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FACULDADE ADELMAR ROSADO - FAR DIRETORIA ACADÊMICA COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SEVIÇO SOCIAL IZANYO PINHEIRO SAMPAIO MESQUITA CARDOSO DE CARVALHO PROJETO 18 DE MAIO: a intersetorialidade nas políticas de assistência social, educação e saúde em Castelo do Piauí TERESINA 2019 IZANYO PINHEIRO SAMPAIO MESQUITA CARDOSO DE CARVALHO PROJETO 18 DE MAIO: a intersetorialidade nas políticas de assistência social, educação e saúde em Castelo do Piauí Artigo apresentado à Coordenação de Pós- Graduação em Serviço Social da Faculdade Adelmar Rosado – FAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Elaboração e Gestão de Projetos Sociais, sob a orientação da Professora Mestra Naira Luan Sousa e Silva. TERESINA 2019 IZANYO PINHEIRO SAMPAIO MESQUITA CARDOSO DE CARVALHO PROJETO 18 DE MAIO: a intersetorialidade nas políticas de assistência social, educação e saúde em Castelo do Piauí FOLHA DE APROVAÇÃO BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________________ Prof.ª Ms. Naira Luan Sousa da Silva Professora Orientadora CONCEITO: ______________________________ DATA:_______/_______/__________ TERESINA 2019 Dedico este trabalho à todas as Crianças e Adolescentes que são vítimas de abuso e exploração sexual pelo Brasil a fora e não tem políticas públicas eficazes ou projetos de enfrentamento de forma intersetorial como o desenvolvido em Castelo do Piauí para sanar ou amenizar as dores terríveis que este ato malvado e covarde pode lhes causar. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus o dom da Vida e do meu Batismo, que permitiram o desenvolver de tantas coisas boas e a oportunidade de tanto poder agir e crescer por meio da minha amada mãe Igreja Católica. Agradeço aos meus Pais Álvaro e Geracina, pela disciplina, incentivo, apoio e dedicação que sempre tiveram para comigo. Saibam que depois de minha realização pessoal e profissional, tudo o que faço e para enchê-los de orgulho. À minha querida e amada Mãe/Madrinha Osmarina, que além de muito cuidado e amor, ela é a minha maior investidora financeira. Serei eternamente grato pelas suas contribuições e um dia feliz desejo lhe retribuir tudo isso. À querida dona Rosália Carvalho, esposa de meu Pai, que soube ter um olhar delicado para comigo, mesmo nós vivendo situações adversas que o destino nos proporcionou, desenvolvemos uma boa relação. Obrigado por todas as ajudas e pelo incentivo. À minha afilhada Auricélia, pessoa pela qual tenho um grande carinho e admiração e foi a primeira que sonhou comigo este sonho. Infelizmente o destino nos fez seguir rumos diferentes, mas o Padrinho está cheio de orgulho e felicidade por saber da Técnica de Enfermagem que a menina do Dindo está se tornando. À Professora Luciana Abreu, a dona Liziane e ao Sr. Lomanto, pela atenção e presteza que tiveram em rapidamente solucionar meu problema primeiro. Tenham certeza da minha gratidão, lembrança e respeito por vocês. A equipe de Professores da Família FAR, que tão bem soube conduzir estes momentos de ensino-aprendizagem e troca de experiências. Meus eternos agradecimentos queridos/as Professores/as Fabrício Barbosa, Izabel Herika, Luciana Abreu, Luciana Evangelista, Marcondes Brito, Henrique Menezes, Alexandre Santos, a vocês minha eterna gratidão. À Professora Mestra Naira Luan Sousa da Silva, que com seu jeito elétrico e compreensivo, assim como o meu, soube compreender minhas dificuldades na elaboração deste artigo. Aos meus amigos e amigas que souberam me compreender minhas ausências e recusas e aos que me lavaram a deixar os afazeres nos momentos de tensão para desopilar, mostrando-me do tanto que sou capaz de conciliar. Por fim agradeço a todos/as que de forma direta e indireta me ajudaram no decorrer deste sonho, desafio que ora se torna realidade, pois segundo Cervantes: “Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade. Obrigado! Nenhum de nós é tão bom, quanto todos nós juntos. (Ray Kroc – Fundador McDonald’s) 1 PROJETO 18 DE MAIO: a intersetorialidade nas políticas de assistência social, educação e saúde em Castelo do Piauí Izanyo Pinheiro Sampaio Mesquita Cardoso de Carvalho 1 Naira Luan Sousa da Silva 2 RESUMO Este trabalho analisa uma experiência iniciada em maio de 2016, no Município de Castelo do Piauí, buscando promover a mudança do paradigma das Estruturas Setorializadas, para um modelo de trabalho Intersetorial. O modelo Intersetorial é compreendido como uma articulação de saberes e experiências na elaboração, aplicação e avaliação de ações, através da formação de uma rede, conceito que extrapola a articulação apenas do trabalho em equipe ou setorial, procurando ampliar a ideia particularizada em prol de uma articulação maior, com o intuito de atingir resultados integrados em situações ditas complexas. Essa experiência vem sendo vivenciada no Município, por meio da articulação das Políticas de Educação, Saúde e Assistência Social. Mostra as ações do projeto 18 de maio do ano de 2018 desenvolvidas a partir da percepção Intersetorial de trabalho, enfatizando os benefícios para os profissionais envolvidos que passaram a conhecer melhor o trabalho uns dos outros, reconhecendo o potencial de cada um, algo que não era perceptível antes dessa vivência. Aponta ainda o impacto que essas ações causaram na sociedade Castelense. E por fim, traz uma visão e avaliação pessoal dos autores desse trabalho, em relação à observação, participação e resultados alcançados com essa experiência de trabalho Intersetorial. PALAVRAS-CHAVE: Experiência. Intersetorial. Articulação. Vivência. RESUMEN Este trabajo analiza una experiencia iniciada en mayo de 2016, en el Municipio de Castelo do Piauí, buscando promover el cambio del paradigma de las Estructuras Setorializadas, para un modelo de trabajo Intersectorial. El modelo Intersectorial es comprendido como una articulación de saberes y experiencias en la elaboración, aplicación y evaluación de acciones, a través de la formación de una red, concepto que extrapola la articulación sólo del trabajo en equipo o sectorial, buscando ampliar la idea particularizada en pro de una. articulación mayor, con el objetivo de alcanzar resultados integrados en situaciones complejas. Esta experiencia 1 Possui graduação em Serviço Social pela Faculdade Adelmar Rosado (2017). Atualmente é coordenador do CRAS 2 da Prefeitura de Castelo do Piauí. 2 Possui graduação em Bacharelado em Administração pela Universidade Federal do Piauí - CSHNB-Picos (2013), graduação em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI-Picos (2010) e mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Piauí (2016). Doutoranda em Políticas Públicas (PPGPP/UFPI),professora formadora no curso de Administração Pública (CEAD/UAB/UFPI) e professora tutora no curso de aperfeiçoamento em Educação, Pobreza e Desigualdade Social. 2 viene siendo vivenciada en el Municipio, por medio de la articulación de las Políticas de Educación, Salud y Asistencia Social. Muestra las acciones del 18 de mayo de 2018 desarrolladas a partir de la percepción Intersectorial de trabajo, enfatizando los beneficios para los profesionales involucrados, que pasaron a conocer mejor el trabajo unos de otros, reconociendo el potencial de cada uno, algo que no era perceptible antes de esa vivencia. A apunte aún el impacto que esas acciones causaron en la sociedad Castelense. Y por fin, trae una visión y evaluación personal de los autores de ese trabajo, en relación a la observación, participación y resultados alcanzados con esa experiencia de trabajo Intersectorial. PALABRAS CLAVE: Experiencia. Intersectorial. Conjunto. Experiência. 1 - INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo analisar uma experiência iniciada em 2016, no Município de Castelo do Piauí buscando promover a mudança do paradigma das estruturas setorializadas, para um modelo de trabalho intersetorial visto por meio do Projeto 18 de Maio – Dia Nacional de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, do ano de 2018. De forma mais específica discutir aspectos contextuais, conceituais e tipológicos de redes, bem como, apresentar ações de enfrentamento ao abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes que já foram realizadas de forma integrada, destacando as vantagens e desafios da Intersetorialidade, além de ser uma das exigências para a conclusão do Curso de Pós-Graduação em Serviço Social da Faculdade Adelmar Rosado (FAR). Refletir e propor trabalho social em rede constitui-se hoje, um grande desafio para os profissionais vinculados às políticas públicas e gestores Municipais, que respondem pela garantia dos direitos fundamentais do cidadão, principalmente num contexto em que a exclusão social é marcante. Foi durante o Estágio supervisionado do curso de serviço social que se observou a importância dos setores trabalharem em conjunto. No entanto, foi durante a colaboração na realização de um mapeamento das redes de atendimento no Município, que despertou no acadêmico o interesse em aprofundar o tema, pois se pôde observar que a estrutura dos serviços públicos vem sofrendo constantes mudanças no processo de gerir a atenção aos usuários. A Metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica e documental a partir da coleta de dados nas instituições. A segunda seção do trabalho apresenta os resultados da pesquisa bibliográfica com ênfase no tema da Intersetorialidade e das redes, já que um dos recursos disponíveis no eixo do projeto é o trabalho Intersetorial, cuja potência confere aos profissionais, novas possibilidades de prestar uma assistência mais integral e de forma 3 resolutiva, incrementando novas visões paradigmáticas a esses profissionais, além disso, a promoção no atendimento, centrada na qualidade de vida, passa, assim, a ser desenvolvida com a centralidade no usuário e no seu envolvimento ativo num processo de educação e para o auto–cuidado. A terceira seção concentra-se na análise do Projeto 18 de maio que aconteceu no Município de Castelo do Piauí de forma intersetorial, destacando as ações no combate ao abuso e exploração sexual no ano de 2018, contemplando também uma discussão acerca das vantagens, desafios e resultados do próprio. O presente trabalho deixará claro que a intersetorialidade incorre, portanto, em mudanças na organização, tanto dos sistemas e serviços, como em todos os outros setores da sociedade, além da necessidade de revisão do processo de formação dos profissionais que atuam nessas áreas. Dessa forma, a equipe não deve ser mais entendida apenas como um conjunto de saberes que operam compartimentalizados, mas sim a partir de inter-relações que atuam em processos de trabalhos articulados entre si, passando-se a compreender que as Inter– relações adquirem um caráter mais amplo, pois ultrapassam o setor isolado de cada um e buscam novas parcerias com outras instituições em redes de atenção que auxiliem e garantam a eficácia no atendimento dos usuários. Vale ressaltar que esse estudo foi elaborado visando chamar a atenção para uma análise dos problemas de nossa época, procurando levar cada vez mais a vislumbrar que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas que precisam ser compreendidos sistemicamente, pois são interligados e interdependentes. Isso remete para a necessidade de reconhecermos que vivemos em um mundo em mudança, cuja percepção demanda uma nova maneira de pensar, que contemple a complexidade e o caráter interdependente dos problemas que nos afetam e às gerações futuras. 2 - INTERSETORIALIDADE O termo intersetorialidade é indicado na literatura (Andrade, 2004; Monnerat, 2009; Pereira, Nascimento, 2010; Bronzo, 2012) como possuidor de vários sentidos. Numa perspectiva mais nuclear "intersetorialidade" deriva da junção da expressão/prefixo inter agregada a um conjunto de setores que, ao se aproximarem e interagirem entre si, podem produzir ações e saberes mais integrais e totalizantes. O prefixo inter é oriundo do latim inter que significa "no interior de dois"; "entre"; "no espaço de"; "posição intermediária", assim a 4 palavra intersetorialidade desvela: 1) Relações entre dois ou mais setores; 2) Que é comum a dois ou mais setores. Segundo Nascimento (2010. p 8), “a intersetorialidade diz respeito à interrelação entre as diversas políticas”. Neste contexto, destaca algumas dificuldades para a intersetorialidade no que se refere à crescente especialização do poder público e à tendência de maximização do desempenho de cada um dos órgãos do setor estatal. Para Koga (2003 apud NASCIMENTO, 2010, p. 5) a intersetorialidade sobressai enquanto caminho de perspectiva para a política pública, a fim de articular as políticas sociais, urbanas, econômicas de forma a atuarem nos mesmos territórios prioritários da política da cidade. Na concepção de Cavalcanti e Nicolau (2012 p. 4), situar a intersetorialidade na literatura atual requer muita cautela. De um lado há convergências de ideias consistentes de alguns autores já tidos como referências no estudo da temática, de outro lado, encontramos construções teóricas totalmente divergentes que empregam o termo "Intersetorial" para explicar num mesmo espaço todos os problemas de ordem da gestão das políticas sociais, imprimindo ao termo uma perspectiva simplista e estética. As produções bibliográficas recentes (Bronzo,2007; Costa, 2010; Nascimento, 2010; Bellini, Bumbel e Faler, 2013) situam a intersetorialidade como uma estratégia que surge para superar a fragmentação e a fragilidade das políticas sociais, com vistas a combater as iniquidades sociais. Trazem também a ideia de que a mesma possibilita uma visão integral das necessidades sociais, de forma a compreender e considerar o cidadão de forma totalizante. Nesse sentido, a intersetorialidade, no debate atual, vem como uma recorrente estratégia para obtenção de uma maior interlocução entre as políticas sociais, ensejando, no campo social, uma importante "ferramenta" para superação da setorialização das demandas sociais. O debate sobre intersetorialidade tem-se intensificado como um dos mais importantes meios de trabalho no âmbito das políticas públicas, com o intuito de oportunizar e ampliar o acesso a direitos sociais, e ainda, enfatizar o investimento nos processos de Empoderamento dos respectivosusuários. (RODRIGUES, 2011, p. 2) De forma geral a intersetorialidade se anuncia como uma das formas de operacionalização da gestão social viável que se apoia em uma articulação possível entre os diversos atores sociais (gestores, técnicos e usuários). Surge como uma possibilidade de solução integrada dos problemas do cidadão em sua totalidade, envolvendo os diversos 5 setores: saúde, educação, trabalho, habitação, meio ambiente e outras dimensões sociais, pois é ferramenta fundamental para a realização da melhoria da qualidade de vida da população. Configura-se uma grande dificuldade a utilização de um modelo setorializado com o propósito de proporcionar políticas de inclusão social que não retratem itens isolados e sim um aparato de direitos relacionados entre si. “O alcance de uma condição isolada, além de ser mais difícil não oportuniza a inclusão e a participação cidadã” (JUNQUEIRA, INOJOSA, KOMATSU, 1997, p. 21). As estruturas setorializadas tendem a tratar o cidadão e os problemas de forma fragmentada, com serviços executados solitariamente, embora as ações se dirijam à mesma criança, à mesma família, ao mesmo trabalhador e ocorram no mesmo espaço territorial e meioambiente. Conduzem a uma atuação desarticulada e obstaculizam mesmo os projetos de gestões democráticas e inovadoras. O planejamento tenta articular as ações e serviços, mas a execução desarticula e perde de vista a integralidade do indivíduo e a interrelação dos problemas (JUNQUEIRA; INOJOSA; KOMATSU; 1997, p. 21). A intersetorialidade das políticas públicas passou a ser uma dimensão valorizada à medida que não se observava a eficiência, a efetividade e a eficácia esperadas na implementação das políticas setoriais, primordialmente no que se refere ao atendimento das demandas da população e aos recursos disponibilizados para a execução das mesmas. Diante de uma proposição universalista de políticas públicas se passou a valorizar a ideia de intersetorialidade no sentido de que a aplicação de tal pensamento prioriza a eficiência, a efetividade e a eficácia das políticas setoriais. Neste sentido a política pública se volta fundamentalmente para o atendimento das demandas da população conjuntamente com os recursos existentes para tal ação. Desta maneira a intersetorialidade passa a ser um pressuposto importante para a implementação das políticas setoriais, objetivando efetividade e congregando o ente governamental e a sociedade civil. A intersetorialidade é a articulação entre as políticas públicas por meio do desenvolvimento de ações conjuntas destinadas à proteção social, inclusão e enfrentamento das expressões da questão social. Supõe a implementação de ações integradas que visam à superação da fragmentação da atenção às necessidades sociais da população. Para tanto, envolve a articulação de diferentes setores sociais em torno de objetivos comuns, e deve ser o princípio norteador da construção das redes municipais (CAVALCANTI; BATISTA; SILVA, 2013, p. 1-2). A aplicação da intersetorialidade no âmbito das políticas públicas deu a possibilidade de se agregar conjuntamente saberes técnicos, haja vista que os profissionais especialistas de 6 um determinado setor passaram a participar de ações coletivas e a socializar objetivos comuns. Deste modo, a intersetorialidade passou a ser um dos requisitos para a implementação das políticas setoriais, visando sua efetividade por meio da articulação entre instituições governamentais e entre essas e a sociedade civil. A incorporação da intersetorialidade nas políticas públicas trouxe a articulação de saberes técnicos, já que os especialistas em determinada área passaram a integrar agendas coletivas e compartilhar objetivos comuns. Nesta perspectiva, a intersetorialidade pode trazer ganhos para a população, para a organização logística das ações definidas, bem como para a organização das políticas públicas centradas em determinados territórios. Ao mesmo tempo, abrem-se novos problemas e desafios relacionados à superação da fragmentação e à articulação das políticas públicas, sobretudo se considerarmos a cultura clientelista e localista que ainda vigora na administração pública. 2. 1 A relação entre globalização e trabalho em rede Na contemporaneidade, a intervenção em redes tornou-se consensualidade nos vários discursos, seja nas empresas, Estado/políticas públicas, movimentos sociais, dentre outros, tomada como mecanismo para reduzir custos, flexibilizar processos de produção e circulação de mercadorias, ampliar lucros das empresas globalizadas ou aumentar a eficácia, a eficiência e a efetividade das políticas sociais. A lógica empresarial no contexto de globalização se expande, e seus modelos de gestão da força de trabalho e de produção de bens e serviços se deslocam para outros setores da vida social, entre eles a esfera pública. Essa racionalização ou expansão da lógica econômica é camuflada pelo discurso da solidariedade como diferencial entre as redes de políticas sociais e as redes empresariais que mobilizam os diversos atores públicos e privados na provisão social. Todavia, parte de um ponto comum a redução de custos, no caso das políticas sociais, redução de gastos sociais que passam a contar com os recursos dos parceiros, tais como a infraestrutura que oferecem, o trabalho voluntário, as formas espontâneas de ajuda mútuas e de autoajuda. O pensamento que defendemos neste trabalho é que o fortalecimento da intervenção em rede nas políticas sociais, numa dimensão de interação, cooperação e parceria público/privado é um mecanismo de legitimação de uma nova modalidade de proteção social que aflora e se desenvolve com o avanço das reformas neoliberais, o pluralismo de bem-estar 7 social em substituição ao Estado de Bem-estar Social. Esse defende que a responsabilidade pelo bem-estar social deve ser dividida entre três setores: o mercado, para os que podem pagar pelos serviços; as organizações não governamentais, família e comunidade; e o Estado com intervenção focalizada nos mais pobres. Essa modalidade de intervenção social que envolve o setor público/privado tem por fundamento uma nova visão de Estado, não mais como gestor, administrador e executor dos serviços; ao contrário, parte de uma visão do Estado como normatizador, regulador e coordenador de uma rede de serviços executada e ofertada pela sociedade. Por trás da defesa da intervenção em rede, no sentido explicitado acima, há a defesa de que a sociedade civil e a iniciativa privada são corresponsáveis pelo bem comum, não apenas como definido e estabelecido no pós-guerra, no financiamento da reprodução social da população, já que todos contribuem para a construção do fundo público, mas sim na oferta de bens e serviços, ou seja, na implementação de políticas sociais, lógica essa que desresponsabiliza o Estado pelo atendimento das refrações da questão social, constituído um processo de reprivatização desse atendimento. Assim, esse trabalho busca levantar e discutir as tipologias de redes e a intersetorialidade, mostrando como elas são incorporadas na gestão das políticas sociais, em especial na política de assistência social. O trabalho em redes surgiu como uma proposta de intervenção capaz de forjar uma nova abordagem no enfrentamento das demandas da população, baseada na troca de saberes e práticas entre o Estado, as empresas privadas e a sociedade civil organizada. Segundo Teixeira (2002 p. 6), “a sua disseminação na atualidade está relacionada com múltiplos fatores, cujos reflexos incidem diretamente na forma de gerir as políticas públicas”. “Dentre os fatoresque contribuíram para a sua proliferação, destaca-se a globalização, cujas influências alteraram os processos produtivos em direção à flexibilização, à descentralização e à interdependência dos setores” O fenômeno da globalização não deve ser pensado como um processo cuja direção é unitária, mas sim, como um conjunto complexo de mudanças com resultados que se manifestam tanto em nível global como local, produzindo novas formas de estratificação e o surgimento de novas formas e estilos de vida e de pensar. Para Minhoto e Martins (2001), “longe de ser um fenômeno unívoco, a globalização não se manifesta apenas na esfera econômica, mas estende seus domínios também às esferas política, social e cultural”. No entanto, não se pode negar que os efeitos da globalização, inicialmente mostraram-se de forma mais direta na esfera econômica. Os choques do petróleo 8 em 1973 e 1979 produziram graves consequências sobre o comércio de bens e serviços e desestabilizaram os fluxos do sistema financeiro mundial. Foi com cenário que passou-se a exigir respostas que fossem mais rápidas e eficazes no enfretamento dos efeitos de tais crises, sendo decisivas para a instauração da chamada economia globalizada. Dentre as principais alterações ocorridas, pode-se destacar: a desregulamentação e interdependência dos mercados financeiros; a financeirização do capital, responsável pela constituição de um sistema bancário e financeiro globalmente articulado que redefiniu o modelo de competição capitalista no final do século XX; a racionalização das estruturas organizacionais, dos processos decisórios e das atividades produtivas; a realocação geográfica dos espaços produtivos; e, o aumento da competitividade entre as empresas (MINHOTO; MARTINS, 2001). Na tentativa de refrear o contexto de recessão generalizado provocado pela crise econômica, ocorreu uma série de alterações na esfera produtiva. Esgotou-se o modelo rígido de produção em massa, o qual foi substituído por um novo padrão produtivo denominado de acumulação flexível ou toyotismo. Contrariamente ao fordismo, a acumulação flexível trouxe como diferencial o fato de privilegiar a diversidade da linha de produtos, adequando-se às oscilações do mercado e do consumo, defendendo a flexibilidade dos processos produtivos, do mercado de trabalho e dos padrões de consumo. Por outro lado, as transformações ocorridas nos ciclos de produção afetaram os processos de trabalho como um todo, convergindo em direção à flexibilização das relações entre patrão e empregado e ao desmonte dos direitos trabalhistas. As atividades do trabalhador tornaram-se mais complexas e intelectualizadas, passando-se a exigir dele alta qualificação e polivalência, ou seja, a capacidade de participar e desenvolver múltiplas atividades de cunho laboral e intelectual (NETTO; BRAZ; 2006). De acordo com Draibe (1993 p. 9), “os neoliberais advogam a favor do mercado e da privatização do patrimônio público, argumentando em benefício da redução do papel do Estado e de suas funções no campo social”. Diante dessa realidade, o que se constatou no plano prático, especialmente a partir dos anos 1990, foi um retrocesso da intervenção estatal, acompanhada da flexibilização das relações trabalhistas, da precarização da relação patrão/empregado, do aumento do desemprego e do trabalho informal, além do desmonte dos direitos sociais e da focalização das políticas e dos programas sociais em direção aos segmentos mais pobres. Segundo Minhoto e Martins (2001) “Foi em meio a esse contexto que as empresas lançaram mão do trabalho em redes como parte de uma estratégia cujo objetivo é reduzir custos e compartilhar recursos e informações no desenvolvimento de ações destinadas ao 9 atendimento das demandas sociais” fica-se entendido que as empresas visando sua organização que vai de encontro com a disseminação da lógica neoliberal, abraçando assim esta nova estrutura. Nesse sentido, as redes surgem como parte das novas estruturas organizacionais das empresas, nas quais prevalece uma tríplice relação de parceria: a do capital com o trabalho qualificado, sob a forma de redes de locação, subempreitada e contratação (conhecidas como terceirização); a dos setores de montagem com as cadeias fornecedoras, valendo-se dos contratos de pesquisa, de franquias, de licenças de patentes e de licença de marcas como instrumentos de apoio tecnológico às pequenas empresas; a dos sistemas integrados de competição, formando esquemas competitivos em que as empresas dos países em desenvolvimento se integram aos grandes sistemas de produção e/ou distribuição dos países desenvolvidos (MINHOTO; MARTINS, 2001, p. 3). Nessa percepção, evidencia-se que a constituição das redes na atualidade, inicialmente, se deu como uma nova forma de organização das empresas no interior do modelo de competição capitalista, marcado pelos processos de globalização, de financeirização do capital, pela reestruturação produtiva e pela disseminação da lógica neoliberal tanto nos países desenvolvidos como nos periféricos. Simultaneamente, as recentes transformações no papel do Estado também demandaram a constituição de novos modelos de gestão comprometidos com uma proposta descentralizadora e com a construção de redes de parceria entre organizações governamentais, empresariais e a sociedade. A atual crise pela qual passa o Estado se expressa no colapso financeiro e fiscal dos países capitalistas, na redução da eficácia e da eficiência da ação estatal e no desmonte dos sistemas de proteção social, é resultante do contexto de globalização da economia, logo, da capacidade do capital de circular mundialmente impondo condições e políticas macroeconômicas monetaristas favoráveis à financeirização da economia, em detrimento do investimento industrial que gera produção de bens e recursos, contribuindo para a formação do fundo público. Sob a liderança financeira, o capital precisa promover a desregulação dos mercados e criar condições que permitam a sua plena expansão nas economias nacionais, incentivando a abertura comercial, o abandono de posturas protecionistas, a aplicação de incentivos fiscais e a institucionalização de processos de flexibilização no âmbito das relações de trabalho (BEHRING, 2009). Conforme asseguram Minhoto e Martins (2001 p. 8), “essas medidas, tendem a enfraquecer a capacidade das nações de se organizarem de modo independente em seus territórios”... Assim sendo, “os princípios keynesianos entraram em crise, na medida em que o 10 capital financeiro gerou a necessidade de um novo modelo de regulação estatal que permitisse a acumulação nos territórios nacionais” (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2011). No mundo multicultural em que estamos vivendo, questões que anteriormente eram resolvidas na esfera dos Estados agora atingem escala planetária. Nesse cenário, as sociedades atuais enfrentam o dilema de como conseguir manter a homogeneidade cultural exigida pelo Estado nação clássico sem privilegiar determinada cultura ou subjugar as demais formações culturais. Frente à variedade de estilos de vida e visões de mundo, os Estados já não conseguem atender as demandas a eles impostas com o mesmo nível eficácia e eficiência com as quais suas questões eram tradicionalmente solucionadas, caracterizando a denominada crise do Estado (HABERMAS, 2004). Castells (1998 p. 13) salienta que, “apesar da soberania abalada, o Estado continua sendo um importante agente de intervenção tanto para a economia como para sociedade”. Todavia, o seu papel agora consiste em processar as investiduras da açãoglobalizante e adequá-las às possibilidades de cada país. Castells (1998 p. 17) diz que “Estado-rede é uma tentativa de reestruturar a capacidade de atuação estatal”. Conforme o referido autor, o Estado-rede se caracteriza por compartilhar a autoridade, ou seja, a capacidade institucional de impor uma decisão, através de uma série de instituições. Assim, “o Estado-nação se articula cotidianamente na tomada de decisões com instituições supranacionais de distintos tipos e em distintos âmbitos” (CASTELLS, 1998, p. 11). O Estado-rede, tem como proposta recuperar a legitimidade e aumentar os níveis de eficácia das ações estatais por meio da descentralização política-administrativa. Ao transferir poderes a instâncias transnacionais e subnacionais, o Estado recuperaria a capacidade de coordenação de distintos níveis institucionais, os quais se organizariam sob a forma de rede. Nessa perspectiva, a construção de redes enquanto uma nova forma organizacional incorporada pelo Estado na atualidade mostra-se como uma possibilidade para que o mesmo possa recuperar a legitimidade e ainda elevar o nível de eficácia, eficiência e efetividade de suas ações (MINHOTO; MARTINS, 2001). No que diz respeito à formação de redes de políticas públicas, em especial, redes de políticas sociais, foco deste trabalho, Teixeira (2002 p. 12) afirma que “a sua proliferação está relacionada a dois fenômenos recorrentes nas sociedades latinoamericanas e, portanto também no Brasil: a descentralização e a democratização política. Segundo Arretche (2002), “em meio a um contexto marcado pela crise política e econômica, a descentralização despontou nos países capitalistas latinoamericanos como sinônimo de democratização política do poder”. 11 Apesar do consenso quanto à compreensão da descentralização como transferência de poder e de funções administrativas para outras esferas de governo, o seu conceito varia enfaticamente conforme a concepção do papel do Estado adotada (JUNQUEIRA; INOJOSA; KOMATSU, 1997). De acordo com Rocha (2006 p. 5), “diversas correntes políticas reuniram-se em torno dos benefícios da descentralização, os setores da direita, principalmente os neoliberais, relacionavam a descentralização com maior eficiência e eficácia na ação pública”. No caso brasileiro, a proposta da descentralização representou para muitos setores da sociedade, especialmente os situados mais à esquerda, uma alternativa capaz de conjugar esforços para democratizar politicamente o país, incentivar e institucionalizar a participação da sociedade civil nos processos decisórios. Esforços esses que, por sua vez, foram incorporados na Constituição Federal Brasileira de 1988. 2.1.1 Classificação de redes sociais Percebe-se que, em um mesmo Município, são possíveis diferentes formas de manifestação das redes e que uma não exclui a existência de outra, porém preconiza-se que haja um avanço no sentido de se organizar redes intersetoriais, se o objetivo for otimizar as ações públicas para o enfrentamento da pobreza. 2.1. 2 Tipos de Rede segundo Guará Rede social espontânea: constituída pelo núcleo familiar, pela vizinhança, pela comunidade e pela Igreja. São consideradas as redes primárias, sustentadas em princípios como cooperação, afetividade e solidariedade. Redes sócio comunitárias: constituída por agentes filantrópicos, organizações comunitárias, associações de bairros, entre outros que objetivam oferecer serviços assistenciais, organizar comunidades e grupos sociais. Rede social movimentalista: constituída por movimentos sociais de luta pela garantia dos direitos sociais (creche, saúde, educação, habitação, terra...). Caracteriza-se por defender a democracia e a participação popular. Redes setoriais públicas: são aquelas que prestam serviços e programas sociais consagrados pelas políticas públicas como educação, saúde, assistência social, previdência social, habitação, cultura, lazer, etc. 12 Redes de serviços privados: constituída por serviços especializados na área de educação, saúde, habitação, previdência, e outros que se destinam a atender aos que podem pagar por eles. Redes regionais: constituídas pela articulação entre serviços em diversas áreas da política pública e entre municípios de uma mesma região. Redes intersetoriais: são aquelas que articulam o conjunto das organizações governamentais, não governamentais e informais, comunidades, profissionais, serviços, programas sociais, setor privado, bem como as redes setoriais, priorizando o atendimento integral às necessidades dos segmentos vulnerabilizados socialmente. Baseando-se nos autores GUARÁ (1998) e INOJOSA (1999), destaca-se, alguns requisitos fundamentais para o trabalho em rede, bem como sua base de sustentação: • O Município como espaço territorial onde as ações e serviços de atenção à família, criança e adolescente se desenvolvem. • O Governo Municipal enquanto gestor e os Conselhos como órgãos que garantem o direcionamento das ações, a prestação de serviços de qualidade e a defesa dos direitos fundamentais do cidadão. • Desencadeamento de um processo de mobilização para participação dos agentes a serem envolvidos. • Diagnóstico das necessidades dos grupos sociais vulnerabilizados e em situação de risco, para se definir prioridades. • Definição de projetos específicos e intersetoriais com identificação de objetivos, metodologia de trabalho e previsão dos resultados a serem alcançados. • Sinergia e articulação entre todas as instituições e agentes que prestam serviços no município através do compartilhamento de objetivos e ações. • Suporte qualificado e gerencial às organizações envolvidas, ou seja, apoio técnico, administrativo, financeiro e político para desenvolvimento de seus propósitos. Parcerias sustentadas no respeito ao potencial de cada ator social. • Processo contínuo de circulação de informações. • Conquista de legitimidade junto ao município. • Capacitação dos agentes envolvidos. • Avaliação e redefinição de estratégias operacionais, como atividade permanente. 13 3 PROJETO 18 DE MAIO – DIA NACIONAL DE COMBATE AO ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES O Projeto 18 de maio de 2018 teve como órgão executor a Prefeitura Municipal de Castelo do Piauí, por meio das Secretarias de Assistência Social, Educação e Saúde com o apoio e ativa participação do Conselho Tutelar, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Serviço de Convivência e Fortalecimentos de Vínculos, Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família, NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família, CAPS – Centro de Atenção Psicossocial ,CRAS I e II – Centros de Referência de Assistência Social, Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Militar, Defensoria Pública e Tribunal de Justiça, todos do Estado do Piauí. No 18 de Maio de 2018 se comemorou 18 anos de mobilização do “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”, instituído pela Lei Federal 9.970/00, uma conquista que demarca a luta pelos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes no território brasileiro. Esse dia foi escolhido porque em 18 de maio de 1973, na cidade de Vitória (ES), um crime bárbaro chocou todo o país e ficou conhecido como o “Caso Araceli”, esse era o nome de uma menina de apenas oito anos de idade, que teve todos os seus direitos humanos violados, foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta daquela cidade, o crime, apesar de sua natureza hedionda, até hoje está impune. Em decorrência de uma das maiores tragédias já ocorridas no Estado doPiauí, o Estupro coletivo de quatro adolescentes que aconteceu no dia vinte de sete de maio de 2015, resultando no óbito de uma das vítimas no Município de Castelo do Piauí, dos altos índices de casos e suspeitas de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes atendidos nas unidades de atendimento de proteção de direitos, a campanha “Todos juntos no combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes”, buscou mobilizar toda a sociedade para participar da luta pelos direitos dessas crianças e adolescentes identificando e denunciando ao Conselho Tutelar. A violência sexual contra crianças e adolescentes é crime previsto em Lei. As ações visaram minimizar a ocorrência destas situações e orientar a sociedade para que a mesma se desenvolva livre de crimes desta natureza e com crianças e adolescentes crescendo em uma cultura de paz e respeito pelo próximo. O objetivo geral do projeto era mobilizar, sensibilizar, informar e convocar toda a sociedade a participar da luta em defesa dos direitos sexuais de crianças e adolescentes no município de Castelo do Piauí e como objetivos específicos o fortalecimento do Sistema de 14 Garantia de Direitos preconizado no ECA (Lei Federal 8.069/90); Articular com a rede de proteção estratégias eficaz para mobilização da sociedade em geral; Convocar a sociedade para assumir a responsabilidade de prevenir e enfrentar o problema da violência sexual praticada contra crianças e adolescentes no território; Garantir a toda criança e adolescente o direito ao desenvolvimento de sua sexualidade de forma segura e protegida, livre do abuso e da exploração sexual. Mesmo tendo como foco o enfrentamento ao abuso e a exploração sexual contra crianças e adolescentes, o projeto teve a participação maciça da comunidade Castelense nas ações, desde crianças das creches, adolescentes e jovens de escolas de ensino médio a idosos do SCFV bem como quase todos os atores do sistema da garantia de direitos. A Execução das atividades durante o lançamento/abertura, momento dos cuidadores com o delegado e nas Escolas Municipais e Estaduais, aconteceu por meio de várias equipes, compostas por profissionais que fazem a rede de atendimento do Município, onde todas as atividades contaram com uma lista de frequência para comprovar a participação. A seguir mencionamos data, local e a quantidade de participantes das atividades no quadro 1. Quadro 1: Relação de locais, datas e quantidade de participantes nas atividades. DATA LOCAL QUANTIDADE DE PARTICIPANTES Dia 08/05/2018 Abertura Auditório da SEMED 092 participantes Dia 14/05/2018 Creche Deputado Milton Lima 179 participantes Creche Francisco Sales Martins 057 participantes U.E. Tânia Maria/ Anexo 075 participantes CETI Cônego Cardoso 111 participantes Data 15/05/2018 Creche José Soares dos Reis 120 participantes U.E. Tânia Maria/ Sede 173 participantes U.E. Tânia Maria/ Anexo 024 participantes Dia 16/05/2018 U.E. Hilda Cardoso 305 participantes U.E. Humberto Lima 135 participantes U.E. Gabriel Lima 168 participantes Dia 17/05/2018 U.E. Ver. Waldemar Salles 223 participantes U.E. Professora Osmarina 444 participantes U.E. Eulina Campos 053 participantes U.E. Francisco Sales Martins 059 participantes Dia 18/05/2018 Culminância com feira informativa e exposição de trabalhos escolares na Praça Getúlio Vargas. * Observação: Cerca de 2.000 pessoas visitaram os estandes, mas não haviam listas de frequência nesta ação. Dia 28/05/2018 Encontro com Delegado e Profissionais da Rede de Garantia de Direitos 055 participantes Fonte: Elaborado pelo autor (2019) Ao término do trabalho, verificou-se que foram realizadas atividades com mais de 4 mil pessoas, batendo um recorde em relação ao número do público partilhantes das ações de 2016, ano que se deu início a realização de trabalho de forma intersetorial. 15 Em decorrência da barbárie que assolou o Município de Castelo do Piauí, repercutiu em todo o País, uma imagem muito negativa a respeito dessa até então, pacata cidade. Foi a partir daí, que a gestão, juntamente com toda a sociedade começaram a pensar numa forma de trabalhar diferente, com anseio de atender melhor. Surgiu a ideia da intersetorialidade, com o Projeto 18 de maio, voltado exclusivamente para a prevenção ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A intersetorialidade incorre em mudanças na organização, tanto dos sistemas e serviços de políticas públicas como em todos os outros setores da sociedade, além de trazer a necessidade de revisão do processo de formação dos profissionais que atuam nessas áreas. O projeto foi um sucesso e conseguiu envolver toda população, os setores públicos e privados. Observou-se ainda por meio de relatos escritos das atividades, a alegria, gratificação e preocupação dos técnicos que eram responsáveis pela sensibilização em relação a temática no município. O projeto encerrasse naquele ano tendo cumprido o objetivo de mobilizar, sensibilizar, informar e convocar toda a sociedade a participar da luta em defesa dos direitos sexuais de crianças e adolescentes, garantindo as crianças e adolescentes o direito ao desenvolvimento de sua sexualidade de forma segura e protegida, livres do abuso e da exploração sexual. A partir daí, outros trabalhos nacionais vêm surgindo nessa modalidade intersetorial, como o projeto Janeiro Branco – Saúde Mental, Setembro Amarelo - Suicídio, Outubro Rosa – Câncer de Mama, Novembro Azul – Câncer da Próstata dentre outros como a Campanha de Combate ao Aedes Aegypti e por último a confecção de uma Cartilha Intitulada: “De mãos dadas: Empoderamento e Participação Social - A Rede Intersetorial de Castelo do Piauí”. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A intersetorialidade e a rede, para dar eficiência e eficácia a gestão das políticas sociais, exigem mudanças significativas na lógica da gestão tanto das organizações públicas estatais como das organizações sem fins lucrativos, integrando-as para atender os interesses coletivos. Vale enfatizar que repensar o direcionamento das ações das políticas públicas destinadas à família, criança e adolescente exige enfrentar o desafio de, a partir do princípio da intersetorialidade, construir redes intersetoriais capazes de responder as demandas sociais numa perspectiva de garantia dos direitos fundamentais destes segmentos cada vez mais empobrecidos material e culturalmente pelo processo sócio - histórico de exclusão social. 16 Assim a articulação Intersetorial é fundamental para diminuir as insatisfações advindas da fragmentação, burocratização e hierarquização excessiva das políticas sociais. Isso não implica dizer que essa prática está oposta aos direitos dos cidadãos, mas que serve aos interesses desses e do capital, porém se abordada de maneira coerente pode se tornar mais um instrumento que fortalece as lutas sociais em prol do direito a integralidade da atenção. As redes municipais intersetoriais devem sugerir ideias de conexão, vínculos, ações complementares, relações horizontais entre parceiros, interdependência de serviços, para garantir a integralidade aos segmentos sociais vulnerabilizados ou em situação de risco. A experiência de trabalho em rede no município de Castelo do Piauí, mostrou a existência de algumas dificuldades que lhe são típicas, tais como o desânimo pela não visibilidade dos ganhos e das vantagens por parte dos sujeitos que a compõem, a falta de interesse de alguns, visivelmente perceptível em alguns profissionais que eram acostumados a trabalhar isoladamente e de forma fragmentada, as reclamações relacionadas à quantidade de trabalho, poracharem que de forma setorial, o trabalho é dividido, tornando-o mais leve, ou seja, cada profissional cuida apenas do que lhe compete, a comunicação compartilhada também é um ponto fraco. Outro problema é a definição dos tempos e da urgência, pois normalmente existe uma perspectiva muito imediatista. É importante respeitar os limites e possibilidades impostos pela diversidade, pois se de um lado os processos coletivos são mais potentes, de outro são também mais lentos e trabalhosos, às vezes, o resultado só é alcançável a médio ou longo prazo. Outra questão é a complexidade da gestão da mesma, pois gerir ações que envolvem vários setores é uma tarefa um tanto complexa e que exige uma certa flexibilidade. No entanto, os resultados alcançados no Município de Castelo do Piauí, no que se refere às atividades realizadas de forma articulada, indicam uma série de vantagens inerentes à formatação do Projeto 18 de maio, uma delas é tornar o trabalho mais qualificado, enquanto canaliza competências e diversidades que convergem na mesma direção, mirando ao alcance de um objetivo. Nota-se que o trabalho Intersetorial, permite considerar o cidadão na sua totalidade, utiliza de parcerias com outros setores, dentro de uma ideia de rede, demanda a participação dos movimentos sociais no processo de decisão, além de proporcionar uma maior resolutividade na complexidade dos casos que atende. Após tudo que foi estudado, observado e vivenciado sobre o tema em questão, os autores desse trabalho acreditam que a realização de reuniões sistemáticas entre os setores para discussão das necessidades da comunidade pode ser uma boa prática para incentivar o diálogo e aprimorar a experiência do trabalho Intersetorial no Município de Castelo do Piauí. 17 Sugerem à comunidade científica pesquisas que possam detectar pontos positivos no sentido do aumento de denúncias de supostos casos de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes nas unidades de garantia de direitos bem como a gestão a criação de uma espécie de Comitê ou Conselho Intersetorial, que tenha como objetivo a transformação social da realidade em que atua, e não apenas realize debates sobre questões pontuais e emergenciais. Outro fator importante é o treinamento dos atores envolvidos para o entendimento comum do significado da abordagem Intersetorial. As redes intersetoriais se apresentam como uma resposta adequada para os variados tipos de problemas enfrentados pelas políticas sociais, que exigem uma abordagem múltipla, com enfoque em ações integradas. REFERÊNCIAS JUNQUEIRA, Luciano A. Prates. Descentralização e intersetorialidade: a construção de um modelo de gestão municipal. RAP, Rio de Janeiro, n. 32, p. 11-22, mar./abr. 1998. JUNQUEIRA, Luciano A. Prates. A gestão intersetorial das políticas sociais e o terceiro setor. Saúde e Sociedade v.13, n.1, jan-abr. 2004, p.25-36. ANDRADE, M. M. de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na conclusão. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2006. ARRETCHE, Marta e RODRIGUEZ, Vicente. (1997), A descentralização da educação no Brasil: o balanço de uma política em processo. Relatório de pesquisa, projeto Balanço e perspectivas da descentralização das políticas sociais no Brasil, São Paulo, Fundap, datilo. BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. 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