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REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL - OSTETTO Ao escrever sobre o cotidiano vivido com as crianças, o professor cria espaço para refletir sobre seu fazer, abre possibilidades para avaliar o caminho pedagógico planejado, redefinindo passos ou reafirmando o caminhar. O exercício do registro diário oportuniza, de maneira ímpar, a articulação entre aspectos teóricos e práticos implicados na ação docente, entre conquistas realizadas e desafios mapeados, entre o projetado e o concretizado. Sobretudo: ao registrarem e refletirem sobre o conteúdo registrado, professoras e professores, apropriando-se de sua história, ensaiam autoria. Forma de seus registros Blocão: é uma espécie de álbum formado por folhas de cartolina A3, no qual vão sendo anotadas as histórias, descobertas e experiências vivenciadas pelos grupos. Nele também podem ser fixadas fotografias e outras produções das crianças, como desenhos e pinturas, representativas dos projetos desenvolvidos. Com características de um grande caderno, por vezes é pendurado na parede, feito um quadro, ao qual as crianças facilmente podem recorrer para olhar ou consultar o conteúdo registrado. O blocão, todavia, não é um portfólio, que só ao final de um período letivo é organizado. Sua principal característica é justamente a cotidianidade: ele vai sendo composto no decorrer dos dias, em diferentes momentos, ao longo do ano. Mapa conceitual: parte de um conjunto de orientações que sustentam a prática pedagógica da os mapas conceituais configuram caminhos e possibilidades para a proposição de experiências, considerando um tema inspirador geral, definido a cada ano para o coletivo da instituição. Um mapa conceitual, segundo identifiquei nos princípios delineados e nas práticas observadas, pode ser compreendido como ponto de partida para o planejamento, e sua estruturação pauta-se na ideia de que os conhecimentos se desenvolvem em rede e devem contemplar o interesse e a participação ativa das crianças. Mapa conceitual traduz uma maneira de pensar e organizar o projeto pedagógico, traçar caminhos, planejar. Identifico, na prática e no exercício de criação dos mapas conceituais na busca do coletivo por superar a tendência histórica na educação infantil e planejar a “hora da atividade”, rompendo com a fragmentação da ação pedagógica, integrando redes de interesses em diálogo com as crianças. Os documentos-mapas que foram encontrados no processo da pesquisa indicam esse caminho, que vai sendo trilhado e ampliado na reflexão coletiva, à medida que o caminho se faz. Relatórios: Os relatórios (de cada criança e do grupo), elaborados semestralmente, nascem da observação diária registrada nos cadernos da dupla de professoras, blocos de notas e blocões, culminando em uma narrativa que pretende revelar processos de desenvolvimento e aprendizagem das crianças em grupo, contando também a respeito do trabalho planejado e desenvolvido pelas professoras e da proposta da escola. Alguns relatórios trazem transcrições das falas das crianças, descrevendo situações do cotidiano, e apontam as impressões das professoras em contextos específicos, de modo que a ação de escrever ganha vida, sentimentos, emoções e identidade. Os murais A organização dos painéis que observamos ao andar pelos diversos espaços, corredores e salas da Umei Rosalda Paim transmite mensagens sobre o projeto pedagógico da instituição, declara a ideia de criança que fundamenta sua prática. Nos registros que compõem a organização dos murais, identifica-se a valorização das produções das crianças. Basta entrar e olhar ao redor as marcas das crianças, clara e belamente informadas. A busca de comunicação com os pais também fica evidente. A intencionalidade na montagem dos murais em exposição evidencia-se no tipo de suporte e na forma adotada: tecidos, papelão, plástico transparente que admite a sobreposição de outros tantos materiais sem danificar a pintura da parede. Na composição dos painéis não se vê, por exemplo, E.V.A. (emborrachados), material tão comum nas instituições de educação infantil (e tão frio, e tão pobre!). Os espaços não são simples arranjos físicos; são também arranjos conceituais e simbólicos; constituem-se em campos semânticos nos quais e com os quais aqueles que os habitam estabelecem determinados tipos de relações, emoções, atitudes. Como qualquer outra linguagem, o espaço é um elemento constitutivo do pensamento e, portanto, converte-se em ação pedagógica indireta, requerendo atenção. Dessa forma, os materiais utilizados e as imagens pregadas nas paredes de creches e pré-escolas não são neutros; portam um discurso, contam histórias e, tal qual um texto visual, denotam leituras e modulam os modos de ver (Cunha 2005). Educação Infantil – Zilma de Oliveira O desenvolvimento humano é um processo de construção • Segundo ela, o desenvolvimento humano não decorre da ação isolada de fatores genéticos que buscam condições para o seu amadurecimento nem de fatores ambientais que agem sobre o organismo, controlando seu comportamento. Decorre, antes, das trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o outro. Como todo organismo vivo, o humano inscreve-se em uma linha de desenvolvimento condicionada tanto pelo equipamento biocomportamental da espécie quanto pela operação de mecanismos gerais de interação com o meio. • Dessa perspectiva, não há uma essência humana, mas uma construção do homem em sua permanente atividade de adaptação a um ambiente. Ao mesmo tempo em que a criança modifica seu meio, é modificada por ele. Em outras palavras, ao constituir seu meio, atribuindo-lhe a cada momento determinado significado, a criança é por ele constituída; adota formas culturais de ação que transformam sua maneira de expressar-se, pensar, agir e sentir. Dois autores interacionistas: Vygotsky e Wallon • VYGOTSKY Segundo Vygotsky, a construção do pensamento e da subjetividade é um processo cultural, e não uma formação natural e universal da espécie humana. Ela se dá graças ao uso de signos e ao emprego de instrumentos elaborados através da história humana em um contexto social determinado. Enquanto os animais agem e reagem à natureza de uma forma sensorial instintiva, o homem extrapola suas capacidades sensoriais pelo uso de instrumentos construídos por meio do trabalho coletivo no qual interage com outros homens. Vygotsky criou o conceito de zona de desenvolvimento proximal. A noção de zona de desenvolvimento proximal refere-se à distância entre o nível de desenvolvimento atual do indivíduo (ou seja, sua capacidade de apresentar uma ação independentemente de pistas externas — compreendendo, portanto, funções já amadurecidas) e a capacidade de responder orientado por indicações externas a ele (ou seja, baseada em funções em processo de amadurecimento) • Segundo Wallon, toda pessoa constitui um sistema específico e ótimo de trocas com o meio. Tal sistema integra suas ações num processo de equilíbrio funcional que envolve motricidade, afeto e cognição, mas no qual, em cada estágio de desenvolvimento, uma forma particular de ação predomina sobre as outras. A avaliação na educação infantil • A avaliação do desenvolvimento infantil deve atuar como recurso para auxiliar o progresso das crianças. Graças às informações que o processo avaliatório lhe oferecer, o professor poderá sentir-se seguro a respeito da forma como as situações de aprendizagem foram organizadas ou perceber a necessidade de modificá-las. A avaliação educacional requer um olhar sensível e permanente do professor para compreender as crianças e responder adequadamente ao “aquie-agora” de cada situação. Perpassa todas as atividades, mas não se confunde com aprovação/reprovação. Sua finalidade não é excluir, mas exatamente o contrário: incluir as crianças noprocesso educacional e assegurar-lhes êxito em sua trajetória por ele.
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