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IBET – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS Módulo: Controle da Incidência Tributária Seminário IV – Imunidade e Normas Gerais de Direito Tributário 1. Que é imunidade tributária? Diferençar imunidade, isenção, não incidência e incidência tributária. O conceito de imunidade tributária pode ser aplicável às taxas, às contribuições e as contribuições de melhoria? Imunidade tributária pode ser entendida como uma barreira ao poder de tributar, uma impossibilidade de tributação que, ao se defrontar com pessoas, bens e situações, alcançadas por imunidade, não haverá a incidência tributária. A imunidade pode ser definida como uma não-incidência constitucionalmente qualificada, ou seja, a imunidade deve estar na Constituição Federal. Todo e qualquer outro instrumento que afaste a incidência tributária a determinado fato, se prevista em norma infraconstitucional, não é caso de Imunidade Tributária. Conforme expresso por Clélio Chiesa1 “As imunidades são normas constitucionais completas...”, ou seja, são normas plenas, sem necessidade de regulamentação e por consequência, de aplicabilidade imediata. O principal comando constitucional quanto a Imunidade Tributária está previsto no art. 150, inciso VI da CF. A isenção é um tipo de dispensa do pagamento de determinado tributo, e como previsto no Código Tributário Nacional, é uma espécie de exclusão do crédito tributário. Já a não-incidência, para sua compreensão primeiro é necessário entender a incidência tributária. Em parcas palavras, há incidência tributária quando ocorrido o fato gerador, e, conforme incidência de determinada lei tributário, nasce a obrigação tributária, o dever de pagar o tributo. A não incidência é o inverso disso, corresponde aos fatos que não constam na lei como ensejadores da obrigação tributária. Sendo assim, a não incidência decorre da imprevisibilidade do fato na hipótese de incidência. Assim, diferenciando os três institutos, temos que a não-incidência e a imunidade, especificamente, importam na não ocorrência de um fato gerador, enquanto a isenção trata-se de caso de dispensa legalmente prevista do crédito tributário. Sobre o alcance da imunidade, de acordo com o atual texto constitucional, 1 CHIESA, Clélio. A Competência Tributária Do Estado Brasileiro: desonerações nacionais e imunidades condicionadas. São Paulo: Max Limonad. pg. 120, 2002. verifica-se que é possível imunidade ao pagamento de taxas ( art. 5º, XXXIV, CF), impostos (art. 150, VI, CF) e das contribuições para a seguridade social (art. 195,§ 7º, CF). Contudo, as mais importantes imunidades são as aplicadas exclusivamente aos impostos. 2. As imunidades são cláusulas pétreas na Constituição Federal? Uma Emenda Constitucional pode revogar alguma das imunidades dispostas na Carta Magna? As normas constitucionais que veiculam imunidades são autoaplicáveis ou dependem de regulamentação infraconstitucional? Não. As cláusulas pétreas estão previstas no art. 60, § 4º da CF/88, e nos incisos que compõe este parágrafo, nenhum deles faz referência as imunidades tributárias. Sendo assim, pelo fato das imunidades tributárias não ostentarem prerrogativas de cláusulas pétreas, podem ser modificadas, ou até mesmo serem suprimidas via emenda constitucional. As normas que contemplam as imunidades são normas de caráter pleno, logo, de aplicabilidade imediata, sem necessidade de normatização infraconstitucional. 3. Na sua opinião, são imunes: (a) quanto ao ISS: os serviços de guarda e estacionamento de veículos automotores prestados por entidades religiosas (vide anexos I e II); Se a renda obtida com este serviço for na sua totalidade revertida para as atividades essenciais das entidades religiosas, partindo do pressuposto que os imóveis locados por estas entidades, a renda desta locação contínua imune a tributação, entendo que este serviço também permanece imune. (b) quanto ao IPTU: o imóvel destinado à locação, pertencente à mesma entidade (vide anexo III); e os cemitérios particulares (vide anexo IV); Partindo do mesmo entendimento exarado no item anterior, tanto a locação do imóvel de entidade religiosa, como o cemitério mantido por esta deve gozar da imunidade tributária se, os valores arrecadados forem revertidos para as atividades essenciais da entidade. (c) quanto ao ITR: as áreas de reserva indígena (vide STF, Petição n. 3388, DJ 04/02/14); As terras indígenas são bens da União, e devido a União possuir imunidade tributária conforme previsto no art. 150, inciso VI, alínea “a”, as terras indígenas estão imunes ao ITR, que inclusive é um imposto de competência da própria União. (d) quanto aos serviços prestados por empresas públicas no regime de concorrência (vide anexos V); Empresas públicas que operam em regime de concorrência geral, estão sujeitas as mesmas regras impostas a iniciativa privada, ou seja, não gozam da imunidade recíproca aplicável aos entes públicos conforme dispõe o art. 150, § 3º da CF: § 3º As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel. (e) quanto aos serviços “públicos” prestados por sociedades de economia mista (vide anexo VI e VII); Conforme entendimento exarado no item anterior, se a sociedade de economia mista atuar em atividades econômicas de livre concorrência, objetivando lucro, deverá se sujeitar ao regime jurídico seguido pela iniciativa privada. No caso dos julgados em referência, as empresas em questão mantém a imunidade recíproca pois atuam em nichos que não de objetivam o lucro, tampouco concorrência. (e) quanto aos serviços “públicos” prestados por sociedades de economia mista cujas ações sejam negociadas na bolsa de valores (vide anexo VIII). Será necessário verificar o caso concreto pois, as ações da sociedade negociadas em bolsa não significa dizer que esta sociedade atua em ampla concorrência e objetivando o lucro. Justifique suas respostas. 4. Considerando a imunidade recíproca, responda: (i) o fato de um imóvel de propriedade do ente público ter seu uso transferido a particulares gera repercussão direta na manutenção da imunidade? (vide anexo IX, X e XI) A manutenção da imunidade recíproca prevista no art. 150, inciso VI, alínea “a” da CF/88 persiste se a transferência deste imóvel for para determinado particular que atue em regime não concorrência, como, por exemplo, instituições de educação ou de assistência social, e no caso destes exemplos, estes particulares também, por motivos atinentes ao meio de atuação, também gozam de imunidade. Caso o uso do imóvel público seja cedido para uma empresa pública que atua em regime concorrencial, como por exemplo, Petrobras, esta não goza de imunidade e deverá pagar IPTU2. (ii) um automóvel alienado fiduciariamente por instituição financeira a município está imune ao IPVA? (vide RE 7271851 MG, disponível em www.stf.jus.br). A alienação fiduciária é um modelo de garantia de propriedades, que tem por objetivo manter a propriedade ao banco até que o devedor pague totalmente o bem. Na questão em teses, embora o veículo esteja alienado fiduciariamente, ele encontra-se incorporado ao patrimônio do município e afetados às finalidades públicas, motivopelo qual devem receber o tratamento destinado aos bens públicos, ou seja, deve gozar da imunidade recíproca que é garantia constitucional. 4. Como deve ser interpretado o disposto no art. 150, VI, “d” da CF: “livro, jornais e periódicos e o papel destinado a sua impressão”. Pode-se dizer que livros e periódicos eletrônicos (“e-books”), bem como o material utilizado para sua comportá-los (“e-book readers”) são imunes com fundamento neste dispositivo? E os Tablets? (Vide anexos XII e XIII e considere para sua resposta, os fundamentos utilizados pelos Ministros do STF no julgamento dos RE 330.817 e RE 595.676) O dispositivo previsto no art. 150, VI, “d” da CF deve ser interpretado de forma teleológica, ou seja, deve se buscar o fim para o qual esta norma imunizadora foi criada e assim verificar se a imunidade faz sentido sendo o livro, hoje, difundido em mídia digital. Quando da edição da norma que concedeu imunidade aos “livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão” estes só existiam na forma impressa, e a imunidade sempre se justificou no sentido de difundir a cultura, de buscar a 2 STF – R.E. nº 594015. democratização ao acesso à informação. Atualmente, com as novas tecnologias, com a ideia de desenvolvimento sustentável, reciclagem, diminuição no uso de recursos naturais com a finalidade de diminuir os impactos ambientais, o livro impresso perdeu espaço. Penso que a imunidade prevista no art. 150, VI, “d” da CF guarda identidade com os “e-books”, bem como com os “e-book readers” pois o “e-book” é a versão digital do livro, sendo plenamente aplicável a norma em questão, e no caso dos “e-book readers”, sendo este dispositivo com a única função de leitor de livro digital, amoldasse perfeitamente na questão trazida pelo texto constitucional “...papel destinado a sua impressão”, sendo também este dispositivo imune a tributação. No caso dos tablets, estes dispositivos também podem ser utilizados como leitores de e-book, no entanto está não é sua função essencial, tendo este dispositivo inúmeras outras funções que desvirtua da norma constitucional criada para difundir a cultura através da leitura de livros, jornais e periódicos… 5. No caso da imunidade para as instituições de assistência social sem fins lucrativos, o cumprimento do art. 14 do CTN é suficiente para garantir sua aplicação ou ainda é necessária a comprovação do caráter assistencial e filantrópico previsto no art. 203 da CF/88? É possível que lei ordinária garanta sua aplicação? (Vide anexo XIV). Conforme comando constitucional, gozam de imunidade as instituições de assistência social sem fins lucrativos, por força do dispositivo previsto no art. 150, VI, “c” da CF. c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; Entendo que os requisitos legais que se refere o dispositivo acima destacado, se restringe a definir o que seja “instituições de assistência social sem fins lucrativos” em sua essencial, e não em definir ou delimitar a imunidade tributária aplicável em si. Quanto ao alcance da imunidade aplicável a tais entidades, no mesmo dispositivo, art, 150, em seu parágrafo 4º, guarda delimitações que devem ser seguidas pelas entidade enquadradas na norma imunizante. § 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c", compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas. Além das delimitações imposta no dispositivo acima citado, conforme dispõem a questão, são requisitos a serem cumpridos pelas entidades, o art. 14 do CTN, o qual impõem obrigações para as entidades, os quais, se forem descumpridos, desconfigurarão o caráter “sem fins lucrativos” previsto no comando constitucional. 6. Explicar as diferenças entre as correntes dicotômica e tricotômica na aplicação das normas gerais de direito tributário. Precisar o sentido da expressão “normas gerais de direito tributário”, diferenciando lei complementar nacional e lei complementar federal. A corrente dicotômica preconiza que a lei complementar deve dispor sobre normas gerais em matéria de legislação tributária, as quais, por sua vez, vão dispor sobre conflitos de competência e regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. Já a chamada corrente tricotômica sustenta competir à lei complementar dispor sobre conflitos de competência em matéria tributária, regular as limitações constitucionais ao poder de tributar e estabelecer normas gerais. A expressão “normas gerais de direito tributário” foi empregada no texto constitucional no sentido de que estas normas são de observância geral, quando editadas em lei complementar de caráter nacional, quando editadas em caráter federal, estas são aplicadas apenas no âmbito da União. 7. O art. 146, inciso III, da CF, autoriza a lei complementar a definir os fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes dos impostos já discriminados na Constituição? Isso não violaria o princípio da autonomia das pessoas políticas? Considerar as recentes decisões proferidas pelos Ministros do STF no RE 566.622 e ADI´s 2028, 2036, 2228 e 2621. Sim, o comando previsto no art. 146, inciso III, da CF autoriza a lei complementar definir os fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes, dos impostos, entre outros critérios. Ao analisar o dispositivo, entendo que se for editada lei complementar de âmbito nacional definindo algum dos itens previstos no art. 146, inciso III, da CF, o congresso invadiria competência do ente ao qual o tributo em questão fosse competente. A CF já distribui as competências e delimita a atuação, lei complementar deve regulamentar detalhes que refutem arbitrariedades por parte dos entes públicos, deve orientar, impor balizas, mas não pode retirar do ente sua autonomia legislativa e administrativa, pois se o fizer, o pacto federativo será rompido.
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