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O Direito como sistema autopoiético na evolução jurídica gunther teubner

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Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
1 
O Direito como sistema autopoiético na evolução jurídica 
da matriz teórica de Gunther Teubner 
 
Geralda Magella de Faria
1
 
 
Resumo 
Trata-se de um estudo sobre a matriz disciplinar do Direito, porquanto sistema autopoiético, 
segundo a teoria de Gunther Teubner, notadamente, a sua evolução jurídica. Examinar a 
teoria autopoiética e compreender que é o próprio sistema que se autoconstrói a partir de seus 
próprios componentes, se propõe paradoxal, eis que, na medida do avanço tecnológico, seria 
de se esperar constantes mudanças voltadas para o novo. Na lição da autopoiese, entretanto, 
regularmente são produzidos mecanismos a serem utilizados pelo processo para 
caracterização dos sistemas vivos porquanto máquinas autopoiéticas, as quais, por meio de 
interações e transformações, regeneram-se e reproduzem-se realizando a tarefa autopoiética, 
caracterizada por seu fechamento. Não há, assim, uma mudança dita nova. Há uma 
transformação, uma autogeração que se (re)produziu no próprio modelo. Face ao fechamento 
autopoiético, rompe-se com a tradição segundo a qual a conservação e a evolução das 
espécies seriam condicionadas basicamente pelos fatores ambientais e/ou autodeterminantes, 
ou mesmo decorrente da presença de determinadas moléculas, posto que, no legado da 
autopoiese, a vida pode ser contemplada a partir de um sistema que se autoduplica através de 
um padrão de relações entre estruturas e processos metabólicos autogeradores que compõem 
uma rede organizativa cunhada com o selo autopoiético. 
 
Palavras-Chave: direito; sistema autopoiético; Gunther Teubner; evolução jurídica. 
 
Abstract 
This is a study on the disciplinary matrix of the Law since, according to the theory of 
Gunther Teubner, it is an autopoietic system, especially, its juridical evolution. Examining the 
autopoietic theory and understanding what the system itself is, which is self-constructed from 
its own components, is proposed to be paradoxical inasmuch as the technology is advancing, 
constant changes towards the new would be expected. In the lesson of the autopoiesis, 
however, mechanisms to be used by the process in order to characterize the live systems are 
regularly produced insofar as autopoietic machines are regenerated and reproduced by means 
 
1
 Procuradora federal, Mestre do Programa de Pós-Graduação em Direito Público da Universidade do Vale do 
Rio dos Sinos, professora do Curso de direito da UNESC. Endereço eletrônico: geraldamagella@gmail.com. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
2 
of interactions and transformations fulfilling the autopoietic task identified by its closure. 
Therefore, there is no such a thing as a change. There is a transformation, self-generation 
which is (re)produced in its own model. Taking the autopoietic closure into consideration, the 
tradition, according to which the preservation and evolution of the species would be basically 
conditioned by the environmental and/or self-determining factors, or those arising from the 
presence of certain molecules, is broken, although, in the legacy of the autopoiesis, life can be 
contemplated from a system that self-duplicates through a pattern of relations between self-
generating metabolic structures and processes that compose an organizational network 
stamped with the autopoietic seal. 
 
Keywords: law; autopoietic system; Gunther Teubner; juridical evolution. 
 
Introdução 
 
O objetivo deste breve estudo é realizar uma abordagem sobre a “Autopoiesis e 
Evolução Jurídica” (TEUBNER, 1989), de onde se extrai o tema e se construiu o título do 
presente, e, para tanto, elege-se o objetivo geral no sentido de analisar o direito como sistema 
autopoiético sob a perspectiva de sua evolução jurídica na matriz teórica de Gunther 
Teubner, e, como objetivos específicos principais, três aspectos, quais sejam, a um, refletir em 
torno do paradigma autopoiético, com ênfase para os seus aspectos históricos 
transformadores; a dois, examinar o direito como sistema autopoiético; e, por último, estudar 
a autopoiese e sua evolução jurídica segundo a teoria de Gunther Teubner. 
O método utilizado para esta pesquisa foi tomado a partir de revisão bibliográfica, 
dirigida a partir da teoria do sistema da autopoiese, desde uma perspectiva histórico-
sociológica-ética e sistêmica, e, sobretudo, contextualizar os principais pontos apreendidos e 
necessários ao exame da obra, objetivando examinar e compreender o sentido do Direito 
como sistema autopoiético e sua evolução jurídica na Teoria de Gunther Teubner. 
Pretende-se desta forma abordar, alguns pontos escolhidos a partir da matriz disciplinar 
do Direito, porquanto sistema autopoiético na teoria de Gunther Teubner (que está neste 
estudo também denominada, ora teoria, ora modelo, ora sistema, ora processo), procurando 
dar qualidade e emprestar reflexão ao texto, e, sobretudo, examinar o paradoxo da teoria 
autopoiética no sentido de que é o próprio sistema que se autoconstrói a partir de seus 
próprios componentes. 
Referido paradoxo se firma significativo e curioso, eis que, na medida do avanço 
tecnológico, seria de se esperar constantes mudanças voltadas para o moderno. A mensagem 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
3 
do texto confirma outro sentido, i.é, na lição da autopoiese, constantemente são produzidos 
mecanismos a serem utilizados pelo processo para caracterização dos sistemas vivos 
porquanto máquinas autopoiéticas, as quais, por meio de interações e transformações, 
regeneram-se e reproduzem-se realizando a tarefa autopoiética, caracterizada por seu 
fechamento. Não há, assim, uma mudança “nova”, há uma transformação, uma autogeração 
que se produziu no próprio modelo. 
Desta forma, face ao fechamento autopoiético, rompe-se com a tradição segundo a qual 
a conservação e a evolução da espécie seriam condicionadas originariamente pelos fatores 
ambientais e/ou autodeterminantes, ou mesmo decorrente do fazer presente de determinadas 
moléculas, quando se sabe que a definição de vida decorre de uma rede de processos, dito 
“metabólicos autogeradores” (CAPRA, 2003, p. 80), e para os quais, a marca autopoiética na 
esfera biológica encerra uma fidelidade e uma estabilidade impressionantes. 
A não ser assim, como pensar em um modelo que se autoduplica e que leve consigo um 
sofisticado processo de controle, verificação e conserto sendo que a possibilidade de erro seria 
mais ou menos um em dez bilhões em benefício de um equilíbrio sutil entre a estabilidade 
genética e a mutabilidade em si mesmo (CAPRA, 2003, p. 176-177)? 
O compromisso perpetuador, integrador e autogerador implica em uma nova 
compreensão da vida. Sobre ela muito se tem dito contrariamente, mas a compreensão 
sistêmica tem-se firmada “o que significa que se baseia não só na análise de estruturas 
moleculares, mas também na dos padrões de relação entre essas estruturas e dos processos 
específicos que determinam a sua formação” (CAPRA, 2003, p. 80). 
Visando a facilitar e dar sustentação às idéias sobre a vida, entendo que a anotada por 
Capra (2003) quanto ao padrão de organização e estrutura, sejam interessantes na análise da 
obra, justificadora ou não quanto a forma autopoiética. Sobre a natureza dos sistemas vivos 
três matrizes teóricas foram apontadas no seu texto. São elas, o ponto de vista dos padrões, o 
ponto de vista da estrutura e o ponto de vista dos processos, em específico, o padrão de 
organização, e a estrutura (CAPRA, 2003, p. 83). 
De igual sorte, é preciso traduzir a expressão “teoria da autopoiese”2, a qual identifica o 
padrão das redes autogeradoras como uma das característicasque definem a vida e a não ser 
mediante o uso contínuo de energia, a célula morreria (CAPRA, 2003, p. 30). Com esta 
fórmula, buscar no exercício e tarefa da pesquisa, o modelo de evolução da ciência jurídica 
justificadora da teoria teuberiana que se pretende examinar. Daí, as bases motivadoras do 
presente estudo. 
Assim, impõe (re)pensar o lugar ocupado pela construção da “autopoiese” - que está 
 
2
 Seja acompanhada das expressões processo, modelo, sistema, fenômeno, ou simplesmente “autopoiese”. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
4 
neste estudo denominada, ora sistema, ora modelo, ora paradigma autopoiético ou mesmo 
autopoiesis
3
 - na dinâmica da matriz disciplinar da evolução jurídica. Da mesma forma, é 
preciso traduzir o significado e influência desta evolução e, também, qual a autogeração e o 
significado na identificação do modelo jurídico. 
 
1. O paradigma
4
 autopoiético: um pouco de história 
 
O que quer dizer autopoiese? De que forma ela foi e continua sendo capaz de 
influenciar inúmeras áreas do conhecimento, como é o caso do Direito? Qual a sua função na 
teoria da evolução e, por tabela, qual a sua correspondência com a Ciência Jurídica e por que 
Teubner fez dela uma matriz justificadora para construir uma teoria amplamente discutida? 
Este breve estudo propõe tecer considerações, ou mínimas respostas para tais 
questionamentos. Vejamos. 
O modelo da autopoiese decorre principalmente da teoria biológica de dois grandes 
cientistas, Humberto Maturana e Francisco Varela, os quais, referem que a palavra deriva do 
grego autos (por si próprio) e poiesis (criação, produção) (NEVES, 2006, p. 80). 
Falar de autopoiese é compreender que a vida é um sistema biológico que se permite 
pelo processo do conhecimento e pela dinâmica de sua organização
5
. Mais que isto, impõe 
dizer que a vida pode ser contemplada a partir de um sistema que se autoduplica através de 
um padrão de relações entre estruturas e processos em uma rede organizativa cunhada com o 
selo autopoiético na esfera biológica que compreende uma fidelidade e uma estabilidade 
impressionantes. 
Muito significativa se apresenta a Teoria de Santiago, para a qual, 
A idéia central é a identificação da cognição, o processo de conhecimento, com o 
processo de viver. Segundo Maturana e Varela, a cognição é a atividade que garante 
a autogeração e a autoperpetuação das redes vivas. Em outras palavras, é o próprio 
processo da vida. A atividade organizadora dos sistemas vivos, em todos os níveis 
de vida, é uma atividade mental. As interações de um organismo vivo – vegetal, 
animal ou humano – com seu ambiente são interações cognitivas. Assim, a vida e a 
cognição tornam-se inseparavelmente ligadas. A mente - ou melhor, a atividade 
mental – é algo imanente à matéria, em todos os níveis de vida. (CAPRA, 2003, 
p.50) 
 
 
3
 Esta foi a expressão cunhada na obra referente a este breve estudo, conforme tradução. 
4
 O sentido do paradigma que aqui se adota é o mesmo sentido adotado por Thomas Kuhn no seu clássico A 
Estrutura das Revoluções Científicas (no posfácio), a teor de inúmeras confusões emprestadas ao tema, Kuhn 
adota outro termo para evitar confusão, qual seja matriz disciplinar. A própria expressão é desmembrada em 
outro conjunto de quatro significados. O primeiro deles foi dito “generalizações simbólicas”; o segundo 
compromissos como crenças em modelos; o terceiro, os valores, com o sentimento de pertencer a uma 
comunidade; Por último, o quarto sentido emprestado à expressão, sob a justificativa de que este assumiu vida 
própria, passa a substituí-lo por exemplares, p. 228-234. 
5
 Referida compreensão muda significativamente o conceito de vida, que deixa de ter uma conotação puramente 
biológica, e que ganha dimensão de troca (seleção) e de rede (evolução). Portanto, com implicações na questão 
social, o que por si corrobora a teoria Teuberiana. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
5 
O conhecimento deste modelo fornece a idéia de aprendizado constante, e não será 
necessário um grande esforço para atrelar o conhecimento à idéia de ciência, portanto, 
pertencente ao paradigma da racionalidade. Entretanto, o conhecimento, entendido aqui como 
a capacidade organizativa e estrutural, nem sempre atendeu a tal aspecto. No processo da 
seleção da origem das espécies, ele pode se dar de forma menos complexa e pertencente a 
uma cadeia biológica de espécie mais simples, como os vegetais, posto que foi com a 
evolução que o saber restou instrumento da tarefa da ciência. 
Em um sistema dito conceitual a vida implica em “gerar o fenômeno cognitivo como 
resultado da ação do ser vivo” (CAPRA, 2003, p. 36), de tal forma que a explicação do 
conhecer pode implicar em uma série de domínios, os quais foram muito bem identificados 
por Maturana e Varela. Anota-se. A um, um fenômeno a explicar: ação efetiva do ser vivo em 
seu ambiente; a dois, uma hipótese explicativa: organização autônoma do ser vivo. Deriva 
filogenética e ontogenética (acoplamento estrutural); a três, uma dedução de outros 
fenômenos: interações recorrentes e coordenação comportamental; e quatro, fenômenos 
sociais, domínios lingüísticos, linguagem e autoconsciência (CAPRA, 2003, p. 35). 
A organização, deveras, é um tanto mais simbólica, ela compreende o estabelecimento 
de uma série de eventos que devem ser tomados de forma imbricada e que decorrem das 
relações entre os seus componentes que o identificam em uma classe determinada. A não ser 
pela organização e pela disposição das moléculas, em conjunto com uma rede autogeradora a 
vida seria impossível no Planeta. 
Vejamos como a terra surgiu. Primeiro é preciso dizer que ela tem cerca de cinco 
bilhões de anos e está em constante transformação. Maturana e Varela revelam que no 
começo havia homogeneidade molecular, depois, com o surgimento dos planetas, uma 
contínua transformação deu lugar a uma grande diversidade de moléculas chegando à 
formação de redes de reações moleculares, produtoras do mesmo tipo de moléculas que as 
integram, e, também, limitadoras do seu entorno espacial, produtoras de si mesmas e de seus 
limites (CAPRA, 2003, p. 44-46). 
Este último ponto merece criteriosa atenção porque se refere à organização autopoiética. 
Os seres vivos se caracterizam por produzirem de modo contínuo a si próprios, devendo estar 
dinamicamente relacionados numa rede contínua de interações, que recebe o nome de 
metabolismo celular, sendo que tal metabolismo produz componentes que, de acordo com 
uma estrutura integram uma rede de transformações cujo limite advém de uma fronteira 
(membrana) (CAPRA, 2003, p. 52). 
Ocorre, o ser humano é recente na cadeia da vida, o que significa dizer que os homens 
são novos por aqui. Segundo Alvim Tofler (2001, p. 25) se dividirmos os últimos 50 mil anos 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
6 
de existência do homem em gerações de 62 anos cada, terá havido 800 gerações sobre a terra, 
das quais 650 foram passadas na caverna. Qualquer pedra ou a menor das pedras é milhões 
de anos mais velha do que qualquer um da raça humana (O`DONOHUE, 2000). Até mesmo a 
mais simples das bactérias já estava aqui nos primeiros bilhões de ano da evolução biológica. 
Vejamos segundo anotação de Morin qual é afinal o tempo do homem sobre a terra: 
 
UNIVERSO 14 bilhões/ano(s); TERRA 5 bilhões/ano(s); VIDA 2 bilhões/ano(s); 
VERTEBRADOS 600 milhões/ano(s); RÉPTEIS 300 milhões/ano(s); 
MAMÍFEROS 200 milhões/ano(s); ANTROPÓIDES 10 milhões/ano(s); 
HOMINÍDEOS 4 milhões/ano(s); HOMO SAPIENS 140 mil a 100 mil/ano(s) *50 
mil/ano(s) matriarcado; 4 mil/ano(s) patriarcado; CIDADES,ESTADOS 10 
mil/ano(s); FILOSOFIA 3.500/ano(s). (MORIN, 2004, p. 128) 
 
 
Ora a raça objeto da seleção que se coloca no topo do ciclo evolutivo, saiu da linhagem 
de hominídeos de mais de quinze milhões de anos, de onde surgiram os caçadores-coletores, e 
há cerca de três milhões de anos passou a usufruir de traços estruturais essencialmente 
idênticos aos atuais, isto é, aos do homem moderno (MATURANA; VARELA, 2001, p. 241-
244). 
A passagem longa de uma geração para outra, levou milhões de anos, mas, 
aparentemente, foi preciso apenas um piscar de olhos para que a teoria da evolução fosse 
identificada e, alguns segundos para que Varela e Maturana a identificasse na Teoria da 
Autopoiese que passou a influenciar várias áreas, inclusive a esfera jurídica. 
Retomemos a validação do reconhecimento, i.é, do pertencer à classe dos seres vivos 
pela sua organização autopoiética, que é certificadora de um dado único – os seres vivos são 
unidades autônomas, e, nesta medida, em um campo maior, o sistema é autônomo se for 
capaz de especificar sua própria legalidade, (p.55). 
A lição da autopoiese é exatamente esta “o mecanismo que faz dos seres vivos sistemas 
autônomos, é a autopoiese, que os caracteriza como tal” (MATURANA; VARELA, 2001, p. 
56). E a justificativa para a sua existência, segundo Maturana e Varela, está no fato de que, 
como não se pode fornecer uma lista requisitória para caracterização do ser vivo, porque não 
um sistema que, ao funcionar gera a sua fenomenologia (MATURANA; VARELA, 2001, p. 
56). Ocorre, é certo que a unidade autopoiética contempla os requisitos comuns necessários à 
interdependência, quais sejam, o metabolismo e a estrutura celular. 
Somente quando a Terra foi abençoada com as condições ideais
6
 deu-se lugar à 
formação de moléculas interdependentes que se agruparam em células capazes de 
autogeração, as quais se agruparam em células especificadoras de sua própria legalidade, e, 
 
6
 Estrutura e organização são requisitos capazes de ensejar a unidade autopoiética. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
7 
assim, ocorreu a história a qual pertencemos e estamos ajudando a autogerar. Esta é a origem 
dos sistemas vivos que corresponde às duas histórias, a história da autopoiese e a história da 
Terra. 
Desta forma, as unidades autopoiéticas têm uma importância fundamental na história 
humana e na história do sistema solar e é seu padrão próprio organizacional e estrutural de 
fenomenologia que a inscreve na qualidade biológica (ou não). 
A história humana é a história da autopoiese, de redes autogeradoras! 
Contudo, há implicações decorrentes desse processo que merecem minimamente serem 
apontadas, forte no sentido de que muito pode influenciar as relações humanas na exata 
medida que decorre dele mesmo a capacidade de ser observador e, para a qual “a história pode 
participar na geração da conduta do observador”. Ora a conduta lingüística interfere na 
atividade mental, que interfere na cognitiva ou nas “perturbações do sistema nervoso e, 
portanto, parte de seu ambiente” (ROMESÍN; GARCÍA, 1997, p. 133). 
Assim, de organização em organização, de estrutura em estrutura, ou mesmo de um 
 
[...] estado em estado, o tempo, como uma maneira de comportamento, entra na 
determinação de seus estados através do domínio descritivo como um componente 
no domínio da conduta do organismo. [...] ainda que não representem estados do 
sistema nervoso, constituem componentes causais no domínio da conduta do 
indivíduo; isso acontece, por exemplo, com noções como beleza, liberdade e 
dignidade. (ROMESÍN, GARCÍA, 1997, p. 133) 
 
Operar esta dinâmica, desume-se, é tarefa para o autoobservador, o qual pode, e muito, 
influir significativamente no processo, mesmo porque o sistema nervoso não faz distinções 
entre suas diferentes fontes de perturbação, quer em relação à operação, em relação aos 
agentes perturbadores, ainda que decorrentes do ambiente, ou decorrentes de organismos 
acoplados (ROMESÍN, GARCÍA, 1997, p. 133). 
Qualquer característica atribuída a um determinado sistema vivo “observador” a um 
objeto “observado” constitui apenas um processo de auto-observação (TEUBNER, 1989, p. 
VII-VIII), sendo que o observador descreve a sua organização, não a sua estrutura. 
 
Mas isto é uma outra história! 
 
 
2. O Direito como sistema autopoiético 
 
Provavelmente, a mais significativa teoria referente à autopoiese no âmbito do Direito 
quanto aos Sistemas Sociais, decorre de Niklas Luhman, das quais Gunther Teubner é um dos 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
8 
embaixadores, em que conste, tanto em um, quanto em outro, percebe-se clara distinção de 
matrizes disciplinares teóricas. 
A teoria autopoiética teve sua nascente na dimensão das ciências biológicas com os 
estudos de Maturana e Varela
7
, de onde passou por diversos campos até chegar à esfera das 
Ciências Sociais. A passagem do campo biológico para o social impôs diversos graus de 
compreensão, para os quais, para efeitos deste estudo, em todos eles, foi necessária uma 
reflexão quanto a vida, tais como origem, terminologia, conceituação e aspectos históricos, as 
quais em uma síntese muitíssimo breve pode ser assim explicada – todos os caminhos foram 
possíveis por conta da seleção natural até chegar na complexidade imensa da diversidade dos 
dias atuais. 
De outro norte, “podemos estar certos de que a sucessão ordinária por geração jamais 
foi interrompida” da mesma forma que se pode dizer que a “seleção natural jamais produzirá 
numa espécie alguma variação exclusivamente em prol ou em prejuízo de outra espécie” 
(DARWIN, 1994, p. 171). 
Terminada a tarefa de refletir quanto a vida, o que se apresenta imutável em cada 
organismo durante o transcorrer da vida e quais as características estruturais responsáveis pela 
identidade de cada ser vivo, o estudo avançou até a esfera jurídica, não sem antes, caminhar 
pelo campo das ciências sociais indo ao encontro da autopoiese de Teubner. 
O Direito não é determinado por fatores externos, mas sim por ele mesmo. Desta forma, 
a autopoiese é sustentada por Teubner como facilitadora de uma compreensão do sistema 
jurídico porquanto sistema autônomo, mas que usufrui de relação de dependência, 
independência e interdependência em relação aos outros sistemas. 
É importante esclarecer que a “pragmática-sistêmica em Luhmann” tem como ponto de 
partida as suas análises em torno da “Teoria dos Sistemas” (sociais) de Talcott Parsons 
(ROCHA, 2005, p. 30), e tem como característica principal a perspectiva de que nas 
dimensões da semiótica, no interior do sistema, estão presentes a problemática do risco e do 
paradoxo (ROCHA, 2005, p. 31). 
Na primeira fase Luhmann não abandona o modelo básico tradutor da variação, seleção 
e retenção, e, em uma segunda fase, avança na Teoria Social de Parsons, onde acresce-lhe 
uma matriz autopoiética baseada em Maturana e Varela, e destaca a sistematicidade do 
Direito como auto-reprodutor de suas possibilidades (ROCHA, 2005, p. 31). 
Há aqui um ponto elementar a ser sustentado, eis que na teoria da evolução social, se faz 
de suma importância a existência de membranas plásticas. Sem ela a célula não teria 
organização, estrutura, não se autogeraria, e até provavelmente, a vida deixaria de existir. 
 
7
 São os “criadores” da matriz autopoiética. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
9 
Maturana refere à membrana porquanto uma “fronteira membranosa” que limita a 
extensão da rede de transformações, mas que também participa dela (2001, p. 53), enquanto 
Capra a justifica como os fundamentos da identidadecelular (2003, p. 25). 
Então, o que define a vida? A membrana celular é a primeira característica que a define. 
A segunda é a natureza do metabolismo que ocorre dentro das células (CAPRA, 2003, p. 26). 
A teoria Luhmanniana, entrementes, nos convida a repensar este aspecto “fechado” que 
é o meio propulsor da autopoiese. Daí sua excepcionalidade. O sistema autopoiético na esteira 
do Direito, segundo tal teoria, é um sistema que é aberto e fechado, ou que “não é fechado 
nem aberto” (ROCHA, 2005, p. 38). É um sistema que liga o consciente ao inconsciente, e 
que vai ser compreendido como “ligado ao passado e ao futuro simultaneamente” (ROCHA, 
2005, p. 38). 
O “primeiro Luhmann” tenta resolver a questão da autonomia evolutiva do direito, mas 
permanece com o modelo básico de variação, seleção e retenção, não resolvendo as questãos 
do debate evolutivo – stasis, identidade sistêmica e subdeterminação (TEUBNER, 1989, p. 
110-111), as quais no dizer de Teubner correspondem aos elementos essenciais de uma teoria 
evolutiva dos dias atuais. 
Que elementos são estes, justificadores de um desenvolvimento global da vida e que 
fornecem base para os caminhos evolutivos? 
Teubner (1989, p. 104) anota que há três idéias chaves, quais sejam, a interação cega 
entre variação, seleção e retenção, a combinação entre desenvolvimento ontogenético e 
filogenético; e a co-evolução de direito, sociedade e outros subsistemas sociais. 
Os tempos atuais presenciaram uma verdadeira explosão de teorias científicas nas mais 
variadas áreas do conhecimento humano – isto inclui o Direito e, há muitas teorias que 
procuram explicar a sua evolução. 
Ocorre, é de todo prudente elencar um resumo das teorias evolutivas principais, a teor 
de informar um contraponto quanto a teoria da evolução social sustentadora da Teoria de 
Luhmann e, também, da Teoria de Teubner, as quais são apresentadas na seqüência. 
São três as teorias evolutivas principais. A primeira, a das mutações genéticas aleatórias 
que corresponde ao elemento principal da teoria neodarwiniana; a segunda, a recombinação 
de DNA- troca de genes; a terceira é a da evolução pela simbiose (CAPRA, 2003, p. 44-45). 
A segunda teoria, no caso a Teoria Luhmanniana, ou Teoria Evolutiva do Direito, 
refere-se à unidade da evolução social ou jurídica, e esta frise-se, corresponde ao primeiro 
Luhmann. Ela não é assim representada, nem pelo indivíduo humano, nem pelo grupo de 
indivíduos, nem por um gene egoísta, mas pela própria sociedade e direito enquanto sistemas 
de comunicação (TEUBNER, 1989, p. 105-106), mas pode ser representada pela lógica 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
10 
evolutiva inerente ao sistema jurídico: stasis evolutiva, identidade do sistema evolutivo e 
subdeterminação na relação sociedade-direito (TEUBNER, 1989, p. 109). 
Como ela não consegue alcançar solução para as questões do moderno debate evolutivo, 
a proposta de Teubner é submetê-la à teoria da autopoiese, que será tratada a seguir. 
 
3. Autopoiesis
8
 e evolução jurídica na teoria de Gunther Teubner 
 
De pronto, convém dizer que até o surgimento da marca autopoiética as ciências 
biológicas não haviam conseguido identificar o princípio energético ou enteléquia da vida 
(TEUBNER, 1989, s. II, p. III). Sozinho este dado é revelador. Para o direito, porém, é 
preciso outras perspectivas. Explica-se. 
Inicialmente é deveras importante perceber como a evolução e, a partir dela, a evolução 
jurídica contribuiu de forma a estabelecer matrizes para o pensamento de Teubner. 
Busca-se em Maturana e Varela, a dimensão de tal compreensão, para os quais o termo 
evolução refere ao que aconteceu na história das transformações dos sistemas vivos terrestres, 
e enquanto processo, evolução é história da troca de um modelo de organização de unidades 
independentes geradas por etapas auto-reprodutivas (ROMESÍN, GARCÍA, 1997, p. 98). 
A autopoiese no espaço biológico alcança a condição mínima bastante e suficiente para 
caracterizar e manter a vida de forma autônoma. Referida compreensão altera profundamente 
o conceito de vida, incluindo o seu estabelecimento e a sua manutenção, a teor de que, 
mantida assim a verdade científica para a vida, segundo o conceito autopoiético, a 
característica primordial da evolução passa a residir muito mais na questão interna (estrutura 
cíclica do sistema), e muito menos na função de adaptação ao meio envolvente (capacidade de 
se relacionar). 
Com efeito, a autopoiese corresponde a unidade mínima de vida - “o modelo holístico 
imutável da rede circular e auto-referencial” (TEUBNER, 1989, s. II, p. V). No sistema 
organizado, refere-se à sua própria organização e não à estrutura desse sistema correspondente 
- as formas espácio-temporais assumidas por essa rede num determinado sistema vivo 
concreto (TEUBNER, 1989, s. II, p. V). 
Curiosamente a lógica autopoiética conserva sua auto-referencialidade separada por um 
sistema, uma fronteira, de forma indiferente e, porquanto fechada, inacessível aos sistemas 
envolventes. É um sistema que tem repetição e diferença, tendo que equacionar no seu 
interior esse paradoxo, que os operadores do direito vão usar como critério para tomar 
decisões (ROCHA, 2005, p. 38). 
 
8
 Para efeitos de título do presente capítulo, optou-se por deixar a palavra tal qual consta apresentada na tradução 
da obra, objeto deste. Entretanto, ao longo de todo o trabalho ela aparece cunhada como “autopoiese”. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
11 
Passaremos agora a resolver as questões indagadas por Teubner: 
1. A pergunta – “Poderá a Teoria da Autopoiesis resolver tais questões?”9 
2. A(s) resposta(s). Primeiro cabe dizer que o conceito de autopoiese já foi apresentado. 
Então, recorre-se a tarefa de resolver as “tais questões”. Afinal que questões são estas 
merecedoras de uma análise deste porte? 
Para tanto, Teubner apresenta dois modelos. O primeiro modelo da evolução sócio-
cultural, refere-se a existência de uma lógica evolutiva inerente ao sistema jurídico que 
cobraria a solução de questões cruciais do moderno debate evolutivo– “stasis evolutiva 
(período de estabilidade ou inatividade de uma forma de vida, estase), identidade do sistema 
evolutivo e subdeterminação na relação sociedade-direito” (1989, p. 109), ou “variação, 
seleção e retenção” (1989, p. 112). 
Na lógica do primeiro modelo, “o sistema jurídico não pode proceder de outra forma, 
[pois] ele está comprometido com sua autopoiesis. Ele deve fazer dessa assimetria sua própria 
auto-referência” (ARNAUD, 2004). 
No segundo modelo, é apresentado o “segundo Luhmann” (ou o próprio Teubner), 
sendo então colocada a seguinte indagação: “Poderá a teoria da autopoiesis resolver tais 
questões?” (TEUBNER, 1989, p. 112). 
O segundo modelo, refere-se ao próprio modelo de evolução – a lógica de 
desenvolvimento inerente á esfera normativa – dissolve as vantagens de uma teoria evolutiva 
moderna. Mesmo respondida permanece sem sentido a questão – quais os mecanismos que 
operam a transferência do desenvolvimento individual para o desenvolvimento da moralidade 
social (TEUBNER, 1989, p. 109-110). 
Luhmann (TEUBNER, 1989, p. 110), então, longe de resolver o problema da autonomia 
evolutiva do direito, não abandona o modelo básico de variação, seleção e retenção e o 
enriquece, internamente, com a troca sistêmico-jurídica e, para isto recorre-se a normas, 
institutos e dogmática; e externamente (exogenamente), pela analogia com outros 
subsistemas. 
A conclusão e o fundamento: stasis, manutenção da identidade sistêmica e autonomia 
evolutiva seriam dependentes da autopoiese do sistema, bem como, é evidente no debate daautopoiese a necessidade de (re)visão do conceito de evolução na dimensão das condições de 
reprodução autopoiética (TEUBNER, 1989, p. 112), em que pesem as posições contrárias, dos 
quais são exemplos, Maturana, Varela, Roth e Wake, que criticam um neo-darwinista 
ortodoxo do processo evolutivo como a capacidade de adaptação de um sistema aberto às 
 
9
 (TEUBNER, 1989, p. 112), sendo que a grafia “autopoiesis”, neste caso, foi usada conforme a obra objeto 
deste estudo. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
12 
exigências e pressões seletivas do meio envolvente, justificando que o sistema auto-
reprodutivo, pode ele mesmo, definir os limites da sua tolerância a mudanças estruturais, 
recorrendo à sua própria organização cíclica de auto-manutenção (TEUBNER, 1989, p. 112-
113). 
A questão não é tão simples assim, de tal forma que possa ser revelada em um 
posicionamento de grupos de cientistas. Verdadeiramente, a lógica autopoiética faz com que o 
ideal de internalização transfira o “epicentro da dinâmica evolutiva do meio envolvente para o 
interior do próprio sistema” (TEUBNER, 1989, p. 113). Desta forma, a matriz autopoiética 
subordina a questão à sua própria lógica, à lógica autopoiética. 
Teubner aponta que somente os sistemas organizados do ponto de vista da teoria 
autopoiética podem evoluir, sendo que a responsabilidade por esta evolução estaria a cargo da 
estruturação interna. Desta forma a capacidade evolutiva do Direito coloca-se diretamente 
proporcional à interação dos mecanismos evolutivos sistêmicos (TEUBNER, 1989, p. 113-
114) e confere o alcance de sua autonomia pelos seguintes processos, a variação dos seus 
conteúdos, a seleção e a estabilização da cultura jurídica. 
A questão posta por Teubner poderia ser representada de forma simbólica através do 
seguinte esquema gráfico (Figura 1). 
Cada um destes processos se encarrega de fazer correspondência com os mesmos 
sistemas que ocorrem na autopoiese biológica, quais sejam, as normas sociais que determinam 
o espectro das possibilidades de variação das normas jurídicas; o processo de seleção das 
normas jurídicas é levado a cabo na base de um processo de seleção social abrangente dentro 
do próprio sistema jurídico; e a retenção dessas normas (o estabelecimento de uma tradição 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
13 
jurídica) resultam de um corpo de idéias partilhadas na sociedade – mundovisões, mitos, 
dogmas e ideologias (TEUBNER, 1989, p. 116). 
Para a teoria autopoiética a função dos conflitos sociais afasta-se dos conflitos 
relacionados diretamente ao direito dos litigantes e muito se aproxima dos processos 
sistêmicos internos de formulação jurídica. De outro lado, os conflitos não são traduzidos para 
a linguagem jurídica, mas reconstruídos autonomamente como conflitos jurídicos dentro do 
próprio sistema jurídico (conflitos de proposições jurídicas divergentes, por exemplo). 
Desta forma, compreende-se que a aprendizagem ontogenética resultante da linguagem 
e do processo autopoiético, quando em contato com o sistema jurídico, tem lugar na 
circunstância do próprio processo jurídico, e resulta de sua interação com os mecanismos 
jurídico-doutrinários decorrentes da variação e seleção, enquanto que a retenção decorre do 
processo de memorização (conhecimento) da interação processual ligada à simples história do 
processo. 
A filogenia e sua correspondente evolução decorrem da intervenção das funções de 
retenção no padrão social (sociedade), repassando a aprendizagem obtida para a relação 
jurídico-processual através da conexão episódica que “[...] permite o estabelecimento de 
princípios jurídicos de seleção para além do episódio jurídico individual, assegurando que a 
evolução procede da aprendizagem” (TEUBNER, 1989, p. 121). 
Enquanto que o processo jurídico individual (p.121) traz a marca da interação e de 
outros sinais de comunicação, do qual é exemplo o(s) processo(s) escrito(s), a utilização de 
um código de normas e o histórico processual garantidor de suas próprias estruturas, “[...] a 
combinação de desenvolvimento ontogenético e filogenético no direito oportuniza a 
interrelação entre processo jurídico e cultura jurídica: interação entre dois ciclos 
comunicativos” (TEUBNER, 1989, p. 122). 
Teubner aponta dois ciclos de comunicação representados pelo processo jurídico e o 
circuito comunicativo da cultura jurídica: 
O 1º ciclo de comunicação representa o processo jurídico: constitui a interacção de 
expectativas normativas (mecanismos de variação) e decisões judiciais (mecanismos de 
seleção) (TEUBNER, 1989, p. 122). ( ver Figura 2); 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
14 
 
O 2º ciclo que o circuito comunicativo da cultura jurídica: assume a função de retenção; 
o qual desencadeia a transmissão e tradição da cultura jurídica (ver Figura 2). 
A validade jurídica compreende a relação circular entre estes dois ciclos de 
comunicação: a decisão nos processos jurídicos tem o legado normativo por referência, sendo 
que, a mesma decisão representa o ponto de partida para novos desenvolvimentos na esfera 
cultural-jurídica (TEUBNER, 1989, p. 122). 
É o contato com as crises
10
, com os movimentos, ou com as variações sofridas pelo 
direito – ainda que aparentemente insignificantes, que fazem o Direito avançar. Portanto, a 
sua transformação não decorre necessariamente do produto do conflito social, mas da 
comunicação interna do sistema jurídico, o qual, por vezes, e no limite, torna irreconhecível o 
conflito para os litigantes (TEUBNER, 1989, p. 117). 
Desta maneira, pelo viés da teoria autopoiética, o fio condutor que gera a aprovação 
social das normas é um aceno sinalizador do consentimento para aprovação sistêmica interna. 
Justifica-se, assim, a realização da matriz autopoiética. 
O que isto significa e traduz na esfera das relações jurídicas? 
A primeira constatação resta traduzida pela impossibilidade de transferir diretamente as 
questões sociais para o sistema jurídico. Isto é visível no modelo autopoiético eis que se torna 
imperioso um ato selecionador que goze de autonomia - seleção autônoma - que pode ser 
encontrado em uma norma de referência, e até mesmo em uma decisão judicial. 
 
10
 O significado de “crise” aqui neste trabalho deve ser interpretado no contexto de conflito de interesses como 
valorada pela lide jurídica, e traduzida com o sentido de violação a uma norma posta e garantida pelo sistema 
codificador. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
15 
Desta forma, tem-se que as características da seleção, confirmadoras da autopoiese na 
disciplina jurídica, impõem íntima relação com os seguintes aspectos, todos eles ratificados 
por Teubner
11
: governada por processos jurídicos internos mais do que pela aceitação social 
exterior; seus principais critérios são a adaptabilidade da inovação às estruturas normativas 
(programas jurídicos) e a sua compatibilidade com a autopoiesis jurídica (código jurídico). 
Há ainda um dado bastante revelador quanto ao sistema autopoiético. Este dado tem a 
ver com a estabilidade das estruturas dos sistemas autopoiéticos e correspondem aos 
instrumentos produzidos na própria matriz interna (estrutura produtora), que também passa a 
garantir a retenção das normas jurídicas. 
Desta forma, a estabilidade é cada vez menos os diversos contextos sociais - moral, 
política, a religião - e cada vez mais a auto-referencialidade do sistema jurídico passa a ter nas 
decisões judiciais, normas, princípios ou discursividade jurídica, o seu mecanismo facilitador 
(TEUBNER, 1989, p. 119). 
A obra objeto deste estudo, quanto ao debate da teoriada evolução do direito, informa a 
distinção entre aprendizagem ontogenética e desenvolvimento filogenético, sendo que 
Teubner apresenta um contraponto necessário à unidade ontogenética da evolução e a 
contraparte ontogenética da evolução social. A primeira, constituída pelo ser humano no seu 
desenvolvimento moral; a segunda, constituída pelo ser humano na sua interação (TEUBNER, 
1989, p. 119-120). 
Socorre dizer que há uma interrelação – relação de dependência, independência e 
interdependência - entre filogenia e ontogenia, de onde decorre “[...] a relação entre interações 
específicas e o sistema social, e, também, a relação entre um processo jurídico concreto e o 
próprio sistema jurídico” (TEUBNER, 1989, p. 120). É de se realçar que a teoria de Teubner, 
quanto a este aspecto, não comporta a relação entre indivíduo e sociedade. 
Esse aspecto merece destaque, porque é exatamente neste ponto que reside grande 
resistência, e, portanto, severas críticas à matriz Teuberiana, como se tal teoria comportasse o 
sim e o não do sistema, o certo e o errado, e como se o direito em si não tivesse o alcance da 
crítica, da circunstância e do fato e gozasse de absoluta independência do próprio sistema 
jurídico de tal forma que o sistema de Teubner correspondesse à propriedade e à qualidade de 
ser dono da verdade e do significado que a teoria encerra para o codex jurídico. 
Sobre o estado da questão, notadamente o ponto da divergência, anota-se 
 
O sistema jurídico não pode proceder de outra forma, [pois] ele está comprometido 
com sua autopoiesis. Um observador externo está mais livremente posicionado. Ele 
 
11
 (TEUBNER, 1989, p. 118-119), o qual também anota: “o sistema ao definir os pressupostos do acto jurídico, 
define também cada etapa evolutiva do próprio direito”. 
 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
16 
deve fazer dessa assimetria sua própria auto-referência, mas ele não pode fazer isso 
da mesma forma que o direito. (ARNAUD, 2004, p.13) 
 
 
Identificado o ponto da divergência, é preciso dizer que a relação entre a ontogenia e a 
filogenia é de importância crucial para a simbiose de processos, e, portanto, colaboradoras na 
desconstrução da dúvida: o centro de gravidade da co-evolução é o episódio individual, ou, o 
processo jurídico individual, no direito. 
Desta forma, quanto ao processo de co-evolução, Teubner apresenta a fórmula de sua 
operacionalização, apresentando, inicialmente, o trilema angulatório em contraponto com a 
simbiose de processos, onde destaca que a seleção das mudanças e inovações no direito 
decorre: da autopoiese do próprio sistema jurídico; da autopoiese de outros subsistemas 
sociais; e da própria sociedade que não participa apenas no ciclo autopoiético, antes em 
contato com outros ciclos (1989, p. 122). 
Teubner conclui seus questionamentos quanto a autopoiese e a evolução jurídica 
anotando que a desintegração dificilmente ocorrerá ao nível filogenético, sendo possível ao 
nível ontogenético e o que no plano ontogenético conduz à desintegração, no filogenético 
conduz à indiferença. (1989, p. 124) 
Devolve-se, então a pergunta: “poderá a teoria da autopoiese resolver tais questões?”, 
sendo que, por tais questões devem ser compreendidas a dimensão da “stasis” evolutiva, da 
identidade do sistema evolutivo e da subdeterminação na relação sociedade-direito. 
A resposta, conforme restou apontado por Teubner, de uma forma sintética pode ser 
resumida como possível e sendo a condição, o pressuposto para que o fenômeno biológico 
possa eclodir de todo em todo na unidade do sistema autônomo; ou o resultado de um 
processo em que o observador explica ou descreve o próprio observador (não o objeto 
observado). 
Qual é a noção (...) que podemos ter de um sistema que é ligado ao passado e ao futuro, 
simultaneamente que lida com a idéia de paradoxo? (ROCHA, 2005, p. 38) A resposta pode 
ser encontrada na autopoiese, colocada esta sob a dimensão da evolução jurídica. 
 
Considerações finais 
 
Este breve estudo procurou tecer considerações a respeito da Teoria de Teubner tendo 
como base a autopoiese e a influência de tal teoria para o Direito, especialmente quanto a sua 
evolução jurídica, e oferecer algumas respostas e indagações para tais questionamentos 
partindo do pensamento de Teubner quanto ao sistema autopoiético. 
O que quer dizer autopoiese? De que forma ela foi e continua sendo capaz de 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
17 
influenciar inúmeras áreas do conhecimento, como é o caso do Direito? Qual a sua função na 
teoria da evolução e, por tabela, qual a sua correspondência com a Ciência Jurídica e por que 
Teubner fez dela uma matriz justificadora para construir uma teoria amplamente discutida? 
Ocorre, se pode perceber que a autopoiese comporta uma abordagem científica, cuja 
influência está nela mesma. A partir da Biologia ela avançou através de diferentes disciplinas 
e foi muito além da disciplina em que foi originariamente identificada. Seu modelo decorre da 
teoria biológica de dois grandes cientistas, Humberto Maturana e Francisco Varela, os quais, 
referem que a palavra deriva do grego autos (por si próprio) e poiesis (criação, produção, ou 
geração) (NEVES, 2006, p. 80). Seu objetivo é a autogeração, para a qual um dos imperativos 
é o cuidado com a vida, sendo unidade do conhecimento. 
Falar de autopoiese é compreender que a vida é um sistema biológico que se permite 
pelo processo do conhecimento e pela dinâmica de sua organização
12
. Mais que isto, impõe 
dizer que a vida pode ser contemplada a partir de um sistema que se autoduplica através de 
um padrão de relações entre estruturas e processos em uma rede organizativa cunhada com o 
selo autopoiético na esfera biológica que compreende uma fidelidade e uma estabilidade 
impressionantes. 
Para tanto, foram examinadas os principais aspectos de compreensão da autopoiese a 
partir dos trabalhos de seus “criadores”, a contribuição luhmanniana e, principalmente os 
estágios que favoreceram o entendimento do Direito como sistema autopoiético. 
Diante de tantas dimensões pelas quais a autopoiese passou até chegar ao campo das 
ciências sociais, e mais ainda frente à proposta de Teubner, foram suscitadas duas questões 
apontadas pelo autor, quais sejam, se o Direito pode ser considerado um sistema autopoiético 
e se, afinal, poderia a teoria da autopoiese resolver as questões de “stasis” evolutiva, da 
identidade do sistema evolutivo e da subdeterminação na relação sociedade-direito(?). 
Da análise do acima exposto se pode, em traços gerais indicar os seguintes aspectos: 
1. Em que pese as críticas recebidas a respeito de se conceber o direito como um 
sistema autopoiético, percebe-se que Teubner apresentou alternativas e considerações 
baseadas em uma proposta complementar à idéia originária de Luhmann, ou seja, 
desenvolveu, com base na idéia original, uma proposta própria, utilizando principalmente a 
noção da autopoiese, e com ela as questões de estabilidade e identidade evolutiva e 
subdeterminação na dimensão da sociedade-direito, acrescendo uma nova função para a auto-
observação. 
2. Para que não paire qualquer dúvida, quando se analisa a autopoiese na perspectiva 
 
12
 Referida compreensão muda significativamente o conceito de vida, que deixa de ter uma conotação puramente 
biológica, e que ganha dimensão de troca (seleção) e de rede (evolução). Portanto, com implicações na questão 
social, o que por si corrobora a teoria Teuberiana. 
Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
18 
social, resta posto que a proposta de Teubner baseia-se na de Luhmann, entretanto,com 
algumas diferenças, notadamente no que se refere à concepção de sistema fechado, já que 
Teubner entende que autonomia e autopoiese são conceitos gradativos – relação de 
dependência, independência e interdependência. 
3. Apesar das dúvidas e das críticas, a autopoiese em contato com a dimensão da teoria 
evolutiva, muito tem a contribuir para a eterna crítica da crise do Direito. 
Um sistema que ligue o passado e o futuro ao mesmo tempo (ROCHA, 2005, p. 38), 
que represente o consciente e o inconsciente, que seja um processo em que o observador 
explica ou descreve o próprio observador (TEUBNER, 1989, s. II, p. VIII), que tenha o 
pressuposto “o sistema fechado não é possível, o sistema aberto é inútil” (ROCHA, 2001, p. 
135), e, enfim, construa e aponte novas e concretas “autogerações” para o Direito. 
 
Referências 
 
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ROCHA, Leonel Severo. In: BARRETO, Vicente de Paulo. Dicionário de Filosofia do 
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Amicus Curiae V.7, N.7 (2010), 2011 
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