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Responsabilidade civil do Estado CONCEITOS INICIAIS: Responsabilidade contratual e extracontratual: A responsabilidade contratual ocorre quando um contrato não é executado, seja por falta de adimplemento das partes contratantes, seja pelo atraso no cumprimento das obrigações estipuladas. Já a responsabilidade extracontratual ocorre quando há lesão a um direito sem que exista anterior relação jurídica entre as partes envolvidas. A responsabilidade extracontratual pode ser subjetiva ou objetiva. Responsabilidade civil do Estado: A responsabilidade civil do Estado tem princípios próprios e compatíveis com a sua posição jurídica, por isso é mais extensa que a aplicável às pessoas privadas. Em regra, aplicamos a teoria do risco administrativo nas relações estatais. Como fundamento para a responsabilidade objetiva surgiu a teoria do risco administrativo, a qual informa que deve ser atribuída ao Estado a responsabilidade pelo risco criado por sua (é possível que o Estado afaste sua responsabilidade em casos de exclusão do nexo causal) atividade administrativa. E, se essa atividade é exercida em favor de todos, o ônus deve ser assim suportado. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa (art. 37, §6º, CF). Deve ser comprovado o nexo causal entre o dano e a conduta do agente público. Requisitos para a existência de responsabilidade: 1) Ação ou omissão administrativa. 2) Existência de dano patrimonial ou moral. 3) Nexo de causalidade entre ação ou omissão administrativa e o dano existente. Duas responsabilidades: 1) A das pessoas jurídicas de direito público: União, Estados, Distrito Federal e Municípios, aí compreendida a Administração direta, e as entidades integrantes da Administração indireta com personalidade de direito público, tais como autarquias e fundações públicas e seus delegados na prestação de serviços públicos (concessionários e permissionários) perante a vítima do dano → responsabilidade objetiva, baseada no nexo causal. 2) A do agente público causador do dano, perante a Administração ou perante o seu empregador → responsabilidade subjetiva, baseada no dolo ou na culpa (teoria da culpa provada). EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE ESTATAL: 1) Teoria da irresponsabilidade do Estado (superada no séc XIX): teoria adotada pelos Estados Absolutistas e tinha como fundamento a soberania estatal. A ideia que prevalecia era que o Estado não possuía qualquer responsabilidade pelos atos praticados por seus agentes. Essa teoria foi substituída quando o Estado Liberal, que raramente intervia nas relações entre particulares, foi substituído pelo Estado de Direito, segundo o qual deveria ser atribuído a esse, direitos e deveres comuns às pessoas jurídicas. “The king can’t do wrong” – o rei era confundido com o próprio Estado. Nunca foi adotada no Brasil! 2) Teoria da responsabilidade com culpa ou teoria civilista da culpa: a irresponsabilidade estatal fora substituída pela responsabilização em situações específicas, ou seja, no caso de atuação culposa do agente. O Estado se equipara ao particular, sendo obrigado a indenizar somente pelos danos causados aos particulares nas mesmas hipóteses em que tal obrigação existe para os indivíduos. Particular deveria provar: culpa do agente público + dano + nexo causal. 3) Teoria da responsabilidade subjetiva ou da culpa administrativa ou da culpa anônima ou da falta do serviço: o Estado também responderia pelos atos que decorressem do exercício de atos de império, e não somente por atos de gestão. O lesado não precisava identificar o agente estatal causador do dano. Era necessário, somente, comprovar o mau funcionamento do serviço público. A ausência do serviço implicaria no reconhecimento da existência de culpa, se fazia imperativo a comprovação que o fato danoso se originada do mau funcionamento do serviço. Causas omissivas. Hipóteses: Administração não prestou o serviço que deveria. Administração não prestou o serviço como deveria. Administração prestou o serviço de forma tardia. 4) Teoria da responsabilidade objetiva ou teoria do risco: a atuação do Estado envolve um risco de dano, que lhe é inerente. Ela foi reconhecida no Brasil a partir da CF 1946 e é adotada até os dias atuais. A sua caracterização fica condicionada a conduta estatal, o dano e o nexo de causalidade entre conduta e dano. Nela não se fala em culpa ou dolo. Nela, a responsabilização do Estado se dá em razão de um procedimento lícito ou ilícito capaz de produzir a lesão a outrem. Basta a relação entre um acontecimento e o efeito que produz, ou seja, o resultado. CONDUTA COMISSIVA E OMISSIVA DO ESTADO: Por meio das condutas comissivas, o Estado poderá causar um dano ao bem jurídico quando o ato for lícito ou ilícito. Nessa situação, o ato comissivo é diretamente causador do dano e a responsabilidade será objetiva, ou seja, sem a necessidade de se verificar o dolo ou culpa do agente público ofensor. A omissão do Estado não causa diretamente o dano mas pode permitir que o dano aconteça. Nesse caso, só haverá a responsabilidade do Estado se o mesmo tiver a obrigação legal de impedir a ocorrência do dano. Quando há um ato omissivo do Estado, ele responderá de forma subjetiva, sendo necessário a comprovação de culpa ou dolo da Administração Pública. Assim sendo, a responsabilidade subjetiva por ato omissivo somente se verifica diante de atos ilícitos. OBS: omissão imprópria → responsabilidade subjetiva. omissão própria → responsabilidade objetiva. Estado como garante (omissão culposa estatal) → responsabilidade objetiva. RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA: Responsabilidade subjetiva Responsabilidade objetiva 1) Conduta. 2) Nexo-causal. 3) Dano. 4) Culpa ou dolo. 1) Conduta. 2) Nexo-causal. 3) Dano. 4) Risco. Responsabilidade subjetiva: 1) Estado somente responde pelos atos lesivos de seus agentes se o particular prejudicado comprovar que houve conduta dolosa ou culposa por parte do agente público. 2) Para que a pessoa ofendida, diante de uma responsabilidade subjetiva, tenha o seu prejuízo reparado, deverá apresentar em juízo a existência da conduta do ofensor, do resultado danoso, do nexo causal entre a conduta e o resultado e a prova de dolo ou culpa do agente público ofensor. Responsabilidade objetiva: 1) O Estado responde pelos danos causados por seus agentes públicos, independentemente de dolo ou culpa. 2) Diante de uma responsabilidade objetiva, a vítima, para ter seu prejuízo reparado, deverá apresentar a existência de uma conduta, de um resultado e do vínculo entre os dois, não sendo necessária a comprovação de dolo ou culpa por parte do agente público. 3) A responsabilidade objetiva é caracterizada pela existência de um vínculo entre o acontecimento e o resultado danoso produzido por esse mesmo acontecimento. 4) A responsabilidade objetiva do Estado encontra amparo na teoria do órgão, segundo a qual o agente público não atua manifestando a sua vontade e sim a vontade da pessoa jurídica a que se encontra vinculado. 5) Atualmente, o ordenamento jurídico brasileiro adota a teoria da responsabilidade objetiva. 6) A Administração Pública pode responder civilmente pelos danos causados por seus agentes, ainda que eles estejam amparados por causa de excludente de ilicitude penal. 7) A qualidade de usuária ou não do serviço público não importa para a responsabilização objetiva. 8) Não alcança empresa pública e sociedade de economia mista exploradoras de atividade econômica (responsabilidade regida pelo direito privado). 9) Pode ser dividida em teoriado risco administrativo e teoria do risco integral. Teoria do risco administrativo e teoria do risco integral: 1) Pela teoria do risco administrativo é possível que o Estado se afaste da obrigação de indenizar em virtude das excludentes de responsabilidade: é a teoria adotada no Brasil. 2) Para a teoria do risco integral basta a existência do evento danoso e do nexo causal para que surja a obrigação de indenizar para o Estado, sem a possibilidade de que este alegue as excludentes de responsabilidade. Ex.: dano nuclear. OBS: se aplica a teoria do risco integral ao DPVAT, mas não é o Estado que figura no polo passivo e sim uma seguradora que usa o dinheiro público do DPVAT para pagamento das indenizações. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL: Estado pode se eximir da obrigação de reparar o dano pois há uma quebra do nexo de causalidade 1) Culpa exclusiva da vítima ou de um terceiro: ocorre quando a culpa do evento danoso é exclusivamente da pessoa prejudicada (ex.: um indivíduo com tendências suicidas, se joga em uma via pública, na frente de um veículo em movimento, sendo impossível de se evitar o resultado danoso) ou de um terceiro (ex.: pessoa quer matar uma pessoa e empurra ela na frente de um ônibus em movimento). O ônus da prova cabe ao Estado. 2) Culpa concorrente: ocorre quando Estado e vítima concorrem para o resultado danoso, por isso, a responsabilidade do Estado é atenuada. O ônus da prova cabe ao Estado. 3) Caso fortuito e força maior: eventos humanos e/ou da natureza, externos e alheios à vontade da Administração Pública. São eventos imprevisíveis, inesperados e de força irresistível. Impedem a existência do vínculo entre a ação do agente público e o dano causado no administrado. OBS: no entanto, se a ocorrência de caso fortuito ou força maior estiverem somadas à omissão na prestação de um serviço, o Estado será responsabilizado subjetivamente (tem que comprovar dolo ou culpa). Ex.: uma chuva forte obstruiu a entrada dos bueiros, devido à falta de manutenção dos mesmos por parte do Estado, causando enchente. Se ficar demonstrada a omissão na prestação do serviço, o Estado será obrigado a indenizar os prejuízos causados. OBS: atos de multidões, em regra, não geram responsabilidade civil do Estado. DIREITO DE REGRESSO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 1) O particular prejudicado pela conduta do agente público, no exercício de suas funções, pode ajuizar uma ação de indenização contra a pessoa jurídica a qual o agente é vinculado. OBS: não é cabível direto contra o agente público. 2) No entanto a CF garante ao poder púb o direito de regresso contra o agente causador do dano, para reaver o valor que fora ressarcido ao particular ofendido. 3) A responsabilidade do agente púb, face ação regressiva do Estado, é subjetiva. 4) O Estado somente poderá reaver os valores ressarcidos ao particular ofendido, se comprovar que o agente agiu com dolo ou culpa. Caso contrário, não haverá ação regressiva. 5) Via de regra, a ação regressiva é imprescritível, podendo ser proposta até se o vínculo do agente com a Administração já tenha sido desfeito. 6) Inaplicável denunciação à lide, porque quebra garantias da vítima, já que não pode discutir aspectos subjetivos. 7) A obrigação de ressarcir a Administração Pública transmite-se aos herdeiros do agente público até o limite da herança. 8) A ação regressiva é obrigatória: princípio da indisponibilidade do interesse público. PRAZO PRESCRICIONAL: 1) Ação do terceiro lesão em face do Estado: prescreve em 5 anos. OBS: para o CC, prescreve em 3 anos a reparação civil. STJ disse que, embora mais novo e mais benéfico, o CC é lei geral, por isso não revoga lei especial, que prevê o prazo de 5 anos. 2) O termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento da ação de indenização contra ato do Estado ocorre no momento em que constatada a lesão e os seus efeitos, conforme o princípio da actio nata. 3) Ação do Estado em face do agente público causador do dano. ilícitos civis → prescreve em 5 anos. ilícitos penais → imprescritível. dano decorrente de motivação política ou de prisão ou tortura durante o regime militar → imprescritível. improbidade administrativa → imprescritível. 4) Considerando que a ação regressiva é uma ação que tem por objetivo a recuperação, pelo Estado, dos valores pagos a título de indenização ao particular, tal ação será imprescritível, podendo ser ajuizada a qualquer tempo. RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL DO ATO LEGISLATIVO: Em regra não responde por atos decorrentes do poder de império, mas pode ser responsabilizado: 1) Quando a edição de lei inconstitucional gerar prejuízos a terceiros. 2) Edição de lei de efeito concreto (aplicada a destinatários certos) se equipara a ato administrativo. 3) Omissão legislativa. RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL DO ATO JURISDICIONAL: responsabilidade objetiva 1) Em regra, não responde, pois representa uma parcela da soberania estatal. Ato jurisdicional é recorrível e não indenizável. 2) Aplica-se unicamente à esfera penal: indenização do condenado por judicial. indenização de quem ficar por preso além do tempo fixado na sentença. indenização por condutas dolosas praticadas por juiz que cause prejuízos às partes ou a terceiros. 3) Não cabe indenização estatal por prisões temporárias ou preventivas se o réu for absolvido no final do processo. CASOS ESPECIAIS DE RESPONSABILIDADE ESTATAL: Teoria da conditio sine qua: caso de custódia do Estado 1) A custódia é a situação sem a qual o dano não ocorreria para comprovação da responsabilidade. 2) Fortuito interno = caso fortuito: decorre logicamente da custódia, sem a qual não poderia ocorrer. 3) Fortuito externo = força maior: situação absolutamente alheia à situação de custódia. 4) Exceção: haverá responsabilidade objetiva do Estado no fortuito externo em caso de suicídio do preso. em caso de situação degradante dos presídios. 5) Responsabilidade estatal por fuga de preso do presídio: responde objetivamente por danos causados pela fuga (precisa de nexo causal) extensão da custódia. Teoria da dupla garantia: STF – princípio da impessoalidade 1) Garantia da vítima de cobrar do Estado. 2) Garantia do agente que ele só pode ser cobrado pelo Estado em ação de regresso. OBS: o STJ admite a responsabilização direta do agente pela vítima, mas ela teria que abrir mão da responsabilidade objetiva estatal (posição minoritária). Responsabilidade civil estatal por má-execução da obra: 1) Quem executou foi o próprio Estado (pessoa jurídica de direito público): responsabilidade objetiva. 2) Quem executou foi um empreiteiro (pessoa jurídica de direito privado): responsabilidade civil privada (Código Civil). 3) Estado que contratou o empreiteiro: responsabilidade por omissão no dever de fiscalização do contrato. Responsabilidade pelo simples fato da obra/pelo obra em si: Sempre do Estado e sempre objetiva. RESUMÃO: 1) A responsabilidade do Estado em indenizar prejuízo de terceiro surge pelo simples fato do serviço causado por um agente público (ainda que de fato) + nexo de causalidade entre fato e dano. 2) Não é preciso que a conduta do Estado seja ilícita. 3) O particular não tem o ônus de provar o dolo ou a culpa, mas o Estado pode, na tentativa de excluir ou atenuar a responsabilidade, alegar: culpa da vítima (exclusiva ou concorrente), força maior ou caso fortuito ou fato exclusivo de terceiro. 4) Como regra, a teoria aplicada é a do risco administrativo, mas existem alguns casos em que será adotada a teoria do risco integral, não havendo a possibilidade de alegação de qualquer excludente de responsabilidade. Ele responderá independentemente de qualquer coisa. São as hipóteses de: acidentes nucleares, danos ambientais, ataquesterroristas e atos de guerras e aeronaves brasileiras. 5) O estado responde na modalidade objetiva (independe de dolo ou culpa); o que não o impede de ajuizar uma ação de regresso contra o agente causador do dano, que responderá na modalidade subjetiva (ou seja, depende da demonstração de dolo ou culpa). Responsabilidade do Estado: 1) Ato ilícito: princípio da legalidade. 2) Ato lícito: princípio da isonomia. Para ser responsabilizado por um ato lícito, o particular deve ter sofrido um dano anormal e especifico decorrente dessa atuação administrativa. O Estado, para beneficiar toda a coletividade, causou um dano anormal e especifico a alguém. Um mesmo ato pode causar efeitos diferentes a pessoas diferentes (teoria do duplo efeito do ato administrativo). OBS: risco social. O Estado pode causar o dano por: 1) Ação: dolo ou culpa. Deve haver o fato do serviço, o dano e o nexo causal. Teoria do risco administrativo. Responsabilidade objetiva. 2) Omissão: só dolo. A vítima tem o ônus de provar o dano. Teoria da culpa administrativa. Responsabilidade subjetiva. 3) Culpa administrativa: o dano resulta da falta do serviço. Se o Estado tivesse feito o serviço, não haveria dano. Ex.: enchente causada por bueiros entupidos. 4) Risco administrativo: o Estado deve responder independentemente da falta do serviço. O simples fato do dano causado pelo serviço público já enseja a indenização (mas admite algumas excludentes de responsabilidade). 5) Risco integral: o Estado responde independentemente de culpa. Não cabe nenhuma excludente de responsabilidade. Ação de reparação de danos do particular x Administração: 1) Se a Administração e o particular não entrarem em um acordo, o particular deve buscar o judiciário e acionar a pessoa jurídica responsável pelo dano. 2) O agente público está fora dessa ação e não poderá participar nem como litisconsórcio. 3) O valor da indenização deve abranger: danos emergentes (o que a vítima perdeu e gastou), lucros cessantes (o que deixou de ganhar) e danos morais, se for o caso. 4) Responsabilidade: objetiva. 5) Prescrição: 5 anos. Ação regressiva da Administração x agente público: 1) A Administração pode ajuizar ação de regresso contra o agente cuja atuação ensejou o dano, desde que comprovado o dolo ou a culpa. Para entrar com a ação, a pessoa jurídica deve comprovar que já foi condenada judicialmente a indenizar o particular. 2) O direito de regresso surge com o desembolso da Administração. 3) Conduta do agente na qualidade de agente, ainda que seja agente de fato (teoria da aparência – segurança jurídica). 4) Dano deve ser jurídico: dano a um bem protegido pelo direito, ainda que seja exclusivamente moral. Abrange danos morais e patrimoniais. 5) Nexo de causalidade: conduta que deu causa ao dano (teoria da causalidade adequada – conduta do agente, por si só, foi suficiente para causar o dano). 6) A ação de regresso transmite-se aos sucessores do agente causador do dano até o limite do patrimônio transferido. 7) Responsabilidade: subjetiva (nunca será objetiva). 8) Prescrição: imprescritível. Responsabilização das empresas estatais: 1) Se forem prestadoras de serviços públicos: responsabilidade objetiva. 2) Se forem exploradoras de atividade econômica: responsabilidade subjetiva.
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