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98663632-Resumo-laraia-e-la-platine-antropologia (texto retirado do scrib)

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1º texto
 
Introdução: o campo e a abordagem antropológicos
 
 Em todas as sociedades existiram homens que observavam homens interrogando-se e questionando-se acerca de si mesmo e do outro e da natureza humana em suas diversas formas de se apresentar. Contudo, somente no século XVIII, uma saber científico, tendo o homem como objeto de estudo, começa a tomar forma. Nesse período, acontecimentos como aRevolução Industrial em curso e o conseqüente fortalecimento do positivismo aproximaram o nascente saber antropológico de saberes como a física ou biologia. Até então o pensamentodo homem sobre o homem era eminentemente mitológico e filosófico afastando-se de um saber científico, nascia, pois, no fim do século XVIII a ciência que estuda o homem: a Antropologia.
Contudo, mesmo adquirindo caráter científico no século XVIII, somente na segunda metade do século XIX, a Antrpologia alcança suas primeiras realizações. Nesse período, aantropologia começa a estudar objetos empíricos autônomos: as sociedades ditas primitivas, exteriores às áreas européias e norteamericanas. A ciência, como era pensada na época,exigia uma separação entre observador e objeto observado, por isso os estudiosos do períodose detiveram às sociedades distantes do eixo europeu e americano, estudando sociedades dedimensões restritas com poucos contatos comas grandes potências da época.Logo após firmar seu objeto de estudo, os antropólogos percebem que ele estádesaparecendo, o homem e as sociedades ditas primitivas, em virtude do contato com oseuropeus e norte-americanos, estavam se extinguindo. Nesse contexto, o antropólogo se vê emuma situação de possível fim da ciência antropológica, dá surge uma nova abordagem dessesaber: perceber que a antropologia seria
um certo olhar (...) que consiste em:a) o estudo do homem inteirob) o estudo do homem em todas as sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as épocas. ¹ 
O estudo do homem inteiro 
Uma correta abordagem antropológica leva em consideração as diversas dimensões do ser humano em sociedade. O estudo mais aprofundado leva a uma natural especialização, contudoa antropologia deve tentar integrar essas diferentes dimensões do ser humano tentandoentende-lo por inteiro. Desses estudos, e dessa especialização surgiram cinco grandes áreas principais da antropologia.
Antropologia biológica:
desenvolve um conhecimento com ênfase na variação dos caracteres humanos, físico e biológicos, em diferentes espaços e tempos, procurando entender e relacionar a biologia do ser humano com sua inserção na sociedade, levando também em consideração a relação biologia cultura, ou seja, o homem é entendido como um organismo biológico dentro de um contexto histórico e sócio-cultural.
b)Antropologia pré-histórica:
desenvolve um estudo dos vestígios deixados pelo homem, tendo, pois, profunda relação com a paleontologia e arqueologia. Nesse ramo,o antropólogo é, antes de tudo, um historiador, pois busca reconstituir sociedadesdesaparecidas nas suas diversas dimensões, técnicas; organizações sociais; produções culturais e artísticas.
c)Antropologia lingüística: 
o ramo da antropologia que estuda o ser humano a partir da linguagem com que se comunica. Esse ramo procura compreendera comnicaçãohumana e a influência da língua no processo de reconhecimento do mundo,decognição,de relacionamento socio-cultural e também na afetividade.Aqui,a linguagemé entendida como elemento de transmissão e interação cultural,daí a importância noseu estudo.
Nesse campo,pode-se observar os avanços da etnolinguística no estudode línguas indígenas.
d)
Antropologia psicológica:
 
revela o domínio do estudo dos mecanismos do psiquismohumano, na sua interação com a permanência social² 
. Somente através do estudo doconsciente e inconsciente do homem em sua particularidade pode-se entender atotalidade.
e)
Antropologia social e cultural (etnologia)
: diz respeito a tudo que constitui umasociedade, considerando o modo de produção, a relação com o sagrado, organização política e jurídica.
O homem em sua diversidade
A antropologia é o estudo, não somente dos componentes de uma sociedade, mas tambémde todas as sociedades. Nesse sentido, o estudo das sociedades longínquas foi fundamental para a percepção de que aquilo que é tomado por natural em uma sociedade é na verdadecultural. Aceitar que aquilo que de forma tão espontânea é feito é um ato cultural é difícil, daía necessidade do “estranhamento”, é preciso perceber que não há um centro no mundo, nemcultura melhor ou pior, existem apenas culturas diferentes
2º texto
O livro de Laraia é dividido em duas partes. A primeira delas trata sobre o desenvolvimento do conceito de cultura, enquanto a segunda, sobre as formas pelas quais a cultura influencia o comportamento social e diversifica a humanidade.
Logo no início do texto, Laraia aponta dois dos maiores equívocos que rondavam e, poder-se-ia dizer, ainda rondam. o conceito de cultura em Antropologia: os determinismos geográficos e biológicos. Tais teses, hoje abandonadas pela grande maioria dos antropólogos e cientistas sociais, sustentam que as características geográficas ou biológicas, leia-se raciais ou étnicas, seriam responsáveis pelas diferenças culturais entre os diversos povos. Laraia apresenta uma série de colocações que desmentem tais teses, como por exemplo, o argumento de que existem diferenças culturais significativas em relação a povos estabelecidos em condições geográficas similares. Um exemplo de concepção pautada no determinismo geográfico é aquela que considera o clima como um elemento determinante do progresso de um povo, enquanto povos residentes em climas frios seriam mais suscetíveis ao progresso, aqueles residentes em climas quentes estariam em condição desfavorável em função do calor que os tornaria preguiçosos e passionais. O raciocínio do determinismo biológico funciona da mesma maneira: as diferenças culturais seriam explicadas em função da genética de cada povo. 
Neste sentido, Laraia cita muito pertinentemente uma declaração da Unesco, datada de 1950 - e portanto, após o genocídio praticado pelo nazismo em direção àqueles que seriam considerados geneticamente inferiores, a fim de sustentar que as diferenças entre os povos se deve à história cultural de cada grupo, e não da sua genética. Daí que "o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo de chamamos de endoculturação". A endoculturação seria o processo de diferenciação entre os povos, incorrendo na formação de culturas diferentes.
A seguir, o autor mostra como foi surgindo e sendo delineado o conceito de cultura, desde os antecedentes históricos da definição do conceito, como Locke que postulava a mente humana como "tabula rasa", passando pela definição clássica de Tylor, a primeira definição de cultura do ponto de vista antropológico, ainda com uma perspectiva evolucionista segundo a qual haveria uma "escala de civilização" de onde se definiria o progresso cultural. 
Tal perspectiva foi reproduzida na Antropologia com grande ênfase, graças à influência dos estudos de Charles Darwin, em A origem das espécies. O evolucionismo começa a ser superado a partir dos estudos do alemão Franz Boas, que, radicado nos EUA, desenvolve o Particularismo Histórico (ou Escola Cultural Americana), "segundo a qual cada cultura segue os seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que enfrentou". O antropólogo americano Kroeber complementa esta definição, afirmando que cada cultura é o meio de adaptação do homem em relação aos diversos ambientes ecológicos, de modo que não é o aparato biológico que determina a cultura; ao contrário, a adaptação é que exige mudanças em seu "equipamento superorgânico". Laraia volta a este ponto mais à frente, quando trata da questão de como a cultura influencia o aparato biológico humano.
Na segunda parte do livro, Laraia se dispõe a mostrar, de início, como a cultura condiciona a visão do mundo do homem. Para o autor, "o modo de vero mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado de uma ação de uma determinada cultura”. Laraia nos fornece um exemplo simples, mas muito eficaz, para ilustrar esta perspectiva: o riso. Sujeitos de diferentes culturas riem de coisas distintas e por razões distintas. Um índio Kaapor pode rir de susto; os japoneses por vezes riem por etiqueta; os americanos riem de comédia pastelão etc. Da mesma forma que o riso, o uso que se faz do corpo também depende da cultura, como sugere o autor ao citar o artigo de Marcel Mauss, Noção de Técnica Corporal. 
Dentre os exemplos, destaca-se a diversidade gastronômica humana, de onde decorre que alimentos considerados saborosos e requintados em uma cultura podem despertar repulsa em outras. A partir desta idéia de "repulsa ao que soa estranho", o autor chama a atenção par uma tendência etnocêntrica, a qual consiste, em termos gerais, em considerar cada um o modo de viver da sua cultura como superior aos demais.
Em seguida, Laraia retoma o tema das influências da cultura sobre o biológico, usando como exemplo os índios Kaapor, que crêem que a visão de um fantasma é um sinal de morte, e o crêem de forma tão veemente que os índios chegam a morrer. A influência da cultura sobre o organismo também se evidencia no surgimento de doenças psicossomáticas, ou na eficácia do conhecido "efeito placebo".
Laraia coloca a seguir que os indivíduos participam diferentemente de cada cultura. O grau de participação de cada um numa cultura depende de inúmeros fatores, como idade, sexo, posição social etc. O autor fornece vários destes casos, como por exemplo, o estabelecimento de uma idade mínima para o voto ou para o casamento. Neste sentido, destaca também a importância de cada um conhecer minimamente o sistema cultural no qual está inserido. È a partir destes sistemas que as pessoas sabem como agir, o que é lícito fazer ou não etc, de modo a se enquadrarem socialmente.
Laraia enfatiza também que toda cultura possui uma lógica própria, ou seja, não é possível deslocar a lógica de um dado sistema cultural para outro, do mesmo modo que um fato cultural apreende seu sentido apenas na configuração que lhe é própria, pois "a coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence" . Assim, a análise de uma outra cultura requer um distanciamento da "cultura própria", a fim de que as referências da última não sirvam de critério para as primeiras.
Ao fim do livro, Laraia expõe um último ponto: a cultura é dinâmica, de modo que nenhuma sociedade é estática, mesmo que o ritma de mudança de determinadas sociedades seja menos acelerado que de outras. Existiriam também dois padrões de mudanças: o da dinâmica que se efetua a partir do próprio sistema cultural e o que resulta do contato com uma outra cultura. Este último é o que se dá de forma mais atuante na maior parte das sociedades, recebendo maior atenção da Antropologia. Entender a dinâmica de um sistema cultural "é importante para atenuar o choque entre gerações e evitar comportamentos preconceituosos".

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