Prévia do material em texto
Profª. Maria Cristina da Silva Mendonça São Luis, 1º Semestre/2012 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CURSO DE AGRONOMIA DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA E FITOSSANIDADE DISCIPLINA: AGRICULTURA GERAL PROF. MARIA CRISTINA DA SILVA MENDONÇA PROPAGAÇÃO – MERGULHIA MERGULHIA Processo pelo qual um ramo é estimulado a enraizar, sem que seja inicialmente separado da planta-mãe, mediante estabelecimento de condições especiais no local desejado para que ocorra a formação de raízes. Após enraizamento o ramo é então separado da planta-mãe passando ater vida independente. Esta separação é comumente chamada de desmame (SILVA, 1985). Esse método é um dos mais simples, apresentando a mais alta porcentagem de enraizamento, porém de pouca aplicação na multiplicação comercial, por ser de baixo rendimento. Seu uso restringe-se a amadores ou aos casos em que a estaquia de algumas espécies falha (Simão, 1998). É um processo geralmente usado na obtenção de plantas que dificilmente se enraízam por meio de ramos destacados (estaquia) (Pádua, 1983) e produção de mudas de grande tamanho em curo espaço de tempo. A mergulhia é especialmente interessante para propagar espécies com grande dificuldade de formação de raízes. Pode ser um método natural de multiplicação ou pode ser induzido artificialmente em muitos tipos de plantas. CARACTERISTICAS 1. Trabalhoso, demorado e caro. 2. Número reduzido de mudas obtidas. 3. Problema de transplantio em algumas espécies. 4. Enraizamento fácil. Profª. Maria Cristina da Silva Mendonça São Luis, 1º Semestre/2012 2 FORMAÇÃO DAS RAÍZES DURANTE A MERGULHIA É estimulada pela interrupção do fluxo de substâncias orgânicas (carboidratos, hormônios e outros fatores de crescimento) procedentes das folhas e gemas em desenvolvimento, provocadas por tratamentos prévios, contes longitudinais, realizado no ramo. A interrupção da livre passagem destas substâncias determina um rápido acumulo das mesmas às proximidades da área atacada, favorecendo o desenvolvimento e crescimento das raízes no local. O mecanismo fisiológico acionado para o enraizamento é semelhante ao que ocorre na estaquia (SILVA, 1985). FATORES QUE AFETAM A REGENERAÇÃO DE PLANTAS POR MERGULHIA 1. NUTRIÇÃO Os caules a ser enraizado continuam sendo supridos com água e nutrientes através do xilema intacto. O floema é geralmente interrompido, com anelamentos, incisões ou flexões do ramo. Neste ponto haverá acumulo de carboidratos. Sendo assim é importante uma nutrição adequada e elevada atividade fisiológica da planta- mãe. 2. FUGA DE “STRESS” - ÁGUA O vegetal deve continuar recebendo água, nutrientes e carboidratos, mas possui um problema no que diz respeito à neblina devendo ser evitados, pois favorece a lixiviação de nutrientes e metabólicos. 3. TRATAMENTOS DE CAULE – INTERRUPÇÃO DO FLOEMA A formação de raízes adventícias é induzida por vários tratamentos que causam a interrupção de translocação de materiais orgânicos (água, auxinas e outros fatores de crescimento) das folhas e gemas. Estes materiais se acumulam acima do ponto de tratamento induzindo o enraizamento. Por outro lado interrompem a subida de possíveis inibidores de enraizamento (compostos fenólicos). Os tratamentos são: anelamento, cortes, incisões, entorses, flexão do ramo. Profª. Maria Cristina da Silva Mendonça São Luis, 1º Semestre/2012 3 4. EXCLUSÃO DA LUZ Eliminação da parte do caule onde as raízes são formadas. È um processo natural quando cobre-se a parte anelada ou quando enterramos a parte da planta que foi feita a mergulhia. O enraizamento depende, em grande escala, da ausência da luz. Branqueamento: cobertura de um ramo inteiro já formado. Estiolamento: efeito produzido quando o ramo se desenvolve e se alonga na ausência da luz. 5. CONDIÇÕES FISIOLÓGICAS A iniciação de raízes depende de determinadas condições fisiológicas do açule associadas com a época do ano que muitas vezes esta associada com o movimento de carboidratos e outras substancias em direção das raízes ao fim de um ciclo sazional de crescimento. 6. REJUVENECIMENTO Realizada com o tipo de mergulhia em tronco ou cepa, onde a planta é cortada próxima ao solo; brotações são mais juvenis e enraízam melhor. Ferimentos no tronco e raízes da planta estimulam brotações na base da planta. 7. USO DE REGULADORES DE CRESCIMENTO Utiliza-se: AIB, ANA, AIB + ANA. TIPOS DE MERGULHIA (SIMÂO, 1998) Mergulhia Simples: normal, invertida Contínua: chinesa, serpenteada, cepa Alporquia No solo No Alto Profª. Maria Cristina da Silva Mendonça São Luis, 1º Semestre/2012 4 Fonte: Matos (1976) citados por Paiva e Gomes, 2001). 1. No solo A mergulhia é feita no solo, em plena terra ou em vaso, quando os ramos das espécies são flexíveis e de fácil manejo. A esses ramos dá-se o nome de mergulho e ao processo, o nome de mergulhia. O ramo, em qualquer um dos processos de mergulhia, deve ser anelado, com um anel de mais ou menos 2 cm, e pode ser tratado com auxina (Simão, 1998). 1.1 Mergulhia tipo simples a) Mergulhia simples normal O ramo a enraizar é dirigido no sentido do terreno, deste ramo a ser propagado, devem-se retirar as brotações laterais e as folhas que se encontram entre 10 e 60 cm da extremidade, depois o ramo é encurvado para o solo e aí enterrado a uma profundidade de 10 a 15 cm, deixando-se, em média, os últimos 25 cm do ramo emergentes (Browse, 1979, citado por Paiva e Gomes, 2001). Para manter o ramo nessa posição, fixa-se um tutor na sua proximidade. A época ideal para se utilizar este processo é, normalmente, no princípio da primavera, usando-se gemas dormentes, de um ano de idade, de ramos baixos e flexíveis, que podem-se dobrar facilmente até o solo. Como regra geral, os ramos de mais de um ano não são indicados para se fazer a mergulhia (Hartmann e Kester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001). A parte que permanece sob o solo emite raízes e forma uma planta. b) Mergulhia simples invertida Na modalidade simples invertida, o ramo tem sua extremidade superior enterrada no solo, para que enraíze. Neste caso, em virtude de as gemas estarem em posição invertida, o desenvolvimento da planta é menor, com curvaturas nas folhas e menor porte (Mattos, 1976, citado por Paiva e Gomes, 2001). Nesse processo, o ramo é puxado para baixo e sua extremidade é enterrada no solo a cerca de 10 cm de profundidade, o mais próximo possível da planta-mãe, para que cresça na vertical. Para facilitar a permanência do Profª. Maria Cristina da Silva Mendonça São Luis, 1º Semestre/2012 5 ramo nesta posição, sugere-se um tutor (Browse, 1979, citado por Paiva e Gomes, 2001). 1.2 Mergulhia tipo contínua a) Mergulhia contínua chinesa Na modalidade contínua chinesa, o ramo é enterrado ao longo do seu comprimento, ficando à mostra apenas a extremidade apical. O sucesso deste método depende do fato de as gemas voltadas para cima crescerem e do enraizamento correspondente na face voltada para baixo (Mattos, 1976, citado por Paiva e Gomes, 2001). É semelhante à mergulhia simples normal, com a diferença de se poder obter várias novas plantas de uma única, dependendo do interesse e do tamanho do ramo-mergulho.Para que o ramo fique em contato com o solo, faz-se um sulco com profundidade aproximada de 30 cm (Simão, 1998). b) Mergulhia contínua serpenteada Na modalidade contínua serpenteada, a colocação do ramo compreende uma alternância de entradas e saídas do solo, permitindo a formação de mudas normais e invertidas, além de dar ao conjunto um aspecto de serpentina (Mattos, 1976, citado por Paiva e Gomes, 2003). Este processo possibilita a obtenção de plantas normais e invertidas simultaneamente (Simão, 1998). c) Mergulhia tipo cepa A mergulhia de cepa leva em conta a capacidade de enraizamento estar ligada à juventude da planta. Nesta modalidade, faz-se uma poda pouco acima do nível do solo (poda drástica do tronco), para forçar a emissão de novas brotações a partir de gemas adventícias e dormentes. Em seguida à brotação, é feita uma amontoa sobre a cepa, para obter o enraizamento das brotações (Mattos, 1976, citado por Paiva e Gomes, 2001). Profª. Maria Cristina da Silva Mendonça São Luis, 1º Semestre/2012 6 2. No alto A mergulhia aérea ou alporquia é uma das técnicas mais antigas para se proceder artificialmente à propagação vegetativa, foi utilizada na China há mais de mil anos (Browse, 1979, citado por Paiva e Gomes, 2001). É empregada nos casos em que o ramo, por não possuir comprimento suficiente ou por não ser flexível, não consegue ser dirigido até o solo. Nesse caso, transporta-se o solo até ele. Atualmente, o processo é empregado em grande escala na floricultura, na obtenção de plantas enfolhadas. O ramo a ser enraizado é envolvido por uma mistura de terra, areia, matéria orgânica ou, de preferência, por esfagno. Esse substrato deve proporcionar ao ramo coberto boa aeração, umidade e temperatura moderada, esses materiais podem estar contidos em vasos, panos ou sacos plásticos. Estes últimos mostram-se mais favoráveis ao enraizamento (Simão, 1998). Vários autores, citados por Paiva e Gomes (2003) dizem que normalmente faz-se alporquia em ramos de um ano, nos quais se eliminam as brotações laterais em cerca de 15-30 cm antes da gema terminal. Em seguida, faz-se uma incisão anelar no ramo, de modo que o fluxo de carboidratos, auxina e outras substâncias de crescimento, originadas das folhas e gemas, acumule-se na região onde se pretende realizar o enraizamento e, em geral, a uma distância aproximada de 25 cm antes da extremidade. Podem-se colocar os ácidos indolbutírico, indolacético, o naftalenoacético ou o ácido 2,4-diclorofenoxiacético no ponto lesionado, para favorecer o enraizamento. PREPARO DE RAMOS E FORÇAMENTO 1. Antes da mergulhia: Os ramos devem ser preparados antes de entrar em contato com o solo. As operações consistem na desfolha e em anelamentos, incisões ou torções na parte que ficará enterrada. Após ser enterrado, o ramo é mantido preso ao solo por um tutor ou forquilha. 2. Depois da mergulhia: Profª. Maria Cristina da Silva Mendonça São Luis, 1º Semestre/2012 7 Os ramos-mergulhos, após determinado tempo, enraízam e devem ser separados da planta matriz. A separação pode ser feita de uma só vez ou gradualmente. A essa operação dá-se o nome de desmame. O desmame gradual tem por finalidade a redução lenta da alimentação da nova planta, de modo a forçá- la a nutrir-se de sua próprias raízes. Uma separação brusca pode secar a planta, principalmente quando ela não se encontra ainda suficientemente enraizada (Simão, 1998). MODIFICAÇÕES DE PLANTA RESULTADO EM MERGULHIA NATURAL 1. ESTOLHO (Runners) Caule especializado que se desenvolve da axila de uma folha na coroa de uma planta, cresce horizontalmente na superfície do solo e forma uma nova planta em um dos nós. Ex.: Morango – tem uma planta a cada dois nós 2. ESTOLHÕES Caules modificados que crescem horizontalmente no solo (superfície ou subsolo). Podem ser: a) Caules prostados: crescem a uma superfície do solo. Ex.: menta b) Caules subterrâneos: enraízam em contato com o solo. Ex.: batata inglesa 3. REBENTOS (Offsets) Brotações enraizadas da base do caule de certas plantas. Possuem o caule encurtado, engrossado em forma de roseta e enraízam em contato com o solo. Ex.: abacaxi, banana. 4. REBENTO DE RAIZ (Sucker) Ramo que surge numa planta abaixo da superfície do solo, ramo que surge de uma gema adventícia numa raiz (mais precisamente). Na prática, são chamados “sucker”, também ramo que surge na vizinhança da coroa, embora originados de tecidos do caule. OBSERVAÇÂo: Off set ou Offshort – rebento de caule Sucker – rebento de raiz Profª. Maria Cristina da Silva Mendonça São Luis, 1º Semestre/2012 8 OBSERVAÇÂo: Rebento – é enraizado Filhote – não é enraizado 5. COROA Parte da planta na superfície do solo da qual novas brotações surgem. Numa árvore com ramo único é o colo (zona de transição entre a raiz e o caule). Em plantas herbáceas perenes a coroa é a parte da planta da qual novos caules surgem anualmente. A coroa de herbáceas perenes consiste de muitos ramos, cada um sendo a base do caule da estação de crescimento o qual se originou no ano anterior. Raízes adventícias se desenvolvem na base dos novos ramos. A coroa pode se tornar muito grande em poucos anos, sendo necessária uma divisão para se evitar um amontoado de brotações. BIBLIOGRAFIA HARTMANN, H.T.; KESTER, E.DALE. Plant Propagatuio: Principles And Practices. 1997. SIMÃO, Salim. Tratado de Fruticultura.Piracicaba: FEALQ. 1998. GOMES, Raimundo Pimentel. Fruticultura Brasileira. São Paulo;Ñobel, 1983.