_PINCH; {VALVULA} H[9]=H[8] {TURBINA} s11 = s[6]; h[10] = h[6] - ETA_turb*(h[6] - h[11]) {estados} CALL PXH(P[1],X[1],H[1]:T[1],S[1],V[1],Q[1]) {} CALL TXQ(T[2],X[2],Q[2]:P[2],H[2],S[2],V[2]) {} CALL PXH(P[3],X[3],H[3]:T[3],S[3],v[3],Q[3]) {} CALL PXH(P[4],X[4],H[4]:T[4],S[4],v[4],Q[4]) {} CALL TPX(T[5],P[5],X[5]:H[5],S[5],v[5],Q[5]) {} CALL TPQ(T[6],P[6],Q[6]:X[6],H[6],S[6],V[6]) {} CALL TPQ(T[7],p[7],Q[7]:x[7],h[7],S[7],V[7]) {} CALL TPX(T[8],P[8],x[8]:H[8],S[8],v[8],Q[8]) {} CALL PXH(P[9],X[9],H[9]:T[9],S[9],v[9],Q[9]) {} 40 CALL PXS(P[11],X[11],S11:T[11],H[11],V[11],Q[11]) CALL PXH(P[10],X[10],H[10]:T[10],S[10],V[10], Q[10]) {} {equações do ciclo} w_turb = M2*(h[6] - h[10]) w_dot_net = w_turb - w_pump qh = MT*(h[5] - h[4]) Q_CHECK=-QH-W_PUMP+W_TURB+QL ETA_ciclo = THEFF(w_dot_net,qh, Q_CHECK, S11)
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