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5 Manejo e alimentação na fase de recria em bovinos de corte

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Manejo e alimentação na fase de recria em bovinos de corte
Regis Luis Missio[1: Professor do Curso de Agronomia da UTFPR-Pato Branco.]
A desmama tem por finalidade beneficiar a vaca, sem prejudicar o desenvolvimento do bezerro. No acasalamento de primavera/verão, os bezerros são normalmente desmamados aos 6-8 meses de idade, momento em que já são ruminantes funcionais e o leite tem pouca participação na dieta. Nesse caso, a desmama normalmente ocorre entre abril e maio, período em que as pastagens naturais reduzem crescimento e qualidade. Nessa situação, as opções nutricionais para recria dos terneiros devem basear-se na suplementação com volumoso e concentrado em pastagem natural/naturalizada durante o período de vazio forrageiro que ocorre no período de outono no sul do Brasil e, no período do inverno as estratégias de manejo nutricional são as pastagens cultivadas de inverno, as pastagens nativas melhoradas com sobressemeadura de espécies cultivadas de inverno, suplementação em pastagens nativas melhoradas ou cultivadas. No acasalamento de outono/inverno, o desmame tradicional ocorre normalmente nos meses de setembro e outubro, período de retomada no crescimento das pastagens naturais na região sul, sendo as estratégias de manejo nutricional no período de pós desmame se referem à utilização das pastagens naturais, ajuste de carga animal, correção e fertilização das pastagens naturais, suplementação e pastagens cultivadas de verão, dependendo dos objetivos do sistema de produção. 
A desmama consiste na separação definitiva entre o bezerro e a vaca e representa uma fase de estresse nutricional e emocional para o bezerro. A diminuição do estresse emocional na desmama pode ser realizada pela utilização do “amadrinhamento”, em que animais adultos acompanham os bezerros por período determinado. A separação do par vaca bezerro é normalmente feita de modo a impedir a visualização entre ambos, bem como a audição de suas vocalizações. Nos primeiros dias após a separação, deve-se evitar distúrbios aos recém desmamados, evitando o transporte e a comercialização. Os piquetes dos bezerros devem ser protegidos contra ventos e providos de sombra, reduzindo estresse climático adicional. 
Na Região sul onde em geral o rebanho é mantido em áreas marginais com condições de solo impróprios para a agricultura (pedregosos, declivosos, encharcaveis, etc), com pastagens com limitações quanti/qualitativas, em geral as vacas sofrem restrição alimentar, onde o desmame precoce é uma excelente ferramenta para melhorar o índice produtivo do rebanho de cria, possibilitando aumentos da taxa de natalidade/desmame em função da melhoria da condição corporal das vacas, fato muito importante em primíparas. A desmama antecipada resolve o problema da vaca e cria outro que á a alimentação dos terneiros desmamados, o que pode ser facilmente resolvido pela utilização de pastagens cultivadas de verão, suplementação com volumosos e concentrados em pastagens naturais durante o período de outono, utilização de pastagens naturais sobressemeadas com espécies cultivadas de inverno mais adubação, pastagens cultivadas de inverno e a associação destas com suplementação.
O desaleitamento precoce, realizado aos 90-120 dias de idade, tem por objetivo beneficiar vacas com baixa condição corporal, beneficiando a retomada da condição corporal e a manifestação do estro dentro da estação de monta. Para que o desenvolvimento dos bezerros não seja prejudicado, o peso a desmama não deve ser inferior a 80-90 kg e a suplementação é um pré-requisito básico. Nesse caso, na primeira semana após desmama os bezerros são mantidos no curral de manejo com água e sombra de qualidade, com fornecimento de suplemento peletizado e forragem verde. Após são conduzidos para pastos de qualidade, de porte médio, alta relação folha colmo, com sombra e água a vontade, na qual são suplementados. Nesse tipo de manejo os cuidados sanitários devem ser redobrados em função da reduzida idade e pela incidência de diarreias. Para tanto, condições higiênico sanitárias devem ser mantidas, retirando bezerros doentes e tratando-os em separado. Em função dos vários fatores determinantes da diarreia um médico veterinário deve ser consultado para um tratamento eficaz. Em bezerros provenientes da estação de monta de primavera, o desmame precoce só deve ser realizado nas vacas com baixa condição corporal, o que normalmente ocorre naquelas que emprenharam no final da estação de monta. Sendo assim, normalmente têm-se três lotes de bezerros desmamados numa estação de monta de três meses (ponta, meio e cola). Na estação de monta de outono/inverno, em função das novilhas permanecerem em lactação durante o inverno, o desmame precoce é mais utilizado em condições de limitações nutricional. Todavia, nesse caso pode-se optar pelo desmame convencional, desde que se utilizem ferramentas de manejo como a suplementação, pastagens cultivadas de inverno ou melhoramento do campo nativo para que a repetição de cria das novilhas, bem como o desenvolvimento dos bezerros não seja comprometido.
A desmama interrompida é uma ferramenta de manejo utilizada para induzir a manifestação do estro em vacas com moderada condição corporal dentro da estação de monta, aumentando a taxa de prenhez. Nesse manejo os bezerros são separados das vacas por 48-72 horas após 40 dias após o parto, permanecendo em piquetes recebendo água e forragem de qualidade. Não ocorre prejuízo no desenvolvimento até o desmame. A redução do estresse pode ser reduzida pela utilização de piquete contíguo ao das vacas ou pela utilização da tabuleta, embora tais aspectos reduzam a manifestação do estro. Essa técnica torna-se pouco viável para grandes rebanhos. 
A desmama controlada é outra alternativa de manejo, que consiste em permitir que o bezerro passe um curto período com a mãe durante o dia a partir do 30a do nascimento, o que possibilita sua adaptação para a desmama definitiva e a recuperação da condição corporal da vaca e a manifestação do estro dentro da estação de monta. Nesse caso, os bezerros ficam em piquetes separados e são agrupados com as vacas duas horas pela manhã e duas horas pela tarde, em que recebem suplementação nos piquetes, muito utilizada nos sistemas vaca de leite bezerro de corte.
No desmame, os bezerros devem ser pesados, e divididos em lotes segundo a classe sexual. Se necessário devem ser divididos segundo a idade ou desenvolvimento corporal de modo a favorecer a nutrição dos animais mais leves. O período que segue é denominado de recria que se estende do desmame até o início da terminação nos machos e, reprodução nas fêmeas. A recria é um momento de ganho de peso eficiente em função do crescimento ser principalmente o muscular e os animais apresentarem baixas exigências de manutenção devido ao baixo peso corporal. Restrições alimentares, tanto no pré como no pós desmame podem comprometer o desenvolvimento corporal dos animais. Tal fato depende da idade, da intensidade e da duração da restrição alimentar. A restrição alimentar severa por período prolongado em idade jovem compromete o peso futuro do bezerro, o que determina que essa seja um efeito ambiental permanente. 
Os principais manejos no período da recria estão relacionados com a nutrição e sanidade. A nutrição nessa fase deve atender os objetivos do sistema de produção, priorizando a redução do período de recria em função da maior eficiência alimentar, o que resulta em ganhos econômicos, resultado da redução da idade ao abate e ao primeiro entoure. Na recria, o objetivo para as fêmeas é que essas atinjam peso corporal e escore corporal para o primeiro entoure, o que representa que as fêmeas de raças de origem leiteira, taurinas e zebuínas devam apresentar, respectivamente, 55, 60 e 65% do peso adulto e ECC maior que 3,5. Nos machos, o objetivo que estes ganhem em torno de 170 kg de peso vivo. Assim, o manejo nutricional, considerando adequada sanidade, determinará a duração do período de recria. Em sistemas intensivos, onde a prioridade é o abate de animaisaos 12-14 meses, o manejo nutricional deve ser fundamentado na utilização do creep feeding no pré desmame, pastagens cultivadas no inverno e verão, incluindo suplementação com concentrados em níveis que beneficiem o ganho individual (0,7-1,2% do peso vivo) e confinamento na fase de terminação. Para o primeiro entoure aos 18 meses, a suplementação em pastagens cultivadas no inverno, o manejo da carga animal em campo nativo melhorado + suplementação mineral, no verão, são suficientes. Para sistemas que visam a terminação e o primeiro entoure aos 24 meses, a utilização de pastagens cultivadas de inverno + níveis de suplementação que beneficiam o ganho por área no inverno para fêmeas (0,2-0,7% do peso vivo) e o manejo da lotação em campo nativo no verão + suplementação no período outonal são suficientes para o atendimento das metas. Em sistemas que objetivam o abate e o entoure aos 36 meses o manejo em campo nativo + suplementação mineral no verão e suplemento proteinado no inverno, são suficientes para o atendimento das metas. 
Quanto ao tratamento preventivo de doenças, em bezerros, esse deve ser feito por meio de vacinações e o controle de ecto e endoparasitos, seguindo um rígido manejo sanitário. As principais vacinações se referem à febre aftosa (seguir as recomendações dos órgãos estaduais), brucelose (vacinação das fêmeas entre 3 e 8 meses de idade, em única dose, a marcação a fogo no lado esquerdo da cara com um “v” seguido do último dígito do ano), raiva (machos e fêmeas aos quatro meses de idade em regiões endêmicas, reforço após 40 dias, revacinação anual). O controle do carbúnculo sintomático (manqueira) e enterotoxemias pode ser realizado junto com a vacinação da brucelose, em todos os bezerros de 4 a 6 meses de idade, com vacina polivalente, repetindo a dose 6 meses após, revacinação anual. Em áreas onde ocorre o botulismo, os bezerros devem ser vacinados (toxóides C e D) aos quatro meses, repetindo a dose após 40 dias, e revacinados anualmente. O controle de verminose deve iniciar ao desmame até os 2 anos de idade, priorizando o controle estratégico ao final do outono e inverno. O controle de ectoparasitas pode ser realizado pelo controle tático, quando os animais apresentarem mais de 25 teleóginas em cada lado e mais de 200 moscas do chifre, enquanto que, o controle estratégico, para a região sul, corresponde ao tratamento no final do verão/outono e inverno (maio, julho e setembro), período em que grande parte dos parasitas se encontra no animal. Em regiões endêmicas vacinar as vacas prenhas até duas semanas antes do parto contra paratifo. Outras medidas profiláticas importantes são a limpeza e desinfecção de instalações, água de qualidade, limpeza de cochos e bebedouros, vedação do piquete maternidade por 60 dias (vazio sanitário) antes de receber as vacas que irão parir.
Referências
PIRES, A.V. Bovinocultura de corte/Alexandre Vaz Pires. Piracicaba: FEALQ, 2010, v.1. 760p.
PIRES, A.V. Bovinocultura de corte/Alexandre Vaz Pires. Piracicaba: FEALQ, 2010, v.2. 705p.

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