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Português - Literatura FÁBULA 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. Fábula...............................................................................................................................................2 1.1. Conceito de Fábula ............................................................................................................2 1.2. Exemplo...............................................................................................................................2 Exercícios .............................................................................................................................................3 Gabarito .............................................................................................................................................. 6 Resumo ................................................................................................................................................7 2 Introdução A partir do capítulo Operadores de leitura da narrativa de Arnaldo Franco Junior baseado, principalmente, na teoria do Formalismo Russo e New Criticism que propõem um estudo literário relacionado a textualidade, vamos começar a apresentar os principais conceitos da análise narrativa descritiva, iniciando pela Fábula. Objetivos • Apresentar o conceito de fábula a partir do texto: “Operadores de leitura narrativa”. 1. Fábula 1.1. Conceito de fábula A palavra fábula vem do latim, que significa “história, jogo ou narrativa.” A fábula é um conceito que se refere aos acontecimentos da narrativa, ordenados, lógica e cronologicamente em sequência, mesmo que a narrativa muitas vezes não os apresente dessa forma no seguimento textual para o leitor. Portanto, a fábula demanda do leitor uma síntese cronológica da história narrada a partir de um resumo da introdução, desenvolvimento e conclusão de um todo textual, estabelecendo entre as partes textuais relações de causa e consequência. 1.2. Exemplo Tragédia brasileira Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira na Lapa - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, 3 Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim, na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. Manuel Bandeira Fábula: Misael casou-se com a prostituta Maria Elvira. Maria Elvira passou a ter vários amantes e Misael mudava-se de bairro para acobertar as aventuras da esposa. Até que cansado das sucessivas traições Misael assassina Maria Elvira. Exercícios 1) Formule a Fábula dos contos a seguir: a) A mulher do vizinho Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco. O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia. O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fábrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo à ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte: — O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor. 4 Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio: — Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido? O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento. — Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não é gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou? Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente: — Da ativa, minha senhora? E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado: — Da ativa, Motinha! Sai dessa… Fernando Sabino b) Bobagem Emocionado e um pouco bêbado, aos cinco minutos do ano novo ele resolveu telefonar para o velho desafeto. — Alô? — Alô. Sou eu. — Eu quem? — Eu, pô. O outro fez silêncio. Depois disse: — Ah. É você. — Olha aqui, cara. Eu estou telefonando pra te desejar um feliz ano-novo. Entendeu? — Obrigado. — Obrigado, não. Olha aqui. Sei lá, pô... — Feliz ano-novo pra você também. — Eu nem me lembro mais por que nós brigamos. Juro que não me lembro. 5 — Eu também não lembro. — Então, grande. Como vai Vivinha? — Bem, bem. Quer dizer, mais ou menos. As enxaquecas... Ele ficou engasgado. De repente se deu conta de que tinha saudades até das enxaquecas da Vivinha. Como podiam ter passado tantos anos sem se ver? Como tinham deixado uma bobagem afastá-los daquela maneira? As pessoas precisavam se reaproximar. Aquele seria o seu projeto para o fim do milênio. Reaproximar-se das pessoas. Só dar importância ao que aproximava. Puxa! Estava tão enternecido com as enxaquecas da Vivinha que mal podia falar. — A vida é muito curta. Você está me entendendo? Assim não dá. Era como se estivesse reclamando com o fornecedor. A vida vinha com a carga muito pequena. Era preciso um botijão maior, senão não dava mesmo. E ainda desperdiçavam vida com bobagem.Ele quis marcar um encontro para ontem. No Lucas, como antigamente. O outro foi mais sensato e contrapropôs hoje, prevendo que ontem seria um dia de ressaca e segundos pensamentos. E tinha razão. Ontem à noite, ele voltou a telefonar. Falou secamente. Pediu desculpas, disse que não poderia ir ao encontro e despediu-se com um formal "Melhoras para a Vivinha”. Tinha se lembrado da bobagem que motivara a briga. Luís Fernando Veríssimo c) O homem trocado O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem. - Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo. - Eu estava com medo desta operação... - Por quê? Não havia risco nenhum. - Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos... E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês. - E o meu nome? Outro engano. 6 - Seu nome não é Lírio? - Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e... Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista. - Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado tive que pagar mais de R$ 3 mil. - O senhor não faz chamadas interurbanas? - Eu não tenho telefone! Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes. - Por quê? - Ela me enganava. Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer: - O senhor está desenganado. Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples apendicite. - Se você diz que a operação foi bem... A enfermeira parou de sorrir. - Apendicite? - perguntou, hesitante. - É. A operação era para tirar o apêndice. - Não era para trocar de sexo? Luís Fernando Veríssimo Gabarito 1. a) Havia duas famílias vizinhas, uma que tinha o proprietário da casa como militar e outra havia um sueco. Certo dia o militar cisma com a brincadeira dos meninos na rua e convoca a outra família para deporem. Após conversarem o sueco é indagado pelo motivo de não estar no seu país de origem, eis que sua esposa o defende e “esfrega” no rosto do militar que sua família era essencialmente 7 brasileira e que havia muitos parentes seus que eram militares de diversas patentes e da ativa. O delegado fica sem palavras. b) Dois amigos que não se viam há muitos anos porque estavam brigados e nem se lembravam do porquê. Pensaram que deveria ser bobagem. Conversaram, beberam, marcaram um outro encontro, mas um deles não compareceu porque havia se lembrado da bobagem que os fez brigar. c) Um homem que teve toda a vida trocada, desde seu nascimento. Agora, estava em um hospital para operar a apendicite e enganaram-se na cirurgia: trocaram-lhe o sexo. Resumo A fábula se refere aos acontecimentos da narrativa, ordenados em sequência. A fábula estabelece uma síntese cronológica da história narrada, apresentando entre as partes textuais relações de causa e consequência. Segundo Franco JR, ao reconstituirmos a fábula de uma história presente em um texto narrativo, organizamos naturalmente a síntese da história a partir das relações de causa-e-consequência que facilitam a sua compreensão por outras pessoas, sejam as que nos ouvem contar, por exemplo, a história de um romance, de um filme, de um conto, de uma novela de televisão em poucas palavras, sejam as que venham a ler os textos nos quais analisamos e interpretamos um texto narrativo. 8 Referências bibliográficas FRANCO JR., Arnaldo. Operadores de leitura da narrativa. In: BONNICI, Thomas e ZOLIN, Lúcia Osana. (orgs.) Teoria da Literatura, abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá, Ed. da UEM, 2003, pp.33-56. SABINO, Fernando. A mulher do vizinho. Editora Record. 1962. VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Editora Objetiva. 2001.
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