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1 As observações atuais são aqui consideradas desde o ano de 1840, quando os primeiros observatórios foram instalados, até os dias atuais, chegando até os avanços das medições do campo magnético por satélites. Para a navegação havia a necessidade de atualizar os mapas de declinação magnética, já que o campo varia no tempo. Essa atualização incentivou a realização de medidas sistemáticas no mar, em terra e a instalação de observatórios magnéticos. Essas observações diretas iniciaram há aproximadamente quatro séculos atrás e até hoje os mapas magnéticos são atualizados. A variação do campo no tempo pode ser observada pelas suas componentes (veja Fig. 8 do módulo 1.1): norte (X), leste (Y), vertical (Z), horizontal (H), pelos seus ângulos de declinação (D), inclinação (I) e pela sua intensidade total (F). Existem alguns pontos específicos na Terra, onde o campo é totalmente horizontal. Esse local é chamado de equador magnético (Figura 1). Neste caso, a componente horizontal (H) é igual à intensidade total (F) e a inclinação I é mínima (I=0°). Os chamados pólos geomagnéticos são os locais onde o campo total (F) é igual à componente vertical (Z), ou seja, a inclinação magnética é máxima (I=90º). Atualmente o pólo norte magnético está localizado na Ilha de Ellesmere no Canadá (Figura 2A) e o pólo sul magnético na Antártica (Figura 2B). A Figura 3 mostra a intensidade do campo de 2010, onde são indicados os locais aproximados dos pólos magnéticos e a região onde o campo é mais fraco (Anomalia Magnética do Atlântico Sul- AMAS). MÓDULO 1.3: AS OBSERVAÇÕES ATUAIS Figura 2: Localização geográfica aproximada dos pólos norte (A) e sul(B) magnéticos. A B Figura 1. Mapa da inclinação (I) do campo magnético em 2010, onde a linha verde mostra o equador magnético. 2 Tantos os valores da inclinação magnética e do campo total mostrados nas figuras 1 e 3 foram calculados a partir de um modelo matemático chamado IGRF (International Geomagnetic Reference Field), que é um modelo global do campo magnético de referência internacional. Este modelo é baseado nos dados obtidos nos observatórios e nos satélites. O IGRF é capaz de prever as mudanças do campo para os cinco anos seguintes. Por isso, pelo último modelo IGRF lançado em 2010, podemos prever onde estarão os pólos magnéticos em 2015 (Figura 4). Para construir um modelo global do campo geomagnético, como o IGRF, são necessárias medições do campo que podem ser realizadas em observatórios magnéticos, estações móveis e satélites. O instrumento que mede o campo magnético da Terra é chamado de magnetômetro. Há vários tipos de magnetômetros: o fluxgate mede as componentes do campo (exemplo: X, Y, Z) continuamente em intervalos de segundos, já o fluxgate acoplado a um teodolito (DI-flux teodolito) é responsável pelas medidas absolutas da declinação e inclinação magnéticas. As medições do campo magnético total (F) são feitas pelo magnetômetro de prótons (ou pelo overhauser). A Figura 5 mostra alguns exemplos. A Pólo sul magnético Pólo norte magnético AMAS Figura 3. Mapa do campo magnético total (F) em 2010, com a indicação dos locais aproximados dos pólos magnéticos e da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS). Figura 4: Deslocamento da posição dos pólos norte (A) e sul (B) magnéticos de 1900 até 2015, usando o modelo internacional de referência do campo geomagnético (IGRF). A B Figura 5: Magnetômetro DI-flux.teodolito para a medição da declinação e inclinação magnéticas.O esquema mostra as partes principais deste instrumento. 3 Os observatórios magnéticos são locais fixos na superfície da Terra onde o campo é medido continuamente, normalmente em intervalos de poucos segundos. Somente observatórios podem garantir um registro de dezenas de anos e com grande precisão, que são essenciais para descrever a variação secular e construir modelos globais do campo geomagnético. Outra vantagem dos dados gerados pelos observatórios é a possibilidade de separação entre as fontes internas (do núcleo e crosta) e externas (magnetosfera e ionosfera). Essa separação é feita usando um método matemático chamado “análise por harmônicos esféricos”, desenvolvido por Gauss em 1838. Existem cerca de 180 observatórios na Terra (Figura 6) e os mais antigos datam de 1840. Entretanto, a distribuição global é extremamente desigual, especialmente na região dos oceanos e no Hemisfério Sul onde existem poucos observatórios. Os observatórios magnéticos são operados por diferentes instituições e a qualidade dos dados pode variar consideravelmente. A Associação Internacional de Geomagnetismo e Aeronomia (IAGA) e o INTERMAGNET (“International Real-time Magnetic Observatory Network”) coordenam atividades dos observatórios distribuídos no globo, definindo padrões de qualidade, formatos para transmissão dos dados e aconselhando sobre instrumentação e aquisição dos dados. Atualmente há 113 observatórios participando do INTERMAGNET, que seguem estes padrões de qualidade. No Brasil, há somente um observatório INTERMAGNET, que é o observatório de Vassouras, no Rio de Janeiro que funciona desde 1915. O Observatório Nacional (ON) também é responsável pelo Observatório Magnético de Tatuoca (TTC- Pará) e Observatório Magnético do Pantanal (PNL- Mato Grosso). O ON tem como meta a instalação de sete novos observatórios INTERMAGNET no Brasil. A desigual distribuição dos observatórios é complementada pelos dados de satélites. A principal vantagem da medição do campo magnético por satélite é a capacidade de proporcionar uma distribuição global de dados. Entretanto, há algumas desvantagens, como: os satélites têm uma vida útil menor do que a de um observatório; eles estão em uma altitude entre 300 à 800 km, o que resulta em cálculos extras para correção dessas diferenças; maior dificuldade para tratar os dados dos satélites do que dos observatórios, já que o campo magnético está variando continuamente e ao mesmo tempo o satélite está em movimento. O satélite POGO foi o primeiro a medir o campo entre 1965 a 1971. Já o satélite MAGSAT foi lançado (outubro de 1979) e permaneceu até junho de 1980. Por muitos anos o MAGSAT forneceu os dados de satélite de melhor qualidade para o estudo do campo principal. Nesta época, os SAIBA MAIS SOBRE OBSERVATÓRIOS MAGNÉTICOS NO BRASIL! Figura 6. Distribuição espacial de todos os observatórios magnéticos no globo. 4 cientistas notaram que era possível estudar o campo crustal usando satélites. Depois do grande sucesso do MAGSAT, houve uma época, de quase vinte anos, sem lançamentos de novos satélites com a finalidade de estudar o campo geomagnético. Somente em fevereiro de 1999 um novo satélite, chamado Oersted foi lançado. Em 2000, foram lançados os satélites CHAMP e SACC. Os principais satélites para estudaro campo magnético e suas durações são mostradas na Figura 7. O futuro da era dos satélites é promissor. A Agência Europeia Espacial (ESA- European Space Agency) planeja o lançamento da chamada missão SWARM, incluindo pela primeira vez três satélites para o estudo do campo geomagnético: dois em uma mesma altitude de 450 km, medindo gradientes leste-oeste, e outro em uma altitude de 550 km medindo gradientes verticais (Figura 8). A missão SWARM tornará possível muitos avanços em pesquisa de geomagnetismo, como mapa global de anomalia magnética crustal de alta resolução, melhor visão sobre os estudos de dinâmica do núcleo terrestre e novos conhecimentos sobre a AMAS. Referências Bibliográficas Finlay, C. C., Maus, S., Beggan, C. D., Bondar4, T. N., Chambodut, A., Chernova, T. A., Chulliat, A., Golovkov, V. P., Hamilton, B., Hamoudi, M., Holme, R., Hulot, G., Kuang, W., Langlais, B., Lesur7, V., Lowes, F. J., Lühr, H., Macmillan, S., Mandea, M., McLean, S., Manoj, C., Menvielle, M., Michaelis, I., Olsen, N., Rauberg, J., Rother, M., Sabaka, T. J., Tangborn, A., Tøffner-Clausen, L.., Thébault, E., Thomson, A. W. P., Wardinski, I., Wei, Z., Zvereva, T. I. 2010. International Geomagnetic Reference Field: the eleventh generation (2010). Geophys. J. Int., 183, 1216-1230 Friis-Christensen,, E., Lühr,, H., Hulot, G., 2006. Swarm: A constellation to study the Earth’s magnetic field. Earth Planets Space 58, 351–358. Jackson, A., Jonkers, A.R.T., and Walker, M.R., 2000. Four centuries of geomagnetic secular variation from historical records. Philosophical Transactions of the Royal Society of London A, 358: 957– 990. Lanza, R. & Meloni, A., 2006. The Earth’s magnetism- an introduction for geologists. Springer. Figura 8. Ilustração da missão SWARM, mostrando os três satélites (A, B e C) e suas trajetórias em torno da Terra. Figura 7. Duração dos satélites POGO, Magsat, Oersted, CHAMP, SAC-C e o planejamento para a nova missão de satélite chamada SWARM. 5 Macmillan, S., 2007. Observatories, Overview. Em: Encyclopedia of Geomagnetism and Paleomagnetism, Editores: Gubbins, D. & Herrero- Bervera, E., Springer, p. 66 – 68. Merril, R. T., Mcelhinny, M. W.; McFadden, P. L., 1996. The Magnetic Field of the Earth- Paleomagnetism, the core and the deep mantle. Academic Press. Volume 63. Olsen, N., Holme, R., Hulot, G.,, Sabaka, T., Neubert, T., Tøffner-Clausen, L., Primdahl, G., Jørgensen, J., Léger, J., Barraclough, D., Bloxham, J. , Cain, J., Constable, C., Golovkov, V., Jackson, A., Kotze, P., Langlais, B., Macmillan, S., Mandea, M., Merayo, J., Newitt, L., Purucker, M., Risbo, T., Stampe, M., Thomson, A., Voorhies, C., 2000. Ørsted initial field model. Geophys. Res. Lett. 27(22), 3607–3610. Olsen, N., G. Hulot and T. J. Sabaka, 2010. Measuring the Earth's magnetic field from space: Concepts of past, present and future missions, Space Sci. Rev., 155, 65-93. Siqueira, F., 2012. Tese de Mestrado defendida no Observatório Nacional em março de 2012: Métodos para Instalação e Processamento de Dados do Novo Observatório Magnético no Pantanal. Fontes das Figuras Figuras 1 e 3: Artigo científico “International Geomagnetic Reference Field: the eleventh generetion. Finlay et al., 2000 Figura 2: Google Maps Figura 4: Homepage do Centro de Pesquisas Geológicas da Inglaterra: “British Geological Survey”:http://www.geomag.bgs.ac.uk/education/ poles.html Figura 5: Tese de doutorado de Fillipe Siqueira (Siqueira, 2012) e homepage: http://terraplus.ca/products/magnetometers/over hauser-magnetometer-version6.aspx Figura 6: Artigo científico: Observatories, Overview. Macmillan, 2007. Figura 7: Artigo científico: Measuring the Earth's magnetic field from space: Concepts of past, present and future missions. Olsen et . al., 2010. Figura 8: Homepage da Agência Espacial Européia- ESA: European Space Agency: http://www.esa.int/esaLP/LPswarm.html
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