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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS FACULDADE DE PSICOLOGIA (FAPSI) Victor dos Santos Morais Conteúdo 2º Prova Teoria Sistêmica Resumo Belo Horizonte 2022 2 Victor dos Santos Morais Conteúdo 2º Prova Teoria Sistêmica Resumo do conteúdo da 2º Prova da disciplina Teoria Sistêmica, do curso de Psicologia, 6º período. Professora: Ana Paula Carvalho Pereira Passos Disciplina: Teoria Sistêmica Turma: 2873.1.01 Belo Horizonte 2022 3 Sumário Paradigma/Ciência Tradicional e Pós-Moderna..............................................4 Características de Sistemas.............................................................................6 Sete saberes - Edgar Morin.............................................................................7 Pensamento Complexo De Edgar Morin........................................................11 Teoria do Caos.................................................................................................12 Estruturas Dissipativas...................................................................................13 Sistemas Complexos Adaptativos.................................................................14 Operadores da complexidade:.......................................................................15 Tetragrama Organizacional.............................................................................20 Recusas Fundamentais...................................................................................21 Prigogine..........................................................................................................22 Maturana e Varella...........................................................................................23 4 Paradigma Focaliza sempre as relações entre os elementos componentes do sistema que distingue e também sua própria e inevitável relação com esse sistema. Cria contextos conversacionais – colaborativos e de autonomia - em que os participantes possam construir conjuntamente as soluções para as situações- problema, que eles mesmos tenham distinguido. A CIÊNCIA TRADICIONAL Simplicidade: há a crença de que ao separar o complexo em partes é possível conhecê-lo e, nessa direção, as pesquisas científicas estabelecem uma “atitude de análise e busca de relações causais lineares”. Estabilidade: refere-se à crença de que o mundo é estável, ou seja, que há regularidade e ordenação, cujo funcionamento pode ser conhecido, controlado, previsto, explicado a partir da formulação de leis explicativas sobre os fenômenos. Objetividade: compreende que a realidade existe independente do observador, sendo possível conhecê- la objetivamente, sem a interferência da subjetividade do pesquisador. A CIÊNCIA PÓS-MODERNA A ciência pós-moderna envolve ultrapassar os pressupostos da ciência tradicional, sendo caracterizada pelos pressupostos da: 5 Complexidade, que segundo a epistemologia desenvolvida por Edgar Morin, se sustenta em três princípios: Dialógico: considera a realidade como multiversa, ou seja, parte da premissa de que coexistem múltiplas versões sobre os fenômenos e descarta a necessidade de que se chegue a um entendimento unificador. Recursividade: em latim recurrere, significa tornar a correr, percorrer de novo, e alude à relação que se estabelece entre produto e produtor, ou seja, concebe que o produto é produtor daquilo que produz, inviabilizando explicações lineares e unicausais. Hologramático: considera que a parte está no todo, assim como o todo está na parte, lógica vigente tanto no mundo biológico, como no mundo sociológico. E além disso levamos em conta também os seguintes pressupostos: Instabilidade: surge como revisão da ideia de mundo estável, da ciência tradicional, ao considerar que o mundo está em processo dinâmico de transformações. Intersubjetividade: Considera a impossibilidade de se conhecer objetivamente o mundo, ao reconhecer que a realidade emerge das distinções feitas pelo pesquisador, em espaços consensuais e como construção social(Maturana & Varela, 2001; Maturana, 2014a, 2014b). 6 Características de Sistemas Quando o sistema não possui uma interface de troca de informação com o seu meio, este é um sistema fechado. Quando um sistema ocorre de forma espontânea e não foram intencionalmente desenhados, este é um sistema natural. Não Linearidade: Você afeta a cultura da organização mas a cultura também te afeta. Uma pequena mudança pode ter um efeito devastador no sistema. Adaptabilidade(Homeostase): Um sistema complexo se adaptada ao seu meio de acordo com a necessidade. Pense no seu corpo regulando a temperatura de acordo com o ambiente. Emergência: É a criação de ideias, estruturas ou eventos que não são obra de nenhum agente específico do sistema, mas da interação entre todas as partes. Normalmente este conceito é sumarizado com a máxima “o todo é maior do que a soma individual das partes”. Auto-organização: É a capacidade de criar processos, times, políticas a partir das próprias regras internas do sistema. Reprodução (Autopoiese): É a capacidade de criar outros sistemas e subsistemas a partir de si mesmo. 7 Sete saberes - Edgar Morin 1 Saber - O conhecimento As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão dizem respeito ao próprio conhecimento que o indivíduo possui. Isso quer dizer que Morin pondera algumas inquietações no que diz respeito à palavra conhecimento. Conforme postula o próprio autor, muito embora a instituição escolar forneça uma gama vasta de conhecimento aos alunos de maneira natural, essa mesma instituição não ensina, de fato, o que é conhecimento. Em seguida, Morin nos faz refletir acerca do que é conhecimento propriamente dito. Para Morin, conhecimento nada mais é que uma tradução, a não dizer reconstrução da realidade; e, justamente por não ter total fidelidade em refletir a realidade, este mesmo conhecimento se torna vulnerável ao erro. Não é, portanto, fidedigno em sua totalidade à realidade. 2 Saber - O conhecimento pertinente Os princípios do conhecimento pertinente, que apresenta suas raízes na lacuna do “não ensinamento” das condições de um conhecimento que seja ‘pertinente’ ao aluno. Morin fundamenta suas ideias ao apontar o modelo predominante, conhecido por ensino disciplinar, responsável por demonstrar apenas a parte (fragmento), e não o todo (totalidade). Todavia, para o autor, é necessário que o aluno veja o todo, tendo assim, uma visão de completude, para que, após, o conhecimento seja, de fato, colocado em um grande contexto. Tão logo, a Educação fica responsável por promover nos estudantes a chamada “Inteligência geral dos indivíduos”; inteligência essa que vigora sua eficiência ao ocasionar nos indivíduos a referência ao complexo, ao contexto, de maneira multidimensional. 8 Sendo assim, o conhecimento pertinente é aquele que ocorre quando posto em um grande contexto. Para materializar a importância dessa contextualização, Morin demonstra o exemplo da Economia (Ciências econômicas), que, conforme sabemos, é uma das ciências humanas que têm em seu bojo o cálculo, a bolsa de valores, mas que também se estende e tange o social, uma vez que fatores econômicos imprevisíveis podem acontecer, e estes envolvem, diretamente, aquele que investe; ou seja, o ser humano. Ainda, o conhecimento pertinente deve englobar a chamada complexidade. Isto é, também deve abranger aquilo que é complexo. Para Morin, o complexo diz respeito à união da unidade para com a multiplicidade. 3 Saber - A condiçãohumana Ensinar a Condição Humana; aquele que se relaciona com o da identidade humana. Para Morin, a identidade humana se constitui como indecifrável, e é, por muitas vezes, ignorada. Todavia, para o autor, há uma relação existente que precisa ser colocada em voga: o ser humano como parte constituinte intrínseca da sociedade e vice-versa. Logo, embora haja a divisão das disciplinas nas conhecidas “ciências pluridisciplinares”, todas essas abrangem o ser humano. Dentro dessas ciências pluridisciplinares, encontramos algumas ciências, as quais podemos citar como exemplo: cosmologia, pré-história, ciências da terra e ecologia. A intenção de Morin em lançar esse saber é também demonstrar que nós, como seres humanos, nos constituímos como parte de uma sociedade, bem como de uma única espécie (homo sapiens). Ainda, enfatiza que a sociedade, por sua vez, prevalece por conta das interações vivenciadas pelos indivíduos; sem essas interações entre os indivíduos, é impossível que a sociedade se constitua como tal. 4 Saber - A compreensão humana O quarto saber colocado por Morin diz respeito à compreensão humana. O autor levanta tal questão ao observar que até o presente momento em que ele 9 escrevia, a compreensão não era ensinada, uma vez que predominava a ideia de que “na escola não se ensina sobre como compreender uns aos outros”. Nesse contexto, o sentido da palavra compreensão também abrange e comporta o sentido de “empatia” e “identificação”, a considerar a comunicação humana (comunicação entre os seres humanos) como um elemento fundamental e imprescindível. O exemplo concreto utilizado por Morin é o do choro. Isto é, para compreender a razão do choro, olhar e analisar as lágrimas em um microscópio não é a solução para tal situação. É necessário, por outro lado, perguntar ao outro a razão de seu choro, de suas dores. Todavia, ao passo que uma sociedade caracterizada pelo intenso individualismo emergiu, alguns aspectos sobre a responsabilidade individual ganharam força cada vez mais, dando voz, por sua vez, a muitos aspectos relacionados ao egocentrismo. A compreensão, nessa perspectiva, não se dá apenas para com o próximo, mas engloba o indivíduo consigo mesmo, uma vez que a auto análise também se configura como necessária. 5 Saber - A incerteza Superficialmente, falar sobre incerteza ao lidarmos com ‘conhecimentos’ pode parecer um grande paradoxo, uma vez que, predominantemente, a instituição escolar se destinou a ensinar somente as “certezas” conceituais e científicas. Entretanto, com o passar do tempo, foi possível notar o surgimento e ascensão daquilo que é inesperado. Como exemplo concreto, podemos olhar para a História, por exemplo, uma vez que muitos acontecimentos/fatos inesperados aconteceram ao longo tempo. 6 Saber - A era planetária Assunto esse que se relaciona, principalmente, com a era da globalização do século XX. Todavia, para Morin, essa globalização tem suas raízes no século XVI por meio da colonização da América. Ainda, quando Morin discorre sobre a condição 10 planetária, é importante mencionar o ponto que o autor levanta acerca da dificuldade em conhecer o planeta, uma vez que processos de diferentes origens (ideológicos, econômicos, sociais, etc) são complexos e estão intimamente imbricados. 7 Saber - A antropoética Tal saber diz respeito ao que Morin nomeia como antropo-ético, uma vez que problemas no âmbito da ética e da moral variam de uma cultura para outra. Ainda, Morin vincula intimamente a antropo-ética à democracia, uma vez que é na democracia que o indivíduo desenvolve a consciência de uma relação indivíduo-sociedade, embora para Morin a democracia não aconteça de maneira completa, absoluta. Logo, o autor enfatiza a importância de que o indivíduo exerça a cidadania em sociedade, de maneira que sua responsabilidade seja colocada em perspectiva, dando lugar também para a tomada de consciência social que se faz necessária. Em linhas gerais, Morin vem a defender uma reforma que seja paradigmática, e não, programática. Mas, o que isso quer dizer afinal? Isso quer dizer que é necessário, logo, ensinar o conjunto, e não apenas uma parte da realidade, uma vez que é neste conjunto que reside a maior probabilidade de o conteúdo ser inserido de modo assertivo no grande contexto (aquele já mencionado anteriormente). 11 PENSAMENTO COMPLEXO DE EDGAR MORIN Edgar Morin faz uma distinção entre “complexidade restrita” e “complexidade geral”. A Complexidade restrita permanece escrava da epistemologia da ciência tradicional e vê a complexidade como emergente das interações de componentes ou agentes simples. Assume que a complexidade pode ser explicada com base no desenvolvimento de equações não lineares ou em algumas regras que governam as interações dos agentes. Os sistemas climáticos podem ser difíceis de prever, mas os meteorologistas conhecem as equações básicas que os fundamentam. O comportamento de bandos de pássaros pode parecer insondável, mas apenas três regras precisam ser conhecidas para construir simulações de computador precisas. A principal preocupação é com o caos determinístico. Segundo Vasconcellos (2010), Morin afirma que “a Cibernética, além de não ter desenvolvido o princípio da complexidade, subordinou a comunicação ao comando, tornando- se uma ciência do controle organizacional e conduzindo a práticas tecnocêntricas, tecnomórficas e tecnocráticas”. Assim, Edgar Morin propõe um movimento que resgate e integre todos os momentos e aspectos da Cibernética de primeira ordem fazendo emergir um novo olhar, que considere a noção de obrigação recíproca entre as partes. A cibernética de primeira ordem descrevia os sistemas como se fossem independentes de quem os observa. A cibernética de segunda ordem inclui o observador no sistema observado, por isso segunda ordem. Esta discussão é importante porque representa uma ruptura com uma perspectiva ontológica e realista dos sistemas e se configura como uma epistemologia, isto é, a cibernética de segunda ordem funciona como um instrumento de investigação das percepções do obervador. Este foi um salto essencial no pensamento sistêmico porque trouxe o pressuposto da intersubjetividade. 12 TEORIA DO CAOS Aprendemos com a Teoria do Caos que pequenas alterações nas condições iniciais de um sistema podem causar grandes impactos que são completamente imprevisíveis. Embora alguns fenômenos sejam caóticos, ainda é possível observar padrões que são conhecidos como “atratores estranhos”. Além disso, também vimos que os atratores estranhos parecem se comportar como fractais, isto é, padrões que podem ser observados repetidamente independente da escala observada. 13 ESTRUTURAS DISSIPATIVAS Aprendemos com a teoria das estruturas dissipativas que sistemas abertos não podem ser descritos pela termodinâmica clássica, uma vez que operam naturalmente longe do equilíbrio. Prigogine demonstrou que processos de auto-organização ocorrem nesses estados longe de equilíbrio e acabam por apresentar um comportamento complexo. Dada a complexidade desses fenômenos, podemos descrevê-los como processos irreversíveis, que não estão sujeitos à mecânica clássica de Newton. A maior inferência que pode ser extraída daqui é que processos aparentemente caóticos possuem uma ordem oculta que se manifesta de forma espontânea. 14 SISTEMAS COMPLEXOS ADAPTATIVOS Podemos observar estruturas emergentes de fenômenos sociais a partir das “regras de interação locais” entre os agentes do sistema. Regras simples podem gerar comportamento complexo, como vimos no caso da simulação dos Boids. É possível construir modelos de comportamentos complexos a partir dessas regras de interaçãolocal. 15 Operadores da complexidade: Circularidade: A circularidade (ou recursividade) é o operador fundamental. Os demais estão muito ligados a ele. Como acabamos de ver, são variantes, modos diferentes de apresentação de um mesmo fenômeno. Pode-se até dizer que a circularidade é o único conceito operacional do pensamento complexo, e que os outros cinco são maneiras diversas pelas quais ele se manifesta. Porém, por motivos didáticos, é necessário falar deles em separado. Não há fenômeno de causa única no mundo natural nem no cultural. Onde houver seres vivos as relações serão sempre circulares. Por mais que pareçam lineares, elas são não- lineares: os efeitos retroagem sobre as causas e as realimentam. Com isso são corrigidos desvios, o que faz com que os ciclos se mantenham em funcionamento e os sistemas se conservem vivos. O mesmo raciocínio se aplica a sistemas não-vivos. Vimos que a esse mecanismo Wiener chamou de feedback (retro-alimentação). À disciplina criada com esse conceito ele denominou de cibernética, que pode ser definida como a ciência que estuda os sistemas de controle. Aqui a palavra “controle” deve ser entendida no sentido de “manutenção de um rumo”. Os sistemas cibernéticos são circulares e auto-reguladores. Seu funcionamento se dá pela constante adaptação ao ambiente, que por sua vez (no caso de seres vivos) se adapta a eles. A circularidade, ou feedback, traduz a capacidade de um sistema para manter-se em equilíbrio diante das variações do meio. Permite comparar sempre os resultados de uma ação com um modelo pré-estabelecido. É, pois, indispensável ao controle de processos. Em casos de desvios ou imprevistos, o sistema de regulação entra em jogo e faz com que o padrão funcional desejado seja mantido. No caso das relações interpessoais, o feedback tem um papel essencial. Para que tais relações se mantenham harmoniosas, é necessário que as pessoas troquem informações entre si. Esse intercâmbio define e estabiliza os comportamentos e com eles o clima grupal. Se a conduta de alguém fugir ao modelo consensual de convivência, seus companheiros 16 podem dar-lhe feedbacks sob a forma de críticas, aconselhamento ou atitudes semelhantes. Autoprodução: Os sistemas vivos produzem e organizam a si próprios. São portanto autoprodutores e auto-organizadores. De fato, sabe-se que ao longo da vida as células de nossos organismos morrem e logo são substituídas por outras. É o que se observa de forma espontânea e também na cicatrização de ferimentos e na consolidação de fraturas. Por isso, diz-se que somos ao mesmo tempo produtores e produtos. Esse princípio vale para todos os seres vivos e seus ambientes. Os grupos, as organizações e as instituições humanas não são exceção. Assim, pode-se dizer que os sistemas vivos são autônomos. No entanto, como vimos antes, para manter essa condição eles dependem de elementos que estão no meio ambiente: ar, água, alimentos, informação e a convivência com mais seres vivos de sua própria espécie e de outras. Em vista disso, é possível dizer que os seres vivos são autônomos mas não independentes. De modo paradoxal, são ao mesmo tempo autônomos e dependentes. A essa condição, Morin deu o nome de paradoxo autonomia-dependência. Dialógica (ou operador dialógico): A palavra “dialética” significa conversação, diálogo entre posições contrárias. Para Hegel, toda ideia é uma tese, que provoca o surgimento de outra que lhe é oposta – uma antítese. Do embate entre as duas surge a síntese, que é a resolução da contradição. A síntese é o resultado da superação da tensão entre os opostos tese e antítese. Na concepção hegeliana, as contradições sempre encontram solução: não são insuperáveis e cedo ou tarde se conciliam numa unidade que lhes é superior. As oposições vistas como insuperáveis (os paradoxos) seriam estados de transição, que cedo ou tarde se resolveriam em sínteses. A palavra “dialógica” significa que há contradições que não se resolvem. Nelas, a tensão do antagonismo é persistente. Tais casos fazem parte da complexidade 17 natural do mundo e de seus fenômenos. Morin observa que nem sempre é possível nem necessário resolver todas as contradições. Há muitos casos em que é preciso conviver com elas. São estados paradoxais, inerentes à natureza dos sistemas vivos, e tentar resolvê-los por eliminação além de inútil seria um desperdício de energia mental. São, enfim, opostos ao mesmo tempo antagônicos e complementares. O operador hologramático: Para definir o operador hologramático Morin usa a metáfora do holograma, a fotografia obtida pelo processo holográfico. Nesse tipo de imagem, cada ponto contém quase a totalidade do objeto reproduzido. Isto é, as partes estão contidas no todo, mas o todo também está contido em cada uma das partes que o constituem. O pensamento complexo, tal como desenvolvido por Morin, conceitua a relação entre o todo e as partes por meio de quatro princípios: a) o da emergência; b) o da imposição; c) o da complexidade do todo; c) o da distinção mas não-separação entre o objeto (ou o ser) de seu ambiente. O princípio da emergência diz que o todo é superior à soma das partes. É o que mostra o fenômeno das propriedades emergentes. Um bom exemplo são as ligas metálicas, que têm propriedades que não existem em cada um dos metais que as constituem. Outro é o que ocorre quando um grupo se reúne para discutir um determinado assunto ou problema. Das interações que se estabelecem costumam surgir idéias novas, que antes não haviam ocorrido aos participantes. A sabedoria de um grupo é maior do que a soma das sabedorias de seus componentes. O princípio da imposição diz que o todo é inferior à soma de suas partes. Isso significa que as qualidades ou propriedades das partes, quando consideradas em separado, diluem-se no sistema. Tornam-se latentes, virtuais. É o que ocorre, por exemplo, em um coral. Por mais destacadas que sejam as qualidades da voz de um ou de vários de seus participantes, eles têm de restringi-las ao que a totalidade do coral exige. Num time de futebol, por mais hábil que seja um determinado jogador quase sempre ele precisa jogar com e para o conjunto. 18 Integração sujeito-objeto: Francisco Varela assinalou que estudos sobre a visão de cores revelaram fatos importantes. Lembremos alguns: a) os seres humanos veem o mundo em quatro cores; b) os pombos veem o mundo em cinco cores; c) as abelhas veem o mundo em ultravioleta; d) os morcegos não veem o mundo: interagem espacialmente com ele por meio de um mecanismo semelhante ao sonar. Cabe, portanto, a pergunta: afinal de contas, de que cor é o mundo? É razoável imaginar que ele deve ter uma ou muitas cores. Mas também é razoável deduzir que o vemos segundo a nossa estrutura, isto é, de acordo com o modo como estamos equipados para vê-lo. Dessa maneira, o mundo que percebemos é o que podemos perceber. Já aprendemos, com o operador hologramático, que há evidências de que tudo está ligado a tudo. Distanciamento físico não quer dizer desligamento real. O observador não está separado daquilo que observa, embora possa estar macroscopicamente distanciado. Portanto, não podemos viver no mundo como se não fizéssemos parte dele. Por estar todos no mesmo mundo somos ao mesmo tempo sujeitos e objetos, percebedores e percebidos. Se a consciência é sempre a consciência de alguma coisa, as coisas são sempre coisas para alguma consciência. A realidade é aquilo que percebemos objetiva e subjetivamente. É o que observamos e o que sentimos e pensamos em relação ao que observamos. A postura objetiva é real, mas a pretensão de que seu resultado final seja só objetivo não é real, pois não existe conhecimento em que não entrem ao mesmo tempo a objetividade do que se conhece e a subjetividade do conhecedor.A percepção é um diálogo, uma transação entre o observador e o observado, entre o percebedor e o percebido. Por meio apenas da objetividade não se pode conhecer o mundo real. Por meio apenas da subjetividade também não se pode conhecê-lo. Para conhecer a realidade, é preciso estabelecer uma relação com ela, interagir, trocar, conviver. É das relações que emergem as percepções. No encontro do observador com o observado, a ênfase não pode ser posta apenas no primeiro nem só no segundo. Em qualquer das hipóteses, desviaríamos o foco daquilo que na realidade conta: o fenômeno da observação, que é uma relação. A ciência e o conhecimento não existem apenas na “subjetividade” das teorias dos cientistas nem na 19 “objetividade” do mundo. Nasce da relação entre elas. O conhecimento, seja o científico, seja o do cotidiano, é um “relato” dessa relação. É uma tentativa de “contar a história” dela, de falar sobre as propriedades novas que daí emergem. Ecologia da ação: Morin propôs dois princípios para a ecologia da ação, que Lise Laférière ampliou para três: a) O nível de eficácia ótima de uma ação se situa no início do seu desenvolvimento; b) a ação não depende só da intenção ou intenções de seu autor: depende também das condições peculiares do ambiente no qual ela acontece; c) a longo prazo, os efeitos das ações são imprevisíveis. Tudo isso significa que, ao interagir com os múltiplos fatores do ambiente, uma ação está sujeita à aleatoriedade, à imprevisibilidade e à incerteza próprias desse ambiente. Em outras palavras, ela está sujeita a múltiplas variáveis. A ecologia da ação se baseia na observação de que o curso da história não é linear. A não-linearidade histórica é uma manifestação da complexidade, que inclui a ordem, a desordem e a organização. Isso significa que, como observa Morin, toda ação está sujeita ao determinismo mas também está sujeita ao acaso. Como disse o historiador Fernand Braudel, os homens fazem a Historia, a História os arrasta. 20 Tetragrama Organizacional A ordem estabelecida, em função de aspectos do acaso, desintegra-se, desordenando seu estado original e é a partir dessa desordem que se inicia o processo de transformação e o sistema se organiza novamente. Então é a cooperação do paradoxo ordem-desordem que promove a organização. O conceito de ordem transcende a antiga idéia determinista de estabilidade, permanência, imutabilidade e constância. Sustenta-se a idéia das interações mútuas, o que significa que nada existe sem influências (internas e externas) e sua interdependência. Morin (1996: 204) analisa esse tetragrama quando diz que ele “... permite-nos conceber que a ordem do universo se autoproduz, por meio das interações físicas que produzem organização, mas também desordem”. Finalizando, diz que “A necessidade de pensar, em conjunto, as noções de ordem, de desordem e de organização na sua complementaridade, concorrência e antagonismo, nos faz respeitar a complexidade física, biológica e humana. Pensar não é servir às idéias de ordem ou de desordem, é servir-se delas de modo organizador e, às vezes, desorganizador, para conceber nossa realidade”. (1996: 231) (grifo nosso) 21 Recusas Fundamentais 1. Recusar a separação entre a razão e a emoção, entre ciência e arte. 2. Assumir as implicações da recusa: tensão entre as relações 3. Recusar que o Estado é o único balizador dos movimentos do conhecimento cientifico. Você tem que recusar a separação entre a razão e a emoção. Por exemplo: recusar a separação entre ciência e arte, entre ciência e mito, que está incrustada no pensamento ocidental pelo menos desde Descartes. Essa é a primeira recusa. A segunda você tem que assumir e recusar. Assumir as implicações da recusa que há entre o singular e o universal, o local e o global, o sujeito e o objeto. Há sempre uma relação de tensão entre o local e o global, não há nunca uma relação de total harmonia. São opostos que se juntam, mas precisa ser entendida dessa maneira. Muitas vezes nós tendemos a isolar os opostos. Como os opostos que seriam irreconciliáveis. O pensamento complexo nos ensina a assumir a tensão: entre o singular e o universal, entre o global e o local, o individual e o coletivo. Assumir a tensão, mas tentar fazer com que se estabeleça um canal de comunicação entre esses dois elementos. Em outras palavras: o que era aparentemente considerado como posto pode dialogar entre si. A terceira recusa, talvez seja a mais complicada, é aquela que diz que precisamos recusar que o estado é o único balizador do conhecimento científico. Há outras instituições que o fazem, que não seja o Estado, e por vezes o fazem muito melhor. O Estado é regido por normas, padrões, por religiosidades. Então, assumir que o Estado não é o único balizador dos movimentos do conhecimento cientifico. Se você junta essas três modalidades, acopla essas três modalidades aos saberes você produzirá currículos muito mais criativos. Você poderia pensar que não seria estranho, por exemplo, numa escola ao invés de filosofia, por exemplo, você ter uma disciplina denominada a Filosofia da Incerteza. Nada impede que você ensine uma disciplina com o nome de Fundamentos da Condição Humana, nada impede que você tenha uma disciplina que diga Indeterminações da Terra Pátria. 22 Prigogine Sistemas longe do equilíbrio Prigogine estudou sistemas químicos não lineares…afastados do equilíbrio, onde a instabilidade e desordem…levam a novos modos comportamentais novos padrões de interação e assim – novas estruturas. Ele mostrou que instabilidade, desordem e imprevisibilidade constituem a base no desenvolvimento de novas…e complexas formas de organização. — Estes sistemas são estruturas dissipativas feitas de uma variedade de ‘subsistemas’ – interagindo não linearmente interna e externamente. Estruturas Dissipativas Sua teoria das ‘estruturas dissipativas’ é tida como o elo perdido que ‘re-une’ biologia à física e química. A exclusão dos compostos estritamente físico- químicos da categoria de seres vivos, a partir de agora, deve-se apenas a critérios convencionais, como os que definem ‘vida‘, pela ocorrência de células em reprodução. Prigogine estudou sistemas químicos não lineares…afastados do equilíbrio, onde a instabilidade e desordem…levam a novos modos comportamentais…novos padrões de interação…e assim – novas estruturas. Ele mostrou que instabilidade, desordem e imprevisibilidade constituem a base no desenvolvimento de novas…e complexas formas de organização. — Estes sistemas são estruturas dissipativas feitas de uma variedade de ‘subsistemas’ – interagindo não linearmente interna e externamente. 23 Maturana e Varella A realidade emerge para nós a partir de nossas distinções Daí vem a noção de “acoplamento estrutural”, também desenvolvida por Maturana e Varela. O ser vivo, para manter sua organização, precisa estar em um permanente estado de congruência com o ambiente em seu entorno. O mundo vivo constitui-se, assim, de uma grande comunidade com variadas formas de vida, todas em um contínuo estado de interação, em diversas ordens de organização, cujos comportamentos afetam-se mutuamente (ser vivo e meio) e, assim, vão estabelecendo consensos contextuais que garantem a coexistência e a evolução de todos os integrantes dessa imensa rede que é a comunidade de biodiversidade na qual estamos inseridos. Como diz Maturana, “o que define uma espécie é o seu modo de vida, uma configuração de relações variáveis entre organismo e meio”. Somos unidades autopoiéticas estruturalmente O termo “autopoiese”, que vem do grego poiesis, referente à produção, significa autoprodução. Foi utilizado pela primeira vez no mundo acadêmico em 1974, em um artigo escrito por Maturana, Varela e Ricardo Uribe(PhD em cibernética pela Universidade Brunel, Londres) para explicar como os seres vivos produzem continuamente a si mesmos. Como diz Maturana, a autopoiese é o “centro da dinâmica constitutiva dos seres vivos”. Os organismos vivos, desde o nível dos componentes celulares às comunidades de seres vivos, são, desse modo, sistemas autônomos que se autoproduzem e se autorregulam. Entretanto, paradoxalmente, eles também são dependentes, pois precisam recorrer aos recursos disponíveis no meio ambiente para manter sua autopoiese. Daí a necessidade do pensamento complexo (que abraça as contradições) para compreendermos conceitos que melhor explicam a complexidade inerente ao mundo real. 24 A linguagem é constitutiva Talvez a principal contribuição de Maturana para a ciência tenha sido a ampliação do entendimento do que seja conhecimento e realidade e qual a relação entre eles. Maturana concebe que a vida, em suas mais variadas formas, trata-se de um processo de conhecimento entrelaçado com a realidade. Nas palavras dele, “todo ato de conhecer faz surgir um mundo”. Assim, a realidade na qual cada indivíduo vive é o que ele constrói a partir da sua percepção, ou seja, da sua visão de mundo ou modelo mental, ao mesmo tempo em que esta mesma realidade também retroage sobre o indivíduo, construindo-o. Convencionou-se chamar esse campo de estudo de biologia da cognição. Aliás, o que Maturana revelou pela fenomenologia biológica, nomes como Nietzsche já intuíam pela via da filosofia, quando enunciou: “Contra o positivismo, que para perante os fenômenos e diz: ‘Há apenas fatos’, eu digo: ‘Ao contrário, fatos é o que não há; há apenas interpretações’. Não podemos constatar nenhum fato ‘em si’: talvez seja um disparate querer algo assim. Tudo é subjetivo.” Lembrando que Nietzsche, como grande parte dos notáveis de sua época, era um pensador mais próximo da visão patriarcal, mas com bons insights não patriarcais. Afinal de contas, por mais brilhante que seja uma mente em sua capacidade de compreensão da complexidade do mundo real, não há como escapar totalmente dos condicionamentos patriarcais estando imerso em um modo de vida que assim se sustenta. Dizer que cada indivíduo produz o mundo e por ele é produzido, num processo recursivo e circular, vai de encontro com a ideia ainda hoje predominante chamada representacionismo, na qual há uma realidade objetiva independente do observador, que constitui a base da cultura patriarcal. Nela, o mundo já é algo pré-dado em relação à experiência humana, que nos faz adotar uma atitude passiva diante da realidade. É assim que opera, por exemplo, a visão econômica de mundo, hoje, hegemônica, que nos impõe como verdade a ideia de que o mundo é um grande mercado regido pela competição, meritocracia, consumo e acumulação, por meio da qual se procura justificar que não há outra forma de sociabilidade que não seja a que nós vivemos atualmente, que tem como centralidade o capital. 25 Senso Comum Maturana sustenta, com base em estudo de registros fósseis de 3,5 milhões de anos, que a origem do humano está no surgimento da linguagem e no seu entrelaçamento com a emoção, a qual constitui a base das ações humanas, ao contrário do que pensa o senso comum que dá centralidade à razão e à objetividade nas nossas ações, entendimento que constituiu a base do desenvolvimento da ciência moderna, surgida nos séculos XVI e XVII na Europa. Como ele mesmo diz, “todo sistema racional tem um fundamento emocional”. No entanto, “pertencemos a uma cultura que dá ao racional uma validade transcendente, e ao que provém de nossas emoções, um caráter arbitrário.” Maturana também sustenta que, do ponto de vista biológico, a aceitação do outro é o que dá origem ao social como acontece em qualquer comunidade de seres vivos. Entretanto, não é isso que ocorre entre os humanos. As sociedades humanas funcionam a partir de uma dinâmica de comportamentos forçados, que é o padrão da cultura patriarcal, na qual se sustenta a visão econômica de mundo. Esse padrão de comportamento foi reforçado ainda mais pelo chamado darwinismo social, que traz a noção de que o mundo é uma grande arena, ideia concebida pelo filósofo, biólogo e antropólogo inglês, Herbert Spencer, por alguns considerado o profeta do capitalismo laissez-faire, que cunhou a expressão “sobrevivência do mais apto”. Essa é uma versão da teoria evolutiva da seleção natural, não aceita totalmente pelo próprio Darwin, que ultrapassou o domínio da biologia, e estendeu-se até o âmbito cultural.
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