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Avaliação do Processo de Produção de Tintas à Base de Argila

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Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana 
n 3 (2016) pp. 2-9 
 
 
 
http://www.fsma.edu.br/si/sistemas.html 
 
2 
 
Avaliação do Processo de Produção de Tintas à Base de Argila 
 
Lívia Vieira Leite*, Rafael da Costa Pacheco*, Warlley Ligorio Antunes** 
 
 
 
 
 
Resumo - A aplicação das tintas é muito importante para proteger 
materiais do intemperismo. O consumo de tintas tem crescido e o 
desenvolvimento tecnológico nesse setor tem sido intenso, com isso 
o mercado tem exigido dos fabricantes produtos mais sustentáveis 
e com menores custos. Dentro deste contexto, este trabalho foi 
desenvolvido buscando um projeto para a produção de tintas à 
base de argila, um produto com baixo custo e com um menor 
impacto ambiental quando comparado com as tintas comumente 
encontradas atualmente no mercado. Para tanto foi elaborada 
uma metodologia para processo de produção com a definição das 
etapas. Em seguida, a metodologia foi testada em escala 
laboratorial com o intuito de verificar a coerência da metodologia 
proposta. Foi também realizado o balanço de massa para o 
processo e, em seguida, uma avaliação econômica. Desta avaliação 
foi possível obter um forte indicativo da viabilidade do processo 
de produção de tinta proposto neste trabalho. Já a avaliação 
ambiental foi positiva em todos os aspectos na comparação dos 
componentes (pigmento, solvente, adesivo) da tinta à base de 
argila com os respectivos componentes utilizados em tintas 
comerciais. Desta forma, a tinta desenvolvida possui uma ótima 
relação custo/benefício. 
 
Palavras chaves: tinta, argila, grude, processo de 
preparação de tinta. 
 
Production Process Evaluation of Ink 
using clay as a pigment. 
 
Abstract - The applicability of the paint is very important to 
protect materials from environmental actions. The ink 
consumption has grown and technological development in this 
sector has been intense, with that the market has been demanding 
more sustainable products at lower costs. This work was 
developed looking for a project for the production of paints using 
clay as a pigment. The clay is cheap and has lower environmental 
impact than the inks commonly found on the market. Then, a 
method for the production process was developed by selecting 
each of the steps. Next, the methodology was tested in the 
laboratory to check the consistency of the proposed methodology. 
The mass balance for the process was calculated and then an 
economic evaluation. From this evaluation it was possible to 
obtain a strong indication of the viability of the ink production 
process. The environmental evaluation was positive in all aspects 
when comparing the components (pigment, solvent, adhesive) ink 
 
 
developed with the components of commercial inks. Thus, the ink 
developed has an excellent ratio cost / benefit. 
 
Keywords: ink, clay, adhesive, Method ink preparation. 
 
 
I. INTRODUÇÃO 
ENHUM material está isento da ação do intemperismo, 
mas a degradação pode ser minimizada com os 
revestimentos superficiais proporcionados pelas tintas, 
aumentando o valor estético e melhorando a aparência. Nos 
últimos anos, o desenvolvimento tecnológico nesse setor tem 
sido intenso e o mercado tem exigido dos fabricantes produtos 
mais sustentáveis e com menores custos (SANTOS, 2010). 
 O Brasil é um dos cinco maiores mercados mundiais para 
tintas, fabricando-se tintas destinadas às mais variadas 
aplicações, com tecnologia de ponta e grau de competência 
técnica comparável à dos mais avançados centros mundiais de 
produção (ABRAFATI, 2013). Produzir toda essa variedade 
de produtos pode gerar impactos ambientais, pelo fato das 
matérias primas terem propriedades tóxicas e corrosivas. 
A tinta é uma mistura de pigmentos, solventes, aditivos e 
adesivos ou colas. Os pigmentos são as substâncias que 
conferem cor, enquanto os líquidos e adesivos servem para dar 
a fluidez, ou seja, a viscosidade necessária para transportar e 
fixar os pigmentos na superfície. Os pigmentos e adesivos 
podem ser de origem mineral, animal, vegetal ou sintética, 
enquanto os líquidos podem ser água, óleos ou solventes 
(CARVALHO, 2009). 
Os pigmentos são constituídos de pequenas partículas 
sólidas de granulometria fina, os quais após o tempo de 
secagem proporcionam a formação da camada uniforme que 
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reveste o substrato. Este material além de conferir cor, pode 
aumentar o brilho, opacidade, durabilidade e resistência à 
corrosão. Por isso, os pigmentos são utilizados pelo homem 
com finalidades decorativas e artísticas desde muito tempo, 
podendo ser retirados de vegetais ou minerais (FAZENDA, 
1995 apud FÜCHTER, 2007). 
O solo pode ser considerado como um pigmento barato, de 
fácil acesso e obtenção para as tintas, diminuindo. o custo da 
tinta e contribuindo para sustentabilidade do produto. O seu 
uso é amplamente disseminado, como por exemplo na prática 
do barreamento que é comum no meio rural mineiro e consiste 
no revestimento ou pintura de fogões de lenha, fornalhas e 
paredes com solo diluído em água aplicada com pano úmido 
ou brocha (CARVALHO, 2009). 
Os solventes são compostos (orgânicos ou água) 
responsáveis pelo aspecto líquido da tinta com uma 
determinada viscosidade. Após a aplicação da tinta, resta uma 
camada de filme seco sobre o substrato, formada por alguns 
processos, tais como a evaporação do filme. O principal 
objetivo do solvente é ajustar as propriedades de cura e a 
viscosidade da tinta. Também controla a reologia e as 
propriedades da aplicação, e afeta a estabilidade da tinta 
enquanto esta se encontra no estado líquido. A sua função 
principal é funcionar como transportador dos componentes não 
voláteis, podendo ser um componente opcional numa tinta. A 
água é o principal solvente das tintas de base aquosa. As tintas 
de base solvente podem ter várias combinações de solventes 
como diluente, que podem incluir hidrocarbonetos, álcoois, 
cetonas e éter de petróleo (SOARES, 2012). 
Os adesivos são substâncias que fazem com que as 
partículas dos pigmentos fiquem aderidas às paredes, ou seja, é 
uma substância aglutinante e adesiva que vai colar cada 
partícula uma na outra e estas nas superfícies a serem pintadas 
(CARVALHO, 2009). É considerado responsável pela 
aglomeração das partículas sólidas dos pigmentos, 
convertendo-o em película e fornecendo propriedades físico-
químicas específicas ao produto, determinando inclusive o uso 
do produto e a sua secagem. Ainda, é importante para dar 
aderência, brilho e flexibilidade a tinta, diferenciando de um 
tipo de tinta para outro e revestimento a ser empregado 
(FAZENDA, 1995 apud FÜCHTER, 2007). Existem 
substâncias de mais fácil obtenção que podem ser utilizadas 
como adesivos na produção de tinta, como o grude feito com o 
amido (CARVALHO, 2009). 
O grude é uma cola tradicional à base de amido que pode 
ser utilizado como uma mistura adesiva nas tintas de solos. O 
amido é formado por duas substâncias chamadas amilose e 
amilopectina. Estas substâncias encontram-se unidas por 
interações muito fortes e por isso, água na temperatura 
ambiente não consegue romper essa união, pois, o amido é 
pouco solúvel em água. No entanto, o calor ou a soda cáustica 
conseguem enfraquecer as interações entre a amilose e a 
amilopectina, permitindo que a água não somente dissolva o 
grânulo de amido, mas também se ligue a ele formando uma 
pasta que conhecemos como grude ou cola de amido 
(CARVALHO, 2009). 
A proposta desta pesquisa baseia-se no aperfeiçoamento da 
técnica de barreamento, melhorando a qualidade da tinta, 
fazendo-a
mais aderente, resistente e durável. Em outras 
palavras, este trabalho terá como ponto de partida, uma técnica 
artesanal (barreamento) que será direcionada para uma 
produção em maior escala sem que, com isso, perca suas 
características de sustentabilidade. E, devido a essas duas 
características, preço e sustentabilidade, a linha de produção 
proposta pode atender um consumo “verde” voltado para 
construções “verdes” com engajamento na preservação 
ambiental. 
Note-se que mesmo a exploração de argila sendo uma 
atividade extrativista não renovável, pode-se considerar este 
processo como ambientalmente correto pois diminui a 
dependência de compostos possivelmente nocivos e cuja 
produção pode ser considerada como extremamente poluente. 
 
II. METODOLOGIA 
A metodologia foi inspirada na técnica de barreamento, mas 
direcionada para um projeto de produção com uma maior 
escala e tendo sua qualidade melhorada, fazendo-a mais 
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aderente, resistente, durável e com características de 
sustentabilidade. 
 
A. Definição Quantitativa da Produção 
Para definir a quantidade de tinta produzida, criou-se a 
hipótese que a fabricação de tintas à base de argila tem em 
vista atender a construção de um conjunto habitacional 
“verde”. Para tanto, tomou-se como base o Projeto de Controle 
de Inundações e Recuperação Ambiental das Bacias dos Rios 
Iguaçu, Botas e Sarapuí executado pelo Instituto do Meio 
Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (INEA), conhecido 
também como Projeto Iguaçu (PROJETO IGUAÇU – INEA, 
2013). 
Baseado na proporção sugerida por Carvalho (2009) são 
necessários aproximadamente 31.000 litros de tinta, demanda 
que deverá ser atendida pelo projeto da fábrica de pequeno 
porte proposta neste trabalho. 
 
B. Definição do Tipo de Processamento: Batelada1 x 
Contínuo 
No caso do presente trabalho, por se tratar do projeto de uma 
indústria de pequeno porte, a quantidade de tinta a ser 
produzida é relativamente pequena. Desta forma, o 
processamento em batelada seria o mais indicado. Outro 
aspecto que deve ser considerado é a possibilidade de 
formação de incrustações. No caso da fabricação de tintas à 
base de argilas, o pigmento é misturado no solvente, mas na 
prática, existe a possibilidade de partes da argila não estar 
totalmente solubilizado, o que ocasionaria incrustações. Em 
operações que existem significantes incrustações, os processos 
em batelada são favorecidos, pois a limpeza dos equipamentos 
sempre é realizada e pode ser facilmente programada. 
 
C. Estruturação do processo de produção e definição das 
etapas. 
Para obtenção da tinta à base de argila, as matérias primas 
devem passar pelo processamento até a obtenção do produto 
 
1
 Processos em batelada são aqueles que processam uma carga 
considerável de cada vez e ao fim da mesma tornam-se prontos para uma 
nova carga (denominada batelada). 
final. Seguindo a linha de raciocínio para a obtenção de um 
produto sustentável, as operações unitárias foram definidas a 
fim de que não provoquem danos à saúde do homem e nem ao 
meio ambiente. 
É necessário salientar que, neste trabalho, aprimorando a 
técnica de barreamento sugerida por Carvalho (2009), foi 
sugerida a inserção se uma etapa de peneiramento cujo 
objetivo é obter um pigmento uniforme majoritariamente 
composto por argila, utilizando peneiras com abertura de 
0,002 mm. Esta é uma etapa de grande importância, pois a 
seleção do material utilizado como pigmento resulta em uma 
tinta de boa qualidade, pois partículas de menor granulometria 
(argila) possuem maior aderência, resultando em uma tinta 
mais resistente e duradoura. 
No diagrama da Figura 1, pode-se verificar as três principais 
etapas da produção que são a separação dos grãos, obtendo 
argila pura; a produção do grude, misturando uma solução de 
soda cáustica (25 g/L) como uma mistura de amido e água 
(100 g/L) numa proporção de 1 L da solução de soda cáustica 
para 1,5 L da mistura de amido e, por fim; a mistura da argila 
com o grude na proporção 8kg de argila para 10 litros de 
grude. 
 
Figura 1: Diagrama de Blocos para a produção de tinta à base 
de argila. 
 
D. Aplicação da metodologia desenvolvida em escala 
laboratorial 
Nesta etapa do trabalho, a tinta foi testada produzindo-a em 
escala laboratorial nas dependências do laboratório de 
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Química da Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora e para 
obtenção de dados experimentais essenciais para avaliações. 
O primeiro passo para realização do teste foi a obtenção das 
matérias primas: argila, hidróxido de sódio, polvilho azedo e 
água. A argila usada no teste foi obtida comercialmente e trata-
se de argila medicinal usada no tratamento de pele produzida 
pelo Laboratório P.C. Campos Produtos Naturais. O hidróxido 
de sódio utilizado foi da marca Vetec (P.A2.). O polvilho 
azedo utilizado foi produzido pelas Indústrias Granfino S.A. A 
água utilizada trata-se de água destilada. 
Após preparado 100 ml de grude seguindo as proporções já 
descritas, sua massa específica foi determinada usando a 
técnica da picnometria. Em seguida, usando os 100 ml do 
grude preparado, adicionou-se 80 g de argila sob contínua 
agitação para obter uma tinta homogênea e de coloração verde 
escura, como mostra a Figura 2. 
 
 
Figura 2: Preparo da tinta à base do solo. 
 
Nesta fase não foram efetuados testes de verificação de pH, 
pois a verificação de compatibilidade da tinta com a natureza 
básica da argamassa foi feita de forma empírica, aplicando-se 
a tinta produzida aqui em superfícies reais. 
Os resultados obtidos por picnometria para o grude e para a 
tinta estão apresentados na Tabela 1. 
 
Tabela 1: Valores de massa específica obtidos por 
picnometria. 
 Massa específica (g/mL) 
Grude 1,025 
Tinta 1,380 
 
 
 
 
 
 
2
 P.A. Reagente com grau de pureza para ser utilizado em análises 
químicas 
III. RESULTADOS 
 
A. Teste de Aplicação da Tinta 
Este teste consistiu em aplicar 3 demãos da tinta produzida 
em uma pequena superfície de parede de alvenaria como 
mostra a Figura 3. Este teste foi realizado com intuito de 
avaliar o aspecto visual da tinta produzida e sua secagem. 
 
Figura 3: Aplicação da tinta em uma pequena superfície. 
 
Foi observado que a tinta tem um tempo de secagem bem 
curto e, devido às matérias primas utilizadas, não foi percebido 
nenhum tipo de cheiro como na maioria das tintas imobiliárias 
comerciais. Já em relação ao aspecto estético, obteve-se um 
resultado satisfatório com grande poder de cobertura e 
aderência como mostra também a Figura 3. 
B. Balanço de Massa do Processo 
Como estratégia do cálculo de balanço de massa, definiu-se 
3 envoltórias, como enumeradas abaixo na Figura 4. 
 
Figura 4: Diagrama de Blocos com as 3 envoltórias usadas 
para o balanço de massa 
 
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 Considerando os valores de massa específica obtidos 
experimentalmente e também as proporções de matérias 
primas usadas para produção da tinta, as equações 1, 2 e 3 
foram aplicadas, respectivamente, nas envoltórias 1, 2 e 3 
(Figura 4) e como resultado final destes balanços de massa 
temos os valores requeridos para todas as matérias primas 
envolvidas no processo de produção de tinta apresentados na 
Tabela 2. Outra consideração adotada é de que o solo usado 
como matéria prima possui
um teor de 50% de argila. 
 
margila + mgrude = mtinta (Equação 1) 
margila + mgrãos de maior granulometria = msolo (Equação 2) 
mgrude = mágua (mistura de polvilho) + mágua (solução NaOH) + mNaOH + 
mpolvilho (Equação 3) 
 
 
 
 
Tabela 2: Valores requeridos das matérias primas para 
produção de 31000 L de tinta à base de argila. 
 
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75
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88
 
 
Finalmente, o balanço de massa global para este 
processo pode ser representado pela Equação 4: 
(Equação 4) 
Os dados expostos neste balanço global, podem ter sua 
consistência verificada aplicando aos valores apresentados na 
Tabela 2. 
 
C. Avaliação Econômica 
Para fazer comparações com foco econômico, estimou-se o 
preço da tinta à base de argila aqui proposta considerando 
apenas o custo das matérias primas empregadas conforme a 
Tabela 3. 
 
Tabela 3: Estimativa dos gastos com matéria prima para 
produção de 31000 litros tinta à base de argila. 
M
a
té
ri
a
 
Pr
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a
 
Preço Fonte Quant. Custo (R$) 
So
lo
 
R$ 15,00/ton 
Departame
nto 
Nacional de 
Produção 
Mineral 
37,505 ton 562,58 
Ág
u
a
 
0-20m3: 12,83 
R$/m3 
CEDAE 22,46 m3 289,79 21-31 m3: 
13,47 R$/m3 
N
a
O
H
 
R$ 32,00/kg Sigma Aldrich 224,55 kg 7185,6 
Po
lv
ilh
o
 
R$ 9,46/kg 
Pesquisa de 
Mercado 
(Macaé) 
1347,32 kg 12745,64 
 
A partir da Tabela 3, estimou-se o valor de RS 12,07 para o 
gasto com matérias prima para fabricar 18 litros de tinta. 
Comparando este valor com os preços de três marcas de tintas 
imobiliárias vendidas no mercado (Tabela 4), pode-se 
constatar a viabilidade econômica da tinta à base de argila. 
 
Tabela 4: Estimativa dos gastos com matéria prima para 
produção de 18 litros (uma lata) de tinta à base de argila. 
Preço Tinta à base de argila Marca X Marca Y Marca Z 
R$ 12,07 109,90 119,90 149,90 
 
 
D. Avaliação Ambiental 
A avaliação ambiental aqui realizada baseou-se 
principalmente na comparação entre os componentes aplicados 
na fabricação da tinta à base de solo e das tintas imobiliárias 
encontradas no mercado. Partindo da definição de que a 
produção de tinta requer três matérias primas (pigmento, 
adesivo e solvente) o Quadro 1 foi construído com intuito 
estabelecer as comparações propostas. 
 
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Quadro 1: Comparação dos componentes aplicados para 
fabricação da tinta à base de solo e tintas imobiliárias 
encontradas no mercado. 
Componente 
Tinta à 
base de 
solo 
Tinta imobiliária comercial 
Pigmento Argila Pigmentos naturais ou sintéticos 
Adesivo Grude Resina 
Solvente Água 
Solventes Orgânicos ou, no caso 
de tintas PVA e acrílicas, 
solvente a base de água 
 
Começando pelos pigmentos, para a tinta à base de solo, 
temos a argila como pigmento, já para as tintas imobiliárias 
normalmente encontradas no mercado são utilizados os mais 
variados tipos de pigmentos que podem ser naturais ou 
sintéticos. Segundo Silva (2010), vários destes pigmentos 
podem ser muito prejudiciais ao meio ambiente por possuírem 
em sua composição metais pesados. 
O principal problema ambiental relacionado aos corantes é 
que, quando descartados inadequadamente em ambientes 
aquáticos, ocorre diminuição da transparência da água, o que 
dificulta a penetração da radiação solar. Assim sendo, esses 
rejeitos coloridos diminuem a atividade fotossintética e 
provocam distúrbios na solubilidade dos gases, causando 
danos nas guelras e brânquias dos organismos aquáticos, além 
de perturbar seus locais de desova e refúgio (BARCELOS, 
2009). 
Para avaliação do solvente, comparou-se o solvente 
empregado na tinta à base de solo, a água, com os solventes 
normalmente utilizados nas tintas imobiliárias comerciais, os 
solventes orgânicos. Esta comparação pode ser realizada de 
forma bem simples, pois tendo a água como solvente 
universal, ela não causa qualquer prejuízo ao homem nem ao 
meio ambiente. Por outro lado, os solventes orgânicos 
empregados em tintas comerciais, tais como hidrocarbonetos, 
álcoois, acetatos, cetonas e ésteres podem trazer inúmeros 
prejuízos ao meio ambiente tanto na sua obtenção quanto no 
tratamento inadequado dos seus rejeitos. 
Na comparação dos adesivos, o grude usado para produção 
de tinta à base de solo foi confrontado com a resina que é o 
principal adesivo utilizado nas tintas comerciais. O grude, 
como já dito, trata-se de um adesivo simples à base de 
polvilho azedo. Já as resinas possuem uma composição muito 
variada que, segundo Fonseca (2010), as matérias-primas mais 
comuns em resinas são os óleos vegetais, alguns polióis como 
etileno glicol, glicerina, pentaeritritol e alguns poliácidos 
como, anidrido ftálico, anidrido trimetílico, anidrido maleico. 
Dessa forma, devido à complexidade da resina, envolvendo 
em sua composição várias matérias primas que podem causar 
danos ao meio ambiente, tem-se que a aplicação do grude 
como adesivo é uma escolha coerente com a proposta 
ecológica da fabricação de tinta à base de solo. 
Portanto, de uma forma geral, a escolha dos três 
componentes (pigmento, solvente e adesivo) da tinta à base de 
solo resultou em uma tinta ecológica que é menos agressiva ao 
meio ambiente quando comparada com as tintas encontradas 
no mercado. 
 
IV. CONCLUSÕES 
No presente trabalho desenvolveu-se o processo de 
produção de tinta à base de solo a partir do aprimoramento da 
técnica de barreamento. Para a melhoria do processo e 
produção de uma tinta de qualidade, pode-se perceber a 
fundamental importância da seleção de partículas pequenas 
(argila) para aplicação como pigmento, o que justifica o 
peneiramento. Sem tal etapa, as partículas maiores 
sedimentariam e a tinta não teria aderência mesmo com a 
adição de uma substância adesiva. 
Ressalta-se também a importância do teste em escala 
laboratorial. Com esta etapa foi possível verificar a coerência 
do processo proposto bem como as proporções das matérias 
primas sugeridas para a produção da tinta de solo. A tinta 
obtida neste teste atendeu a todas as expectativas, sendo uma 
tinta homogênea com grande poder de cobertura, aderência e 
bom aspecto estético. 
Em relação à avaliação econômica da tinta, foi calculado os 
gastos com as matérias primas utilizadas na obtenção na tinta. 
Este estudo não representa o exato valor de venda caso esta 
tinta fosse comercializada, mas, devido ao fato de seu custo 
estar bem abaixo do preço das tintas comerciais, é um forte 
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indicativo da viabilidade econômica do processo de produção 
de tinta proposto neste trabalho. 
Já a avaliação com foco ambiental foi positiva em todos os 
aspectos comparando cada um dos componentes (pigmento, 
solvente, adesivo) da tinta à base de solo com os respectivos 
componentes utilizados em tintas comerciais. Além disto, para 
a tinta à base de solo aqui proposta não há geração de resíduos 
no processo de produção, exceto pelo excedente de solo de 
maior granulometria. 
Assim sendo, através deste projeto e de toda a pesquisa feita 
para possibilitar sua conclusão, pode-se perceber que a tinta 
aqui desenvolvida possui uma ótima
relação custo/benefício 
empregando materiais menos agressivos a natureza e à saúde 
humana. 
O valor do trabalho está na iniciativa de desenvolvimento e 
avanço tecnológico em material de construção, ainda que em 
fase inicial. Por ainda figurar como estudo inicial, ainda não 
fizemos os estudos dos parâmetros de desempenho definidos 
pela norma NBR/ABNT 15 575, o que pode ser considerado 
como um trabalho futuro neste momento. 
O caráter inicial desta pesquisa fica evidente quando se 
compreende que as conclusões colocadas aqui ainda não não 
podem ser aplicadas diretamente em edificações, pois 
necessitam de aprofundamento e mais ensaios laboratoriais, 
como por exemplo, ensaios de envelhecimento acelerado, 
permeabilidade e estanqueidade. Da mesma forma, precisamos 
estudar de forma mais profunda a questão das técnicas de 
aplicação e manutenção. 
Assim, como trabalhos futuros consideramos a possibilidade 
de um estudo de durabilidade da tinta produzida frente as 
condições de intemperismo e verificação da aplicabilidade das 
tintas às edificações reais. 
Ademais, achamos interessante a prossibilidade de 
verificação da produção de cores variadas e análises de solidez 
de cor. 
 
REFERÊNCIAS 
[1] ABRAFATI – Associação Braseileira de Fabricantes de Tintas. 
http://www.abrafati.com.br/, acessado dia 29 de setembro de 2013. 
 
[2] BARCELOS, Ivonete O. Remoção de cor de soluções corantes reativos 
com cinzas de casca de arroz. Dynamis revista tecno-científica, 2009. 
 
[3] CARVALHO, A. F. (2009) Cores da terra: fazendo tinta com terra! 
UFV, DPS, Viçosa-MG. 
https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/files/cursos/2/cores.swf, 
acessado dia 22 de agosto de 2013. 
[4] Equipe CEAD. (2013) Curso Cores da Terra, Universidade Federal de 
Viçosa (UFV), MG sobre pintura de paredes de alvenaria, 
https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/files/cursos/2/cores.swf, 
acessado dia 22 de agosto de 2013. 
[5] CEDAE: Companhia Estadual de Água e Esgoto 
http://www.cedae.com.br/div/Estrutura_Tarifaria_2013.pdf, acessado 
em 20 de outubro de 2014. 
[6] DNPM: Departamento Nacional de Produção Mineral 
http://www.dnpm.gov.br/go/mostra_arquivo.asp?IDBancoArquivoArqui
vo=6402, acessado em 20 de outubro de 2014. 
[7] FAZENDA, Jorge M. R. et al. Tintas & Vernizes: Ciências e 
Tecnologia. 2ª ed. São Paulo: Texto Novo, 1995. 
[8] FELDER, Richard. Princípios Elementares dos Processos Químicos. Rio 
de Janeiro: LTC, 2008. 
[9] FONSECA, A. S. Fonseca. Tintas e correlatos. Monografia de Química 
Industrial da Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2010. 
[10] FÜCHTER, R. Miguel. Proposta de melhoria no processo de fabricação 
de tintas automotivas. Monografia da Engenharia Química da 
Universidade do Sul de Santa Catarina,Tubarão, 2007. 
[11] INEA: Instituto Estadual do Ambiente (2013). Projeto de Controle de 
Inundações e Recuperação Ambiental das Bacias dos Rios Iguaçu, 
Botas e Sarapuí – Projeto Iguaçu. 
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