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ECONOMIA E MERCADO – EAD Módulo 1 - Questões Básicas da Economia 1.1. Conceito de Economia Todos nós temos uma série de necessidades. Precisamos comer, precisamos nos vestir, precisamos estudar, precisamos nos locomover, etc. Estas necessidades são crescentes e ilimitadas. No entanto, para conseguir suprir todas estas necessidades, em geral dispomos de uma renda que é insuficiente para conseguir todos os bens e serviços desejados para satisfazer estas necessidades. Da mesma forma como os indivíduos, a sociedade possui necessidades que precisam ser satisfeitas coletivamente, como por exemplo, estradas, defesa, justiça, escolas, hospitais, etc. Assim como ocorre com as pessoas individualmente, a sociedade em geral possui mais necessidades do que meios de satisfazê-las. Os fatores produtivos disponíveis para a produção não são suficientes para atender todas as necessidades desta sociedade. Sendo assim, em qualquer sociedade, as necessidades humanas são ilimitadas, ao passo que os recursos produtivos são escassos. É preciso, portanto, definir como empregar estes fatores produtivos escassos na produção de bens e serviços, de forma que eles possam contribuir da melhor maneira para a satisfação das necessidades não apenas dos indivíduos, mas também da sociedade. A economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos, com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu consumo entre os membros da sociedade. Isto significa tentar compreender como os indivíduos deveriam empregar sua renda para ter o maior aproveitamento possível, e de como a sociedade alcançaria o maior nível de bem-estar material possível a partir dos recursos disponíveis. 1.2. Os Problemas Econômicos Fundamentais No nosso dia-a-dia nos deparamos, a todo momento, com diversos problemas econômicos com os quais temos de lidar, seja através dos jornais, rádio, televisão, ou até mesmo nas questões mais rotineiras de nosso cotidiano, como por exemplo: a) Por que o nordestino possui uma renda muito inferior à do paulista? b) Até que ponto os juros altos reduzem o consumo e estimulam os preços? c) Por que está tão difícil conseguir um emprego nos dias atuais? d) Por que o aumento no salário mínimo provoca uma deterioração nas contas do governo? e) Por que a carga tributária brasileira está tão elevada? f) Como são definidos os preços dos produtos? g) Como são definidos os aumentos de salários? h) Como são definidas as taxas de juros do Banco Central? Todas estas questões trazem implícitos diversos conceitos importantes, que são a base e o objeto do estudo da Ciência Econômica: escolha, escassez, necessidades, recursos, produção, distribuição. Mas para respondê-las é preciso entender os problemas econômicos fundamentais. Em primeiro lugar é preciso decidir o que produzir e em que quantidades produzir, dado que os recursos de produção são escassos e as necessidades humanas ilimitadas, como já mencionamos no tópico anterior. Essas escolhas dependem de vários fatores, como a perspectiva de lucro (do ponto de vista dos empresários) ou opções de política econômica e as necessidades da sociedade (do ponto de vista da sociedade). Depois é preciso definir como produzir, onde a sociedade terá de escolher, dado o conhecimento tecnológico existente, quais recursos produtivos serão utilizados para a produção de bens e serviços. Em outras palavras, a decisão de como produzir implica a escolha das técnicas, e dentre os métodos mais eficientes, em geral se escolhe aquele mais barato, ou seja, com o menor custo possível. Posteriormente é preciso decidir para quem produzir. Ou seja, é preciso definir para quem se destinará a produção e também definir como os indivíduos participarão da distribuição dos resultados de sua produção. Esta distribuição depende fundamentalmente de como foi instituída e dividida a propriedade privada numa determinada sociedade, e de como esta propriedade se transmite por herança. A distribuição da renda dependerá também do mecanismo de preços que atua por meio do equilíbrio entre oferta e demanda para a determinação dos salários, das rendas da terra, dos juros e dos benefícios de capital. Poderíamos nos perguntar quais as questões econômicas fundamentais de um indivíduo que recebe uma renda, mas não é empresário. Neste caso, os indivíduos devem decidir como vão gastar sua renda entre os diferentes bens e serviços ofertados para satisfazer suas necessidades, ou se escolherão poupar parte de sua renda ao invés de consumir todo o montante recebido. Na hora de suas decisões de consumo, o indivíduo levará em conta não apenas as suas necessidades, mas os preços dos bens e suas preferências, inclusive entre consumo presente ou consumo futuro (representado pela poupança). É preciso ter em mente que estas questões: o que, quanto, como e para quem produzir, e até mesmo o que consumir não seriam problemas se os recursos produtivos disponíveis fossem ilimitados. Sendo assim, a economia e seus problemas fundamentais originam-se da carência de recursos produtivos escassos. 1.3. A lei da escassez de recursos Na economia tudo está pautado na busca de produzir o máximo de bens e serviços com os recursos limitados disponíveis, pois como já destacamos anteriormente, não é possível a produção de uma quantidade infinita de cada bem capaz de satisfazer completamente os desejos humanos. Isto porque os nossos desejos materiais são virtualmente ilimitados e insaciáveis, e os recursos produtivos são escassos. Desta feita, não podemos ter tudo o que desejamos e, portanto, é imperativo que o homem faça escolhas. Portanto, o objeto da ciência econômica é o estudo da escassez, porque esta consiste no problema econômico por excelência. Conseqüentemente, a escassez de recursos de produção resulta na escassez dos bens. Dizer que os bens são econômicos quer dizer que eles são relativamente raros ou limitados. Ora, mas o fato de existir um bem em pouca quantidade não o define como escasso. É preciso para isto que este bem seja desejado, portanto, procurado. A escassez só existe se houver procura (ou demanda) para a obtenção do bem. Ora, mas poderíamos nos perguntar porque um determinado bem é procurado (ou demandado). Um bem é demandado porque tem a capacidade de satisfazer uma necessidade humana, ou seja, tem utilidade. Um bem é procurado porque é útil. Sendo assim, os bens econômicos são aqueles escassos em quantidade, dada sua procura, e apropriáveis. Os bens econômicos têm como característica a utilidade, a escassez e a possibilidade de transferência. Os bens livres, por outro lado, são aqueles disponíveis em quantidade suficiente para satisfazer a todo o mundo; são, portanto, ilimitados em quantidade ou muito abundantes e não são apropriáveis. Mas o que seriam então as necessidades humanas? Este poderia ser um conceito relativo vago e filosófico, já que os desejos dos indivíduos não são fixos. Mas para a economia as necessidades humanas relevantes são aqueles desejos que envolvam a escolha de um bem econômico capaz de contribuir para a sobrevivência ou para a realização social do indivíduo. As necessidades podem ser classificadas em: a) Básicas ou primárias: são aquelas indispensáveis para nossa sobrevivência ou que sem as quais nossa vida seria insuportável. Exemplo: alimentação, saúde, habitação, vestuário, entre outras. b) Necessidades secundárias: são aquelas desejadas pelo convívio social. Exemplo: educação, transporte, lazer, turismo. 1.3.1. Tipos de Bens Econômicos Como já vimos, os bens econômicos são aqueles que possuem uma raridade relativa, ou seja, possuem um preço. Estes bens econômicos, quando se destinam à satisfação direta de necessidades humanas são chamados bens de consumo ou bens finais. São todos aquelesbens que já estão aptos a serem consumidos sem que haja necessidade de qualquer outra transformação. Os bens de consumo podem ser divididos em bens de consumo durável, que podem ser utilizados por um período mais prolongado – automóvel, geladeira -; e os bens de consumo não durável, que devem ser consumidos imediatamente ou são utilizados apenas uma vez ou poucas vezes, como alimentos e roupas. Os bens que são destinados à fabricação de outros bens e que são absorvidos pelo processo de produção são chamados de bens intermediários. Estes bens sofrem novas transformações antes de se converterem em bens de consumo ou de capital, e possuem um ciclo curto no processo produtivo, sendo totalmente consumidos no processo produtivo. São exemplos de bens intermediários as matérias-primas, material de escritório, insumos, barras de ferro, peças de reposição, etc. Os bens de capital também são utilizados na geração de outros bens, mas não se desgastam totalmente no processo produtivo, ou seja, não são absorvidos no processo de produção. Uma característica importante destes bens é que contribuem para a melhoria da produtividade da mão-de-obra. São exemplos de bens de capital as máquinas, equipamentos e instalações. Os bens de capital, como não são consumidos no processo de produção, também são bens finais. 1.4. Os Recursos ou Fatores de Produção Para que se obtenha a satisfação das necessidades humanas é necessário produzir bens e serviços. E a produção exigiria o emprego de recursos produtivos e bens elaborados. Os recursos de produção ou fatores de produção da economia são aqueles utilizados no processo produtivo para obter outros bens e serviços, com o objetivo de satisfazer as necessidades dos consumidores. Os fatores de produção são: a terra, ou recursos naturais, incluindo água, minerais, madeiras, solo para fábricas; recursos humanos, englobando o trabalho enquanto faculdades físicas e intelectuais dos seres humanos que intervêm no processo produtivo, e a capacidade empresarial, que se constitui daqueles indivíduos que reúnem os capitais para adquirir recursos produtivos e produzir bens e serviços para o mercado; capital, que engloba os bens e serviços necessários para a produção de outros bens e serviços, como máquinas, equipamentos, instalações, dinheiro, ferramentas, capital financeiro; e tecnologia. É importante ressaltar que para cada fator de produção corresponde uma remuneração. Ao trabalho corresponde o pagamento de salários. O juro paga o uso do capital. O aluguel constitui a remuneração da terra. A tecnologia é paga com royalties. À capacidade empresarial corresponde o lucro. FATOR DE PRODUÇÃO TIPO DE REMUNERAÇÃO TRABALHO SALÁRIO CAPITAL JURO TERRA ALUGUEL TECNOLOGIA ROYALTIES CAPACIDADE EMPRESARIAL LUCRO A produção, portanto, seria o processo de transformar matérias-primas em produtos acabados utilizando para tanto os bens de capital, os bens intermediários e a mão-de-obra. Módulo 2 - Custos de Oportunidade e Curva de Possibilidades de Produção 2.1. Custo de Oportunidade Conforme vínhamos analisando, os recursos produtivos são escassos e as necessidades humanas ilimitadas, e porque existe a escassez os agentes econômicos têm que decidir onde e como aplicar os recursos disponíveis. Fazemos isso todo o tempo no nosso dia-a-dia, no supermercado, em nossas decisões de compras. Isto porque como os fatores de produção são limitados, só é possível satisfazer uma necessidade abrindo mão da satisfação de uma outra. Não há capital, nem trabalho, nem terra, nem tecnologia suficientes para produzir tudo aquilo que se deseja. A remuneração destes fatores também é restrita, restringindo as possibilidades de consumo. A escassez força os indivíduos, as famílias, as empresas e até os governos a fazer escolhas. Os indivíduos, por exemplo, têm de decidir como gastar sua renda e que necessidades devem priorizar. As empresas têm de decidir se ampliam o capital produtivo ou investem no mercado financeiro. Os governos precisam decidir se pagam uma parcela de suas dívidas ou fazem investimentos em educação e saúde. Mas uma vez que um destes agentes econômicos tome uma decisão, estarão necessariamente abrindo mão de outras possibilidades. Assim, em um mundo de recursos limitados, a oportunidade de produzir um bem significa deixar de produzir outro. Como toda escolha, a escolha de satisfação de certas necessidades em detrimento de outras envolve ganhos e perdas. Por isso, quando decidem gastar ou produzir, empresas, governos ou famílias estarão renunciando a outras possibilidades. A opção que se deve abandonar para poder produzir ou obter outra coisa se associa ao conceito de custo de oportunidade. O custo de oportunidade de um bem ou serviço é a quantidade de outros bens ou serviços a que se deve renunciar para obtê-lo. Em outras palavras, o custo de oportunidade é o sacrifício do que se deixou de produzir, o custo ou a perda do que não foi escolhido e não o ganho do que foi escolhido. O custo de oportunidade também é chamado custo alternativo, por representar o custo da produção alternativa sacrificada. 2.2. Curva de Possibilidades de Produção Dada a escassez de recursos da economia, os agentes econômicos são obrigados a fazer escolhas. Quando um bem é escasso, os indivíduos são forçados a escolher como usá-lo. Em conseqüência passa a haver uma troca – satisfazer uma necessidade significa a não satisfação de uma outra. A curva de possibilidades de produção mostra as trocas que os indivíduos, as empresas, ou os governos são obrigados a fazer por causa da escassez de recursos. Suponhamos uma determinada sociedade, onde exista um certo número de indivíduos, uma tecnologia dada, uma quantidade definida de empresas, instrumentos de produção e de recursos naturais. Como os fatores produtivos são limitados, a produção total desta sociedade tem um limite máximo a que chamaremos de produto de pleno emprego. Neste nível de produção, todos os recursos disponíveis estão empregados, todos os trabalhadores que querem estão trabalhando, todos os instrumentos de produção estão sendo utilizados, todas as fábricas estão a pleno funcionamento e os recursos naturais estão sendo plenamente aproveitados. Vamos supor ainda que esta economia produza apenas alimentos e roupas. Haverá sempre uma quantidade máxima de alimentos produzidos mensalmente quando todos os recursos forem destinados à sua produção, sem que nenhum se destine à produção de roupas. Haverá também uma quantidade máxima de roupas produzidas mensalmente quando todos os recursos forem destinados à sua produção, sem que nenhum se destine à produção de alimentos. Entre as quantidades máximas de roupas e alimentos que podem ser produzidas, existem uma série infinita de possibilidades de combinações de quantidades de roupas e alimentos que podem ser produzidos naquela sociedade, com aquele nível de tecnologia e aqueles recursos disponíveis, com todos os recursos sendo plenamente utilizados. Suponhamos que as alternativas de produção de roupas e alimentos sejam as colocadas na tabela abaixo. Alternativas de produção Alimentos(toneladas) Roupas (milhares) 1 10 160 2 20 150 3 30 130 4 40 100 5 50 60 6 60 0 FIGURA 1 – CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO A essa curva que ilustra essas possibilidades de combinações intermediárias entre roupas e alimentos eu vou chamar de curva de possibilidades de produção ou curva de transformação. Ela indica todas as possibilidades de produção de alimentos e roupas nessa construção econômica hipotética. A curva de possibilidades de produção é um conceito teórico para ilustrar a capacidade produtiva de uma sociedade. Através desta curva podemos perceber claramente que numa economiaem pleno emprego, ao produzir um bem estaremos sempre desistindo da produzir uma certa quantidade de um outro bem. Em outras palavras, Para conseguirmos uma quantidade constante adicional de um bem (alimentos), precisaremos renunciar a quantidades crescentes do outro bem. Tendo em vista que cada uma das combinações sobre a curva de possibilidades de produção é tecnicamente eficiente, a sociedade escolherá uma delas em função dos preços dos produtos e das quantidades desejadas de cada um deles. Para as firmas também é possível construir uma curva de possibilidades de produção semelhante ao exemplo que elaboramos acima. Mas no lugar dos bens produzidos pela sociedade, construiremos a curva de possibilidades de produção contrapondo os produtos a serem produzidos por essa firma. Uma empresa precisa sempre decidir quais produtos produzir e em que quantidade produzir. Será a interação entre preços e quantidades de mercado que darão essa resposta, supondo-se que os empresários são agentes racionais e procuram sempre economizar os fatores escassos com o objetivo de maximizar lucros. Observemos a figura abaixo: De acordo com o gráfico acima, se houver uma expansão dos fatores de produção, ou se houver um melhor aproveitamento dos recursos produtivos já utilizados, ou ainda se a tecnologia utilizada sofrer algum avanço, haverá crescimento econômico naquela sociedade e a curva de possibilidades de produção se deslocará para cima e para a direita. Isto significa que a economia poderá dispor de maiores quantidades tanto de alimentos quanto de roupas. A expansão dos fatores produtivos ou a melhora no seu aproveitamento, bem como os avanços tecnológicos dependem significativamente de um aumento nos investimentos. Isto significa que os agentes econômicos – famílias, empresas e governo – precisam reduzir o seu consumo atual e direcionar parte de seus recursos para a poupança, a fim de que ela esteja disponível para investimento. Um outro elemento importante para o crescimento econômico, tanto quanto o investimento, é a divisão do trabalho. Um aumento da divisão do trabalho permite que os trabalhadores se tornem mais produtivos, com um aumento da especialização do trabalho, elevando também os volumes negociados no comércio. 2.3. Análise Marginal Diante do que foi exposto, como então a população poderia alocar seus recursos escassos de modo a obter o maior proveito possível? A fim de responder a esta pergunta fundamental da economia, os economistas utilizam a chamada análise marginal. Esta técnica é amplamente utilizada na tomada de decisão das firmas, onde se faz a análise dos custos e benefícios de uma unidade adicionada de um bem ou insumo para o montante da produção, a chamada unidade marginal. Em qualquer situação, os indivíduos querem maximizar os chamados benefícios líquidos. O benefício líquido seria o benefício total subtraídos os custos totais. BENEFÍCIO LÍQUIDO = BENEFÍCIO TOTAL – CUSTO TOTAL A fim de maximizar seus benefícios, pode-se alterar alguma das variáveis envolvidas no processo, como a quantidade de um produto que compram ou a quantidade que produzem. Essa variável seria chamada de variável de controle. A análise marginal identifica se a alteração da variável de controle proporciona um aumento do benefício total e de quanto seria esse aumento; ou se a alteração da variável de controle ocasiona um aumento do custo total, e em que medida esse custo aumenta. Sendo assim, é preciso primeiro identificar a variável de controle. Feito isto, deve-se determinar qual seria o aumento do benefício total se fosse acrescentada uma unidade da variável de controle. O aumento do benefício total decorrente do aumento de uma unidade da variável de controle determinaria o chamado benefício marginal da unidade adicional. Por outro lado, devemos identificar a variável de controle, para depois determinar também qual seria o aumento do custo total se houvesse uma elevação de uma unidade desta variável de controle. O custo marginal seria justamente o aumento no custo total decorrente do aumento de uma unidade da variável de controle. Se o benefício marginal da unidade adicional da variável de controle for maior ou igual ao custo marginal, teremos uma variação positiva do benefício líquido. Portanto, o benefício líquido aumenta e a unidade marginal da variável de controle deve ser adicionada, pois desta elevação resulta um impacto positivo, de maximização de benefício líquido. BENEFÍCIO MARGINAL = AUMENTO DO BENEFÍCIO TOTAL É preciso ter em mente que apenas as alterações do benefício total e do custo total devem ser analisadas, porque o benefício marginal representa o aumento do benefício total, enquanto que o custo marginal representa o aumento do custo total. CUSTO MARGINAL = AUMENTO DO CUSTO TOTAL Portanto, teremos que a variação do benéfico líquido é dada pela diferença entre benefício total e custo total. VARIAÇÃO DO BENEFÍCIO LÍQUIDO = BENEFÍCIO MARGINAL – CUSTO MARGINAL Em uma firma, o benefício líquido ao atuar nos negócios é o lucro. O benefício total corresponderia à receita total auferida pela empresa, e os custos totais teriam a mesma denominação. Assim, a análise marginal estudaria as repercussões sobre o lucro total, a partir dos efeitos sobre a receita total (preços x quantidades) e o custo total (custo médio x quantidades). A decisão do empresário dependerá da análise marginal que efetuar, a partir de uma equação fundamental, derivada daquelas que construímos acima. Sendo assim, numa empresa, a fórmula acima apresentada seria modificada para: LUCRO = RECEITA TOTAL – CUSTO TOTAL A variação do lucro total seria dada pela diferença entre receita marginal e custo marginal. A receita marginal seria a receita proporcionada pela venda de uma unidade adicional do produto. O custo marginal seria o custo da produção de uma unidade adicional de produto. VARIAÇÃO DO LUCRO TOTAL = RECEITA MARGINAL – CUSTO MARGINAL A firma continuará a produzir unidades adicionais do produto até o ponto em que o custo marginal for igual ao preço. O ponto de equilíbrio da produção de uma firma, para a teoria econômica, é justamente quando o custo marginal iguala o seu preço. Módulo 3 - O Sistema Econômico 3.1. O que vem a ser um sistema econômico? Sabe-se que a economia de cada país funciona de maneira distinta, no entanto podemos dizer que, em linhas gerais, a maior parte dos países no mundo possuem o mesmo sistema econômico. Mas afinal o que viria a ser um sistema econômico? Ora, se as questões fundamentais da economia giram em torno da decisão de o que, quanto, como e para quem produzir de forma eficiente, num contexto de necessidades ilimitadas, mas com recursos produtivos e tecnologia limitada, é necessário que uma sociedade se organize para tal. As atividades comuns a qualquer sistema econômico são a produção, o consumo e as trocas. E a forma de adoção das trocas é diferente em cada sistema econômico. O sistema econômico seria a forma como a sociedade organiza a sua produção, distribuição e consumo de bens e serviços, para que seja alcançado nesta sociedade o maior nível de bem-estar possível. Essa organização envolve a dimensão econômica, mas também a dimensão social e política de uma sociedade. No entanto, é preciso ter em mente que as comunidades não simplesmente “escolhem” um sistema econômico, mas ele é fruto de um processo histórico de lutas, guerras, disputas de interesses que acabam definindo a forma da sociedade se organizar política, social e economicamente. Um sistema econômico seria então o conjunto de relações técnicas, básicas e institucionais que caracterizam a organização econômica, social e política da sociedade. Essas relações condicionam as decisões fundamentaisda sociedade e quais as atividades que serão as mais importantes dentro daquela comunidade. Tradicionalmente, classificam-se os sistemas econômicos em: a) sistema capitalista ou economia de mercado: a base deste sistema econômico é a propriedade privada dos bens de produção e do capital, onde predomina a livre iniciativa. Numa economia de mercado, as decisões de o quê, como e para quem produzir seriam definidas a partir da concorrência e do sistema de preços, regulado pelo mecanismo de oferta e demanda, com pouca interferência do Estado. O que produzir seria definido pela demanda dos consumidores no mercado; quanto produzir seria determinado pela interação entre consumidores e produtores no mercado, com o devido ajustamento dos preços; como produzir seria determinado pela concorrência entre os produtores; e o para quem produzir seria determinado pela oferta e demanda no mercado de fatores de produção. A produção se destina a quem tem renda para pagar. b) Economias mistas: surgem a partir da década de 30 do século XX, quando ainda prevalecem a livre iniciativa, a propriedade privada e as forças de mercado, mas há grande participação do Estado, não apenas na produção de bens e serviços, mas também na alocação e na distribuição de recursos. O Estado também atua nas áreas de infra-estrutura, energia, saneamento e telecomunicações. c) Economias socialistas ou economia planificada: nestas economias, as decisões sobre o que, quanto, como e para quem produzir são determinadas por órgãos de planejamento do governo, e não pelo sistema de preços e pela concorrência inter-capitalista. Os meios de produção – máquinas, equipamentos, matérias-primas, instrumentos, terras, minas, bancos, etc – são considerados propriedade de todo o povo (propriedade coletiva ou social). Os meios de sobrevivência como roupas, automóveis, eletrodomésticos, móveis, etc pertencem aos indivíduos. As residências pertencem ao Estado. O que seria então o “mercado”? Como já vimos, numa economia de mercado os preços dos produtos a serem vendidos são em geral estabelecidos pela livre concorrência entre os produtores e os consumidores, e pelo mecanismo de preços, onde há a compra e venda de bens e serviços, mas também de fatores de produção. O mercado seria toda instituição social na qual bens, serviços e fatores de produção são trocados livremente, troca esta mediada pela moeda. Na economia de mercado os consumidores tentarão maximizar o seu bem- estar e os produtores tentarão maximizar o seu lucro. E como funcionaria então o mecanismo de preços? Quando os consumidores vão ao mercado em busca por maiores quantidades de certa mercadoria, o preço desta mercadoria sobe, indicando ao produtor que há falta deste produto no mercado. O produtor por sua vez eleva a produção desta mercadoria, com o objetivo de obter maiores lucros ao vendê-la a um preço mais alto. Com o aumento contínuo dos preços, os consumidores passam então a demandar uma quantidade menor desta mercadoria, e ao reduzir o consumo, elevam-se os estoques dos produtores, que são obrigados a reduzir o preço daquela mercadoria. A queda na demanda e nos preços sinaliza ao produtor a necessidade de reduzir a produção daquela mercadoria. 3.2. Os Fluxos Reais e Monetários da Economia O funcionamento de uma economia de mercado depende do entendimento de quem são os principais agentes econômicos que interferem no sistema econômico e que papel cada um deles exerce dentro da organização do sistema econômico. Como já vínhamos citando ao longo desta aula, os principais agentes econômicos são as famílias, as empresas e o governo. São estes agentes os responsáveis por toda a atividade econômica de uma determinada sociedade. As famílias são proprietárias dos fatores de produção e os fornecem para as empresas, ao mesmo tempo em que consomem os bens e serviços produzidos por estas mesmas empresas. As empresas utilizam os fatores de produção fornecidos pelas famílias e através de sua combinação, produzem bens e serviços que são fornecidos para o consumo das famílias. O governo cuida da segurança, educação, saúde, da defesa dos cidadãos e de seus direitos. Além disso, o governo assegura o pleno funcionamento da economia, através da coordenação e regulação dos mercados (bens e serviços e mercado de fatores de produção). Ao longo do século XX, o governo assumiu outras funções, atuando como empresário fornecendo bens públicos. Numa economia de mercado, estes diferentes agentes econômicos podem ser agrupados em três grandes setores: o setor primário, que engloba a agricultura, a pesca, a pecuária e a mineração; o setor secundário, onde há combinação de fatores de produção para a transformação de bens, e inclui as atividades industriais; e o setor terciário, ou setor de serviços, que inclui serviços, comércio, transporte, bancos, educação, entre outros. Para entender melhor o funcionamento do sistema econômico, vamos supor uma economia de mercado que não tenha interferência do governo, não tenha transações comerciais nem financeiras com o exterior e não possua um setor financeiro desenvolvido. As atividades econômicas estarão centradas nas ações de dois grandes agentes: as empresas, que reúnem os fatores produtivos para a produção de bens e serviços, e as famílias, constituídas pelos indivíduos que são proprietárias dos recursos de produção (terra, trabalho, capital e capacidade empresarial). Como vimos, as unidades familiares fornecem recursos produtivos para as empresas e as empresas fornecem bens e serviços finais para as unidades familiares. A interação entre as famílias e as empresas é feita através do mercado de bens e serviços e do mercado de fatores de produção. Desta interação, resultam dois fluxos: a) Fluxo real da economia ou circulação real: quando houver deslocamento físico do bem; pode ser definido a partir do fornecimento de recursos de produção, do uso destes recursos e de sua combinação na produção de bens e serviços intermediários e finais. Há emprego efetivo de fatores produtivos e dos produtos gerados. Há troca material de recursos produtivos e de bens e serviços. Engloba o mercado de recursos de produção e o mercado de bens e serviços. O fluxo real da economia, no entanto, só torna-se possível com a presença da moeda, que é utilizada para pagar os bens e serviços e os fatores de produção. Paralelamente ao fluxo real temos o fluxo monetário da economia. GRÁFICO 1 – FLUXO REAL DA ECONOMIA Fonte: VASCONCELOS (2000, p.06) b) Fluxo monetário da economia: quando há apenas transferência de propriedade, representada pelos pagamentos monetários efetuados pelos produtos (bens e serviços) e pelos fatores de produção. Também vai englobar o mercado de recursos ou fatores de produção e o mercado de bens e serviços. Tanto o fluxo real quanto o fluxo monetário vão envolver as famílias e as empresas, bem como os mercados de recursos e de bens e serviços. No mercado dos recursos de produção serão transacionados recursos necessários às atividades de produção, tais como mão-de-obra, matérias- primas, tecnologia, formação de capital, capacidade administrativa, entre outros. Neste mercado quem oferta recursos são as famílias e a demanda é representada pelas empresas. Neste mercado, as unidades produtoras, ou seja, as empresas, pagam às famílias uma remuneração pelos fatores de produção de sua propriedade, na forma de salários, aluguéis, juros e lucros. As famílias (ou os indivíduos que as compõem) vão até o mercado de fatores de produção e oferecem seus “produtos” ou “serviços”, em busca de uma renda (oferta de fatores). As empresas, por sua vez, precisam destes fatores produtivos a fim de combiná-los na produção de seus produtos e vão ao mercado de fatores com o objetivo de comprá-los (demandade fatores). Os preços dos fatores (salários – trabalho, aluguéis – terra, juros – capital, lucros – capacidade empresarial) serão determinados pela interação entre a oferta e a demanda. A soma dos salários, aluguéis, juros e lucros formam a renda da economia. Ao receberem essa renda, as famílias têm condições de comprar produtos ofertados pelas empresas no mercado de bens e serviços. Assim, as empresas combinam os fatores de produção adquiridos no mercado de fatores e produzem bens e serviços e vão ao mercado de bens e serviços oferecê-los para as famílias, que estão de posse de suas respectivas rendas. Os preços de cada bem ou serviço vai ser determinado a partir da interação entre a oferta e a demanda de cada um deles. A nossa hipótese inicial foi a de que não haveria um setor financeiro, portanto os consumidores gastam toda a sua renda neste mercado. As empresas acabam absorvendo essa renda. Ao se dirigirem ao mercado de fatores, as empresas acabam distribuindo esta renda na forma de salários, aluguéis, juros e lucros. No mercado de bens e serviços são transacionados bens e serviços necessários à satisfação humana, tais como alimentação, saúde, vestuário, habitação, calçados, transportes. Quem representa a oferta neste mercado são as empresas, na condição de produtores, e quem representa a demanda são as famílias, na condição de consumidores. Aqui, as famílias ou os consumidores acabam transferindo os pagamentos recebidos das empresas pelo uso dos fatores de produção, para essas mesmas empresas, como forma de pagamento monetário dos bens e serviços adquiridos. O fluxo circular da renda é constituído pela união dos fluxos real e monetário, onde em cada um dos mercados atuam conjuntamente as forças da oferta e da demanda, determinando o preço. GRÁFICO 3 – FLUXO CIRCULAR DE RENDA Como podemos observar, famílias e empresas exercem um duplo papel. No mercado de bens e serviços, as famílias demandam bens e serviços enquanto as empresas ofertam estes mesmos bens e serviços; no mercado de fatores de produção, as famílias é que oferecem os serviços dos fatores de produção, de sua propriedade, e as empresas vão demandar estes mesmos fatores. No equilíbrio, então, teremos o seguinte esquema: FLUXO REAL = FLUXO MONETÁRIO FLUXO REAL DE FATORES = RENDA FLUXO REAL DE BENS E SERVIÇOS = FLUXO MONETÁRIO DO MERCADO DO PRODUTO É necessário fazer uma observação importante. Para a teoria econômica, tanto os consumidores, na figura das famílias, como os produtores, representados acima pelas empresas, são racionais nas suas decisões. O que isto significa? Significa que os indivíduos, enquanto consumidores, buscam obter o máximo de produtos gastando o mínimo possível. Já as empresas, ou os produtores, buscam obter o maior lucro possível, e para isto quer diminuir custos e vender os seus produtos o mais caro possível. Cada um dos agentes que interferem no processo econômico agem buscando o seu próprio interesse, a partir de uma racionalidade meramente econômica. É importante ressaltar que estes fluxos sofrem algumas alterações com a introdução do setor público (governo) e das transações com o setor externo. Com a incorporação do setor público ao fluxo anterior, teremos o impacto dos impostos e dos gastos públicos no fluxo da renda. Ao se incluir o governo, este impõe sobre empresas e famílias impostos, que diminuem tanto o poder de compra das unidades familiares, como o lucro das empresas. Por outro lado, ao conceder subsídios[1], que nada mais é do que uma ajuda do governo a determinados setores produtivos ou parcelas da sociedade, aumentam as possibilidades de investimentos das empresas. Por outro lado, se eu introduzo no esquema acima o comércio internacional, há um aumento da demanda por produtos no mercado de bens e serviços, na medida em que parte dos bens e serviços disponibilizados pelas empresas irão ser exportados. Há também um aumento na oferta neste mesmo mercado, através das importações, o que acaba por elevar a concorrência, podendo ocasionar uma queda nos preços destes produtos e uma melhoria na qualidade. 3.3. Divisão do Estudo Econômico Quando pensamos ou discutimos a economia podemos definir se queremos ter uma visão mais ampla ou mais restrita dos fenômenos econômicos. Para analisar o sistema econômico podemos nos concentrar no estudo das unidades familiares e produtivas, ou podemos trabalhar com os grandes agregados. Neste sentido, sobretudo por razões didáticas, costuma-se dividir a economia em quatro ramos de estudo fundamentais: microeconomia, macroeconomia, desenvolvimento econômico e economia internacional. A microeconomia ou teoria de formação de preços estuda a formação de preços em mercados específicos, ou seja, como consumidores e empresas se relacionam no mercado, por meio da ação conjunta de oferta e demanda, e definem os preços para que as necessidades tanto dos consumidores quanto dos produtores sejam satisfeitas ao mesmo tempo. Em outras palavras, a microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades econômicas, como as famílias, os consumidores ou as empresas. Para a microeconomia, as diferentes unidades econômicas atuam como se fossem unidades individuais, e estuda a racionalidade dos indivíduos (consumidores e empresas) diante do problema da escassez de recursos, bens e serviços. A macroeconomia estuda o funcionamento da economia em seu conjunto, ocupando-se da determinação e do comportamento dos grandes agregados nacionais, como o produto interno bruto (PIB), que mede o total do que é produzido no país, investimento agregado, a poupança agregada, o emprego, o consumo agregado, o nível geral de preços, os juros da economia, os índices econômicos. O objetivo da macroeconomia é oferecer uma visão simplificada da economia, mas que forneça condições para o conhecimento e atuação sobre o nível de atividade econômica de um país, através das políticas governamentais. A análise macroeconômica trabalha com as condições de equilíbrio estável entre a renda e a despesa nacionais, e com as políticas econômicas de intervenção que procuram estabelecer este equilíbrio. Os estudos do desenvolvimento econômico se concentram no entendimento dos processos econômicos e na busca de melhorar as condições de vida da sociedade ao longo do tempo, através da acumulação de recursos escassos e da geração de tecnologia capazes de aumentar a produção de bens e serviços daquela sociedade. Para isto, o desenvolvimento econômico discute medidas que devem ser adotadas pelos países no longo prazo, a fim de que uma sociedade obtenha um crescimento econômico equilibrado, auto-sustentado e com uma distribuição de renda mais eqüitativa. Busca, portanto, entender como se processa a acumulação de recursos escassos e a geração de tecnologia que resultariam no aumento da produção de bens e serviços para a sociedade. A economia internacional por sua vez procura compreender as relações econômicas internacionais, através do estudo dos fluxos comerciais e financeiros que interligam os países e os indivíduos habitantes em cantos distintos do globo. É o ramo da economia que estuda, portanto, as condições de equilíbrio entre importações e exportações, e os fluxos de capital entre as nações do mundo. Ocupa-se, portanto, das relações econômicas entre residentes e não-residentes do país, sejam elas transações de bens e serviços ou de capital. -------------------------------------------------------------------------------- [1] Auxílio concedido pelo governo de um país a determinados setores ou empresas (públicas ou privadas), tecnicamente definido por: benefícios pagos, sem contrapartida em produtos ou serviços; transferência de recursos de uma esfera do governo em favor de outra; despesas governamentaispara cobrir prejuízos de empresas; benefícios a consumidores, sob a forma de preços inferiores aos níveis normais do mercado; benefícios a produtores e vendedores mediante preços mais elevados. Disponível em: http://www.google.com.br/search?hl=pt- BR&q=o+que+s%C3%A3o+subs%C3%ADdios&meta=. Acesso em 20 jun. 2006. Módulo 4 - As Origens do Pensamento Econômico As escolas de pensamento econômico constituem um conjunto sistematizado de idéias, valores e princípios teóricos, mas sempre vinculados às questões políticas, sociais e éticas. Sendo assim, os pressupostos e conclusões de cada corrente de pensamento econômico, bem como os resultados de suas investigações científicas estão inteiramente condicionados por sua matriz ideológica. Durante muito tempo a economia constituiu um conjunto de soluções a problemas específicos e orientava-se por princípios gerais de ética, justiça e igualdade. As justificativas dos conceitos eram muito mais de natureza moral, não existindo, até Smith, um estudo sistemático das relações econômicas. 4.1. O Pensamento Econômico na Antiguidade Na Antiguidade Clássica, a maior parte da população era composta de escravos, que trabalhavam em troca do básico para a sua subsistência (roupas e alimentos). Todo o produto excedente a essas necessidades básicas dos trabalhadores era apropriado pelos senhores de escravos. A economia era eminentemente rural e as cidades desenvolveram-se com o avanço das trocas comerciais. Estas cidades eram politicamente independentes umas das outras, e a navegação desenvolveu-se com a expansão do intercâmbio comercial. Os autores da Antigüidade, tanto na Grécia, quanto em Roma, não possuíam um pensamento econômico geral e independente. Havia o domínio da Filosofia e da Política sobre o pensamento econômico. Neste sentido, embora o termo “economia” (oikosnomos[1]) tenha surgido na Grécia, a predominância da Filosofia sobre a sociedade não favorecia o desenvolvimento da análise econômica. Existem algumas reflexões de ordem econômica em Platão (427-347 a.C.) e Xenofontes (440-335 a.C.), mas muito incipientes. Aristóteles apresentou algumas contribuições interessantes às teorias do valor, dos preços e da moeda, mas tratava sobretudo de aspectos das transações comerciais e das finanças públicas. Os grandes pensadores gregos partiam da premissa que o trabalho era indigno do homem e que deveria ser reservado aos escravos, considerados inferiores. Assim, Platão e Aristóteles faziam a defesa da escravidão argumentando que alguns homens eram naturalmente inferiores a outros. Defendia-se a igualdade entre os cidadãos (homens livres, nascidos na Cidade-Estado e proprietários de terras) e havia um certo desprezo pela riqueza e o luxo. Isto dificultava o desenvolvimento das relações econômicas, e assim, portanto, do próprio pensamento econômico. Sendo assim, na Grécia apareceram poucas idéias econômicas, fragmentadas em estudos filosóficos e políticos. O pensamento romano também não deu uma grande contribuição ao desenvolvimento das idéias econômicas. Os romanos não desprezavam a riqueza e o luxo, e havia uma economia de trocas muito mais intensa em Roma que na Grécia, com o desenvolvimento de companhias comerciais e sociedades por ações. Mas o pensamento de Roma centrou-se nas questões da política, e o desenvolvimento da sociedade romana estava centrado em torno de objetivos muito mais políticos do que econômicos, o que anulou a sua contribuição ao pensamento econômico. 4.2. O pensamento econômico na Idade Média Com o declínio do Império Romano e as invasões bárbaras, surgiu o feudalismo, cuja base era o trabalho dos servos nas terras dos senhores. Apesar do servo não ser livre, por estar ligado à terra e a seu senhor, não era propriedade do senhor, como o escravo na Antigüidade. Existia também uma hierarquia dentro da classe de senhores feudais. Um senhor devia lealdade a um senhor mais poderoso, e este a outro, e a outro, até chegar ao rei. Os vassalos recebiam a terra de seus senhores para cultivá- las em troca de dinheiro, alimentos, trabalho e lealdade militar. Em contrapartida, o senhor oferecia proteção militar a seu vassalo. Ao longo da Idade Média há um amplo desenvolvimento das trocas nas cidades, ampliando-se a atividade econômica regional e inter-regional através do surgimento das feiras periódicas. O avanço das trocas propiciou o desenvolvimento da divisão do trabalho: surgem as corporações de ofício e ocorre uma ampliação crescente das trocas entre as áreas urbanas e rurais. Com as Cruzadas expande-se o comércio através do Mediterrâneo, fazendo surgir grandes centros comerciais como Gênova, Veneza, Pisa e Florença. Assim como na Antiguidade Clássica, o pensamento econômico medieval não constituía um corpo teórico independente e sistematizado, e tinha um caráter eminentemente prático. Ao invés de estar pautado por questões filosóficas e políticas, a moral cristã orientava e subordinava o pensamento econômico na Idade Média, através da dominação exercida pela Igreja Católica em todas as dimensões da sociedade. Neste sentido, a teologia católica, ao subverter a ética do trabalho, não apenas defendendo a dignidade do trabalho, mas o colocando como meio de expiação dos pecados do homem, revoluciona as relações econômicas, dando a elas um grande impulso de desenvolvimento. A ética paternalista cristã, no entanto, condenava a aquisição e acumulação de bens materiais. A Igreja condenava a busca desenfreada pelo interesse individual, e tentava moralizar as ações econômicas dos indivíduos e a conduta humana, inclusive com a instituição de leis paternalistas, como a Lei dos Pobres. Permitia-se a propriedade privada, mas esta deveria ser usada com moderação. Surge a partir desta idéia de moderação dos agentes econômicos a concepção de justiça nas trocas, onde buscava-se o “justo preço” e o “justo salário”. E o que vinha a ser o justo preço? Seria o preço baixo o bastante para que o consumidor pudesse comprar, sem extorsão, e aquele elevado o suficiente para que o vendedor tivesse interesse em vender para poder viver de maneira decente. O justo salário seria aquele que permitiria ao trabalhador e sua família viver dignamente. Havia também a noção de justiça nas trocas, onde o lucro não deveria permitir aos comerciantes enriquecer (já que a riqueza era condenada), mas apenas viver de forma decente. Dessa concepção de justiça nas trocas advém também a condenação do empréstimo a juros, já que o dinheiro reembolsado ao emprestador seria maior que o dinheiro tomado emprestado. No entanto, com o desenvolvimento do comércio e das trocas, e com o desenvolvimento das atividades manufatureiras, estas concepções caem por terra, e a subordinação da economia à teologia é substituída pela busca desenfreada de acumular metais preciosos. 4.3. O Mercantilismo A partir do século XV, uma série de transformações intelectuais, religiosas, políticas associadas ao desenvolvimento das trocas e do comércio e à expansão ultramarina e aos grandes descobrimentos impulsionaram o avanço da atividade econômica de forma significativa. A Reforma Protestante abre as portas para o individualismo, ao exaltar a atividade econômica e o sucesso material, e ao justificar a busca do lucro, os empréstimos a juros e o enriquecimento. Não mais se condenava a riqueza, mas o pecado agora era a ociosidade. O enriquecimento era sinal da salvação de Deus e o trabalho não era mais um meio de expiação de pecados, mas instrumento para alcançar a graça divina e o êxito material. Há neste período o enfraquecimento dos feudos e a centralização da política com o surgimento dos Estados Nacionais. O Estado passa a coordenar as forças materiais e os recursos humanos, fazendode cada país um organismo econômico integrado. O Estado nacional passa a assumir o lugar da Igreja de supervisionar o bem-estar da sociedade. É neste contexto que surge o mercantilismo, considerada por alguns estudiosos como a primeira escola econômica, apesar de não representar um conjunto teórico e técnico homogêneo e sistematizado. No entanto, o mercantilismo já apresenta algumas preocupações explícitas com acumulação de riquezas de uma nação. Para os mercantilistas, o governo de um país seria mais forte e poderoso quanto mais rico ele fosse e esta riqueza seria tanto maior quanto fosse o seu estoque de metais preciosos (ouro e prata). No sentido de garantir um aumento no saldo de ouro e prata, os mercantilistas defendiam uma política de aumento das exportações, a proibição da saída de metais preciosos e redução significativa, senão a proibição da entrada de mercadorias estrangeiras em seu país. Para desenvolver a industrialização interna, exportar mais e reduzir as importações ao mínimo possível, os mercantilistas defendiam uma política intervencionista na indústria e o protecionismo alfandegário, efetivamente implantados em alguns países. Há também um controle e proteção das atividades de comércio internacional, já que o comércio e as navegações eram as principais fontes de riqueza nacional neste período. Assim, os mercantilistas eram entusiastas da ampla intervenção do Estado nos negócios privados e da imposição de barreiras ao comércio internacional como forma de promover um saldo comercial positivo. A política colonial mercantilista também foi fundamental para o desenvolvimento da economia mundial neste período. O “pacto colonial” entre as metrópoles européias e suas respectivas colônias no além-mar foi estabelecido para elevar o saldo comercial e o fluxo de metais preciosos para as metrópoles. As colônias só poderiam consumir produtos da metrópole, só poderiam exportar para a metrópole, que controlava também o transporte das mercadorias. Os níveis de preços dos produtos a serem importados pelas colônias eram fixados pelas metrópoles em níveis os mais altos possíveis; enquanto que os produtos exportados pelas colônias tinham seus preços estabelecidos em níveis bem baixos. Isso permitiu um aumento significativo dos saldos comerciais das metrópoles e uma ampliação do fluxo de metais preciosos. Embora o mercantilismo tenha uma contribuição pouco significativa para a constituição da análise econômico-científica, foi fundamental para o surgimento do capitalismo. O mercantilismo teve uma contribuição significativa para fortalecer a economia nacional, ampliar as relações comerciais, na expansão dos mercados, para desenvolver o sistema manufatureiro, na formação dos grandes capitais que financiaram a revolução industrial e no surgimento do trabalho assalariado. Todos esses elementos foram fundamentais para a consolidação posterior do capitalismo. 4.4. A Fisiocracia As primeiras tentativas de sistematização da ciência econômica remontam ao trabalho dos fisiocratas. A fisiocracia é um movimento econômico que surgiu no século XVIII como uma reação às distorções do mercantilismo: a excessiva regulamentação e intervenção do Estado nos negócios privados e o abandono da agricultura em benefício da indústria. Sua principal preocupação era a circulação ou distribuição do produto social. A fisiocracia acredita que a economia, como o universo de Newton, é regida por leis naturais, absolutas, imutáveis e universais estabelecidas por um ente divino para a felicidade do homem. Caberia ao homem, por meio da razão, descobrir esta ordem e trabalhar no sentido de respeitar as leis que regulam a ordem natural. Sendo assim, os fenômenos econômicos deveriam fluir livremente, seguindo estas leis naturais. Portanto, os fisiocratas consideravam desnecessária e até mesmo prejudicial qualquer intervenção do Estado nas relações econômicas, pois criaria obstáculos à ordem natural, inibindo a circulação de pessoas e de bens. A função da autoridade governamental era entender esta ordem natural e servir de intermediário para que as leis da natureza pudessem ser respeitadas e cumpridas. O Estado não deve intervir na economia mais do que o necessário para assegurar a vida, a propriedade e para manter a liberdade. Um dos grandes pensadores desta corrente de pensamento, François Quesnay (1694-1774), defendeu alguns princípios que serviriam mais tarde de base para a construção da análise econômica posterior. A principal obra deste autor é O quadro econômico. Quesnay elaborou o princípio utilitarista de busca da obtenção de máxima satisfação com um mínimo de esforço, que seria desenvolvido amplamente pelos economistas da escola marginalista no século XIX. Ele é precursor também da idéia de que a busca do interesse individual numa economia competitiva originaria uma compatibilidade de interesses pessoais, levando a sociedade à harmonia e ao bem-estar coletivo. Além disso, Quesnay evidencia a interdependência entre as atividades econômicas, desenvolvendo pela primeira vez uma análise dos fluxos de rendas e de bens de uma nação, e suas variações. Os fisiocratas não acreditavam que a riqueza de um país dependia de seus estoques de metais preciosos, como defendiam os mercantilistas. Para a fisiocracia, a riqueza de uma nação dependia de sua capacidade de produção, mais especificamente no setor agrícola. A agricultura era a única atividade realmente produtiva, pois somente a atividade agrícola é capaz de gerar excedentes; portanto era a única atividade que gerava valor – só a terra tinha capacidade de multiplicar a riqueza. Os demais setores da economia, como a indústria e o comércio eram apenas desdobramentos da agricultura, pois apenas transformam e transportam bens. Dependiam, assim, dos excedentes gerados na agricultura. Portanto, era primordial para os fisiocratas o incentivo à agricultura para elevar o produto social. Os fisiocratas propunham, além da redução da intervenção estatal na economia, a eliminação das barreiras ao comércio interno e internacional, tão características do mercantilismo, uma política de promoção das exportações. Também sugeriam políticas de combate aos oligopólios (mercado controlado por poucos vendedores) e o fim das restrições às importações. -------------------------------------------------------------------------------------- [1] Existem controvérsias entre os autores da História do Pensamento Econômico sobre quem utilizou pela primeira vez o termo “economia”. Para alguns, este termo foi utilizado pela primeira vez por Xenofontes, se referindo aos princípios de gestão dos bens privados. Para outros, Aristóteles teria cunhado o termo oidosnomos em seus estudos sobre aspectos da administração privada e sobre finanças públicas. Módulo 5 - A Construção da Ciência Econômica Há um consenso entre os cientistas econômicos de que o marco inicial de uma teoria econômica sistematizada remonta à publicação da obra de Adam Smith A riqueza das nações em 1776. Até o surgimento da teoria de Smith, a economia era tratada e estudada como um ramo da Filosofia Moral, da Ética e do Direito. 5.1. Escola Clássica O pensamento econômico clássico opõe-se aos fisiocratas franceses, na medida em que preconizavam que não apenas a agricultura era produtora de excedentes e de valor, mas também a indústria criaria valor. A economia clássica é pautada pelo individualismo, liberdade pessoal, tanto econômica quanto política, e crença no comportamento racional dos agentes econômicos. Defendiam a propriedade privada, a iniciativa individual e o controle individual da empresa. Estes seriam princípios básicos capazes de harmonizar interesses individuais e coletivos e gerar o progresso social. O Estado, tal qual na teoria fisiocrata,deveria atuar somente na defesa, na justiça e na manutenção de algumas obras públicas, sem intervir significativamente na atividade econômica nem no funcionamento do mercado. Mantém-se aqui a visão de um mundo regido por leis naturais e harmônicas, que se refletia na economia, a qual deveria ser deixada livre de intervenções, a fim de chegar a um equilíbrio que proporcionaria o bem-estar de todos. O pensamento clássico surge em meio à revolução industrial, onde a economia apresenta um avanço significativo de produtividade, refletindo-se numa mudança na estrutura política e social do mundo. Há um crescimento estrondoso da urbanização, um amplo êxodo rural, a consolidação dos Estados nacionais e da democracia representativa como sistema político. A partir da contribuição dos economistas clássicos, a economia passa a formar um corpo teórico próprio e a desenvolver um instrumental de análise específico para as questões econômicas. Busca-se sobretudo encontrar leis gerais e regularidades no comportamento econômico, e o interesse primordial passa a ser a análise abstrata das relações econômicas. Não mais são priorizados os pressupostos morais e as conseqüências sociais das atividades econômicas, como antes. Os clássicos acreditam que o valor dos bens é determinado pela quantidade de trabalho neles incorporada, e assim, o elemento crucial para a determinação dos preços seria o custo de produção. A análise é centrada, portanto, na oferta. A grande preocupação destes primeiros economistas é a determinação das causas do desenvolvimento da riqueza. É preciso ter em mente que o liberalismo econômico característico da escola clássica se manteve muito mais no plano da retórica, pois na prática houve muito dirigismo estatal na sociedade capitalista desde o seu surgimento. 5.1.1. Adam Smith Adam Smith (1723-1790) é o grande precursor desta corrente de pensamento econômico, sendo considerado por muitos o “pai da economia”, já que na sua obra A riqueza das nações de 1776 ele desenvolve a teoria econômica com um corpo teórico próprio, como um conjunto científico sistematizado. Para Smith, os indivíduos, na busca da satisfação de seus próprios interesses e de maximização de seu bem-estar, acabariam contribuindo para a obtenção do máximo bem-estar da sociedade. Isto porque o indivíduo se esforça para empregar o seu capital da maneira mais vantajosa, e isto o conduziria, naturalmente, a preferir o emprego de capital mais vantajoso para a sociedade. Para promover o bem-estar o melhor caminho seria o estímulo a busca individual do próprio interesse e à concorrência. Se todos os indivíduos são assim deixados livres, haveria como que uma “mão invisível” orientando todas as decisões da economia, sem necessidade de atuação do Estado. Através da livre concorrência, a sociedade chegaria à harmonia e à maximização do bem- estar de todos. O mercado seria então o regulador das ações econômicas e traria benefícios para a coletividade independente da ação do Estado. Smith postulava que os governos são ineficazes e têm a tendência de favorecer alguns em detrimento da maioria da sociedade, portanto sua interferência no mercado tende a provocar distorções e ampliar desigualdades. Se o governo não interferir nos assuntos econômicos, a ordem natural poderia ser alcançada através do uso da razão. Seus argumentos baseavam-se na livre iniciativa e no laissez-faire. Smith acreditava que a origem da riqueza não estava na agricultura ou no acúmulo de metais preciosos, mas sim no trabalho humano produtivo. Este sim seria o elemento essencial da riqueza e gerador de valor. Sempre que uma mercadoria é vendida a um preço superior a seu custo de produção, temos geração de valor, mesmo fora da agricultura. Para Smith a divisão do trabalho e a especialização de tarefas é um elemento essencial para aumentar a habilidade pessoal, para promover o aumento de produtividade, para ampliar o desenvolvimento tecnológico e, conseqüentemente, elevar a produção. O aprofundamento da divisão do trabalho decorre da expansão das trocas e dos mercados. Assim, para promover o aumento da produtividade e da riqueza é preciso ampliar os mercados e a iniciativa privada. Smith acreditava que os lucros dos empresários, ao se converterem em maquinaria e expansão produtiva, permitiria a ampliação da divisão do trabalho e da produção, o que impulsionaria o crescimento da riqueza. Portanto, para ele a acumulação de lucros pelos empresários era algo essencial para promover o desenvolvimento da sociedade. 5.1.2. David Ricardo Este pensador clássico acreditava que o crescimento demográfico exerce um efeito negativo sobre a economia. Sua obra principal é Princípios de economia política e tributação. Segundo Ricardo (1772-1823), o aumento da população acompanharia a expansão econômica, e isto faria com que as necessidades de alimentos aumentassem. Estas necessidades só poderiam ser satisfeitas a custos mais altos. Assim, o aumento da população geraria um crescimento da demanda de alimentos, que provocaria um aumento de preços. Isto ocasionaria uma elevação dos salários industriais e uma redução da taxa média de lucro da economia. Assim, haveria uma conseqüente redução dos investimentos, com redução do emprego e da produção. Com esta análise, Ricardo mostra que o processo de desenvolvimento econômico poderia minar suas próprias bases. O problema central residia na incapacidade da agricultura de produzir alimentos baratos para o consumo dos trabalhadores, pois possuía rendimentos decrescentes. À medida que aumentava a população, a produção ampliava-se em terras cada vez piores, o que provocaria aumento de custos, aumento de salários e redução de lucros. Isto inibiria os investimentos e a produção na agricultura, o que se refletiria posteriormente em toda a economia. Defendia como possíveis soluções para tais problemas o controle da natalidade e a livre importação de alimentos para o consumo dos trabalhadores. Ricardo também desenvolveu a teoria das vantagens comparativas. Ele defendia que cada país deveria se especializar naqueles produtos que tivessem os custos comparativos mais baixos, e importar aqueles cujo custo comparativo fosse maior. Cada país deveria, assim, dedicar-se à produção que se mostra comparativamente mais lucrativa. A conseqüência disto seria que o trabalho seria distribuído com maior eficiência, a produção geral se elevaria, e promoveria-se o bem-estar geral e a harmonia de interesses dos diferentes países a nível internacional. 5.1.3. Thomas Malthus Malthus (1766-1834) coloca-se contra a visão otimista dos outros pensadores clássicos. As instituições sociais não seriam as responsáveis pelas misérias e vícios dos indivíduos, mas o próprio instinto de reprodução humana os teriam gerado. Em sua obra An essay on the principle of population, Malthus propugna que a população, quando não controlada, cresce em proporções geométricas (1,2,4,8,...) enquanto que a produção de alimentos (subsistência) quando muito cresce a taxas aritméticas (1,2,3,4,...). A conseqüência disto é que mais inevitavelmente o número de habitantes ultrapassaria a quantidade de alimentos necessária para mantê-los. Assim, o crescimento da população depende da oferta de alimentos: sempre que os salários nominais estiverem acima do salário de subsistência, haverá incentivo para o casamento e para o aumento no tamanho das famílias, provocando o aumento populacional. Malthus sugeria uma série de políticas para conter o avanço populacional como o adiamento dos casamentos, a limitação voluntária de nascimentos nas famílias. Tudo isto a fim de evitar uma crise na produção de alimentos. Malthus também reconhecia que as guerras, os vícios, a miséria e as doenças seriam obstáculos importantespara limitar o crescimento da população, e portanto deveriam ser aceitos como soluções para interromper o crescimento populacional. No entanto, é preciso destacar que Malthus não levou em conta o ritmo e o impacto do progresso tecnológico para a elevação da produtividade e do produto total da agricultura, que representam uma resposta importante para o descompasso natural entre a produção de alimentos e o crescimento populacional. Malthus também não poderia prever a revolução nas técnicas de limitação da fertilidade, que representam um passo importante para deter o avanço populacional. 5.1.4. John Stuart Mill John Stuart Mill (1806-1873) sistematizou e divulgou o corpo teórico do pensamento econômico de sua época. Ele avança na teoria ao incorporar em sua obra elementos institucionais, e ao definir de forma mais precisa as restrições, vantagens e o funcionamento de uma economia de mercado. Ele introduz nas suas análises a preocupação com a justiça social, e com as conseqüências sociais da industrialização em sua época. Sua principal obra é o livro Princípios de Economia Política. Mill percebe que o instrumental teórico deixado pelos clássicos, baseado nos pressupostos de harmonia de interesses, de ordem natural e de um mercado regulado para atender o bem-estar de todos não se confirmava na prática em sua época. Se por um lado o crescimento industrial propiciou de fato aumento da produção, do volume de comércio internacional e crescimento da acumulação de capital, por outro lado gerou a deterioração do padrão de vida da classe trabalhadora, com reduzidos salários, longas jornadas de trabalho, ausência de legislação trabalhista, péssimas condições de moradia, entre outras coisas. Para Mill era evidente que a economia capitalista, em expansão, não apresentava um sistema de distribuição de renda que funcionasse bem, e não gerava o bem-estar geral da coletividade como preconizavam os outros pensadores clássicos. Para Mill, era necessário políticas de promoção do bem- estar geral, especialmente voltadas para a classe trabalhadora. Além disso, Mill percebe que o sistema capitalista não possui uma tendência ao equilíbrio, pelo contrário, há uma tendência do sistema à instabilidade, com taxas de lucros decrescentes, queda do nível de atividade econômica e elevadas taxas de desemprego entre a população trabalhadora. Módulo 6 - A Evolução da Ciência Econômica 6.1. Os Socialistas O pensamento socialista surge em meio à revolução industrial, com suas grandes fábricas. Os trabalhadores possuíam condições precárias de trabalho e de vida, com salários de subsistência, sem direitos políticos nem sociais, em condições de miséria e abandono. Deste contexto histórico surge a necessidade de despertar a consciência da sociedade para a situação econômica das classes desfavorecidas. Os socialistas rejeitam a idéia de livre mercado e de harmonia de interesses entre as diferentes classes sociais. Não acreditam que a busca egoísta e desenfreada dos indivíduos pelos seus próprios interesses levará a sociedade à maximização de seu bem-estar. O grande teórico desta corrente de pensamento econômico é Karl Marx (1818- 1883). Tal como Stuart Mill, Marx se preocupa com as conseqüências sociais da industrialização e do desenvolvimento capitalista. O objetivo de Marx era descobrir a estrutura e o funcionamento da economia capitalista e suas leis de movimento. Seu objetivo era demonstrar que o capitalismo explorava a classe trabalhadora, e como essa exploração conduziria necessariamente à destruição desse sistema econômico. Assim como Smith e Ricardo, Marx também acreditava no trabalho como determinante do valor, e que a origem da riqueza estava no trabalho humano produtivo. A apropriação do excedente econômico produtivo era a origem da acumulação de capital e riqueza. O excedente econômico no capitalismo surge do fato do capitalista pagar ao trabalhador uma quantidade igual ao valor de sua força de trabalho (insumos necessários à subsistência e reprodução do trabalhador), mas esse pagamento equivale somente a uma parte daquilo que o trabalhador produz para o capitalista em sua jornada de trabalho. O valor das mercadorias produzidas pelos trabalhadores em um dado período de tempo é superior ao valor da força de trabalho vendida aos capitalistas que a contratam. A diferença destes valores é a chamada mais-valia – o valor que excede o valor da força de trabalho e que é apropriado pelos capitalistas. Seria esta, para Marx, a origem dos lucros, juros e aluguéis neste sistema econômico. Isto ocorre porque os trabalhadores só possuem sua força de trabalho para vender, não possuindo outra fonte de renda alternativa, sendo obrigados a aceitar as condições impostas pelos capitalistas, detentores não apenas dos meios de produção, mas também dos meios de subsistência. A propriedade privada dos meios de produção seria então a chave para compreender a exploração no capitalismo. 6.2. A Escola Neoclássica No final do século XIX fez-se necessária uma reavaliação da teoria econômica, dadas as transformações estruturais das economias das nações industrializadas. No lugar de um capitalismo concorrencial, surge um sistema econômico com forte tendência monopolista. Há uma intensa concentração de capitais, o que implicou em uma concentração de renda, e uma intenso êxodo rural, decorrentes dos processos de industrialização. Além disso, evidencia-se nesta época que a atividade econômica tende a apresentar-se cada vez menos competitiva. É o período do surgimento e consolidação dos movimentos operários e dos sindicatos, que buscam defender os interesses dos trabalhadores frente à exploração capitalista. O Estado passa a intervir significativamente no campo econômico, especialmente após a crise das bolsas de valores na década de 1930. Evidencia-se neste período que a idéia clássica de uma economia em constante equilíbrio, onde ofertas e procuras reagiriam automaticamente diante das alterações de preços não necessariamente verificadas na prática. No entanto, os economistas da escola neoclássica, apesar de avançarem significativamente na elaboração dos princípios teóricos fundamentais da Ciência Econômica, e a despeito das evidências em contrário, continuavam a reproduzir a crença cega nos mecanismos reguladores do mercado. Reafirmam a tendência do sistema ao equilíbrio pela ação das forças do mercado, e que qualquer interferência nestas forças gera custos e reduz o bem-estar social. Os pensadores da escola neoclássica propugnam suas idéias como uma reação aos movimentos socialistas, reafirmando a crença na economia de mercado e na sua capacidade auto-reguladora, mas se contrapondo à idéia clássica de que a fonte geradora de riqueza é o trabalho (teoria do valor- trabalho). Os neoclássicos combatiam também a idéia de que a renda da terra não era socialmente justa. Estes pensadores deslocam a análise econômica da determinação das causas do desenvolvimento da riqueza, para buscar a determinação da alocação dos recursos escassos entre usos alternativos, com o objetivo de maximizar a satisfação, seja de consumidores, seja de produtores. A economia passa então a trabalhar na análise das necessidades dos indivíduos, sua satisfação e a atribuição subjetiva de valor aos bens. Passa-se a privilegiar os aspectos microeconômicos, onde o indivíduo e a firma estão no centro da análise. Ao invés de considerar globalmente a economia, suas análises estão centradas nas decisões dos agentes econômicos individuais e nas condições e preços do mercado. Para os neoclássicos, o homem procura o máximo prazer, com um mínimo de esforço. Sendo assim, a base para a elaboração de seu arcabouço teórico é o desejo dos indivíduos de maximizarem sua satisfação– consumidores estariam em busca de maximizar sua utilidade (satisfação no consumo), e produtores estariam em busca de maximizar seus lucros. Partem do pressuposto de que a economia é “atomizada”, ou seja, formada por um grande número de produtores e consumidores, que isoladamente são incapazes de influenciar os preços dos produtos e as quantidades no mercado. Admitiam a existência dos monopólios, mas este seria uma exceção à regra de um mercado onde predominava a concorrência pura. A demanda passa a ser o elemento crucial para a determinação dos preços. Introduz-se a análise marginal, onde a decisão de produzir ou consumir depende do custo ou benefício proporcionado pela unidade adicional de fator de produção ou de bem a ser consumido. Assim, o valor de um bem não é determinado pela quantidade de trabalho nele incorporado, mas a determinação do valor de um bem dependeria da sua utilidade marginal (utilidade que gera a última unidade consumida). A demanda dependeria então da utilidade marginal. Assim, um produto será mais demandado e terá um preço maior quanto mais raro e útil ele for. Os custos incluem o sacrifício e a fadiga, que supõem a criação e a administração de uma empresa e a acumulação do dinheiro para constituir o capital. Os indivíduos atuam racionalmente, calculando as utilidades marginais dos diferentes bens, calculando prazer e dor, e estabelecendo um equilíbrio entre as necessidades presentes e futuras. Os principais pensadores desta escola são Alfred Marshall, William Jevons, Leon Walras, Eugene Böhm-Bawerk, Vilfredo Pareto, Francis Edgeworth, Joseph Schumpeter e Arthur Pigou. 6.3. O Pensamento Keynesiano A Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão da década de 1930 abalaram seriamente as economias dos países industrializados do mundo ocidental. Os níveis de investimento e de produção caíram vertiginosamente, gerando uma queda nos níveis de emprego sem precedentes na história, o que acabou por atingir as economias dos países de todo o mundo. A teoria econômica prevalecente na época propugnava que as distorções que porventura aparecessem no sistema seriam automaticamente corrigidas pelos mecanismos automáticos de regulação do mercado. Portanto, os economistas acreditavam que a crise econômica era passageira. No entanto, o desemprego já atingia níveis elevadíssimos e a economia não dava indicações de que a situação estaria se autocorrigindo. Era necessário identificar as causas do desemprego. E explicação estaria no mau funcionamento das instituições do mercado capitalista, o que justificaria a ampliação da intervenção do Estado na economia. Neste contexto, John Maynard Keynes publica sua Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda em 1936, rompendo com a tradição neoclássica. Keynes procurou entender os problemas de instabilidade de curto prazo e determinar as causas das flutuações econômicas. Keynes preocupava-se também com a determinação dos níveis de emprego e renda das economias industriais, e identificou uma importante inter-relação entre a renda nacional e os níveis de emprego. Segundo este pensador, um dos principais fatores responsáveis pelo nível de emprego é explicado pelo nível de produção nacional de uma economia, o qual seria determinado pela demanda agregada. Keynes vai assim refutar a teoria de um dos pensadores clássicos consagrados, Jean Baptiste Say, que acreditava que a oferta cria sua própria procura, onde o aumento da produção se transformaria em renda de trabalhadores e empresários, a qual seria gasta na compra de outras mercadorias e serviços. Para Keynes, a oferta é determinada pela demanda e não o contrário. Para Keynes, os principais determinantes da renda e do emprego são os gastos com consumo e investimento, sendo o gasto público uma importante variável componente do gasto total. Para cada nível de renda, o gasto em consumo é uma proporção dada da renda, proporção esta que cai quando a renda aumenta. O nível de consumo varia então com a renda. E a renda varia porque o investimento ou o gasto público varia. O gasto com investimento seria por sua vez determinado pela taxa de juros e pela taxa de retorno esperada sobre o custo dos novos investimentos (a que Keynes chamava eficiência marginal do capital). Keynes acaba mostrando que não existem forças de auto-ajustamento da economia, sendo necessária a intervenção governamental através de uma política de gastos públicos para garantir melhores níveis de emprego, colocando em xeque o princípio do laissez-faire, consagrado pelo pensamento econômico clássico e neoclássico. Isto porque quando os gastos com consumo e investimento são insuficientes para manter o pleno emprego, o Estado deve estar disposto a aumentar o fluxo de renda por meio de gastos financeiros. A teoria de Keynes influenciou sobremaneira a política econômica dos países capitalistas no período pós-guerra e estas políticas mostraram-se eficientes a ponto de se considerar este período os “anos dourados” do capitalismo, que se encerra com a crise do sistema monetário no início da década de 1970. 6.4. O Pensamento Econômico no período recente Após a publicação da Teoria Geral de Keynes, a teoria econômica apresentou um desenvolvimento significativo. Instituiu-se um amplo debate sobre aspectos do trabalho de Keynes, incorporando modelos matemáticos e estatísticos, que contribuíram para formalizar a ciência econômica e sistematizar ainda mais os seus conceitos. Várias correntes de pensamento surgiram então. Os monetaristas, cujo principal expoente é Milton Friedman, defendem uma mínima intervenção do Estado na economia e um amplo controle da moeda. Os fiscalistas recomendam o uso de políticas fiscais ativas e uma elevada intervenção do Estado nas atividades econômicas, e têm como principais destaques James Tobin e Paul Samuelson. Os pós-keynesianos fazem uma releitura da obra de Keynes, destacando o papel da especulação financeira no sistema capitalista, defendendo também uma maciça participação do Estado na condução da atividade econômica. Seus principais economistas são Hyman Minsky, Paul Davidson e Alessandro Vercelli. Na década de 1970 o mundo assistiu a duas graves crises no abastecimento de petróleo, além de uma crise no sistema financeiro internacional e da economia dos Estados Unidos. A teoria econômica acaba por apresentar algumas transformações importantes. Amplia-se a consciência das limitações e possibilidades de aplicação da teoria, consolidam-se as contribuições dos períodos anteriores e aprofundam-se as análises empíricas, o que permite uma aplicação prática maior. Módulo 7 - Demanda, Oferta e Equilíbrio de mercado Como vimos, a microeconomia ou teoria dos preços analisa como consumidores e empresas interagem no mercado, e como essa interação determina o preço e a quantidade de um bem específico. A microeconomia preocupa-se, então, com a formação dos preços de bens e serviços e de fatores de produção em mercados específicos, através do estudo do funcionamento da oferta e da demanda na formação do preço no mercado – da interação entre consumidores e produtores obtém-se preços e quantidades produzidas num dado mercado. Para fazer a análise do comportamento da demanda e da oferta precisamos partir de alguns pressupostos básicos que são estabelecidos pela microeconomia. Em primeiro lugar, para analisar um mercado específico, a microeconomia parte da hipótese coeteris paribus (tudo o mais permanece constante). Ao se adotar essa hipótese, pode-se estudar um mercado específico selecionando apenas as variáveis cuja influência sobre consumidores e produtores desejamos analisar neste mercado, independentemente da influência de outros fatores ou de outros mercados. Por exemplo, se queremos avaliar o efeito do preço sobre a demanda,
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