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Jacobina, O paradigma da epistemologia histórica_ a contribuição de Thomas Kuhn, 1999

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História, Ciências, Saúde-Manguinhos
Print version ISSN 0104-5970On-line version ISSN 1678-4758
Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.6 no.3 Rio de Janeiro Nov. 1999/Feb. 2000
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702000000400006 
 
 
O paradigma da epistemologia
histórica: a contribuição de
Thomas Kuhn
The paradigm of historical
epistemology: Thomas Kuhn’s
contribution
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ronaldo Ribeiro Jacobina
Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
da Bahia 
Rua Cláudio Manoeld a Costa, 74/302 Canela 
40110-180 Salvador — Bahia Brasil 
rrj@magiclink.com.br
 
JACOBINA, Ronaldo R.: ‘O
paradigma da epistemologia
histórica: a contribuição de
Thomas Kuhn’. História, Ciências,
Saúde — Manguinhos, VI(3):
609-630, nov. 1999-fev. 2000.
Este artigo apresenta uma breve
análise histórica da
epistemologia, do modelo
normativo tradicional às
vertentes contemporâneas, aqui
designadas de ‘histórico-
interpretativas’. Estas últimas
fazem vigorosa crítica ao
paradigma tradicional,
demonstrando não só os limites
da ‘falsificação lógica’ e da
‘verificação empírica’, mas
também a rigidez prescritiva da
metaciência normativa,
incompatível com os avanços
científicos deste século. Analisa-
se a contribuição kuhniana,
dando-se destaque aos seus
conceitos originais e às
redefinições de conceitos e
modelos anteriores. À guisa de
ilustração, alguns são utilizadas
na análise da descoberta da
estrutura do DNA. A
apresentação do modelo
kuhniano inclui posições de
interlocutores, tanto os
normativos quanto os pós-
kuhnianos, sobretudo em relação
às ciências sociais e ao uso
ampliado para outras áreas do
conhecimento.
PALAVRAS-CHAVE: epistemologia
histórico-interpretativa, história
da ciência, paradigma, ciência
normal, revolução científica.
 
 
JACOBINA, R. R.: ‘The paradigm
of historical epistemology:
Thomas Kuhn’s contribution’.
História, Ciências, Saúde –
Manguinhos, VI(3): 609-630,
Nov. 1999-Feb. 2000.
This brief historical analysis of
the field of epistemology begins
with its initial, speculative phase,
moving on to the traditional
normative model and continuing
through contemporary lines,
which are referred to here as
‘historical-interpretative’.
Common to the latter is harsh
criticism of the traditional
paradigm, whose shortcomings
include not only the limitations of
‘logical falsification’ and
‘empirical verification’ but also
the prescriptive rigidity of
normative meta-science, deemed
incompatible with this century’s
scientific advances. The article
analyzes Kuhn’s contribution in
greater detail, highlighting his
original concepts and his
redefinitions of earlier concepts
and models. To illustrate, some
of his categories are used in an
analysis of the discovery of the
DNA structure. This exploration
of the Kuhnian model also makes
reference to certain stances
taken by normative and post-
Kuhnian epistemologists,
especially in relation to the social
sciences and application of the
model to other areas of
knowledge.
KEYWORDS: historical-
interpretative epistemology,
history of science, paradigm,
normal science, scientific
revolution.
 
 Este artigo tem como objetivo analisar o modelo epistemológico elaborado por
Thomas Kuhn no início da década de 1960 — uma das mais importantes
contribuições para a nova epistemologia. A fase especulativa inicial e a fase da
epistemologia normativa tradicional serão brevemente descritas, com vistas a
contextualizar o modelo kuhniano, cuja análise será complementada com a
exposição de algumas das críticas e das modificações sugeridas por autores de
outras vertentes epistemológicas. 
 A divisão da filosofia da ciência, neste século, em pré e pós-kuhniana
fundamenta-se na proposta de Rorty (1997) — autoproclamado um dos "pós-
kuhnianos esclarecidos" ou "iluminados" —, que reconhece, na obra de Kuhn, o
estabelecimento de uma ruptura com a epistemologia anterior. 
 Para situar a contribuição kuhniana no campo da filosofia das ciências, segundo
Epstein (1990), utilizaremos, de modo um tanto ou quanto esquemático, porém
didático, a identificação de três vertentes do discurso ‘metacientífico’, quais sejam,
o especulativo, o normativo e o descritivo, este último aqui designado de ‘histórico-
interpretativo’.
A epistemologia especulativa
 O discurso especulativo remonta aos gregos e já se faz presente desde as
primeiras inquietações dos pré-socráticos, como Heráclito, Parmênides e Demócrito,
permanecendo entre os sofistas em sua precursora preocupação com a linguagem e
a verdade e encontrando eco nos pensamentos de Sócrates, Platão e,
principalmente, Aristóteles, nas discussões sobre o alcance do conhecimento e
sobre as formas de combater os erros e equívocos (Chauí, 1994). 
 Do Renascimento até a época moderna, essa vertente inicial constitui-se numa
‘teoria do conhecimento’ e postula a verdadeira natureza do conhecimento que
temos da realidade externa. Dessa vertente destacam-se, de um lado, a ‘dúvida
metódica’ de Descartes e, de outro, as contribuições de Bacon e Locke, que
inauguram uma forte tradição anglo-saxônica sobre a teoria do conhecimento. 
 Utilizando o recurso analítico de decompor o todo em suas partes, Descartes
identifica muitos dos erros oriundos do conhecimento sensível, mas mostra que
podiam ser afastados de maneira a possibilitar ao investigador chegar ao
verdadeiro conhecimento, o conhecimento intelectual, partindo das idéias inatas e
controlando as investigações. 
 A contribuição de Bacon sobre o método indutivo, de grande importância para a
vertente normativa, será examinada adiante. Quanto a Locke, "o iniciador da teoria
do conhecimento propriamente dita" (Chauí, idem, p. 116), destaca-se o fato de ter
ele formulado com clareza questão tão contemporânea como a do sujeito como
objeto de si mesmo: "O entendimento, como o olho, ... não se observa a si mesmo,
requer arte e esforço situá-lo à distância e fazê-lo seu próprio objeto" (Locke, 1983,
p. 139). 
 Segundo Morin (s. d., p. 22), foi Kant quem realizou uma "revolução
copernicana", ao fazer do conhecimento o objeto central do conhecimento. Kant
(1997, p. 23) considera que a física de sua época não teria avançado tanto "se
Copérnico não tivesse ousado, de uma maneira contrária ao testemunho dos
sentidos e contudo verdadeira, procurar a explicação dos movimentos observados,
não nos objectos celestes, mas no seu espectador". Tal posicionamento constituía
uma ruptura que se dava em paralelo àquela que a obra filosófica de Kant efetuava
em seu próprio campo. 
 A crítica kantiana afirmava a impossibilidade de o entendimento alcançar as
‘coisas em si’ (númemo), o que se distingue da possibilidade de apreensão dos
‘fenômenos’ — aquilo que obedece ao poder organizador do nosso entendimento.
Essa distinção kantiana abre caminho para um grande esforço de demarcação dos
critérios de cientificidade.
A epistemologia normativa
 A epistemologia normativa evita qualquer discurso especulativo por ter o
objetivo principal de determinar as prescrições sobre como os cientistas ‘devem’
praticar a ciência. Dessa segunda vertente epistemológica, destacam-se duas
correntes: o verificacionismo e o falsificacionismo popperiano (Epstein, 1990). 
 Na primeira corrente, tem-se inicialmente o trabalho do chamado Círculo de
Viena (1925-36), que pretendeu transformar a filosofia em ciência, reduzindo suas
proposições a enunciados verificáveis (Morin, s. d., p.18).Essa era também a
ambição dos empiristas lógicos anglo-saxônicos, que buscaram fundar a certeza do
pensamento no ‘positivismo lógico’. Coube a Popper (1975; s. d.), no entanto,
demonstrar que a verificação não bastava para assegurar a verdade de uma teoria
científica, uma vez que, além de outras razões, as teorias verificadas sucediam-se
sem que nenhuma pudesse jamais adquirir infalibilidade. Popper rechaça a indução
como prova lógica, mas sustenta a idéia da lógica dedutiva como valor de prova.
Essas duas tradições epistemológicas — indutivismo e empirismo e falsificabilidade
das teorias — têm em comum o problema da demarcação, isto é, têm o objetivo de
elaborar critérios para distinguir enunciados científicos dos não-científicos. A
discussão contemporânea sobre o desenvolvimento científico pressupõe
necessariamente o confronto entre essas duas vertentes epistemológicas. 
 A visão tradicional indutivista, apesar de ter sofrido críticas como, por exemplo,
as de Kant (1997), dominou o pensamento científico e epistemológico até, pelo
menos, as primeiras décadas deste século, fazendo eco à tese sustentada por
Francis Bacon, no século XVII, através de suas "histórias naturais" (Kuhn, 1996a, p.
36), de que as leis e teorias derivavam da observação. Newton reafirmou-a
posteriormente, ao declarar que chegara a sua teoria da mecânica celeste partindo
de observações. De modo esquemático, o método conhecido como indução supõe
os seguintes passos: a) o cientista, através da observação de casos particulares e
de experiências, obtém informações confiáveis; b) tais dados são registrados de
modo sistemático e, em seguida, divulgados; c) outros cientistas acumulam mais
dados na mesma área, possibilitando as generalizações (leis, teorias), que se
ajustam aos fatos conhecidos e explicam o modo como se relacionam; d) por fim,
as generalizações passam a ser aplicadas a casos semelhantes. 
 A crítica ao método indutivo e ao empirismo já aparecia nos trabalhos de Hume
(Zanetic, s. d.), quando afirmava, por exemplo, que nenhum número de enunciados
a respeito de observações singulares, por mais amplo que seja, pode acarretar
logicamente um enunciado geral irrestrito. Tal crítica também está contida no
conhecido argumento popperiano de "refutação ao método indutivo pela simples
enumeração": acumula-se um número elevado de observações de cisnes que só
apresentam a cor branca, afirmando-se, então, que todos os cisnes são brancos. Ao
se encontrar um único cisne que não é branco, demonstra-se como a indução por
enumeração, no verificacionismo inicial, é fonte de erros (Popper, 1975). Embora o
verificacionismo probabilístico tenha tornado a discussão mais complexa, não
resolveu o problema (Kuhn, 1996a, pp. 185-6). 
 Ao contestar a ilusão de Newton, Popper (s. d., pp. 216-7) retoma os
argumentos de Kant em três níveis: a) intuitivamente, a mecânica newtoniana não
se baseia na observação — as observações são sempre inexatas, enquanto a teoria
formula assertivas exatas; b) historicamente, o argumento é falso — a teoria
heliocêntrica de Copérnico não resultou de novas observações, mas de nova
interpretação; c) e, logicamente, era impossível que a teoria tivesse derivado de
observações: "a dinâmica de Newton ultrapassa essencialmente todas as
observações; é universal, exata e abstrata; surgiu historicamente de certos mitos;
e é possível demonstrar, por processo puramente lógico, que não poderia ser
derivada de afirmativas relacionadas com a observação". 
 Segundo Popper (op. cit., p. 218), a solução de Kant para esta questão
sustenta-se na tese de que o mundo, como o conhecemos, é nossa interpretação
dos fatos observáveis à luz de teorias que inventamos: "nosso intelecto não deriva
suas leis da natureza..., mas impõe leis à natureza". Popper, com mais cautela, diz
ainda que: "nosso intelecto ‘tenta’ impor à natureza leis que inventa livremente,
nem sempre exitosas e nem sempre verdadeiras". Então, para Popper, a questão
não é a verificação das teorias, e sim o esforço dirigido a sua refutação. O nosso
conhecimento não teria evoluído se, ao lado de casos verificadores, não tivessem
surgido, por acaso ou não, contra-exemplos refutadores. Para ele, uma lei científica
não pode ser cabalmente verificada — no exemplo dos cisnes, é impossível verificar
todos os cisnes — mas pode ser conclusivamente falseada, bastando um cisne não
branco para refutar o enunciado:
Ora, a meu ver, não existe a chamada indução. Nestes termos,
inferências que levam a teorias, partindo-se de enunciados singulares
"verificados por experiências" (não importa o que isto possa significar)
são logicamente inadmissíveis. Conseqüentemente, as teorias "nunca"
são empiricamente verificáveis. ... Contudo, só reconhecerei um sistema
como empírico ou científico se ele for passível de comprovação pela
experiência. Essas considerações sugerem que deve ser tomado como
critério de demarcação, não a "verificabilidade" mas a "falseabilidade" de
um "sistema". Em outras palavras, não exigirei que um sistema científico
seja suscetível de ser dado como válido, de uma vez por todas, em
sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que se
torne possível validá-lo através de recurso a provas empíricas, em
sentido negativo: "deve ser possível refutar", pela experiência, um
sistema científico empírico (Popper, 1975, pp. 41-2).
 A tese da refutabilidade de Popper pode ainda ser ilustrada com o exemplo a
seguir, trivial e não surpreendente, já que vem de um intelectual que soube
valorizar, ao longo de sua obra, o racional presente no senso comum: "Assim o
enunciado ‘Choverá ou não choverá aqui, amanhã’, não seria considerado empírico,
simplesmente porque não admite refutação, ao passo que será considerado
empírico o enunciado ‘Choverá aqui, amanhã’." 
 A ‘paixão’ racionalista levou-o a buscar obstinadamente critérios de demarcação
entre o científico e o não-científico e a afirmar o procedimento de investigação
racional, afastando fatores subjetivos, psicológicos ou estéticos, que não
desempenhariam papel algum na formação e avaliação das teorias científicas, as
quais seriam guiadas exclusivamente por critérios lógicos bem definidos. Como
veremos, Kuhn (1996a) vai oferecer exemplos para refutar essa racionalidade
absoluta, presente muito mais no ‘desejo’ popperiano de racionalismo puro do que
na história das ciências. 
 O entendimento de uma importante questão epistemológica contemporânea, de
onde vai emergir uma nova concepção na filosofia da ciência, deve pressupor o
conhecimento de dois contextos do empreendimento científico — o da descoberta e
o da justificação —, sendo necessário, no entanto, que façamos todas as ressalvas
para que essa dualidade não se torne um dualismo. A fonte inicial da distinção, em
Reichenbach (apud Epstein), é muito restritiva: o contexto da descoberta seria "o
modo como o pensador descobre o seu problema"; e o da justificação, "a maneira
de apresentá-la em público". Porém, utilizando a redefinição proposta por Radnitzki
para esses dois contextos, também citada por Epstein (op. cit.), podemos qualificar
o discurso epistemológico normativo aquele voltado exclusivamente para o contexto
da justificação, que, agora, significa o lugar de avaliação das teorias e descobertas,
bem como das normas instituídas com essa finalidade. Enfim, lugar de avaliação
quase exclusiva do produto da atividade dos cientistas. 
 Essa vertente, sobretudo a popperiana, deu importantes contribuições à
epistemologia contemporânea, tanto com relação à crítica ao empirismo
exacerbado, quanto no que respeita à elaboração de procedimentos normativos,
que, sob certas condições e contextos, não mais infalíveis e universais, atuam como
ferramentas úteis, aceitas pelo ‘consenso’ das comunidades científicas e de filósofos
das ciências. 
 Entretanto, além de o avanço nas ciências ditas ‘duras’ demonstrar o relativismo
da verificação empíricae da falsificação lógica, em que até o princípio da não
contradição teve seu valor de norma relativizado (Morin, s. d.), o próprio
predomínio prescritivo levou a um enrijecimento metacientífico, cujos efeitos teriam
sido danosos para a emergência de uma nova ciência, caso não tivesse sido posta
de lado essa vertente gnosiológica, criticada com fina ironia por Radnitzki:
"jardineiros que, por receio de ervas daninhas, não permitem o crescimento de
flores em seu jardim..." (apud Epstein, idem, p. 125).
A epistemologia histórico-interpretativa
 Essa terceira vertente tem buscado superar a dicotomia entre o contexto da
justificação e o da descoberta, incorporando contribuições oriundas da sociologia do
conhecimento, da psicologia da descoberta e, sobretudo, da história das ciências.
Examina numa perspectiva crítica, genético-interpretativa não apenas os processos
de produção do conhecimento científico, como os produtos da atividade científica e
as próprias normas de validação. 
 Popper realizou um trabalho de fôlego para manter a epistemologia normativa, e
sua busca de critérios de cientificidade levou-o a superar os limites do
verificacionismo empiricista. Entretanto, a crise paradigmática não ocorria apenas
nas ciências. Na segunda metade deste século, eclodia uma crise também na
epistemologia, já prenunciada, desde as décadas de 1930 e 1940, com os estudos
de Fleck, Koyré, Bachelard, Piaget, entre outros. 
 Do ponto de vista da filosofia da ciência, o período 1960-70 foi marcado por
uma forte crítica tanto ao verificacionismo quanto ao falsificacionismo, incluindo a
engenhosa tentativa de atualização popperiana representada pelos "programas de
investigação científica" de Imre Lakatos (1989). Nesse período, aparecem os
trabalhos de Feyerabend, Foucault e Kuhn, possibilitando este último a
redescoberta da obra do médico e epistemologista Ludwik Fleck e, mais
recentemente, de outros integrantes da "escola polonesa de filosofia da medicina"
(Löwy, 1994). 
 Kuhn (1996a, p. 11) refere-se à descoberta da "monografia quase
desconhecida" de Fleck intitulada Entstehung und Entwicklung einer
wissenschaftlichen Tatsache (Gênese e desenvolvimento de um fato científico), de
1935, e admite que essa obra antecipava muitas de suas idéias, em especial as de
"comunidade científica" e de "incomensurabilidade entre paradigmas",
correspondentes, em Fleck (1986), a "coletivos de pensamento" e "estilos de
pensamento", respectivamente. 
 Além das contribuições de Thomas Kuhn e Ludwik Fleck, a vertente histórico-
interpretativa abrange os estudos pioneiros de Alexander Koyré e Gaston
Bachelard, este último precursor na questão da complexidade, e ainda a polêmica
epistemologia anarquista de Paul Feyerabend, com sua lúcida e militante crítica à
epistemologia normativa. 
 Para Feyerabend (1977, p. 18), cuja obra mais famosa é provocativa desde o
título, Contra o método, a ausência de normas universais e a proliferação de
procedimentos facilitam o progresso do conhecimento científico: "A ciência é um
empreendimento essencialmente anárquico: o anarquismo teorético é mais
humanitário e mais suscetível de estimular o progresso do que suas alternativas
representadas por ordem e lei." 
 Embora não sejam objeto de análise neste artigo, os estudos de epistemologia
genética de Jean Piaget podem ser incluídos nesta vertente ou, pelo menos, seriam
mais próximos dela. Tal associação baseia-se na comparação que Piaget (1987) faz
de seu conceito de quadro epistêmico com o de paradigma de Kuhn (1996a);
conclui que seu modelo é mais completo e adequado, por ser mais abrangente e
dar conta tanto dos fatores externos quanto dos internos ao desenvolvimento das
ciências. 
 O mesmo pode ser dito de Michel Foucault, que também desenvolveu um
modelo próprio, o "arqueológico" (1969). Um dos maiores exegetas de sua obra no
país (Machado, 1986) considera que ela é orientada por uma visão mais
intrepretativa que normativa, abordando diferentes objetos, tais como sexualidade,
loucura, prisão, medicina etc. O legado foucaultiano de caráter histórico "pelos
campos de que trata e pelas referências que assume" (Foucault, 1997, p. 13),
indubitavelmente contribuiu para aquela ‘revolução’ epistemológica que irrompeu
nas décadas de 1960 e 1970, anos de muita turbulência social e cultural e também
de agudização da crise das ciências (Santos, 1989, 1987). A física, em especial,
desde a formulação das teorias da relatividade e quântica, requeria uma nova
filosofia da ciência para que esta e a própria epistemologia, renovadas,
enfrentassem uma nova etapa de incertezas e perplexidades (Prigogine, 1996),
tomando os objetos em sua complexidade, da qual "nem a dúvida nem a
relatividade são doravante elimináveis" (Morin, s. d., p. 19). 
 Talvez o que haja em comum entre esses autores, que trilharam caminhos tão
próprios, seja a importância atribuída à perspectiva histórica. Embora a adotassem
de diferentes maneiras é de supor que não discordariam das palavras com que
Kuhn (1996a, p. 22) caracteriza Koyré e outros agentes dessa revolução
historiográfica na filosofia das ciências:
Em vez de procurar as contribuições permanentes de uma ciência mais
antiga para nossa perspectiva privilegiada, eles procuram "apresentar a
integridade histórica daquela ciência, a partir de sua própria época". Por
exemplo, perguntam não pela relação entre as concepções de Galileu e
as da ciência moderna, mas antes pela relação entre as concepções de
Galileu e aquelas partilhadas por seu grupo, isto é, seus professores,
contemporâneos e sucessores imediatos nas ciências.
 A escolha da citação deve-se à importância dessa obra de Kuhn, onde
buscaremos identificar as principais teses aplicáveis a outros campos que não as
ciências naturais, objeto primordial do mais famoso ensaio publicado por ele. No
posfácio de 1969, o próprio Kuhn (1996b, p. 255) concordou com a ampliação de
seu alcance: "Na medida em que o livro retrata o desenvolvimento científico como
‘uma sucessão de períodos ligados à tradição e pontuados por rupturas não-
cumulativas’, suas teses possuem uma larga aplicação." 
 Procurarei examinar a seguir, com mais detalhes, os conceitos originais dessa
obra que é considerada um divisor de águas na epistemologia, apresentando
também o diálogo/debate com alguns de seus principais interlocutores, desde os
normativos até os autores pós-kuhnianos. 
 A contribuição de Kuhn reveste-se de maior importância por realizar uma
síntese entre o pensamento objetivo e sistemático da tradição anglo-americana e a
inovadora epistemologia européia continental. Por isso, a busca de precursores ou
fontes anteriores a Kuhn pode se tornar ociosa, já que sua principal contribuição é
essa síntese exemplar, organizada e escrita de modo claro e instigante.
Estrutura da comunidade científica
 Antes de me debruçar sobre sua contribuição mais famosa — o conceito de
paradigma —, acatarei a sugestão do próprio autor de se discutir, em primeiro
lugar, a comunidade formada pelos cientistas. 
 Kuhn (1996b, pp. 219, 222), que chega a afirmar que as comunidades
científicas podem ser isoladas investigando-se o comportamento dos cientistas, sem
o recurso prévio aos paradigmas inicialmente, define comunidade científica por
meio de um truísmo: a estrutura comunitária da ciência é "aquela formada pelos
praticantes de uma especialidade científica". Em um segundo momento, define-a
em linguagem mais conceitual, como unidade produtora e legitimadora do
conhecimento científico com as seguintes características: seus integrantes estão
submetidos a educação e a iniciação profissional similares; absorvem praticamente
a mesma literatura técnica, aprendendo lições semelhantes; a comunidade possui
objeto de estudo próprio, embora um mesmo objeto possa ser abordado sob pontos
de vista incompatíveis por diferentes ‘escolas’; a comunicação entre os membros de
uma comunidadecientífica é ampla e os julgamentos profissionais, relativamente
unânimes, uma vez que constituem a única audiência e os únicos juízes do trabalho
dessa comunidade; já a comunicação entre diferentes comunidades é árdua,
quando não impossível, devido à ‘incomensurabilidade’, conceito kuhniano derivado
da análise pioneira de Fleck (1986) que comentarei mais adiante. 
 Santos (1989, pp. 132-47), em sua análise sobre a ‘ciência pós-moderna’,
considera essa caracterização da estrutura da comunidade científica uma das mais
importantes contribuições da reflexão kuhniana. E, recentemente, numa
perspectiva pós-kuhniana, Funtowicz e Ravetz (1997, pp. 225, 228) sustentaram
que, diante dos problemas de grande complexidade da atual prática científica, onde
não há mais lugar "para a pretensão de se banir ou subjugar a incerteza e a
ignorância", é desejável a formação de uma "comunidade ampliada de pares", com
a participação não só de cientistas, mas também de não especialistas, que
colaborariam na definição de temas e prioridades e na discussão dos aspectos
éticos, entre outros assuntos. 
 Por outro lado, o próprio Kuhn faz referência, em seu posfácio, a críticas que
recebeu por ter exagerado a tese da unanimidade dos cientistas em sua relação de
fidelidade ao paradigma. Como exemplo, os críticos citavam a teoria da matéria.
Kuhn respondeu-lhes usando seu arsenal histórico, importante recurso da
epistemologia contemporânea: até 1920, afirmou, período da possível infidelidade
paradigmática, o campo não era território específico de uma comunidade; havia
diferentes comunidades que, como já foi referido, eram incomensuráveis. Com a
hegemonia de um paradigma, criaram-se compromissos compartilhados que
unificaram aquele campo de conhecimento e sua comunidade específica. Se os
compromissos compartilhados dependem da dominância de um paradigma, o que,
então, vem a ser paradigma?
Paradigma — um conceito polissêmico
 A noção de paradigma é anterior à obra de Kuhn e já está presente na
lingüística desde 1916 (Saussure, Cours de linguistique générale). Porém, é a partir
de seu uso como conceito central no ensaio de 1960 que o termo se consagra na
epistemologia (Assis, 1997) e depois se amplia para as mais diversas áreas de
conhecimento: na economia, Coats (1969) e Magalhães, (1996); na sociologia do
trabalho, Halal apud Harvey (1992), e Carleial (1997); na bioética, Hottois (s. d.) e
Schramm (1996); na saúde pública e administração de saúde, Mendes (1984), e
Kisil (1994); e no saber biomédico, Camargo Jr. (1992), e Schramm (1996), entre
outros. 
 Observa-se, contudo, que freqüentemente o uso ampliado do conceito de
paradigma tem sido pouco preciso, quando não empregado de modo abusivo. Para
sua precisão e clareza conceitual, retornemos ao autor que, em autocrítica feita no
posfácio de 1969 (Kuhn, 1996b), reconhece a responsabilidade por alguns dos mal-
entendidos. Margaret Masterman (1975), citada pelo próprio Kuhn (idem, p. 226)
como "leitora atenta", observou o uso do termo em, pelo menos, 21 maneiras
diferentes, em seu trabalho. 
 Kuhn argumenta que a maioria dos sentidos atribuídos ao conceito deve-se
apenas a "incongruências estilísticas". Ora é entendido como leis, ora é utilizado em
sentido figurado, como paradigma metafísico. Kuhn reconhece, entretanto, dois
usos distintos do termo: um mais global e outro mais específico e preciso. 
 Embora considere o sentido mais global como o menos apropriado — paradigma
como constelação dos compromissos de grupos —, foi este o sentido que mais se
difundiu. Recusando o termo ‘teoria’, "por conotar uma estrutura bem mais limitada
em natureza e alcance", ele utiliza para esse sentido mais amplo a expressão
"matriz disciplinar", uma estrutura partilhada pelos praticantes de uma mesma
disciplina e composto dos seguintes elementos, ordenados como um todo:
— generalizações simbólicas: são axiomas, definições e leis, empregados sem
discussões. O grau de compromisso com essas generalizações é diferente: leis
podem ser gradualmente corrigidas; já as definições têm de ser redefinidas. Nas
ciências sociais e em saberes como o psiquiátrico, que não trabalham com leis
imutáveis e universais, numa crise paradigmática, será, sobretudo, em relação aos
conceitos e sua adequação aos fatos que vão competir e se confrontar os
paradigmas;
— crença em modelos (o "paradigma metafísico"): são convenções coletivas e
básicas estabelecidas através de analogias ou metáforas, como, por exemplo, as
moléculas de gás que se comportam como pequeninas bolas de bilhar elásticas
movendo-se ao acaso;
— valores amplamente compartilhados, como, por exemplo, a preferência dos
pesquisadores das ciências naturais pelo conhecimento quantitativo e seu uso em
predições; valores compartilhados, mas com divergências na aplicação, tais como
os de simplicidade, coerência interna e plausibilidade;
— "exemplos compartilhados": são os de aplicação bem-sucedida na investigação,
que outros pesquisadores podem empregar, por analogia; é o sentido preciso do
conceito de paradigma, concebido como "realização concreta, como um exemplar"
(idem, ibidem, p. 255). Tais soluções estão nos manuais, nas publicações e nos
laboratórios, no caso das pesquisas experimentais.
 Esse "conhecimento tácito" (Polanyi, apud Kuhn, 1996b, p. 237) se aprende
fazendo ciência e não simplesmente adquirindo regras para fazê-la. O paradigma
como exemplo compartilhado — algo que se aprende a fazer fazendo —, é o sentido
do conceito privilegiado em áreas do conhecimento aplicado, como o saber médico-
sanitário, em particular o psiquiátrico. 
 Curiosamente, para um estudioso como Camargo Jr. (1992, p. 5), que utilizou
os conceitos de Kuhn para discutir a clínica médica, este último sentido representa
uma "conceituação inicial vaga (que) foi posteriormente aperfeiçoada, sendo um
paradigma definido, então, como matriz disciplinar". Cita como referência desse
aperfeiçoamento o posfácio de 1969, em que Kuhn (1996b, p. 232) explicita
justamente a tese contrária: "o paradigma enquanto exemplo compartilhado é o
elemento central daquilo que atualmente me parece ser o aspecto mais novo e
menos compreendido deste livro".
Fases do desenvolvimento científico: acumulação e rupturas
 A análise kuhniana do desenvolvimento científico, fundamentada em minuciosa
pesquisa histórica, identifica diversas fases, tanto de acumulação, com investigação
cada vez mais esotérica, quanto de ruptura parcial e às vezes radical com o
empreendimento científico anterior.
Fase paradigmática e ciência normal
 O paradigma inicial suplanta a fase pré-paradigmática, momento menos
desenvolvido das ciências em que diversas escolas competem sem que nenhuma
obtenha o domínio. "A aquisição de um paradigma e do tipo de pesquisa mais
esotérico que ele permite é um sinal de maturidade no desenvolvimento de
qualquer campo científico que se queira considerar" (1996a, p. 31). 
 Para analisarmos o conceito de ciência normal, caracterizada pela ‘aquisição de
um paradigma’, faz-se necessário, inicialmente, discutir a identificação entre fase
pré-paradigmática e o conceito de ciência menos desenvolvida, uma das teses mais
polêmicas da epistemologia kuhniana quando aplicada às ciências humanas. 
 Para autores como Santos (1989, pp. 135-6; 1987, p. 43), Kuhn atribui o
caráter pré-paradigmático às ciências sociais, logo atraso em relação às ciências
naturais, pelo fato de não se caracterizarem pelo domínio de um único paradigma.
O sociólogo português refuta essa tese referindo-se às novas possibilidades das
relações entre natureza e sociedade, como na obra de Prigogine e Stengers (1997),
e afirma, com veemência, que "a concepção de Thomas Kuhn sobre o caráter pré-
paradigmático (isto é, menos desenvolvido) das ciências sociais, que eu, aliás,
subscrevi e reformulei noutros escritos, tenha de ser abandonada ou
profundamente revista". 
 Kuhn(1996a, p. 35; 1996b, pp. 222-32), no entanto, direcionou sua análise
para o desenvolvimento das ciências naturais — química, biologia e, principalmente,
física —, deixando em aberto a questão dos possíveis paradigmas das ciências
sociais, geradores de estudos mais esotéricos, característicos de ciências
amadurecidas. Prudentemente, reconhece, ainda, que a transição do período pré
para o pós-paradigmático "merece discussão mais ampla do que a recebida neste
livro, especialmente por parte daqueles interessados no desenvolvimento das
ciências sociais contemporâneas". 
 Ora, se estas ressalvas não são suficientes, podemos lembrar que estudo do
próprio Kuhn serve de marco para um novo paradigma epistemológico, que vem
questionando competentemente, por um lado, a tradição normativa na filosofia da
ciência, com suas regras de justificação, e, por outro, as certezas das
‘amadurecidas’ ciências naturais. Para tanto, utiliza em sua ‘caixa de ferramentas’
os estudos da psicologia da percepção e da descoberta, da sociologia da
comunidade científica, da ciência política e, em especial, da história dialética não-
positivista, ou seja, das ‘menos desenvolvidas’ ciências humanas. 
 Num artigo sintético para divulgação dos conceitos mais hodiernos da filosofia
da ciência, Assis (1997) observa que, embora a expressão ciência
‘poliparadigmática’ não faça sentido para Kuhn, atualmente é sob esse enfoque que
seu modelo de análise tem sido utilizado nas ciências sociais. 
 Feitas estas considerações sobre as ciências pré e pós-paradigmáticas, podemos
passar à fase de vigência de um paradigma. Kuhn (1996b, pp. 29-31) elaborou um
conceito original para essa fase, o de ‘ciência normal’, em que as práticas teóricas e
experimentais — referidas quase exclusivamente às ciências naturais — são regidas
por regras ou princípios e, em especial, são orientadas por exemplos bem-
sucedidos. 
 A ciência normal apresenta duas características básicas: tenacidade e
acriticismo (Epstein, 1990). Ao concentrar dos cientistas a atenção numa faixa de
problemas muito estrita ("esotéricos"), o paradigma os força a "investigar uma
parcela da natureza com uma profundidade e de uma maneira tão detalhada, que
de outro modo seriam inimagináveis" (Kuhn, 1996a, p. 45). 
 O uso desses ‘antolhos’ ou ‘óculos’ — a escolha da metáfora fica por conta do
leitor — facilita um trabalho concentrado e persistente, permitindo a obtenção de
soluções ‘em profundidade’. Lakatos (1989) e Feyerabend (1977) reconhecem as
vantagens e a racionalidade dessa limitação de campo, ainda que este último autor
não a considere sob o aspecto psicológico, como faz Kuhn (1996a). 
 Pepe (1993, p. 2) e outros autores vêem na valorização da tenacidade e eficácia
uma tomada de posição deste pela ciência normal: "Na verdade Kuhn se contrapõe
à ciência ‘revolucionária’ de Popper quando prioriza a ciência ‘normal’, baseada na
solução de enigmas." Deixando de lado a qualificação de ‘revolucionária’ atribuída
pela autora à ciência daquele liberal convicto, constatamos que dois terços do
ensaio de Kuhn estão voltados para as anomalias e crises que acompanham as
descobertas e invenções de teorias, e ainda para as revoluções científicas e seus
paradigmas inovadores. Apenas um terço da análise tem a ver com a ciência
normal e o paradigma tradicional. Não é por acaso que o autor denominou o ensaio
de ‘A estrutura das revoluções científicas’. 
 Outra característica da ciência normal é o acriticismo, isto é, ausência de
questionamento dos princípios do paradigma. No desenvolvimento desse tipo de
ciência prevalecem a não percepção de novos fenômenos e o desinteresse pela
invenção de novas teorias: "A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona
novas espécies de fenômeno; na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites
do paradigma freqüentemente nem são vistos. ... Os cientistas também não estão
constantemente procurando inventar novas teorias, freqüentemente mostram-se
intolerantes com aquelas inventadas por outros" (Kuhn, 1996a, p. 45). 
 A pesquisa normal, tenaz e detalhada, apesar de não ser um empreendimento
dirigido para a descoberta de novidades, mesmo tendendo a suprimi-las, por
contraditório que possa parecer, é eficaz na geração de novidades, seja pela
descoberta de fatos, seja pela invenção de teorias inovadoras.
Anomalias, crise paradigmática e revolução científica
 Como o paradigma dominante entra em crise? E o que acontece se a crise não é
superada? Quais os processos implicados numa mudança de paradigma? Para se
responder a estas questões é preciso entender o processo aparentemente paradoxal
que é uma fase essencialmente cumulativa, como a ciência normal, acabar
propiciando o aparecimento de novidades factuais e teóricas. 
 Embora reconheça um certo artificialismo na dualidade entre fato e teoria, Kuhn
(1996a, p. 78) analisa separadamente o papel que as descobertas de fatos novos e
a invenção de novas teorias cumprem nas mudanças de paradigmas científicos. 
 Para compreender as descobertas, o autor utiliza o conceito de ‘anomalia’, que
define como o resultado experimental não assimilado pela teoria vigente, produzido
inadvertidamente por um jogo que se joga segundo regras estabelecidas pela
matriz disciplinar: "A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é,
com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as
expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal." 
 A novidade emerge para aquele que, sabendo com precisão o que deveria
esperar, não só sabe reconhecer o que procura, mas também é capaz de
reconhecer que ‘algo saiu errado’, algo novo, diferente do esperado. A percepção de
uma anomalia é a capacidade invulgar de reconhecer um fenômeno não previsto
pelo paradigma, e para o qual o investigador não fora preparado.
Anatomia de uma descoberta
 A narrativa de uma descoberta famosa, apresentada pelo geneticista inglês
Steve Jones (1996) num manual para iniciantes, ilustra características do
paradigma, seus conceitos, leis e teorias e também valores e crenças, que podem
impedir a percepção do novo por parte daqueles que, diferentemente dos jovens ou
dos recém-chegados à disciplina, estão completamente aderidos à matriz
disciplinar. O texto de Jones nos dá também a oportunidade de ver como as
categorias kuhnianas se aplicam à análise de uma descoberta revolucionária na
área biomédica, com grandes implicações para a nova aliança entre filosofia e
ciência, a bioética (Schramm, 1996, pp. 114-5). 
 Trata-se da descoberta da estrutura do DNA e do código genético. Depois dos
estudos revolucionários de Mendel sobre a hereditariedade, o norte-americano
Thomas Morgan, no início do século, relacionou e localizou os genes nos
cromossomos, e seu aluno Surtevant iniciou a cartografia dos encadeamentos
genéticos (Jones, 1996). Tais avanços e os que a eles se seguiram são fruto da
tenacidade da ciência normal decorrente da descoberta de Mendel. 
 A questão consistia em saber onde estavam as partículas hereditárias. Um
bioquímico alemão, Miescher, já havia descoberto um ácido no núcleo das células, o
ácido nucléico. Posteriormente, constatou-se que eram dois ácidos: o ribonucléico
(RNA) e o desoxiribonucléico (DNA). Muller, em 1930, usando raio X, concluiu que o
‘princípio da hereditariedade’ deveria ser uma substância química. Presumia-se que
ela estava no núcleo das células, o qual, além de conter muitas proteínas, continha
os ácidos nucléicos. As proteínas possuíam estrutura química mais complexa, com
número de blocos químicos muito maior do que os ácidos nucléicos. Estes
continham apenas quatro blocos de aminoácidos muito semelhantes e, portanto,
menos promissores para quem valorizava a quantidade e a dessemelhança. Os
estudos voltaram-se para as proteínas e, durante muitos anos, "os ácidos nucléicos
foram postos de parte como sendo a ‘substância incômoda’" (Jones, 1996, p. 48).Eis um exemplo de como os valores interferem na ciência. 
 Em 1944, Avery e colaboradores, trabalhando com bactérias, descobriram que o
‘princípio transformista’ era um ácido nucléico. Estudos posteriores mostraram que
o RNA existia no núcleo e no citoplasma, mas o DNA só no núcleo. Em seguida,
verificou-se que os vírus também tinham DNA. Esse ácido era a única substância
que os vírus bacteriófagos introduziam nas bactérias hospedeiras, onde se
reproduziam milhares de vírus idênticos ao invasor. Deu-se um nó na cabeça dos
pesquisadores: como poderia uma substância tão simples copiar-se e transmitir a
informação de uma geração para a seguinte? 
 Na época, a cristalógrafa Rosalind Franklin utilizava raios X para fazer a análise
das moléculas biológicas, sem conseguir ‘perceber’ a estrutura do DNA: sua ‘visão’
estava por demais comprometida com o paradigma que a tornou tão renomada em
cristalografia. Outros cientistas — entre os quais o químico Linus Pauling — já
haviam observado o padrão de difração que se apresentava quando o raio X incidia
sobre o DNA, mas, como Rosalind, nenhum teve o insight. 
 Tal compreensão intuitiva ocorreu a dois cientistas: o jovem biólogo norte-
americano James Watson (1928), que, aos 22 anos, foi trabalhar na Inglaterra e
logo se tornou parceiro do físico Francis Crick (1916). Eles também empregaram
métodos desenvolvidos pelos físicos para o estudo de cristais na análise de
moléculas biológicas e observaram o padrão de difração provocado pela incidência
dos raios X sobre o DNA (idem, p. 56). Confessaram mais tarde que faziam esses
estudos de modo quase diletante (Jones, 1996, pp. 54, 56, 58). Utilizando cálculos
matemáticos avançados, deduziram a forma do DNA, da mesma maneira como era
deduzida a estrutura dos cristais, porém com um olhar não condicionado pelo
paradigma da cristalografia. De repente, tudo começou a se ajustar e, em 1953,
"viram que a melhor explicação para os padrões que emergiam dos raios X era uma
‘dupla hélice’ — uma estrutura um pouco como uma escada em espiral". Ao
anunciarem a descoberta num artigo publicado em Nature, em 1953, admitiram
com alguma presunção: "Não nos passou despercebido que o emparelhamento
específico que postulávamos sugeria um possível mecanismo de cópia do material
genético’." 
 A descoberta da estrutura do DNA deu início a uma revolução científica cujos
subprodutos mais famosos são a ovelha Dolly e todas as polêmicas e implicações
bioéticas que as clonagens e os transgênicos têm suscitado.
As respostas à anomalia
 Apresentando-se as anomalias, quais seriam as possíveis respostas? A primeira
seria, já de início, ignorá-las simplesmente. Uma das finalidades de um paradigma
é oferecer critérios para a escolha de problemas. "Um paradigma pode até mesmo
afastar uma comunidade daqueles problemas sociais relevantes que não são
redutíveis à forma de ‘quebra-cabeça’" (Kuhn, 1996a, p. 60). Um problema tipo
quebra-cabeça é aquele cuja solução dependa tão-somente da habilidade do
pesquisador. Estudos como os de Prigogine (1996), Morin (s. d.) e do próprio Kuhn
demonstram que a confiança dos cientistas no desenvolvimento científico-
tecnológico e, em alguns casos, a presunção de terem obtido a verdade definitiva e
universal devem-se a esse procedimento de elidir as anomalias, afastar tudo que
escapa às regras derivadas das matrizes disciplinares que orientam seus campos. A
tarefa de paradigmas emergentes nas ciências naturais contemporâneas tem sido
enfrentar muitos dos problemas colocados entre parênteses, como a questão do
tempo (ilusório ou real), da complexidade dos fenômenos, da interferência do
sujeito nos fenômenos investigados e outras incertezas que puseram em crise o
paradigma tradicional. 
 A segunda resposta possível à anomalia é a tentativa de equacioná-la como um
quebra-cabeça. Entretanto, quando o problema não é resolvido pelos melhores
quadros da disciplina, através dos procedimentos paradigmáticos, os pesquisadores
reconhecem que é chegado o momento de renovar seus instrumentos e teorias. Se
o problema persiste depois desse esforço, em geral, passam a ignorá-lo, como na
primeira resposta. 
 Funtowicz e Ravetz (1997, p. 122) propuseram o conceito de "ciência pós-
normal" para "caracterizar a ultrapassagem de uma era em que a norma para a
prática científica eficaz podia ser rotineira resolução de quebra-cabeça". Isso já não
seria possível agora que lida com problemas de grande incerteza e com elevadas
decisões em jogo. Entretanto, os autores não utilizaram os conceitos de ‘paradigma’
emergente e inovador numa situação de crise, e de ‘pesquisa extraordinária’, que
julgamos mais eficazes para dar conta da nova realidade. É possível que o caráter
poliparadigmático não seja específico às ciências humanas, adequando-se também
às ciências aplicadas que necessitam de abordagens transdisciplinares para
enfrentar objetos complexos, como meio ambiente e saúde. 
 Há, portanto, uma terceira possibilidade de resposta: se, com o paradigma
rearticulado teoricamente e renovado tecnologicamente, persiste o fracasso nas
tentativas de solução do problema como quebra-cabeça, alguns cientistas — em
geral jovens ou, pelo menos, novos na área, ainda não comprometidos por longa
convivência com o paradigma vigente — encaram o problema como contra-
exemplo, conscientes de que sua "resistência" não se deve à inabilidade de quem
investiga. Não é "o mau carpinteiro culpando sua ferramenta". 
 Em síntese, quando cresce o número de anomalias não absorvidas pela pesquisa
normal, quando elas colocam em xeque as generalizações fundamentais do
paradigma ou quando inibem as aplicações práticas, a ciência encontra-se numa
fase de ‘crise paradigmática’. Com a persistência da crise, o empreendimento
científico vive um processo de transição, pois a pesquisa não mais se ajusta a uma
situação de ciência normal e sim de pesquisa extraordinária (Kuhn, 1996a, pp. 117-
8). 
 Nessa fase, ocorrem geralmente diferentes situações: proliferação de teorias e
pesquisas aleatórias muitas vezes conflitantes, recurso à análise filosófica com
debates sobre os fundamentos teórico-metodológicos, verdadeira explosão de
descobertas e até a revalorização de fatos anteriores, vistos, então, de modo novo. 
 Outra característica da crise é a expressão de descontentamento de cientistas,
sua disposição para criar ou abraçar propostas inovadoras visando a solução das
‘charadas’ de sua área de estudo. À época da crise da astronomia ptolomaica, é
famosa a analogia que Copérnico estabeleceu entre a herança recebida dos
astrônomos anteriores e um artista que, pintando isoladamente partes perfeitas do
corpo humano, acabou, no todo, produzindo um ‘monstro’. Pois foi enfrentando
esse ‘monstro’ que Copérnico elaborou a inovadora teoria heliocêntrica. 
 A análise histórica mostra ainda que a crise de paradigmas não é
necessariamente gerada pelo trabalho da comunidade que a experimenta: novas
teorias e novos instrumentos podem ser desenvolvidos numa especialidade, mas
sua assimilação pode provocar crise em outra especialidade (idem, ibidem, p. 225).
Exemplos disso são tanto a teoria atômica de Dalton, que originalmente estava
preocupado com questões meteorológicas, a descoberta do raio X, a construção do
microscópio eletrônico etc. Fenômenos desse tipo enfraquecem as regras que
presidem a resolução dos quebra-cabeças, o que acaba permitindo a emergência de
novo paradigma, resultante de um processo que Kuhn chamou de revolução
científica.
E viva a revolução... científica!
 O conceito de revolução científica, tomado da ciência política por Kuhn (idem, p.
126), serve para "aqueles episódios de desenvolvimento não cumulativo, nos quais
um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo,
incompatível com o anterior". Ou seja, é uma reconstrução da área que altera
conceitos, leis, teorias, métodos e aplicações.Com a mesma liberdade, podemos utilizar conceitos políticos gramscianos para
pensar a revolução científica como superação do paradigma ‘tradicional’ por um
paradigma emergente que se torna ‘hegemônico’. Essa hegemonia implica um
deslocamento da rede conceitual, "uma nova forma de ver o mundo" (op. cit., p.
137). A idéia de deslocamento conceitual tem sua origem, provavelmente, em Fleck
(1986) e na escola polonesa de filosofia da medicina. Um de seus membros mais
importantes, Zygmunt Kramsztyk, demonstrou que as observações dos patologistas
eram guiadas pelas idéias que tinham acerca da doença que estudavam, e que,
mudando os conceitos, mudava também o que era visto numa dissecação ou no
microscópio. "Por isso, os desenhos das ‘imagens patológicas típicas’ num
determinado período não são percebidos como úteis algum tempo depois" (apud
Löwy, 1994, p. 14). 
 Kuhn (1996a, p. 152) explorou as conseqüências dessa idéia de uma nova
forma de ver determinada por novos pressupostos do observador. Tomando como
exemplo a revolução copernicana, que estudara detalhadamente em 1957, diz: "A
própria facilidade e rapidez com que os astrônomos viam novas coisas ao olhar para
objetos antigos com velhos instrumentos pode fazer com que nos sintamos
tentados a afirmar que, após Copérnico, os astrônomos passaram a viver em um
mundo diferente." 
 Além de ‘ver’ coisas novas como o raio X, o oxigênio ou o DNA, os cientistas
vêem também coisas familiares de outro modo: a Terra não é mais fixa, move-se
agora; o espaço não é mais plano, é curvo; e assim por diante. Uma das mais
interessantes teses kuhnianas, aliás uma de suas dívidas com Fleck e a filosofia
médica polonesa, é a da incomensurabilidade dos paradigmas, isto é, a dificuldade
e, muitas vezes, a impossibilidade de comunicação entre diferentes paradigmas.
Termos do paradigma tradicional podem ser conservados, mas eles são
necessariamente redefinidos. O autor ilustra isso com vários exemplos, o mais
instigante dos quais é a transição da mecânica newtoniana para a einsteiniana. 
 A idéia de descontinuidade na história das ciências é, portanto, muito anterior
ao pensamento de Kuhn. Seja com a denominação de mudança de estilo de
pensamento, ruptura epistemológica, viragem ou revolução científica, historiadores
e filósofos da ciência recusaram a visão idealista do avanço progressivo, linear e
cumulativo da ciência. É o caso, por exemplo, do filósofo Gaston Bachelard (1978,
pp. 177-8) que, em 1934, escreveu:
Para Meyerson, a doutrina dos ‘quanta’ é de essência aberrrante e esta
aritmetização do possível não está longe de ser tida por irracional. Ao
contrário, cremos que esta doutrina estende positivamente nossa
concepção do real e que é uma conquista da nova razão sobre o
irracionalismo. "Essa crise é portanto uma crise de crença normal." ... os
resultados pedagógicos na demonstração dedutiva de certas
conseqüências relativistas não tiram nada do "caráter genial e
inesperado da revolução einsteiniana".
 Outro exemplo é o historiador da ciência e epistemólogo Alexandre Koyré (s. d.,
p. 11), que diz o seguinte a respeito da obra de Galileu:
O nome de Galileo Galilei encontra-se indissoluvelmente ligado à
"revolução científica" do século XVI; uma das mais profundas, se não "a
mais profunda revolução" do pensamento humano depois da descoberta
do cosmo pelo pensamento grego: "uma revolução que implica uma
‘mutação’ intelectual radical", de que a ciência física moderna é, ao
mesmo tempo, expressão e fruto.
 Há ainda, é claro, Immanuel Kant (1997, p. 23), já mencionado como precursor
da idéia de revolução como descontinuidade não só na ciência, mas na própria
filosofia: "A tarefa desta crítica da razão especulativa consiste neste ensaio de
‘alterar o método que a metafísica até agora seguiu’, operando assim nela uma
‘revolução’ completa, segundo o exemplo dos geômetras e dos físicos." 
 A revolução científica não é aceita pacificamente, embora suas transformações
costumem ser apresentadas nos tratados, manuais e obras de divulgação, de modo
linear, como se o ‘progresso’ histórico fosse construído "tijolo por tijolo num
desenho lógico". Os depoimentos dos próprios cientistas fornecem as melhores
evidências a respeito das descontinuidades. Darwin (1987, p. 369), que enfrentou
resistências por causa das implicações religiosas de suas idéias, que só encontram
paralelo nas revoluções copernicana e galileana, assim se manifestou:
Embora esteja profundamente convencido da verdade das opiniões que
em breves palavras expus no presente volume, não espero convencer
alguns naturalistas, muito experimentados sem dúvida, mas que, desde
longo tempo, estão habituados a ver um conjunto de fatos sob ponto de
vista diretamente oposto ao meu ... porém tenho mais confiança no
futuro dos novos naturalistas, que poderão estudar imparcialmente as
duas facetas da questão.
 Não é menos sincera e amarga a seguinte observação de Max Planck na
Autobiografia científica de 1949: "uma nova verdade científica não triunfa
convencendo seus oponentes e fazendo com que vejam a luz, mas porque seus
oponentes finalmente morrem e uma nova geração cresce familiarizada com ela"
(apud Kuhn, p. 191). 
 Depoimentos como esses deixam claro que a substituição do paradigma
tradicional pelo inovador não é um processo sem enfrentamentos e oposições. A
capacidade de resolução de problemas, de reflexão mais precisa e de predição de
fenômenos antes insuspeitados são fatores muito importantes, mas insuficientes
para determinar a aceitação do novo paradigma. Este, quando é proposto
inicialmente, em geral não resolve mais que alguns problemas, e a maioria das
soluções está longe de ser perfeita. Os defensores do paradigma tradicional podem
sempre apontar problemas que o novo paradigma não resolveu. Se ele tivesse de
ser julgado desde o início pelos resultados que oferece, "as ciências
experimentariam muito poucas revoluções de importância" (idem, ibidem, p. 198).
Para não concluir
 A ‘crise paradigmática’ mereceu destaque nesta análise, em primeiro lugar, por
ser um processo que atravessa não só as ciências sociais, mas as próprias ciências
naturais, cujos alicerces vêm sendo abalados pelas descobertas e invenções
contemporâneas, pelo reconhecimento de que vivemos uma ‘era de incertezas’,
uma ‘nova aliança’, o reencantamento do mundo em toda sua complexidade. 
 A situação de crise e possível transição paradigmática apresenta-se de modo
mais agudo, e com contornos próprios, nas áreas de conhecimento aplicado, cujas
práticas baseiam-se tanto nas ciências naturais quanto nas sociais, como é o caso
da saúde pública, saúde mental, medicina e psiquiatria. 
 Não obstante o historiador da medicina Karl Rothschuh, citado e avalizado por
Canguilhem (1994, p. 155), considerar "o quadro teórico de Kuhn, embora útil para
compreender a incorporação dos avanços das ciências básicas, ... inadequado para
dar conta das dificuldades encontradas pela medicina clínica, devido à complexidade
e variedade do seu próprio objeto", julgamos que nos proporciona importantes
ferramentas para fazer avançar o estado atual da arte.
 
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Recebido para publicação em junho de 1998. 
Aprovado para publicação em março de 1999.
 
Agradeço aos professores e filósofos Fermin Roland Schramm (Fiocruz) e José Romélio
Aquino (UFBA) pelas críticas e sugestões, como também à profa. Vera Lúcia Formigli do
Departamento de Medicina Preventiva (Famed-UFBA) pela revisão cuidadosa do texto.
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