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Política Contemporânea- Fichamento avaliativo I

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE LICENCIATURA EM SOCIOLOGIA
FERNANDA LETICIA DOS SANTOS NASCIMENTO
FICHAMENTO AVALIATIVO 01
MACAPÁ 
2019 
PATEMAN, Carole. Teorias recentes da democracia e o "mito clássico"; Rousseau, John Stuart Mill e G.D.H. Cole: uma teoria participativa da democracia. In: PATEMAN, Carole. Participação e teoria democrática. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 
	Carole Paterman, nasceu em Sussex, se tornou cientista política e filosofa, ficou conhecida pelo seu desenvolvimento nas críticas a democracia liberal, porém também possui influência na literatura teórica sobre democracia participativa. A mesma adquiriu dourado pela Universidade de Oxford em 1990, sendo a primeira mulher a conseguir o cargo de presidência da Associação Internacional de Ciência Política nos anos 1991 a 1994. Foi professora na Universidade da Califórnia em Los Angeles. Suas obras possuem referências a democracia, críticas ao liberalismo e o ponto de vista feminista relacionado a dominação e o contrato social. A obra “Participação e Teorias Democráticas”, foi publicado em 1992, tendo como principal estudo o papel da “participação” nas teorias contemporâneas da democracia. 
	Na obra “Participação e Teorias Democráticas”, em seu primeiro capítulo “Teorias Recentes da Democracia ‘Mito Clássico’”, torna-se possível a percepção da fixação da palavra 	“participação” no cenário político. Tal percepção pode ser percebida no seguinte trecho da obra: 
Nos últimos anos da década de 60, a palavra “participação” tornou-se parte do vocabulário político popular. Isso aconteceu na onda de reivindicações, em especial por parte dos estudantes, pela abertura de novas áreas de participação — nesse caso na esfera da educação de nível superior —, e também por parte de vários grupos que queriam, na prática, a implementação dos direitos que eram seus na teoria. (PATEMAN, 1992, p. 09) 
	A palavra “participação” se tornou apenas uma maneira de se camuflar a verdadeira intenção. Ao ser denominada uma política participativa, a opinião pública irá se tornar uma opção. É importante ressaltar que a inclusão da “participação” nas políticas foi realizada em vários países, buscando-se manter uma estabilidade política, adquirindo como refúgio no século XX, a ascensão dos Estados totalitários. 
Na França, “participação” foi uma das últimas palavras de ordem utilizadas por de Gaulle em campanhas políticas; na Grã-Bretanha, vimos a ideia receber a bênção oficial no Relatório Skeffington sobre planejamento, e nos Estados Unidos o programa antipobreza incluía fundos para o “máximo possível de participação” dos afetados por ela. O uso generalizado do termo nos meios de comunicação de massa parecia indicar que qualquer conteúdo preciso ou significativo praticamente desaparecera; “participação” era empregada por diferentes pessoas para se referirem a uma grande variedade de situações. A popularidade do conceito fornece uma boa razão para que se dedique alguma atenção a ele. (PATEMAN, 1992, p. 09) 
A ideia de participação foi estranhamente aceita, principalmente para os estudantes, segundo Paterman. Todavia, essa participação poderia se torna um prejuízo para os Estados, pois ocorreria uma participação sim nas democracias, mas também ocorreria uma participação em outras esferas sociais. Essas atitudes poderiam ser vistas como atitudes não democráticas. Outro ponto de vista essencial, seria que não é porque se incluiu a participação que todos irão participar. Então teria uma participação, mas em contrapartida se teria um abalo na estabilidade. 
É um bocado irônico que a idéia de participação tenha se tornado tão popular, particularmente entre os estudantes, pois entre os teóricos da política e sociólogos políticos a teoria da democracia mais aceita (aceita de maneira tão ampla que se poderia chamá-la de doutrina ortodoxa) é aquela na qual o conceito de participação assume um papel menor. Na realidade, não apenas tem um papel menor, como nas teorias de democracia atuais um dado predominante é a ênfase colocada nos perigos inerentes à ampla participação popular em política. (PATERMAN, 1992, p.9-10) 
A “Teoria Clássica de Democracia” possui diversas influências de autores, que tiveram a mesma ideia, porém não foi possível achar uma conclusão completa. 
Os dados obtidos em amplas investigações empíricas sobre atitudes e comportamentos políticos, realizadas na maioria dos países ocidentais nos últimos vinte ou trinta anos, revelaram que a característica mais notável da maior parte dos cidadãos, principalmente os de grupos de condição sócio-econômica baixa, é uma falta de interesse generalizada em política e por atividades políticas. E mais: constatou-se que existem atitudes não-democráticas ou autoritárias amplamente difundidas também entre os grupos de condição sócio-econômica baixa. A conclusão esboçada (quase sempre por sociólogos políticos travestidos de teóricos de política) é a de que a visão “clássica” do homem democrático constitui uma ilusão sem fundamento e que um aumento da participação política dos atuais não-participantes poderia abalar a estabilidade do sistema democrático, considerando-se a perspectiva das atitudes políticas. (PATEMAN, 1992, p. 11) 
Ao começar a abordagem sobre a teoria contemporânea predominante, levou-se em consideração os argumentos de Schumpeter, este disse que duvidava que os cidadãos comuns tivessem interesse por todas as decisões tomadas nacionalmente e muito menos se interessaria por aquelas que estão mais perto. Segundo este a democracia vai ser somente um “método” para a construção de determinados ações para efetivar as decisões, como exemplificação, tem-se a justiça. 
O ponto de partida da análise de Schumpeter é um ataque à noção de teoria democrática enquanto uma teoria de meios e fins; democracia, afirma ele, é uma teoria dissociada de quaisquer ideais ou fins. “Democracia é um método político, ou seja, trata-se de um determinado tipo de arranjo institucional para se chegar a decisões políticas — legislativas e administrativas. ” Na medida em que se afirma uma “lealdade sem compromissos” à democracia, supunha-se que o método cumprisse outros ideais, por exemplo o de justiça. (PATEMAN, 1992, p. 12) 
Schumpeter, apresentou uma definição de método democrático: 
Por isso, Schumpeter apresentou a seguinte definição do método democrático como moderna e realista: “Aquele arranjo institucional para se chegar a decisões políticas, no qual os indivíduos adquirem o poder dedecidir utilizando para isso uma luta competitiva pelo voto do povo” (p.269). (PATEMAN, 1992, p. 13) 
	A teoria de Schumpeter foi de extrema importância para as teorias democráticas posteriores, porém a sua teoria não tem um papel muito relevante para a democracia participativa. 
“Na teoria de democracia de Schumpeter, a participação não tem um papel especial ou central. Tudo o que se pode dizer é que um número suficiente de cidadãos, participa para manter a máquina eleitoral –os arranjos institucionais –funcionando de modo satisfatório. ” (PATEMAN, 1992, p. 14) 
Sendo assim, Shumpeter, acredita que quaisquer influências dos cidadãos nos meios das decisões políticas seriam incapazes de satisfazer exigências governamentais, desta forma se adquiriu uma preocupação maior com a participação, então para o autor seria ideal limitar a participação nas eleições. 
“Em suma, a participação limitada e a apatia têm uma função positiva no conjunto do sistema ao amortecer o choque das discordâncias dos ajustes e das mudanças. ” (PATEMAN, 1992, p. 16)
O que se torna contrário ao pensamento de Berelson: 
Os eleitores isolados, hoje em dia, parecem incapazes de satisfazer as exigências de um sistema de governo democrático tal qual delineado pelos teóricos políticos. Mas um sistema de democracia deve ir ao encontro de certas exigências para que exista uma organização política. Os membros, tomados individualmente, podem não satisfazer a todos os padrões,mas assim mesmo o todo sobrevive e cresce (p. 312, grifos de Berelson). (PATEMAN, 1992, p. 15) 
	Berelson, inicia do princípio que os autores clássicos, criaram um equívoco sobre o sistema político, ao ignorar esse sistema não se observou tudo. Partindo desse princípio, criou-se uma teoria no qual estrutura descritiva interessada nesse sistema, que seria interessante para os cidadãos que demonstravam vantagem na participação. Partindo da ideia de igualdade da parcela de status socioeconômicos inferior surgiu Dahl. 
	Todavia, se existiu uma tripla barreira relacionada ao “respeito a igualdade política” que estará relacionado ao sufrágio universal, cada homem possuindo o direito de se expressar e através de seu voto. 
A teoria da poliarquia também pode fornecer “uma teoria satisfatória a respeito da igualdade política” (1956, p. 84). Mais uma vez, não se devem ignorar as realidades políticas. A igualdade política não deve ser definida como igualdade de controle político ou de poder, pois, como Dahl observa, os grupos de status socio-econômico baixo, a maioria estão separados dessa igualdade por uma “tripla barreira”: sua inatividade relativamente maior, seu limitado acesso aos recursos e, nos Estados Unidos, a “simpática invenção de um sistema de verificações constitucionais de Madison” (1956, p. 81). Numa teoria da democracia moderna, a “igualdade política” refere-se a existência do sufrágio universal (um homem, um voto) com sua sanção por meio da competição eleitoral por votos e, mais importante, refere-se ao fato da igualdade de oportunidades de se ter processos intereleitorais, pelos quais diferentes grupos do eleitorado conseguem fazer com que suas reivindicações sejam ouvidas. (PATEMAN, 1992, p. 19)
Entretanto, a existência desse sufrágio universal iria possibilitar a igualdade política. A autora utiliza a teoria de Dahl para falar sobre os pré-requisitos para um sistema poliárquico. 
“Um pré-requisito básico seria um consenso a respeito das normas, ao menos entre líderes. (As condições institucionais necessárias e suficientes para a poliarquia podem ser formuladas como normas -1956, pp.75-6) ” (PATEMAN,1992, p. 19) 
	É interessante ressaltar que seria realizado um “treinamento social”, no qual seria um mínimo acordo das normas e escolhas políticas, podendo ou não afetar os outros. Isso está presente na seguinte citação: 
O treinamento social ocorre por meio da família, das escolas, das igrejas, dos jornais, etc., e Dahl distingue três tipos de treinamento: de reforço, neutro e negativo. Ele argumenta que é “razoável supor que esses três tipos de treinamento operam sobre os membros da maioria das organizações poliárquicas, se não todas elas, e talvez também sobre os membros de muitas organizações hierárquicas” (1956, p. 76).(PATEMAN.1992, p. 19) 
	Eckstein foi o último autor trazido por Pateman, para ela a democracia descrevida pelo autor, poderia ser considerada paradoxal, pois para se ter a democracia teria que se abrir mão da democracia. Todos teriam direitos iguais, como a liberdade, entretanto, essa liberdade seria limitada segunda as normas de um Estado (instituições mais sociedade participativa). 
A conclusão da teoria de Eckstein –que pode ser encarada como paradoxal, uma vez que se trata de uma teoria da democracia –é que, para um sistema democrático estável a estrutura de autoridade do governo nacional não precisa ser, necessariamente, pelo menos “de modo puro” democrático. (PATEMAN,1992, p. 24)
Contudo, isso realmente não é um problema para a teoria, pois o argumento de Eckstein diz que, para uma democracia estável, o padrão de autoridade governamental deve se tornar congruente com a forma predominante de estrutura de autoridade na sociedade, ou seja, o padrão governamental não precisa ser “puramente” democrático. Ele precisa conter um “equilíbrio dos elementos díspares” e revelar um “saudável elemento de autoritarismo”. (PATEMAN, 1992, p. 24) 
Para Eckstein, a autoridade governamental e a estrutura de autoridades devem ser proporcionais e agir da mesma forma, para que assim possa se garantir uma estabilidade a democracia, por isso, o autor defendia “saudável elemento de autoritarismo”. Desta forma, Pateman, explana que em uma última análise faz com que a possibilidade de grupos ativos pressionarem as lideranças.
Nessa teoria, a “democracia” vincula-se a um método político ou uma série de arranjos institucionais a nível nacional. O elemento democrático característico do método é a competição entre os líderes (elite) pelos votos do povo, em eleições periódicas e livres. As eleições são cruciais para o método democrático, pois é principalmente através delas que a maioria pode exercer controle sobre os líderes. (PATEMAN, 1992, p. 25) 
Como resultado se constituiu uma teoria contemporânea da democracia, aceita primeiro pelos teóricos. Porém, essa teoria recebeu críticas de que reformularam que a democracia contemporânea não entendia a teoria “clássica”, ocorrendo uma substituição de ideais, denominados de “os revisionistas”. 
A teoria contemporânea da democracia conquistou um apoio quase universal entre os teóricos políticos atuais, mas não ficou inteiramente a salvo das críticas, ainda que as vozes dos críticos se façam ouvir muito pouco. O ataque dos críticos dirige-se a dois pontos principais. Em primeiro lugar, eles argumentam que os defensores da teoria da democracia contemporânea não compreenderam a teoria “clássica”; ela não era em essência uma teoria descritiva, como eles sugeriam, mais uma teoria normativa, “um ensaio de preceitos” (Davis, 1964, p. 39). Em segundo lugar, os críticos afirmam que, na revisão da teoria “clássica”, os ideais que ela contém foram substituídos por outros; “os revisionistas modificaram fundamentalmente o significado normativo da democracia” (Walker, 1966, p. 286). (PATEMAN, 1992, p. 26) 
Sendo assim, para Pateman existe uma antecipação ao se tratar da “teoria clássica da democracia”. Deixando claro de que para Carole Pateman, os autores não entenderam a teoria “clássica”, seguindo um modelo anglo-americano. 
E, um ponto mais importante, eles não questionam a existência dessa teoria, embora discordem quanto a sua natureza. Do que nem os críticos nem os defensores se deram conta é que a noção de uma “teoria clássica da democracia” é um mito. Nenhum dos lados em disputa fez o óbvio, e o necessário: examinar em detalhes aquilo que os teóricos anteriores tinham de fato a dizer. Devido a isso, continua o mito da teoria “clássica”, e o ponto de vista dos teóricos anteriores da democracia e a natureza de suas teorias são constantemente deturpados. (PATEMAN, 1992, p. 28) 
Devido a existência dessa diferença, não faz sentido falar de uma teoria “clássica” da democracia. Mesmo porque tais diferenças reforçam o mito clássico de que os críticos da teoria contemporânea da democracia nunca explicaram com exatidão qual o papel da participação nas teorias anteriores, ou porque lhe era atribuído um valor tão alto em algumas teorias. (PATEMAN, 1992, p. 33) 
Deixando claro de que para Carole Pateman, os autores não entenderam a teoria “clássica”, seguindo um modelo anglo-americano. E que esse conceito de “participação” poderia ser tido como uma forma de ameaça a estabilidade, assim como para alguns autores a limitação da democracia deveria ser realizada, criando-se um contexto de grande escala, não se limitando somente ao contexto de uma sociedade com uma política contemporânea de grande escala e industrializada.

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