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EXCELENTÍSSIMO (a). SENHOR (a). DOUTOR (a). DESEMBARGADOR (a). PRESIDENTE (a). DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MATO GROSSO/MT ........................................., advogada, inscrita junto à OAB/..... sob o nº ...................., com escritório profissional no endereço............................, bairro.................., cidade/estado, Vem, respeitosamente, perante V. Exa., com fulcro no artigo 5º, LXVII da Constituição da República, em cominação com os artigos 647 e 648 do CPP, impetrar a presente ordem de ORDEM DE HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR Em favor de GABRIEL MATOS, ora paciente, nacionalidade:....................., casado, profissão:................, RG sob o n° ............................., CPF sob o n° ..........................., com endereço: ......................................., contra ato de constrangimento ilegal praticado pelo MM. Juiz de Direito da ___ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Rondonópolis/MT, pelos seguintes fatos e fundamentos: I- DOS FATOS No dia 03 de Março de 2018, por volta de 20h00min, Gabriel saiu de seu escritório e encontrou sua esposa Maria, com quem é casado há 12 anos, em um bar, acompanhada de um sujeito do qual é desconhecido pelo réu. Gabriel, tomado de ciúme, resolveu sentar-se à mesa junto de sua esposa e do sujeito e exigiu que Maria fosse embora junto com ele para casa, para que lá pudessem conversar sobre o ocorrido. Maria negou-se a ir, dando início a uma discussão entre o casal, com Gabriel questionando-a, principalmente sobre quem seria o sujeito com quem se encontrava no bar. Nesse momento, Maria começa a falar que esta insatisfeita com seu casamento e que estava tendo um relacionamento extraconjugal com Marcos (sujeito do bar ) há 8 meses , motivo pelo qual deseja se separar de Gabriel . Muito alterado com as revelações, Gabriel disse em alto e bom tom que nunca aceitaria a separação. Tal fala, inclusive , foi ouvida por todos os clientes do bar. Entretanto para evitar que as coisas tomassem outro rumo mais complicado, resolveu parar a discussão, e ir para casa sozinho e aguardar pela chegada de Maria para continuar a conversa. Ocorre que, por volta de 23h00min do mesmo dia, Maria retorna para a residência do casal, acompanhada por Policias Militares que ao tomarem conhecimento da narrativa fornecida por Maria resolvem conduzir Gabriel para a Delegacia mais próxima. Ao chegarem á Delegacia, o Delegado Ferreira, após ouvir rapidamente o relato de Maria deu voz de prisão a Gabriel, lavrando o respectivo auto de prisão em flagrante delito da forma estabelecida na legislação pátria. Posteriormente na audiência de custódia, com presença do Juiz, Promotor de Justiça e advogado, deu-se início à audiência, o autuado prestou os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido. O Ministério Público de forma oral manifestou-se pela conversão do flagrante em preventiva, por sua vez o defensor do autuado formulou seu pedido de relaxamento de prisão, por meio de petição escrita. Processada a análise pelos pedidos formulados pelo Ministério Público e pela defesa, o MM Juiz, na própria audiência, negou o pedido de relaxamento de prisão, sob o argumento de não há o que se falar em ilegalidade de prisão em flagrante do autuado. Assim, prontamente o juiz determinou a expedição do mandado de prisão preventiva. II- DA ABSOLUTA FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO PARA A PRISÃO TEMPORÁRIA Preliminarmente, é de grande importância ressaltar o absoluto descabimento da prisão temporária interposta anteriormente, uma vez que a ameaça prevista no artigo 147 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 não está presente na relação de crimes da Lei de Prisão Temporária, salientada no artigo 1.º, III, da Lei 7.960/89, mostrando claramente o enorme abuso usado pelo Juiz ‘’ad quem’’, que constrange o senhor Gabriel com uma prisão desproporcional para a situação. Como argumento para a continuidade da decisão errônea, o senhor Juiz ‘’ad quem’’, afirma que as circunstancias do crime foram graves, motivo pelo qual decretou a prisão preventiva, a fim de garantir a ordem pública e preservar a integridade física e psíquica da vítima. Dispõe o artigo 1° da Lei de Prisão Temporária (Lei 7.960/89): “Art. 1° Caberá prisão temporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°); c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único); i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°); j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285); l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de sua formas típicas; n) tráfico de drogas o) crimes contra o sistema financeiro p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.” Conforme o artigo acima transcrito, torna-se claro o descabimento da prisão temporária ao autuado, pois este não cometeu nenhum das hipóteses previstas no art. 1° da Lei 7.960/89, deste modo, além da prisão indevida o autuado está passando por um grande constrangimento ao ser ‘’jogado’’ indevidamente em uma cela, abalando profundamente seu emocional e psicológico, por ser ele um homem honesto e íntegro. Sendo ainda importante destacar o art. 282 §6° do Código Processo Penal, este artigo expressa claramente que a prisão preventiva somente poderá ser expedida, nos casos em que não for admissível substituição por medida cautelar, diversa da prisão. “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: § 6 o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar.” O Código de Processo Penal em seu artigo 302, incisos: I, II, III e IV estabelece que: “Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado o, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.” Desta forma, resta evidente a ilegalidade da prisão, devido ausência de cabimento das hipóteses de prisão em flagrante acima relacionadas, restando claro que o requerente foi detido ilegalmente, contrariando os pressuposto de cabimento da prisão em flagrante. Pela primariedade do paciente, sem antecedentes negativos, com residência fixa, sem quaisquer indícios de que o paciente atrapalhará as investigações ouse locomoverá para local incerto e, portanto, sem justa causa para a manutenção da prisão preventiva, só podemos presumir que se trata de coação ilegal. Ademais, faz-se necessário demonstrar as causas de existência de medidas cautelares diversas da prisão, conforme o art. 319, inciso III do CPP: “Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; Desta maneira, deveria o MM. Juiz ter aplicado o disposto no art. 319 do CPP, pois o autuado não oferece nenhuma espécie de risco à integridade física e psíquica da vítima, no entanto, podendo ter sido expedido o cumprimento de medida cautelar prevista no inciso III, do citado artigo, posto que o paciente seja uma pessoa digna, responsável, um trabalhador no qual não descumpriria tais medidas e que cometeu o ato de ameaçar alguém devido o fervor da emoção momentânea, comprometendo-se este a permanecer distante da vítima. Apresenta-se claramente constatado ausência dos requisitos para a decretação da prisão preventiva, artigos 311, 312 e 313 inciso I do CPC, uma vez que não justifica a custódia cautelar do acusado sendo que sua liberdade não tem a capacidade de prejudicar a ordem pública, a instrução criminal e muito menos a aplicação da lei penal. O Código de Processo Penal em seu art. 311 dispõe sobre quando pode ser aplicada a prisão preventiva, senão vejamos: “Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial.” Todavia, a liberdade individual não pode ser negligenciada, não se encontrando à disposição do arbítrio. Há balizas legais que precisam ser observadas para que alguém seja custodiado, e garantias individuais precisam ser respeitadas, sobretudo a da presunção de não-culpabilidade. E justamente para tentar garantir ao cidadão algum respeito à citada garantia, é que o legislador ordinário traz quais seriam os requisitos para a prisão preventiva, em rol absolutamente taxativo, constante do artigo 312 do Código de Processo Penal: “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.” Do mesmo modo, à luz do art. 313, inciso I, no presente caso não é viável a prisão preventiva, pois o caso não tem pena máxima no mesmo importe do trazido pelo referido artigo, senão vejamos: “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;” Neste sentido já decidiram o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça: Boletim Informativo no 213 do STJ. DECISÃO DA 6a TURMA. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS. FUNDAMENTAÇÃO. A gravidade do delito mesmo quando praticado crime hediondo, se considerada de modo genérico e abstratamente, sem que haja correlação com a fundamentação fático objetiva, não justifica a prisão cautelar. A prisão preventiva é medida excepcional de cautela, devendo ser decretada quando comprovados objetiva e corretamente, com motivação atual, seus requisitos autorizadores. O clamor público, por si só, não justifica a custódia cautelar. Precedentes citados: HC 5.626-MT, DJ 16/6/1997, e HC 31.692- PE, DJ 3/5/2004. HC 33.770-BA, Rel. Min. Paulo Medina, julgado em 17/6/2004. Assim, não se pode compreender na expressão garantia da ordem pública, a questão do clamor público, porque não estaria sendo aferido neste caso o perigo que a liberdade do paciente poderia acarretar, mas tão somente a gravidade objetiva do crime e os anseios da sociedade. Em relação à aplicação da lei penal, não há fundamento para a decretação da prisão preventiva, pois não há receio de que o paciente, se solto, venha a evadir-se do distrito da culpa, uma vez que possui bons antecedentes, por ser réu primário, residência fixa, identidade certa e trabalho. III- DA LIMINAR A liminar é o meio usado para assegurar celeridade aos remédios constitucionais, evitando coação ilegal ou impedindo a ocorrência desta. O “fumus boni iuris” está presente na medida em que a existência de opções diversas da prisão preventiva pode ser aplicada a esse caso em concreto. Presente também está o “periculum in mora”, onde certamente a manutenção da prisão preventiva além de perpetuar a coação ilegal trará enormes prejuízos ao paciente, sejam eles de ordem moral ou psicológica. A plausibilidade jurídica da concessão da liminar encontra-se devidamente caracterizada. O “fumus comissi delicti”, significa a fumaça do cometimento do delito, o qual pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos à colação não foram capazes de demonstrar a efetiva participação do paciente no crime em comento. Por sua vez, no que concerne o “periculum libertatis” (perigo na liberdade do acusado), conforme demonstrado minuciosamente, não vislumbra-se qualquer justificativa plausível para a prisão cautelar do paciente. Cabe citar os ensinamentos do jurista Alberto Silva Franco, veja-se: “É evidente, assim, que apesar da tramitação mais acelerada do remédio constitucional, em confronto com as ações previstas no ordenamento processual penal, o direito de liberdade do cidadão é passível de sofrer flagrante coarctação ilegal e abusiva. Para obviar tal situação é que, numa linha lógica inafastável, foi sendo construído, pretoriamente, em nível de habeas corpus, o instituto da liminar, tomando de empréstimo do mandado de segurança, que é dele irmão gêmeo. A liminar, em habeas corpus, tem o mesmo caráter de medida de cautela, que lhe é atribuída do mandado de segurança”. Frente ao exposto, a presente ordem de habeas corpus deve ser concedida liminarmente com o fim de obstar a prisão preventiva do ora paciente. III- DOS PEDIDOS Diante de tudo até aqui exposto, requer-se: a) Concessão da presente ordem de Habeas Corpus; b) Concessão da MEDIDA LIMINAR, por estar evidente a existência de fumus boni iuris e periculum in mora , bem como de todo constrangimento que o réu está passando, para revogar de imediato a prisão preventiva decretada, expedindo de imediato alvará de soltura em favor do paciente; c) Pugna pelo regular prosseguimento do feito, oficiando-se a autoridade coatora para prestar as informações de praxe, com posterior remessa dos autos à Procuradoria-Geral de Justiça. d) No mérito, a concessão definitiva do presente writ; Nesses termos, pede deferimento. Local / Data / Ano (Nome, OAB e assinatura do advogado).