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APS – Atividade Prática Supervisionada APS – Atividade Prática Supervisionada Centro de Ciências Jurídicas e Sociais - CJS ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DO MURO NA FRONTEIRA ENTRE ESTADOS UNIDOS E MÉXICO E SEUS DESDOBRAMENTOS. Marina Cesa, Marina Panisson, Ronei Stocco. Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário da Serra Gaúcha - FSG Professor Supervisor da APS Professora Dra. Flavia Carolina de Resende Fagundes Resumo A fronteira que divide o México e Estados Unidos é marcada por uma constante onda de migrações ilegais, vindas excepcionalmente do México em direção ao território americano. Tais migrantes trazem consigo o objetivo de tentar melhores condições de vida no país visto que, o México enfrenta diversos atritos econômicos e sociais. Diante disso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cogitou a possibilidade de construção de um muro na fronteira entre os dois países, com o intuito de barrar o processo migratório visto prejudicial pelos americanos. Tal posicionamento vem gerando inúmeros debates no cenário internacional. No decorrer do presente artigo, será realizada uma análise da possível construção do muro entre a fronteira mencionada, bem como seus desdobramentos caso o mesmo seja construído. Através de pesquisa bibliográfica serão tratados os embates entre os dois países abordando questões como os Direitos Humanos e o narcotráfico. Palavras-chave: Fronteiras, Narcotráfico, Imigrações. 1. INTRODUÇÃO Desde Roma Antiga, nenhuma nação tem tanto destaque e elevação acima de outras quanto os Estados Unidos, Estado o qual Joseph S. Nye Jr. classifica como colossal, faz com que “o atual sistema internacional erige-se não em torno do equilíbrio de poder, mas em torno da hegemonia americana.” (KEGAN; KRISTOL, 2000). Isso se dá porque os Estados Unidos “dominam a indústria, o comércio e as comunicações; sua economia é a mais bem-sucedida do planeta, seu poderio militar não conhece rival.” (The Economist, 1999). Se considerarmos o histórico do país, é notável que a nação americana sempre foi adepta de diversas alianças ao decorrer da história, em especial durante a Guerra Fria, com as APS – Atividade Prática Supervisionada alianças em combate ao comunismo. Todavia, tais alianças tendem a privilegiar os interesses americanos. Isso ocorre, por que, segundo Ricupero: “A explicação mais evidente para essa exceção na tendência de perseguir os interesses nacionais por meios unilaterais de poder é que, no fundo, apesar de perderem uma parada aqui ou ali, esses interesses continuam a ser bem servidos por um sistema multilateral de comércio do qual a primeira potência econômica do mundo é a principal beneficiária.” (RICUPERO, 2002). Defensor dos seus interesses, os Estados Unidos sempre se posicionaram no sistema internacional mostrando grande poder. A definição desse poder, de acordo com Nye, é demonstrada a partir da “posse de quantidades relativamente grandes de elementos tais como população, território, recursos naturais, vigor econômico, força militar e estabilidade política. ” (NYE, 2002). Aliado a esses fatores, para obter-se um poder consolidado, o Estado necessita dispor também de líderes capazes, para que uma política seja elaborada de forma coerente e funcional, que saiba utilizar das capacidades estatais de forma adequada. Historicamente, o poder era caracterizado pelas capacidades bélicas dos países. Posteriormente, no século XIX, a capacidade industrial começou a ganhar cada vez mais importância. Já no século XX, os Estados Unidos e a União Soviética passaram a dispor dos dois fatores anteriores, somados à capacidade nuclear. Entretanto, a capacidade nuclear mostrou-se inviável após a Guerra Fria, quando ficou aparente que, apesar de altamente destrutiva, só seria usada em casos extremos, já que as armas são custosas e inviáveis para conflitos amenos. Com as mudanças sociais, no cenário atual, nota-se que o emprego da força não é mais a medida mais adequada, já que acarreta em consequências para as metas econômicas das grandes potências atuais. Pode-se dizer então que os Estados Unidos adotam uma visão liberal no que diz respeito à economia, já que praticam abertamente o livre-comércio com diversos países. Segundo o OEC (Observatory of Economic Complexity), no ano de 2017, os Estados Unidos exportaram 2,16 trilhões de dólares, tendo como principais países de destino dessas exportações México, Canadá, China, Japão e Alemanha. Entretanto, na questão de posicionamento em relação às políticas sociais, em especial à sua política migratória, o país adota uma postura isolacionista, principalmente na contemporaneidade, com a ideia da construção de uma barreira física contra o México. Apesar de ser uma nação formada por imigrantes e ter tido a sua política migratória liberal institucionalizada a partir de 1965, os Estados Unidos atualmente tem encontrado dificuldades relacionadas ao grande número de imigrantes que têm entrado no país nos APS – Atividade Prática Supervisionada últimos anos. Parte das dificuldades podem ser atribuídas à resistência de parte conservadora da população branca dominante em aceitar a entrada, especialmente, de latinos e asiáticos e essa resistência acaba tornando-se cobrança ao governo por uma política migratória mais restringida, o que gera um desafio aos governantes em conciliar os princípios democráticos com a proteção da sociedade e a integridade da cultura local. Os questionamentos que ficam, então, e que queremos esclarecer no desenrolar deste artigo, são: por que os Estados Unidos, a potência hegemônica mundial, com todo seu comércio e desenvolvimento consolidado, teme tanto a imigração, especialmente por parte dos Mexicanos? A não construção do muro acarretaria em resultados maléficos, visto que o país tem obtido até agora, majoritariamente, sucesso? Quais seriam os impactos se esse plano de Trump se consolidasse? 2. POSICIONAMENTO DE DONALD TRUMP Com a postura protecionista de Trump, as opiniões se dividem e várias polêmicas sobre as medidas propostas durante a eleição de 2016 surgem. A frase “Make America Great Again” marcou a campanha eleitoral de Donald Trump e, desde que o mesmo foi eleito, tem tomado as decisões que considera necessárias para pôr os Estados Unidos em primeiro lugar. “A campanha de Trump foi baseada em três pilares: fechamento do comércio, ou seja, protecionismo; controle de imigração, a partir de uma política de identidade, nacionalismo e preservação de cultura; e isolacionismo internacional, baseado na ideia de que os Estados Unidos pagam a conta para proteger e intervir em outros países.” (CUKIER, 2016) A exemplo disso tem-se a saída do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, em 2017, argumentando que o acordo traz desvantagens para os Estados Unidos, beneficiando outros países; a aplicação de tarifas a produtos da China, que decide retaliar aplicando tarifas em produtos dos Estados Unidos em US$ 50 bilhões, dando inicio a uma guerra comercial; a saída do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, sendo justificada acusando o Conselho de ser tendencioso e de aceitar países que são acusados de abusos dos direitos humanos; a decisão de não assinar o pacto global de imigração, visto que enfrenta uma crise migrat ria; a saída do Acordo Transpacífico de Cooperação Econ mica (TPP) e a Renegociação do NAFTA. Em vista destas atitudes, o governo americano tem sido acusado por outras nações de estar se isolando do resto do mundo e especialistas acreditam que se o fechamento fronteiriçode fato ocorrer, o resultado será um cenário de instabilidade mundial. APS – Atividade Prática Supervisionada A proposta de Trump para a construção do muro na fronteira sul do país alcançaria um custo de mais de US$ 5,7 bilhões, com o objetivo de conter uma crise de segurança. O muro deverá contar com 1600 quilômetros, visto que o restante da fronteira entre México e Estados Unidos já é marcado por barreiras naturais, não sendo necessária a construção de um muro. O atual presidente ainda afirma que o México pagará pela construção do mesmo, direta ou indiretamente. (BBC NEWS, 2019) Com o orçamento exorbitante, e com a representatividade dos democratas na Câmara dos Deputados, sendo a maioria, tal orçamento não foi aprovado. Os democratas acreditam que a construção de um muro não é a solução. A democrata Nancy Pelosi, Presidente da Câmara dos Representantes, diz que “o muro é uma imoralidade. [...] Não se trata de um muro entre Estados Unidos e México, mas sim um muro entre a realidade e seu eleitorado”. Krauze, citado por Zarzalejos, afirma que “[...] o núcleo xen fobo, fascista que o apoia não é minoritário, mas muito maior do que pensávamos, porque há um substrato racista que não queríamos ver, ou se a, que faça o que faça, apoiaria a Trump, além do Senado e do Congresso, mas, felizmente, contra Trump, sempre contamos com o pr prio Trump”. (KRAUZE, apud ZARZALEJOS, 2017). Esta disputa entre a Casa Branca e os parlamentares democratas sobre o muro na fronteira com o México resultou na paralisação parcial do governo. Trata-se da paralisação mais longa da história, durando mais que a paralisação de 1995, durante o governo de Bill Clinton, que durou 21 dias. Esta paralisação afetou diversos setores ditos não essenciais do país, são cerca de 800 mil funcionários que deixaram de receber salários, impactando na economia. Considerando estes impactos, em janeiro deste ano, o presidente assinou um acordo pondo fim à paralisação durante três semanas com o objetivo de que os congressistas chegassem a um consenso sobre os custos com a construção do muro, ameaçando declarar emergência nacional caso o financiamento não fosse aprovado, e de fato foi o que ocorreu, não cessando a disputa. O Senado logrou derrubar a medida do presidente e o mesmo logrou vetar a decisão do Senado. A Câmara, no entanto, não logrou derrubar o veto de Trump. (THE WASHINGTON POST, 2019). Vale destacar que essa atitude por parte de Donald Trump tem gerado discussões a fim de esclarecer a justificativa do presidente, pois com esse gasto estrondoso com a construção do muro na faz-se necessário explorar o histórico da relação entre ambos os países. APS – Atividade Prática Supervisionada 3. RELAÇÕES MÉXICO VERSUS ESTADOS UNIDOS Maior potência mundial do pós - Guerra Fria, os Estados Unidos exercem uma grande influência no sistema internacional, o que não seria diferente em relação ao México. Com uma fronteira de 3.141 quilômetros de extensão, os vizinhos México e Estados Unidos compartem uma histórica relação, que tem como elemento constante a desconfiança (BERNAL-MEZA, 2007; MANAUT, 2006). De acordo com Rincones (2004), antes de 1846, o território mexicano se estendia até os atuais estados estadunidenses de Califórnia, Arizona, Novo México e Texas; no entanto, através da conquista por meio de conflito da região do Texas e da compra por uma quantia irrisória da região da Califórnia, Arizona e Novo México, realizada por meio do Tratado de Guadalupe Hidalgo, o México perdeu mais da metade de seu território aos Estados Unidos, e assim, se constituiu a fronteira atual entre os dois países. A partir dos governos desenvolvimentistas mexicanos no século XX, a histórica desconfiança entre os vizinhos foi administrada por meio de uma troca de garantias. Enquanto os Estados Unidos não interviessem na democracia mexicana e em sua autonomia externa, o México garantiria sua estabilidade interna no sentido de não perturbar a segurança nacional dos Estados Unidos. (NADDI, Beatriz, 2015). De acordo com Schiavon (2006), essa troca de garantias é fundamental e preponderante na relação entre México e Estados Unidos até os dias de hoje, pois quanto mais o México garantir sua estabilidade e a segurança de sua fronteira norte, maior será sua margem de soberania; por outro lado, “se não se garante esta estabilidade e segurança, os Estados Unidos pressionaram o governo mexicano para que modifique suas políticas de acordo a estas prioridades” (SCHIAVON, 2006). A fronteira entre os dois países é a 10ª maior do mundo dividindo dois países com idioma, cultura, economia e política distintas, sendo ao sul um país emergente de cultura latina e com uma industrialização tardia e à norte um país anglo-saxão com potência econômica, política e militar. Alguns elementos são indispensáveis para realizar uma análise da dinâmica fronteiriça. O primeiro deles é a formação histórica do limite entre México e Estados Unidos, com o uso dos fatos históricos que determinaram a delimitação atual da divisa, visto que a fronteira é explorada atualmente por meio da descrição física, ideológica e de seus problemas. Por meio da descrição física, se realiza uma apresentação técnica da região focando-se na análise das cidades fronteiriças e suas respectivas características populacionais. Já por meio da descrição ideológica, a fronteira é analisada com base nas diferenças culturais e APS – Atividade Prática Supervisionada ideológicas entre Estados Unidos e México, que influenciam a percepção que cada população tem da outra; ao mesmo tempo em que se estabelece um contraponto no tocante da relação entre os povos fronteiriços destes dois países. Em seguida, um subcapítulo se dedica a descrever e explorar os problemas presentes na região, como as atividades ilícitas do contrabando e narcotráfico, e a influência da securitização do terrorismo para a região. (NADDI, Beatriz, 2014). Vale ressaltar também, que além dessas questões de âmbito social e político existe a questão econômica que facilita a dinâmica na região, pelo fato de existir uma facilidade maior no que diz respeito a trocas comerciais e financeiras entre ambos sem deixar de lado o principal resultado de tal dinâmica econômica e política é a questão das imigrações que tem como efeito principal a xenofobia. 3.1 QUESTÃO IDEOLÓGICA Atualmente, ao estar nos Estados Unidos ou no México, é comum serem expressadas as palavras “mexicans” e “gringos”, respectivamente. Estas palavras comumente utilizadas nos respectivos países são formas explícitas da fronteira ideológica existente entre estes dois países atualmente. Esta fronteira ideológica, destacada pelas divergências históricas, econômicas e culturais entre México e Estados Unidos, exerce um papel complicador de inserção, interação e integração das populações destes dois Estados. (ZUNZUNEGUI, 2014). Por conseguinte, a discriminação começa a ocorrer no século XX através da não aceitação da maioria dos mexicanos nas escolas públicas estadunidenses e até pelo estabelecimento de dias específicos para o uso de piscinas públicas por parte de mexicanos e afrodescendentes. Tal conjuntura contribuiu à imagem dos estadunidenses como raça superior à dos mexicanos, imagem esta, por sua vez, sustentada pelo uso do Soft Power (NYE, 2002) em filmes que carregam tal caráter de superioridade dos estadunidenses e inferioridade dos mexicanos (GARCÍA, 2008). Por outro lado, na zona fronteiriça entre México e Estados Unidos não se observa de maneira contundente essa fronteira ideológica por diversas circunstâncias que Martínez (1994:10) denomina como“ambiente fronteiriço”, indicando […] a totalidade de características e processos que separam as fronteiras de outras regiões do país, dentro das quais ocupam um lugar destacado as interações transnacionais, os conflitos internacionais e étnicos e seus respectivos processos de negociação. (RINCONES, 2004, p.3) APS – Atividade Prática Supervisionada 4. PROBLEMAS DA FRONTEIRA Segundo Nadi e Beluci (2014), o maior símbolo da divisão e tensão da região é o muro construído pelos Estados Unidos na fronteira com o México. Para os Estados Unidos, a maior utilidade da fronteira é a de manter a soberania por meio de um sistema de forte fiscalização com objetivo de barrar, além da imigração ilegal, as atividades ilícitas, como o narcotráfico e o contrabando, e o terrorismo. Desta forma, tais elementos se constituem como os principais problemas na região da fronteira México - Estados Unidos. (NADI; BELUCI, 2014). De maneira geral, as atividades ilícitas se caracterizam como um grande problema para ambos os lados. No âmbito do narcotráfico, o principal atingido por tal são os Estados Unidos, que promovem e investem em uma enorme quantidade de programas de controle fronteiriço e aparato institucional com o fim de barrar tais atividades ilícitas tanto advindas do próprio México, quanto as que usam o território mexicano como porta de entrada aos Estados Unidos, como é o caso do narcotráfico colombiano. (MENDOZA, 2001). É importante destacar que o México é bastante vulnerável ao contrabando, à medida que o mesmo facilita a chegada de armamentos ao território que é disponibilizado por grupos de narcotráfico, onde acaba resultando em um fortalecimento dos mesmos. Outro problema que deve ser levado em conta é a questão do terrorismo, que se tornou uma preocupação entre a fronteira dos países mencionados, excepcionalmente por parte do governo estadunidense que se tornou mais apreensivo após o atentado de 11 de setembro de 2001 às torres gêmeas. A partir disso, houve um aumento da vigilância e proteção fronteiriça com grande número de agentes patrulheiros de fronteira, gerando uma região militarizada. 5. EFEITOS DA IMIGRAÇÃO MEXICANA PARA OS ESTADOS UNIDOS A imigração causa reflexos e consequências tanto para o local de origem do imigrante, quanto ao destino do mesmo. Estes reflexos modificam, assim, as condições socioeconômicas, políticas e culturais em ambos os lados, chegando a influir até mesmo nos níveis familiar e pessoal. Com base nesta premissa, se analisam os efeitos da imigração de mexicanos no próprio México e também os efeitos destes mesmos mexicanos imigrantes nos Estados Unidos, tomando como critérios os efeitos demográficos, econômicos e sociais. (NADI; BELUCI, 2014). Levando em consideração que a população imigrante é em sua maioria jovem, em idade potencialmente reprodutiva, as regiões de destino se rejuvenesce, enquanto que o local APS – Atividade Prática Supervisionada de origem do imigrante envelhece por permanecer, majoritariamente, a população anciã. Isso significa que nos Estados Unidos, aumenta a taxa de natalidade em relação à de mortalidade, ocorrendo, assim, um fenômeno inversamente proporcional no México. (CONAPO, 2010, p. 21). O fen meno da imigração também gera as chamadas “famílias transnacionais”, que se caracterizam por ter membros da família que vivem do outro lado da fronteira e que podem passar um longo período longe do núcleo familiar, gerando, portanto, um tipo de relacionamento diferente dos padrões familiares da sociedade. Em relação aos efeitos econômicos, percebe-se que um dos maiores benefícios da imigração de mexicanos aos Estados Unidos para o México são as remessas de dinheiro enviadas pelos imigrantes à suas famílias que seguiram em território mexicano. Estas remessas são de suma importância até mesmo para a sobrevivência e a manutenção da qualidade de vida pelo menos básica, já que em muitos casos, as remessas são a única fonte de renda dessas famílias. (CONAPO, 2010, p. 22) Ao se analisar os reflexos econômicos gerados pelos imigrantes mexicanos nos Estados Unidos, percebe-se que o discurso de que a imigração tende a elevar a taxa de desemprego e a reduzir os salários dos trabalhadores é relativa ou falsa, isso porque, a mão de obra mexicana no mercado de trabalho dos Estados Unidos se concentra em trabalhos de baixa remuneração, que nem mesmo os nativos aceitam exercer, como afirma a análise feita pela CONAPO (2010). Além dos efeitos sociais refletidos, a imigração acelerada de jovens para os EUA acaba por fazer com que o México perca a oportunidade em investir, principalmente em educação, fazendo com que o país careça de mão de obra qualificada e de profissionais preparados para o mercado de trabalho. A parcela reduzida de pessoas qualificadas que buscam os EUA como destino, acarreta o aumento da “fuga de cérebros” que é aproveitada pelo país americano em função de melhores salários oferecidos, bem como, maiores oportunidades para crescimento profissional. APS – Atividade Prática Supervisionada 5.1 NARCOTRÁFICO Se voltarmos no tempo pouco mais de 100 anos, nos deparamos com uma realidade entre Estados que não compreendia a preocupação e prevenção contra narcóticos. A pauta sobre as drogas não era abordada, pois ainda não existia fortemente o tráfico e o consumo, portanto este tema não era ainda tratado como um problema. Entretanto, a Conferência de Haia, de 1912, [...], produziu o primeiro tratado internacional nesse campo, que, no entanto, ainda não proibia a produção, venda e consumo de qualquer substância – tampouco obrigava seus signatários a fazê-lo –, mas estabelecia uma inaugural intervenção sobre questões, até então, desregulamentadas. (RODRIGUES, 2012). À época, as pautas pairavam sobre o “uso recreativo” e a defesa do “uso médico”, á que os psicoativos principais eram o ópio e a morfina. As discussões entre médicos e autoridades dos Estados Unidos, Américas, Ásia e Europa geraram o argumento de que o controle desses psicoativos deveria ser enfrentado de forma rigorosa, visto que esses alimentavam um problema de saúde pública. Além disso, a aversão à algumas substâncias foi influenciada e potencializada por terem vínculos delas e determinados grupos de imigrantes e/ou minorias étnicas. Na contemporaneidade, o México atua, além de produtor, como território de passagem para a distribuição de drogas para os Estados Unidos. De acordo com o Departamento de Estado, 90% de toda a cocaína que entra nos Estados Unidos chega através do México ou de suas águas territoriais, e um pequeno número de organizações de tráfico de drogas mexicanas controlam as mais significativas operações de distribuição de droga na fronteira, tendo expandido seu domínio sobre o mercado norte-americano em detrimento de outras organizações criminosas, em especial das colombianas (US State Department, 2010). (BERNARDI, 2010). Apesar da reivindicação da construção do muro ser na fronteira com o México, vale reforçar que o narcotráfico não é proveniente somente deste país. Segundo o National Drug Intelligence Center, quem domina o mercado de drogas nos Estados Unidos são os cartéis mexicanos. Mas, de acordo com José Luis Vasconcelos, vice-procurador-geral da república do México em 2006, são os colombianos que detêm o controle do tráfico. Como dito anteriormente, desde o início da abordagem sobre o controle de narcóticos, a questão migratória é salientada. Apesar de prover mão-de-obra e auxiliar na movimentação da economia americana, a população mexicana e também toda a população centro-americanaque tenta buscar melhorias de vida em um país desenvolvido são barradas nas fronteiras, já APS – Atividade Prática Supervisionada que os imigrantes, de forma generalizada, historicamente, tem sido taxados como influenciadores no processo de tráfico. No dia 22 de outubro de 2007, os presidentes do México, Felipe Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN), de centro-direita, e George W. Bush, dos Estados Unidos, anunciaram um programa de cooperação bilateral chamado Iniciativa Mérida, voltado ao combate do narcotráfico e das organizações criminais transnacionais envolvidas nesse lucrativo negócio e em outras atividades delitivas como o tráfico de armas e de pessoas. O programa era fruto de uma proposta que o presidente mexicano havia feito a Bush em março daquele ano na cidade mexicana de Mérida, Yucatán, e seu objetivo era melhorar e fortalecer as capacidades do Estado mexicano na luta contra o narcotráfico e o crime organizado, com o que se esperava aumentar a estabilidade e segurança do país. (BERNARDI, 2010). Ademais, o objetivo do governo mexicano com a Iniciativa Mérida era o de que os Estados Unidos reconhecessem sua corresponsabilidade frente ao tema do narcotráfico, em razão da demanda por narcóticos, do tráfico de armas e da lavagem de dinheiro que, originados em seu território, alimentam a ação dos cartéis mexicanos. (BERNARDI, 2010). Considerando estes fatores, observa-se que a cooperação e esforços entre México e Estados Unidos, que demonstra um passado de colaboração regada por desconfiança, em relação a esforços ligados à diminuição da oferta, do consumo e da potência psicotrópica das drogas ainda são muito pequenos visto o tamanho da demanda a ser combatida - somado ao aumento da violência acarretada por essa “guerra contra as drogas” - que não tem demonstrado os resultados esperados. A Iniciativa Mérida, junto da estratégia militarizada de combate frontal do governo mexicano tem então, mostrado dificuldades para lidar com este problema, falhando em oferecimento de treinamento e equipamentos para as forças de segurança mexicana. 6. VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS NA FRONTEIRA É sabido que os Estados Unidos são formados por imigrantes, no entanto as novas correntes migratórias enfrentam hostilidade, principalmente durante crises econômicas, políticas ou mesmo durante guerra. Como exemplo disso pode-se citar o período pós 11 de setembro, que gerou uma maior atenção sobre grupos de muçulmanos e árabes. Em 2002 foi criado o chamado Sistema de registros de entradas e saídas do território nacional (National Security Entry-Exit Registration System – NSEERS, na denominação original em inglês), sistema de registro de não cidadãos dentro do país. Era exigido que homens e meninos de países predominantemente árabes e de maioria muçulmana fossem ao escritório de imigração APS – Atividade Prática Supervisionada para serem entrevistados e fotografados. O programa foi extinto em 2011, pois se comprovou ineficaz no combate ao terrorismo. (DAKWAR, 2016) Com as políticas de imigração impostas nas últimas décadas, a fronteira do México com os Estados Unidos tem sido palco para diversas violações de direitos humanos. Estas violações não existem somente no governo de Trump, mas no governo de Obama já se viam agravadas as violações que eram cometidas durante o governo Bush. A questão do narcotráfico e segurança interna dos países da América Central é fator determinante para explicar o fluxo migratório. Conforme mencionado anteriormente, a fronteira entre México e Estados Unidos não tem fluxo somente de cidadãos mexicanos. A imigração de crianças e adultos hondurenhos e salvadorenhos se dá, pois o temor violência da região em que vivem é maior que o temor ao tra eto até os Estados Unidos. De acordo com o anco Mundial, Honduras, Guatemala e El Salvador estão entre os países mais pobres na América Latina. Sassen ainda afirma que, “A fronteira sul do México se tornou o terrível Mediterrâneo para essas crianças desacompanhadas da América Central (e também para os adultos). Elas acabam na cadeia, são agredidas, perdem membros, morrem. [...] Dados dos EUA mostram que, em junho de 2015, crianças desacompanhadas continuaram chegando aos EUA, [...] Tudo isso sugere que a violência nos seus países de origem continua a ser o motivo para a partida dessas crianças e que nem mesmo a longa viagem de trem, que é chamado de La estia (“A esta”), ou a polícia mexicana são completos impedimentos.” (SASSEN, 2016) O direito internacional dos direitos humanos garante proteções especiais s crianças migrantes, incluindo a re eição explícita da detenção e estabelece o direito de acesso a um advogado e a uma audiência udicial para avaliar os pedidos de refúgio. No entanto, isto é violado na fronteira dos EUA com o México á que a maior parte dos imigrantes é detida e rejeitada com ordem de deportação, sem poder reivindicar. Atualmente, o governo americano tem sido alvo de críticas por conta da precariedade da situação em que as crianças são mantidas na fronteira dos Estados Unidos. Elas ficam na “Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA” (Customs and order Protection - CBP), dormindo em colchonete com apenas uma folha de papel alumínio para se aquecer durante a noite e,sem direito a produtos de higiene pessoal. Muitas delas já se encontram doentes por conta do ambiente em que se encontram. Apesar disso, o posicionamento dos “oficiais de Trump afirmam que os migrantes detidos não precisam de camas, escovas de dente ou sabonetes” (DAKWAR, 2016; THE WASHINGTON POST, 2019). APS – Atividade Prática Supervisionada 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao concluirmos o presente artigo, é possível trazer a tona que o processo migratório oriundo do México com destino para os Estados Unidos não é recente. O Muro do México vem sendo reforçado por todos os governos, em maior ou menor escala de interesse, desde a sua materialização. As relações entre Estados Unidos e México são mais afetadas pela retórica anti-imigração ilegal, que estremece a diplomacia entre os países, do que propriamente pela ilegalidade de seus imigrantes, que chegam a ser protegidos por parte da população nas “cidades-santuário”, pois “ á constituem parte fundamental da sociedade” (COSTA, 2017 Apud CUNHA, 2010). No que tange às promessas de Trump, o professor Carlos Eduardo Siqueira, do Community College of Public & Community Service de Massachusetts University, afirma que seu discurso tinha um público específico com o slogan Make America Great Again. Para Carlos, fazer a América grande novamente “significa voltar a dar prioridade e prestígio maioria branca”; o que nos leva a mais uma conclusão: a construção do muro é mais do que uma demarcação fronteiriça, é um delimitador entre países do chamado “Norte desenvolvido” com o “Sul subdesenvolvido” (COSTA, 2017 Apud PENA 2017). As fronteiras, parcialmente patrulhadas devido à sua grande extensão, somadas às políticas para conter a imigração ilegal, controlam, mas não as impede de ocorrer. Ademais, mesmo ainda sendo o destino de muitos que querem viver o “sonho americano”, a imigração ilegal vem diminuindo porque “a economia americana entrou em crise depois de 2008 [...] e o México também oferece melhores oportunidades hoje do que no passado” (COSTA, 2017 Apud ESTADÃO; CHACRA, 2016). Vale ressaltar também que o narcotráfico que ocorre entre a fronteira mencionada é uma preocupação constante dos Estados Unidos, visto que o México é um grande produtor e distribuidor de drogas para o território americano, principalmente cocaína, e é justamente por isso que a questãomigratória vem sendo salientada frequentemente. Outro fator que causa certa divergência, é a questão dos Direitos Humanos, que através das políticas impostas nas ultimas décadas tem sido palco de uma série de violações, estas presentes desde o governo Bush. Conforme mencionado no decorrer do artigo, a fronteira entre México e Estados Unidos não tem fluxo somente de cidadãos mexicanos, mas também de crianças e adultos hondurenhos e salvadorenhos, visto que o temor à violência da região em que vivem é maior que o temor ao trajeto até os Estados Unidos. APS – Atividade Prática Supervisionada Diante disso, a sociedade internacional aguarda quais serão as novas estratégias adotadas pelos dois países diante dos problemas presentes caso o plano de Trump seja efetivado e, ao mesmo tempo, permanecerá cautelosa caso surgirem possíveis desafios futuros sobre o tema. APS – Atividade Prática Supervisionada 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERNARDI, Bruno Boti. A Guerra Mexicana contra o Narcotráfico e a Iniciativa Mérida: Desafios e Perspectivas. 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