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ATEROSCLEROSE 1.RESUMO (AMÁBILE) A aterosclerose é a doença responsável pelo maior índice de morbidade e mortalidade no mundo. A lesão aterosclerótica é a anormalidade mais comum encontrada nas artérias, decorrente inicialmente de dois processos básicos: acúmulo de colesterol e proliferação de células musculares lisas na túnica íntima o que leva à inflamação. Esse processo dará origem a uma placa fibrosa que se projeta para dentro do lúmen, modificando a túnica média, levando a uma série de complicações circulatórias decorrentes da resposta inflamatória desencadeada na parede do vaso. Assim, nesta revisão veremos o envolvimento da resposta inflamatória e do estresse oxidativo no desencadeamento e no estabelecimento da doença aterosclerótica promovido por macrófagos, uma das principais células envolvidas nesse processo, além de discutir sobre os principais marcadores bioquímicos como as citocinas, proteínas de fase aguda e moléculas de adesão. Palavras- chave: Aterosclerose; Lipoproteínas do Colesterol LDL; Receptores de LDL Oxidados; Citocinas; Macrófagos; Monócitos. 2.INTRODUÇÃO (AMÁBILE) (ETIMOLOGIA) A palavra aterosclerose deriva do grego atero, que significa caldo ou pasta, e esclerose, que corresponde a endurecimento. (CONCEITO) A aterosclerose é uma doença multifatorial, lenta, de caráter vascular crônico e progressivo resultante de uma série de respostas celulares e moleculares altamente específicas caracterizada pela inflamação crónica da túnica íntima das artérias de grande e médio calibre;. É uma inflamação que se deve basicamente, mas não se limita, à acumulação e oxidação de lipoproteínas na parede arterial e que produz um conjunto dinâmico de lesões multifocais, sendo a mais comum a placa aterosclerótica. O acúmulo de lipídeos, células inflamatórias e elementos fibrosos, que se depositam na parede das artérias, são os responsáveis pela formação de placas ou estrias gordurosas, e que geralmente ocasionam a obstrução das mesmas, esse acúmulo causa o estreitamento das artérias, prejudicando o fluxo sanguíneo. Na patogenia da doença aterosclerótica, um conjunto de fatores de risco clássicos e emergentes têm sido correlacionados. Contudo, as lipoproteínas, principalmente as lipoproteínas de baixa densidade (LDL-c) têm ocupado um papel de destaque na etiologia da doença aterosclerótica, ainda que, muitos indivíduos desenvolvem doença cardiovascular na ausência de anormalidades no perfil das lipoproteínas. Embora qualquer artéria possa ser afetada, (CONSEQUÊNCIAS) os principais alvos da doença são a aorta e as artérias coronárias e cerebrais, tendo como principais consequências o infarto do miocárdio, a isquemia cerebral e o aneurisma aórtico. Estudos têm sugerido duas fases interdependentes na evolução da doença aterosclerótica– a fase “aterosclerótica”, predomina a formação anatômica da lesão aterosclerótica sob a influência dos “fatores de risco aterogênicos” clássicos e que leva décadas para evoluir. Devido à sua história lenta e gradual, sua evolução geralmente não traz consigo manifestações clínicas dramáticas; – a fase trombótica, a influência dos “fatores de risco trombogênicos” determina a formação aguda de trombo sobre a placa aterosclerótica, fenômeno este diretamente ligado aos eventos agudos coronarianos, como infarto do miocárdio, angina instável e morte súbita. Manifestações agudas, como angina instável (AI) e o infarto agudo do miocárdio (IAM), são geralmente desencadeadas por desestabilização da placa aterosclerótica, com redução significativa e abrupta da luz do vaso devida à formação local do trombo. Sobretudo, constitui uma das principais colaboradoras para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A doença aterosclerótica é a principal representante dos processos patológicos cardiovasculares ligados ao envelhecimento, uma vez que se manifesta em indivíduos adultos, cuja incidência aumenta exponencialmente a partir dos 45 anos de idade. No entanto, alguns estudos detectaram a prevalência de placas ateroscleróticas superior a 40% nas autópsias de adultos jovens, sugerindo que o processo aterosclerótico ocorra precocemente. Além disso, Napoli et al. postulam que a aterosclerose pode iniciar na fase fetal, intra-uterina (podendo ser potencializada por hipercolesterolemia materna), progredir lentamente na adolescência e apresentar manifestações clínicas na idade adulta. Nas sociedades ocidentais, a aterosclerose é causa primária de 50% de todas as mortes relacionadas com infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Contudo, países como a Groenlândia, Islândia e Japão têm baixa prevalência de aterosclerose, principalmente entre os esquimós, sugerindo uma forte relação com o estilo de vida, dieta e composição genética dos indivíduos O conhecimento da fisiopatologia desta doença tem evoluído desde o século passado, quando, em 1970, a ideia da existência de relação direta entre lipídeos e aterosclerose dominava o pensamento médico devido a estudos experimentais e clínicos demonstrando forte relação entre hiperlipidemia e formação de ateroma. Entretanto, atualmente as evidências científicas demonstram que os mecanismos envolvidos na gênese da doença aterosclerótica são extremamente complexos e envolvem a interação de componentes genéticos, ambientais e resposta inflamatória. 3.(ETIOLOGIA) (AMÁBILE) A aterosclerose é causada pela combinação de múltiplos fatores (etiologia multifatorial e fatores de risco cardiovascular fatores genéticos, tabagismo, hipercolesterolemia, síndrome metabólica, diabetes mellitus, hipertensão, obesidade, hiper-homocisteinemia, sedentarismo. A estes acrescente-se outros fatores para os quais as evidencias costumam ser menos estritas: álcool, agentes infecciosos (especialmente Chlamydophila pneumonia), periodontite, algumas doenças inflamatórias crónicas como Doença pulmonar obstrutiva crónica, a artrite reumatoide, a doenças renais crónicas. A multiplicidade de possíveis agentes etiológicos e a longa evolução de décadas das lesões refletem-se na extrema complexidade do processo de formação patológica (patogênese). 4.ETIOPATOGENIA 4.1. LESÃO/INJÚRIA ENDOTELIAL (AMÁBILE) A lesão de células endoteliais é o pilar da hipótese da resposta à lesão. A perda endotelial decorrente de qualquer tipo de lesão — induzida experimentalmente por desnudamento mecânico, forças hemodinâmicas, deposição de imunocomplexos, irradiação ou produtos químicos — promove o espessamento da íntima; na presença de dietas ricas em lipídios, resulta na formação de ateromas típicos (Figura 1 quero dizer 9-10). No entanto, as lesões ateroscleróticas iniciais na espécie humana começam em locais intactos, mas com disjunção endotelial. A disjunção das células endoteliais apresenta aumento da permeabilidade e da adesão plaquetária, e alteração na expressão genética, sendo todos esses fatores contribuintes para o desenvolvimento da aterosclerose. Acredita-se que estímulos desencadeadores das lesões ateromatosas iniciais incluam hipertensão, hiperlipidemia, toxinas da fumaça do cigarro, homocisteínas e até mesmo agentes infecciosos. As citocinas inflamatórias (p. ex., fator de necrose tumoral [TNF]) também podem estimular a expressão gênica dos padrões proaterogênicos nas células endoteliais. Entretanto, as duas causas mais importantes de disjunção endotelial são os distúrbios hemodinâmicos e a hipercolesterolemia. 4.2. RESPOSTA INFLAMATÓRIA (KAROL) A inflamação contribui para iniciação, progressão e complicação das lesões ateroscleróticas (Figura 2 quero dizer 1). Os vasos em condições normais não se ligam às células inflamatórias. No estágio da aterogênese, no entanto, ascélulas endoteliais disfuncionais expressam moléculas de adesão que promovem adesão leucocitária; a molécula de adesão de célula vascular I (VCAM-1), em particular, liga-se a monócitos e linfócitos T. Após a adesão no endotélio, os leucócitos migram para dentro da íntima sob a influência de quimiocinas produzidas localmente. •Os monócitos diferenciam-se em macrófagos e englobam avidamente as lipoproteínas, inclusive a LDL oxidada e pequenos cristais de colesterol. Os cristais de colesterol parecem ser importantes estimuladores da inflamação através da ativação do inflamassoma e subsequente liberação de IL-1. Macrófagos ativados também produzem espécies tóxicas de oxigênio que levam à oxidação da LDL e à síntese de fatores de crescimento que estimulam a atividade proliferativa das células musculares lisas. •Os linfócitos T são recrutados para a íntima e interagem com macrófagos, contribuindo para o estado de inflamação crônica. Entretanto, não está claro se as células T respondem a antígenos específicos (p. ex., antígenos virais ou bacterianos, proteínas de choque térmico [adiante] ou constituintes da parede arterial e lipoproteínas modificadas) ou se são inespecificamente ativados pelo ambiente inflamatório local. Todavia, as células T ativadas em lesões crescentes na íntima produzem citocinas inflamatórias (p. ex., INF-a), que podem estimular macrófagos, células endoteliais e musculares lisas. • Como consequência do quadro inflamatório crônico, os leucócitos ativados e a liberação de fatores de crescimento pelas células da parede vascular promovem a proliferação das células do músculo liso e a síntese de MEC. Atualmente, está estabelecido que a aterosclerose não é uma simples e inevitável consequência degenerativa do envelhecimento, mas uma condição inflamatória que pode ser convertida em um evento clínico e agudo ocasionado pela ruptura da placa e formação de trombos. A resposta inflamatória na aterogênese é mediada através de mudanças funcionais em células endoteliais (CEs), linfócitos T, macrófagos derivados de monócitos e células dos músculo liso. A ativação destas células desencadeia a elaboração e interação de um extenso espectro de citosinas, moléculas de adesão, fatores de crescimento, acúmulo de lipídeos e proliferação de células do músculo liso. Adicionalmente, a resposta inflamatória pode ser induzida pelo estresse oxidativo, principalmente à oxidação da LDL-c. Estas interações resultam em expressão e seleção de vários mediadores potenciais da formação de lesão vascular, tais como fatores de crescimento de endotélio vascular (VEGF), o fator de crescimento de fibroblastos (FGF), a interleucina1 (IL-1) e os fatores de transformação -α e -β (TGF-α, TGF-β). A IL-1, e os TGF-α e TGF-β podem inibir a proliferação endotelial e induzir a expressão genética secundária pelo endotélio de fatores de crescimento, como o fator de crescimento derivado de plaquetas (FCDP) e outros mediadores potenciais da formação de lesão vascular. O TGF-β também induz a síntese de tecido conjuntivo pelo endotélio. Além disso, as células endoteliais produzem fatores estimulantes de colônias de macrófagos (M-CSF), fatores estimulantes de colônias de macrófagos-granulócitos (GM-CSF) e LDL-ox, que são mitogênicos e fatores ativadores dos macrófagos adjacentes. As células endoteliais também fornecem fatores quimiotáxicos potentes que afetam a quimiotaxia dos leucócitos, incluindo a LDL-ox e a proteína-1 quimiotáxica dos monócitos (MCP-1), além de modular o tônus vasomotor através da formação de óxido nítrico (ON), prostaciclina (PGI2) e endotelinas. 4.3. FORMAÇÃO DA PLACA ATEROSCLERÓTICA (KAROL) As principais características dessas lesões são espessamento da íntima e acúmulo de lipídios. As placas ateromatosas são lesões elevadas branco-amareladas, com diâmetro variando de 0,3- 1,5 cm, que podem coalescer e formar massas maiores. O trombo sobreposto sobre uma placa ulcerada apresenta coloração vermelho-acastanhada. As placas ateroscleróticas são irregulares, geralmente envolvem apenas uma parte de determinada parede arterial; no corte transversal, portanto, parecem ser “excêntricas”.A localização das placas pode estar relacionada com a variabilidade hemodinâmica vascular. Desequilíbrios do fluxo local, como turbulência em pontos de ramificação, favorecem a formação de placas em determinadas partes da parede do vaso. Em ordem decrescente, os vasos mais extensamente acometidos são a aorta abdominal infrarrenal, as artérias coronárias, poplíteas, carótidas internas e os vasos do círculo de Willis. Em um mesmo paciente, a aterosclerose é frequentemente mais grave na aorta abdominal do que na torácica. Vasos das extremidades superiores em geral são poupados, assim como as artérias mesentéricas e renais, exceto nos seus óstios. No entanto, em um caso individual, a intensidade da aterosclerose em uma artéria não prevê a sua intensidade em outra. Além disso, em qualquer vaso, as lesões, muitas vezes, podem coexistir em diferentes estágios. As placas ateroscleróticas apresentam três componentes principais: (1) células, incluindo as células musculares lisas, macrófagos e células T; (2) matriz extracelular, incluindo colágeno, fibras elásticas, proteoglicanos; (3) lipídios intra e extracelulares. A proporção e a configuração de cada componente variam de lesão a lesão. Mais comumente, as placas possuem cápsula fibrosa superficial composta por células musculares lisas (CML) e colágeno relativamente denso. O local de interação da cápsula com a parede do vaso (o “ombro”) é mais celularizado e contém macrófagos, células T e células musculares lisas. Profundamente à cápsula fibrosa, há um centro necrótico contendo lipídios (principalmente colesterol e ésteres de colesterol), restos necróticos, macrófagos repletos de lipídios (células espumosas) e células musculares lisas, fibrina, trombo com formação variável e outras proteínas do plasma. O colesterol extracelular, frequentemente, assume a forma de agregados cristalinos, que são removidos durante O processamento tecidual de rotina, sendo caracterizados como “fendas de colesterol”. A periferia das lesões apresenta neovascularização (proliferação de pequenos vasos sanguíneos). A profundidade da placa na média pode ser atenuada e exibir fibrose secundária à perda ou atrofia muscularlisa. Os ateromas típicos contêm lipídios em abundância, mas algumas placas são compostas quase exclusivamente por células musculares lisas e tecido conjuntivo fibroso. As placas, em geral, continuam a mudar e aumentar de volume progressivamente através da degeneração e morte celular, síntese e degradação da MEC (remodelação), e organização de trombo. Acrescido a isso, os ateromas costumam sofrer calcificação (Figura 3 quero dizer 9-13). 4.3.1. CARACTERÍSTICAS MACROSCÓPICAS (KAROL) Inicialmente formam-se “faixas gordurosas” elevadas na superfície, que se coram em laranja vivo pelo Sudam IV. Posteriormente, essas faixas se avolumam tornando-se placas arredondadas, ovais ou irregulares (tipo “mapa geográfico”), salientes, moles e brancas amareladas ou rígidas, brancas e fibrosas. Ao corte, apresentam uma coleção central de material mole granular e gorduroso. Podem também ocorrer as “lesões complicadas” (hemorragia intra ateromatosa com distensão da placa ateromatosa, com consequente isquemia súbita e infarto, ulceração endotelial, com microembolia e trombogênese, calcificação e aneurismas). 4.3.2. CARACTERÍSTICAS MICROSCÓPICAS (KAROL) Geitz et al. (1969) demonstraram que as células musculares lisas (leiomiócitos) da túnica íntima são capazes de sintetizar colágeno e fibras elásticas (como os fibroblastos) e de fagocitar lípides de ateroma (como os macrófagos), razão pela qual as chamou de “células mioíntimas ou mesenquimaispotenciais”. Inicialmente ocorre acúmulo progressivo de lípides nas células mioíntimas (então chamadas “lipófagos” ou “células esponjosas”) e ao longo das fibras elásticas da limitante elástica interna. Posteriormente ocorre fibroplasia (talvez devido á necrose das células carregadas de lípides, que liberam radicais ácidos) com o envolvimento da massa gordurosa e das células esponjosas por uma capa conjuntiva vascularizada, onde se observam por vezes grânulos de hemossiderina e deposição progressiva de cálcio (grânulos basófilos). Os grandes ateromas destroem as limitantes elásticas internas, com infiltração e compressão ateromatosa nas camadas médias que se hipertrofiam (perda de fibras elásticas e musculares e fibrose). Nas adventícias ocorrem fibrosamento e infiltração linfocitária. (SLIDE) Características Macroscópicas = os vasos afetados apresentam-se espessos, firmes e de coloração branco amarelada. Características Microscópicas = o citoplasma das fibras musculares lisas apresenta gotículas de lipídeos e há presença de grande quantidade de macrófagos nas camadas íntima e média da parede vascular. 5.SINTOMAS (VICTOR)) 5.1. CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS DA ATEROSCLEROSE As grandes artérias elásticas (p. ex., aorta, carótida e artérias ilíacas) e as médias e grandes artérias musculares (p. ex., coronárias, artérias renais e poplíteas) são os vasos mais comumente afetados por aterosclerose. Consequentemente, é mais provável que a aterosclerose apresente sinais e sintomas relacionados com a isquemia no coração, cérebro, rins e membros inferiores. Infarto do miocárdio (ataque cardíaco), acidente vascular cerebral (AVC), aneurismas da aorta e doença vascular periférica (gangrena das extremidades) são as principais consequências clínicas da aterosclerose. Os resultados dos principais aspectos fisiopatológicos dependem do tamanho dos vasos acometidos, do tamanho e estabilidade das placas e do grau de oclusão na parede dos vasos (figura 4 quero dizer 9-14) • A oclusão dos pequenos vasos pode comprometer a perfusão dos tecidos. • A ruptura da placa aterosclerótica libera restos celulares, que podem evoluir para um quadro de trombose vascular aguda (muitas vezes catastrófico) ou de embolização distal (por destaque do trombo). • A destruição da parede vascular subjacente pode levar à formação de aneurismas, com ruptura secundária e/ou trombose. 6.EPIDEMIOLOGIA (VICTOR) A aterosclerose é uma doença praticamente onipresente entre as nações mais desenvolvidas, sendo menos prevalente nas Américas Central e do Sul, África e partes da Ásia. A taxa de mortalidade para a DIC nos Estados Unidos está entre as mais altas do mundo, aproximadamente cinco vezes superior à do Japão. Todavia, a DIC está aumentando no Japão; atualmente, é a segunda principal causa de morte no país. Além disso, emigrantes japoneses que vão para os Estados Unidos e adotam o estilo de vida americano e seus costumes alimentares adquirem o mesmo risco para a aterosclerose que a população nativa, enfatizando a importância do papel etiológico dos fatores ambientais. A prevalência e a severidade da aterosclerose e da DIC foram correlacionadas com numerosos fatores de risco em diversas análises prospectivas (p. ex., Framingham Heart Study), alguns fatores constitucionais (e, portanto, menos controláveis) e outros adquiridos ou relacionados a comportamentos modificáveis. Esses fatores de risco têm efeitos multiplicativos significativos. Dessa forma, a presença de dois fatores de risco aumenta a chance de infarto do miocárdio em quatro vezes, e de três (p. ex., hiperlipidemia, hipertensão e tabagismo), a taxa aumenta em sete vezes. 6.1. FATORES DE RISCO (VICTOR) 6.1.1. CONSTITUCIONAIS •. Genéticos. Os antecedentes familiares são o principal fator de risco independente para aterosclerose. Determinados distúrbios mendelianos são fortemente associados à aterosclerose (p. ex., hipercolesterolemia familial), mas esses representam apenas uma pequena porcentagem dos casos. O maior risco associado aos antecedentes familiares está relacionado com as características poligênicas, altamente vinculadas à aterosclerose, como hipertensão e diabetes, bem como outros polimorfismos genéticos. • Idade. As lesões da aterosclerose geralmente permanecem clinicamente silenciosas até que o indivíduo alcance a meia idade ou mais tarde. Logo, a incidência de infarto do miocárdio aumenta cinco vezes entre as idades de 40-60 anos. A taxa de mortalidade para a DIC se eleva sucessivamente a cada década. • Gênero. Ao se igualar aos outros fatores de risco, as mulheres no período de pré-menopausa são relativamente protegidas contra a aterosclerose (e suas consequências) quando comparadas a homens de mesma faixa etária. Desse modo, o infarto do miocárdio e outras complicações da aterosclerose são incomuns em mulheres em pré-menopausa na ausência de outros fatores predisponentes como diabetes, hiperlipidemia ou hipertensão severa. Após a menopausa, contudo, a incidência de doenças relacionadas à aterosclerose aumenta e, com o avanço da idade, o risco do infarto é maior do que em homens. Embora o efeito protetor do estrógeno tenha sido proposto para explicar as diferenças sexuais, estudos clínicos falharam em demonstrar qualquer benefício da terapia hormonal para a prevenção da doença vascular. Na verdade, a reposição hormonal do estrógeno pós-menopausa parece aumentar o risco de doença cardiovascular. Além da aterosclerose, o gênero também afeta alguns fatores que podem influenciar as consequências da DCI, como hemostasia, cura do infarto do miocárdio e remodelação do miocárdio. 6.1.2. MODIFICAVÉIS • Hiperlipidemia — e, mais especificamente, hipercolesterolemia — é o fator de risco essencial para o desenvolvimento da aterosclerose e é suficiente para induzir lesões na ausência de outros fatores de risco. O principal componente do colesterol associado ao aumento do risco é o colesterol com lipoproteína de baixa densidade (LDL) (“mau colesterol”); a LDL é a forma de colesterol distribuída nos tecidos periféricos. Contrariamente, a lipoproteína de alta densidade (HDL) (“bom colesterol”) mobiliza as placas de colesterol em desenvolvimento e transporta ao fígado para a excreção biliar. Consequentemente, os maiores níveis de HDL estão correlacionados com menores riscos de aterosclerose. O conhecimento de tais relacionamentos estimulou o desenvolvimento de abordagens dietéticas e farmacológicas que reduzem o colesterol sérico total ou LDL e/ou levantam a HDL sérica, conforme a seguir: O alto consumo de colesterol e gorduras saturadas na dieta (presentes na gema do ovo, gordura animal e manteiga, por exemplo) eleva os níveis plasmáticos de colesterol. Inversamente, a dieta com baixo teor de colesterol e/ou com proporções mais elevadas de gorduras poli-insaturadas reduzem os níveis plasmáticos de colesterol. Os ácidos graxos ômega-3 (abundantes em óleos de peixe) são benéficos, enquanto as gorduras insaturadas (trans) produzidas por hidrogenação artificial de óleos poli-insaturados (utilizados em produtos de panificação e na margarina) afetam adversamente os perfis de colesterol. O exercício e o consumo moderado de etanol elevam os níveis de HDL, ao passo que a obesidade e o tabagismo os reduzem. As estatinas são uma classe de medicamentos largamente utilizados que reduzem os níveis de colesterol circulantes por inibirem a hidroximetilglutaril coenzima A (HMGCoA) redutase, a enzima limitante da biossíntese hepática do colesterol. • A hipertensão é outro fator de risco importante para o desenvolvimento da aterosclerose. Por si mesma, a hipertensão aumenta em aproximadamente 60% o risco de DCI. A hipertensão também é a principal causade hipertrofia ventricular esquerda (HVE), que contribui para a isquemia do miocárdio. • O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido em homens, e provavelmente contribui para o aumento da incidência e severidade da aterosclerose em mulheres. O tabagismo prolongado (anos) de um maço ou mais de cigarro por dia duplica a taxa de mortalidade relacionada com a DIC, enquanto a interrupção do hábito reduz o seu risco. • O diabetes melito está associado à elevação dos níveis circulantes de colesterol e aumenta significativamente o risco da aterosclerose. Permanecendo outros fatores constantes, a incidência do infarto do miocárdio é duas vezes maior em pacientes diabéticos do que em não portadores da doença. Adicionalmente, essa patologia está relacionada com o risco elevado de acidente vascular cerebral e com o aumento de 100 vezes na chance de os membros inferiores sofrerem gangrena induzida por aterosclerose. 6.1.3. ADICIONAIS Aproximadamente 20% dos eventos vasculares ocorrem na ausência de fatores de risco identificáveis. Por exemplo, em mulheres previamente saudáveis, mais de 75% dos eventos cardiovasculares ocorrem naquelas com níveis de LDL inferiores a 160 mg/dl (um valor de corte considerado de baixo risco). Outros fatores de risco que contribuem são descritos a seguir: • Inflamação. As células inflamatórias estão presentes em todas as etapas da formação da placa de ateroma e são intimamente relacionadas com a progressão e a ruptura da placa (discussão adiante). Com o melhor reconhecimento da participação da inflamação nesse processo, a avaliação da inflamação sistêmica tornou-se importante na estratificação do risco global. Embora vários marcadores da inflamação sistêmica se correlacionem com o risco de DCI, a proteína C reativa (PCR) emergiu como um dos mais simples e mais sensíveis. • Níveis de PCR. A PCR é um membro da família da pentraxina, sintetizada na fase aguda, principalmente pelo fígado, em resposta a uma variedade de citocinas inflamatórias. Localmente, a PCR é secretada por células dentro das placas ateroscleróticas, podendo ativar as células endoteliais, aumentando a sua adesividade e induzindo um estado protrombótico. Sua importância clínica está no seu valor como biomarcador circulante: os níveis de PCR predizem forte e independentemente o risco de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, doença arterial oclusiva periférica, morte cardíaca súbita, mesmo entre indivíduos aparentemente saudáveis. Embora não haja evidências diretas de que a diminuição da PCR diminui o risco de doença cardiovascular, é importante notar que a PCR é reduzida pelo abandono do tabagismo, perda de peso e exercício físico. Ademais, as estatinas reduzem os níveis de PCR independentemente dos seus efeitos redutores sobre a LDL-colesterol, sugerindo a ação anti- inflamatória desse agente. • Hiper-homocisteinemia. Níveis séricos de homocisteína foram correlacionados com aterosclerose coronariana, doença vascular periférica, acidente vascular cerebral e trombose venosa. A homocistinúria causada por erros inatos raros do metabolismo eleva a circulação de homocisteína (superior a 100 mmol/L) e está associada ao aparecimento precoce de doença vascular. Os níveis elevados de homocisteína podem ser causados pelo baixo consumo de folato e vitamina B12, no entanto, a ingestão suplementar dessas vitaminas não afeta a incidência de doença cardiovascular. • Síndrome metabólica. A síndrome metabólica está associada à obesidade central, entidade clínica caracterizada por resistência à insulina, à hipertensão, à dislipidemia (LDL elevada e HDL reduzida), à hipercoagulabilidade, e ao estado inflamatório, que pode ser desencadeada por liberação de citocinas dos adipócitos. A dislipidemia, a hiperglicemia e a hipertensão são fatores de risco para doenças cardíacas; por outro lado, a hipercoagulabilidade sistêmica e o estado pró- inflamatório podem contribuir para a disfunção endotelial e/ou trombose. • Níveis de lipoproteína (a). A lipoproteína (a) é uma partícula semelhante à LDL que contém apolipoproteína B-100 ligada à apolipoproteína A. Os níveis de lipoproteína (a) estão correlacionados com o risco de doenças coronarianas e cerebrovasculares, independentemente dos níveis de colesterol total ou LDL. •Os níveis elevados de pró-coagulantes são potentes preditores de risco para os principais eventos cardiovasculares. A ativação excessiva da trombina, a qual inicia o processo inflamatório através da clivagem dos receptores ativados por protease (PARs) em leucócitos, endotélio e outras células, pode ser particularmente aterogênica. • Outros fatores associados à dificuldade de quantificar os riscos incluem a falta de exercício físico e o estilo de vida estressante e competitivo (“personalidade tipo A”). 7. PREVENÇÃO E TRATAMENTO (HENRIQUE) Intervenções preventivas são de grande valia para que aterosclerose não venha a ocorrer, como mudanças em hábitos alimentares (diminuir o consumo de lipídios na dieta), ou parar com o tabagismo, pois suas toxinas atuam na disfunção endotelial. Medidas preventivas associadas a diabetes e hipertensão também se aplicam, assim como outras síndromes metabólicas, como dislipidemia (LDL elevada e HDL reduzida), e, inclusive, o estado inflamatório, pois determinadas citocinas liberadas no processo, por vezes, a depender de seus níveis (geralmente elevados), também favorecem a disfunção endotelial. De maneira mais específica, o monitoramento dos níveis de PCR, os níveis séricos de homocisteína, de lipoproteínas, e pró- coagulantes também auxiliam na prevenção da aterosclerose, de modo que, quando elevados, favorecem a sua ocorrência. E de maneira semelhante, algumas das medidas tomadas na prevenção contribuem e correlacionam para o tratamento, como o devido controle nos lipídios da dieta, sendo que alguns podem ser benéficos para o organismo, como o caso de colesterol e gorduras saturadas na dieta, (estes encontrados na gema do ovo, gordura animal ou manteiga), que agem aumentando os níveis plasmáticos de colesterol, ou os ácidos graxos ômega-3, que são abundantes em óleos de peixe. A prática de exercícios também pode ser um fator tanto de prevenção quando de certa forma, a depender do grau, de tratamento, pois eleva os níveis de HDL - colesterol, este que é essencial para a mobilização das placas de colesterol em desenvolvimento para o fígado onde ocorrerá sua excreção biliar. Quanto a medicamentos, as estatinas são uma classe largamente utilizadas na redução dos níveis de colesterol circulantes por meio da inibição da enzima hidroximetilglutaril coenzima A (HMG-CoA) redutase, que limita a biossíntese hepática do colesterol. Um exemplo de fármaco pertencente a essa classe é a rosuvastatina cálcica, que reduz os níveis de colesterol total, LDL – colesterol, e triglicerídeos elevados; aumenta o HDL – colesterol em pacientes com hipercolesterolemia primária (familiar heterozigótica e não familiar) e dislipidemia mista (níveis elevados ou anormais de lipídios no sangue); também é utilizada no tratamento da hipertrigliceridemia isolada, e reduz o LDL – colesterol em pacientes com hipercolesterolemia familiar homozigótica. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS (HENRIQUE) A aterosclerose é uma lesão na camada íntima composta por cápsula fibrosa e núcleo ateromatoso (literalmente, “semelhante a mingau”), que deixou de ser vista como uma doença de lipídeos para ser estudada como um processo dinâmico e progressivo oriundo da disfunção endotelial e de inflamação. Múltiplas interações entre plaquetas, linfócitos T, macrófagos, células do músculo liso, moléculas de adesão e componentes genéticos têm sido documentadas e provavelmente promovam o ambiente deinflamação e crescimento necessários para provocar injúria endotelial. Este processo é propagado pelo aumento de transporte por transcitose da LDL para a camada íntima, verificando-se o acúmulo dessas lipoproteínas, tanto na forma nativa quanto na oxidada, iniciando a formação da placa de ateroma. As placas ateroscleróticas se desenvolvem e crescem lentamente durante décadas, sendo que as placas estáveis podem pro- duzir sintomas relacionados com a isquemia crônica por estreitamento dos vasos, enquanto placas instáveis podem causar complicações isquêmicas drásticas e potencialmente fatais relacionadas com ruptura aguda da placa, trombose ou embolização. As evidências científicas sugerem que a disfunção endotelial ocorre bem antes das manifestações clínicas das alterações vasculares estruturais, provocadas pela aterosclerose e que a avaliação clínica da disfunção endotelial pode servir como preditor de eventos cardiovasculares, sendo um marcador da atividade da doença aterosclerótica. Portanto, o entendimento da biologia básica da inflamação na aterosclerose proporcionaria um melhor suporte clínico que poderia alterar o caminho da prática da medicina preventiva e propiciar benefícios para a saúde pública. (SLIDE) CURIOSIDADE É uma patologia vascular de maior importância em humanos, sendo responsável pelos infartos do miocárdio e cerebral. Raramente causa distúrbios circulatórios nos animais e somente o suíno, o coelho e as aves são susceptíveis. Por isso, os animais dessas espécies são utilizados experimentalmente para pesquisas de patogênese e da terapia adequada para pacientes humanos portadores de aterosclerose. Nesses animais, a doença é produzida experimentalmente, através da administração de dietas ricas em colesterol. Os suínos e as aves com idade avançada também podem apresentar o problema espontaneamente. 9.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (HENRIQUE) KUMAR, V.; ABBAS, A. Robbins - Patologia Básica. 9ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p. 335-342. Endotélio e aterosclerose Luciana Bahia1 , Luis Guilherme Kraemer Aguiar1 , Nivaldo Ribeiro Villela2 , Daniel Bottino3 , Eliete Bouskela4 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Fisiopatologia e aspectos inflamatórios da aterosclerose Physiopathology and inflammatory aspects of atherosclerosis MARIA G.V. GOTTLIEB GISLAINE BONARDI EMÍLO H. MORIGUCHI. Scientia Medica, Porto Alegre: PUCRS, v. 15, n. 3, jul./set. 2005 Aterosclerose, uma resposta inflamatória Atherosclerosis, an inflammatory response Camila R. Corrêa-Camacho1 ; Luciane A. Dias-Melicio2 ; Ângela M.V.C. Soares2 1 Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina*; 2 Departamento de Microbiologia e Imunologia, Instituto de Biociências* *UNESP Botucatu/SP
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