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MANUAL DE AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS MANUAL DE AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS Bahia TCE 2011 FICHA CATALOGRÁFICA Tribunal de Contas do Estado da Bahia COPYRIGHT© 2011 TCE PEDIDOS E CORRESPONDÊNCIAS: Tribunal de Contas do Estado da Bahia Avenida 04, Plataforma V – CAB Edf. Cons. Joaquim Batista Neves Cep: 41.475-002 Telefone: 0xx(71) 3115-4477 Fax: 0xx(71) 3115-4613 Email: biblioteca@tce.ba.gov.br Composição e Diagramação: Cristiano Pereira Rodrigues Normalização: Denilze Alencar Sacramento B151 Bahia. Tribunal de Contas do Estado. Manual de Auditoria de Obras Públicas. / Tribunal de Contas do Estado Bahia. Salvador: TCE- BA, 2011. 92 p. 1. Auditoria – Obras Públicas. 2. Obras Públicas - Auditoria. 3. Controle Externo – Manual de Auditoria Obras Públicas. I. Título. CDU 351.712 TRIBUNAL PLENO Conselheira Ridalva Correa de Melo Figueiredo - Presidente Conselheiro Antonio Honorato de Castro Neto - Vice-Presidente Conselheiro Filemon Neto Matos - Corregedor Conselheiro Antônio França Teixeira Conselheiro Pedro Henrique Lino de Souza Conselheiro Manoel Figueiredo Castro Conselheiro Zilton Rocha SUPERINTENDENTE TÉCNICO Frederico de Freitas Tenório de Albuquerque COORDENADORES DE CONTROLE EXTERNO Henrique Pereira Santos FiIho Márcia da Silva Sampaio Cerqueira José Raimundo Bastos de Aguiar Antônio Luiz Carneiro Marcos André Sampaio de Matos Iornilson Guimarães Soares ELABORAÇÃO Heinz Ulrich Ruther Maria Salete Silva Oliveira COLABORAÇÃO Servidores que atuam na área de auditoria de obras REVISÃO Clarissa Carneiro da Rocha Eliane de Sousa Silva Ivonete Dionízio de Lima APRESENTAÇÃO ................................................................................ 11 1 CONCEITOS ESSENCIAIS .................................................................... 13 1.1 Obra Pública ..................................................................................... 13 1.2 Serviço de Engenharia ...................................................................... 14 1.3 Serviços Técnicos Profissionais Especializados ............................. 14 1.4 Projeto Básico ................................................................................... 14 1.5 Projeto Executivo .............................................................................. 17 1.6 Fiscalização ...................................................................................... 17 1.7 Licenciamento Ambiental ................................................................. 17 2 METODOLOGIA DE TRABALHO ......................................................... 21 2.1 Critérios para a Seleção de Obras ................................................... 21 2.2 Equipes de Trabalho ......................................................................... 22 2.3 Programas/Procedimentos Específicos para as Obras e Serviços de Engenharia Selecionados ............................................................ 24 3 ORIENTAÇÕES GERAIS ...................................................................... 25 3.1.Avaliação do Controle Interno ......................................................... 29 3.2 Análise do Edital/Licitação .............................................................. 30 3.3 Análise dos Projetos ......................................................................... 31 3.3.1 Análise do Anteprojeto .................................................................. 31 3.3.2 Análise do Projeto Básico ............................................................. 32 3.3.3 Análise do Projeto Executivo ......................................................... 33 3.4 Análise de Custos .............................................................................. 34 3.4.1 Orçamento Estimativo Preliminar ................................................ 35 3.4.2 Análise do Orçamento Sintético .................................................... 36 3.4.3 Análise do Orçamento Analítico ................................................... 37 3.4.4 Taxa de BDI ..................................................................................... 37 3.5 Análise dos Contratos ...................................................................... 38 3.6 Execução Física da Obra .................................................................. 39 3.6.1 Fiscalização ................................................................................... 40 3.6.2 Execução Física do Contrato ......................................................... 42 3.6.3 Recebimento da Obra .................................................................... 42 4 PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS ............................................................... 45 GLOSSÁRIO ....................................................................................... 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 71 ANEXO - ACHADOS DE AUDITORIA EM OBRAS PÚBLICAS ..................... 73 SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS AA Autorização Ambiental ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ART Anotação de Responsabilidade Técnica BDI Bonificação e Despesas Indiretas CEF Caixa Econômica Federal CEPRAM Conselho Estadual de Meio Ambiente CCE Coordenadoria de Controle Externo CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente CONFEA Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura CUB Custo Unitário Básico DMT Distância Média de Transporte DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte EIA Estudo de Impacto Ambiental FGV Fundação Getúlio Vargas IBRAOP Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas ISC Índice de Suporte Califórnia LA Licença de Alteração LI Licença de Implantação LL Licença de Localização LO Licença de Operação LS Licença Simplificada LRF Lei de Responsabilidade Fiscal MPa Mega Pascal NAGs Normas de Auditoria Governamental RIMA Relatório de Impacto Ambiental SGA Sistema de Gerenciamento de Auditoria SINDUSCON Sindicato da Indústria da Construção SINAPI Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil TCPO Tabela de Composição de Preços e Orçamento TCE/BA Tribunal de Contas do Estado da Bahia TCU Tribunal de Contas da União ATO Nº 253, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2011. A PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA BAHIA, no uso de suas atribuições, CONSIDERANDO a diretriz estratégica “Mapear e redesenhar os principais processos de trabalho”, integrante do Plano Estratégico 2010-2013 deste Tribunal e priorizada pelo Plenário nos Planos de Diretrizes aprovados para os exercícios de 2010 e 2011 (Resoluções nos 032/2010 e 132/2010); CONSIDERANDO a edição da Resolução nº 052/2011, que dispõe sobre o encaminhamento pelos jurisdicionados ao TCE, por meio de sistema Web, de informações sobre projetos, obras e serviços de engenharia pelos titulares dos órgãos e entidades responsáveis pela sua licitação, contratação e execução; CONSIDERANDO a necessidade de elevar os padrões de qualidade dos trabalhos deste Tribunal para melhor cumprir sua missão constitucional, CONSIDERANDO a necessidade de uniformizar a adoção de métodos e procedimentos para a realização de auditoria de obras públicas; RESOLVE: Art. 1º - Fica aprovado o “Manual de Auditoria de Obras Públicas” do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, contendo conceitos essenciais, metodologia de trabalho e orientações gerais a serem observadas na realização dessas auditorias. Art. 2º - Este Ato entra em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário. CONS. RIDALVA FIGUEIREDO Presidente 10 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia11 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as O presente manual, de uso obrigatório, estabelece as diretrizes técnicas a serem observadas para a realização das auditorias em obras públicas. A sua utilização deverá ser realizada em conjunto com o Manual de Auditoria Governamental deste Tribunal e de forma subsidiária, utilizando outros normativos a depender da especificidade e complexidade do trabalho. Este Manual é fundamentado no seguinte marco legal: Lei Federal de Licitações e Contratos nº 8.666/1993, Lei Federal de Proteção Ambiental nº 6.938/1981; Resoluções CONAMA nºs 001/1986 e 237/1997; Resolução CONFEA nº 361/1991 e Decisão Normativa/ CONFEA nº 34/1990; Lei Estadual de Licitações e Contratos nº 9.433/2005; Decretos Estaduais nos 9.534/2005 e 12.366/2010. Apresentação 12 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 13 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as A auditoria em obras envolve o conhecimento de múltiplos conceitos e várias áreas de abrangência, todos relevantes e necessários para subsidiar o planejamento e a execução dos trabalhos. Este manual, além de utilizar conceitos legais, a exemplo do estabelecido ao longo das Leis Federais nºs 8.666/93 e 6.938/81, valeu-se de conceitos de domínio público e de entidades representativas da área. Eles são apresentados em duas sessões: na primeira, denominados como essenciais, assim considerados por se constituírem nos mais elementares e estruturantes para a realização da auditoria, e no glossário, onde são apresentados outros conceitos, subdivididos por tipologia de obras, de forma mais detalhada e minuciosa, resvestidos de igual importância para a auditoria. 1.1 OBRA PÚBLICA Obra pública é aquela que se destina a atender aos interesses gerais da sociedade, contratada por órgão ou entidade pública da Administração Direta ou Indireta, Federal, Estadual ou Municipal, executada sob sua responsabilidade ou delegada, custeada com recursos públicos, compreendendo a construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação de um bem público. Genericamente, de acordo com a Lei Federal de Licitações e Contratos nº 8.666/93, será tratada por obra pública toda a construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação e os serviços de engenharia realizados por execução direta ou indireta. 1 CONCEITOS ESSENCIAIS 14 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 1.2 SERVIÇO DE ENGENHARIA Conforme Orientação Técnica – OT-IBR 002/2009 do Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas (IBRAOP), serviço de engenharia é toda atividade destinada a obter determinada utilidade de interesse da Administração, tais como: demolição, conserto, instalação, montagem, operação, conservação, reparação, adaptação, manutenção, transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou trabalhos técnico-profissionais. 1.3 SERVIÇOS TÉCNICOS PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS São os trabalhos relativos a: estudos técnicos, planejamentos e projetos; pareceres, perícias e avaliações; assessorias ou consultorias técnicas; e fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras. 1.4 PROJETO BÁSICO De acordo com a Lei Federal nº 8.666/93, projeto básico é o conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e prazo de execução. Deve ser aprovado por autoridade competente ou por aquela que tenha recebido tal delegação. Conforme a Resolução CONFEA nº 361/91, o Projeto Básico deve desenvolver a melhor alternativa técnica, econômica e ambiental, identificar os elementos constituintes e o desempenho esperado da obra; adotar soluções técnicas de modo a minimizar reformulações ou ajustes acentuados durante a execução; especificar todos os serviços a executar, materiais e 15 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as equipamentos e definir as quantidades e os custos de serviços e fornecimentos de tal forma a ensejar a determinação do custo global da obra com precisão de mais ou menos 15%. No caso de uma edificação, pode-se admitir que alguns projetos (tais como detalhes de esquadrias, instalações elétricas, telefônicas, hidráulicas e especiais) façam parte do Projeto Executivo, desde que o projeto de arquitetura, os estudos geotécnicos, o orçamento detalhado (fundamentado em quantitativos e preços unitários propriamente avaliados) e o memorial descritivo (ou o caderno de encargos) sejam suficientes para a perfeita compreensão da obra, inclusive seus métodos construtivos, materiais a empregar e suas instalações provisórias, e de modo a permitir a fácil elaboração do Projeto Executivo. Todo Projeto Básico, de acordo com o Instituto Brasileiro de Auditoria em Obras Públicas (IBRAOP), a depender da natureza, porte e complexidade da obra de engenharia, deve apresentar os seguintes elementos técnicos: QUADRO 1 - Elementos Técnicos do Projeto Básico Elementos Técnicos Descrição 1 Desenho Representação gráfica do objeto a ser executado, elaborada de modo a permitir sua visualização em escala adequada, demonstrando formas, dimensões, funcionamento e especificações, perfeitamente definida em plantas, cortes, elevações, esquemas e detalhes, obedecendo às normas técnicas pertinentes. 2 Memorial Descritivo Descrição detalhada do objeto projetado, na forma de texto, onde são apresentadas as soluções técnicas adotadas, bem como suas justificativas, necessárias ao pleno entendimento do projeto, complementando as informações contidas nos desenhos referenciados. 3 Especificação Técnica Texto no qual se fixam todas as regras e condições que se deve seguir para a execução da obra ou serviço de engenharia, caracterizando individualmente os materiais, equipamentos, elementos componentes, sistemas construtivos a serem aplicados e o modo como será executado cada um dos serviços, apontando, também, os critérios para a sua medição. 16 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia Para fins de definição dos conteúdos técnicos a serem utilizados, de acordo com a tipologia da obra, a equipe do TCE deverá seguir as orientações constantes da OT – IBR 001/2006 do IBRAOP e alterações posteriores. Elementos Técnicos Descrição 4 Orçamento Avaliação do custo total da obra, tendo como base preços dos insumos praticados no mercado ou valores de referência e levantamentos de quantidades de materiais e serviços obtidos a partir do conteúdo dos elementos anteriores, sendo inadmissíveis apropriações genéricas ou imprecisas, bem como a inclusão de materiais e serviços sem previsão de quantidades. O orçamento deverá ser lastreado em composições de custos unitários e expresso em planilhas de custos e serviços, referenciadas à data de sua elaboração. O valor do BDI (Bonificação e Despesas Indiretas) considerado para compor o preço total deverá ser explicitado no orçamento. 4.1 Planilha de Custos e Serviços A planilha de custos e serviços sintetiza o orçamento e deve conter, no mínimo: • discriminação de cada serviço, unidade de medida, quantidade, custo unitário e custo parcial; • custo total orçado, representado pela soma dos custos parciais de cada serviço e/ou material; • nome completo do responsável técnico, seu número de registro no CREA e assinatura. 4.2 Composição de Custo Unitário de Serviço Cadacomposição de custo unitário define o valor financeiro a ser despendido na execução do respectivo serviço e é elaborada com base em coeficientes de produtividade, de consumo e aproveitamento de insumos e seus preços coletados no mercado, devendo conter, no mínimo: • discriminação de cada insumo, unidade de medida, sua incidência na realização do serviço, preço unitário e custo parcial; • custo unitário total do serviço, representado pela soma dos custos parciais de cada insumo. Para o caso de se utilizarem composições de custos de entidades especializadas, a fonte de consulta deve ser explicitada. 5 Cronograma físico- financeiro Representação gráfica do desenvolvimento dos serviços a serem executados ao longo do tempo de duração da obra, demonstrando, em cada período, o percentual físico a ser executado e o respectivo valor financeiro despendido. QUADRO 1 - Elementos Técnicos do Projeto Básico (continuação) Fonte: IBRAOP OT – IBR 001/2006. Todas as peças de caráter técnico devem conter o título profissional e número da carteira referente à autoria (Resolução CONFEA nº 0282/83 – art. 1º). 17 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as 1.5 PROJETO EXECUTIVO Conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução completa da obra, de acordo com as normas pertinentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e que pode ser desenvolvido de forma tempestiva com a execução das obras, desde que autorizado pela Administração, ou seja, é o detalhamento no nível máximo do projeto básico, com os elementos necessários à realização do empreendimento. 1.6 FISCALIZAÇÃO É o controle interno do nível operacional que consiste em verificar a aderência das obras às normas técnicas, à legislação vigente e aos termos do edital e contrato (projetos, especificações de materiais e de serviços, cronogramas físico e financeiro, etc.), bem como aferir o desempenho na execução dos serviços e propor ações corretivas, visando assegurar que os objetivos organizacionais e os planos estabelecidos para alcançá-los sejam cumpridos. 1.7 LICENCIAMENTO AMBIENTAL Ato administrativo por meio do qual o órgão ambiental competente avalia e estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, para localizar, instalar, operar e alterar empreendimentos ou atividades efetivas ou potencialmente degradadoras1. 1 Art. 43, da Lei nº 10.431, de 20 de dezembro de 2006. A Resolução CONFEA nº 1.025/09 e a Lei Federal nº 6.496/77 exigem Anotação de Responsabilidade Técnica do projeto. 18 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades que se utilizem de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente2. Nos projetos básico e executivo relativos a obras públicas devem ser considerados os impactos ambientais3, conforme preconiza o inciso VII, artigo 12 da Lei Federal n° 8.666/93. O projeto básico, de acordo com o inciso IX do artigo 6° da citada Lei, deve assegurar adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento. O processo de licenciamento ambiental, no âmbito do estado da Bahia, é constituído dos seguintes instrumentos: I – Licença de Localização (LL) II – Licença de Implantação (LI) III – Licença de Operação (LO) IV – Licença de Alteração (LA) V – Licença Simplificada (LS) VI – Autorização Ambiental (AA) I – Licença de Localização (LL): concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade, aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação. 2 Art. 10 da Lei Federal no 6.938/81 e art. 20 da Resolução CONAMA n0 237/97 (que regulamenta o art. 10 da Lei Federal no 6.938/81). 3Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: a saúde, a segurança, e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias ambientais; qualidade dos recursos ambientais. Para empreendimentos potencialmente causadores de significativa degradação ambiental, exige-se o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para a concessão da licença prévia, de acordo com o art. 3º da Resolução CONAMA nº 237/97. 19 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as II– Licença de Implantação (LI): concedida para a implantação do empreendimento ou atividade, de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionamentos. III – Licença de Operação (LO): concedida para a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento das exigências constantes das licenças anteriores e estabelecimento das condições e procedimentos a serem observados para essa operação. IV – Licença de Alteração (LA): concedida para a ampliação ou modificação de empreendimento, atividade ou processo regularmente existentes e que estiverem 20% acima do valor fixado na LO. V – Licença Simplificada (LS): concedida para empreendimentos classificados como de micro ou pequeno porte, excetuando-se aqueles considerados de potencial risco à saúde humana. VI – Autorização Ambiental (AA): é o ato administrativo por meio do qual o órgão ambiental competente permite a realização ou operação de empreendimentos e atividades, pesquisas e serviços de caráter temporário, execução de obras que não resultem em instalações permanentes, bem como aquelas que possibilitem a melhoria ambiental, conforme definidos em regulamento. O projeto básico só deve ser elaborado quando a LL já estiver autorizada e atestada a viabilidade ambiental do empreendimento. 20 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 21 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as 2.1 CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE OBRAS Mediante a Resolução nº 52, deste TCE, de 21/07/2011, os órgãos e entidades responsáveis por projetos, obras e serviços de engenharia estão obrigados a encaminhar mensalmente a esta Corte, por meio de sistema web, informações relativas a licitação, contratação e execução. As informações recebidas integram o Módulo de Obras do Sistema de Observação das Contas Públicas (Mirante), que possibilita aos auditores obter uma visão sistêmica das obras estaduais. Com o uso dessa ferramenta, que permite diversas consultas e emissão de relatórios, os auditores têm acesso fácil e rápido a três subconjuntos de informações sobre projetos, obras e serviços de engenharia, quais sejam: (i) Secretaria/Órgão responsável, Programa de Governo e Projeto vinculado; (ii) objeto, forma de contratação, modalidade, tipo de licitação, dados da empresa contratada; e (iii) características da obra, como atividade técnica, início do serviço, valor do contrato, licenciamento ambiental, aditivos celebrados, além de informações detalhadas sobre as medições e pagamentos realizados. O sistema possibilita, ainda, a geração de matrizes diversas, que poderão ser elaboradas de acordo com a natureza e/ou escopo de auditoria, a especificidade da obra, estágio de execução, dentre outras especificações. É possível gerar desde uma matriz global,onde sejam estabelecidos em um único ranking as obras e serviços de engenharia do Estado, até matrizes por Poder, Secretaria, Unidade ou área de atuação das 2 METODOLOGIA DE TRABALHO 22 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia Coordenadorias de Controle Externo (CCEs), abrangendo todos os órgãos e entidades da Administração Direta e Indireta Estadual. Assim, para a seleção das obras e serviços de engenharia a serem auditados, o TCE, salvo casos excepcionais, utilizará Matriz de Risco gerada pelo Sistema Mirante. Neste instrumento, de acordo com o grau de significância considerado apropriado para a matriz, são atribuídos pesos aos seguintes critérios: (i) relevância: obra/serviço de engenharia integrante de programa prioritário e/ou financiada por recursos externos; (ii) materialidade: valor da obra/serviço de engenharia; (iii) risco: aditamentos de prazos e valor dos contratos; estágio de evolução da obra/serviço de engenharia e atrasos ocorridos sem formalização de aditamentos. 2.2 EQUIPES DE TRABALHO A qualificação dos membros da equipe deverá ser compatível com o objetivo da auditoria, o alcance e complexidade de suas respectivas tarefas, levando-se em conta que algumas naturezas de auditoria de obras, além de exigirem conhecimentos da área de engenharia/arquitetura, requerem um exame sobre aspectos financeiros, legais e operacionais. Assim, é necessário que a equipe possua uma ampla variedade de conhecimentos, de tal forma que, para a realização das auditorias de obras públicas, estejam alocados profissionais com conhecimento nas áreas de Contabilidade, Direito, A partir do recorte ou desenho que se adote na matriz de risco, é possível montar equipes de auditoria que não possuam vinculação direta com uma CCE específica, vez que o foco pode ser dado não à área de competência da Coordenadoria, e sim ao objeto a ser auditado. 23 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as Administração, Engenharia, e com habilidades correlatas, não sendo necessário que cada integrante da mesma possua individualmente cada uma dessas habilidades. A equipe multidisciplinar tem atribuições complementares e interdependentes, de acordo com a área de conhecimento, conforme exemplificado: Engenharia e Arquitetura – essenciais para a verificação das etapas de planejamento, direção, execução e controle da obra em geral. Contabilidade, Economia e Administração de Empresas – executam atividades relacionadas à verificação das operações financeiras e orçamentárias da obra e à comprovação de seus registros. Direito – executam atividades relacionadas à aplicação dos dispositivos legais que regulam as diferentes etapas da obra. Nos casos em que a complexidade e a especificidade da auditoria de obras ensejar a colaboração de consultores e especialistas externos, o aporte de profissionais deverá ser efetuado em observância ao estabelecido nas Normas de Auditoria Governamental (NAGs)4, sobretudo quanto aos seguintes itens: 2205.1 – Quando o TC valer-se de consultores ou especialistas de procedência externa para prestar-lhe assessoramento, deve fazê-lo com o devido zelo profissional, verificando se eles têm competência e capacidade para realizar o respectivo trabalho. 2205.2 – A definição do planejamento, do escopo, da execução e do relatório da respectiva auditoria caberá ao TC. 4 A Resolução nº 53, de 23/07/2011, determinou a adoção das NAGs pelo TCE. 24 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 2205.3 – As normas que recomendam agir com o devido zelo profissional também têm aplicação, nessas situações, para a manutenção da qualidade do trabalho. 2205.4 – O trabalho dos consultores e especialistas será limitado ao escopo delineado pelo profissional do quadro do TC responsável pelos trabalhos de auditoria governamental, e suas conclusões serão reproduzidas no relatório de auditoria, com a opinião e os comentários dos profissionais de auditoria governamental. 2.3 PROGRAMAS PARA OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA SELECIONADOS As equipes de trabalho adotarão programas padronizados (gerais e específicos) de uso obrigatório, disponibilizados no Sistema de Gerenciameno de Auditoria (SGA). Os procedimentos dos programas não são exaustivos, podendo ser complementados a qualquer momento pelos auditores. Os programas gerais que deverão ser utilizados independentemente da tipologia da obra são os seguintes5: Informações Gerais; Informações Específicas; Avaliação da Economicidade; Análise dos Projetos Básicos e Executivos; e Concorrência Pública (CP), Tomada de Preços (TP) e Convite, Acompanhamento da Execução – Obras/Serviços em Geral. Os programas específicos já desenvolvidos, Saneamento e Obras Rodoviárias, serão utilizados em conjunto com os programas gerais. 5 Desenvolvidos basicamente para obras de edificações (construção e reforma). 25 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as Conforme estabelecido no Manual de Auditoria Governamental do TCE/BA, o planejamento da auditoria abrange a determinação dos objetivos da auditoria, data de realização, seu alcance, critérios, metodologia a ser aplicada, além do prazo e recursos necessários para garantir que cubra as atividades, processos, sistemas e controles mais importantes. Assim, a equipe deverá obter, no mínimo, informações sobre o ambiente de controle do órgão/entidade responsável pela obra/ serviços de engenharia; sobre os projetos arquitetônicos e complementares, cadernos de encargos, quantitativo de serviços, especificações de materiais e serviços (planejamento técnico); cronograma físico, planilhas orçamentárias, cronograma financeiro, o estágio em que a obra se encontra; a empresa contratada; a existência ou não de convênios; a verificação do prazo de conclusão dos serviços e sobre a execução financeira- orçamentária. Nas análises a serem efetuadas o auditor deve estar atento não apenas ao cumprimento de aspectos legais e formais, mas, também, verificar se os investimentos resultaram ou resultarão em obras de boa qualidade, seguras e adequadas aos custos estabelecidos e à finalidade a que se destina. Caso a obra já tenha sido objeto de auditorias anteriores, especial atenção deve ser dada aos atos e fatos ocorridos após as mesmas, contemplando, no planejamento dos trabalhos de campo, a verificação do cumprimento de medidas determinadas pelo Tribunal e/ou pela Auditoria Geral do Estado. 3 ORIENTAÇÕES GERAIS 26 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia Em suma, nesta fase da auditoria, a equipe deverá obter o maior número possível de informações sobre a obra, de modo a poder programar as atividades de campo ainda no escritório. O alcance que se estabelece nesta etapa é determinante para que o auditor possa cercar-se das evidências suficientes, competentes e pertinentes que lhe permitam formar um juízo acerca das condições sobre as quais se está realizando o trabalho relativo à obra objeto da avaliação. Ao fixar o alcance, levar-se-á em conta que é importante avaliar a realização da obra, os controles existentes e o cumprimento das obrigações contratuais, assim como precisar se as falhas detectadas são consequências de problemas ocorridos nas etapas anteriores. De forma a otimizar o tempo disponível para a realização da auditoria, recomenda-se que, antes do início da fase de execução, a equipe elabore as solicitações dos documentos necessários ao desenvolvimento dos trabalhos e, se julgar oportuno, já encaminhá-las aos órgãos responsáveis, a fim de que sejam disponibilizados a partir do primeiro dia da fase de execução. Cabe à equipe de auditoria identificar quais os documentosque deverão solicitar ao órgão responsável pelo empreendimento. No entanto, de acordo com a natureza do trabalho, o estágio e as peculiaridades da obra, sugere-se que sejam solicitados ao órgão contratante os seguintes6: • processo licitatório completo, conforme o disposto no art. 38 da Lei no 8.666/93 e art. 74 da Lei Estadual no 9.433/05; • caso seja inexigível ou dispensável a licitação, os documentos relativos ao procedimento respectivo, conforme o disposto no 6 Adaptação dos itens constantes do Roteiro de Fiscalização de Obras de Edificações do TCU. 27 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as parágrafo único do art. 26 da Lei no 8.666/93 e art. 65, § 30 da Lei Estadual no 9.433/05; • todos os documentos relativos ao projeto básico, conforme disposto no inciso IX do art. 6º da Lei no 8.666/93, mesmo que a licitação para execução do objeto não tenha sido iniciada, e inciso IX do art. 8º da Lei Estadual no 9.433/05; • projeto executivo, com todos os seus elementos constitutivos, conforme o disposto no inciso X do art. 6º da Lei no 8.666/93 e X do art. 8º da Lei Estadual no 9.433/05; • licenças expedidas pelos órgãos competentes e estudos exigidos pela legislação vigente, inclusive aqueles referentes aos aspectos ambientais; • ordem de serviço para o início das obras; • alvará de construção; • Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), dos projetos e da obra; • contratos e termos aditivos; • documentação relativa ao convênio, se for o caso; • cronograma físico-financeiro; • memorial descritivo e especificações de materiais e de serviços; • eventuais alterações de projeto ou de especificações com respectivas análises técnicas e autorizações; • relatórios e pareceres técnicos; • laudos de verificação; • adequação ao art. 16 § 4º, inciso I da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº 101/2000); • relação das fontes de recursos com respectivas datas e valores; • relatórios de medições (boletins de medição); • diário de ocorrências (ou de obras), previsto no § 1º do art. 67 da Lei Federal no 8.666/93, inciso I do art.154 da Lei Estadual no 9.433/05 e Resolução Federal no 1.024/09; • termos de recebimento (provisório e definitivo), conforme o disposto no inciso I do art. 73 da Lei Federal no 8.666/93 e arts.161 e 165 da Lei Estadual no 9.433/05; 28 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia • notas fiscais e faturas de pagamento com atesto do responsável; • comprovantes de recolhimento das contribuições de INSS e FGTS e demais tributos pertinentes, a fim de elidir a responsabilidade solidária da contratante definida no art. 71 da Lei Federal no 8.666/93; art.159 da Lei Estadual no 9.433/ 05; • habite-se, se for o caso. Na fase de execução da auditoria, conforme estabelecido no Manual de Auditoria Governamental do TCE-BA, a equipe deve obter as provas para a sustentação das observações da auditoria, sendo necessárias a avaliação dos controles e a coleta de evidências suficientes e confiáveis, mediante a aplicação de técnicas de auditoria, com vistas a determinar se as questões de auditoria levantadas, durante a fase de planejamento, são realmente relevantes a ponto de serem consideradas quando da elaboração do relatório. O referido Manual estabelece, ainda, que os procedimentos de auditoria devem ser realizados em conformidade com os programas, através de exames, provas seletivas, testes e amostragem, em razão da complexidade e volume das operações, cabendo ao auditor, com base na análise de riscos envolvidos, determinar a amplitude ou o escopo necessário à obtenção dos elementos probatórios. Dependendo da etapa ou etapas da obra que se vai avaliar, o auditor verifica, examina e avalia a gestão das áreas responsáveis pelo planejamento, controle, execução e avaliação das obras públicas, com o objetivo de determinar o grau de eficácia, eficiência e economicidade com que operam. Os tópicos a seguir destacados constituem-se em áreas potenciais para avaliação da auditoria em obras públicas. 29 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as 3.1 AVALIAÇÃO DO CONTROLE INTERNO A avaliação do controle interno se aplica com o fim de estabelecer, com maior efetividade e precisão, os objetivos específicos da auditoria, a natureza, alcance e oportunidade de suas provas, assim como para obter elementos que permitam ao auditor suportar suas observações, conclusões e recomendações com vistas à melhoria administrativa e operacional, a partir do aprimoramento dos controles examinados. O auditor deve verificar se os controles asseguram a proteção dos recursos, a suficiência, oportunidade e confiabilidade das informações, o uso econômico e eficiente dos recursos, o direcionamento aos planos, políticas, procedimentos, leis e regulamentos, e o cumprimento das metas e objetivos. Portanto, ao efetuar o acompanhamento, o auditor deverá verificar, entre outros aspectos, que o controle interno torne efetivo o modo de: • conduzir o processo de planejamento, programação e orçamentação, com estrito apego às normas vigentes, e propiciar que se reduzam ao mínimo as possibilidades de erros; • executar a obra conforme o projeto e em cumprimento às especificações técnicas construtivas e de materiais definidos nos projetos; • fazer uso racional dos recursos destinados à obra pública e aplicá-los conforme o calendário pré-estabelecido; • contar com informações oportunas sobre o avanço físico e financeiro das obras, que permitam aos níveis diretivos instrumentar as ações necessárias para alcançar oportunamente as metas e objetivos; • efetuar os pagamentos aos contratados somente por serviços e obras executadas e concluídas conforme o projeto, planos e especificações, e de acordo com os preços e condições pactuadas em contrato. 30 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 3.2 ANÁLISE DO EDITAL/LICITAÇÃO A análise do edital permite a identificação, o conhecimento e a compreensão do objeto a ser auditado, devendo ser observado se no mesmo constam os seguintes elementos mínimos necessários previstos nas Leis Federal e Estadual de Licitação: • minuta do contrato; • planilha orçamentária; • projeto básico e/ou executivo, com todos os projetos, especificações e outros complementos necessários e suficientes para assegurar uma adequada contratação. Na licitação a ser realizada se faz necessária a previsão detalhada das despesas, expressa em planilhas que indiquem os custos unitários, de forma a possibilitar que a Administração estime os recursos orçamentários necessários e a correta escolha da modalidade a ser adotada. Um orçamento bem elaborado apresenta os quantitativos de serviços e os preços unitários advindos da composição de todos os seus custos. Tais custos têm papel fundamental na elaboração do edital, pois não permitem que os licitantes apresentem planilhas com preços excessivos. O auditor deve estar atento quanto à previsão dos quantitativos, pois, mesmo em condições que não permitam definir precisamente os quantitativos, é proibida a licitação de quantidades indefinidas, conforme estabelecido na Lei Federal no 8.666/93, art.6°, IX-f; art.7°, §2°- II e art.40, §2°-II. Nessa etapa da análise, a equipe de auditoria deve avaliar os preços constantes na planilha orçamentária básica, comparando- Sempre que possível o TCE deverá examinar tempestivamente o Edital, de forma a evitar a contratação de serviços sub/superfaturados, com projetos insuficientes e especificações técnicas inadequadas. 31 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as os com os praticados no mercado à época da licitação. Tais inferênciasdevem estar suportadas em revistas especializadas, em tabelas de uso consagrado (Editora PINI, SINAPI/SICRO, FGV). 3.3 ANÁLISE DOS PROJETOS A análise dos projetos é de suma importância para assegurar que a auditoria seja capaz de identificar se as obras e serviços de engenharia estão sendo planejados e executados de acordo com os princípios da eficiência, eficácia, economicidade e efetividade. Os projetos são elaborados geralmente em três etapas sucessivas, a saber: • estudo preliminar ou anteprojeto; • projeto básico; • projeto executivo. 3.3.1 Análise do Anteprojeto O auditor deve observar se existem estudos preliminares ou Projetos-Padrão disponíveis que sirvam de base para a elaboração de um projeto, que devem contemplar os esboços e diretrizes definidas pela gestão. Existem duas maneiras de se elaborar o anteprojeto7. Ou o órgão possui um setor especializado dentro da sua estrutura operacional ou terceiriza este serviço, utilizando-se de empresas especializadas na matéria. A equipe de auditoria deve dedicar especial atenção à análise do anteprojeto, visto que esta peça possui influência determinante nas etapas subsequentes (projetos básico e executivo). 7 Espécie de estudo preliminar contendo um esboço e diretrizes a serem observadas para obras/serviços de engenharia. 32 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 3.3.2 Análise do Projeto Básico O projeto básico é o ponto de partida de todo e qualquer empreendimento. A sua análise é de extrema relevância para a auditoria, visto que grande parte das irregularidades encontradas nas obras e serviços de engenharia tem sua origem na deficiência desse projeto. Os diversos elementos que o compõem (estudo de viabilidade, estudos geotécnicos e ambientais, plantas e especificações técnicas, orçamento detalhado, etc.) muitas vezes apresentam- se inconsistentes ou mesmo não existem, gerando problemas futuros de significativa magnitude. Ressalte-se que as deficiências nos projetos trazem consequências que podem frustrar a execução/conclusão do objeto licitado, dadas as diferenças entre o objeto licitado e o que será efetivamente executado, o que implica na necessidade de se responsabilizar o autor e/ou o responsável pela aprovação do projeto básico, quando este se apresenta inadequado. Para a sua elaboração devem ser considerados os quesitos a seguir destacados (art. 12 da Lei Federal de Licitações n0 8.666/ 93): • segurança; • funcionalidade e adequação ao interesse público; • possibilidade de emprego de mão de obra, materiais, tecnologia e matérias primas existentes no local para execução, de modo a diminuir os custos de transporte; • facilidade e economia na execução, conservação e operação, sem prejuízo da durabilidade da obra ou serviço; • adoção de normas técnicas de saúde e de segurança do trabalho adequadas; • infraestrutura de acesso; • aspectos relativos a insolação, iluminação e ventilação. 33 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as 3.3.3 Análise do Projeto Executivo O primeiro aspecto que o auditor deve observar é a compatibilidade entre o Projeto Executivo (PE) e o Projeto Básico (PB), pois esta análise permite aferir se as obras e serviços de engenharia analisados estão compatíveis com o objeto licitado. Isto não significa que não possam ser procedidas alterações no PE em relação ao PB; são possíveis desde que estejam tecnicamente justificadas e aprovadas pela autoridade competente. Atenção especial deve ser dada a alterações significativas entre as fases de projeto básico e projeto executivo, pois indicam alta possibilidade de deficiência no primeiro e alteração do objeto licitado. Caso a Administração não tenha condições de elaborar o projeto executivo, é necessário que seja contratada empresa especializada para este fim (licitação específica) antes da licitação da obra, procurando evitar futuras modificações e aditivos ao contrato. Quando da realização da auditoria, as seguintes normas regulamentadoras para os projetistas, estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) devem ser observadas: NBR 13.531/1995: Elaboração de Projetos de Edificações – Atividades Técnicas do Projeto de Edificações. Prevê as etapas das atividades técnicas do projeto de edificações, do levantamento ao projeto executivo, cujas informações, quando completas e adequadas, evitam alterações nas obras. NBR 5.671/1990: Participação dos Intervenientes em Serviços e Obras de Engenharia e Arquitetura. Estabelece como responsabilidade e prerrogativas exigíveis dos intervenientes que determinam a execução da obra, por exemplo, “definir com 34 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia precisão e clareza os objetivos e elementos necessários à elaboração do programa do projeto”, assim como “dispor do local desembaraçado física e legalmente, em tempo hábil, necessário para o início e desenvolvimento do empreendimento”. A equipe deve verificar se no Projeto Executivo foram contemplados elementos que visem assegurar a acessibilidade8 do cidadão. 8 Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação , por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzira- Artos da Lei Federal nº 10.098/2000. 3.4 ANÁLISE DE CUSTOS Numa auditoria de obra pública o aspecto da análise de custos é um fator importante a ser verificado. O ideal é que tal verificação seja feita a preços iniciais e finais do contrato, visto que aditivos contratuais podem induzir ao superfaturamento de um serviço cujo preço original mostra-se adequado. Há três níveis de análise de custos: a estimativa preliminar, a análise de orçamento sintético e a análise do orçamento analítico, sendo a última bastante mais complexa e trabalhosa que a primeira. De modo geral, deve-se proceder à estimativa preliminar e, caso haja indício de sobrepreço, aprofundar a análise pelos demais níveis, o que demandará muito mais tempo para o trabalho. A diferença entre o orçamento sintético e o analítico é que o primeiro não possui a composição dos serviços a serem A construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos destinados a uso coletivo deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida - Lei Federal nº 10.098/2000. 35 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as executados, só mencionando o tipo e seu respectivo custo. O segundo contempla a composição destes, estabelecendo quais são os insumos necessários à realização dos mesmos, os respectivos custos unitários e as quantidades necessárias para a execução de cada serviço, podendo estas serem obtidas em publicações técnicas disponíveis no mercado (TCPO da Editora PINI) e em órgãos como o DNIT (SICRO) e CEF (SINAPI), ou ainda em órgãos públicos executores de obras. 3.4.1 Orçamento Estimativo Preliminar Consiste na comparação dos dados da área construída com macroindicadores, tais como o Custo Unitário Básio (CUB) do Sinduscon, indicadores de referência de preços existentes no mercado como o SINAPI da Caixa Econômica Federal, tabelas da Editora PINI, indicadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), etc., além de indicadores divulgados por determinados órgãos (o Ministério da Saúde, por exemplo, divulga o preço previsto para obras de unidades de saúde), ou pela comparação com o preço de obras semelhantes. Alguns cuidados fundamentais devem ser tomados para essa estimativa, como se expõe a seguir. Ao se usar o CUB (ou o SINAPI) para aferir o custo por metro quadrado (m²) de umprédio, deve-se considerar quais os componentes que fazem parte daquele indicador. O CUB não contempla despesas com projetos, elevadores, instalações especiais, BDI e outras, que devem ser avaliadas à parte. Assim, uma forma de se fazer essa comparação é “expurgar” do orçamento em análise os itens que não compõem o CUB, comparando apenas o valor remanescente. Já no caso de comparação com obras semelhantes, deve-se atentar para que as condições locais sejam também compatíveis. Essa avaliação deve ser calculada de acordo com a NBR 12.721:2006 da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas 36 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia e caso a análise preliminar indique a possibilidade de sobrepreço, deve-se proceder à análise do orçamento sintético, a fim de se localizar em qual serviço está a divergência. 3.4.2 Análise do Orçamento Sintético O orçamento sintético é aquele que apresenta o custo unitário de cada serviço (m² de alvenaria, m³ de concreto, m² de pintura, etc.), geralmente subdividido em “material” e “serviço” (mão de obra). Sua análise (que deve abranger tanto o orçamento do projeto básico quanto o da vencedora da licitação) deve ser feita por meio de comparação dos custos unitários da obra em estudo com preços referenciais de mercado, que são preços divulgados por publicações especializadas (Revista Construção, da Editora PINI, por exemplo) ou por órgãos públicos (cite-se o SINAPI, da CEF). É importante sempre verificar se há preços referenciais específicos para o tipo de obra enfocado. Convém ressaltar, por fim, que é normal haver divergências entre os custos unitários do orçamento da obra e os de referência, às vezes para maior, às vezes para menor. Isso, em princípio, não representa irregularidade, desde que o preço global esteja adequado. Porém, especial atenção deve ser dada às divergências mais significativas, pois os quantitativos dos itens de serviços com valores superestimados poderão sofrer acréscimos no decorrer da obra, o que configuraria superfaturamento, notadamente nas obras contratadas por preço unitário. Outro aspecto a ser observado no orçamento sintético é o quantitativo dos serviços, pois mesmo o preço estando compatível é possível haver sobrepreço por meio de quantitativos superestimados no orçamento ou nas medições (no caso de contrato por preços unitários). 37 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as Por fim, vale ressaltar que essa análise pode ser significativamente simplificada se for feita a partir de uma Curva ABC do orçamento, visto que, em geral, 20% dos itens dos mais significativos correspondem a cerca de 80% do valor total. 3.4.3 Análise do Orçamento Analítico O orçamento analítico é aquele que apresenta as Composições de Custos Unitários de todos os serviços. É complementar à análise do orçamento sintético, e seu estudo serve para se identificar a origem de eventuais discrepâncias de custos unitários. Um valor elevado de um serviço pode-se dar por meio da superestimativa do coeficiente de utilização dos insumos ou do próprio preço desses insumos. A adequabilidade das composições deve ser verificada por meio da comparação com fontes referenciais, tanto no caso de coeficientes de utilização (por exemplo TCPO, da PINI, e SINAPI da CEF) quanto no preço dos insumos (por meio, por exemplo, do SINAPI da CEF ou da Revista Construção, da PINI). Devem-se verificar, ainda, as taxas de Encargos Sociais e de BDI adotadas no orçamento. 3.4.4 Taxa de BDI A apresentação do preço final para execução dos serviços deve computar Custos Indiretos e Lucro esperado da construtora, que está determinado por um fator multiplicador chamado de BDI (Benefício e Despesas Indiretas). O orçamento empresarial possibilita definir uma meta econômica a ser atingida pela empresa construtora durante o ano. Fornece valores médios que servirão de ponto de partida para a análise do negócio. No entanto, cada contratante, cada tipo de obra, cada local diferente, são componentes de um cenário particular que exige uma análise pormenorizada para definição da taxa de BDI. 38 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia No que tange à composição dos gastos que devem integrar o BDI, e considerando-se a similaridade das ações de controle, sugere-se a adoção dos critérios utilizados pelo Tribunal de Contas da União – TCU (Acordão no 325/2007-P), conforme especificado abaixo e do Acordão no 2.369-36/2011-P, que trata dos valores referenciais específcos para cada tipo de obra. 3.5 ANÁLISE DOS CONTRATOS Considera-se contrato administrativo todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da administração pública e particular, em que haja um acordo de vontade para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada9. 9 Cartilha de obras públicas – Tribunal de Contas da União (TCU). Descrição Mínimo Máximo Média Garantia 0,00 0,42 0,21 Lucro 3,83 9,96 6,90 Administração Central 0,11 8,03 4,07 Despesas Financeiras 0,00 1,22 0,59 ISS 2,00 5,00 3,62 COFINS 3,00 3,00 3,00 Tributos 6,03 9,03 7,65 PIS 0,65 0,65 0,65 Seguros/Imprevistos/Riscos 0,00 2,05 0,97 Total Aceito 16,36 28,87 22,61 QUADRO 2 – Itens que compõem o BDI Nota: Considera-se inadequada a inclusão na composição do BDI Imposto de Renda - Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSSL). Os itens Administração Local, Instalação de Canteiro e Acompanhamento e Mobilização e Desmobilização, visando uma maior transparência, devem constar na planilha orçamentária. É altamente desejável que o orçamento da contratada apresente a composição analítica do BDI, sendo importante orientar os órgãos licitantes que ainda não o fazem a inserir essa exigência nos editais de licitação. 39 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as Os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as condições para a execução, expressas em cláusulas que definam os direitos, obrigações e responsabilidades das partes, em conformidade com os termos da licitação e da proposta a que se vinculam, conforme dispõe o art. 55 da Lei Federal de Licitações nº 8.666/93 e art. 126 da Lei Estadual de Licitações e Contratos nº 9.433/05. O auditor deve efetuar a comparação entre o previsto no edital e o pactuado no contrato, de forma a verificar se as cláusulas obrigatórias estão preconizadas e se existe coincidência entre os dois instrumentos. Esse procedimento consiste em aferir a conformidade das obras às normas técnicas, à legislação vigente e aos termos do edital e do contrato (projetos, planilhas orçamentárias, especificações de materiais e de serviços, cronogramas físico e financeiro, aditivos, etc.), bem como aferir o desempenho na execução dos serviços e propor ações corretivas, visando assegurar que os objetivos organizacionais e os planos estabelecidos para alcançá-los sejam cumpridos. Além dos aspectos acima citados, deve merecer atenção da equipe de auditoria a verificação da conformidade documental dos pagamentos efetuados, levando-se em consideração o previsto no projeto básico, no cronograma físico-financeiro e as medições dos serviços realizados. 3.6 EXECUÇÃO FÍSICA DA OBRA Um dos mais importantes aspectos a observar numa auditoria de obra é o que se refere a medições e pagamentos. Deve-se atentar para medições de serviços não executados e superestimativas de volumes de serviços realizados, especialmente em contratos por preços unitários, o que acarretará superfaturamento ou, no mínimo, antecipação de pagamentos. 40 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia Quanto aos aspectos técnicos,especial atenção deve ser dada ao cumprimento das especificações da obra, pois a contratada pode aumentar seu lucro por meio da substituição de materiais por outros de menor custo e pior qualidade. Assim, o que aqui se recomenda é que a equipe faça as verificações possíveis (entre as mais importantes), no que concerne a etapas já concluídas da obra, e uma análise mais detalhada dos serviços referentes à etapa que estiver em andamento. Finalmente, convém destacar que o Livro de Ocorrências (ou Diário de Obra) é uma importante fonte de consulta do auditor, quando este desejar analisar o desempenho da fiscalização da obra naquilo que se refere às questões técnicas. 3.6.1 Fiscalização As atribuições da fiscalização deverão necessariamente estar dispostas no edital de licitação e respectivo contrato de execução dos serviços. O auditor deverá observar se a fiscalização do órgão auditado está sendo realizada de forma sistemática pelo contratante e seus respectivos prepostos, contemplando a verificação do cumprimento das disposições contratuais, técnicas e administrativas em todos os seus aspectos. O auditor deve verificar se o contratante manteve, desde o início dos serviços até o seu recebimento definitivo, profissional ou equipe de fiscalização constituída de profissionais habilitados, dependendo do porte da obra, com experiência técnica Para efeito de medição e pagamento, só poderão ser considerados os serviços e obras efetivamente executados pelo contratado e aprovados pela fiscalização, respeitadas a rigorosa correspondência com o projeto, as modificações expressas e previamente aprovadas e as planilhas orçamentárias pertinentes à obra. 41 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as necessária ao acompanhamento e controle dos serviços relacionados com o tipo de obra que está sendo executada. Os fiscais poderão ser servidores do órgão, ou, no caso de convênios, da prefeitura, de ONGs, ou contratados especialmente para esse fim. A equipe de auditoria deve fazer as verificações relativas às etapas já concluídas da obra, e uma análise mais detalhada dos serviços referentes à etapa que estiver em andamento. Aspectos importantes a serem observados são aqueles referentes às medições e aos pagamentos, atentando para medições de serviços não executados e acréscimos de volumes de serviços realizados em relação ao licitado, especialmente em contratos por preços unitários, o que acarretará superfaturamento ou, no mínimo, pagamentos antecipados. O cumprimento das especificações da obra requer do auditor uma análise mais detalhada, considerando que a substituição de materiais licitados por outros de menor custo e de qualidade inferior afeta negativamente o resultado esperado, além de possibilitar o enriquecimento ilícito do contratado. Destaca-se que o Livro de Ocorrências, também chamado de Diário de Obra, conforme mencionado anteriormente, constitui- se numa importante fonte de consulta do auditor, para proceder à análise do desempenho da fiscalização da obra naquilo que se refere às questões técnicas. As anotações devem ser diárias, não se aceitando o acúmulo de dias sem anotações para posterior preenchimento (art. 67 da Lei Federal nº 8.666/93). § 1º - O representante da administração anotará em registro próprio todas as ocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o que for necessário à regularização das falhas ou defeitos observados. 42 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 3.6.2 Execução Física do Contrato Na fase de execução das obras e dos serviços de engenharia são observadas as maiores ocorrências de frustração às premissas existentes no edital e no contrato pactuado, razão pela qual torna-se necessária uma análise apurada e minuciosa por parte da auditoria. A celebração de aditivos sequenciais cuja soma extrapola o limite legal de 25% do valor inicial, sem a precedência de justificativa técnica, é um cenário comumente verificado ao se auditar obras públicas. Tal prática, além de mascarar um procedimento ilegal, causa transtornos do ponto de vista orçamentário, uma vez que não se mantém transparente o volume de recursos necessários à conclusão do empreendimento e frustra o caráter de competitividade do procedimento licitatório inicial. Deve, também, merecer especial atenção da equipe de auditoria a conformidade documental dos pagamentos efetuados com o previsto nos projetos básico e executivo, nas planilhas orçamentárias, no cronograma físico e financeiro e com os boletins de medições de serviços realizados. O auditor deverá certificar-se do cumprimento das normas e dos procedimentos considerados eficazes para garantir a segurança e higiene de terceiros, das construções vizinhas e dos trabalhadores empenhados na execução dos serviços10. 3.6.3 Recebimento da Obra Após a execução do contrato, o auditor deve verificar se a obra foi recebida provisoriamente pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes, no prazo de até 15 (quinze) dias da comunicação escrita do contratado, informando que a obra foi encerrada. 10 Normas de Segurança de Higiene do Trabalho – NR 18 e outras equivalentes. 43 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as Também deverá ser observado se, após o recebimento provisório, o servidor, ou comissão designada pela autoridade competente, recebeu definitivamente a obra, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes, após decurso de prazo de observação hábil, ou vistoria que comprovasse a correção de serviços apontados no relatório do recebimento provisório e da adequação do objeto aos termos contratuais, ficando o contratado obrigado a reparar, corrigir, remover, reconstruir ou substituir, às suas expensas, no total ou em parte, o objeto do contrato em que se verifiquem vícios, defeitos ou incorreções resultantes da execução ou de materiais empregados. O auditor deve ter em vista que o recebimento provisório ou definitivo não exclui a responsabilidade civil do construtor pela solidez e segurança da obra ou do serviço, nem ético-profissional pela perfeita execução do contrato, dentro dos limites estabelecidos pela lei ou pela avença, visto que, conforme o art. 618 da Lei n0 10.406/02 (Código Civil), a coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que tornem impróprio ao uso a que é destinado ou lhe diminuem o valor. Além disso, o art. 12 da Lei Federal n0 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) dispõe que o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. A auditoria deve observar se foi prevista no edital de licitação e no contrato a obrigação de confecção, conforme norma da ABNT, do “as built” (como construído), a fim de possibilitar a ação de subsidiar futuras intervenções a título de manutenção ou reforma. 44 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 45 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as As principais impropriedades/irregularidades encontradas de forma mais frequente quando das auditorias em obras, embora não exaustivas, encontram-se citadas na sequência: • ausência de recursos para execução da totalidade da obra; • ausência de contrato ou cláusulas obrigatórias; • contrato de execuçãodissonante do contrato de financiamento ou termo de convênio, especialmente quanto a valores e indexadores; • empresas vencedoras do processo licitatório sem habilitação exigida; • ausência de registros cadastrais das empresas licitantes; • ausência de plano de trabalho relativo à execução de convênio; • plano de trabalho relativo a convênios pouco detalhado; • recursos repassados com atraso em relação ao pactuado, sem atentar para a subsequente alteração de metas; • desvio de finalidade no emprego dos recursos; • projeto básico em desacordo com a legislação (tecnicamente incompleto ou sem o necessário orçamento detalhado); • projeto básico em desacordo com o objeto contratado (especialmente preços e quantidades); • direcionamento da licitação (por meio de critérios de julgamento ou exigências de capacidade técnica impróprios, ou preço-base sigiloso); 4 PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS 46 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia • superfaturamento, através de: 9 preços contratados superiores aos praticados pelo mercado; 9 alteração de especificações previstas no projeto, sem justificativa; 9 ausência de orçamentos detalhados; 9 quantitativos superestimados; 9 BDI elevado em relação ao praticado no mercado à mesma época; 9 jogo de preços (elevação dos custos dos serviços iniciais, de modo a se obter o lucro pretendido nas primeiras fases da obra); 9 preços unitários elevados de serviços sujeitos a acréscimos por aditivo; 9 supressão de serviços com baixo preço unitário; 9 negociação ardilosa para a definição de preços de serviços extra-contratuais; 9 medição de quantitativos elevada (incompatíveis com o volume aplicado e/ou com os equipamentos utilizados); 9 pagamentos de serviços de forma diferente do previsto originalmente (escavação de material de 3ª categoria, quando o previsto era de 1ª categoria, por exemplo); 9 custo direto dos insumos superestimado; 9 coeficientes de produtividade inadequados; 9 pagamento antecipado (antes da execução do correspondente serviço ou do prazo máximo previsto para o pagamento); 9 erros no cálculo do reajustamento, seja pela utilização de datas-base incorretas, seja pela ausência de descontos futuros relativos aos reajustamentos provisórios pagos a maior; 47 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as 9 pagamento em prazo anterior ao estipulado no contrato sem a devida compensação financeira; 9 aditivos superiores a 25% (no caso de obras) e 50% (no caso de reformas); 9 alteração de prazos contratuais sem os motivos devidamente autuados em processo; 9 alteração dos contratos sem as devidas justificativas; 9 ausência de formalização de termos de recebimento das obras/serviços. O Anexo apresenta de forma sistematizada os principais achados, suas causas, critérios, efeitos e riscos envolvidos. 48 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 49 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as A realização de auditoria de obras públicas exige do auditor, além de conhecimentos de termos comuns a qualquer ramo/ natureza de auditoria, o domínio de conceitos específicos de acordo com a tipologia da obra a ser auditada. Com o propósito de facilitar o entendimento e aplicabilidade dos conhecimenos exigidos, o presente glossário foi segregado em quatro partes: licitações e execução dos contratos; obras em geral; obras rodoviárias; e obras de infraestrutura de água e saneamento. Conceitos relacionados à licitação e execução dos contratos ¾ Anotação de Responsabilidade Técnica (ART): registro, no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) local, previamente à execução de quaisquer serviços de engenharia, tais como projetos, perícias, avaliações, consultorias, sondagens e a execução da obra propriamente dita. É ela que vincula o Engenheiro responsável técnico ao trabalho por ele prestado, pelo qual passa a responder na eventualidade de que algum erro técnico seja detectado. Uma das vias da ART deve, obrigatoriamente, permanecer no local da construção, à disposição da fiscalização do CREA, e deve conter o nome e número de registro de todos os responsáveis por cada etapa da obra (sondagem, projetos, construção, etc.). ¾ Bonificação (ou Benefícios) e Despesas Indiretas (BDI): percentual que, aplicado sobre o custo da obra, eleva-o ao preço final dos serviços, e seu valor deve ser avaliado para cada caso específico, dado que seus componentes sofrem diversas variações em função do local, tipo de obra e sua GLOSSÁRIO 50 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia própria composição. Alguns comentários quanto aos seus principais componentes são abaixo apresentados: 1 Lucro: expectativa de ganho que o empreiteiro terá no empreendimento; oscila, normalmente, entre 7 e 15% do preço de venda, nas obras convencionais. Vale ressaltar que já se observaram alguns casos em que o lucro pretendido pela empresa era igual a zero, o que não significa inexequibilidade dos serviços, pois, às vezes, quando as condições do mercado se apresentam adversas, as empresas podem desejar apenas “manter” suas estruturas por determinado período. 2 Administração Central: engloba as despesas do escritório central da empreiteira, onde são dispendidos recursos em função da obra em questão (com telecomunicações, contabilidade, direção da empresa. etc.). Como, em geral, a empreiteira está executando várias obras simultaneamente, esses dispêndios são rateados entre elas. O valor geralmente usado para esse item varia entre 6 e 12% do custo direto da obra. 3 Imprevistos: usualmente se considera 1% do custo direto dos serviços, para obras convencionais, e visa a cobrir despesas imprevisíveis de responsabilidade do empreiteiro (pode-se citar, como exemplo de despesa aqui enquadrada, a indenização por danos causados a um veículo de terceiros, que se encontre próximo à obra e seja atingido por material proveniente desta, desde que, obviamente, não tenha havido seguro para esse tipo de acidente). Esse índice pode ser mais elevado, se o local ou as condições em que se executa a obra assim o justificarem. 4 Despesas Financeiras: percentual aplicado sobre o custo direto, que considera o custo de oportunidade do capital investido pelo construtor. Assim, deve-se considerar a valorização que o capital teria entre a data em que a 51 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as empreiteira pagou pelos insumos adquiridos para utilização em determinado período (num mês, por exemplo) e a data em que receberá da Administração a fatura correspondente aos serviços realizados naquele mesmo período. 5 Impostos: incidem sobre o valor da nota fiscal, ou seja, sobre o preço de venda. São eles o PIS (0,65%), a COFINS (3%) e o ISS. Este último, por ser tributo municipal, varia conforme o local da obra; alguns municípios cobram até 5% do valor da obra (deduzida a parcela correspondente ao material aplicado, já tributado pelo ICMS), enquanto outros isentam as obras públicas desse recolhimento. Há outros componentes que, em que pese seus custos estarem diretamente relacionados à obra e poderem ser mensurados, são considerados pelo empreiteiro como parcelas do BDI. Alguns exemplos são apresentados abaixo: 9 Administração da Obra: corresponde às despesas relacionadas com a supervisão e controle da obra, tais como a remuneração de engenheiros, mestres, encarregados e almoxarifes, material de expediente e despesas com água, energia e telefone. 9 Mobilização e Desmobilização: considera os gastos com transporte de pessoal e equipamentos para o canteirode obras, e é bastante significativo quando se trata de obra rodoviária ou qualquer outra distante dos centros urbanos. 9 Taxas e Emolumentos: recolhimentos legais exigidos para a execução dos serviços, para aprovação de projetos, obtenção do alvará de construção, registro da obra no CREA etc. 52 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia 9 Seguros: valores pagos às seguradoras, especialmente contra acidentes da construção civil. Também denominado de seguros de engenharia, podem ser estimados por meio de uma consulta a qualquer uma delas, e variam conforme o tipo, localização e valor da obra. 9 Transporte de Pessoal: despesa considerada quando a própria empreiteira promove o transporte diário de seu pessoal de ida e volta da obra. Deve-se verificar, nesse caso, se o dispêndio com vale-transporte não está sendo considerado na composição do índice de “encargos sociais”, o que evidenciaria duplicidade de pagamento. ¾ Composição de Custos Unitários (CCU): relação dos insumos (e seus quantitativos) necessários à execução de uma unidade de serviço, inclusive os encargos sociais incidentes sobre a mão de obra empregada. Indica o custo por metro quadrado de uma obra e conforme uma “cesta básica” de insumos, cujos preços são pesquisados a cada mês. Existem diversas tabelas que demonstram as composições de serviços, como a TCPO, da Editora PINI, tabelas do DNIT, da SUCAB, DERBA etc. Já o custo de cada insumo pode ser obtido por cotação diretamente no mercado (no caso de custo atual) ou por meio de publicações especializadas, das revistas “Construção”, “Dirigente Construtor” etc. Deve-se considerar, ainda, que sobre esse preço incidirá o BDI. ¾ Custo Unitário Básico (CUB): Indica o custo por metro quadrado de uma edificação de acordo com algumas características (número de pavimentos e padrão de É importante atentar, nesse caso, se os mesmos não estão sendo cobrados em duplicidade, ou seja, discriminados na planilha orçamentária e como componentes do BDI. 53 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as acabamento) e conforme uma “cesta básica” de insumos, cujos preços são pesquisados a cada mês. Sua metodologia de cálculo está definida na norma NB 12.721 da ABNT, e é publicado mensalmente pelo Sindicato da Indústria da Construção - SINDUSCON de cada Estado, por força da Lei Federal no 4.591/64. Trata-se de um custo básico, não se considerando, em sua composição, uma série de itens de custo presentes na maioria das obras, tais como, fundações especiais, elevadores e instalações especiais (água quente, ar condicionado e outras). Portanto, para se fazer a estimativa de custo de determinada obra a partir do CUB, é imprescindível acrescentar as parcelas relativas aos diversos itens que dela fazem parte e que não estão contempladas na composição do CUB. ¾ Especificações: conjunto de descrições, integrantes dos projetos, que estabelece as características dos materiais, equipamentos e serviços, necessários e suficientes ao desempenho técnico requerido nos projetos. Devem ser redigidas de acordo com os seguintes critérios: ser justo, breve, usar linguagem simples e clara, ser dirigida ao executante, servir como um texto de referência, evitar expressões como “ou similar”, especificar materiais padronizados sempre que possível, não especificar o que não se pretende exigir e incluir todos os serviços a executar. ¾ Estudo Preliminar: efetuado para assegurar a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental de um empreendimento, a partir dos dados levantados no Não se pode incluir na licitação bens e serviços sem similaridade ou de marcas, características e especificações exclusivas (exceto se tecnicamente justificável). 54 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia programa de necessidades, bem como de eventuais condicionantes do contratante. ¾ Serviços Preliminares: todas as operações de preparação das áreas destinadas à implantação do empreendimento ou do corpo estradal, áreas de empréstimo e ocorrências de material, pela remoção de material vegetal e outros, tais como: árvores, arbustos, tocos, raízes, entulhos, matacões, ou qualquer outro considerado prejudicial. ¾ Serviços Técnicos Profissionais Especializados: trabalhos relativos a estudos técnicos, planejamentos e projetos; pareceres, perícias e avaliações; assessorias ou consultorias técnicas; e fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras. Conceitos relacionados ao acompanhamento de obras em geral ¾ Caderno de Encargos: parte integrante do edital de licitação, tem por objetivo definir o objeto da licitação e do sucessivo contrato, bem como estabelecer requisitos, condições e diretrizes técnicas e administrativas para a sua execução. ¾ Edital de Licitação: ato escrito da Administração, que contém as determinações e posturas específicas para uma determinada licitação, de acordo com a legislação, para conhecimento dos interessados. ¾ Execução Direta: feita pelos órgãos e entidades da Administração, pelos próprios meios. ¾ Execução Indireta: a que o órgão ou entidade contrata com terceiros, sob qualquer dos seguintes regimes: 9 Empreitada por Preço Global: quando se contrata a execução da obra ou do serviço por preço certo e total. 55 M an ua l de A ud it or ia d e O br as P úb lic as 9 Empreitada por Preço Unitário: quando se contrata a execução da obra ou serviço por preço certo de unidades determinadas, por ex.: m2, m3, Kg etc. (não se pode incluir na licitação fornecimento de materiais ou serviços sem previsão de quantidades ou cujos quantitativos não correspondam às previsões reais do projeto básico ou executivo). 9 Tarefa: quando se ajusta mão de obra para pequenos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento de materiais. 9 Empreitada Integral: quando se contrata um empreendimento em sua integralidade, compreendendo, além de todas as etapas da obra, os serviços e instalações necessárias para sua entrada em operação (é importante verificar, nesse caso, se não foi ferido o princípio da economicidade). ¾ Fck: índice utilizado para designar a resistência característica, ou de projeto, do concreto. Normalmente são utilizados valores entre 15 MPa (ou 150 Kgf/cm2), para edificações mais simples, e 20 MPa (ou 200 Kgf/cm2), para obras de maior porte, podendo chegar a valores ainda maiores, dependendo da necessidade do carregamento solicitado. A cada concretagem efetuada na obra, devem ser moldados corpos de prova de concreto (modelos), que serão posteriormente rompidos em laboratório para aferição de sua resistência. Não se pode incluir na licitação fornecimento de materiais ou serviços sem previsão de quantidades ou cujos quantitativos não correspondam às previsões reais do projeto básico ou executivo. 56 T ri bu na l de C on ta s do E st ad o da B ah ia ¾ Obras e Serviços de Grande Vulto: aqueles cujo valor estimado seja superior a 25 vezes o limite máximo para a modalidade de licitação “tomada de preços”. Conceitos relacionados com obras rodoviárias ¾ Distância Média de Transporte (DMT): termo sempre utilizado em obras com significativo movimento de terra, como as rodoviárias. Para que sejam feitos os sucessivos cortes e aterros previstos em projeto, é necessário transportar a terra removida nos cortes para os locais onde haverá aterro. Como nem sempre é possível se fazer a compensação exata (volume de terra escavado nos cortes igual ao volume necessário para os aterros), às vezes é preciso recolher terra de outro local próximo, também chamado “caixa de empréstimo”, onde será escavado o material a ser transportado para o leito da rodovia, ou levar o
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