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Disciplina: FILOSOFIA Cap. 1- Um convite à filosofia 1.1 Por que filosofia? Nossa reflexão tem por meta a educação e, portanto, vamos direcionar para ela nossos questionamentos. Questionar é filosofia. E, aplicando-a ao processo do aprendizado, é filosofia da educação. 1.2 Definições: O significado etimológico do termo é amor à sabedoria. Platão (426-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.). Para esses dois nomes paradigmáticos do pensamento ocidental, a filosofia é resultante da admiração e do estranhamento diante do espetáculo do mundo. Enquanto para Platão a filosofia é o saber que, em face das contradições da realidade, atinge a visão do verdadeiro – isto é, das ideias –, para Aristóteles a sua função é a investigação das causas e dos princípios das coisas. Na Idade Média, a filosofia era uma aspiração à compreensão racional dos dados da fé. Na modernidade, ela foi ganhando cada vez mais autonomia. Na corrente conhecida como idealismo alemão, a filosofia é entendida ora como o sistema do saber absoluto, dedução do mundo a partir do eu, como em Fichte (1762-1814), ora como em Hegel (1770-1831), como a consideração pensante das coisas, identificando-se assim com o espírito absoluto, isto é, o espírito plenamente consciente e conhecedor de si. Tentativa contemporânea de definição da filosofia: A filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. 1.3 Divisão de tarefas A partir de Aristóteles: se constituíram como disciplinas a lógica, a ética, a estética (poética), a psicologia (doutrina da alma), a filosofia política e a filosofia da natureza, todas elas dominadas pela filosofia primeira (metafísica). 1.4 A atitude filosófica e o senso comum O que há de fundamental na atitude filosófica é a sua capacidade de indagar: • O que a coisa é? • Como a coisa é? • Por que a coisa é assim? O filósofo é aquele que não aceita como dadas as respostas às questões com que ele se depara no mundo. Quando nos referimos ao conceito de senso comum, nós o relacionamos ao conhecimento fragmentado da realidade. Platão definia esse tipo de conhecimento como doxa (“opinião”). Doxa é alguém que localiza sua existência apenas no senso comum. Por outro lado, pensar os problemas a partir da episteme (“ciência”) é pensá-los à luz da filosofia. 1.5 Nem dogmatismo nem ceticismo - cético é aquele que observa e considera, tanto que conclui pela impossibilidade mesma do conhecimento - dogmático é todo aquele que se apega aprioristicamente aos princípios de uma doutrina. - pode ser compreendido como um princípio fundamental e indiscutível de uma determinada doutrina ou teoria, não necessariamente religiosa. = tanto o cético quanto o dogmático acabam produzindo uma visão imobilista do mundo. O primeiro porque acha impossível chegar a algum conhecimento real das coisas. O segundo porque, antes de se debruçar sobre a realidade, já traz, de antemão, as suas “verdades”. Ciência e filosofia Ciência é descrição analítica; filosofia é interpretação sintética. A ciência quer decompor o todo em partes, o organismo em órgãos, o obscuro em conhecido. Observar processos e construir meios é a ciência; criticar e coordenar fins é filosofia - A ciência nos dá o conhecimento, mas só a filosofia nos dá a sabedoria. Cap. 2 - Sócrates e a filosofia moral ocidental 2.1 O gênio grego, o mito e as origens da filosofia Tanto o termo quanto o conceito de filosofia têm a sua origem na Grécia antiga - forma de pensamento sistemático, racional e desvinculado da religião. Como era esse gênio? Podemos resumir as suas características em alguns traços básicos: • Em primeiro lugar, o racionalismo, isto é, a consciência do valor máximo do conhecimento. • Mas esse conhecimento não é abstrato, e sim proveniente da experiência: é um conhecimento sensível. • Esse conhecimento sensível não se fecha sobre si mesmo, mas transcende o real em direção ao absoluto. • Sendo otimista, como consequência de seu racionalismo, o grego tenderá também ao pessimismo quando pressentir toda a irracionalidade do real. Foi nas cidades ou pólis – que na Grécia eram sobretudo cidades-Estado – que se desenvolveu outra importante criação grega: a política. – competições nas arenas embasadas na reflexão = surgimento da filosofia. Os gregos, como todos os povos, explicavam os fenômenos do universo e as suas origens por meio do mito. - Para os gregos, o mito era um discurso proferido para ouvintes que recebiam o relato como verdadeiro porque este está fundado na autoridade daquele que narra. - Platão, que considerava as narrações mitológicas como um modo de expressão de verdades que escapam ao raciocínio. Em todo caso, a explicação racional, objeto da filosofia, tem a sua origem no mito, desenvolvendo-se a partir dele, até sua plena autonomia. Podemos sintetizar essa época em quatro períodos: 1. Período naturalista –. 2. Período humanista. 3. Período sistemático. 4. Período helenístico. 2.2 Os filósofos naturalistas e os sofistas 2.2.1 A escola jônica Os jônios procuravam a substância última de todas as coisas em uma única matéria, animada por uma energia interior. Seu primeiro representante é Tales de Mileto (624-546 a.C.), para quem a água era a substância primordial de todas as coisas. O expoente mais célebre dessa escola é Heráclito, de Éfeso, na Jônia. Para ele, o elemento primordial era o movimento, o eterno vir a ser: tudo está sujeito a um fluxo perpétuo, representado pelo fogo. - Heráclito é considerado o pai da dialética, a qual considera que a razão das coisas está na constante luta dos contrários. É de Heráclito a ideia de que o mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo rio, pois, ao tentar um segundo banho, o rio já terá mudado, já será outro devido ao contínuo fluxo das águas. 2.2.2 Pitágoras e a escola itálica - Para ele, o princípio primordial da realidade é representado pelo número, ou seja, pelas relações matemáticas. 2.2.3 Xenófanes e a escola eleata - seu maior representante é Parmênides de Eleia (cerca de 530-460 a.C.), para quem o elemento original das coisas é o ser, uno, idêntico, imutável e eterno, representado como uma esfera suspensa no vácuo, sendo que o mundo sensível não passa de ilusão. 2.2.4 A escola pluralista - Empédocles (cerca de 492-493 a.C.), de Agrigento, Sicília, toma dos eleatas a doutrina da eternidade e da imutabilidade do ser, mas o divide em quatro elementos fundamentais – a terra, a água, o ar e o fogo –, explicando a multiplicidade e a mudança dos fenômenos, mediante as várias recombinações desses elementos. 2.2.5 Os sofistas e a arte da persuasão - os sofistas operaram uma verdadeira revolução espiritual, deslocando o eixo da reflexão da physis e do cosmos para o homem e aquilo que concerne à vida do homem como membro de uma sociedade” 2.2.6 O filho da parteira – Sócrates “Só sei que nada sei”; ao contrário dos outros filósofos, não fundou uma escola, preferindo ensinar em lugares públicos, como nos ginásios, nas praças e nos mercados. Exerceu um enorme fascínio sobre os atenienses, especialmente os mais jovens - mas a sua ironia e atitude crítica foram-lhe aos poucos granjeando inimizades entre as parcelas influentes da sociedade. Por fim, foi acusado de corromper a juventude e demonstrar impiedade diante dos deuses da cidade. Todavia, Sócrates não quis se defender. Condenado à pena capital, morreu aos 71 anos - depois de ter recusado os projetos de fuga propostos por alguns de seus discípulos. Sua morte foi o coroamento de uma vida dedicada ao conhecimento e à virtude, já que ele se transformou no marco de alguém que preferiu morrer a negar suas convicções. - Sócrates não escreveu nada: tudo o que se sabe de sua pessoa chegou por meio de seus discípulos, como Xenofonte e Platão - Como os sofistas, ele começa por criticar o sensocomum, o saber instituído, a opinião, a doxa - serve-se de uma técnica por ele chamada de maiêutica, um método que consiste em “parir”, “dar à luz” ideias complexas a partir de perguntas simples. Sócrates constrói uma ética racionalista, na qual a virtude passa a ter um papel fundamental. Mas em que consiste a virtude? Antes de tudo, ela se identifica com o conhecimento. Os gregos chamavam-na areté, “significando aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é, ou melhor ainda, significa aquela atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa, fazendo-a ser aquilo que deve ser”. - e a causa do mal é a ignorância: se conhecêssemos o bem, não praticaríamos o mal. - A essência do ser humano, segundo Sócrates, é sua psyché. - O método socrático é uma técnica de investigação filosófica feita em diálogo, que consiste em o professor conduzir o aluno a um processo de reflexão e descoberta dos próprios valores. Cap. 3 - Platão e o nascimento da razão ocidental 3.1 Platão: atleta e poeta – com a morte de seu mestre, Sócrates 20 anos mais velho, passou a desprezar a democracia e as massas, ideando um modo de governo dirigido pelos mais sábios e capazes. - Academos a sua célebre escola, destinada a desenvolver as ideias de Sócrates e a rebater as dos sofistas. O ideal da educação autônoma significa: • em primeiro lugar: ensinar o livre espírito de pesquisa, o compromisso do pensamento apenas com a verdade; • em segundo lugar: estimular a autodeterminação ética e política. 3.2 As vigas do pensamento platônico: para Platão a filosofia tem um objetivo prático, moral: a incumbência de resolver os grandes problemas da vida. - distingue um conhecimento sensível (a opinião, a doxa) e um conhecimento intelectual (a ciência, a episteme). Enquanto Sócrates fazia derivar o segundo do primeiro, para Platão o universal e imutável conhecimento intelectual não pode se originar do conhecimento sensível, particular e mutável. O mundo das ideias, por sua vez, só pode ser intuído pela razão, o que implica uma ruptura radical com os dados dos sentidos aos quais estamos acostumados. O conhecimento, para Platão, passa ainda por três níveis fundamentais: • o conhecimento sensível, que é efetuado pelos sentidos no mundo dos fenômenos; • o conhecimento discursivo, que implica o conhecimento da matemática, a única ciência que possui uma natureza não corpórea; • o conhecimento intelectivo, ao qual só a filosofia é capaz de levar, por meio de um corte completo com a experiência sensorial. Por meio desses três níveis, a mente se eleva do múltiplo e sensível até o uno, universal e inteligível. 3.3 O legado de Platão - Opondo o mundo das ideias ao mundo da matéria, Platão criaria as condições. Cap. 4 - Aristóteles e a filosofia como totalidade dos saberes 4.1 Filho de médico, mestre de príncipe 4.2 Os escritos de Aristóteles: dividem basicamente em dois grandes grupos: 1. Os escritos exotéricos, destinados ao grande público, compostos sobretudo em forma de diálogos, à semelhança de Platão; 2. Os escritos esotéricos, de aspecto mais didático, produzidos para os alunos e, em alguns casos, pelos próprios alunos, como notas tomadas das aulas do mestre – a maior parte do que nos chegou pertence a esse grupo. A classificação tradicional do corpus aristotélico, como a que segue, tem por base essa edição: • Escritos lógicos • Escritos sobre a física • Escritos metafísicos • Escritos morais e políticos • Escritos retóricos e poéticos Com Aristóteles, assistimos à passagem de uma filosofia ainda tateante a uma filosofia madura, rigorosa, autônoma. Nele se concretiza, mais do que em qualquer outro antes dele, o domínio do logos sobre o mythos, da razão sobre a imaginação. 4.3 Só o individual é real - em Aristóteles é formulada uma filosofia realista em comparação ao pensamento idealista de Platão. Para Aristóteles a experiência é a única fonte de conhecimento autêntico – cada indivíduo tem uma matéria específica, particular, e uma forma comum, partilhada com os indivíduos da mesma espécie. Matéria e forma são indissociáveis, pois a matéria existe apenas dentro de uma forma específica - exemplo da estátua: a matéria dela é o mármore ou o bronze, por exemplo, e a forma é a bela Afrodite ou o feio Sócrates. 4.4 A metafísica 1. a ciência que indaga causas e princípios; 2. a ciência que indaga o ser enquanto ser; 3. a ciência que investiga a substância; 4. a ciência que investiga a substância suprassensível. Existem quatro causas implicadas na existência de algo: 1. Causa material – é aquilo de que, como material imanente, provém o ser de uma coisa, isto é, fornece alguma coisa para o ser. 2. Causa formal – é a forma ou modelo, isto é, a definição da essência. 3. Causa motora ou eficiente – é aquilo que se origina da mutação ou da quietação da coisa. Por exemplo, o conselheiro é a causa da ação, o pai é a causa do filho e, de modo geral, o autor é a causa da coisa realizada, o agente modificador é a causa da alteração. 4. Causa final – é aquilo para o que a coisa é feita, como a saúde é o fim dos exercícios físicos, de modo que à pergunta: “para que se faz ginástica?” geralmente se responde: “para alcançar ou conservar a saúde física” Aristóteles distingue ainda os conceitos de essência e acidentes. A essência é aquilo que dá identidade a um ser e, na falta dela, esse ser não pode tornar-se o que é, não sendo reconhecido como tal. O acidente, por sua vez, é algo que pode ou não ser inerente a um determinado ser, mas que, mesmo quando ausente, não o descaracteriza. Desse modo, o perfume de uma flor é um acidente, pois uma flor não deixará de ser flor por lhe faltar o perfume. 4.5 O pai da lógica - a lógica aristotélica é basicamente dedutiva e demonstrativa, e o seu processo característico é o silogismo. 4.6 A justa medida e o bem comum - A virtude ética não é, pois, razão pura, mas uma aplicação da razão; não é unicamente ciência, mas uma ação com ciência.
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