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Universidade Estadual de Maringá Centro de Tecnologia Departamento de Engenharia Civil Ensaio de Compressão Paralela às Fibras Aluna: Joyce Maria de Oliveira Bender R.A.: 85262 Estruturas de Madeira - Turma 6946-004 Professor: Julio César Pigozzo Maringá-PR, 2019. 2 1. OBJETIVO O experimento realizado teve como objetivo a determinação da resistência e a rigidez à compressão paralela às fibras de madeira de um lote considerado homogêneo por meio da inclinação da reta secante à curva tensão x deformação específica. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Materiais Para a realização deste ensaio, foram utilizados os seguintes materiais: - Amostra de madeira cambara padronizada seca ao ar (umidade 11%), de formato prismático, com seção transversal quadrada de aproximadamente 4,7 de lado e comprimento de 9,7 cm. - Extensômetros (transdutores de deslocamento) e cantoneiras metálicas - Prensa mecânica que aplica cargas de compressão paralela às fibras - Cronômetro - Aparelho de leitura e registro de dados a partir do software Catman Easy 2.2. Métodos Inicialmente, realizou-se uma inspeção visual na amostra para verificar que a mesma estava livre de qualquer tipo de defeito visível. Em seguida posicionou-se a amostra na máquina de ensaio mecânico, com extensômetros ligados a devida aparelhagem para leitura de deformações já calibrada e configurada de acordo com o tipo de sensor, conforme esquematizado na Figura 2.1. Para garantir uma leitura adequada é necessário que o corpo de prova esteja centralizado na prensa garantindo assim que a carga aplicada proporcione uma deformação simétrica nas duas faces opostas onde estão os extensômetros. Assim, é aplicada uma carga relativamente baixa (500kgF) para analisar a posição da amostra e ajustar até que a diferença de posição dos dois leitores seja irrelevante para o experimento. Figura 1: Arranjo de ensaio de compressão paralela às fibras, com instrumentação baseada em relógios comparadores. Fonte: NBR 7190 (1997) Com a peça devidamente posicionada, os deslocamentos são zerados e aplica-se uma carga centrada da seção transversal, para submeter o corpo de prova a esforços de compressão. A resistência deve ser determinada com carregamento monotônico crescente, com uma taxa em torno de 10 Mpa/min, que é a constância de aplicação recomendada pela norma. Devido ao controle manual do equipamento para aplicação da carga, a velocidade de aplicação é dada pela variação de carregamento registrado, e o intervalo de tempo obtido pelo software entre duas leituras de deformação consecutivas. Com posse desses dados, obtém-se a velocidade média de carregamento/descarregamento. O programa utilizado não possui leitura dinâmica e registra os resultados na frequência de 10 leituras por segundo, quando acionado o botão para obtenção do dado, o software fornece a leitura mais próxima. Na determinação da rigidez, a resistência deve ser estimada por meio do rompimento do corpo de prova, visível a partir do registro de carregamento da prensa. Conhecida a carga teórica máxima resistida de 8300 kgF de acordo com a NBR 7190:1997, o carregamento foi realizado por meio de ciclos de carga, submetendo a amostra a aproximadamente 50% da carga máxima, com pausas em intervalos adotados e, após 30 segundos, descarregando até 10 % da mesma força. Esse ciclo repetiu-se por duas vezes, ou seja, foram realizadas duas cargas e descargas, para só então levar a amostra até o ponto de ruptura com o terceiro carregamento. A Figura 2 mostra o diagrama de carregamento: Figura 2: Diagrama de carregamento para determinação da rigidez da madeira à compressão. Fonte: NBR 7190 (1997). Anotou-se nesse ensaio, os valores das cargas e extraiu-se os dados de deformações obtidos para cada ponto do diagrama de carregamento mostrado na figura acima, e o ponto onde acontece a ruptura da amostra ensaiada. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Para o início do procedimento, levou-se em conta o tipo de madeira (adotando uma tensão máxima, estimada de acordo com a norma) e a seção transversal da amostra, para o cálculo da força máxima estimada: 𝑓𝑐0 = 𝐹𝑐0,𝑚á𝑥 𝐴 38 ∗ 10 = 𝐹𝑐0,𝑚á𝑥 21,34 𝑭𝒄𝟎,𝒎á𝒙 ≅ 𝟖𝟎𝟎𝟎 𝒌𝒈𝑭 A partir de então definiu-se a força aplicada para cada ponto do gráfico, destacando os pontos relativos à 10% e 50% da força máxima estimada. Assim sendo, a primeira leitura de carga foi realizada com a aplicação de aproximadamente 800 kgF, e assim por diante. 3.1. Diagrama Carga x Deslocamento Os resultados para os ciclos de carga e descarga, bem como para os carregamentos realizados no terceiro momento, até a remoção do transdutor de deslocamento, são apresentados na Tabela 1: Tabela 1 – Dados da análise de compressão Ciclo Carga (KgF) ε 1 (mm) ε 2 (mm) ε médio (mm) Tempo (s) Tempo (min) Tempo de carregamento e descarregamento (s) Tempo do ciclo (s) Velocidade de carregamento/ descarregamento (KgF/s) 1 0,00 0,000 0,000 0,000 12 0,202 2,94 4,90 6,37 820,00 0,044 0,037 0,040 71 1,185 1600,00 0,079 0,087 0,083 107 1,780 2400,00 0,108 0,127 0,117 134 2,230 3180,00 0,137 0,193 0,165 160 2,667 4000,00 0,155 0,257 0,206 177 2,942 4020,00 0,153 0,258 0,205 207 3,448 1,45 10,49 3200,00 0,119 0,183 0,151 225 3,743 2400,00 0,086 0,122 0,104 247 4,120 1680,00 0,052 0,078 0,065 273 4,547 780,00 0,023 0,031 0,027 294 4,895 2 780,00 0,023 0,031 0,027 325 5,410 1,72 3,76 8,75 1600,00 0,059 0,091 0,075 358 5,968 2400,00 0,088 0,133 0,111 387 6,452 3200,00 0,117 0,192 0,154 408 6,807 4000,00 0,139 0,255 0,197 428 7,133 3980,00 0,137 0,256 0,196 459 7,648 1,53 9,77 3200,00 0,109 0,204 0,157 488 8,125 2380,00 0,078 0,129 0,103 509 8,483 1580,00 0,045 0,084 0,064 533 8,880 800,00 0,015 0,041 0,028 550 9,173 3 820,00 0,020 0,044 0,032 581 9,675 2,36 2,36 9,30 1600,00 0,049 0,092 0,071 622 10,360 2400,00 0,078 0,135 0,107 639 10,650 3200,00 0,108 0,195 0,152 656 10,930 4000,00 0,131 0,263 0,197 673 11,217 4500,00 0,147 0,317 0,232 694 11,560 5000,00 0,157 0,353 0,255 707 11,783 5500,00 0,162 0,383 0,273 722 12,033 A partir desses dados foi possível se obter o diagrama Carga x Deslocamento para os três ciclos de carga, até a remoção dos equipamentos. Esse diagrama é apresentado na figura abaixo: Figura 3 – Diagrama Carga x Tempo O corpo de prova foi rompido com uma carga de 10260 kgF. Além dessas informações, sabe-se que a média de velocidades (carregamento e descarregamento) foi de aproximadamente 8,94 MPa/min, valor este a ser comparado com o valor estipulado pela norma. 3.2. Cálculo da resistência à compressão paralela às fibras Sabendo-se que a ruptura do corpo de prova se deu com uma carga de 10260 kgF e conhecendo-se sua seção transversal, foi possível se calcular sua resistência efetiva à compressão paralela às fibras: 𝑓𝑐0 = 𝐹𝑐0,𝑚á𝑥 𝐴 𝑓𝑐0 = 10260 21,34 𝒇𝒄𝟎 = 𝟒𝟖𝟎, 𝟔𝟗 𝒌𝒈𝑭/𝒄𝒎² = 𝟒𝟖, 𝟎𝟕 𝑴𝑷𝒂 3.3. Diagrama Tensão X Deformação Com base nas dimensões do corpo de prova foi possível se calcular as tensões e deformações específicas para o experimento realizado. Apenas os valores do terceiro acréscimo de carga até a retirada dos sensores é interessante para os cálculos. Essas informações são apresentadas na Tabela 2. 0,00 1000,00 2000,00 3000,00 4000,00 5000,00 6000,00 12 107 160 207 247 294 358 408 459 509 550622 656 694 722 C ar ga ( K gF ) Tempo (s) Carga x Tempo Tabela 2 - Resultados de tensão e deformação específica Tensão (kgF/cm²) Deformação específica (cm/cm) 38,42 0,0003 74,96 0,0007 112,44 0,0011 149,92 0,0016 187,40 0,0020 210,83 0,0024 234,25 0,0026 257,68 0,0028 Utilizando-se as informações da Tabela 3 se elaborou o diagrama de Tensão x Deformação Específica apresentado na Figura 4. Figura 4 – Diagrama Tensão x Deformação Específica 3.4. Obtenção do módulo de elasticidade pelo método da NBR ABNT 7190:1997 O módulo de elasticidade deve ser determinado pela inclinação da reta secante à curva tensão deformação, definida pelos pontos (σ10%; ε10%) e (σ50%, ε50%) correspondentes respectivamente a 10% e 50% da resistência a tração paralela às fibras medida no ensaio, sendo dado por: 𝐸𝑐0 = (𝜎50% − 𝜎10% ) (𝜀50% − 𝜀10% ) y = 85164x + 13,681 0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 0,0000 0,0005 0,0010 0,0015 0,0020 0,0025 0,0030 Te n sã o ( kg F/ cm ²) Deformação Específica (cm/cm) Tensão x Deformação Específica Tensão (kgF/cm²) Linear (Tensão (kgF/cm²)) A partir do cálculo das tensões parciais pode-se utilizar a equação da reta para obtenção das deformações necessários para determinação do módulo de elasticidade: 𝜎10% = 1026 21,34 = 4,807 𝑀𝑝𝑎 𝜎50% = 5130 21,34 = 24,034 𝑀𝑝𝑎 𝜀10% = 0,0004 𝑐𝑚 𝜀50% = 0,0026 𝑐𝑚 𝐸𝑐0 = (𝜎50% − 𝜎10% ) (𝜀50% − 𝜀10% ) 𝑬𝒄,𝟎 = 𝟖𝟓𝟏𝟔, 𝟒 𝑴𝑷𝒂 3.5. Análise dos desvios percentuais a partir dos resultados obtidos O desvio percentual pode ser calculado por meio da equação apresentada abaixo que possibilita a comparação entre valores por meio da equação do desvio percentual. 𝑫 (%) = | 𝑽𝟏 − 𝑽𝟐 𝑽𝟏 | ∗ 𝟏𝟎𝟎(%) em que: 𝑫 é o desvio percentual; 𝑽𝟏 é o valor obtido em ensaio; 𝑽𝟐 é o valor sendo comparado. Os desvios percentuais obtidos para o experimento realizado foram apresentados na Tabela 3, tomando- se como referência o módulo de elasticidade, velocidade ideal, e resistência a compressão apresentados pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e como valor comparado os resultados obtidos por meio do ensaio. Item Detalhe Valor norma Valor obtido Erro (%) Situação Dimensões do CP Altura (cm) 15 9,7 - Ok Seção transversal (cmxcm) 5 x 5 4,7 x 4,7 - Ok Velocidade MPa/min 10 8,94 11,90 Erro considerável Resistência a compressão Cambara (Mpa) 42,2 48,07 12,21 acima Erro considerável Módulo de elasticidade Cambara (Mpa) 12101 8516,4 42,09 abaixo Erro considerável 4. CONCLUSÃO Como se pode perceber, os valores obtidos tanto para o módulo de elasticidade da ordem de 48 MPa, quanto para o módulo de elasticidade, da ordem de 8500 MPa, não causaram nenhuma surpresa. De qualquer modo, seria necessário o ensaio de outros corpos de prova, para que um valor médio de resistência e de módulo de elasticidade pudesse ser estabelecido para o lote de madeiras da espécie analisada, permitindo uma comparação mais apropriada com valores médios obtidos por meio de outros ensaios. Além disso, a falta de informações quanto à umidade do corpo de prova ensaiado se mostraria um problema na definição do módulo de elasticidade efetivo para a madeira ensaiada. ‘Para a caracterização da resistência à compressão de um dado lote de peças delgadas, permite-se empregar corpos-de-prova com seção transversal quadrada, com lado igual à espessura do elemento delgado, com pelo menos 1,8 cm, e comprimento igual a três vezes o lado da seção transversal, ensaiando-se pelo menos 12 corpos- de-prova, extraídos aleatoriamente de 12 diferentes peças delgadas’. A partir desta consideração contida em norma, conclui-se que os erros apresentados podem existir devido à realização de apenas um ensaio ao invés dos 12 indicados. Assim como as dimensões do corpo de prova, a velocidade de carregamento de aproximadamente 9 MPa/min se encontrar próximo ao valor estabelecido e indicado por norma, sendo aconselhável se atentar a uniformidade de uma velocidade constante ao longo da aplicação da carga e posterior carregamento. O módulo de elasticidade obtido, encontra-se distante do valor esperado para a espécie cambara, mas pode ser devido a diversas interferências, como a exatidão na umidade estabelecida, caracterização correta da madeira, dentre outras. O valor obtido para a resistência a compressão, mostrou-se superior ao da norma para a madeira em questão, com uma variação de mais de aproximadamente 12% acima do valor esperado. Desse modo, conclui- se que esse erro pode ser oriundo do processo de realização do experimento, falhas humanas, erros de concepções, como por exemplo a incerteza da espécie de madeira da amostra, ou então devido à falta de maior quantidade de ensaios para um resultado mais preciso. Caso essa amostra fosse retirada de uma madeira tipo Branquilho por exemplo, o resultado obtido para o módulo de elasticidade estaria de acordo com a norma e coerente com a espécie da madeira, considerando que a amostra foi oriunda da madeira tipo Cambará, essa variação deve ser investigada. Quanto ao ensaio realizado, vale a pena se comentar a dificuldade de manutenção das cargas nos patamares de carga e descarga. A necessidade de se obter teoricamente o valor do deslocamento para uma carga igual a 10% da carga estimada para a ruptura é uma consequência direta dessa dificuldade, ocasionada principalmente pelo sistema de funcionamento da prensa utilizada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira. Rio de Janeiro: ABNT, 1997. 107 p. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS (IPT). Informações sobre Madeiras: Tauari. Disponível em: <http://www.ipt.br/informacoes_madeiras/3.htm>. Acesso em 25 abril. 2019. PFEIL, Walter; PFEIL, Michèle. Estruturas de Madeira. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003. 224 p.
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