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> 2 2 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > Olivier Douville Cronologia.1 Situação da psicanálise no mundo, durante a vida de Freud ar tig os > p. 22 -5 3 1892 Alemanha: Felix Gattel estabelece contato com Freud. Ele fica na história da psicanáli- se como o seu primeiro aluno. Fica em Vie- na para estudar com Freud de maio a outubro de 1897, e publicará “Questiona- mento da hipótese de uma etiologia sexual da neurastenia e da neurose de angústia” (1898) 1893 A biografia de Freud aparece em um “Quem é quem” vienense. Espanha: A Revista de ciencias médicas, de Barcelona, e a Gazeta médica, de Granada, publicam “O mecanismo psíquico de fenôme- nos histéricos”, de Breuer e Freud. É a pri- meira tradução publicada no mundo de uma obra de Freud. 1894 Estados Unidos: William James resume a versão preliminar do trabalho de Freud e Breuer sobre a histeria para o primeiro nú- mero da Psychological Review. 1895 Estados Unidos: Robert Edes, em sua obra The New England Invalid, faz algumas alu- sões ao trabalho de Freud. É assim, e com os textos de W. James, que Stanley Hall toma conhecimento da existência dos primeiros escritos de Freud. 1895-1896 França: Primeira revisão dos artigos neuro- lógicos de Freud: “As neuropsicoses de recu- sa”, por Paul Kéraval (Archives de neurologie); “Obsessões e fobias, seu meca- 1> Cronologia proposta pelo autor. As fontes são muito diversas. A começar, logicamente, pelas diversas correspondências de Freud, e por sua “Auto-apresentação”. Vem em seguida a indispensável leitura dos dicionários históricos de psicanálise (de Mijolla et al., Plon & Roudinesco), de antropologia (Bonte & Izard), os livros de historiadores (de Mijolla, Freud, fragments d’une histoire; Roudinesco, La bataille de cent ans; Rodrigué, Le siècle de la psychanalyse, e também os textos de D. Anzieu, P. Gay, a clássica biografia de Jones, e ainda o volume 4, publicado em 1991, da Revue internationale d’histoire de la psychanalyse, além das fontes dos correspondentes “internacionais” da revista Psychologie Clinique, fornecendo também muitas informações pouco conhecidas e pouco disponíveis na França. Tradução de Ricardo Corbetta; revisão técnica da tradução de Monica Seincman. > 2 3 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os nismo físico (sic) e sua etiologia”, “A heredi- tariedade e a etiologia das neuroses” de um dos mais diligentes alunos de Charcot, Edouard Brissaud (Archives de Neurologie). Na Revue de neurologie, Raichline faz um relato importante sobre o conceito freudia- no de neurastenia e de neurose de angús- tia. Em Nancy, René Hartmann defende sua tese “Contribuição ao estudo das afecções espasmo-paralíticas infantis” em que cita o artigo de Freud (de 1893) relatando o caso de duas crianças, filhos de consangüíneos, afe- tados pela rigidez paraplégica. 1897 Morte do pai de Freud e início de sua paixão pelas antigüidades. 1898 França: Paul Hartenberg, defensor da tera- pia por sugestão, na linha de Bernheim, e adversário da psicologia experimental, publi- ca em sua Revue de Psychologie Clinique et Thérapeutique uma crítica sobre a sexualida- de na etiologia das neuroses. 1899 Estados Unidos: Stanley Hall e o corpo do- cente da Clark University organizam uma semana de conferências internacionais pú- blicas pelos dez anos da Universidade. Dela participam Santiago Ramón y Casal (profes- sor de histologia em Madri) e August Forel (diretor do Hospital do Burghölzli). 1901 Estados Unidos: Stanley Hall cita os traba- lhos de Freud para seus alunos. 1902 5 de março: Freud é nomeado professor ex- traordinário (primeiro grau universitário). A carta é assinada pelo imperador Francisco José. Outubro: Criação, em Viena, da Psycho- logische Mittwoch Gesellschaft (Sociedade Psicológica da Quarta-feira) por iniciativa de Stekel. Primeira sociedade psicanalítica do mundo, ela reúne entre outros: Rudolf Rietler (1865-1917) que foi, segundo E. Jones, o primeiro a praticar a psicanálise depois de Freud, Max Kahane, Ludwig Jekels (1861- 1954); Wilhelm Stekel (1868-1940); Hugo Heller (1870-1923), editor; Alfred Adler (1870-1937); Paul Federn (1871-1950); Eduard Hitschmann (1871-1957); Max Graf (1875- 1958), musicólogo; Hanns Sachs (1881-1947); Otto Rank (1884-1939), metalúrgico, iniciado na psicanálise pelo médico de sua família, A. Adler. W. Stekel, que, segundo Jones, foi um dos responsáveis por essas reuniões, relata- va semanalmente suas discussões na edição de domingo do Neues Wiener Tagblatt. França: Em uma conferência proferida no Instituto Geral de Psicologia, Bergson faz referência à Traumdeutung e cita, junto aos de Robert e Delage, o nome de Freud. Paul Hartenberg, publica A neurose de an- gústia (coletânea de artigos publicados no ano anterior na revista de Medicina, obra na qual ele expõe o conceito freudiano, cri- ticando sua etiologia puramente sexual. Suíça: No livro que Jung publica em 1902, so- bre os fenômenos ocultos, ja se encontra uma primeira referência a A interpretação dos sonhos. 1903 Federn começa a praticar a psicanálise. 1904 Argentina: José Ingenerios, psiquiatra e cri- minólogo, publica um artigo em que é men- cionado o nome de Freud. Estados Unidos: Stanley Hall publica uma obra em dois volumes (1373 páginas), Adoles- cência, que inventa a noção moderna de > 2 4 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os adolescência. Ele se refere diversas vezes ao estudo dos traumas segundo Freud. Rússia: Uma das primeiras traduções de um texto de Freud, Über den Traum (1901) é pu- blicada no número cinco do suplemento da revista Courrier de Psychologie, d’Anthro- pologie Légale et d’Hypnotisme nas Edições Brokhaus/Efron Enciclopédie. Suíça: Freud sabe, por meio de Eugen Bleu- ler, que começa a se corresponder com ele, que a psicanálise é aplicada na clínica Burghölzli por C. G. Jung. 1905 Primavera: Otto Rank, aos 21 anos, envia a Freud o manuscrito de um pequeno livro chamado O artista. Foi uma tentativa auda- ciosa de aplicar a psicanálise aos fatos de ordem cultural. Noruega: R. Vogt (Christiania) faz justiça à psicanálise em sua obra de psiquiatria Psykiatriens Grudtraek, considerada por Freud a primeira obra de psiquiatria a falar de psicanálise. 1906 Ano da ruptura definitiva com Fliess, que redige um panfleto Em causa própria no qual ele acusa Freud de roubo de idéias. Freud tenta criar na jovem editora Deuticke uma coleção que retoma seus artigos após sua publicação regional, reagrupando-os e disponibilizando-os no mercado do livro. Ele também lhe confia os quatro tomos de suas traduções das obras de Bernheim e de Char- cot. Mas convence H. Heller a publicar uma nova coleção: os Schriften zür angewanden Seelenkunde (Escritos de psicologia aplica- da). Trata-se de apresentar ao público “a aplicação das descobertas psicológicas a te- mas da arte e da literatura, assim como da história da civilização e da religião”. Freud se apresenta como diretor dessa publicação, e inaugura a série com Gradiva (1907). A co- leção será retomada por Deuticke. Nela en- contram-se publicados alguns trabalhos de Freud (números 1 e 7), Rilkin, Jung, Abraham (números 4 e 11), Sadger, Pfister, M. Graf, Jones (números 10 e 14), Sorfer, Sadger (nú- meros 16 e 18), Keilholz (número 17) e von Hug-Hellmuth. Nas noites de quarta-feira,Rank apresenta importantes partes de uma obra volumosa a ser publicada sobre o tema do incesto na li- teratura. Estados Unidos: São formados em Boston e em Cambridge, grupos de estudos sobre a psicoterapia. No mesmo ano, Morton Prince cria o Journal of Abnormal Psychology publi- cado ao mesmo tempo nos EUA e no Reino Unido, onde são expostas e discutidas as te- ses freudianas. Reino Unido: Nessa mesma revista, James Jackson Putnam (EUA) publica o primeiro ar- tigo em língua inglesa exclusivamente dedi- cada à psicanálise. 1907 Janeiro: Encontro entre Freud e M. Eitingon. Este é “subassistente” na clínica de Burghölzli. 22 de fevereiro: Freud anuncia ao seu pe- queno grupo que o doutor Bresler, redator- chefe da Psychiatrische-Neurologsiche Waschenscrift, pediu-lhe para que se tor- nasse co-redator de uma nova revista que ele iria criar chamada Zeitschrift für Religionpsychologie. Freud aceita e colabo- ra no primeiro número publicando o primei- ro de todos os artigos que ele dedicaria à religião (Zwangshandlungen und Religionsübungen: Ações compulsivas e exercícios religiosos, GW, VII p. 129). > 2 5 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os Março: Jung e Binswanger assistem à reu- nião semanal do grupo vienense. Otto Gross de Graz publica um artigo favo- rável aos trabalhos de Freud, seguido, em 1907, por um “livro original onde ele reco- nhece a exatidão das teorias freudianas da libido, do recalcamento, do simbolismo etc.” Alemanha: Em torno de Binswanger, alguns psiquiatras se familiarizam com o método catártico. Suíça: C. G. Jung criou, em Zurique, a Socie- dade Freud: Bleuler (presidente), Binswan- ger, Franz Riklin, Edouard Claparède, Alphonse Maeder... Os membros se reúnem no Hospital do Burghölzli; esta sociedade será dissolvida em 1913. Segundo K. Abraham, a Associação freudiana de Zurique teve sua primeira reunião no meio do ano: Gesellschaft für freudische Forschung. 1908 2 de fevereiro: Sandor Ferenczi, medico hún- garo, visita Freud, que logo sente por ele uma viva simpatia e o convidará a passar, durante o verão, duas semanas em Berchtesgaden, onde ele está em férias. 26 de abril: O Congresso Internacional de Psicanálise em Salzburgo, o primeiro de uma longa série. Nome da reunião: Encontro dos psicólogos freudianos. 42 membros de seis países participam desse encontro: Áustria, Alemanha, Hungria, Suíça, Inglaterra e Esta- dos Unidos. Houve nove palestras: 4 austría- cas, 2 suíças, 1 inglesa, 1 alemã e 1 húngara. Freud apresenta as suas “Notas sobre um caso de neurose obsessiva” e fala durante várias horas. Jung faz uma palestra sobre a demência precoce. A única palestra no âm- bito antropológico foi a de F. Riklin, que fala de “Alguns problemas decorrentes da inter- pretação do mito”. Um dos resultados foi a fundação, em 1909, da primeira revista de psicanálise, a Jahrbuch für psycho- analytische und psychopathologische Forschungen (Anais de pesquisas psicanalí- ticas e psicopatológicas), com Bleuler e Freud como diretores e Jung como redator chefe. Freud inaugura essa revista com a pu- blicação do caso “Hans”. Outras contribui- ções: A. Maeder (Zurique), “Sexualidade e epilepsia”; Jung (Zurique), “O significado do pai para o destino do indivíduo”; e Binswan- ger (Zurique), “Ensaio de uma análise da his- teria”. Em 1913, Freud lutará para retomar de Jung o controle da revista. 6 de maio: K. Abraham, A. Brill e E. Jones vi- sitam Freud. Brill, antes de partir para Nova York, obtém a autorização para traduzir para o inglês as obras do mestre; seus dotes como tradutor são limitados pelo seu fraco domínio do alemão e do inglês, o que inquieta Jones. Setembro: A Sociedade de psicologia das quartas-feiras reúne 32 membros e se trans- forma em Wiener Psychoanalytische Vereinigung (WPW); Freud passa quatro dias no Burghölzli em Zurique e aborda os proble- mas da psicose. Alemanha – agosto: K. Abraham funda a So- ciedade Psicanalítica de Berlim. A primeira reunião acontece no dia 27 com a presença de Magnus Hirschfeld, sexólogo, Ivan Bloch, Heinrich Körber, Otto Juliusburger, psiquia- tra; este último tinha feito, alguns anos an- tes, uma comunicação considerada favorável às idéias psicanalíticas: Beitrag zu der Lehre von der Psychoanalyse (Sitzungsbericht des Psychiatrischen Vereins [Berlim] 14 de de- zembro de 1907). Canadá: Ernest Jones entra no Toronto Lunatic Asylum como neuropatologista, aí permanecendo até 1913. > 2 6 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os França: A. Binet contata C. G. Jung para um artigo de apresentação sobre A análise dos sonhos. Jung escreve a Freud: “eu já prepa- rei uma coisinha para Binet, que, natural- mente, não é senão orientação superficial, mas escrita de tal forma que um francês possa também compreender, desde que queira. Infelizmente, só os psicólogos terão acesso ao texto; ou seja, ele estará em más mãos...”. Rússia: O psiquiatra Ossipov, assistente na clínica psiquiátrica da Universidade de Mos- cou, publica no Jornal de neuropatologia e de psiquiatria uma revisão sobre os concei- tos freudianos através da literatura alemã de 1907. Em 1908, é inaugurado, sob a dire- ção do mesmo Ossipov, um dispensário de psicoterapia na clínica psiquiátrica da Uni- versidade de Moscou. Com dois outros psi- quiatras, Dovbnja e Asiatini, ele recebe duas vezes por semana pacientes em consulta externa. Em 1909 chegam três jovens psi- quiatras, Rosenstein, Derjabine e Podjpolski. Esse primeiro centro de trata- mentos “psicanalíticos” funcionaria até 1911. Suíça: Charles Ladame publica na Encéphale “A associação das idéias e sua utilização como método de exame nas doenças men- tais”. 1909 Abril: Visita de Pfister a Freud. Setembro: Freud vai aos EUA em companhia de Jung e de Ferenczi. O grande anfitrião é Granville Stanley Hall (1846-1924), professor de psicologia e presidente da Clark University de Worcester (Massachusetts), que marca, assim, o vigésimo aniversário dessa universidade. G. Stanley Hall obteve o primeiro doutorado em psicologia da Harvard (dir. W. James) e criou em 1887 o American Journal of Psychology. O antropó- logo Boas, formado na Clark, participa do ci- clo de conferências expondo um trabalho sobre alguns problemas psicológicos na an- tropologia. Jung e Freud fazem palestras e recebem os títulos de doutores honoris cau- sa. Freud pronuncia aí as Cinco aulas sobre a psicanálise. As conferências de Jung têm por objeto de estudo as associações diag- nósticas e os “Conflitos da alma infantil”. Freud visita Nova York com Ernest Jones e Abraham Arden Brill, que os acolhe em sua chegada no dia 27, e os ciceroneia em Nova York. Ele se torna amigo de James Jackson Putnam (1846-1918), professor de neurologia na Universidade Harvard. Putnam escreveu a Freud: “Sua visita teve sobre mim um pro- fundo impacto; trabalho e leio os seus escri- tos com um interesse cada dia mais forte”. 1910 O segundo Congresso Internacional de Psi- canálise se dá nos dias 30 e 31 de março em Nuremberg, organizado por C. G. Jung que estará ausente (nova viagem aos EUA). Freud, que aí faz uma comunicação “Sobre as perspectivas do futuro da terapêutica analí- tica”, fica inquieto por causa da viagem de Jung aos EUA. No dia 3 de abril, ele pode, no entanto, escrever a Ferenczi: “Não há dúvi- das de que ele teve um extraordinário êxi- to (...). Penso que a infância do nossomovimento se deu com o Reichstag de Nu- remberg. Resta esperar que a juventude seja frutífera e bela”. Sua carta para Jones do dia 15 do mesmo mês confirma: “Nuremberg foi um sucesso”. Em 21 de abril, em uma carta para L. Binswanger, Freud fala desse con- gresso de forma “irônica” como sendo o “Reichstag de Nuremberg”. O congresso teve uma conseqüência importante: a fundação > 2 7 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os da Associação Internacional de Psicanálise (International Psychoanalitic Association, IPA), reunindo os Ostgruppen de Zurique, Vie- na e Berlim, com Jung como presidente (de- signado por Freud), Riklin como secretário, e Zurique, cidade-domicílio do presidente, como sede. As sociedades de psicanálise existentes se transformaram em seções lo- cais da Associação Internacional, os estatu- tos são aceitos. Jung e Riklin são nomeados redatores do órgão oficial da Associação, o Korrespondenzblatt, que deveria ser publica- do mensalmente. O primeiro número sai em julho. Freud deve agora ser diplomático com os membros da Sociedade Psicanalítica de Viena. Ele quer fazer de Zurique o centro do movimento psicanalítico e confiar a um não-judeu (ou seja, C. G. Jung) a direção dessa nova associação. Divergências, ten- sões, inquietudes nos vienenses fiéis (Hitschman). Freud acalma a Sociedade vie- nense. Ele nomeia Adler para substituí-lo como presidente e propõe, em parte para concorrer com o Jahrbuch de Jung, a publi- cação de uma revista mensal, o Zentralblatt für Psychoanalyse, Medizinische Mo- natsschrift für Seelenkunde (Folha central de psicanálise, mensário médico de psicolo- gia), do qual Adler e Stekel são redatores- chefes, Freud, diretor de redação, e J. F. Bergmann, editor, em Wiesbaden. Deuticke, que até então tinha editado Freud, recusou garantir a publicação do Zentralblatt sob o pretexto de que a contribuição de Stekel ameaçava tirar da revista o seu caráter cien- tífico. Verão: Freud toma conhecimento das “me- mórias” do Presidente Schreber; agosto: pu- blicação do primeiro meio-tomo do Jahrbuch (Tomo 2, primeiro caderno; artigos de Abraham, Jung [2 artigos], Maeder, Pfister, Assagioli, Neïditch, Freud) 21 de outubro, So- ciedade vienense. Na assembléia adminis- trativa, Adler é eleito presidente e Stekel vice, Steiner tesoureiro, Hitschman bibliote- cário, e Rank, secretário. Férias na Holanda onde, apesar do seu cos- tume de não aceitar encontros profissionais, Freud responde a um pedido do compositor Gustav Mahler que ele “psicanalisa” duran- te uma caminhada pela cidade à tarde. De- pois ele viaja para a Sicília, passando por Paris, Roma e Nápoles, em companhia de Ferenczi, que será, por longos anos, seu amigo mais próximo e seu fiel companheiro de viagem. Inglaterra: Publicação do livro de Frazer, To- temismo e exogamia, lido atentamente por Freud. Hungria: Publicação da primeira obra em lín- gua húngara sobre a psicanálise. EUA: Putnam publica (Journal of Abnormal Psychology) uma série de artigos sobre a vi- sita de S. Freud a Worcester. Granville Stanley Hall dedica à visita de Freud e à psi- canálise o número inteiro de abril do American Journal of Psychology, que contém as conferências. Freud escreveu para Putnam “pedindo para que ele assuma a di- reção da seção americana” (Freud a Jones, 3.7.1910). Jones é eleito membro da American Neurologic Association 17 de maio: Freud para Jung: “Hoje eu encon- trei aqui uma longa carta enviada de Wa- shington em 2 de maio, por Jones, falando sobre os interessantes eventos, no conjun- to pleno de sucesso da American Psychopathological Association. Putnam pa- rece ter ido, de novo, muito bem, e o próprio > 2 8 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os Jones corrige suas ambigüidades dos anos anteriores com um zelo infatigável, destre- za e, diria até, humildade; isto é muito gra- tificante. Ele acredita que a fundação de um grupo local americano é algo muito difícil neste momento, ou como possível apenas formalmente, mas são preocupações da di- reção que lhe compete”. Em maio, Freud se torna membro da Asso- ciação Americana de Psicologia, fundada na segunda-feira, dia 2 de maio, com 40 mem- bros. Em A história do movimento psicana- lítico (1914), Freud observará que “o fato característico, lá, foi que, desde o começo, professores e diretores de asilo de alienados tomaram o partido da psicanálise na mesma medida que os clínicos independentes...”. América Latina: Brill introduz a psicanálise em Cuba. Freud recebe da Havana a tradu- ção feita pelo Dr. Fernandez de um ensaio dele (Freud para Jung, no dia 5 de julho). No congresso internacional de medicina em Buenos Aires, um médico de origem chilena (G. Greve Schlegel) se declara a favor da existência da sexualidade infantil, ele ex- põe, igualmente, as idéias de Freud sobre a livre associação. Rússia: Ossipov, fundador da terminologia psicanalítica russa, visita Freud. Na Rússia, ele funda a Biblioteca Psicoterapêutica. Suíça: Em Zurique, Bleuler publica sua defe- sa da psicanálise, A psicanálise de Freud, que não agrada a Freud. A Associação Psi- canalítica de Zurique é fundada em 1910; sua origem está na Gesellschaft... fundada em 1907. Aparentemente, os membros fundado- res dessa associação não desejavam entrar para as fileiras da Associação Psicanalítica International. Segundo um relato de Jung a Freud (17 de junho), Binswanger declarava “não aceitar a presidência a não ser que to- das as sessões fossem conjuntas com os não-membros”. Freud julgou esta situação “totalmente inaceitável” (carta para Jung de 19 de junho). Jung escreve para Freud, em 10 de maio: “Eu não podia efetivamente fazer nada contra esta decisão. Minha autoridade não foi suficiente. À exceção de Rilkin, to- dos os outros, Bleuler e mais ou menos nove membros, queriam aprovar a seguinte deci- são: durante o período de transição, condi- ções especiais deveriam ser criadas. Ao mesmo tempo expressava-se o desejo de que estes senhores pensassem e aceitas- sem...”. A nova associação tem 19 membros no seu começo. 1911 Fevereiro: Começo do afastamento de Adler. As opiniões deste foram discutidas pela As- sociação Vienense nos dias 8 e 22 de feve- reiro, após ele ter pronunciado discursos em 4 de janeiro e 1o de fevereiro. Depois da ses- são do dia 2, tem-se uma reunião do Comitê durante a qual Adler pede demissão do seu cargo de árbitro por “incompatibilidade de sua posição científica com a sua posição na Associação”. Stekel, representante do me- diador, assim como outros, sairão em solida- riedade a Adler. Março a junho: Freud se livra de Adler. Freud é presidente do grupo de Viena. Ele escreve a Jung que “por trás do rigor aparente de Adler apareceu, na realidade, uma grande confusão. Que um psicanalista pudesse in- sistir tanto sobre o eu, eu não podia espe- rar. Não desempenharia o eu o papel do estúpido Augusto no circo, que põe seu dedo em tudo para que os espectadores acreditem que é ele quem dirige tudo que acontece?” Quando Adler deixa a associação, saem tam- > 2 9 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os bém D. Bach, S. von Maday e o barão F. von Hye. O nome de Adler não aparece mais no número seguinte do Zentralblatt (V. 1, no 10- 11, julho-agosto de 1911).O número é intro- duzido pela seguinte “declaração”: “Pela presente, trago ao conhecimento dos leito- res que eu saio hoje da redação desta revis- ta. O diretor desta publicação, o sr. Prof. Freud foi da opinião de que há entre mim e ele oposições científicas tais, que tornam sem efeito uma redação comum desta revis- ta. Eu também tomei a decisão de sair da re- dação desta revista por minha escolha”. A partir deste momento o dr. Stekel fica como único redator-chefe da publicação. Fusão do Korrespondenzblatt e do Zentralblatt (o segundo absorve o primeiro e é alçado ao lugar de órgão oficial da inter- nacional psicanalítica). Suicídio de Honnenger: Freud escreve para Jung, em 2 de março: “Estou impressionado de quantas pessoas, na verdade, consumi- mos”. 21-22 de setembro: III Congresso da IPA em Weimar (presidente: C. J. Jung). A IPA tem 106 membros. J. Putnam assiste a esse en- contro. Novembro: Começa a nova revista psicana- lítica não-médica que, em 1912, se intitulará Imago (correspondência Freud-Jung: “Este ano”, escreve Freud a Jung em 31 de dezem- bro, “quando penso nele, não foi excelente nem como um todo nem pela nossa causa. O congresso de Weimar foi bonito, e tam- bém os dias anteriores em Zurique; eu tive, em Klobenstein, um curto período de produ- tividade muito rico em conteúdo. O resto foi mediano. Mas tais períodos acontecem.” EUA: 9 de maio, E. Jones e J. J. Putnam fun- dam a American Psychoanalytic Association (APA) que reúne membros vindos do Cana- dá e de todos os EUA (Presidente: Putnam; Secretário: Jones). Pouco tempo antes, no dia 12 de fevereiro, Brill forma o primeiro grupo local americano sob o nome de The New York Psychoanalytic Association. Ele recusou que essa associação pudesse admi- tir membros não-médicos contra a opinião de Freud. Índia e Austrália: Em 12 de março, Freud es- creve para Ferenczi: “Domingo passado, re- cebi nosso companheiro em posto avançado Sutherland, de Sagar, na Índia, que é um ho- mem magnífico; ele traduziu a A interpreta- ção dos sonhos... Ele é apoiado por alguém mais jovem, Berkeley-Hill, que faz psicaná- lise com os hindus e encontra confirmação de tudo junto a eles e ele quer escrever so- bre isso. Há dois dias, um outro continente se pronunciou: a Austrália. O secretário do departamento de neurologia do Congresso Áustralo-asiático assina o Jahrbuch e me pede um breve relato sobre as minhas teo- rias, que sairia nas publicações do Congres- so, pois elas ainda são completamente desconhecidas na Austrália. Da África, ain- da nenhum sinal de vida!” A apresentação de Freud é publicada em Transactions of the Ninth Session, Australian Medical Congress, em Sidney sob o título “On Psycho-analysis”. Berkeley-Hill (1879-1944) é médico major em Bengala, depois em Bombai; assim como Sutherland, ele adere antes à Associação Americana, para, depois, se tornar um mem- bro fundador daquela de Londres. W. D. Sutherland (1866-1920) é médico do estado maior em uma academia de cavalaria em Sanghor. Andrew Davidson (1869-1938), nascido na Escócia, é psiquiatra em Sydney; ele é secre- > 3 0 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os tário da sessão de medicina psicológica e de neurologia do Congresso Médico Áustralo- asiático. Alemanha: Dois congressos psicanalíticos acontecem: um em Munique, dia 7 de setem- bro, o outro em Weimar, quatro dias mais tarde. Espanha: José Ortega y Gasset publica um longo texto, “A psicanálise, uma ciência pro- blemática”. O autor é um filósofo importan- te, para alguns um dos precursores do Existencialismo, que também se formou na Alemanha. Ele será o autor de A revolta das massas (1929). Por meio da revista Revisita da Occidente, tenta expor e defender as principais correntes do pensamento cientí- fico e filosófico da língua alemã. França: Em maio, S. Freud procura maneiras de fazer a psicanálise mais conhecida. Des- de 1900, trabalhos de autores da Suíça fran- cesa ou da França discutem textos de Freud, mas muito freqüentemente com o objetivo de adaptá-los ao “espírito francófono” (sic) ou fazê-los “mais claros” (sic), afetando sua originalidade com restos do vocabulário da hipnose (cf. P. Ladame, 1900; Morichau- Beauchant, 1911: “A relação afetiva no trata- mento das psiconeuroses”, em La Gazette dês Hôpitaux Civils et Militaires que Freud qualifica de “admirável artigo”, que foi igual- mente muito apreciado por E. Jones; N. Kostyteff, 1911-1912; A. Hesnard, 1912; Y. Delage, 1915). Inglaterra: Freud é convidado a ser membro correspondente da London Society for Psychical Research. Holanda: O Dr. Stärcke, de perto de Utrecht, pede sua admissão à Associação. O Dr. van Emden, de Leyde, aprendeu sobre a psica- nálise por si só e escreve a Freud que ele tem a intenção de utilizá-la em seus doen- tes. Rússia: Na virada entre 1911 e 1912, criação do Círculo Psicanalítico de Moscou. 1912 Janeiro: Rank funda, com Hans Sachs, Ima- go (Zeitschrift für Andwendung der Psychoanalyse auf die Geisteswissen- schafen: Revista para a aplicação da psica- nálise às ciências do espírito). Publicação do primeiro número em 28 de março no editor vienense Hugo Heller. Rank é redator-che- fe de Imago. “Hans Sachs criou em 1912 a revista Imago, que ele dirige com Rank; Ao esclarecerem, por meio da psicanálise, sistemas e persona- lidades filosóficas, Hitschmann e von Witerstein lançaram, nessa mesma revista, trabalhos que fazem esperar que sejam con- tinuados e aprofundados” (A história do mo- vimento psicanalítico, p. 70). A Imago se propunha a se especializar, como proclamava seu título, na aplicação da psi- canálise nas ciências humanas. Na origem, “esta nova revista, de modo algum médica” devia se chamar Eros e Psique. O nome que adotaram os seus fundadores em homena- gem à literatura remete explicitamente ao romance recente do poeta suíço Carl Spitteler que tinha celebrado o poder do inconscien- te em uma obscura história de amor. Freud fica inicialmente preocupado com a Imago, que, apesar dos dois redatores (Rank e Sachs, todos os dois não-médicos, “bons me- ninos e brilhantes sujeitos”), corria o risco de passar por maiores dificuldades que os ou- tros dois periódicos. Mas os temores foram logo dissipados. A Imago, relata Freud, no fim do ano 1912, “vai extraordinariamente bem”; o volume de assinaturas (230), ale- > 3 1 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os mães majoritariamente, é satisfatório e Freud se impressiona com a recepção mais reservada que os vienenses dão à Imago (carta inédita para K. Abraham). Maio: Freud apresenta à Sociedade de Vie- na a primeira parte de “Totem e tabu” e, em outubro, um trabalho intitulado “O destino e duas mulheres” que fala sobre a psicose. Junho: Jones estava em Viena, sob o efeito da secessão de Adler e de Stekel, ele temia uma ruptura com Jung. No dia 30, com o aval e em torno de Freud, Jones funda um Comi- tê secreto composto pelos mais próximos dis- cípulos e encarregado de cuidar da difusão da causa analítica. A idéia veio de Rank. Dele faziam parte S. Ferenczi, O. Rank, K. Abraham, H. Sachs, E. Jones e S. Freud. E. Jones se analisou com Freud e, depois, com S. Ferenczi. Em 1919, Eitingon foi admitido como sexto membro, por indicação de Freud. (1o de agosto, carta de S. Freud para E. Jo- nes): “Eu ouso dizer que para mim seria mais fácil viver e morrer se eu soubesse que exis- te umaassociação para tomar conta da mi- nha criação... o que quer que o amanhã possa nos reservar, o futuro lider do movi- mento psicanalítico poderia sair deste pe- queno círculo de homens cuidadosamente escolhidos, em quem ainda estou disposto a confiar apesar de minhas recentes decep- ções”. Verão: Freud lê A religião dos semitas, de Roberton Smith, e nele acha a confirmação dessas idéias que ele pensava serem muito ousadas. “O livro dá a impressão de circular sobre a água em uma gôndola.” Publicações: No início de 1912, Freud e Stekel tiveram uma idéia. Para se defenderem con- tra as teses de Jung, Freud queria instaurar no Zentralblatt um “Comitê de referência” (Reitler, Hitschmann, Tausk, Ferenczi). Eles deveriam, em particular, discutir trabalhos do Jahrbuch no espírito de Freud. Mas Stekel declarou que ele jamais admitiria que V. Tausk escrevesse no seu jornal (carta de 27 de outubro para Ferenczi). Como o editor Bergman não aceitou o afastamento de Stekel como redator, Freud, durante o con- gresso dos dirigentes das Associações psica- nalíticas locais, em Munique, prefere deixar o Zentralblatt para Stekel e fundar o International Zeitschrift für arztliche Psychoanalyse. Offizialles Organ des Internationalen Psychoanalytische Verneinug (ed. H. Heller). Ele escreve para Jones para pedir que tire o seu nome do co- mitê do periódico de Stekel. O. Rank e S. Ferenczi são redatores do Internationale Zeitschrift. A partir de 1939, a revista se uni- ria com a Imago. O no 1 está previsto para meados de janeiro de 1913. Stekel manifesta fortes propensões a fazer do Zentralblatt seu território. Ruptura viru- lenta e intempestiva com Freud (cf. abaixo). Novembro: “O congresso fez oficialmente do Zentralblatt seu órgão” (carta de Jones a Freud, 6 de novembro) Dezembro: No dia 2, um acordo provisório se dá entre o editor J. F. Bergmann e C. G. Jung relativo à separação entre o Korrespon- denzblatt e o Zentralblatt. França: 2 de janeiro de 1912, em uma carta de K. Abraham para S. Freud: “Os últimos bons augúrios vêm, o que é impressionante, da França. Com Morichau-Beauchant, de Poitiers, nós ganhamos um apoio sólido, e hoje recebi uma carta de um aluno de Régis, em Bordeaux, que da parte deste último, e em nome da psiquiatria francesa, apresen- ta desculpas pelo desdém com que a psica- > 3 2 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os nálise foi tratada até o presente na França e se declara pronto a publicar em L’Encéphale um longo artigo sobre ela.” Inglaterra: Publicação de um manual, “A psi- cologia da loucura”, de Bernard Hart, lison- jeiro à psicanálise. 1913 Janeiro: Freud apresenta à Sociedade de Viena, a segunda parte de ”Totem e tabu”. 25 de maio: Primeira reunião do Comitê se- creto. Nesta ocasião, Freud oferece aos seus discípulos membros do Comitê um anel de entalhe grego da sua coleção. Publicações: K. Abraham constata que Stekel tinha dificuldades para manter o Zentralblatt, que estava a beira da falência. Setembro: IV Congresso da IPA em Munique (presidente: C. G. Jung). Os partidários de Freud obrigaram Jung a se demitir de suas funções de redator-chefe do Jahrbuch (de- missão efetiva em 27 de outubro) que será nomeado Jahrbuch der Psychoanalyse. Este novo Jahrbuch, V. 2, (1913), traz à página 757 os seguintes comunicados: Declaração do Prof. Bleuler: “Este volume acabado, eu me desligo da minha função de redator da redação, mas continuarei, obvia- mente, a manter todo o meu interesse na revista”. Declaração da Redação: “Vi-me obrigado a me demitir da posição de redator do Jahrbuch. As razões da minha demissão são de natureza pessoal, por isso, eu dispenso uma discussão pública” (C.G. Jung). Comunicado do editor: “Depois da demissão do Prof. Bleuler e de Dr. Jung, o Prof. Dr. Freud continuará a publicação do Jahrbuch. O próximo volume sairá no meio de 1914 sob o título de Jahrbuch der Psychoanalyse. Redigido pelo Dr. K. Abraham (Berlim) e pelo Dr. Hitschman (Viena). “A publicação não visa mais, como no pas- sado, servir de arquivo aos trabalhos relati- vos a este domínio, mas sim cumprir sua missão por meio de uma atividade redacio- nal que pretende discutir todos os métodos e todas as aquisições relativas à psicanáli- se” Freud (A história..., p. 87). EUA: No inverno, criação por Whithe e Jelliffe, em Nova York, de uma nova revis- ta exclusivamente dedicada à psicanálise. The Psychoanalytic Review. An Educa- tionnal American Journal of Psychoanalysis. França: Publicação, em L’Encéphale de 10 de abril de “A doutrina de Freud e sua escola”, importante artigo de A. Hesnard, médico da marinha nacional e do Prof. Emmanuel Régis. Angelo Louis Marie Hesnard, assisten- te do professor E. Régis na Clínica das Doenças Mentais de Bordeaux, traduz e co- menta as posições freudianas. Inglaterra: Fundação da London Psycho- Analytical Society. A associação conta com treze membros, dos quais quatro exercem a psicanálise. Em Londres, no XVII Congresso de Medicina, Pierre Janet apresenta um comunicado so- bre a “psicanálise”, ou, contra Freud, ele avança a hipótese de uma depressão men- tal na origem do estreitamento do campo da consciência. Ele sublinha que, a seu var, o método de Freud não é experimentável e refuta a importância da sexualidade na gê- nese dos problemas psicológicos. Durante a discussão, ele é criticado por Jung e Jones. É neste contexto de críticas e de polêmicas que, a pedido de E. Rignano, Freud publica seu artigo sobre “O interesse da psicanálise” na revista Scienta (revista italiana fundada por E. Rignano e F. Enriquez, importante > 3 3 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os foro internacional da metodologia científica) Hungria: em maio, criação da Sociedade Psi- canalítica de Budapeste por S. Ferenczi. Em torno dele, Sándor Rado (estudante de me- dicina), István Hollos (psiquiatra), Hugo Ignotius (jornalista e redator-chefe da revis- ta Nyugat, “Occidente”). Esta sociedade re- velar-se-ia, com aquela de Viena, o centro intelectual mais importante para a psicaná- lise. A partir de 1919, juntar-se-ão a eles: Imre Hermann, Melanie Klein, Geza Rohein, René Spitz, Eugénie Sokolnicka. Suíça: Para concluir a ruptura com Jung que se uniu a Riklin, Freud quer romper toda li- gação com o grupo de Zurique. Ele pensa na seguinte manobra: dissolver a Associação Internacional de Psicanálise colocando um pedido de dissolução na Central, pedido as- sinado pelos três grupos: o de Viena, o de Berlim e o de Budapeste. Se Jung não der seqüência, os três grupos podem se retirar e fundar imediatamente uma nova associa- ção. A partir desta ruptura se coloca a questão dos mecanismos específicos da psicose e das vias de seu tratamento pela psicaná- lise. 1914 Publicação, em Viena, do livro de L. Kaplan, Grundzüge der Psychoanalyse (Fundamen- tos da psicanálise), um dos primeiros resu- mos sistemáticos da teoria de Freud. O Dr. Léo Kaplan (1876-1956), nascido na Rússia, muda-se para Zurique em 1897 e aí perma- nece até a sua morte. A partir de 1910, ele se volta para a psicanálise, mas não se liga a qualquer associação científica. Brasil: Genserico Aragão de Souza Pinto pu- blica “Da psicanálise, a sexualidade nas neuroses”. França: Publicação de A psicanálise das neu- roses e das psicoses, de A. Hesnard e do Professor Emmanuel Régis. A obra será re- editada em 1922 e 1929. Seu prefácio é elo- qüente:“Talvez nos impressionemos ao ver esta vulgarização de uma teoria alemã, ao mesmo tempo, tão exaltada e tão contesta- da e, sob certos aspectos tão estranha, pra- ticada por psiquiatras franceses que não chegam a sacrificar além da medida à moda atual do germanismo científico (...). A impar- cialidade independente em relação ao es- trangeiro não poderia ser confundida com a xenofobia (...). Apesar de seus exageros, de seus excessos, de seus aspectos místicos, e mesmo de suas estranhezas, esta doutrina está longe de não ser grandiosa”. Hungria: Ferenczi, que estava em Viena, é chamado para Hungria a fim de servir como médico de um corpo de hussardos baseado em Papa, a uns 120km de Budapeste. Itália: Marco Levi-Bianchini, mestre de con- ferências em Nápoles, redator-chefe do Manicomio (coleção de obras psiquiátricas, publicadas pelo Archivio di Psichiatria e Scienci Affini, Nocera Superiore-Nápoles) faz a tradução das nove conferências america- nas (de Freud e Jung. Ele traduzirá as cinco conferências de Freud). Oferece também uma troca de revistas. Propostas que Freud aceita (carta para Ferenczi de 30 de outu- bro). Marco Levi-Bianchini (1875-1961) inte- ressa-se desde 1900 pela psicanálise, mesmo que expressando reservas sobre a teoria da sexualidade. Membro fundador em 1925 da Sociedade Italiana de Psicanálise, será o seu presidente de honra até a sua morte. Mem- bro, igualmente, da Associação vienense (1922-1936), a Sociedade Italiana não faz par- te da IPA. Mesmo sendo membro do partido > 3 4 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os fascista, Marco Levi-Bianchini foi suspenso das suas funções em 1938, em razão de sua origem judia. Ele será um dos raros membros da Sociedade Italiana a não emigrar e publi- ca um livro sobre Freud em 1940. Sua tradu- ção das Cinco Psicanálises é publicada em 1915 e constitui o primeiro volume da Biblio- teca Scientifica, fundada por ele mesmo e que se tornará a Bibliot. Pychoan. Int. Suíça: 20 de abril, demissão de Jung da Pre- sidência da Associação Internacional. Em julho, a seção de Zurique sai da Associação Internacional (por 15 votos contra um). Pfister, no dia 13 de julho, depois, no dia 28, Binswanger, que não pôde participar da vo- tação, mas que tinha anunciado sua inten- ção a Maeder de votar contra uma cisão, pedem para fazer parte do grupo vienense. Nova Guiné: B. Malinowski está entre os Mailu, na Nova Guiné, depois vai às Ilhas Trobiand. Ele criticará e avaliará as teses propostas por Freud em “Totem e tabu”. 1915 As revistas de psicanálise vão sofrer com a guerra. Arrebatado pela máquina militar, Rank é nomeado redator-chefe de um jornal de propaganda em Cracóvia. Estas funções entediantes parecem para Freud um mal negócio quase criminoso. Há pouco tempo e quase nada de dinheiro disponível para os vários periódicos psicanalíticos. O Jahrbuch (editor: Deuticke) deixa de ser impresso, e a Imago e o Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse (fundado em 1913) suportam a situação reduzindo-se consideravelmente. Freud delega a Ferenczi o cuidado de man- ter viva a Zeitschrift für Psychoanalyse lan- çada em 1915, a dos anos 1916-1917 será impressa somente em 1918. A Imago não é publicada em 1915, e deverá, mais uma vez, sofrer interrupção em 1917 e 1918. Dois livros falam de psicanálise e são lidos cuidadosamente por Freud. São os livros On human motives, de Putnam, em Boston e De Bahandeling von Zenuwizieken door Psycho-Analyse (O tratamento dos doentes dos nervos pela psicanálise), de Adolf Fredrik Meijer, em Amsterdã. “O livro de Putnam é intencionalmente vulgarizador, caso contrário eu diria que é ruim. Gentil e fiel também (Jung não é citado, Ferenczi está presente) (...). A psicanálise holandesa vem de A. Meijer (...) correta, razoável. Um homem novo. Ele foi analisado por um alu- no de Jung, mas constrói um julgamento se- gundo o qual as afirmações de Jung teriam sido antecipadas por mim, que ele não teria dito nada de novo” (Freud para Ferenczi, dia 10 de julho). Inverno 1915/1916: Freud profere o seu pri- meiro ciclo das 28 conferências na Univer- sidade de Viena. Argentina: Honorio Delgado que foi um dos grande precursores do desenvolvimento da psicanálise na Argentina, trabalhou desde 1915 para disseminar os trabalhos de Freud entre seus colegas, ainda que houvesse uma profunda ambivalência que o levava, fre- qüentemente, a deformar o pensamento de Freud. Sua primeira divulgação, em 1915, pu- blicada em El Commercio, comenta o artigo de Freud, “O interesse pela psicanálise”. Prússia Oriental: Abraham é enviado como voluntário para dirigir o hospital de Allenstein, onde fica até o fim das hosti- lidades. 1916 Com a guerra, Rank se alista na artilharia pesada a partir de julho de 1915, e vai para a Cracóvia, para desgosto de Freud. Sachs o > 3 5 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os substitui nas atividades da Associação vie- nense. Durante os três anos de guerra, Rank publicará Krakaue Zeitung. Inverno de 1916/1917: Freud profere o segun- do ciclo das 28 conferências na Universida- de de Viena. Outra publicação de Kaplan, Problemas psi- canalíticos, que Freud julga politicamente digna de elogios, mas “fora isso, nem profun- da, nem ambiciosa”. Março: G. Roheim (1891-1953) com 35 anos, começa seu tratamento psicanalítico com S. Ferenczi. Roheim fará uma segunda análise com Vilma Kovacks, depois ele se torna psi- canalista na Associação húngara. Freud será indicado para o prêmio Nobel de Literatura, por Barany. Japão: Kiyoyasu Marui forma-se em psicopa- tologia e em psicanálise na John Hopkins Univesity (EUA) sob a direção de Adolph Meyer. Ele ficará em Baltimore até 1919. Seus alunos no Japão, sobretudo Kosawa, cons- truirão as bases da psicanálise no Japão. Holanda: Perto do final do ano, criação da Nederlandse Vereniging voor Psychoanalyse (NVP, Holanda) por J. Van Ophuijsen, que pareceu, antes, ser mais junguiano. 1917 S. Freud resolve escrever um ensaio sobre as repercussões das teorias de J. B. Lamarck sobre a psicanálise (cf. seu texto sobre a metapsicologia de 1915: “Neurose de transfe- rência: uma síntese”). Morre, na Holanda, J. Stärcke – “provavel- mente uma verdadeira perda” (Freud para Ferenczi, dia 29 de maio). Adesões de Anton von Freund ,que Freud havia conhecido no ano anterior ao tratá-lo de uma neurose que se desenvolveu após a retirada de um sarcoma de testículo), Groddeck (que mandou para Freud seus tra- balhos) e de Pötzl. Este último proferiu, na Universidade de Viena, conferências descre- vendo experiências relativas aos sonhos que devem confirmar as teorias freudianas; Freud assiste a seus cursos e o convida para freqüentar as reuniões da Sociedade Vie- nense. Verão: Morte, no front, de H. Graff, filho úni- co de Rosa, irmã preferida de S. Freud. Hungria: Em janeiro, S. Ferenczi propõe como tema de conferência para o público de Budapeste, “A neurose como instituição so- cial” (ele acrescenta para Freud: “Tema que vocês tinham prometido a M. Bubber”). 1918 Estados Unidos: Em novembro, morte de J.J. Putnam (anunciada a Freud por Jones em dezembro). Inglaterra: Publicação em The Lancet do ar- tigo de Williams H. Rivers, “O recalcamento da experiência de guerra”, que revoluciona a teoria do traumatismo inclusive em di- mensão transferencial. Hungria: 23 de março, reconstituição da As- sociaçãoPsicanalítica húngara. Com o retor- no dos médicos militares, o número de clínicos da psicanálise passou para cinco: Hollos, Harnik, Pfeifer, Rado e Ferenczi. O ministro da guerra contatou Ferenczi para fundar um tipo de clínica para os ex-comba- tentes em Budapeste. Ferenczi sugere que Eitingon trabalhe como seu assistente, mas o Estado negou o pedido, porque Eitingon não era húngaro. Em outubro, circula uma petição que recolhe 180 assinaturas, para que Ferenczi seja au- torizado pelo Reitor da Universidade a le- cionar psicanálise. Dias 28 e 29 de setembro, Ferenczi e von > 3 6 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os Freund organizam o V Congresso da IPA em Budapeste (presidente K. Abraham). O con- gresso acontece na Academia de Ciências com a presença de representantes dos go- vernos alemão, austríaco e húngaro. No con- gresso, a importância das neuroses de guerra sobre as quais Ferenczi trabalhou é eviden- ciada por Freud (intervenção sobre Die Kriegsneurosen und ihre Psychoanalyse), Ferenczi, Simmel e Abraham. Roheim inter- vém sobre Das Selbst. Eine Volkspsycho- logie-Studie. Os trabalhos são saudados com um entusiasmo que tem como conseqüência projetar a criação de clínicas e de hospitais psiquiátricos sobre a base dos princípios psi- canalíticos, pela Alemanha, Áustria e Hun- gria. Aparece, então, um novo papel para a psicanálise, com implicações políticas: a vontade de remediar problemas sociais. Du- rante o congresso, H. Nünberg propõe pela primeira vez que uma das condições neces- sárias para ser psicanalista seja ter passado por uma psicanálise. S. Ferenczi e O. Rank se opõem ao voto de uma moção neste sen- tido. S. Freud considera que o centro da psi- canálise se encontra na Hungria, país onde Ferenczi e a psicanálise gozam de um breve período de apoio liberal sob o minis- tério de Mihaly Karoly. Ferenczi é eleito presidente da Associação Internacional. Polônia: Ernst Simmel, médico-chefe do hospital de Posen (Silésia), intro d u z o s princípios da cura psicanalítica e da cura catártica no tratamento dos pacientes. Ele escreve uma obra Neuroses de guerra e traumatismo ps íqu ico . Es ta obra é saudada por Freud: “Aqui temos, pela primeira vez, um médico alemão que se s i t u a i n t e i r a m ente, sem condescen- dência, sobre o terreno da psicanálise”. Anna Freud começa a se analisar com o seu pai. Sigmund Freud declara a E. Weiss que é fácil analisar sua filha e, a Ferenczi, que o tratamento será “elegante”. 17 de novembro: Carta circular de Freud para Ferenczi, von Freund e Rank para empregar os interesses da fundação na criação de dois prêmios anuais, um para um trabalho médico, o outro para um trabalho que usa com sucesso a análise a um tema não-mé- dico (“do tipo Seitschrift ou Imago”) 1919 Janeiro: criação da Internationale Psychoanalytsche Verlag (diretores: Freud, Ferenczi, Rank, von Freund). Uma doação generosa de Anton von Freund (Antal von Freund von Töszeghi, 1880-1920), paciente de Freud e próximo do grupo de Budapeste, permite financiar uma editora dedicada à análise: a Verlag. Rank, um dos membros fundadores, torna-se o diretor. A Verlag se- ria destruída em março de 1938 em Viena pelos nazistas, depois da Anschluss. Anton von Freund, filho de um rico produtor de cer- veja húngaro, produtor ele mesmo e doutor em filosofia, é membro do “Comitê secreto”. A análise de von Freund por Freud é parti- cularmente interessante, inclusive a do “fan- tasma neurótico” de “tornar o pai rico”. A International Psychoanalytischer Verlag passa para a gestão de Rank. Março: K. Abraham pede a Freud que retome a experiência do Jahrbuch. “Eu continuo a pensar que a extinção do Jahrbuch foi um erro. Agora que temos justamente uma edi- tora nossa, deveria existir, além da Zeitschrift à qual nós assinamos, um Jahrbuch que compramos para ficar a par do estado da ciência. Os relatos de obra atu- > 3 7 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os lham inutilmente a Zeitschrift” (cf. carta de Freud para Abraham, 1919. “Seu convite para recolocar o Jarhbuch em marcha apela igual- mente para um exame minucioso e poderá intervir em seus encontros com Rank. As di- ficuldades parecem-me hoje maiores que a necessidade. Dada a enormidade de taxas para a impressão, a editora já arca com o compromisso pesado de duas revistas. Além disso, a terceira estaria limitada a um públi- co puramente psicanalítico cujo poder de compra não é grande. Talvez possamos in- citar Deiticke a retomar o Jarhbuch; mas temo que o material que produzimos duran- te um ano não basta para alimentá-lo”). Abril: Em Leipzig, sob a iniciativa do estudan- te em medicina Karl H. Voitel, é fundada uma Sociedade para a pesquisa psicanalítica. Maio: “Sachs dá cursos para um bom público pagante” (S. Freud para S. Ferenczi). Julho: Carta de Freud para O. Pfister: “O Dr. Tausk pôs fim à sua vida. Um grande dom, mas um ser perseguido pelo destino, uma ví- tima posterior da guerra; você o conheceu?”. Alemanha: Max Eitingon e Ernest Simmel apresentam à Sociedade Psicanalítica de Berlim, então presidida por K. Abraham, o projeto de uma policlínica onde tratamentos psicanalíticos podiam ser feitos gratuita- mente, segundo um desejo expresso por Freud de que as classes baixas sejam bene- ficiadas pelo cuidado psicanalítico. O Insti- tuto será fundado no ano seguinte; seu estatuto, elaborado em 1923. França: Jean Piaget, morando em Paris, pro- fere uma conferência sobre a psicanálise e psicologia da criança na Sociedade Binet. Esse texto fez dele um dos primeiros apre- sentadores de teses freudianas na França. Inglaterra: Em fevereiro, dez membros da London Psycho-Analytical Society ligados à obra freudiana desfazem o grupo e recome- çam sob o nome British Psycho-Analytical Society, que será a sétima componente da IPA. Eles têm Jones como presidente. Março: E. Jones encontra O. Rank na Suíça com o objetivo de criar uma filial da Internationale Psychoanalytische Verlag em Londres. Hungria: Em março/abril, quando o regime liberal de Karolyi cai e é substituído pelo go- verno comunista de Béla Kun, Ferenczi é nomeado para a “República dos Conselhos” no posto de professor de psicanálise (o pri- meiro no mundo) na Universidade de Buda- peste. Roheim estará entre os professores nomeados. Em agosto, depois do “terror vermelho”, o “terror branco”; um grupo de comandos an- ticomunistas e ferozmente anti-semitas in- fluenciam o poder que exerce o contra-almirante Miklos Horty de Nagybana depois que ele depôs B. Kun. O professora- do de Ferenczi lhe é retirado. Em 1920, ele será excluído da Associação dos médicos húngaros. Melanie Klein apresenta para a Sociedade Húngara de Psicanálise seu pri- meiro caso de análise de criança, “Der Familienroman in statu nascendi”, que lhe vale a admissão como membro e sem super- visão. Ela expõe, sob o nome de Fritz, a aná- lise do seu filho Erich que é observado desde os três anos de idade. Nestas circunstâncias, o Comitê Secreto (criado em 1912) considera mais prudente confiar a presidência da IPA a Jones, resi- dente na Inglaterra. Ferenczi pede demis- são de seu cargo. Suíça: Criação do Grupo Psicanalítico de Ge- nebra presidido por E. Claparède. Entre os > 3 8 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a deps ica ná lis e > ar tig os membros: Pierre Bovet, Henri Flournoy, Charles Odier, Raymond de Saussure. 1920 20 de janeiro: Morte de Anton von Freund, em conseqüência do câncer de próstata, no Cottage-Sanatorium de Viena, onde Freud o visitou diariamente em seus últimos dias. Freud é nomeado professor titular da Facul- dade de Medicina da Universidade de Viena. Cinco dias mais tarde morre uma de suas fi- lhas, Sophia. A partir do vol. 6 da Zeitschrift, desaparece do seu título a menção ärztliche (médico). De 8 a 11 de setembro, o V Congresso da IPA em Haia (presidente: E. Jones). Primeiro congresso internacional depois da Primeira Guerra Mundial que devia, segundo Jones, acontecer em um país neutro. Binswanger faz uma conferência sobre “Psicanálise e psiquiatria clínica”. Começo dos grandes de- bates sobre a terapia, sua técnica e os seus métodos. Geza Roheim está presente. Freud intervém lendo “Suplementos à teoria dos sonhos”. Após esse congresso, Jones é nomeado pre- sidente do comitê secreto. Freud propõe que os membros deste Comitê troquem Rundbriefe, ou cartas circulares. Essas car- tas seriam semanais. Elas vão de duas a sete páginas datilografadas. Alemanha: Max Eitingon e Ernst Simmel criam, em Berlim, uma policlínica psicanalí- tica. A capital alemã se une à cidade de Viena na vanguarda da psicologia médica. Bélgica: Fernand Lechat, sua esposa Camille e Maurice Dugautiez, intitula-se psiquistas, estabelecendo em 1920 um Círculo de estu- dos psíquicos onde são praticados, além da psicanálise, o espiritismo e a hipnose. França: Eugénie Sokolnicka muda-se para a Franca, com a permissão de Freud. Introdu- zida por Georges Heuyer no hospital Sainte- Anne, ela analisa médicos psiquiatras do serviço do Prof. H. Claude. China: Zhang Dongsu, filósofo e reformador social, inquieto com a eventual propagação do comunismo na China depois da revolução bolchevique, vê em algumas teses freudia- nas um corpo teórico apto a apoiá-lo em sua crítica ao marxismo. Ele publica na revista Minfeng (O sino do povo) um artigo, “A psi- canálise”, mencionando a colaboração de Freud com Breuer, a cura pela palavra, a teoria do recalcamento e da censura. Inglaterra e EUA: E. Jones publica The International Journal of Psychoanalysis na Inglaterra e nos EUA (cf. carta de Freud para Abraham, 1919); essa revista tornar-se-á, em 1941, o órgão oficial da IPA. Na Inglaterra, tra- dução de Além do princípio de prazer publi- cado pela editora Hogarth Press. Inauguração, na Tavistock Square, 51, Bloomsbury, Londres, por Hugh Crichton- Miller, da Tavistock Clinic, primeiro centro psicodinâmico de consulta externa conven- cionada na Inglaterra. As psicanalistas Su- san Isaacs e Karin Stephen fazem parte do programa de formação dessa clínica. Rank e Jones são nomeados membros hono- rários da Sociedade britânica. República Tcheca: Chegada a Praga de Roman Jakobson, fundador do Círculo lin- güístico de Praga, cujas pesquisas sobre o método estrutural vão inspirar, bem mais tarde, Claude Lévi-Strauss e J. Lacan. 1921 G. Roheim ganha o prêmio Freud dedicado a trabalhos de psicanálise aplicada. França: Primeira tradução de um texto de Freud em francês, Introdução à psicanálise > 3 9 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os (tradução na Payot, por S. Jankélévitch). André Breton viaja para Viena para encon- trar Freud. Itália: A revista fundada por M. Levi-Bian- chini, Archivio Generale di Neurologia e Psychiatria acrescenta a menção e Psicoanalisi. Tchecoslováquia: N. J. Ossipov, psiquiatra e fundador da Associação Psicanalítica de Moscou se refugia em Praga. Ele é rapida- mente nomeado para a Faculdade de Medi- cina da Universidade Charles como responsável pelos seminários de psicanáli- se clínica. Assim Praga torna-se uma das primeiras cidades européias com ensino uni- versitário de psicanálise, depois de Budapes- te onde ensina Ferenczi. Ossipov reúne em torno de si um grupo de emigrantes russos entre os quais Th. Dosuzkov. Ele mantém contato também com o psiquiatra tcheco Stuchlik, que trabalhou em Munique com Kraepelin, depois com Bleuer no Burghölzli, e freqüentou, em 1917, os seminários da So- ciedade Psicanalítica de Viena. O primeiro psicanalista tcheco formado de acordo com as regras da psicanálise didática é E. Windholz, formado no Instituto de Berlim. China: Bertrand Russel, em uma turnê de conferências em Pequim, sobre o seu livro A análise do espírito, publicado nesse ano, evoca o inconsciente em uma conferência. Ele é convidado por Zhang Dongsu. 1922 Ferenczi e Abraham vêm dar conferências em Viena (janeiro). Abertura, em Viena, de uma clínica psicana- lítica – “O ambulatório” – sob a direção de alunos de Freud, H. Deutsch, Federn e Hitschmann. Freud não participará dos tra- balhos da clínica que focariam mais especi- ficamente as psicoses, tornando-se também o lugar principal para as supervisões dos es- tudantes. O ambulatório funcionava com fundos privados; cada analista podia parti- cipar recebendo um paciente em cada cinco, gratuitamente. Eles podiam recebê-los ou nos seus consultórios privados, ou no Ambu- latório, ou dar ao centro o dinheiro corres- pondente a uma cura. Freud dava ao Ambulatório uma grande parte dos fundos oferecidos para o seu 70o aniversário. Cada analista em formação era obrigado a formar gratuitamente dois estudantes. Foi este o caso do primeiro analista assalariado do Ambulatório, Richard Sterba. Riech foi o pri- meiro assistente de Hitschmann no ambula- tório. Houve, por parte do meio psiquiátrico, hostilidade significativa a esta iniciativa. Alemanha: No dia 20 de fevereiro, nomea- ção do centro aberto em Berlim desde 1920 por Simmel e Eitingon; será o Berliner Psychoanalytisches Institut. 23-27 de setembro, o VII Congresso da IPA em Berlim (presidente: E. Jones). Começo das controvérsias sobre a sexualidade feminina. Freud fará uma comunicação, não publicada, Algo inconsciente, e Abraham uma comuni- cação sobre a melancolia. A partir desse congresso, Binswanger marca sua distância em relação à psicanálise (cf. Diário de Binswanger – 23 de setembro de 1922). Jean Piaget participa desse congresso. Na Rundbrief de Viena, de 1o de novembro, foi proposto levar as atividades do Verlag para Berlim, devido à situação econômica na Áustria. Argentina: Eugène Mouchet, professor de psicologia experimental e de fisiologia intro- duz em seus cursos uma referência crítica à psicanálise. > 4 0 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os Espanha: Um editor madrilenho, José Ruiz Castillo se propõe, aconselhado por José Or- tega y Gasset a traduzir as obras de Freud. O tradutor é D. Luis Lopez-Ballesteros y de Torres. A publicação desta tradução, a pri- meira das obras completas no mundo, fica- rá pronta em dez anos. França: Em janeiro, início em Paris da “tem- porada Freud”. Os meios literários colocam na moda a psicanálise. Inglaterra: Tradução do “Leonardo” de Freud é reservada aos médicos. Rússia: Em março criação, em Kazan, de uma Sociedade psicanalítica colocada sob a dire- ção de Alexandre Luria, reunindo majorita- riamente médicos. Maio: Criação de uma associação psicanalí- tica russa que reuniu o grupo de Moscou e aquele de Kazan. S. Freud defende a adesão da Sociedade Psi- canalítica de Moscou à IPA, Jones nega. Ela será aceita em 1924. Suíça:Henri Flournoy (filho de Th. Flournoy) muda-se para Genebra como psiquiatra e psicanalista. 1923 Freud apresenta os primeiros sinais de um tumor no maxilar direito. Projeto de apresentar a obra de Freud em uma edição completa: Gesammelte Schriften (Escritos reunidos). Rank devolve a Abraham a direção e a total responsabilidade sobre a Korrespondezblatt (boletins locais). Freud confidencia a Ferenczi, em 25 de ja- neiro, que ele e Rank “mexeram os pauzi- nhos” para obter a separação da Press (britânica) e da Verlag. Ferenczi e Rank criticam os esforços de Eitingon para implantar a psicanálise em Paris e em Moscou. Ferenczi condena os elo- gios com que Eitingon cobre R. Laforgue, que parecia assim minimizar as contribuições de sua própria analisanda, E. Sokolnicka. França: 28 de outubro, primeiro encontro entre M. Eitingon e R. Laforgue para criar uma sociedade psicanalítica em Paris. S. Jankélévitch traduz Totem e tabu (Payot). Argentina: O médico espanhol Gonzalez La- fora dá conferências sobre a psicanálise na Faculdade de Medicina. Austrália: G. Roheim vai para a Austrália central e para a ilha Normanby. Romênia: Um aluno de Charcot, George Ma- rinescu, publica dois artigos que informarão os intelectuais romenos sobre a psicanálise, “Introdução ao estudo da psicanálise” e “Crí- tica da teoria freudiana”. Rússia: Criação de um Instituto de Psicaná- lise de Estado. Tradução de Totem e tabu que seria publicada pelas Edições de Estado, di- rigidas pelo matemático Otto Schmidt. Al- guns anos mais tarde, Trotski falará de seu interesse pelo freudismo que considera subs- tituir e confirmar a corrente pavloviana. Esse interesse será reforçado pela publica- ção de O mal-estar na civilização. 1924 Congresso de Salzburgo, sem Freud. Depois do retorno de Eitingon, Freud, ape- lando para Rado, provoca um encontro com Abraham e Sachs para resolver a situação de Rank. Sua partida é obtida. “Nós perdemos um dos nossos melhores quadros, mas ele era apenas um entre nós” (Freud, 12 de no- vembro de 1924, para K. Abraham). A. J. Stor- fer, psicanalista vienense de origem romena, substitui Rank no posto de diretor geral da Internationale Psychoanalytsche Verlag e assumirá essa função até 1932. > 4 1 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os Bélgica: Publicação de um número especial da revista Le Disque vert (dir.: F. Hellens), integralmente dedicada a controvérsias e homenagens à psicanálise. Psicanalistas, sumidades médicas e literárias, alguns pró- ximos do surrealismo são publicados: G. Dwelshauwers (posteriormente diretor do Laboratório de Psicologia experimental da Catalunha, mostra-se muito reservado frente à psicanálise), V. Larbaud, A. Ombredane, H. Michaux, R. Crevel, F. Hellens (diretor da publicação, ele se aproximou posteriormen- te das teses de Jung). Podemos citar Crevel: “A psicanálise nos permite nos encontrar; é muito, quando pensamos no caos da civili- zação; na verdade, ela deu a noção de uma disciplina mais do que uma nova ciência. Aos mais audaciosos, ela permite encontrar uma moral e, mais uma vez, esta moral é indivi- dual, e é mais uma moral do que uma higie- ne da alma”; e de Larbaud: “O desejo, ou a mania, de atribuir à sexualidade um papel preponderante, se não exclusivo, nos fenô- menos da emoção dá a todos os desenvol- vimentos da doutrina de Freud um caráter preconcebido que nos torna desconfiados. E, de resto, se há muitas coisas interessan- tes nos trabalhos de Freud, existem também muitos pontos que nos parecem arbitrários ou grosseiramente deduzidos”; de H. Michaux, enfim: “Se eu examino a loucura, eu encontro o orgulho. Muito mais loucos falam sobre o orgulho do que sobre a libi- do. Mesmo no sonho, o instinto de conser- vação, o instinto de dominação, o instinto de cupidez se encontram. Freud vê nos so- nhos varas simbólicas. Eu vejo punhos, pra- tos da fome, casas de avareza. O amor próprio é o instinto intrínseco do homem.” Julien Varendonck (1879-1924), que foi alu- no de Freud e autor de The Psychology of Day-dreams (Psicologia dos sonhos de vigí- lia, Londres: Allen Unwin, 1921, prefácio de S. Freud e tradução de A. Freud), passa uma temporada em Viena em 1923 para aprofun- dar sua formação, abre um consultório em Gand. Ele morreu muito rapidamente para encontrar analisandos e alunos aptos a se- guir seu caminho. Brasil: Em Porto Alegre, João Cesar de Cas- tro publica Concepção freudiana das psico- neuroses. EUA: A American Psichoanalytic Association vota uma resolução excluindo todos os psi- canalistas não-médicos. Rank dá conferências em Nova York fre- qüentado por um público numeroso. França: Publicação do livro de R. Laforgue e R. Allendy, prefaciado por H. Claude e pelo Dr. Lorge, A psicanálise das neuroses. Eugénie Sokolnicka redige o primeiro artigo sobre a psicanálise no Tratado de patologia médica, de Emile Sergent. Publicação do artigo de G. Politzer, “O mito da antipsicanálise”, que defende a obra de Freud e mesmo reprovando-lhe continuar o viés da psicologia clássica: formalismo, abs- tração e idealismo. Inglaterra: Os membros da Sociedade britâ- nica de Psicanálise, fundada em 1919, criam o Institute of Psychoanalysis. Os primeiros objetivos eram tratar de questões de tesou- raria e das publicações. Em seguida, o insti- tuto assumirá tarefas mais amplas: administração da clínica e formação. 1925 20 de junho: Morte de Joseph Breuer aos 84 anos. Entre 2 e 5 de setembro: IX Congresso da IPA em Bad-Homburg, na Alemanha (presiden- > 4 2 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os te: K. Abraham). Anna Freud lê um texto que seu pai havia escrito especialmente para a ocasião: “Algumas conseqüências psíquicas da diferença anatômica dos sexos”. O esta- do de saúde de Freud o impede de participar do congresso, e, a partir desse momento, ele não irá mais aos congressos de psicanálise. M. Eitingon instaura as regras da psicanáli- se didática aplicáveis a todas as sociedades da IPA mediante uma International Training Commission (ITC). 25 de dezembro: Morte de K. Abraham. 21 de maio de 1926: Freud para Binswanger: “Você adivinhou exatamente aquilo que a morte de Abraham significou para mim. Mas, quando vivemos muito, nem sempre pode- mos evitar a condição de sobrevivente. Afi- nal, a psicanálise não é um assunto pessoal, e ela continuará a existir, mesmo que eu já não possa mais controlá-la.” No Int. Journ. Psychoanal., E. Jones respon- de às críticas de B. Malinowski iniciando uma controvérsia em que brilharia G. Roheim. França: Georges Heuyer, professor de psi- quiatria infantil na Faculdade de Medicina de Paris, criou em sua clínica anexa um la- boratório de psicanálise dirigido por Sophie Morgenstern. Em seu retorno de Nova York, em meados de fevereiro, Rank faz escala em Paris, onde dá uma conferência na Sorbonne e encontra por algumas vezes membros do núcleo fran- cês: Laforgue, Sokolnicka e Bonaparte) Inglaterra, janeiro: Em Londres, em dezem- bro, seguindo o exemplo de Berlim e Viena, inaugura-se um Instituto de Psicanálise fun- dado com uma doação de uma antiga pa- ciente de Jones, Pryns Hopkins. Os Strachey convidam Melanie Klein para vir a Londres para uma série de conferências du- rante três semanas. Brasil: Arthur Ramos, médico psiquiatra que se interessa por criminologia, psiquiatria e etnologia, publica sua tese Primitivo e lou- cura,que provocará muitos comentários. Posteriormente, importante professor de antropologia, ele escreveu algumas obras psicanalíticas, ainda que não tenha tido qualquer formação psicanalítica nem feito análise pessoal. Manteve uma correspon- dência com Freud, Jellife e Bleuler. Foi o pri- meiro a publicar, em 1934, um estudo psicanalítico do nazismo. Em 11 de feverei- ro de 1928, Freud escreverá para Ramos: “Acabo de tomar conhecimento dos seus re- sultados a partir dos seus relatos, e eu os acho muito interessantes e plenamente de acordo com aquilo que é esperado dos traba- lhos psicanalíticos desenvolvidos até agora.” Durval Marcondes (1899-1981) conhece a obra de Freud por meio de seu professor Franco da Rocha (ele mesmo psiquiatra de grande renome que publicou algumas obras sobre a psicanálise freudiana). Ele abre um consultório onde trata de neuróticos com o método psicanalítico. Chile: Fernando Allende Navarro (1890- 1981), o primeiro psicanalista chileno, faz os seus estudos médicos na Bélgica, depois na Suíça, onde trabalha com Rorschach. Ele va- lida o seu título na Universidade do Chile defendendo sua tese, El valor de la psico- análisis en la policlínica. Membro da Socie- dade Suíça de Psicanálise, depois da Sociedade Psicanalítica de Paris. Haiti: Semmering, Villa Schüller, Freud, em 9 de julho de 1925 para K. Abraham: “Para a sua diversão, eu lhe conto que hoje saiu um número do Matin, com um editorial sobre a > 4 3 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 ar tig os psicanálise. Parece não ter nada de especial, mas o Matin em questão é publicado em Port-au-Prince, no Haiti, e não é sempre que temos correspondência com aquela região.” Itália: 7 de junho, com a iniciativa de Marco Levi Bianchini, diretor do Hospital psiquiátri- co de Nocera Inferiore (Salerno), é criada a Società Psicoanalitica Italiana. Apenas E. Weiss tinha sido analisado. 1926 25 de outubro: Freud visita, em Viena, Rabindranath Tagore. Inglaterra: Em fevereiro, Freud é nomeado Membro honorário da Sociedade Britânica de Psicologia. Criação da London Clinic of Psychoanalysis. Cada um dos membros deveria garantir uma sessão diária, gratuita, durante 30 anos. Alemanha: Os psiquiatras Robert Sommer e Wladimir Eliasberg fundam a Sociedade Ge- ral de Medicina Psicoterapêutica. Entre seus membros: A. Adler, C. G. Jung, K. Horney, E. Kretschmer, G. Groddeck, K. Lewin, E. Simmel. A Sociedade Alemã de Psicanálise recusou reconhecer a Sociedade Geral de Medicina Psicoterapêutica na qual se en- contravam “psicanalistas selvagens” desau- torizados por Freud (a Sociedade Geral de Medicina Psicoterapêutica queria reunir to- dos os praticantes das diversas formas de psicoterapia). Em 1928, criação do jornal dessa sociedade que recebeu, em 1930, o nome de Zentralblatt für Psychotherapie. Criação, em Frankfurt, do “Instituto Psicana- lítico da Comunidade trabalhadora psicana- lítica da Alemanha do Sudeste” criado, após sua análise com Freud, em 1919, por Karl Landaeur, com Calra Happel e Erich Fromm, entre outros. G. W. Pabst dirige W. Kraus (ator do Gabi- nete do Dr. Caligari) em Geheimnisse einer Seele (Os mistérios de uma alma), em cola- boração com K. Abraham e H. Sachs. Suíça: A partir da proposta de Binswanger, Freud é eleito membro honorário da Socieda- de Suíça de Psiquiatria. Primeira reunião em torno de Laforgue, de Robin e de Pichon no que será, futuramente, o Congresso dos psi- canalistas de língua francesa dos países de língua latina. França: Criação da Société Psychanalytique de Paris (SPP), em 4 de novembro. Allendy elabora seus estatutos com Pichon. Ela con- ta, inicialmente, com nove membros: René Allendy, Marie Bonaparte, Adrien Borel, An- gelo Hesnard, René Laforgue (que assegura- rá a presidência até 1930), Rudolf Loewenstein, Georges Parcheminey, Edouard Pichon, Eugénie Sokolnicka (vice- presidente), aos quais virão se reunir Henri Codet, Charles Odier, Raymond de Saussure. EUA: Entre 1926-1927, Ferenczi passa seis meses nos EUA dando conferências com um sucesso declinante. Ele forma igualmente candidatos, médicos ou não. Rank também está em Nova York e dá cursos. Peru: Delgado publica, com a colaboração de intelectuais peruanos, um número especial da revista Mercurio Peruano, dedicada a Freud. A revista, fundada em 1791, era no início o órgão dos intelectuais crioulos escla- recidos. Nesse mesmo ano, Delgado publica uma biografia de Freud que ganhará impor- tantes retoques do próprio mestre. 1927 Janeiro: Freud passa uma temporada em Ber- lim, na casa do seu filho Ernst. Dia 2, A. Einstein, acompanhado de sua esposa, vem visitá-lo. Freud escreve para Ferenczi: “Ele é alegre, seguro de si e agradável. Ele sabe > 4 4 an o XI X, n . 1 88 , d ez em br o/ 20 06 pu ls io na l > re vi st a de ps ica ná lis e > ar tig os tanto sobre psicologia quanto eu de física, também tivemos uma conversa muito agra- dável.” Encontramos, no fim do Epílogo (1927) algumas linhas onde Freud fala nova- mente sobre a “demarcação” feita nas publi- cações entre “análise médica e aplicação da análise. Isso não está correto. Na verdade, a linha de demarcação situa-se entre a psi- canálise científica e suas aplicações nos do- mínios médicos e não-médicos.” Setembro: Congresso de Innsbruck. Dissolu- ção do Comitê, que se transforma em uma estrutura administrativa composta pelos ca- beças da Associação Internacional. Alemanha: Inauguração pelo presidente da Sociedade Psicanalítica Alemã, Ernst Simmel (de 1926 a 1930), do Schloss-Tegel em Berlim- Tegel. Ernst Simmel passará a ser o diretor do primeiro estabelecimento mundial a fazer tratamentos psicanalíticos institucional- mente. Simmel foi o primeiro a crer possível o tratamento psicanalítico de doenças orgâ- nicas. Brasil: Durval Marcondes funda em São Pau- lo a primeira Sociedade Brasileira de Psica- nálise (Julio Pires Porto-Carrero e Franco da Rocha participam dessa fundação). EUA: A APA, infringindo o regulamento da IPA, limita o exercício da psicanálise aos mé- dicos. França: Em 25 de junho, publicação do núme- ro 1 da Revue française de psychanalyse, órgão oficial da Sociedade Psicanalítica de Paris, “revista publicada sob a alta patrona- gem de Freud”. Nela está “Moisés e Miche- langelo”. Essa revista permanece fiel à demarcação analise médica por um lado, e aplicação da análise por outro. Encontramos nela um artigo de Allendy: “Os elementos afetivos relativos à dentição”. Sacha Nacht, convidado para uma conferên- cia sobre a esquizofrenia, é eleito membro da Sociedade Psicanalítica de Paris. Sophie Morgenstern (que se suicidará em 1940 no momento da entrada do exército alemão em Paris) publica um artigo decisivo para os tratamentos das crianças: “Um caso de mutismo psicogênico tratado no serviço do Dr. Heuyer”. Primeira publicação em fran- cês de um trabalho sobre a aplicação da psi- canálise na criança (por meio de desenhos). Índia: Afiliação da Sociedade Indiana de Psi- canálise criada por Girindrashokkar Bose em Calcutá. 1928 G. Roheim parte, com a ajuda financeira de M. Bonaparte, em uma expedição científica que o leva a Aden (1928), na Austrália Cen- tral (1929) e na Melanésia (1930) a fim de recolher dados para desmentir as objeções de B. Malinowski à teoria da universalidade do Édipo (sobretudo nas sociedades matrili- neares). Roheim planeja se mudar para Bu- dapeste após o seu retorno – o que acaba, de fato,
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