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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA 
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E 
LICENCIAMENTO AMBIENTAL (POLÍTICAS 
PÚBLICAS) 
 
 
 
 
 
 
ESPÍRITO SANTO 
 
 
2 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A 
SUSTENTABILIDADE 
 
O Brasil vem buscando, por meio de políticas públicas claras, incentivar 
a criação de instrumentos que promovam o envolvimento de empresas e da 
sociedade no trabalho de constituição de um sistema sustentável, principalmente 
do ponto de vista das mudanças de atitude. Muito disso é resultado das necessidades 
indicadas pela iniciativa privada. 
Um exemplo de medida eficiente é transformar em regras as boas práticas 
empresariais, nas suas diversas searas – seja no modo de produção, seja na 
substituição de recursos naturais –, consolidando-as como padrão geral. E os meios 
que podem ser utilizados para transformar boas práticas em normas são a 
regulamentação pública e a autorregulação setorial, muitas vezes utilizadas 
conjuntamente. 
Nesse sentido, a indução de políticas públicas utilizaria as organizações já 
comprometidas com pelo menos parte das mudanças necessárias como apoio ao 
engajamento do mercado em que estão inseridas, provocando ações estruturais que 
resultariam em alterações relevantes nos perfis da produção, do consumo e da 
distribuição de renda. 
Considerando um objetivo mais abrangente, a adoção de políticas públicas 
representa ampliar o leque contributivo das ferramentas já criadas pelas próprias 
empresas para promover avanços concretos na implantação de uma nova economia, 
equilibrando o patamar das práticas de Responsabilidade Social Empresarial. 
Além disso, as políticas públicas devem prever que práticas voltadas para o 
desenvolvimento sustentável, que já produzem algum resultado, devem ser 
identificadas e reconhecidas, de forma que o ciclo de investimentos e de 
desenvolvimento de ações positivas permaneça sempre em atividade. 
Políticas públicas são ações governamentais no nível federal, estadual e 
municipal com objetivo de desenvolver o bem coletivo. No caso ambiental incentivam 
um desenvolvimento sustentável com menor impacto ao meio ambiente. As políticas 
públicas podem ser desenvolvidas em parcerias do governo com a sociedade, através 
 
 
3 
 
de ONGs e mais recentemente com a iniciativa privada. As leis de incentivos são uma 
prova disso. 
Cabe ao Estado propor ações preventivas diante de situações de risco à 
sociedade por meio de políticas públicas. No caso da questão ambiental, os interesses 
são diversos, e com uma extensa pauta, o governo segue regulando, criando leis e 
fiscalizando. 
Nem sempre, a política e a urgência da questão ambiental andam no mesmo 
compasso. Haja visto a nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos que tramitou 19 
anos antes de ser aprovada recentemente pelo Congresso. Mas, este é apenas um 
dos temas de interesse difuso em pauta. 
 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A 
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO 
BRASIL 
 
 
No Brasil, a devastação da biodiversidade, como consequência direta da 
devastação de seus recursos naturais, em geral, não foge ao que se vê no mundo 
como um todo: segundo dados do GEO Brasil 2002, analisando os dados da área total 
de florestas naturais remanescentes no Brasil, com os dados da população obtidos na 
contagem de 1996 do Censo 2001 do IBGE, visualizamos a baixíssima estimativa da 
superfície florestal por pessoa na Região Sudeste que é de 0,30 há por habitante. 
A taxa de extinção de vertebrados e plantas vasculares é de 50 a 100 vezes 
maior do que a taxa natural de extinção esperada, podendo chegar a 10 mil vezes. 
Por estas questões levantadas e com a assinatura da Convenção sobre 
Diversidade Biológica em 1992, no Rio de Janeiro, e posterior ratificação pelo 
Congresso Nacional, o Brasil viu-se obrigado a adotar medidas que visassem à 
 
 
4 
 
conservação e uso sustentável da biodiversidade, e a repartição justa e equitativa dos 
benefícios de sua utilização ou dos conhecimentos tradicionais associados. 
O órgão brasileiro responsável pela adoção destas medidas é o Ministério do 
Meio Ambiente, o qual atua através de sua Diretoria do Programa Nacional de 
Conservação da Biodiversidade, desenvolvendo projetos que contam com recursos 
do Tesouro Nacional e de entidades internacionais como o Fundo para o Meio 
Ambiente Mundial. 
Visando à implementação da CDB, o governo brasileiro criou o Programa 
Nacional da Diversidade Biológica, ou PRONABIO, por meio do Decreto n 1.354, de 
29 de dezembro de 1994, e iniciou negociações com o Fundo para o Meio Ambiente 
Mundial - GEF para receber recursos de doação para criação de um projeto que 
apoiasse este programa. Tal decreto criou também sua Comissão Coordenadora com 
a finalidade de coordenar, acompanhar e avaliar as ações do PRONABIO. 
Em virtude da assinatura do Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002, que 
instituiu a chamada Política Nacional da Biodiversidade, o PRONABIO teve de ser 
modificado para atender a novos princípios e diretrizes. 
A Política Nacional da Biodiversidade, instituída por decreto, estabeleceu 
princípios e diretrizes norteadores das ações de conservação, adotando, em geral, 
aqueles estabelecidos na Convenção sobre Diversidade Biológica e na Declaração do 
Rio, ambas de 1992, na Constituição e na legislação nacional vigente sobre a matéria. 
Tem como objetivo geral a promoção, de forma integrada, da conservação da 
biodiversidade e da utilização sustentável de seus componentes, com a repartição 
justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, de 
componentes do patrimônio genético e dos conhecimentos tradicionais associados a 
esses recursos. 
A Política Nacional da Biodiversidade é constituída por cinco elementos, e 
respectivos objetivos específicos, sendo que tais componentes devem ser 
considerados como eixos temáticos que orientarão as etapas de desenvolvimento 
desta política. São esses componentes (i) o conhecimento da biodiversidade, (ii) a 
conservação da biodiversidade, (iii) utilização sustentável dos componentes da 
biodiversidade, (iv) monitoramento, avaliação, prevenção e mitigação de impactos 
 
 
5 
 
sobre a biodiversidade e (v) acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos 
tradicionais associados e repartição de benefícios. 
Com a assinatura de um acordo de doação entre o governo brasileiro e o BIRD, 
com vigência até dezembro de 2005, foi possível o repasse de verbas para a execução 
do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica 
Brasileira – PROBIO. Tal projeto é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente em 
parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – 
CNPq, o qual como gestor administrativo contrata os subprojetos e libera recursos. 
 O PROBIO, que tem por objetivo identificar ações prioritárias, através do 
estímulo de subprojetos que promovam parcerias entre os setores público e privado, 
gerando e divulgando informações e conhecimentos sobre o tema, é o mecanismo de 
auxílio técnico e financeiro na implementação do PRONABIO. 
A Secretaria de Biodiversidade e Florestas, uma das cinco secretarias do 
Ministério do Meio Ambiente, procura atuar de forma temática, ou seja, focando suas 
ações nos grandes temas que, juntos, compõem o que poderia ser entendido como 
conservação da biodiversidade. Desta forma, atualiza listas de espécies silvestres 
ameaçadas de extinção e estabelece regras para seu manejo assim como de 
espécies exóticas invasoras e polinizadores, elabora diagnósticos e indicadores 
sensíveis
de mudanças climáticas, fomenta o conhecimento de plantas medicinais e 
aquelas conhecidas como do futuro. 
Através de sua Diretoria do Programa Nacional de Áreas Protegidas, procura 
atuar também de forma temática, e hoje há um grande esforço no sentido da 
elaboração de um Plano Nacional de Áreas Protegidas, o qual abarcaria questões 
como unidades de conservação, terras indígenas, áreas quilombolas, áreas de 
preservação permanente e reservas legais. 
 Por outro lado, através da sua Diretoria de Conservação da Biodiversidade, a 
Secretaria procura atuar nos diversos biomas brasileiros, identificando e avaliando as 
áreas e ações prioritárias para conservação e utilização sustentável de seus recursos. 
Ainda no âmbito dos biomas, realizou workshops, com a participação do setor 
acadêmico, setor empresarial, ONGs ambientalistas e movimentos sociais. 
 Graças a essas ações conduzidas pela Diretoria de Conservação da 
Biodiversidade, foi publicado um mapa das áreas prioritárias para atuação do 
 
 
6 
 
Ministério e suas autarquias vinculadas, todas essas ações visando à conservação da 
biodiversidade. 
Por fim, deve-se salientar que o Decreto nº 4.703, de 21 de maio de 2003, 
modificou a estrutura do PRONABIO, ampliando seu escopo, suas atribuições e a 
representação de sua Comissão Coordenadora, que passou a ser denominada 
Comissão Nacional da Biodiversidade. 
Uma das principais mudanças que o novo decreto trouxe foi à inclusão, na 
Comissão Nacional da Biodiversidade, de representações dos povos indígenas, da 
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Associação Brasileira 
das Entidades Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA). 
Todas as ações do PRONABIO devem ser aprovadas pela Comissão Nacional 
de Biodiversidade – CONABIO, segundo o artigo o artigo 6º, do Decreto nº 4.703/2003. 
Compete a esta Comissão promover a implementação dos compromissos assumidos 
pelo Brasil junto à CDB, bem como identificar e propor áreas e ações prioritárias para 
a conservação e uso sustentável dos componentes da biodiversidade. 
 
 
PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO 
AMBIENTE 
 
O meio ambiente, direta ou indiretamente, vem sendo tutelado no Brasil desde 
as Ordenações Afonsinas, com uma intensa produção legislativa nesta área na 
década de sessenta1. 
No ano de 1981, entrou em vigor a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente2, 
importante marco na história da proteção ambiental brasileira, a partir do qual o meio 
ambiente passa a ser protegido de maneira integral, vale dizer, como sistema 
ecológico integrado (resguardam-se as partes a partir do todo), com autonomia 
valorativa (é, em si mesmo, bem jurídico) e com garantias de implementação 
 
1 Entre tais documentos legais, pode-se citar o Código Florestal de 1965, os Códigos de Caça, Pesca e Mineração, 
surgidos em 1967, mesmo ano da Lei 5.318 (Política Nacional de Saneamento). 
2 Lei n. 6.938/81. 
 
 
7 
 
(facilitação do acesso à Justiça). Antes disso, a tutela era dispersa (assegurava-se o 
todo a partir das partes). 
Afastando-se da metodologia de seus antecessores legislativos, a Lei n. 
6.938/81 não só estabeleceu os princípios, objetivos e instrumentos da Política 
nacional do Meio Ambiente, como ainda incorporou, de vez, no ordenamento jurídico 
brasileiro o Estudo de Impacto Ambiental, instituindo, ademais, um regime de 
responsabilidade civil objetiva para o dano ambiental, sem falar que lhe coube conferir 
ao Ministério Público, pela primeira vez, legitimação para agir nessa matéria. 
Com idêntica filiação holística, é aprovada, em 1998, a Lei dos Crimes contra o 
Meio Ambiente (Lei 9.605/98), concluindo o círculo da regulação legal (que agora é 
administrativa, civil e penal). 
Somente na década de 70 é que os sistemas constitucionais começaram a 
reconhecer o ambiente como valor a merecer tutela especial. Foi assim com as novas 
constituições dos países que saiam de um regime ditatorial, como, numa primeira leva, 
Grécia, Portugal e Espanha, e posteriormente, numa segunda onda, Brasil. 
Ainda hoje, importantes sistemas jurídicos, aí se incluindo os Estados Unidos, 
protegem o meio ambiente sem contar com apoio expresso ou direto na Constituição. 
A despeito disso, razões várias (como a equiparação com os demais direitos 
fundamentais e o reforço da obrigação jurídica de os poderes públicos respeitarem o 
meio ambiente) recomendam a constitucionalização do ambiente, podendo ser essa 
considerada uma tendência mundial, o que certamente foi percebido ao constituinte 
brasileiro de 1988. 
A análise do constitucionalismo brasileiro indica que foi somente no texto de 
1988 que se estabeleceu, de maneira específica e geral, a proteção ao meio ambiente. 
De fato, se, por um lado, normas de viés ambiental não são novidades em nossas 
constituições, por outro, nenhum outro texto constitucional havia antes demonstrado 
de forma tão clara a importância da defesa do meio ambiente para nossa sociedade. 
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a trazer todo um capítulo dedicado 
ao meio ambiente, complementado por outros dispositivos esparsos que, de forma 
direta ou indireta, cuidam também da matéria. 
A norma básica, de caráter fundamental, está posta no caput do art. 225: “Todos 
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo 
 
 
8 
 
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade 
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. 
Esse direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado tem como titulares, 
diz a norma, todos, vocábulo que, por não estar, de forma clara, qualificado 
homocentricamente, pode referir-se tanto a todos os seres humanos como, numa 
perspectiva mais biocêntrica (e moderna), a todos os seres vivos. 
Da norma constitucional retira-se que são destinatários dos deveres associados 
a esse direito tanto o Poder Público, o Estado, como ainda a coletividade, ou seja, 
cada um dos seres humanos, individual e socialmente considerados. 
Preocupada em assegurar a efetividade desse direito, ao mesmo tempo em que 
impôs a todos sanções e a obrigação de reparar os danos causados3, a Constituição 
cominou deveres específicos ao Poder Público: a) preservar e restaurar os processos 
ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; b) 
preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as 
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; c) definir, em 
todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem 
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente 
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos 
que justifiquem sua proteção; d) exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou 
atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, 
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; e) controlar a 
produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que 
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; f) promover a 
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a 
preservação do meio ambiente; g) proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da 
lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção 
de espécies ou submetam os animais a crueldade.4 
No plano constitucional, o dever do Poder Público de proteger o meio ambiente 
também é extraído das normas que definem as competências administrativas e
legislativas das entidades políticas. 
 
3 CF, art. 225, § 2º. 
4 CF, art, 225, § 1º. 
 
 
9 
 
A Constituição não deixa dúvida ao dispor que podem legislar, em matéria de 
proteção do meio ambiente, a União, os Estados e o Distrito Federal. Esses entes 
políticos têm competência legislativa concorrente sobre “florestas, caça, pesca, fauna, 
conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio 
ambiente e controle da poluição”5, bem como sobre “responsabilidade por dano ao 
meio ambiente”6. 
Os municípios, a seu turno, receberam autorização constitucional para “legislar 
sobre assuntos de interesse local”7 e “suplementar a legislação federal e a estadual 
no que couber”8. Em outras palavras, detêm o poder de legislar em matéria ambiental, 
desde que se trate de matéria de caráter local ou, então, para complementar as 
normas jurídicas promulgadas pela União e estados. 
No que tange à competência administrativa (competência de implementação), 
território do poder de polícia, a Constituição atribuiu, de forma comum, à União, 
Estados, Distrito Federal e Municípios o poder-dever de “proteger o meio ambiente e 
combater a poluição em qualquer de suas formas” 9 e preservar as florestas, a fauna 
e a flora”10. 
Após a constitucionalização do Direito Ambiental e do reconhecimento do meio 
ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental 11 , de terceira 
dimensão, transindividual, busca-se agora a realização da tarefa mais árdua, 
consistente na concretização das normas protetivas do meio ambiente. 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS 
AMBIENTAIS 
 
 
5 CF, art. 24, inciso VI. 
6 CF, art. 24, inciso VIII. 
7 CF, art. 30, inciso I. 
8 CF, art. 30, inciso II. 
9 CF, art. 23, inciso VI. 
10 CF, art. 23, inciso VII. 
11 Nesse sentido, o reconhecimento do STF, no julgamento da ADI/MC 3.540, em 01.09.2005, Rel. Min. Celso de 
Mello. 
 
 
10 
 
No tópico anterior apresentou-se uma rápida visão da constitucionalização da 
proteção ambiental e dos deveres instituídos ao Poder Público para a efetivação 
dessa proteção. 
O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de 
que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais 
marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na 
proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. 
Compete, pois, ao Poder Público, concretizar os comandos gerais contidos na 
ordem jurídica e, para isso, cabe-lhe implementar ações, programas e políticas dos 
mais diferentes tipos. No ponto, escreve Eros Grau: “(...) assim, o government by 
policies substitui o government by law”.12 
Essas políticas, denominadas políticas públicas, são conceituadas por Oswaldo 
Canela Junior como “o conjunto de atividades do Estado tendentes a seus fins, de 
acordo com metas a serem atingidas”.13 
Na visão dos autores franceses Y. Mény e J. C. Thoenig, “uma política pública 
se apresenta sob a forma de um programa de ação governamental num setor da 
sociedade ou num espaço geográfico”.14 
É justamente por meio das políticas públicas que o Estado poderá, de forma 
sistemática e abrangente, realizar os objetivos fundamentais previstos no artigo 3º da 
Constituição Federal15, aos quais se acresce o princípio da prevalência dos direitos 
humanos (art. 4º, II, da CF), sobretudo no que diz respeito à concretização dos direitos 
fundamentais que dependam de ações para sua promoção, caso do direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado. 
Impende asseverar que a implementação das políticas públicas ambientais deve 
se dar da forma mais ampla possível, uma vez que a ela estão constitucionalmente 
vinculados todos os órgãos do Estado, inclusive o Judiciário. De fato, considerando 
 
12 Graus, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988 (interpretação e crítica). São Paulo: RT, 
1990, p. 17. 
13 Canela Junior, Oswaldo. Controle judicial de políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 88-89. 
14 Y. Mény e J. C. Thoenig, Politiques publiques, Paris: PUF, 1989. 
15
Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade 
livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e 
reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, 
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 
 
11 
 
que toda atividade política exercida pelos Poderes Executivo e Legislativo deve se 
compatibilizar com a Constituição, caberá ao Poder Judiciário analisar, em qualquer 
situação e desde que provocado, se os atos de governo guardam conformidade com 
os comandos constitucionais de gestão ambiental. 
Desse teor o magistério de Clarissa Ferreira Macedo D’Isep: 
“(...) É do Poder executivo que se extrairá a ideia de políticas públicas 
ambientais como toda iniciativa pública organizada, dotada de planos, metas e 
instrumentos próprios para gerir o meio ambiente (...) do Poder Legislativo advém 
a instrumentalidade normativa, pois é do poder normativo que se extrai o caráter 
impositivo das leis e dos princípios, efeitos da constitucionalização da matéria 
ambiental que conduz à jurisdicionalização das políticas públicas ambientais, o que 
resulta no dirigismo ambiental legal-normativo. Ao Poder Judiciário coube o poder-
dever de controle, o que pode ser dar tanto no âmbito preventivo como no 
repressivo. É o que denominamos dirigismo ambiental judicial.”16 
Tem-se, assim, uma dupla face de concretização do direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado: via formulação e implementação (legislativa e 
administrativa) de políticas públicas e via judicial. 
A seguir, serão examinados a base normativa, os desafios institucionais e os 
principais instrumentos (extrajudiciais e judiciais) para a atuação do Ministério Público 
na implementação das políticas públicas ambientais. 
 
 
PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
NA TEMÁTICA AMBIENTAL 
 
Base normativa 
 
 
 
16 D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. NERY JÚNIOR, Nelson e MEDAUAR, Odete. Políticas Públicas 
Ambientais: estudos em homenagem ao Professor Michel Prieur. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
2009, p. 163. 
 
 
12 
 
O Ministério Público brasileiro desempenha um papel central na proteção do 
meio ambiente, diferentemente de seus similares europeus17, atuando em todas as 
formas de implementação: na preventiva e administrativa – ao instaurar inquérito civil 
preventivo, expedir recomendações ou firmar termos de ajustamento de conduta -, na 
judicial, reparatória ou repressiva – ao propor ação civil pública ou ação penal. 
Pelo menos em tese, o Ministério público já exercia, já de muito tempo, a 
persecutio criminis em matéria de criminalidade ambiental, seja no Código Penal ou 
na Lei das Contravenções Penais. 
No início da década de 1980, quando a doutrina nacional reverberava os 
avanços científicos internacionais relacionados aos direitos difusos e coletivos, coube 
à Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981) 
ampliar os horizontes implementadores da instituição, legitimando o Ministério Público 
a ajuizar ação de responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente, ou 
seja, a defender, num único processo, direito que diz respeito a toda a coletividade18. 
Foi o surgimento da ação civil pública. 
É verdade
que algumas poucas ações civis públicas de caráter ambiental foram 
ajuizadas pelo Ministério Público, com base nessa legislação. Como bem observa 
Hugo Mazzilli, “foi somente depois, com o advento da Lei 7.347/85, que o Ministério 
Público começou efetivamente a trabalhar de forma mais intensa na área ambiental”19. 
Essa mudança na forma de atuação do Ministério Público tem uma explicação 
muito simples: a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347, de 24 de julho de 1985), para 
além de lhe conferir legitimidade para o ajuizamento de ações civis públicas em 
matéria ambiental, confiou-lhe um poderoso instrumento investigatório de natureza 
inquisitiva, a saber, o inquérito civil20. 
A Constituição de 1988, além de dar sede constitucional à legitimatio ministerial, 
a ampliou, fazendo-a valer igualmente para outros interesses transindividuais. Nos 
termos do art. 129, III, da CF/88, entre as funções do Ministério Público está “promover 
 
17 Impende destacar que os Ministérios Públicos da Europa, embora tardiamente, começam a despertar para a 
questão ambiental. A título de exemplo, vale citar o esforço que vem sendo feito pelo Ministério Púnlico português, 
estimulado, no plano da formação, pelo CEJ – Centro de Estudos Judiciários. 
18 Lei 6.938/91. Art. 14, § 1º. (...) “O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação 
de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente”. 
19 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 145. 
20 Art. 8º, § 1º. 
 
 
13 
 
o inquérito civil público e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e 
social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”. 
Finalmente, a Lei 8.078/990 (Código de Defesa do Consumidor), no plano 
processual, estendeu a outros interesses difusos e coletivos (aí se incluindo a matéria 
ambiental) o regramento conferido aos interesses ou direitos dos consumidores; além 
disso, alargou o campo de aplicação da class action brasileira ou, na sua 
nomenclatura, “ação coletiva para a defesa de interesses individuais homogêneos”21, 
permitindo sua utilização também para a proteção do meio ambiente, e introduziu mais 
um instrumento de proteção dos direitos transindividuais: o compromisso de 
ajustamento de conduta. 
Embora a atuação do Ministério Público na proteção ambiental seja 
relativamente recente, é inegável o muito que já se fez, merecendo o modelo brasileiro 
o respeito interno e aplausos internacionais. Em interessante estudo, Sylvia Cappelli 
informa que o Ministério Público é responsável pelo ajuizamento de mais de 90% das 
ações civis públicas na defesa do meio ambiente22. 
Mas é preciso avançar, principalmente na formulação e implementação das 
políticas públicas ambientais, campo em que a atuação ministerial pode ser decisiva 
para a concretização do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
 
 
Necessidade de aprimoramento da atuação institucional 
 
Conforme visto, para o Estado atingir seus objetivos constitucionais, entre os 
quais a proteção ambiental, faz-se necessária a realização de metas, ou programas, 
que implicam o estabelecimento de funções específicas aos Poderes Públicos: o que 
se convencionou denominar “políticas públicas ambientais”. 
Quanto ao Ministério Público, somente influenciará positivamente na formulação 
e implementação dessas políticas se otimizar sua forma de atuação, mediante a 
identificação dos principais problemas, definição de metas, estratégias e sistemas de 
gerenciamento em matéria de implementação ambiental. 
 
21 Arts. 91 a 100. 
22 Ação civil pública ambiental: a experiência brasileira, análise da jurisprudência. Revista de Direito Ambiental, 
ano 9, n. 33, São Paulo: RT, jan,-mar.2004, p. 175. 
 
 
14 
 
Para realizar tal missão, algumas questões precisam ser enfrentadas, todas de 
interesse imediato à realização daquilo que Antônio Herman V. Benjamin denominou 
“Projeto de Implementação Ambiental do Ministério Público”23: 
a) a questão da vontade política: trata-se de algo diferente da vontade 
determinada pela lei. Algo exógeno e não endógeno; algo ainda artificial e visto com 
curiosidade, na melhor das espécies, e com animosidade ou desconfiança, às vezes; 
b) a questão da especialização: se é para seriamente proteger o meio ambiente, 
impende, em primeiro lugar, que os Promotores de Justiça e Procuradores da 
República com atribuições nessa matéria tenham um mínimo de especialização. Um 
Promotor de Justiça ou Procurador da República que acumula atribuições variadas e 
muitas vezes díspares, mesmo quando desafiado por graves problemas ambientais, 
não terá condições de dispensar-lhes a atenção merecida, seja no que se refere à 
preparação do caso, seja no decorrer do processo. A máxima popular alerta que “um 
homem de sete ofícios é um homem sem ofício”. Por outro lado, na proteção do 
ambiente – lógica essa aplicável também a outros interesses supraindividuais, como 
consumidor, improbidade administrativa etc. – a eficiência recomenda que tais 
atribuições sejam delimitadas não pelo enfoque da atividade implementadora em si 
considerada (civil ou criminal), mas pelo bem ou sujeito protegido (meio ambiente, 
consumidor, patrimônio Público etc.);24 
c) a questão da independência: a proteção do meio ambiente, pelos interesses 
econômicos e políticos que movimenta, exige segurança funcional e esta, por sua vez, 
requer a previsão de cargo fixo para o titular do dever-poder de implementação; 
d) a questão da formação: os Promotores de Justiça e Procuradores da república 
precisam ser submetidos a rigoroso e contínuo treinamento ( = formação ou educação 
 
23 Manual Prático da Promotoria de Justiça de Meio Ambiente. São Paulo: Imprensa Oficial do estado de São Paulo: 
Ministério Público do Estado de São Paulo, 2005, p. 88-93. 
24Alguns Estados da Federação implementaram Promotorias Temáticas, em razão de determinado ecossistema ou 
unidade de conservação, alcançando a uma Promotoria atribuição para atuar na área correspondente ao bem 
protegido. Outros, ainda, criaram Promotorias Regionais, onde o Promotor especializado amplia sua atribuição 
para atender as cidades de determinada região que, por suas peculiaridades, indicam a necessidade de concentração 
da atribuição em uma Promotoria, trazendo maior efetividade em razão da especialização do órgão ministerial. 
Outra experiência interessante é a das Promotorias Volantes, que se deslocam para determinada região considerada 
prioritária, por determinada época do ano ou com algum ecossistema importante para atender a demanda 
específica. Normalmente são realizadas inspeções, audiências e compromissos de ajustamento, num esforço de 
atuação periódico e determinado no tempo. Por fim, os núcleos de atuação regionalizada, instituídos a partir das 
Bacias Hidrográficas (caso do GAEMA no Estado de São Paulo). 
 
 
15 
 
dirigida), tanto em questões jurídicas ambientais, como também mas disciplinas que 
cuidam, sob os mais variados enfoques, do tema; 
e) a questão das prioridades: violações há aos milhares, a cada minuto e a cada 
quilômetro, e os recursos do Ministério Público são finitos. Logo, prioridades e 
programas, por meio de um planejamento estratégico, precisam ser, inadiavelmente, 
traçados para que se consiga de cada centavo investido o máximo de eficiência; 
f) a questão do aparelhamento: a problemática ambiental é muito complexa, 
demandando, de conseguinte, a concessão de recursos materiais e técnicos
mínimos 
para que o Promotor de Justiça e o Procurador da República possam identificar, 
analisar e entender as situações com que se defronta. Elementar a esse 
aparelhamento é a constituição de um corpo pericial básico, suficiente para dar os 
primeiros elementos de convicção ao Ministério Público, inclusive facilitando a 
identificação de outros especialistas disponíveis nos mais variados órgãos e 
instituições, uma vez delimitado o problema ambiental em questão; e 
g) a questão do acompanhamento e dos indicadores de implementação: o órgão 
de execução do Ministério, em face das características peculiares da problemática 
ambiental, necessita continuamente de um quadro atualizado e geral de seu objeto de 
trabalho e dos resultados concretos de sua atuação. 
Penso que todas as questões levantadas pelo eminente Ministro do Superior 
Tribunal de Justiça, Antônio Herman Benjamin, constituem um necessário ponto de 
partida para uma atuação mais eficaz do Ministério Público na implementação das 
políticas públicas. 
Diz-se ponto de partida porque o Ministério Público, antes de se tornar um 
importante agente nesse cenário, precisa aperfeiçoar e implementar a sua própria 
política de atuação, cuja legitimidade será proporcional ao grau de participação dos 
membros da instituição, da sociedade organizada e da comunidade científica na 
discussão e elaboração desse plano de ação. 
Por certo que a implementação de um plano de atuação ministerial na 
implementação das políticas públicas dependerá de um aperfeiçoamento da própria 
administração institucional, com maior enfoque no planejamento e no controle dos 
resultados. Aquilo que se convencionou denominar modelo gerencial de 
administração pública, no qual o administrador deve deixar de lado a obsessão pelo 
 
 
16 
 
seguimento de normativas formais e migrar a atenção na direção da sua verdadeira 
missão, é dizer, deve substituir o foco no controle de inputs para o controle 
de outputs e impactos de suas ações, e para isso adotar a administração por 
objetivos25. 
Bem cuidadas essas questões, será perfeitamente possível construir um 
diagnóstico preciso dos principais problemas a serem enfrentados na temática 
ambiental, a partir do qual serão definidas as prioridades da atuação institucional, bem 
como o planejamento estratégico, sem prejuízo de um monitoramento constante dos 
resultados concretos dessa atuação26. 
Nesse cenário, o Ministério Público terá plenas condições de influenciar 
positivamente na formulação e implementação das políticas públicas ambientais, quer 
seja administrativamente (preferencialmente), quer seja judicialmente (quando 
inevitável), o que representará, na prática, um grande salto de qualidade no 
desempenho institucional nessa temática. 
 
 
Instrumentos extrajudiciais para a atuação do Ministério Público 
na implementação de políticas públicas 
 
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do 
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos 
interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, art. 127, caput). 
Para o fiel desempenho de sua missão constitucional, não basta ao Ministério 
Público agir para corrigir atos comissivos da Administração que porventura 
desrespeitem os direitos constitucionais do cidadão; é igualmente necessário agir para 
 
25 OSBORNE, David; GAEBLER, Ted. Reinventing government: how the entrepreneurial spirit is transforming 
the public sector. Reading, MA: Addison-Wesley, 1992. Originalmente, as ideias do modelo gerencial se 
desenvolveram com maior intensidade nos Estados Unidos, quando a abordagem de Osborne e Gaebler foi 
utilizada no programa de governo do partido democrático nas eleições presidenciais de 1992, e posteriormente 
usada como base para o Government performance results act de 1993 e o programa nacional de desempenho da 
administração pública (national performance review) durante a administração Clinton-Gore. 
26 Uma experiência positiva nesse sentido foi a criação do “Núcleo de Políticas Públicas” no Ministério Público 
do Estado de São Paulo, que tem por objetivo definir um plano de ação focado justamente na atuação ministerial 
na implementação de políticas públicas. 
 
 
17 
 
corrigir os atos omissivos, ou seja, para a implantação efetiva de políticas publicadas 
visando a efetividade da ordem social prevista na Constituição Federal de 1988. 
Nesse sentir, o Ministério Público conta com importantes instrumentos 
extrajudiciais e judiciais, que podem e devem ser empregados para o controle da 
omissão administrativa na implementação de políticas públicas ambientais. 
A experiência mostra que a solução extrajudicial dos problemas ambientais, 
notadamente em matéria de implementação de políticas públicas, tem se revelado 
mais eficaz que a via judicial. 
De fato, além dos já conhecidos problemas do Poder Judiciário - morosidade no 
julgamento das demandas, falta de sensibilidade no enfrentamento da temática 
ambiental, incipicente especialização e inconvenientes na produção da prova pericial 
- outros fatores explicam a vantagem de se buscar uma solução extrajudicial para a 
omissão estatal, relegando a judicialização das questões ambientais a segundo plano 
(na hipótese de insucesso extrajudicial). 
Os instrumentos administrativos conferidos ao Ministério Público permitem que 
a instituição promova uma ampla negociação com a Administração e com os entes 
privados responsáveis pela implementação de políticas públicas. Esse espaço de 
negociação é importante por vários motivos: 
(i) possibilita que se considerem todas as condicionantes que envolvem a 
questão posta (ex: técnicas, temporais, orçamentárias), o que aumenta a eficácia 
da implementação das decisões adotadas; 
(ii) permite que sejam acordadas mudanças em procedimentos da 
administração que não são necessariamente ilegais, mas se mostram ineficazes 
para a proteção ambiental; 
(iii) a solução só é adotada, no mais das vezes, após várias reuniões com 
órgãos públicos, comunidade científica e sociedade organizada, propiciando a 
adoção de decisões consensuais e, por conseguinte, com maior legitimidade. 
Exclusividade ministerial, o procedimento investigativo denominado Inquérito 
Civil permite ao Promotor de Justiça ou Procurador da República que o preside a 
formação de sua convicção sobre os fatos trazidos a seu conhecimento, apontados 
como violadores de interesses e direitos transindividuais. 
 
 
18 
 
Quando se pensa no objeto do inquérito civil, logo vem à mente a ideia de que 
ele visa a instruir a inicial da futura ação civil pública. Na verdade, essa é uma visão 
reducionista. Os fins do inquérito civil não se restringem ao aparelhamento de uma 
possível ação coletiva. Ele visa, na verdade, a fornecer ao Ministério Público subsídios 
para que possa formar seu convencimento sobre os fatos, e, sendo necessário, 
identificar e empregar os melhores meios, sejam eles judiciais ou extrajudiciais, para 
a defesa dos interesses metaindividuais em questão. 
Muitas vezes, será mais vantajosa ao interesse metaindividual, em vez de partir-
se para o confronto judicial, a via da composição amigável, por meio do compromisso 
de ajustamento de conduta. Seja como for, na maioria das vezes, ainda que o caso 
se resolva mediante esse compromisso, o melhor instrumento para prepará-lo será o 
inquérito civil, pois, por meio dele é que a instituição conseguirá identificar todas as 
medidas necessárias à reparação do dano ou ao afastamento do perigo, a serem 
incluídas como cláusulas do compromisso. 
Quando se pensa em políticas públicas ambientais,
o compromisso de 
ajustamento de conduta, sem dúvida, é um importante instrumento de atuação 
extrajudicial do Ministério Público. Revestindo-se de natureza de título executivo, na 
forma do parágrafo 6º do artigo 5º da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), 
introduzido pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), constitui 
ferramenta eficiente para a tutela dos interesses e direitos metaindividuais. 
No âmbito das políticas públicas, o Ministério Público poderá firmar 
compromissos de ajustamento com os entes responsáveis pelas ações materiais que 
garantam à coletividade a fruição dos direitos assegurados na Constituição de 1988. 
Om isso, fomenta a Instituição ministerial a definição de políticas locais para o trato 
da questão ambiental, obrigando o Poder Público, mediante compromisso de 
ajustamento de sua conduta, à adoção das providências necessárias e adequadas ao 
atingimento das finalidades do Estado Social de Direito. 
No curso do inquérito civil, seu presidente pode reunir elementos de convicção 
para concluir ser conveniente, antes de outras medidas adicionais, o encaminhamento 
de uma recomendação ao investigado, exortando-o a, por exemplo, cessar a ameaça 
ou a atitude ofensiva ao interesse atacado. 
 
 
19 
 
O envio de recomendações a órgãos públicos e entidades prestadoras de 
serviços públicos é deferido aos Ministérios Públicos Estaduais na LONMP, e o 
emitente da recomendação deve requisitar ao seu destinatário a sua divulgação 
imediata e adequada, bem como lhe responder por escrito.27 Para o MPU, a previsão 
é mais ampla, aventando o art. 6.º, XX, da LOMPU a possibilidade de expedi-las 
visando não apenas à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, como 
também ao respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, e 
a fixação de prazo razoável para a adoção das providências cabíveis. 
Pode o Ministério Público, pois, estimular a implementação de políticas públicas 
ambientais também através do importante instrumento da recomendação, de notável 
caráter moral e político, além de eficácia comprovada no plano fático28. No ponto, 
escreve Luiza Cristina Fonseca Frischeisen29: 
“(...) será mais eficiente, na exata proporção que o Administrador entenda 
o Ministério Público como um agente que também tem como atribuição 
constitucional a construção de mecanismos eficazes para o efetivo exercício 
dos direitos da ordem social constitucional. Nesse sentido, o Ministério Público 
estará mais uma vez atuando como um canal de mediação de demandas 
coletivas existentes na sociedade, criando mais um canal de comunicação 
entre a comunidade e a Administração”. 
Deve-se frisar, contudo, que a recomendação é um meio acessório de tutela dos 
interesses difusos e coletivos, não podendo ser utilizada como medida substitutiva ao 
compromisso de ajustamento de conduta ou à ação civil pública.30 
A previsão tópica das situações em que se mostra cabível – e exigível – não 
afasta a possibilidade de realização de audiências públicas em hipóteses diversas 
das contempladas na legislação ambiental31. Como bem observa Ximena Cardozo 
Ferreira, as audiências públicas “podem ser convocadas pelo Ministério Público 
 
27 LONMP, art. 27, parágrafo único, IV. 
28 Como ocorreu no Estado de São Paulo com a formulação da política pública de pesca no reservatório da Usina 
Hidrelétrica Sérgio Motta, no rio Paraná, recomendando o Ministério Público ao Ibama que procedesse à alteração 
da Portaria nº 21/93, e tem ocorrido com a expedição de recomendações aos municípios do mesmo Estado para 
criação dos Conselhos e Fundos Municipais de Assistência Social. 
29 FRISCHEISEN, Luiza Cristina Fonseca. Políticas públicas: a responsabilidade do administrador e o 
Ministério Público. São Paulo: Max Limonad, 2000, p. 140. 
30 Res. CNMP 23/2007, art. 15, parágrafo único. 
31 Como nos casos de EIA/RIMA, na CTNBio e no procedimento do orçamento participativo, a título ilustrativo. 
 
 
20 
 
sempre que o problema enfrentado as torne convenientes para a conciliação dos 
interesses em conflito”32. 
Na prática, as audiências públicas são verdadeiros instrumentos do exercício da 
democracia, induzindo à cidadania participativa que conduzirá o alcance das 
finalidades do interesse público, mediante a adoção de medidas com alto grau de 
legitimidade. 
Assim, através dos instrumentos administrativos do Inquérito Civil, das 
Recomendações, do Compromisso de Ajustamento de Conduta, das Audiências 
Públicas, que surgem como alternativas à jurisdição, pode o Ministério Público atingir 
com maior eficiência seus objetivos constitucionais, inclusive no que diz respeito ao 
controle das políticas públicas ambientais. 
 
 
Necessidade do Controle Jurisdicional 
 
Fundamento constitucional 
 
Conforme visto, a implementação de determinados fundamentais, muitas vezes, 
depende de que o Estado cumpra obrigações de fazer impostas a ele pela 
Constituição ou pelas leis, normalmente afetas à área de alguma política pública (de 
educação, de saúde, de saneamento básico, ambiental etc.). 
A resistência do Poder Público em concretizar esses interesses leva, com 
frequência, ao ajuizamento de ações civis públicas, em que sobressai o conflito entre 
dois pilares do Estado Democrático de Direito: o princípio da independência dos 
Poderes e a garantia do acesso à Justiça. 
Em tais ações, o autor, de seu lado, invoca a necessidade de obrigar a 
Administração a adimplir seus deveres constitucionais e legais, a fim de que o 
administrado não seja lesado nos correspondentes direitos à saúde, à educação, à 
 
32 FERREIRA, XIMENA CARDOZO. A atuação do Ministério Público na implementação de Políticas Públicas 
da área ambiental. Extraído do site www.mp.rs.gov.br, data de acesso: 19/09/2012 
 
 
 
21 
 
segurança, ao meio ambiente equilibrado etc. 
Quando o direito é expressamente previsto na Constituição ou na lei, não há que 
se falar em norma simplesmente programática, em simples diretriz para política 
pública. Onde há direito subjetivo do cidadão não há discricionariedade do Estado, de 
modo que a atuação do Judiciário para determinar sua implementação não é 
ingerência indevida no Executivo, mas sim uma garantia constitucional (CF, art. 5.º, 
XXXV). 
Nesse sentido, o escólio de Oswaldo Canela Junior33: 
“(...) Política estatal – ou políticas públicas - entende-se o conjunto de 
atividades do Estado tendentes a seus fins, de acordo com metas a serem 
atingidas. Trata-se de um conjunto de normas (Poder Legislativo), atos (Poder 
Executivo) e decisões (Poder Judiciário) que visam à realização dos fins 
primordiais do Estado. (...) Como toda atividade política (políticas públicas) 
exercida pelo Legislativo e pelo Executivo deve compatibilizar-se com a 
Constituição, cabe ao Poder Judiciário analisar, em qualquer situação e desde 
que provocado, o que se convencionou chamar de ‘atos de governo’ ou 
‘questões políticas’, sob o prisma do atendimento do Estado (art. 3º da 
CF/1988).” 
Esse controle não fere o princípio da separação dos Poderes, entendido como 
vedação de interferência recíproca no exercício das funções do Estado. Mas os 
Poderes, além de independentes, devem harmonizar-se para que os objetivos 
fundamentais do Estado sejam alcançados. Por isso, ainda segundo Oswaldo Canela 
Junior, “cabe ao Poder Judiciário investigar o fundamento de todos os atos estatais a 
partir dos objetivos fundamentais inseridos na Constituição (art. 3º da CF brasileira)”. 
Noutro giro, anote-se que a conveniência e a oportunidade do ato administrativo
encontram limites nos princípios da moralidade, da razoabilidade e da eficiência, 
aferíveis pelo Judiciário. Ante a omissão da atuação do Executivo na formulação e 
execução de políticas públicas, o Judiciário pode, excepcionalmente, determinar sua 
realização, mormente se for imposta pela própria Constituição. 
Como já dissemos em outra oportunidade, “nas ações civis públicas em que se 
postula a condenação da Administração em obrigações de não fazer, esse embate é 
 
33 CANELA JUNIOR, Oswaldo. Controle judicial de políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 88-89. 
 
 
22 
 
menos tenso”34, pois não se lida com os óbices da falta de previsão orçamentária e 
dos limites de gastos previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal. Esses entraves, 
porém, estão presentes quando se busca condenar a Administração a uma obrigação 
de fazer. 
O fato é que, mesmo quando se busca impingir ao Poder Público o cumprimento 
de uma obrigação de fazer, os tribunais de superposição (STF e STJ), em diversas 
ações civis públicas, já reconheceram a possibilidade jurídica de pedidos visando a 
compelir a Administração: a) a suprir a carência de professores em unidades de ensino 
público (CF, arts. 205, 208, IV, e 211, § 2.º);35 b) a assegurar vagas em creches e 
pré-escolas da rede pública para crianças até determinada idade (CF, art. 208, IV, e 
ECA, arts. 54, IV, e 208, III);36 c) a prestar assistência médica (consultas e cirurgias) 
satisfatória e prioritária às crianças e aos adolescentes, com imposição de 
cronograma para conferir celeridade aos atendimentos (CF, art. 227, caput, ECA, arts. 
7.º e 11);37 d) a restabelecer a regularidade do serviço de coleta de lixo, por se 
tratar de serviço público relevante, regido pelo princípio da continuidade, e por ser 
imprescindível à garantia dos direitos à saúde e ao meio ambiente hígido;38 e) a 
realizar obras de recuperação do solo, imprescindíveis ao meio ambiente; 39 f) 
Municipal a regularizar, às expensas do implantador, loteamentos clandestinos e 
irregulares, para respeito dos padrões urbanísticos e o bem-estar da população (art. 
40 da Lei 6.766/1979).40 
Nesse passo, incumbe ao Poder Judiciário brasileiro, como consequência da 
assunção de novas atribuições que lhe foram conferidas pela Constituição Federal de 
1988, proceder ao controle das políticas públicas, com o exame de sua 
implementação, adequação ou correção, na conformidade dos mandamentos 
 
34 ANDRADE, Adriano. MASSON, Cleber. ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos esquematizado. 
Método, 2011, p. 92. 
35 STF, RE 594.018 Agr, 2.ª Turma, rel. Min. Eros Grau, DJe 07.08.2009. 
36 STF: AI 664.053 AgR, 1.ª Turma, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 03.03.2009, DJe 27.03.2009; RE 463.210 
AgR/SP, 2.ª Turma, rel. Min. Carlos Velloso, j. 06.12.2005, DJ 03.02.2005; STJ: REsp 511.645/SP, 2.ª Turma, 
rel. Min. Herman Benjamin, j. 18.08.2009, DJe 27.08.2009; REsp 510.598/SP, 2.ª Turma, rel. Min. João Otávio 
de Noronha, j. 17.04.2007, DJe 13.02.2008. 
37 STJ: REsp 577.836/SC, 1.ª Turma, rel. Min. Luiz Fux, j. 21.10.2004, DJ 28.02.2005. 
 
38 STJ: REsp 575.998/MG, 1.ª Turma, rel. Min. Luiz Fux, j. 07.10.2004, DJ 16.11.2004. 
39 STJ: REsp 429.570/GO, 2.ª Turma, rel. Eliana Calmon, j. 11.11.2003, DJ 22.03.2004. 
40 STJ, REsp 448.216/SP, 1.ª Turma, rel. Min. Luiz Fux, j. 14.10.2003, DJ 17.11.2003. 
 
 
 
23 
 
constitucionais. 
Assim, constatada a omissão da Administração Pública em dar efetividade a 
normas constitucionais ou infraconstitucionais instituidoras de direitos sociais 
fundamentais – dentre os quais o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado 
–, sujeitar-se-á o ente estatal aos sistemas de controle previstos na ordem jurídica 
brasileira, notadamente o controle social exercido por intermédio do Ministério Público, 
e também do Poder Judiciário, nos casos em que o conflito for judicializado. 
 
 
A adequação da ação civil pública 
 
A ação civil pública é, ao lado da ação popular e do mandado de segurança 
coletivo, um dos mais úteis instrumentos de defesa de interesses metaindividuais. 
O advento da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985) foi fruto de estudos e 
debates envolvendo professores e profissionais do direito que, a partir de meados da 
década de 1970, sob influência da doutrina italiana e das class actions dos países de 
sistema jurídico common law, notaram a necessidade de desenvolver ferramentas 
processuais mais adequadas para a solução dos conflitos de interesses 
transindividuais. 
Não é demais observar, porém, que, antes mesmo do advento dessa lei, o 
Ministério Público já estava legitimado a ajuizar ações civis voltadas à reparação de 
danos ao meio ambiente, com base no art. 14, § 1.º, da Lei da Política Nacional do 
Meio Ambiente – LPNMA (Lei 6.938/1981). 
Concebida no ordenamento jurídico nacional por meio dos diplomas legais 
supracitados, foi alçada ao status de garantia constitucional fundamental pela Carta 
da República de 1988, prevista no inciso III do artigo 129. 
Reveste-se a ação civil pública de grande relevância no controle da omissão 
administrativa na implementação de políticas públicas, porquanto a partir dela pode-
se compelir o ente estatal a atuar de forma a dar concretude aos direitos sociais 
previstos na Constituição, em especial no que concerne à Ordem Socioambiental. 
 
 
24 
 
Sobre a adequação da ação civil pública para a implementação de políticas 
públicas, confira-se o magistério de Hugo Nigro Mazzilli41: 
“(...) A ação civil pública ainda se presta para que o Ministério Público 
possa questionar políticas públicas, quando do zelo para que os Poderes 
Públicos e os serviços de relevância pública observem os direitos assegurados 
na Constituição. Com certeza não poderá o Ministério Público pedir ao Poder 
Judiciário administre no lugar do administrador; contudo, poderá cobrar em 
juízo a aplicação de princípios da Administração que possam estar sendo 
descurados, e, com isso, restaurar a legalidade”. 
Em suma, dada a natureza difusa do meio ambiente, revela-se adequado o 
manejo da ação civil pública pelo Ministério Público, com vistas a afastar a omissão 
estatal na implementação de políticas públicas indispensáveis à proteção desse direito 
fundamental. 
 
 
Alcance do Controle Jurisdicional: mínimo existencial e reserva do possível 
 
A maior dificuldade do Judiciário, diante da existência de inúmeros direitos 
fundamentais consagrados na Constituição, está em saber se cabe, em relação a 
todos eles, o seu controle sob a ótica da constitucionalidade. Vale dizer, a grande 
questão hoje consiste em definir o alcance desse controle jurisdicional das políticas 
públicas. 
Respeitados os entendimentos contrários, pensamos que todos os direitos 
fundamentais, inclusive o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, têm 
aplicabilidade imediata e, por consectário lógico, podem ser tutelados judicialmente, 
em caso de ausência ou inadequação das políticas públicas que comprometam sua 
efetiva implementação. Nessa linha de pensamento, sustenta Dirley de Cunha 
Junior42: 
“(...) Todas as normas definidoras de direitos fundamentais, sem exceção, 
têm aplicabilidade imediata, independentemente de concretização legislativa, o 
 
41 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 
42 CUNHA JUNIOR, Dirley. Controle judicial das omissões do poder público. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. P. 
664. 
 
 
25 
 
que permite que o titular do direito desfrute
da posição jurídica por ele 
consagrada. Na hipótese de eventual omissão estatal, impeditiva de gozo 
desses direitos, pode e deve o Judiciário, como Poder apto a proporcionar a 
realização concreta dos comandos constitucionais quando provocado por 
qualquer meio processual adequado, suprir aquela omissão, completando o 
preceito consignador de direitos diante do caso concreto”. 
Admitimos, outrossim, que o princípio da dignidade da pessoa humana é um 
importante parâmetro para a definição do alcance do controle jurisdicional das 
políticas públicas. Referido princípio tem um conteúdo básico, sem o qual se poderá 
dizer que o indivíduo se encontra em situação de indignidade. 
A esse conteúdo dá-se o nome de mínimo existencial, cuja inobservância 
autoriza o controle da omissão dos Poderes Legislativo e Executivo pelo Poder 
Judiciário, sem que se possa invocar, em defesa, a cláusula da reserva do possível. 
O mínimo existencial é considerado um direito às condições mínimas de 
existência humana digna, cuja implementação exige prestações positivas por parte do 
Estado: “(...) A dignidade humana e as condições materiais de existência não podem 
retroceder aquém de um mínimo, do qual nem os prisioneiros, os doentes mentais e 
os indigentes podem ser privados43”. 
Costuma-se incluir no mínimo existencial, entre outros, o direito à educação 
fundamental, o direito à saúde básica, o saneamento básico, a assistência social, a 
tutela do meio ambiente e o acesso à justiça, entre outros.44 
Assim, cumpre ao Poder Público assegurar, como tarefa prioritária, que a defesa 
do meio ambiente também seja exercida num nível de proteção que garanta, 
juntamente com os demais direitos sociais, um mínimo de existência ecológica.45 
A inclusão da proteção ambiental naquilo que se convencionou denominar 
mínimo existencial está em consonância com a ideia de um constitucionalismo 
fraternal. 
 
43 TORRES, Ricardo Lobo. O mínimo existencial e os direitos fundamentais. Revista de direito da Procuradoria 
Geral, Rio de janeiro, n. 42, p. 69/70, jul.-set5. 1990, p. 69/70). 
44 OLSEN, Ana Carolina Lopes. Direitos fundamentais sociais: efetividade frente à reserva do possível. Curitiba: 
Juruá, 2008, p. 318. Ainda: ROCHA JUNIOR, Paulo Sérgio Duarte da. Controle jurisdicional de políticas públicas. 
2009. Dissertação (mestrado) – USP, São Paulo. Orientador Rodolfo de Camargo Mancuso, p. 21-24. 
45 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. O direito ao ambiente como direito subjetivo. Estudos sobre direitos 
fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora, 2004, p. 182. 
 
 
26 
 
Com efeito, analisada a evolução histórica do constitucionalismo, vislumbra-se 
uma relação lógica entre constitucionalismo clássico- liberdade, constitucionalismo 
social – igualdade e, finalmente, constitucionalismo contemporâneo - fraternidade. 
Essa compreensão não significa que o constitucionalismo contemporâneo visa 
suplantar a concretização dos valores liberdade e igualdade, mas expressa a 
necessidade de, sem eliminar as conquistas do Estado Liberal e Social, 
consubstanciar um Estado Fraternal. Sobre o tema, confira-se o brilhante 
ensinamento de Carlos Ayres Britto:46 
“(...) Efetivamente, se considerarmos a evolução histórica do 
Constitucionalismo, podemos facilmente ajuizar que ele foi liberal, inicialmente, 
e depois social. Chegando, nos dias presentes, à etapa fraternal da sua 
existência. Desde que entendamos por Constitucionalismo Fraternal esta fase 
em que as Constituições incorporam às franquias liberais e sociais de cada 
povo soberano a dimensão da Fraternidade; isto é, a dimensão das ações 
estatais afirmativas, que são atividades assecuratórias da abertura de 
oportunidades para os segmentos sociais historicamente desfavorecidos, 
como, por exemplo, os negros, os deficientes físicos e as mulheres (para além, 
portanto, da mera proibição de preconceitos). De par com isso, o 
constitucionalismo fraternal alcança a dimensão da luta pela afirmação 
do valor do desenvolvimento, do meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, da democracia e até certos aspectos do urbanismo como 
direitos fundamentais. Tudo na perspectiva de se fazer da interação humana 
uma verdadeira comunidade; isto é, uma comunhão de vida, pela consciência 
de que, estando todos em um mesmo barco, não têm como escapar da mesma 
sorte ou destino histórico (grifou-se)”. 
No constitucionalismo fraternal, o ser humano ocupa o centro do sistema jurídico 
e as atividades dos poderes estatais devem ter em vista a garantia de sua dignidade. 
É nesse contexto que se inserem as compreensões em torno do direito ao mínimo 
 
46 BRITTO, Carlos Ayres. Teoria da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 216. 
10 TORRES, Ricardo Lobo. O direito ao mínimo existencial. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 8. 
 
 
 
27 
 
existencial, bem como a necessidade de realização da justiça social e distributiva, em 
que se lida com a distribuição de bens comuns para a coletividade. 
Pensando-se o ser humano como centro do Ordenamento Jurídico, a garantia 
do mínimo existencial impõe a preservação do indivíduo, através de standards sociais 
mínimos. Luís Roberto Barroso aponta que, no âmbito da dignidade da pessoa 
humana, inclui-se a proteção do mínimo existencial, “locução que identifica o conjunto 
de bens e utilidades básicas para a subsistência física e indispensável ao desfrute dos 
direitos em geral” Abaixo do patamar mínimo, ainda que haja sobrevivência, não há 
dignidade47. 
Além disso, na conjuntura do constitucionalismo fraterno que marca o Estado 
Social Democrático de Direito, deve-se relativizar a compreensão individualista dos 
direitos fundamentais, relacionada à justiça comutativa, para incutir a dimensão da 
solidariedade. Dito de outra forma, a visão utilitarista dos direitos fundamentais deve 
ser afastada para alcançar a dimensão fraternal dos mesmos. Pensar em sentido 
diverso pode dificultar a realização da justiça social, que indica, entre outros aspectos, 
a necessidade de elaboração e de execução de políticas públicas voltadas à inclusão 
social e à concretização de direitos fundamentais. 
No ponto, cumpre destacar que o Supremo Tribunal Federal, em duas decisões 
recentes, adotou expressamente a teoria do constitucionalismo fraternal. Uma delas 
foi na discussão sobre a demarcação da terra indígena Raposa do Sol (Petição 3.388, 
Relator Ministro Ayres Britto, DJ 19/03/2009); a outra, na discussão sobre a 
constitucionalidade do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas 
para fins terapêuticos (ADI 3510/DF, Relator Ministro Ayres Britto, DJ 29/05/2008). 
Nessa ordem de ideias, é correto afirmar que o Ministério Público está autorizado 
a ajuizar ações civis públicas sempre que constatar a inexistência ou inadequação 
das políticas públicas ambientais. Nessas hipóteses, se o Poder Judiciário entender 
que a omissão estatal compromete o conteúdo básico desse direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, não poderá ser invocada por parte do Estado a cláusula 
da reserva do possível, sob pena de afronta ao Estado Fraternal de Direito. 
 
47 BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 253. 
 
 
28 
 
A jurisprudência do STF caminha precisamente no sentido da inadmissibilidade 
da invocação da cláusula da reserva do possível nos processos em que esteja em 
jogo o mínimo existencial (RE 482.611/SC, rel. Min. Celso de Mello). 
Na mesma direção evolui a jurisprudência do STJ, consoante se extrai
do 
acórdão do REsp 1.185.474/SC, relatado pelo eminente min. Humberto Martins. 
Extrai-se da ementa desse julgado a seguinte afirmativa: 
“(...) Aqueles direitos que estão intimamente ligados à dignidade humana 
não podem ser limitados em razão da escassez quando esta é fruto das 
escolhas do administrador. Não é por outra razão que a reserva do possível 
não é oponível à realização do mínimo existencial”. 
Nesse sentir, é correto afirmar que somente em relação aos direitos 
fundamentais que não integram o chamado “mínimo existencial” é que o Poder Público 
poderá alegar insuficiência de recursos e falta de previsão orçamentária para 
implementação de políticas públicas. 
Contudo, como bem observado por Ada Pelegrini Grinover48, “não será suficiente 
a alegação de falta de recursos pelo Poder Público”. Esta deverá ser provada, pela 
própria Administração, vigorando nesse campo quer a regra da inversão do ônus da 
prova (art. 6º, VIII, do CDC), aplicável por analogia, quer a regra da distribuição 
dinâmica do ônus da prova, que flexibiliza o art. 333 do CPC, para atribuir a carga da 
prova à parte que estiver mais próxima dos fatos e tiver mais facilidade de prová-los. 
Mas não é só: uma vez provadas a insuficiência de recursos e a falta de previsão 
orçamentária, o Poder Judiciário determinará ao Estado que faça constar da próxima 
proposta orçamentária a verba necessária à implementação da política pública. 
Vale dizer: o acolhimento da alegação de falta de recursos não conduziria à 
rejeição do pedido de tutela jurisdicional, e sim apenas o seu diferimento, disso 
resultando a condenação da Administração a duas obrigações de fazer: (i) a de fazer 
a inclusão no orçamento da verba necessária para o adimplemento da obrigação e (ii) 
a obrigação de aplicar a verba para a implementação da política pública. 
Concluindo, a invocação da “reserva do possível” – restrita aos direitos 
fundamentais que não integram o núcleo básico da dignidade da pessoa humana - 
 
48 GRINOVER, Ada Pellegrini. Controle jurisdicional de políticas públicas. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 125-
150. 
 
 
29 
 
pode levar o Judiciário à condenação da Administração a uma obrigação de fazer em 
duas etapas: primeiro, a inclusão no orçamento da verba necessária à implementação 
da política pública; e, em seguida à inclusão, a obrigação de aplicar a verba para o 
adimplemento da obrigação. 
 
Os critérios da razoabilidade e proporcionalidade 
 
Malgrado a importância da judicialização da política para resguardar direitos 
fundamentais, o fenômeno precisa ser materializado com parâmetros de 
racionalidade, para que não haja hipertrofia do Judiciário e desequilíbrio entre os 
poderes. 
Observa-se que, não obstante a difusão de procedimentos judiciais em campos 
de deliberação política, ainda não existe um comportamento amplo do Judiciário no 
sentido de concretizar, com razoabilidade, direitos fundamentais sociais, em 
detrimento de determinadas políticas governamentais. 
Em outros termos, não se tenciona um ativismo judicial indiscriminado, mas uma 
atuação baseada, concomitantemente, na racionalidade das decisões judiciais – com 
uma análise prévia e ponderada dos impactos de suas deliberações para a sociedade 
– na afirmação de direitos fundamentais, na ampliação da cidadania e na 
concretização do princípio da fraternidade. 
O critério da razoabilidade deverá guiar as decisões do Judiciário nessa 
temática. Em cada caso concreto, o juiz deverá analisar se a escolha do administrador 
público respeitou os comandos constitucionais e legais, é dizer, se a medida adotada 
pelo Poder Público é adequada à satisfação dos interesses maiores da coletividade. 
Desse modo, a intervenção judicial nas políticas públicas só poderá ocorrer 
quando restar demonstrada a irrazoabilidade do ato ou omissão do Poder Público, 
devendo o juiz pautar sua análise em atenção ao princípio da proporcionalidade, 
inclusive sob o viés da proibição da proteção deficiente. 
Tem razão Alessandro Baratta quando esclarece que, no Estado Democrático 
de Direito, está-se diante de uma política integral de proteção dos direitos. 
 
 
30 
 
Tal definição permite que se afirme que o dever de proteção estatal não somente 
vale no sentido clássico (proteção negativa) como limite do sistema punitivo, mas, 
também, no sentido de uma proteção positiva por parte do Estado.49 
É ilusório pensar que a função do Direito (e, portanto, do Estado), nesta quadra 
da história, esteja restrita à proteção contra abusos estatais. No mesmo sentido, o 
dizer de João Baptista Machado, para quem o princípio do Estado de Direito, neste 
momento histórico, não exige apenas a garantia da defesa de direitos e liberdades 
contra o Estado: exige, também, a defesa dos mesmos contra quaisquer poderes 
sociais de fato. Desse modo, ainda com o pensador português, é possível afirmar que 
a ideia de Estado de Direito demite-se da sua função quando se abstém de recorrer 
aos meios preventivos e repressivos que se mostrem indispensáveis à tutela da 
segurança, dos direitos e liberdades dos cidadãos.50 
Tem-se, assim, uma espécie de dupla face de proteção dos direitos 
fundamentais: a proteção positiva e a proteção contra omissões estatais. Ou seja, a 
inconstitucionalidade pode ser decorrente de excesso do Estado, como também por 
deficiência na proteção. 
 
 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO EM 
RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE 
 
Os avanços ocorridos na área ambiental quanto aos instrumentos técnicos, 
políticos e legais, principais atributos para a construção da estrutura de uma política 
de meio ambiente, são inegáveis e inquestionáveis. Nos últimos anos, saltos 
quantitativos foram dados, em especial no que se refere à consolidação de práticas e 
 
49 BARATA, Alessandro. La política Criminal y el Derecho Penal de la Constitución: Nuevas Reflexiones. 
50 BAPTISTA MACHADO, João. Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador. Coimbra, Coimbra Editora, 
1998. 
 
 
 
31 
 
formulação de diretrizes que tratam a questão ambiental de forma sistêmica e 
integrada. 
Neste sentido, o desenvolvimento da tecnologia deverá ser orientado para metas 
de equilíbrio com a natureza e de incremento da capacidade de inovação dos países 
em desenvolvimento, e o programa será atendido como fruto de maior riqueza, maior 
benefício social equitativo e equilíbrio ecológico. Meyer (2000) enfoca que, para esta 
ótica, o conceito de desenvolvimento sustentável apresenta pontos básicos que 
devem considerar, de maneira harmônica, o crescimento econômico, maior percepção 
com os resultados sociais decorrentes e equilíbrio ecológico na utilização dos recursos 
naturais. 
Assume-se que as reservas naturais são finitas, e que as soluções ocorrem 
através de tecnologias mais adequadas ao meio ambiente. Deve-se atender às 
necessidades básicas usando o princípio da reciclagem. Parte-se do pressuposto de 
que haverá uma maior descentralização, que a pequena escala será prioritária, que 
haverá uma maior participação dos segmentos sociais envolvidos, e que haverá 
recalescência de estruturas democráticas. A forma de viabilizar com equilíbrio todas 
essas características é o grande desafio a enfrentar nestes tempos. 
Neste sentido, Donaire (1999) diz que o retorno do investimento, antes, 
entendido simplesmente como lucro e enriquecimento de seus acionistas, ora em 
diante, passa, fundamentalmente, pela contribuição e criação de um mundo 
sustentável. 
Estes processos de produção de conhecimento têm oportunizado o desabrochar 
de práticas positivas e proativas,
que sinalizam o desabrochar de métodos e de 
experiências que comprovam, mesmo que em um nível ainda pouco disseminado, a 
possibilidade de fazer acontecer e tornar real o novo, necessário e irreversível, 
caminho de mudanças. 
Isto é corroborado por Souza (1993), ao dizer que as estratégias de marketing 
ecológico, adotadas pela maioria das empresas, visam a melhoria de imagem tanto 
da empresa quanto de seus produtos, através da criação de novos produtos verdes e 
de ações voltadas pela proteção ambiental. 
Desse modo, o gerenciamento ambiental passa a ser um fator estratégico que a 
alta administração das organizações deve analisar. 
 
 
32 
 
 
Figura 1 - Motivação para proteção ambiental na empresa 
 
Fonte: Callenbach et al (1993, p. 26) 
 
Neste contexto, as organizações deverão, incorporar a variável ambiental no 
aspecto de seus cenários e na tomada de decisão, mantendo com isso uma postura 
responsável de respeito à questão ambiental. 
Empresas experientes identificam resultados econômicos e resultados 
estratégicos do engajamento da organização na causa ambiental. Estes resultados 
não se viabilizam de imediato, há necessidade de que sejam corretamente planejados 
e organizados todos os passos para a interiorização da variável ambiental na 
organização para que ela possa atingir o conceito de excelência ambiental, trazendo 
com isso vantagem competitiva. 
Os dez passos necessários para a excelência ambiental segundo Elkington & 
Burke, apud Donaire (1999) são os seguintes: 
"1 - Desenvolva e publique uma política ambiental. 
2 - Estabeleça metas e continue a avaliar os ganhos. 
3 - Defina claramente as responsabilidades ambientais de cada uma das áreas 
e do pessoal administrativo (linha de assessoria). 
4 - Divulgue interna e externamente a política, os objetivos e metas e as 
responsabilidades. 
5 - Obtenha recursos adequados. 
6 - Eduque e treine seu pessoal e informe os consumidores e a comunidade. 
 
 
33 
 
7 - Acompanhe a situação ambiental da empresa e faça auditorias e relatórios. 
8 - Acompanhe a evolução da discussão sobre a questão ambiental. 
9 - Contribua para os programas ambientais da comunidade e invista em 
pesquisa e desenvolvimento aplicados à área ambiental. 
10 - Ajude a conciliar os diferentes interesses existentes entre todos os 
envolvidos: empresa, consumidores, comunidade, acionistas etc." 
A primeira dúvida que surge quando considerarmos a questão ambiental do 
ponto de vista empresarial é sobre o aspecto econômico. Qualquer providência que 
venha a ser tomada em relação à variável ambiental, a ideia é de que aumenta as 
despesas e o consequente acréscimo dos custos do processo produtivo. 
Donaire (1999) refere que "algumas empresas, porém, têm demonstrado que é 
possível ganhar dinheiro e proteger o meio ambiente mesmo não sendo uma 
organização que atua no chamado 'mercado verde', desde que as empresas possuam 
certa dose de criatividade e condições internas que possam transformar as restrições 
e ameaças ambientais em oportunidades de negócios”. 
 
 
A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DA 
EMPRESA 
Ecologia e empresa eram considerados dois conceitos e realidades inconexas. 
A ecologia é à parte da biologia que estuda a relação entre os organismos vivos e seu 
ambiente. Dessa forma a ecologia é entendida como uma ciência específica dos 
naturalistas, distanciada da visão da Ciência Econômica e Empresarial. Para a 
empresa o meio ambiente que estuda ecologia constitui simplesmente o suporte físico 
que fornece a empresa os recursos necessários para desenvolver sua atividade 
produtiva e o receptor de resíduos que se geram. 
Alguns setores já assumiram tais compromissos com o novo modelo de 
desenvolvimento, ao incorporarem nos modelos de gestão a dimensão ambiental. A 
gestão de qualidade empresarial passa pela obrigatoriedade de que sejam 
implantados sistemas organizacionais e de produção que valorizem os bens naturais, 
as fontes de matérias-primas, as potencialidades do quadro humano criativo, as 
 
 
34 
 
comunidades locais e devem iniciar o novo ciclo, onde a cultura do descartável e do 
desperdício sejam coisas do passado. Atividades de reciclagem, incentivo à 
diminuição do consumo, controle de resíduo, capacitação permanentes dos quadros 
profissionais, em diferentes níveis e escalas de conhecimento, fomento ao trabalho 
em equipe e às ações criativas são desafios-chave neste novo cenário. 
A nova consciência ambiental, surgida no bojo das transformações culturais que 
ocorreram nas décadas de 60 e 70, ganhou dimensão e situou o meio ambiente como 
um dos princípios fundamentais do homem moderno. Nos anos 80s, os gastos com 
proteção ambiental começaram a ser vistos pelas empresas líderes não 
primordialmente como custos, mas como investimentos no futuro e, paradoxalmente, 
como vantagem competitiva. 
 
Figura 2 - O Sistema Econômico e o Meio Ambiente 
 
SISTEMA ECONÔMICO 
Empresa Famílias Produção Consumo 
Outputs 
Inputs 
Sol 
SISTEMA AMBIENTAL 
Ar, Água, Vida Selvagem, Energia, Matéria-Prima 
“Extração” “Resíduos” 
 
Fonte: Tietenberg (1994) 
 
A inclusão da proteção do ambiente entre os objetivos da organização moderna 
amplia substancialmente todo o conceito de administração. Administradores, 
executivos e empresários introduziram em suas empresas programas de reciclagem, 
 
 
35 
 
medidas para poupar energia e outras inovações ecológicas. Essas práticas 
difundiram-se rapidamente, e em breve vários pioneiros dos negócios desenvolveram 
sistemas abrangentes de administração de cunho ecológico. 
Para se entender a relação entre a empresa e o meio ambiente tem que se 
aceitar, como estabelece a teoria de sistemas, que a empresa é um sistema aberto. 
Sem dúvida nenhuma, as interpretações tradicionais da teoria da empresa como 
sistema tem incorrido em uma certa visão parcial dos efeitos da empresa geral e em 
seu entorno. 
A empresa é um sistema aberto porque está formado por um conjunto de 
elementos relacionados entre si, porque gera bens e serviços, empregos, dividendos, 
porém também consome recursos naturais escassos e gera contaminação e resíduos. 
Por isto é necessário que a economia da empresa defina uma visão mais ampla da 
empresa como um sistema aberto. 
Neste sentido Callenbach (1993), diz que é possível que os investidores e 
acionistas usem cada vez mais a sustentabilidade ecológica, no lugar da estrita 
rentabilidade, como critério para avaliar o posicionamento estratégico de longo prazo 
das empresas. 
 
 
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – 
A EXPRESSÃO ENTRA EM CENA 
 
Em 1983, a ONU cria a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento como um organismo independente. Em 1987, a comissão sobre a 
presidência de Gro Harlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega, materializa um 
dos mais importantes documentos do nosso tempo – o relatório Nosso Futuro Comum, 
responsável pelas primeiras conceituações oficiais, formais e sistematizadas sobre o 
desenvolvimento sustentável - ideia-mestra do relatório. 
O segundo capítulo – “Em busca do desenvolvimento sustentável” – o relatório 
define o desenvolvimento sustentável com sendo “aquele que atende às necessidades 
 
 
36 
 
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a 
suas próprias necessidades”. 
Ele contém dois conceitos-chave: o de “necessidades, sobretudo as 
necessidades essenciais dos pobres no mundo, que devem receber a máxima 
prioridade”; e “a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização 
social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes 
e futuras”.

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