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Colapso progressivo em estruturas de concreto pré-moldado PV021 – Estruturas pré-moldadas de concreto, 2015. Prof.: Maria Cristina Vidigal de Lima 1 COLAPSO PROGRESSIVO EM ESTRUTURAS DE CONCRETO PRÉ-MOLDADO PROGRESSIVE COLLAPSE IN PRECAST CONCRETE STRUCTURES Luana Ferreira Borges Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG. E-mail: luana_f.borges@hotmail.com RESUMO O colapso progressivo em estruturas pré-moldadas é um fenômeno no qual uma falha ou dano localizado pode se propagar causando a ruína de outros elementos estruturais, devido a redistribuição de esforços, podendo trazer até um colapso da estrutura. É feito um levantamento bibliográfico sobre o fenômeno, com o objetivo de apresentar alternativas para minimizar seu risco de ocorrência. O evento pode acontecer também em outros sistemas estruturais, mas devido a forma de construção, estruturas de concreto pré-moldado são mais suscetíveis. A metodologia consiste em pesquisar publicações nacionais e internacionais sobre o tema, a fim de tomar conhecimento das principais recomendações referentes a consideração do colapso progressivo em estruturas pré-moldadas. Verifica-se, porém, que essas são válidas também para outros sistemas. Como principais considerações de projeto, apresenta-se o uso de sistemas de amarrações e a adoção de caminhos alternativos de cargas. Percebe-se que é um tema pouco abordado pela comunidade científica brasileira. Assim, sugere-se mais estudos e publicações relacionadas ao tema. Conclui-se que um adequado dimensionamento e detalhamento em projeto podem contribuir para diminuir a probabilidade de ocorrer o fenômeno. Palavras-chave: Colapso progressivo, concreto pré-moldado, cargas excepcionais, caminhos alternativos de cargas, amarrações. ABSTRACT The progressive collapse in precast structures is a phenomenon in which a located failure or damage can propagate causing the ruin of other structural elements, because of redistribuition of loads, and may generate a collapse of the structure. It is made a literature about the phenomenon, It is made a literature about the phenomenon, in order to present alternatives to minimize its risk of occurrence. The event may also occur in other structural systems, but because of the manner of construction, precast concrete structures are more susceptible. The methodology consists in researching national and international publications on the theme, to take note of the main recommendations for the consideration of progressive collapse in precast structures. But the recommendations are also valid for other systems. As main alternatives presents the use of ties systems and adoption of alternative paths loads. Perceived that it is a topic rarely addressed by the Brazilian scientific community. So, it is suggested more studies and publications related to the topic. It concludes that an appropriate dimensioning and detailing in design can help reduce the probability of the phenomenon. Keywords: Progressive collapse, precast concrete, abnormal loadings, alternatives path loads, ties. 1 - INTRODUÇÃO Um dos assuntos de interesse em projetos de estruturas pré-moldadas é a consideração do colapso progressivo que pode ocorrer na estrutura. “O colapso progressivo, também chamado de ruína em cadeia, pode ser definido como um tipo de ruína “incremental”, no qual os danos na estrutura não são proporcionais à causa inicial” (EL DEBS, 2000, p. 217). Meireles Neto (2012) e Oliveira, Silveira e Sousa Jr. (2011) explicam que um dano ou falha localizada de um componente estrutural se propaga para outros elementos estruturais, devido a redistribuição dos esforços, podendo acarretar falha de membros estruturais adjacentes ou o colapso da estrutura. Segundo Oliveira, Silveira e Sousa Jr. (2011), o colapso progressivo em estruturas é um assunto relativamente novo na comunidade científica brasileira, existindo pouco material escrito em língua portuguesa sobre o tema. Os autores afirmam que mesmo as normas brasileiras acrescentam pouco sobre o assunto. Ferreira et al. (2005) destaca que para garantir a estabilidade global nas situações definitiva e transitória, é necessário impedir a propagação do colapso progressivo, ou seja, garantir a robustez da estrutura através da consideração de reserva de resistência da estrutura. Esta robustez, segundo Elliott (2002), está relacionada a planejar e projetar as estruturas de maneira que elas não sejam suscetíveis a efeitos de acidentes. Laranjeiras (2011) também cita que a robustez é um atributo que contribui para a segurança ao colapso progressivo. Outro termo utilizado é integridade estrutural, que é a “capacidade de um edifício suportar um evento anormal às condições de projeto como, por exemplo, o colapso de um pilar e/ou outro elemento estrutural sem causar colapso progressivo” (TOMO, 2013, p.75). Segundo Meireles Neto (2012), o modo de construção das estruturas pré-moldadas e as ligações entre elementos influenciam fortemente no colapso progressivo, de modo que estas estruturas são mais suscetíveis que as moldadas em local. Diante disto, o autor afirma que as ligações devem ser projetadas adequadamente. Taylor (1975) também afirma que edifícios construídos com Disciplina: PV021 – Estruturas pré-moldadas de concreto, 2015. Professora: Maria Cristina Vidigal de Lima Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Universidade Federal de Uberlândia Elaborado por: Luana Ferreira Borges Luana Ferreira Borges 2 PV021 - Estruturas pré-moldadas de concreto, 2015. Prof.: Maria Cristina Vidigal de Lima sistemas estruturais pré-moldados devem ser concebidos com muito cuidado, visando diminuir as chances de ocorrência deste problema. Pederiva (2009) apud Bittarello (2013) destaca que a quantidade de obras com utilização de concreto pré- moldado tem aumentado devido a rapidez de execução, maior controle de qualidade e alto nível de organização da construção. O campo de aplicação do concreto pré-moldado abrange praticamente toda a construção civil e, diante disto, aumenta-se a preocupação com a ocorrência do fenômeno do colapso progressivo, que pode acarretar uma grande quantidade de perda de vidas e onerosos dados financeiros (BITTARELLO, 2013). O objetivo deste trabalho é fazer um levantamento bibliográfico das maneiras de consideração do fenômeno do colapso progressivo em cálculo, com ênfase em estruturas de concreto pré-moldado, a fim de apresentar que é possível minimizar o risco de ocorrência. 2 - HISTÓRICO Segundo Elliott (2002), o termo “colapso progressivo” foi utilizado pela primeira vez em referência ao colapso parcial ocorrido na estrutura do edifício Ronan Point (Figura 1), em Londres, em 1968. Tomo (2013) afirma que os assuntos colapso progressivo e integridade estrutural em estruturas pré-moldadas são alvos de pesquisa desde a ocorrência deste acidente. Figura 1 – Colapso progressivo da estrutura do Ronan Point. Fonte: ELLIOTT, 2002, p. 352. O colapso do Ronan Point é bem documentado na literatura técnica que aborda colapso progressivo em estruturas de concreto pré-moldado (BAÍA, 2014; BITTARELLO, 2013; EL DEBS, 2000; ELLIOTT, 2002; KATAOKA, 2007; MEIRELES NETO, 2012; OLIVEIRA; SILVEIRA; SOUSA JR., 2011; TOMO, 2013; VASILIEVA, 2013; entre outros). Aconteceu umaexplosão de gás na cozinha localizada em um dos cantos no 18º pavimento da estrutura de 22 andares constituída por painéis portantes pré-moldados. De acordo com Tomo (2013), a explosão fez com que o painel portante da fachada fosse expelido devido a uma pressão de 50 KN/m². O “colapso da laje sem apoio da cozinha do andar acima se propagou para cima, até a laje de cobertura, e para baixo” (TOMO, 2013, p.75). O piso do apartamento onde aconteceu a explosão foi desestabilizado devido ao peso e impacto dos destroços e desmoronou, de modo que o ciclo teve continuidade até o piso térreo do edifício (VLASSIS, 2007 apud OLIVEIRA; SILVEIRA; SOUSA JR., 2011). A Figura 2 é a representação do colapso. Segundo El Debs (2000), o edifício possuía ligações que não propiciavam a redistribuição de esforços. “Esse tipo de construção acabou sendo denominado de “castelo de cartas”, pela forma com que ocorreu o colapso” (EL DEBS, 2000, p.217). Figura 2 – Representação esquemática do colapso do Ronan Point. Fonte: FIB (2008) apud TOMO (2013). Sobre o edifício Ronan Point, “investigações no local apontaram deficiências na forma como os elementos pré-fabricados foram ligados uns aos outros” (ELLIOTT, 2002, p. 353, tradução nossa). A responsabilidade da quantidade desproporcional de danos, de acordo com Elliott (2002), foi atribuída ao detalhamento pobre e insatisfatório. No entanto, Elliott (2002) afirma que outro fator mais importante foi a falta de informações em projeto para a obtenção de uma solução robusta que considerasse o efeito de uma explosão de gás, mesmo apesar do fato de que, na época, cerca de 400 explosões de gás por ano causassem danos estruturais. Os testes demonstraram que as ligações eram capazes de resistir a sucção do vento para que os painéis tinham sido concebidos. No entanto, as ligações não tinham resistência e ductilidade para resistir à força da explosão durante tempo suficiente para permitir ventilação na pressão a qual a falha ocorreu. (ELLIOTT, 2002). 3 - AÇÕES EXCEPCIONAIS Segundo El Debs (2000), a ocorrência do colapso progressivo está associada às ações excepcionais (abnormal loadings). Neste tópico são apresentados alguns exemplos dessas ações. Colapso progressivo em estruturas de concreto pré-moldado PV021 – Estruturas pré-moldadas de concreto, 2015. Prof.: Maria Cristina Vidigal de Lima 3 Taylor (1975) afirma que existem ações e eventos excepcionais que podem levar a falha do sistema estrutural. No entanto, o autor destaca que nem sempre essas ações ocorrem com menos frequência daquelas ações consideradas em projeto, por exemplo, ele aponta que em algumas partes do mundo, naquela época, a existência de explosões podia concorrer com a ocorrência de ventos de projeto. De acordo com Oliveira, Silveira e Sousa Jr. (2011) as causas dos colapsos progressivos podem ser acidentais ou propositais. El Debs (2000) afirma que violentas mudanças de pressão do ar podem ocasionar o colapso progressivo, tais como explosão do sistema de abastecimento de gás (EL DEBS, 2000; OLIVEIRA; SILVEIRA; SILVA JR., 2011; TAYLOR, 1975), explosões de bombas (EL DEBS, 2000; TAYLOR, 1975) e combustão de líquidos inflamáveis ou falhas de caldeiras (TAYLOR, 1975). Impactos de veículos (EL DEBS, 2000; OLIVEIRA; SILVEIRA; SOUSA JR., 2011; TAYLOR, 1975) também podem contribuir para o evento, sendo que nos veículos estão incluídos automóveis, caminhões, aeronaves, etc. (EL DEBS, 2000). Conforme citado anteriormente neste tópico, estas ações podem ser acidentais ou propositais. Aqui cita-se o ataque terrorista ao World Trade Center, em 2001, por uma aeronave modelo Boeing 767-200ER. A maneira de ruína ocorrida permite classificar o evento como colapso progressivo. Oliveira, Silveira e Sousa Jr. (2011) afirmam que a busca por segurança estrutural, intensificada por medo de ações terroristas, coloca em foco o fenômeno do colapso progressivo. Outras ações que podem contribuir para a ocorrência de um colapso progressivo são “ações devidas a práticas falhas, como erros de construção, alterações não autorizadas, falhas de manutenção, etc.” (EL DEBS, 2000, p.218). Taylor (1975) afirma que durante a construção ou demolição de estruturas ou edifícios vizinhos, podem acontecer quedas ou oscilações de objetos que podem provocar o colapso progressivo. Segundo Vasilieva (2013), erros de concepção e construção, ou o caso em que existe a aplicação de cargas que não foram consideradas em projeto também podem acarretar o fenômeno em estruturas. De acordo com El Debs, a existência de recalques não previstos, inundações, furacões, terremotos e outros fenômenos do gênero também pode ocasionar o evento. Segundo Taylor (1975), durante escavações podem acontecer inundações, podendo causar uma grave insuficiência local da fundação. De acordo com o autor, ventos muito altos, acima dos considerados em projeto, ou tornados e furacões também podem causar o colapso da estrutura. Outra ação é “o estrondo sônico de intensidade excepcional” (TAYLOR, 1975, p. 521, tradução nossa). Oliveira, Silveira e Sousa Jr. (2011) destacam que o colapso progressivo de uma estrutura também pode estar associado ao objetivo de demolição controlada. Neste caso, segundo eles, deseja-se que todo o processo seja conhecido, devendo-se conhecer o agente causador da falha inicial e o resultado final esperado. Conforme apresentado neste tópico, várias ações podem ocasionar o colapso progressivo de uma estrutura. Segundo Oliveira, Silveira e Sousa Jr. (2011), é impossível prever todas as possibilidades. Apesar disso, de acordo com os autores, a forma de propagação do evento podem ser estimados. Um projeto eficiente pode ser um ponto chave para a preservação da integridade da estrutura durante tempo que permita a retirada de vítimas e diminuição de perdas humanas (OLIVEIRA; SILVEIRA; SOUSA JR., 2011). 4 - CONSIDERAÇÕES DE PROJETO Existem dois métodos de dimensionamento contra o colapso progressivo: O direto e indireto (BAÍA, 2014; TOMO, 2013). “No método indireto, a resistência ao colapso progressivo é implícita e visa fornecer um nível mínimo de resistência, continuidade e ductilidade à estrutura” (BAÍA, 2014, p.4). Neste método, segundo Tomo (2013), busca-se aumentar a redundância da estrutura por meio de ligações dúcteis e propiciar caminhos alternativos para as cargas. Laranjeiras (2011) destaca que trata-se de uma aproximação simplificada, na qual basta que o projetista acrescente medidas e detalhes que aumentem a robustez e integridade estrutural do projeto. Já no método direto, segundo Baía (2014), é feito o dimensionamento de elementos-chave capazes de resistir a carregamentos anormais ou a estrutura é dimensionada de modo a resistir à perda de um elemento estrutural. “Apoia-se na análise numérica da estrutura com vistas a identificar sua capacidade de resistir aos efeitos de uma ação excepcional” (LARANJEIRAS, 2011). Este método, de acordo com Tomo (2013), resulta em estruturas economicamente inviáveis e, portanto, não é considerado um método obrigatório para a maioria das normas internacionais. Segundo Marjanishvili e Agnew (2006), a análise de colapso progressivo realizada através da remoção instantânea de um ou vários elementos de suporte de carga para ver a capacidade do restante da estrutura absorver os danos, exige que o programa de computador seja capaz de apresentaruma instantânea mudança na matriz de rigidez e na geometria. “Poucos computadores são capazes de fazê-lo e, aqueles que estão disponíveis, são desmotivadores devido seu alto preço” (MARJANISHVILI; AGNEW, 2006, p.365, tradução nossa). Porém, como alternativa, Buscemi e Marjanishvili (2005) apud Marjanishvili e Agnew (2006) afirmam que a análise pode ser feita com a utilização de programas de computadores correntes, utilizando análises dinâmicas com condições iniciais. Sobre o método indireto, é importante destacar que para seu uso, faz-se necessário conhecer os principais mecanismos de colapso progressivo das estruturas de painéis portantes pré-moldados. Estes mecanismos, que devem ser considerados em projetos, de acordo com FIB (2008 apud TOMO, 2013) são: Ação de vigas em balanço, ação de viga-parede e efeito arco em painéis, ação de membrana e catenária parcial de vãos sucessivos de lajes de piso, suspensão vertical de painéis e ação diafragma das lajes. De acordo com Tomo (2013), estes mecanismos são resistidos por “amarrações” entre os elementos estruturais, de forma a propiciar ligações dúcteis e caminhos alternativos para carregamentos, conforme Figura 3. Segundo ACI 318 (2011 apud TOMO, 2013), cada Luana Ferreira Borges 4 PV021 - Estruturas pré-moldadas de concreto, 2015. Prof.: Maria Cristina Vidigal de Lima amarração é responsável por um mecanismo para evitar o colapso progressivo: • As amarrações transversais propiciam a ação de vigas em balanço e o comportamento de viga-parede; • As amarrações longitudinais propiciam a ação de membrana nos pavimentos; • As amarrações verticais propiciam a suspensão de painéis; • As amarrações periféricas propiciam a ação de diafragma do pavimento. Figura 3 – Amarrações em estruturas de painéis portantes. Fonte: Adaptado de Laranjeiras, 2011. São apresentados, nos tópicos 4.1 a 4.4, os procedimentos geralmente adotados com a finalidade de reduzir o risco de colapso progressivo. No tópico 4.5 são indicadas algumas recomendações de projeto. 4.1 - Redução do risco de ocorrência de ações excepcionais El Debs (2000) destaca que este procedimento deve ser tomado, mas seu alcance é limitado, pois “não se limita a possibilidade da ocorrência das ações excepcionais” (EL DEBS, 2000, p.219). Neste sentido, Tomo (2013) também destaca que é impossível prever e evitar todas as possíveis cargas acidentais anormais. Como alternativas para a redução do risco de ocorrência destas ações, Tomo (2013) apresenta a proibição de botijão de gás em apartamentos e o uso de barreiras contra impacto de veículos. 4.2 - Garantia da ductilidade Segundo Taylor (1975), as ligações entre elementos devem ser dúcteis e resistentes, capazes de grandes deformações para os carregamentos finais. De acordo com o autor, isto exige atenção no detalhamento do projeto. 4.3 - Projetar a estrutura para suportar cargas excepcionais De acordo com Taylor (1975), as ações excepcionais (apresentadas anteriormente) geralmente não podem ser consideradas como condições regulares de projeto, pois isto não é viável economicamente. Segundo ele, diante do fato de que não é possível conceber estruturas com segurança absoluta, é necessário considerar no projeto apenas eventos anormais que tem chance razoável de ocorrência. Ele recomenda a consideração de ações excepcionais que tenham chance estimada de ocorrer da mesma ordem de grandeza da probabilidade de falha. No Brasil, a probabilidade de falha de estruturas de concreto, dimensionadas através da ABNT NBR 6118: 2014 é aproximadamente 10-6. Porém, existe a dificuldade em relação ao conhecimento da probabilidade de ocorrência das ações excepcionais. Este procedimento de projetar a estrutura com vista a ação de cargas excepcionais não é normalmente utilizado, pois “a previsão e quantificação dessas ações são de difícil realização, além do que dimensionar a estrutura para tal é praticamente impossível, além de extremamente oneroso” (EL DEBS, 2000, p. 219). 4.4 - Prevenir a propagação de uma possível ruína localizada De acordo com El Debs (2000), neste critério, parte-se do pressuposto de que a ruptura de elementos não é impossível, deste modo, deve-se projetar uma estrutura de reforços capaz de propiciar caminhos alternativos para a transferência das forças. “Os edifícios não devem ser ‘castelos de cartas’ sujeitos a efeito dominó” (TAYLOR, 1975, p. 522, tradução nossa). Taylor (1975) destaca que isto não quer dizer que os danos iniciais causados por forças excepcionais devem ser evitados, o que poderia ser demasiadamente caro, mas que eles devem ser capazes de absorver os danos sem sofrer o colapso progressivo, ou seja, redistribuir os esforços. Porém, em alguns casos, as disposições para evitar o colapso progressivo de estruturas não são aplicáveis. Neste sentido, Taylor (1975) explica que, por exemplo, se uma estrutura é suportado em uma coluna só, qualquer caso que ocasionasse a remoção dessa coluna causaria o colapso de toda a estrutura, pois seria retirado 100% do apoio. 4.5 - Recomendações de projeto De acordo com El Debs (2000), a grande capacidade de redistribuição de esforços nas estruturas moldadas no local é devido ao emprego de especificações de arranjos de armadura. Deste modo, o autor recomenda que estes princípios sejam adotados para as ligações, no caso de estruturas pré-moldadas, como alternativa para aumentar a capacidade de redistribuição de esforços. “O detalhamento dessa armadura deve ser objeto de especial atenção para que o comportamento como tirante seja garantido” (EL DEBS, 2000, p.222). Laranjeiras (2011) afirma que o uso de vigas pouco espaçadas, apoiando-se em vigas principais, melhora a redistribuição das cargas. Segundo o autor, o uso de pilares pouco espaçados também contribui para uma melhor distribuição de cargas. De acordo com ele, é necessário Colapso progressivo em estruturas de concreto pré-moldado PV021 – Estruturas pré-moldadas de concreto, 2015. Prof.: Maria Cristina Vidigal de Lima 5 evitar descontinuidades que causem concentração de cargas, como, por exemplo as vigas de transição, que são vigas que normalmente recebem a carga de um pilar e transmite para outros pilares. Laranjeiras (2011) também afirma que vigas contínuas resultam menores deformações e aumento da redistribuição de cargas, caso aconteça a perda de um pilar. Por fim, o autor destaca que caixas de escada e pilares- parede ajudam a estabilizar a estrutura e oferecem caminhos alternativos para distribuição de cargas. El Debs (2000) recomenda uma especial atenção aos cantos e à frente dos edifícios, pois estes apresentam menor capacidade de redistribuição de esforços. 5 - EXIGÊNCIAS NORMATIVAS Segundo Baía (2014), inúmeras normas ao redor do mundo incorporam medidas contra o colapso progressivo, principalmente medidas envolvendo o método indireto (Apresentado no tópico 4 deste trabalho), tais como o Eurocode, ACI 318, National Building Code of Canadá, entre outras. Guaravich e Dawe (2006) afirmam que o colapso ocorrido no Ronan Point em 1968 levou a norma britânica BS 5950-1: 2000 a adotar requisitos para a resistência de amarrações ou forças mínimas de tração que devem ser incorporadas nos desenhos das ligações. Bittarello(2013) destaca que a norma americana SEI/ASCE 7:2005 (Minimum Design Loads for Buidings and Other Structures), na parte que trata de integridade estrutural, aponta que as construções devem ser projetadas de modo que não sejam danificadas de forma desproporcional por um dano local inicial. Para isso, segundo Bittarello (2013), a norma foca na redundância e nos caminhos alternativos de cargas. O autor destaca que esta norma apresenta a existência de dois métodos (direto e indireto), mas que não menciona como utiliza-los. A descrição detalhada de outras normas e códigos relacionados ao fenômeno podem ser encontradas em Bittarello (2013). Apesar de ser um problema conhecido no meio técnico a mais de 50 anos, segundo Baía (2014), as normas brasileiras não abordam o evento de forma consistente. A seguir são apresentadas as considerações normativas brasileiras. A norma ABNT NBR 6118: 2014 (Versão Corrigida), que trata do projeto de estruturas de concreto, em seu tópico 10.3, que aborda os estados-limites últimos (E.L.U.), aponta que a segurança das estruturas de concreto deve ser sempre verificada em relação à vários estados- limites últimos, sendo que um deles é referente ao colapso progressivo. Em seu tópico 19.5, referente ao dimensionamento de lajes à punção, a norma prevê a utilização de armadura para garantir ductilidade e proteção contra o colapso progressivo. Existem alguns trabalhos que abordam o colapso progressivo em lajes á punção em estruturas de concreto moldado em local. Estes não serão citados aqui, visto que o objetivo deste trabalho é abordar o fenômeno em estruturas pré-moldadas. Já a norma que trata do projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, a ABNT NBR 9062 afirma que devem ser tomados cuidados para minimizar a possibilidade de colapso progressivo. Laranjeiras (2011) afirma que a consideração do fenômeno do colapso progressivo é feita pelas normas brasileiras de forma sumária, enigmática e instigante. Segundo o autor, não há esclarecimentos do que é o fenômeno e suas características, que poderia ser acrescentado em comentários complementares. Em relação aos pré-moldados, enfoque principal deste trabalho, Laranjeiras (2011) afirma que a norma ABNT NBR 9062: 2006 não informa quais são os cuidados especiais a que esta se refere. Acredita-se, porém, que mesmo diante do fato de que a norma não define de forma detalhada como deve ser o cálculo das estruturas a fim de considerar o fenômeno do colapso progressivo, citar sua possibilidade de ocorrência, afirmar que esta deve ser considerada nos estados-limites últimos e que devem ser tomados cuidados para minimizar seu risco de ocorrência, já é importante, pois evidencia que é um evento que pode ocorrer. A associação do fenômeno aos estados-limites últimos, que são aqueles diretamente ligados ao esgotamento da capacidade de sustentação da estrutura, mostra que o colapso progressivo pode trazer sérias consequências. 6 - CONCLUSÕES Apesar de ser um problema que pode ocorrer também em outros sistemas estruturais, as chances de acontecer um colapso progressivo em estruturas pré- moldadas é maior, devido ao seu modo de construção. Devido a isto, neste trabalho, optou-se por abordar o fenômeno neste tipo de sistema. Nota-se que, para reduzir a ocorrência do evento é necessário adotar várias considerações no dimensionamento e detalhamento da estrutura. As principais considerações apresentadas neste trabalho são a utilização de amarrações e o uso de caminhos alternativos para as cargas. Verifica-se que as normas brasileiras tratam do assunto de forma sucinta, sem grandes detalhes, o que, de certa forma, pode ser considerado aceitável, pois existem várias formas de considerar a existência do colapso progressivo, cabendo ao engenheiro adotar aquele método que considera mais adequado. Diante disso, sugere-se mais estudos e publicações sobre o tema, abordando os métodos existentes, de forma que os calculistas adquiram maior conhecimento sobre o evento, uma vez que o colapso progressivo pode acarretar várias mortes e perdas financeiras. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto: Procedimento (Versão corrigida). Rio de Janeiro, 2014. ______. 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