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Iniciação aos estudos históricos Jean Glénisson

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GLÉNISSON, Jean. Iniciação aos estudos históricos. RJ/SP: Difel, 1977.
Capitulo III- A História e o meio geográfico 
Os historiadores de todos os tempos perceberam os estreitos laços que unem a história e o espaço. Acontecimentos; nascimentos, desenvolução das sociedades: tudo estende-se pelo tempo, mas tudo também verifica-se num espaço determinado, em limites geográficos. Pág 64
Os habitantes das planícies, pelas comodidades de que dispõem, pela facilidade dos intercâmbios e do tráfico, habituam-se a ser prudentes e sábio: ao contrário os habitantes das regiões altas, dadas a inospitalidade dos lugares que os abrigam. Pág 65
A obra do verdadeiro fundador da geografia humana Frederico Ratzel mostra que a atividade humana obedece as leis impostas pelo espaço de localização. Pag 66
A geografia, tal como entendemos hoje em dia, estava então definitivamente fundada: a geografia humana de Ritter e Ratzel correspondia a geografia natural cujo iniciador fora Humbolt. A partir daí, divergiram os caminhos de geógrafos e historiadores. A história criou para uso próprio uma geografia histórica. Disciplinada limitou-se ao traçado das fronteiras, a delimitação das províncias e Estados. Foi apenas uma geografia das divisões políticas. Pág 66
Na medida em que se aventuravam ainda as grandes hipóteses e procuravam determinar as relações do homem com o espaço, os historiadores, a partir de então, dirigiram-se á geografia humana, lançada numa brilhante carreira, cujo curso não mais se enquadra no nosso setor. Talves os geógrafos tenha sido menos prudentes, pois os discípulos de Ratzel não deixaram de se embrenhar nas picadas da história, dentro do espirito de determinismo absoluto que os acompanhava desde seus inicios. Pág 67
Pensar como historiador, isto equivale a introduzir o tempo na geografia: tempo e a transformação. Poi, de fato o geografo pesquisa as permanências, as contantes; serve-se da história para encontra-las e assim agindo, brinca com os séculos. Não hesita, como vimos, sem qualquer preocupação com a respectiva cronologia. Pág 67
A consciência de uma necessária interpretação do espaço e tempo, excluindo todo determinismo á maneira de Ratzel, existe atualmente e muito viva- tanto entre numerosos geógrafos como entre historiadores. Já a primeira escola francesa de geografia humana, seguidora de Vidal de Blanche, recusava-se a admitir um determinismo radical. Em tempos bem mais antigos, aliás, Jean Bodin pressentia as dificuldades de uma relação demasiado estreita entre solo e o homem, notando que o mesmo povo, sem mudar de quadro geográfico, passa por períodos de grandeza e decadência. Pág 68 
Em que medida o tempo e o espaço encontram-se estreitamente ligados; em que medida a combinação de ambos é possível a lança luz tanto sobre a história quanto sobre a geografia é o que foi mostrado por uma obra, já clássica de Fernand Braudel em La Méditerranée et le monde mediterranéen á lépoque de Philippe II. Pág 68
Fernand Braudel propôs a fundação de uma “geo- história”, numa página que deve ser citada em sua quase totalidade: ‘ Fixar os termo dos problemas humanos tais como os veremos, estendidos no espaço e , se possível, cartografados, uma geografia humana inteligente: sim, sem dúvida, mas fixa-los não apenas para o presente e no presente, fixa-los no passado, levando-se em conta o tempo: descartar a geografia dest faina de buscar as realidades atuais, á qual ela se dedica unicamente ou quase, força-las a repensar, com seus métodos e seu espirito, as realidades passadas e, através disto, o que poderíamos chamar de vir a ser da história. Pág 69
Nestas condições, a reflexão dos historiadores e geógrafos contemporâneos tirou ao meio geográfico seu caráter de irremediável fatalidade. Consciente de certas permanências, das limitações, das pressões de toda ordem que o meio inegavelmente exerce sobre o homem, o historiador é especialmente sensível, ao mesmo tempo, tanto á modificação dos traços á primeira vista imutáveis do meio geográfico, quanto á ação exercida sobre este meio pelo homem: um homem que age através da cronologia e em sociedade. Pág 69
O historiador pesquisa as transformações ocorridas naturalmente no meio geográfico. A climatologia, a geologia etc. ensinaram-lhe pelo exemplo do avanço e recuo dos glaciares, que modificações climáticas se verificaram numa escala de duração muito superior à da história. O problema surgiu de resto com uma segunda intenção determinista, pois não se tratava de descobrir as mudanças climáticas por si mesmas, mas de explicar modificações constatadas na agricultura ou na economia dos tempos históricos. Pág 70
Observações da mesma ordem fizeram-se no mediterrâneo, onde o resfriamento sobrevindo por volta de 1600 explicaria as nevadas catastróficas para as oliveiras e as inundações que arruinaram as colheitas da Toscana entre 1585 e 1590. Pág 70
O homem como agente geográfico
Os historiadores estão em condições mais seguras quando põem em destaque a ação exercida pelo homem no quadro em que vive. “ O homem é um agente geográfico e não o menor”: no curso de sua existência, conseguiu ele humanizar tão bem o meio físico, imprimir de tal forma sua marca na paisagem que o cerca, a ponto de nos encontrarmos em dificuldades, hoje em dia, em vários casos, se pretendêssemos reconstituir o aspecto primitivo. Pág 71
Sem dúvida, nos imemoriais tempos da pré- história e numa proto- história ainda bem obscura, o homem, singularmente desarmado diante da “natureza”, é forçado a dobrar-se o mais docilmente possível ás suas “leis”. O mais importante dos motores que então o guiam no seu comportamento é, provavelmente, a busca de sua segurança alimentar. Ele a encontra, adaptando-se, tão exatamente quanto o permitem seus meios técnicos, a topografia e ao clima. Obtém-na de dez maneiras diversas, fixando-se ou partindo á aventura. Esta busca obstinada da subsistência constitui mesmo, talvez, a linha determinante dos mitos, que sobreviverão na memória coletiva e que os historiadores da religião descobrirão nos primeiros tempos da escrita. Pág 71 
O historiador e o espaço tempo	
A ciência e a técnica humanizaram o meio físico: da mesma forma, transformaram nossa atitude mental a respeito do espaço. O espaço do historiador não é idêntico ao da geometria – uniforme, medindo em quilômetros. Sua unidade de medida é a velocidade do deslocamento. É, podemos dizer, um espaço-tempo. Pág 73
Ratzel referia-se, outrora, a “circulação domadora do espaço”. Recorramos aos tratados de geografia humana e econômica, para verificar o valor desta locução. Pág 73
Ao historiador, o que importa é examinar como estas rotas variam no tempo, como seu papel foi diferente e rico em nosso passado. Rotas comerciais, rotas políticas, rotas religiosas, rotas intelectuais: todas elas existiram, e o levantamento de sua carta compete ao historiador. Pág 73 e 74
Presenciando a transformação das rotas, o historiador estuda concomitantemente as modificações determinadas por tal processo na mentalidade dos homens. O historiador é testemunha da variação das velocidades. Pág 73

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