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P2 História das Ideias Linguísticas

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História das Ideias Linguísticas – P2
Whitney – A vida da linguagem
 Prefácio à edição brasileira
- Analisar as obras de estudiosos pretéritos do nosso campo é condição necessária para compreensão acurada das teorias contemporâneas;
- Whitney estabelece as bases da linguística moderna, fixando a agenda de muitos estudos linguísticos do séc. XIX. Estudou comparatismo, mas dedicou-se majoritariamente à linguística geral (fundamentos da linguagem humana e as causas de seu desenvolvimento). Pensamento importante para a história da linguística;
- Bopp havia delimitado, recentemente, um domínio dos estudos da linguística, portanto, quando Whitney desenvolve suas ideias a jovem ciência possui pouco mais de cinquenta anos;
- A comparação entre línguas permite-nos determinar o parentesco de uma nação com outra e remontar suas tradições mais antigas com maior segurança. Bopp, contudo, fugiu ao comparatismo e tratou do fenômeno das mudanças linguísticas distanciando-o da análise histórica e filológica. Esse distanciamento permitiu-lhe fundar uma ciência à parte da comparativa. À nova ciência cabia mostrar a ação das leis que fizeram com que idiomas saídos de um mesmo berço evoluíssem em direções tão diversas;
- No séc. XIX a referência à biologia no tratamento do fatos humanos é geral. A linguagem, portanto, é concebida aos moldes de um organismo vivo. Em 1863, Schleicher afirma que “as línguas são organismos naturais que, independentemente da vontade humana, crescem, se desenvolvem, envelhecem e morrem”. Schleicher explica, nesse mesmo texto, seu esquema de evolução das línguas indo-europeias, concebido como uma árvore genealógica;
- A inscrição dos esudos linguisticos ao domínio das ciências naturais (linguística naturalista) trouxe um apagameto da dimensão humana da linguagem;
- A linguística moderna nasce quando da ruptura com a linguística naturalista, quando sujeito, sentido e sociedade são resgatados. Em Whitney se dá o nascimento da reação a essa tratamento da linguística;
- Whitney insiste que a linaguem possui caráter social e não é um organismo natural, mas um produto humano; traz de volta a dimensão do uso e da comunição e afirma que “toda palavra transmitida é um signo arbitrário e convencional”. Pontua, ainda, que “as instituições humanas em geral se transmitem pela tradição, como a linguagem, e são modificadas ao longo dessa transmissão”;
- Whitney exerceu grande influência sobre seus contemporâneos, como Saussure. Saussure diz que Whitney mudou o eixo da linguística ao definir a linguagem como uma instituição humana.
- Ao pensar as relações entre língua e sociedade, Whitney se inscreve na história da linguística como um ponto de origem da sociolinguística moderna. Apresenta em “A vida da linguagem” importantes postulados da sociolinguística. Podemos citar como exemplo o seguinte trecho em que trata da variação linguística: “Consideramos, portanto, cada língua como uma instituição e uma daquelas que, em cada sociedade, constituem a civilização. Como todos os outros elementos da cultura, ela varia em cada povo e mesmo em cada indivíduo”;
- O debate acerca da linguística no brasil, nos tempos de Whitney, pouco se utilizou das ideias do autor;
- A instituição da linguística no Brasil se deu relativamente tarde, em 1930;
- Nas ciências humanas a negligência da história pode conduzir à perda de conhecimentos já adquiridos.
 A vida da linguagem – prefácio e capítulo I
- Whitney define a linguagem como a expressão do pensamento humano. Tudo o que serve de corpo a esse pensamento e o torna apreensível é uma linguagem. “A linguagem propriamente dita é um conjunto de signos pelos quais o homem exprime consciente e intencionalmente seu pensamento a seus semelhantes: é uma expressão destinada ao pensamento”.
- A linguagem de que trata é aquela que pode ser ouvida, o corpo dos signos que nos são audíveis, aos quais se ligam, de mandeira secundrária, os gestos e a escrita.
- A linaguagem é natural ao homem; possui variedades. A linguística tem por objetivo compreender a linguagem como meio de expressão do pensamento humano, depois compreendê-la em suas variedades.
Bréal – Ensaio de Semântica: Ciência das Significações
 A Linguística é uma Ciência Histórica?
- A história da linguística afirma que Bréal foi o primeiro a utilizar-se do termo “semântica”. Seu livro, “Essai de Sémantique”, suscita a reflexão acerca do sentido e da história;
- Estudar Bréal contribui para desautomatização do discurso da linguística e do discurso sobre Saussure;
- Temas importantes na obra: história e subjetividade;
1) O que é histórico para Bréal? A linguística é uma ciência histórica?
- Bréal se insere na perspectiva de que a linguagem se desenvolve, progride. Se inscreve dentro da historicidade da própria época;
- Para ele, a linguagem é um intrumento de civilização e representa um acúmulo de trabalho intelectual;
- A linguagem tem morada em nossa inteligência e de nossos concidadãos, sendo, portanto, feita pelo consentimento de muitas inteligências, do acordo de muitas vontades;
- Em se tratando de vontades, Bréal afirma sua importância nas mudanças: “A única causa verdadeira do desenvolvimento da linguagem é a vontade humana”. E, para conceituá-la, afirma que não é um fenômeno consciente ou instintivo, “É vontade obscura e perseverante que preside às mudanças da linguagem”;
 as mudanças ocorrem como respostas coletivas às necessidades de compreender e se fazer compreender.
- A vontade é o resultado do confronto de desejos. Esse postulado facilita a compreensão do que expressa Bréal ao dizer que “o objetivo, em matéria de linguagem, é o de ser compreendido”;
- A vontade não é intencional, como afirma Bréal em: “um fato que domina toda a matéria é que nossa língua, por uma necessidade cujas razões se verão, são condenadas a uma perpétua falta de proporção entre a palavra e a coisa. A expressão é tanto demasiado ampla quanto demasiado restrita. Não nos apercebemos dessa falta de ajuste, porque a expressão, para aquele que fala, corresponde em si mesma à coisa, graças ao conjunto de circunstâncias, graças ao lugar, ao momento, à intenção visível do discurso, e porque no ouvinte, que é sempre metade em toda linguagem, a atenção indo direto ao pensamento, sem se deter no valor literal, a restringe ou a estende segundo a intneção daquele que fala”;
“quanto à vontade, ela é vontade humana, obscura e persevera; quanto à intenção, ela é visível, intenção do discurso segundo a intenção daquele que fala”.
“Não há uma única mudança de sentido (cuja causa para ele é vontade), uma única modificação da gramática, uma única particularidade de sintaxe que não deve ser considerada como um pequeno acontecimento da história. [...] essa limitação da liberdade se deve à necessidade de ser compreendido”. 
- A inteligência é apresentada como a faculdade para conhecer e tem sua origem no funcionamento do signo;
- A linguagem representa um conhecimento que se desenvolve porque as mudanças da linaguagem são instrumento de civilização. E as mudanças são produzidas pela interação da vontade. Isso se dá com o acordo de vontades com o consentimento das inteligências;
- O histórico em Bréal não é uma relação entre o que veio antes e o que veio depois, mas diz respeito à intervenção do sujeito na linguagem, da vontade na linguagem, que é, inclusive, uma intervenção da vontade na inteligência;
- Questiona o comparativismo do séc. XIX, bem como o naturalismo e o mecanicismo;
- Seus questionamentos estão fundamentados na concepção de que o que importa na linguagem são os sentidos. Opor-se à linguagem como organismo é afirmar que as palavras são signos, ou seja, que a linguagem significa. E siginifica com instrumento da inteligência e intervenção da vontade humana na linguagem;
- Esses questionamentos levam ao conceito de polissemia onde uma forma pode possuir um sentido no momento t, outro sentido no momento t+1, sem que o primeiro desapareça, e assim por diante. 
“instala-se a simultaneidade como uma relaçãolinguística; essas relações são produto da inteligência e da vontade humana, e podem ser vistas num certo momento”.
- Bréal trata da linguística como uma ciência, num confronto com as posições do século XIX, que a categorizam como ciência natural;
- O objeto da linguística, a linguagem, não existe na natureza, pois é um ato do homem, ou seja, não tem realidade fora a atividade humana;
- A consideração do sentido mostra que o que se passa na linguagem não se passa, obrigatoriamente, por necessidade. Para Bréal, os meios exteriores, usados na linguagem, só têm valor pelas ideias (sentidos) que convencionamos atribuir-lhes. [...] o que importa são os sentidos e estes são convencionalmente atribuídos às formas;
- A linguística é uma ciência histórica porque seu objeto é uma atividade humana;
- Ele afirma da regularidade da linguagem, mas a atribui ao hábito, ao costume; mesmo para a fonética;
- Com relação às mudanças, não há uma lei 	necessária, mas há uma lei da linguagem que afirma que as formas já criadas servem de modelo para as formas novas. Ou seja, a ação da vontade humana toma por base aquilo que já existe na língua;
 O Elemento subjetivo
- A história diz respeito da relação do homem com a linguagem;
- Há marca daquele que fala naquilo que fala; e as línguas possuem elementos que denotam essa presença;
- A subjetividade, para Bréal, está relacionada ao “desdobramento da personalidade humana” que a linguagem transparece, marca. Para ele, o subjetivo é a parte essencial da linguagem;
“a subjetividade não é intersubjetiva, é relativa ao mundo da qual o homem se destaca, e nesse corte instala-se a primeira pessoa e a segunda que se acha por ela interpelada. Ou seja, para Bréal, a subjetividade é uma relação homem/mundo”.
Benveniste – Problemas de Linguística Geral I
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