Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Português - Literatura NÓ, CLÍMAX E DESFECHO 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. Aspectos do conflito dramático das narrativas ......................................................................3 1.1. Nó .........................................................................................................................................3 1.2. Clímax e desfecho ..............................................................................................................3 Exercícios .............................................................................................................................................4 Gabarito ...............................................................................................................................................6 Resumo...........................................................................................................................................7 2 Introdução Nessa apostila, três novos conceitos serão introduzidos: nó, clímax e desfecho. Estes conceitos estão ligados a aspectos específicos da narrativa, especialmente ao desenvolvimento dramático e ao conflito. Nó, clímax e desfecho são também conceitos complementares e inter- relacionados. O nó, também chamado de problema central apresentado na narrativa, mostrará toda sua potência no clímax, o momento de maior intensidade dramática, e será resolvido, ou desfeito, no desfecho. Esses três conceitos são extremamente relevantes para compreender o progresso das ações dramáticas dentro de uma narrativa, portanto se relacionam intimamente às noções de enredo, fábula, trama, intriga e estória. Objetivos • Reforçar a compreensão dos modos como se processam os conflitos dramáticos nas narrativas. • Conhecer os conceitos de nó, clímax e desfecho. DICA! Tenha sempre em mente que uma narrativa tem múltiplas possibilidades de organização e estruturação, tanto em relação ao texto como a história. Do mesmo modo que uma história não tem, obrigatoriamente, que apresentar uma introdução ou uma conclusão fechada, podendo abrir mão de uma delas ou, mesmo, de ambas, ela também não tem a obrigação de apresentar, imprescindivelmente, os conceitos de nó, clímax e desfecho. Além disso, em algumas narrativas, o clímax e o desfecho ocorrem simultaneamente, marcando ao mesmo tempo o auge do conflito e sua resolução. 3 1. Aspectos do conflito dramático das narrativas 1.1. Nó O termo “nó”, no âmbito da narratologia, se refere a uma situação problemática. Denomina-se nó, portanto, um fato ou situação que, quando apresentado narrativamente, cria um problema ou obstáculo para as personagens (geralmente para o protagonista). Dentro de uma narrativa, o nó tem uma função vital, pois ele serve para impulsionar as ações das personagens. Ainda nessa direção, o nó pode ser compreendido como um catalisador das ações dentro de uma narrativa, no sentido que, graças ao problema ou obstáculo apresentado, muitas personagens se movimentam e muitas situações dramáticas são criadas. O nó pode ser visto também como um elemento de engajamento para o leitor, a situação problemática desperta a atenção de quem lê e gera uma expectativa sobre quando e como vai ocorrer o desenlace. Ainda nessa direção, ele se mostra vital para criação do drama e também do suspense nas narrativas. 1.2. Clímax e desfecho Clímax e desfecho são conceitos diretamente implicados um no outro, pode- se dizer também que há uma profunda dependência dos dois com o nó. Clímax é o nome dado para expressar o auge do conflito criado no enredo, o momento de maior intensidade dramática, quando o nó mostra toda sua potência. Geralmente, no clímax, há uma confrontação entre forças antagônicas, representadas, na narrativa, por personagens principais em lados opostos e/ou com interesses conflitantes. O clímax também é geralmente marcado por uma alta intensidade emocional. Desfecho é o momento em que o nó da narrativa é desatado, ou seja, o grande problema apresentado narrativamente é resolvido, depois de ter motivado parte das ações das personagens e criado intensas situações dramáticas (cujo auge é o clímax). Também podemos chamar esse momento de desenlace, um termo que mantém uma analogia mais próxima com a palavra “nó”. No desfecho, em geral, o destino ou a e fortuna das principais personagens é decidido. Nó, clímax e desfecho são termos especialmente ligados aos conflitos criados dentro da narrativa e, portanto, tem grande potencial dramático. Por conta desse potencial, podem também ser considerados elementos importantes para o engajamento do leitor na história apresentada. 4 FIQUE ATENTO! Exercícios 1) Leia o texto e responda à questão a seguir: Canto da Sereia As sereias eram criaturas sobre-humanas: ninfas de extraordinária beleza e de um magnetismo sensual. Viviam sozinhas numa ilha do Mediterrâneo, mas tinham o dom de chamar a si os navegantes, graças ao irresistível poder de sedução de seu canto. Atraídos por aquela melodia divina, os navios costeavam a ilha, batiam nos recifes submersos da beira-mar e naufragavam. As sereias então devoravam impiedosamente os tripulantes. O litoral da ilha era um gigantesco cemitério marinho no qual estavam atulhadas as incontáveis naus e ossadas tragadas por aquele canto sublima desde o início das eras. Doce o caminho, amargo o fim. Como escapar com vida do canto das sereias? Muitos tentaram, mas pouquíssimos conseguiram salvar-se. A literatura grega registra duas soluções vitoriosas. Uma delas foi a saída encontrada, no calor da hora, por Orfeu, o incomparável gênio da música e da poesia na mitologia grega. Quando a embarcação na qual ele navegava entrou inadvertidamente no raio de ação das sereias, ele conseguiu impedir que a tripulação perdesse a cabeça tocando uma música ainda mais doce e sublime do que aquela que vinha da ilha. Os tripulantes, com apenas uma exceção, ficaram tão atentos ao canto de Orfeu que nem deram ouvidos ao som das sereias. O navio atravessou incólume a zona de perigo. O brilho empolgante do canto órfico ofuscou a promessa de calor do canto sirênico. A outra solução foi encontrada e adotada por Ulisses no poema homérico. Ao contrário de Orfeu, o herói de Odisseia não era um ser dotado de talento artístico sobre-humano. Sair cantando do perigo, portanto, estava fora de questão no seu caso. Sua principal arma para vencer as sereias não foi o golpe de gênio ou a improvisação Os conceitos de nó, clímax e desfecho não correspondem, necessariamente, às ideias de introdução, desenvolvimento e conclusão, embora haja uma semelhança entre esses três conceitos. Franco Junior (2009) lembra que uma maneira simples de compreender a diferença entre esses conjuntos é ter em mente que uma narrativa é tanto uma história como um texto. O primeiro conjunto refere-se à história em suas ligações entre causa e efeito, mas isso não pressupõe que essas relações serão apresentadas em ordem cronológica no texto como introdução,desenvolvimento e conclusão. 5 talentosa. Foi o reconhecimento franco e corajoso da sua própria fraqueza e falibilidade – a aceitação dos seus inescapáveis limites humanos. Ulisses sabia que, quando chegasse a hora, ele e seus homens não teriam força e firmeza para resistir ao apelo sedutor das sereias. Foi por isso que, no momento em que a embarcação que comandava começou a se aproximar da ilha, ele mandou que todos os tripulantes tapassem os próprios ouvidos com cera e ordenou que o amarrassem ao mastro central do navio. Avisou ainda que, se por acaso ele exigisse, com gestos e gritos, que o soltassem dali o que deveriam fazer era prendê-lo ao mastro com mais cordas e redobrada firmeza. Dito e feito. Quando chegou a hora, Ulisses foi seduzido pelas sereias e fez de tudo para convencer os demais tripulantes a deixarem-no livre para ir juntar-se a elas. Seus subordinados, contudo, souberam negar-lhe tais apelos e cumpriram fielmente a ordem de não o soltar, sob qualquer pretexto, até que estivessem suficientemente longe da zona de perigo. Ulisses, é verdade, por pouco não enlouqueceu de desejo. Mas as sereias, desesperadas diante daquela derrota para um simples mortal, afogaram-se de desgosto no mar. Orfeu escapou das sereias como divindade; Ulisses como mortal. Ao se aproximar do espaço-tempo das sereias, a escolha diante do herói homérico era clara: o bem aparente, com a falsa promessa de gratificação imediata, de um lado, e o bem permanente de seu projeto de vida – prosseguir viagem, retornar a Ítaca e reconquistar Penélope –, do outro. O mais surpreendente é que Ulisses não tampou com cera os próprios ouvidos – ele quis ouvir. Ele estava ciente de que não resistiria, mas fez questão de se deixar seduzir e enlouquecer de desejo por algo que sabia ser letal. Adaptado de GIANETTI, Eduardo. Auto-engano. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 (FCC, 2014). O desfecho positivo para a situação enfrentada por Orfeu adveio: a) de seu talento musical. b) do reconhecimento de suas inabilidades. c) da ajuda que recebeu de seus tripulantes. d) do fato de sua embarcação ser bastante resistente. e) do acordo a que ele e as sereias chegaram. 2) Leia o texto e responda à questão a seguir: 1938 – Angico – Os caçadores de cangaceiros Para despistar, os cangaceiros imitam ruídos e pegadas de bichos e usam falsas solas com o calcanhar no bico. Mas, quem sabe, sabe; e um bom rastreador reconhece os rumos do passo humano através dessa moribunda vegetação: pelo que vê, galhinho quebrado ou pedra fora do lugar, e pelo olfato. Os cangaceiros são loucos por perfume. Derramam no corpo litros de perfumes, e essa fraqueza os delata. Perseguindo pegadas e aromas, os rastreadores chegam ao esconderijo do chefe Lampião; e atrás deles, a tropa. Os soldados se aproximam tanto, que escutam 6 Lampião discutindo com sua mulher. Maria Bonita o amaldiçoa, enquanto fuma um cigarro atrás do outro, sentada numa pedra na entrada da gruta, e ele responde tristemente lá do fundo. Os soldados armam as metralhadoras e esperam a ordem de disparar. Cai uma garoinha leve. (GALENO, Eduardo. O século do vento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1988.) (COPEVE – UFAL,2016). Sobre a estrutura do tipo textual narrativo, o clímax da narrativa em “Os caçadores de cangaceiros” está no enunciado: a) Os cangaceiros são loucos por perfume. b) Os soldados armam as metralhadoras e esperam a ordem de disparar. c) Maria Bonita o amaldiçoa, enquanto fuma um cigarro atrás do outro. d) Os soldados se aproximam tanto, que escutam Lampião discutindo com sua mulher. e) Perseguindo pegadas e aromas, os rastreadores chegam ao esconderijo do chefe Lampião. Gabarito 1. Resposta correta: Letra A. O texto narra a história de dois personagens: Orfeu e Ulisses. Cada narrativa apresentada tem sua própria estrutura dramática, apesar de compartilharem o mesmo obstáculo ou nó, o canto das sereias. Seguindo essa linha de raciocínio, cada personagem vai ter também um desfecho diferente para resolver o problema. O desfecho positivo de Orfeu é narrado na seguinte passagem. “Quando a embarcação na qual ele navegava entrou inadvertidamente no raio de ação das sereias, ele conseguiu impedir que a tripulação perdesse a cabeça tocando uma música ainda mais doce e sublime do que aquela que vinha da ilha.” 2. Resposta correta: Letra B. Essa questão ilumina duas observações que foram feitas ao longo da apostila: a diferença entre o texto e a narrativa em si e a não- obrigatoriedade de uma narração conter nó, clímax e desfecho. Em relação à primeira observação, fica evidente que o texto opta por manter uma conclusão ambígua em relação ao destino das personagens, ele termina, de fato no auge de intensidade dramática. “Os soldados armam as metralhadoras e esperam a ordem de disparar.” Essa sentença deixa claro também que essa narrativa não tem um desfecho, ela termina abruptamente no clímax. 7 Resumo Nesta apostila, foram apresentados os conceitos de nó, clímax e desfecho, ferramentas centrais para compreender a configuração dramática de uma narrativa. O nó, para pôr em poucas palavras, é um fato ou uma situação que, quando apresentado na narrativa, cria um problema ou obstáculo para as personagens (geralmente para o protagonista). O clímax, por sua vez, é o auge do conflito dramático do enredo da narrativa. Já o desfecho, como indica o próprio nome, é o momento de resolução, quando o nó finalmente é desatado, ou seja, o problema central é resolvido. O conflito, dentro da proposta de uma narrativa deve começar com uma problematização onde tenhamos divergência na solução. Desta proposta segue-se para as discussões que alcançam seu ponto máximo chamado de ápice. Neste momento as divergências são explicitadas de forma enfática e muitas vezes impositiva. A partir das discussões, opiniões, argumentos convincentes ou não, a problematização precisa ser resolvida e por isso a narrativa é finalizada na etapa de resolução do problema. Esses conceitos permitem perceber como se processa o conflito dramático em três momentos: na sua constituição, no seu ápice e na sua resolução. Como todos os conceitos ligados à análise da narrativa, esses também foram trabalhados a partir de textos. Nos textos e nos exercícios subsequentes, algumas peculiaridades dessas noções foram trabalhadas de forma prática. Fique particularmente atento para as respostas do gabarito, pois ali pode-se observar como os conceitos são trabalhados nos textos. 8 Referências bibliográficas FRANCO JUNIOR, Arnaldo. Operadores da narrativa. In: BONICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (org.). Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3. ed. Maringá: Eduem, 2009. LODGE, David. A arte da ficção. São Paulo: Cosac Naif, 2012. WOOD, James. Como funciona a ficção. Porto Alegre: L&PM, 2010.
Compartilhar