Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tópico 7 – Estruturas de Mercado Introdução O preço e a quantidade de equilíbrio nos mercados é resultado da ação da oferta e da demanda. Entretanto, a oferta e a demanda interagem de modo a apresentar resultados muito distintos em cada mercado que o torna único, pois cada um tem características específicas de produto, condições tecnológicas, acesso, informação, tributação, regulamentação, participantes, localização no espaço e no tempo. Porém, existem características comuns que permitem classificar as diferentes estruturas de mercado. O objetivo deste tópico é justamente expor as estruturas de mercado mais comuns. As estruturas de mercado são modelos que captam aspectos inerentes de como os mercados estão organizados. Cada estrutura de mercado destaca alguns aspectos essenciais da interação da oferta e da demanda, e se baseia em algumas hipóteses e no realce de características observadas em mercados existentes, tais como: o tamanho das empresas, a diferenciação dos produtos, a transparência do mercado, os objetivos dos empresários, o acesso de novas empresas etc. 1. Concorrência Perfeita A estrutura de mercado caracterizada por concorrência perfeita é uma concepção mais teórica, ideal, porque os mercados altamente concorrenciais existentes, na realidade, são apenas aproximações desse modelo, posto que, em condições normais, sempre parece existir algum grau de imperfeição que distorce o seu funcionamento. O seu conhecimento é importante não só como estrutura ideal, que é empregada em muitos estudos que procuram descrever o funcionamento econômico de uma realidade complexa, como também pelas inúmeras consequências derivadas de suas hipóteses, que condicionam o comportamento dos agentes econômicos em diferentes mercados. As hipóteses do modelo de concorrência perfeita são: a) Os produtos são homogêneos, isto é, são substitutos perfeitos entre si; sem diferenças significativas entre o que um ofertante e o outro oferecem ao comprador: tomate é tomate, impressora é impressora e assim por diante; b) O número de produtores (vendedores) e o de compradores é muito grande, impossibilitando que qualquer um deles individualmente imponha preços no mercado (o vendedor não pode elevar impunemente seus preços, pois perderá a clientela para os concorrentes; o consumidor não tem condições de “pechinchar”, pois há uma multidão de outros interessados); c) O preço é determinado pelo mercado; d) O lucro obtido no longo prazo é um “lucro normal”, ou seja, é o lucro apenas suficiente para remunerar o capital e o risco do empresário e é igual àquele obtido em qualquer outro mercado operando no regime de concorrência perfeita. e) Ambos os lados do mercado (produtores e consumidores) dispõem do mesmo nível de informações sobre o produto e o mercado, sem que nenhum deles possa levar vantagem sobre o outro com base em informações privilegiadas, ou seja, existe uma simetria de informações no mercado. f) A entrada e saída de firmas no mercado são livres, não havendo barreiras. Esta hipótese também é conhecida - como livre mobilidade. Isso permite que as firmas menos eficientes saiam do mercado e que nele ingressem firmas mais eficientes. Não é todo dia que participamos de um mercado desse tipo. Na verdade, eles existem em número limitado. Um caso que TALVEZ se assemelhe é o das hortaliças, frutas e legumes – especialmente se estiver próximo ao centro de consumo e não houver grandes atacadistas e transportadores entre o produtor e o consumidor. Bares comuns (“botecos”), armazéns e armarinhos, bancas de jornal, salões de cabeleireiros comuns em bairros são outros possíveis exemplos. A hipótese de que a firma, individualmente, é incapaz de alterar o preço do produto tem uma consequência importante, porque implica que a curva de demanda do produto da firma seja perfeitamente elástica ou, em outros termos, horizontal. A empresa no regime de concorrência perfeita só fixa a quantidade a ser vendida, pois o preço é fixado pelo mercado, conforme o gráfico abaixo. Como o preço do produto para a firma é uma variável exógena (isto é, não é por ela determinado), essa firma pode vender a quantidade que desejar pelo preço vigente no mercado. Se o preço do produto for P por unidade, a firma receberá sempre P reais por unidade adicional que vender. Sendo a receita marginal (RMg = ΔRT/Δq) igual à variação da receita total quando a firma produz um produto adicional e a receita média (RMe = RT/q) igual a receita total dividida pela quantidade vendida, então, a RMg será de P reais, o mesmo ocorrendo com a RMe 1 . Por exemplo: q P RT RMg RMe 0 10 - - - 1 10 10 10 10 2 10 20 10 10 3 10 30 10 10 Portanto, a curva de demanda com que se defronta determinada empresa em um mercado competitivo é, ao mesmo tempo, suas curvas de RMg e RMe. Ao longo dessa curva da demanda, a RMg, a RMe e o preço são iguais, conforme o gráfico acima. A firma competitiva maximiza seu lucro quando a receita marginal for igual ao custo marginal, ou seja, CMg = RMg. Assim, sendo a RMg da firma competitiva igual ao preço, podemos dizer que a firma competitiva maximiza seu lucro quando o CMg = P. 1 RMe = RT/q RMe = P.q/q RMe = P. P0 S D P Q Q0 P0 Milhões D=RMe=RMg=P P q Dezenas Portanto, se a firma competitiva não determina o preço, mas apenas a quantidade produzida, uma firma racional deve produzir até que seu CMg seja igual ao preço. Por exemplo, considere que a firma se encontra produzindo a quantidade q1 no gráfico abaixo. Nesse nível de produção o P > CMg (ou RMg > CMg), de modo que a firma não está maximizando seu lucro. Isto significa que a receita de produzir uma unidade de produto a mais é maior que o custo de produção dessa unidade, de modo que a firma pode aumentar seu lucro aumentando a produção até q*, onde a curva de CMg toca a curva de RMg, satisfazendo a condição de maximização de lucro da firma competitiva, ou seja, RMg = CMg (ou P = CMg). Isto ocorrerá no ponto E do gráfico. Porém, se a firma resolver produzir uma quantidade maior que q*, como q2? Nesse nível de produção a RMg < CMg, de modo que a firma não está maximizando seu lucro. Isto significa que a receita de produzir uma unidade de produto a mais é menor que o custo de produção dessa unidade, de modo que a firma pode aumentar seu lucro reduzindo a produção até q*, onde a curva de CMg toca a curva de RMg, satisfazendo a condição de maximização de lucro da firma competitiva, ou seja, RMg = CMg. Isto ocorrerá também no ponto E do gráfico acima. No curto prazo a firma competitiva pode obter um lucro acima do normal, mas no longo prazo não, isto é, a condição de equilíbrio RMg = CMg pode coincidir com uma situação em que o P > CTMe. Para observar isso, precisamos colocar no gráfico a curva de CTMe, como se encontra no gráfico 1b abaixo. Gráfico – 1a Gráfico – 1b q1 1 0 1 0 D0=RMe=RMg=P P0 P1 = CTMe P1 E q* q1 q2 P d = RMg = P P q CMg P0 S0 D P Q Q0 S1 Mercado P q Firma D1=RMe=RMg=P CMg CMTe q0 Q1 No gráfico 1b o preço é maior que o CTMe de produção, a firma aufere um lucro extraordinário. No entanto, esse lucro acima do normal faz com os investidores transfiram seus recursos de outros setores e invistam nesse setor, entrando,portanto nesse mercado. Além disso, firmas que estão operando em prejuízo em outros setores (com o P < CTMe) também serão atraídas por esse lucro extraordinário, entrando no mercado. Com efeito, com a entrada dessas firmas no mercado, o nível de produção do mercado aumenta (de Q0 para Q1 no gráfico 1a) e, consequentemente, ocorre o deslocamento da curva de oferta para a direita. À medida que as empresas forem entrando no mercado, a curva de oferta vai se deslocando e o preço caindo (de P0 para P1) até que a entrada seja encerrada. Isto ocorre quando as firmas deixam de auferir um lucro extraordinário e passam a obter apenas um lucro normal. Portanto, precisamos entender melhor esse ajuste que está representado no gráfico 1b. Vimos que a firma competitiva não determina preço, mas aceita o preço determinado no mercado e ajusta seu nível de produção de acordo com esse novo preço. Assim, conforme o preço for caindo a firma vai ajustando sua produção a esse preço. Esse ajuste é necessário porque o CMg de continuar produzindo q0 é maior que a RMg. Ou seja, para maximizar o lucro, a firma agora terá que produzir um nível de produção mais baixo, já que a curva de CMg intercepta a curva de RMg a esquerda da interseção inicial. Consequentemente, o nível de produção da firma será reduzido de q0 para q1 no gráfico 1b. Todo esse processo ocorre até que a curva de demanda da firma (ou de RMe, RMg) se intercepte no ponto mínimo da CTMe, isto, é até que o preço seja igual ao CTMe de produção. Em outras palavras, o ajuste ocorre até que a firma deixe de auferir um lucro extraordinário e passe a auferir um lucro normal, como no ponto 1 do gráfico 1b. Nestas circunstâncias, nenhuma firma tem estímulos para sair ou entrar nesse mercado. Quando acontece isso, diz que o mercado e a firma alcançaram o equilíbrio competitivo de longo prazo. Nesse equilíbrio, o lucro obtido pela firma é apenas suficiente para remunerar o capital e o risco do empresário, e é igual àquele obtido em outros mercados operando no regime de concorrência perfeita, no que se refere ao melhor uso alternativo dos recursos. A firma competitiva pode operar em prejuízo, ou seja, com um preço menor que o custo total médio (P < CTMe)? Para encontrar essa resposta, precisamos inserir a curva de custo variável médio no gráfico que representa a firma competitiva. Nesse gráfico, o preço é menor que o custo total médio, de modo que a firma encontra-se operando em prejuízo. No entanto, o preço é igual ao custo variável médio. Quando o preço é CTMe CMg curva de oferta da firma a partir de P = CVMe q0 CTMe CVMe P0 P D0=RMe=RMg=P q igual ou maior que o custo variável médio (CVMe), esse preço permite a firma competitiva obter recursos suficientes para pagar pelo menos seus custos variáveis, de modo que a firma ainda pode continuar operando por algum tempo, na expectativa de que o preço de mercado aumente. Porém, se o preço for menor que o custo variável médio (P < CVMe), a empresa deve encerrar suas atividades. Desse modo, a curva de oferta da firma competitiva corresponde ao ramo ascendente da curva de custo marginal (CMg) a partir do ponto em que o preço for igual ao CVMe (P = CVMe ou a partir do ponto de mínimo da curva de CVMe), que no gráfico se encontra representada pela curva tracejada. O equilíbrio da firma competitiva pode ser calculado. Considere que a firma competitiva se encontre em equilíbrio com um preço de R$ 83,00 dado pelo mercado e sua função de custo seja dada pela função CT = 5 + 3q + 2q 2 . Diante disso pergunta-se: a) Qual a quantidade de equilíbrio? (q = 20). b) Qual a receita total? (RT=1.660). c) Qual o custo total? (CT = 865). d) Qual o lucro total? (LT = 795). e) Qual o CMg? (83) f) Qual o CTMe? (43,25). g) A empresa opera com lucro normal, extraordinário ou em prejuízo? Lucro extraordinário. Para encontrar a quantidade de equilíbrio se deve considerar a condição de maximização do lucro, isto é CMg = RMg (ou CMg = P no caso da firma competitiva): CMg = RMg CMg = P O preço já foi dado, para encontrar o CMg é preciso determinar a derivada da função de custo. Fazendo isso, e isolando para q, obtemos a quantidade de equilíbrio: CMg = 83 3 + 4q = 83 q = 80/4 q = 20 Encontrado a quantidade é possível encontrar agora a receita total, basta substituir na respectiva função: RT = p.q RT = 83(20) = 1660 Substituindo q = 20 na função de custo, podemos encontra o custo total da firma: CT = 5 + 3q + 2q 2 CT = 5 + 3(20) + 2(20) 2 CT = 865 Tendo a receita total é possível obter o lucro total (LT) da firma: LT = RT – CT LT = 1660 – 865 LT = 795 O CMg pode ser encontrado pela substituição de q = 20 na função CMg = 3 + 4q, cujo resultado é igual ao preço (P = 83). Para sabermos se a firma opera com lucro normal, extraordinário ou em prejuízo precisamos saber o CTMe, que é determinado pelo CT/q, portanto: CTMe = CT/q CTMe = 865/20 = 43,25 Como o preço é maior que o CTMe (P > CTMe = 83 > 43,25), a empresa opera com um lucro extraordinário. Essas respostas podem ser ilustradas graficamente. 2. Monopólio A situação oposta à concorrência perfeita é o monopólio. Assim, o monopólio é um mercado no qual existe apenas um vendedor, mas muitos compradores. Neste caso, um único produtor abastece todo o mercado, por isso, o setor é representado pelo monopolista. Dessa forma, a oferta da firma é a oferta do setor, e a demanda da firma é a demanda do setor. É importante ressaltar que o monopólio “puro” é uma construção teórica, porque, na prática, ele não existe. Nesta estrutura de mercado, os consumidores não têm escolha: compram do monopolista ou renunciam ao produto. Em outras palavras, o monopolista produz um produto para o qual não existem bens substitutos próximos. Portanto, as condições de equilíbrio são diferentes para cada um dos lados: o monopolista pode buscar o máximo de lucro impondo preços e quantidades, de forma que o preço de monopólio seja sempre superior ao preço de concorrência perfeita e a quantidade seja inferior àquela que existiria naquele mercado. No caso de uma redução da demanda, por exemplo, o monopólio pode preferir reduzir a produção e manter o preço elevado (na concorrência perfeita isso seria impossível, pois cada produtor individual correria atrás dos consumidores oferecendo preços melhores, tentando evitar prejuízos). Dessa forma, ele pode compensar no aumento da margem de lucro de cada unidade de produto a queda na quantidade vendida. Portanto, o monopolista possui o poder de determinar preço. Em razão dessas vantagens, o monopólio pode apresentar um lucro maior que outros setores. Isto é, um lucro extraordinário. CTMe CMg 20 43,25 83 P D =RMe=RMg=P q Embora este tipo de estrutura não apresente uma concorrência direta, uma vez que o monopolista é único, podem ocorrer dois tipos de concorrência indireta: 1) Primeiro, como a produção é reduzida para manter os preços elevados, a demanda sempre será maior que a oferta. Sendo assim, há uma espécie de concorrência entre os consumidores para adquirir o produto. 2) Segundo, como a renda dos consumidores é limitada, o monopolista concorre indiretamente com dois fatores: a própria renda do consumidor e com os demais bens de interesse do consumidor. – Se com o objetivo de aumentar seu lucroo monopolista passar a cobrar um preço muito alto, a renda do consumidor pode ser insuficiente para adquirir esse bem, de modo que se ocorrer com a maioria dos consumidores desse monopolista, seu lucro apresentará queda e não aumento. Portanto, embora o monopolista tenha poder de determinar preço, esse poder deve ser ponderado pela capacidade de compra dos consumidores (renda média do mercado); – Dada a limitação de renda, o consumidor pode preferir comprar outros bens e renunciar o bem produzido pelo monopolista. Assim, as hipóteses do monopólio podem ser resumidas em: a) O setor é constituído de uma única firma; b) A firma produz um produto para o qual NÃO existe substituto próximo; c) Tem o poder de determinar preço; d) Aufere um “lucro extraordinário”, ou seja, acima do lucro normal; e) Existem barreiras à entrada; f) Existe concorrência entre os consumidores; g) O monopolista concorre com dois fatores: outros bens e a renda do consumidor. Na qualidade de único produtor de determinado produto, o monopolista encontra-se em uma posição singular. Se decidir elevar o preço do produto, não terá de se preocupar com concorrentes que, cobrando um preço menor, poderiam capturar uma fatia maior do mercado à sua custa. Mas como vimos, isso não significa que o monopolista possa cobrar qualquer preço que desejar. Se o monopolista tem por objetivo maximizar seu lucro, deve em primeiro lugar determinar seus custos e as características da demanda de mercado. Dispondo de tal conhecimento, o monopolista precisa decidir o nível de produção que maximiza seu lucro para então conhecer o preço que deve cobrar. Esse nível de produção é conhecido a partir de sua receita marginal, isto é, da variação da receita total resultante da variação da produção em uma unidade. Para entender o relacionamento entre a receita total, receita média e receita marginal, considere um monopolista que se defronta com a seguinte curva de demanda: P = 6 – q A tabela abaixo mostra as receitas total, média e marginal para essa curva de demanda. Observe que a receita é zero quando o preço é de 6 R$: a esse preço, nenhuma unidade é vendida. Entretanto, ao preço de 5 R$ é vendida uma unidade e a receita total (e marginal) é de 5 R$. Um aumento na quantidade vendida de 1 para 2 unidades resulta em um acréscimo da receita de 5 R$ para 8 R$, de tal maneira que a receita marginal é de 3 R$. À medida que a quantidade se eleva de 2 para 3 unidades, a receita marginal cai para 1 R$ e, quando o número de unidades vendidas aumenta de 3 para 4, a receita marginal se torna negativa. Quando a receita marginal é positiva, a receita aumenta com o aumento da quantidade. Contudo, quando a receita marginal é negativa, a receita diminui. Preço (R$) Quantidade (q) Receita Total (RT = P.q) – R$ RMg (R$) RMe (R$) 6 0 0 - - 5 1 5 5 5 4 2 8 3 4 3 3 9 1 3 2 4 8 -1 2 1 5 5 -3 1 Quando a curva de demanda é descendente, o preço (receita média) é superior à receita marginal, uma vez que todas as unidades são vendidas ao mesmo preço. Se as vendas aumentarem em 1 unidade, o preço deve diminuir. Nesse caso, todas as unidades vendidas e, não apenas aquela unidade adicional, obtêm uma receita menor. Observe, por exemplo, o que ocorre na tabela acima quando o nível de produção aumenta de 1 para 2 unidades e o preço é reduzido para 4 R$. A receita marginal é de 3 R$: 4 R$ de receita da venda de uma unidade adicional de produto menos 1 R$ da perda de receita decorrente da venda da primeira unidade por 4 R$ em vez de 5 R$. Os dados da tabela acima, criada a partir da função de demanda P = 6 – q, gera um gráfico semelhante ao que se encontra ilustrado abaixo. Observe que a curva de receita média (RMe) do monopolista (o preço que recebe por unidade vendida) é exatamente a curva de demanda do mercado (D) 2 , que indica diferentes preços por unidade que serão recebidos quando o monopolista decidir vender quantidades diferentes do produto. Como o monopólio tem o poder de determinar o preço, sua curva de demanda será descendente, bem como sua curva de RMe e RMg. A curva de RMg fica abaixo da curva de RMe porque para se vender uma unidade a mais, por exemplo, o preço terá que diminuir, gerando um acréscimo na receita total menor do que o acréscimo gerado pela venda da unidade anterior. No entanto, é preciso determinar o nível de produção que maximiza o lucro do monopolista. Para isso, o monopolista deve determinar seu nível de produção de tal forma que a RMg seja igual ao CMg. Na figura abaixo a curva de demanda (D) é a curva da receita média do monopolista. Ela 2 A curva de demanda é desenhada a partir das coordenadas cartesianas P x q, dadas na tabela acima e encontradas através da função de demanda. RMg D = RMe P q especifica o preço unitário a ser recebido pelo monopolista em função de seu nível de produção. São também apresentados suas curvas de RMg e CMg. A RMg e o CMg são iguais para a quantidade q*. Então, a partir da curva da demanda, podemos descobrir o preço P* que corresponde a quantidade q*. Como podemos ter certeza de que q* é a quantidade capaz de maximizar o lucro? Suponhamos que o monopolista produza uma quantidade mais baixa, q1, e receba o preço correspondente mais elevado, P1. Como mostra a figura, a RMg então excederia o CMg. Nesse caso, se o monopolista produzisse um pouco mais do que q1, ele poderia receber um lucro adicional (RMg – CMg), aumentando, portanto, seu lucro total. De fato, o monopolista poderia continuar aumentando seu nível de produção e seu lucro até atingir o nível de produção q*, ponto em que seu lucro incremental obtido por meio da produção de uma unidade adicional de produto seria zero. Portanto, a quantidade mais baixa q1 não maximiza o lucro, apesar de permitir que o monopolista cobre um preço mais elevado. Se o monopolista produzisse q1 em vez de q*, seu lucro total seria diminuído em um valor representado pela área sombreada situada abaixo da curva de RMg e acima da curva de CMg, entre q1 e q*. Na figura a quantidade mais alta q2 também não é capaz de maximizar o lucro. Para essa quantidade, o CMg excede a RMg. Por isso, se o monopolista produzisse um pouco menos do que q2, ele poderia aumentar seu lucro total (em um valor igual a CMg – RMg). O monopolista poderia aumentar seu lucro ainda mais se reduzisse o nível de produção até atingir q*. O lucro maximizado obtido pelo nível de produção q*, em vez de q2, é representado pela área situada abaixo da curva CMg e acima da curva RMg, entre q* e q2. Observe que diferente da firma competitiva, no equilíbrio o monopólio consegue praticar um preço maior que seu custo marginal. Além disso, o monopólio consegue obter lucros extraordinários (no curto e longo prazos), uma vez que o monopolista tem sempre condições de cobrar um preço acima de seu custo total médio. O equilíbrio do monopolista também pode ser encontrado matematicamente. Por exemplo, considere um monopólio que tenha uma curva de demanda determinada por P = 220 – 6q e que seu custo total que é dado por CT = 4q 2 + 20q + 10. Encontre: i) a quantidade (q = 10); ii) o preço (P = 160); iii) o lucro de equilíbrio (LT = 990); iv) o grau de poder de monopólio (= 0,375). CTMe CTMe P* P1 RMg q* q1 q2 CMg P2 D = RMe P q Para encontrar a quantidade produzida pelo monopólio quando este maximiza seu lucro,precisamos considerar a regra: CMg = RMg O custo marginal pode ser encontrado a partir da derivada da função de custo: CMg = 8q + 20 Já a receita marginal é dada pela função receita total. Sendo esta igual RT = p.q, temos: RT = 220q – 6q2 RMg = 220 – 12q Substituindo o CMg e a RMg na condição de maximização de lucro e resolvendo para q, obtemos: 8q + 12q = 220 – 20 20q = 200 q = 200/20 q = 10 Agora precisamos substituir q na função de demanda para encontrar o preço: P = 220 – 6q P = 220 – 6(10) P = 220 – 60 P = 160 O lucro de equilíbrio é dado por: LT = RT – CT LT = 1600 – 610 LT = 990 Quando uma empresa enfrenta uma curva de demanda negativamente inclinada, então tem capacidade para escolher o preço de mercado. Dizemos então que a firma tem poder de mercado, sendo este medido pela percentagem de markup sobre o custo marginal. Esta medida do poder de mercado foi definida pelo economista Abba Lerner, sendo por isso denominada de Índice de Lerner de Poder de Mercado. P CMgP Lerner de Índice O índice de Lerner tem sempre valor entre zero e um. Quanto maior o valor do índice, maior o poder de monopólio. Observe que na firma competitiva o preço é igual ao CMg, portanto o índice de Lerner é igual a zero, isto é, em concorrência perfeita o poder de mercado é zero. Assim, quanto maior este índice, maior é a distância entre o preço praticado e o preço da firma competitiva. Para o exemplo anterior, o poder de monopólio é: 375,0 160 100160 Lerner de Índice Na estrutura de mercado monopolista, a firma é única, de maneira que a entrada de novas firmas alteraria a estrutura do mercado. Em consequência, o monopólio somente se mantém se a firma conseguir impedir a entrada de outras firmas no mercado. Diversos fatores podem concorrer para a manutenção do monopólio, representando barreiras ao acesso de novas firmas, dentre os quais destacamos: a) A dimensão reduzida/limitada do mercado; b) A existência de patentes, o que impede a produção de um dado produto por uma possível firma concorrente; c) A proteção oferecida por leis governamentais; e d) O controle das fontes de suprimento de matérias-primas para a produção de seu produto. Se o mercado de uma firma é muito reduzido, é provável que ele permaneça no regime de monopólio, mesmo auferindo lucros vantajosos. Se outra firma entrasse no mercado, o preço do produto poderia tornar-se tão baixo que as duas sofreriam prejuízo. A existência de patentes trata-se de uma proteção legal para uso exclusivo do produto que a empresa desenvolveu, permitindo a recuperação dos investimentos assumidos e fomentando a inovação (exemplo: indústria farmacêutica). Porém, a patente não permanece indefinidamente, mas durante um período de tempo limitado no qual está protegido da concorrência. Passado esse período, outras empresas podem produzir o bem em questão. Do mesmo modo, a proteção oferecida por leis governamentais garante a empresa protegida uma situação de monopólio, dado que o governo não permite a produção por outras empresas. Em contrapartida, o governo regula o monopólio estabelecendo preços, quantidades, qualidade, padrões etc. A empresa pode constituir um monopólio quando ela detém o controle das fontes de matéria- prima, ou seja, sem insumos, as outras empresas não podem produzir o produto. Este controle pode ser realizado através de contratos onde a empresa não permite o fornecedor vender a matéria-prima para outras empresas. Outra forma de ter o controle das fontes de matéria-prima ocorre quando a empresa consegue produzir seus próprios insumos e não permitindo que outras empresas tenham acesso as informações necessárias para fazer o mesmo (o que pode ser feito através de patentes ou não) e, assim tornando-se um segredo comercial ou industrial. No entanto, a longo prazo, o desenvolvimento tecnológico dá origem à produção de novos métodos e técnicas que determinam o surgimento de novos produtos de melhor qualidade, e substitutos daqueles bens anteriormente monopolizados. Existem, entretanto, alguns instrumentos que podem exercer um certo controle sobre o poder do monopólio como, por exemplo, a regulamentação do preço do produto e a imposição fiscal. Uma vez que o monopólio produz danos ao consumidor/comprador, sua existência é invocada para justificar a presença do governo na regulamentação das atividades monopolizadas, impondo regras sobre preços, tarifas, quantidades e qualidade. Atualmente, as agências reguladoras têm essa incumbência diante das empresas prestadoras de serviços públicos privatizados. Já o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) tem a incumbência de impedir excessiva concentração do mercado, evitando tendências monopolistas (lembrar os casos Nestlé/Garoto, Kolynos e Ambev). Mas, por que existem mercados assim? São muitos os motivos. Primeiramente, existe o que chamamos de monopólio natural. Algumas atividades exigem um volume de capital imobilizado muito alto. Se não houver garantia de exclusividade do mercado, ninguém irá se dispor a investir, porque o risco de sofrer prejuízos com a concorrência envolve montantes elevados demais de capital. Além disso, o caráter do bem ou serviço nesses casos impossibilita cobrar preços ou tarifas muito altos, pois há uma exigência social de atendimento universal. Só uma escala muito ampla de mercado permite compensar os altos custos do capital envolvido com tarifas módicas. Isso acontece, por exemplo, em determinados serviços públicos como abastecimento de água, saneamento básico (coleta e tratamento de esgotos) e geração e distribuição de energia elétrica. É impossível imaginar um cenário em que os consumidores, a cada dia, escolhem de quem comprarão esses serviços. Outra situação é aquela em que a sociedade, por razões político-estratégicas, manifesta-se a favor da concessão de um monopólio a alguma empresa. Esse é tipicamente o caso da Petrobrás, criada em meio a forte campanha popular sob o mote: “O petróleo é nosso!”. Nos anos 1950, temia-se que as companhias estrangeiras sabotassem o petróleo que se imaginava existir no subsolo brasileiro (escondendo as reservas ou subtraindo o produto da economia nacional). Por isso, exigiu-se que uma empresa pública controlasse a extração e o refino do produto. Apenas duas décadas depois é que se começou a abrir ligeiramente o mercado brasileiro para os “contratos de risco”, em que áreas eram concedidas as empresas privadas, geralmente estrangeiras; e o monopólio, de fato, foi eliminado somente na última década. Há ainda situações em que empresas mais fortes ou mais espertas deslocam os concorrentes e montam um esquema tão poderoso de controle do mercado que ninguém se arrisca a penetrar nele. O poder financeiro de empresas monopolistas pode permitir-lhes manter preços abaixo de seu custo de produção por tempo suficiente para quebrar um concorrente potencial, quando então o preço volta ao nível de monopólio. Contudo é pouco provável que um monopólio se perpetue no longo prazo: as patentes tornam-se obsoletas; novos produtos, e mais refinados, são desenvolvidos por outras firmas; matérias- primas substitutas tornam-se disponíveis etc. A manutenção do monopólio somente é mais factível quando o mercado é garantido por meio de leis governamentais como, por exemplo, serviços de utilidade pública de telefone e energia elétrica. 3. Monopsônio e Oligopsônio O monopsônio é caracterizado pela existência de um único comprador e pela existência de um númerogrande de pequenos vendedores. Diante dessas circunstâncias, o monopsônio tende a exigir preços baixos aos vendedores. As exigências em relação à quantidade e qualidade do produto que os sufocam os produtores são comuns. Nesse caso também requer a ação do governo para estabelecer regras mais equilibradas nesse mercado. Essa é uma estrutura que pode prevalecer especialmente no mercado de trabalho. É o caso, por exemplo, da empresa que se instala em uma determinada cidade do interior e, por ser única, torna-se demandante exclusiva da mão-de-obra local. Portanto, ou os trabalhadores empregam-se no monopsônio, ou precisam trabalhar em outra localidade. O oligopsônio é o mercado onde existem poucos compradores, que dominam o mercado, para muitos vendedores. Observamos esse tipo de mercado em um caso conhecido no Brasil: a indústria de suco de laranja, onde três ou quatro empresas absorvem a maior parte da produção de milhares de citricultores, pequenos, médios e grandes. 4. Monopólio Bilateral No monopólio bilateral defrontam-se um monopolista e um monopsonista. Tipicamente, o monopolista deseja vender uma dada quantidade de produto por um preço, e o monopsonista pretende obter a mesma quantidade por um preço abaixo daquele pretendido pelo monopolista. Como ambas as posições são conflitantes, somente a negociação recíproca permite a definição do preço. Inicialmente, concordam que a quantidade a ser transacionada será a que ambos querem, respectivamente, comprar e vender e que o monopolista nada venderá por um preço abaixo, digamos de p, e o monopsonista não pagará nenhum preço acima de p‟. Entre os limites p e p‟, no qual o preço em princípio é indeterminado, monopolista e monopsonista negociarão o preço final que dependerá do poder de barganha de cada um dos oponentes: o monopsonista tentando pagar o preço mais baixo, por ser o único comprador, e o monopolista querendo vender por um preço mais elevado, tentando usar a força de ser o único vendedor. Reflita: No caso de produtos perecíveis quem terá maior vantagem na negociação? 5. Concorrência Monopolística Embora apresente uma estrutura de mercado em que existe um número reduzido de empresas, a concorrência monopolista (também chamada concorrência imperfeita) caracteriza-se pelo fato de que as empresas produzem produtos diferenciados, porém substitutos próximos. Por exemplo, diferentes marcas de cigarro, de sabonete, refrigerante etc. Trata-se, assim, de uma estrutura mais próxima da realidade que a concorrência perfeita, onde se supõe um produto homogêneo, produzido por todas as empresas. Em geral, a diferenciação de produtos pode dar-se por características físicas (composição química, potência, etc.), pela embalagem, pelo esquema de promoção de vendas (propaganda, atendimento, fornecimento de brindes, manutenção, etc.), pela qualidade, pela marca, modelo, localização do ponto de venda ou na entrega e entre outras formas de manter a fidelidade do consumidor. Nesta estrutura, cada empresa tem certo poder sobre a fixação de preços, embora bastante elástico, pois a existência de substitutos próximos permite aos consumidores alternativas para fugirem de aumentos de preços. A livre mobilidade é outra hipótese importante nessa estrutura. Da mesma forma que o modelo de concorrência perfeita, prevalece a suposição de que não existem barreiras a entrada de firmas, o que significa que, a longo prazo, há uma tendência para a existência de lucros normais. No curto prazo as empresas podem auferir um lucro extraordinário, contudo esse lucro extraordinário chama a atenção de outras empresas que estão operando em outros mercados com prejuízo, de modo que como existe livre entrada e livre saída, estas últimas empresas passam a se direcionar para o mercado que se encontra auferindo um lucro extraordinário. Com efeito, a oferta do mercado aumenta e os preços caem, gerando a redução do lucro extraordinário até que o lucro auferido no mercado seja o lucro normal. Portanto, embora as empresas possam auferir um lucro extraordinário no curto prazo, há uma tendência para o lucro normal no longo prazo. Esta estrutura de mercado também é intermediária, aproximando-se um pouco mais da concorrência perfeita, mas mantendo certas características monopolistas. Trata-se de um tipo de empresa que, por algumas razões, mantém a fidelidade dos clientes, podendo cobrar preços mais altos do que os de concorrência perfeita. Esta vantagem, porém, dura um certo tempo, após o que ela deixa de ter essa possibilidade. Assim, nesse período transitório, a empresa típica do mercado que estamos estudando pode auferir lucros superiores à média do mercado concorrencial. Por que a vantagem é temporária? Isso decorre da livre entrada de novos produtores. Em relação a isso, ela difere do monopólio e do oligopólio (respectivamente, entrada impossível ou muito difícil). Isso explica porque o local da moda é passageiro (alguns duram mais, outros menos); as grifes do mesmo modo; modelos que eram o “must” do mercado acabam sendo substituídos por outros mais novos ou melhores; e assim por diante. Resumindo as hipóteses: 1) Número reduzido de firmas; 2) Produzem bens levemente diferenciados, isto é, são substitutos próximos; 3) As firmas podem determinar preço; 4) Existe livre mobilidade; 5) Podem auferir um lucro extraordinário no curto prazo, mas não no longo prazo. Quais seriam os casos típicos de concorrência monopolística? Você certamente conhece muitos. Roupas de grife: as pessoas pagam mais para adquiri-las. Salões de cabeleireiros/barbeiros comuns tem uma característica mais concorrencial, porém existem alguns salões famosos que, por razões ligadas à qualidade dos serviços e/ou dos produtos utilizados, acabam tornando-se pontos da moda, frequentados por “socialites”, empresários, artistas famosos, etc. Obviamente, os preços são bem mais salgados e isso não expulsa a clientela. Algumas empresas fidelizam seus clientes com o atendimento pós-venda. Enfim, diversos expedientes são utilizados para manter a fidelidade dos consumidores, permitindo a prática de preços mais altos do que em um mercado totalmente concorrencial. 6. Oligopólio O oligopólio é uma estrutura de mercado que hoje prevalece no mundo ocidental (inclusive no Brasil), como, por exemplo, na indústria do transporte aéreo, rodoviário, química, siderurgia, de certos tipos de serviços etc. Esta estrutura de mercado caracteriza-se pela existência de um reduzido número de produtores onde cada um detém uma participação significativa no mercado, produzindo produtos que são substitutos próximos entre si. Em outras palavras, estes produtos têm alta elasticidade cruzada. A noção fundamental subjacente ao oligopólio é a da interdependência econômica. Então, se todos os produtores são importantes, ou possuem uma fatia significativa do mercado, as decisões sobre o preço e a produção de equilíbrio são interdependentes, porque a decisão de um vendedor influi no comportamento econômico dos outros vendedores. Alguns exemplos são muito conhecidos: quando se fala das companhias petrolíferas, costuma-se fazer referência às “Sete Irmãs”. Efetivamente, até duas ou três décadas atrás, sete grandes grupos (na maior parte norte-americanos e alguns europeus) comandavam esse mercado. Nas últimas décadas algumas empresas se somaram a esse clube seleto, mas ele não deixou de ser muito concentrado. A indústria automobilística e a produção de cimento (esta, especialmente no Brasil) são outros exemplos sempre lembrados quando se fala em oligopólio. O oligopólio segue doiscaminhos principais para estabelecer preços: 1) Sinalização de preços e liderança de preços Um grande obstáculo à prática de coalizão implícita para os preços é a dificuldade de as empresas concordarem (sem que conversem umas com as outras) a respeito de qual seria o preço a ser praticado. A coordenação fica particularmente difícil quando as condições de custo e demanda – e, da mesma maneira, o preço „correto‟ - apresentam mudanças. A sinalização de preço é uma forma de acordo implícito ou informal que às vezes possibilita que esse problema seja contornado. Por exemplo, uma empresa pode anunciar que aumentou seu preço (talvez por meio de uma nota à imprensa) e esperar seus concorrentes captem esse anúncio como um sinal, no sentido de que eles também deveriam elevar seus preços. Se as empresas concorrentes seguirem essa indicação, todas as empresas poderiam obter lucros maiores. Às vezes, é estabelecido um comportamento padrão por meio do qual uma empresa anuncia regularmente mudança em seus preços e outras empresas do setor fazem o mesmo. Esse comportamento padrão é chamado de liderança de preço: uma empresa é reconhecida implicitamente como líder, enquanto as demais, isto é, as “seguidoras de preço”, acompanham seus preços. Esse procedimento resolve o problema de coordenação dos preços: cada uma simplesmente cobra o preço que a líder estiver cobrando. Suponhamos por exemplo, que três empresas oligopolistas estejam atualmente cobrando R$10 por seu produto. Suponhamos que, por meio de uma coalizão, elas pudessem acertar um preço de R$20, aumentando assim substancialmente seus lucros. Reuniões e acordos formais para a determinação do preço de R$20 seriam ilegais. Mas, por outro lado, suponhamos que a Empresa A eleve seu preço para R$15 e anuncie à imprensa que o objetivo de tal elevação é restaurar a vitalidade econômica do setor. As Empresas B e C podem entender que se trata de uma mensagem clara - ou seja, que a Empresa A está procurando obter sua cooperação para conseguir elevar os preços. Elas podem então elevar seus respectivos preços para R$15. A Empresa A pode assim aumentar um pouco mais seu preço, ou seja, para R$18 - e as Empresas B e C podem fazer o mesmo. Tenha ou não sido alcançado (ou mesmo ultrapassado) o preço de R$20, que maximiza os lucros, o fato é que um padrão de coordenação e acordo implícito foi estabelecido, de tal forma que, do ponto de vista das empresas, ele pode estar sendo tão eficaz quanto a própria realização de uma reunião com o objetivo de formalizar um acordo em torno de determinado preço. Assim, em alguns setores, uma empresa de grande porte pode naturalmente despontar como líder, com as demais empresas decidindo que, para elas, o melhor é igualar seus respectivos preços aos da empresa maior em vez de tentar vender por um valor inferior ao estabelecido por ela ou pelos demais concorrentes. Um exemplo disso seria o setor automobilístico dos Estados Unidos, no qual a General Motors tem tradicionalmente atuado como líder de preços. A liderança de preços tem condições também de contribuir para que empresas oligopolistas enfrentem a própria relutância em alterar os preços, relutância esta que advém do temor de iniciar uma guerra de preços ou de estar “balançando o barco”. À medida que as condições de demanda e custo variam, as empresas podem concluir que é cada vez mais necessário modificar preços que já tenham permanecido constantes por algum tempo. Nesse caso, elas podem estar à procura de um líder de preços capaz de sinalizar quando e em quanto os valores devem variar. Às vezes, uma empresa de grande porte poderá atuar naturalmente como líder; às vezes, diferentes empresas serão líderes de tempos em tempos. 2) Cartel O outro caminho que o oligopólio pode seguir para determinar preço é o cartel. Em um cartel, os produtores concordam explicitamente em agir em conjunto na determinação de preços e níveis de produção. Nem todos os produtores de um setor necessitam fazer parte do cartel, e a maioria dos cartéis envolve apenas um subconjunto de produtores. Entretanto, se uma quantidade suficientemente grande de produtores optar por aderir aos termos do acordo do cartel, e se a demanda do mercado for suficientemente inelástica, o cartel poderá conseguir elevar seus preços bem acima dos níveis competitivos. Os cartéis são frequentemente internacionais. Embora a legislação antitruste dos Estados Unidos proíba que empresas norte-americanas façam coalizão, as leis de outros países são muito menos rigorosas ou às vezes são implementadas de forma pouco efetiva. Além disso, nada pode evitar que países ou empresas pertencentes ou controladas por governos estrangeiros formem cartéis. Por exemplo, o cartel da Opep é um acordo internacional entre nações produtoras de petróleo que vem obtendo sucesso na elevação dos preços mundiais do petróleo acima dos níveis competitivos. Por que alguns cartéis obtêm sucesso enquanto outros não? Há duas condições para que um cartel tenha êxito. A primeira delas é que venha a se formar uma organização estável, cujos membros sejam capazes de fazer acordos relativos a preços e níveis de produção, cumprindo, depois, os termos do acordo feito. Os membros de um cartel podem conversar entre si para formalizar os termos de um acordo. Entretanto, isso não significa que seja fácil chegar a esse acordo. Diferentes membros possuem diferentes custos, diferentes estimativas da demanda do mercado e até mesmo diferentes objetivos, de tal modo que poderão estar dispostos a praticar níveis de preços também diferentes. Além disso, cada membro do cartel poderá sentir-se tentado a „furar‟ o acordo, fazendo pequenas reduções de preços para obter uma fatia de mercado maior do que lhe fora alocada. Frequentemente, apenas a ameaça de um retorno aos preços competitivos no longo prazo evita „furos‟ desse tipo. Mas, se os lucros decorrentes da cartelização forem bastante grandes, tal ameaça pode ser suficiente para manter o acordo. A segunda condição para o sucesso do cartel é que haja espaço para o poder de monopólio. Mesmo que o cartel consiga resolver seus problemas organizacionais, haverá pouca possibilidade de elevação do preço caso ele esteja diante de uma curva da demanda altamente elástica. A possibilidade do poder de monopólio pode ser considerada a condição mais importante para a obtenção de sucesso. Se forem grandes os ganhos potenciais decorrentes da cooperação, os membros do cartel terão maior estímulo para resolver seus problemas organizacionais. No caso do oligopólio, também é comum as empresas compensarem na margem de lucro as perdas na quantidade quando a demanda cai, reduzindo a produção em lugar de abaixar os preços. O controle do mercado lhes dá esta possibilidade. Há competição entre empresas oligopolistas? Sim, e se trata de uma “guerra de gigantes”. Tecnologia, serviços incorporados ao produto e estratégias de produção e de vendas fazem parte dessa guerra. Uma coisa é certa: é um jogo para poucos. A entrada no oligopólio é extremamente restrita, quase como no monopólio. Evidentemente, o consumidor também sofre danos com o oligopólio, semelhantes àqueles causados pelo monopólio: preços elevados, quantidades mais limitadas, riscos quanto à qualidade. Para isso, mais uma vez, o governo costuma interferir, seja para evitar excessiva concentração do mercado num só grupo, seja para impor regras menos desequilibradas. O papel do CADE no caso brasileiro também é relevante para os setores oligopolizados. A Lei Anti- Truste nos EUA é outro exemplo (embora muitos considerem que seus efeitos a favor do consumidorsão limitados, já que os EUA apresentam um forte caráter oligopolizado em setores- chave de sua economia; na verdade, a lei foi relativamente eficaz em impedir monopólios, mas menos no tocante aos oligopólios). Segundo a “substitutibilidade” perfeita ou imperfeita dos produtos, o oligopólio pode ser perfeito ou diferenciado. Oligopólio perfeito – é caracterizado pela concentração relativamente alta da produção, isto é, pelo fato de que algumas empresas detém participação considerável no mercado, mas, ao mesmo tempo, recorrem à competição em preços para ampliar as fatias de mercados vis a vis as empresas pequenas, relativamente pouco resistentes a eliminação, mas que ocupam um espaço não desprezível no mercado. Oligopólio Diferenciado – é caracterizado pelo fato de que as empresas concorrem via diferenciação do produto, como forma predominante. A concorrência em preços, não é um recurso habitual, não só porque ela colocaria em risco a estabilidade do mercado e a própria sobrevivência das empresas, mas também porque o esforço permanente de vendas, em nível elevado, requer markups muito altos e rígidos a baixa; qualquer movimento irregular de preços teria uma incidência proporcionalmente grande sobre os custos indiretos unitários, que são muito altos devido às despesas de publicidade e comercialização, afetando seriamente as vendas e/ou o nível dos lucros. 7. O Modelo de Sweezy Como o acordo implícito tende a ser frágil, as empresas oligopolistas quase sempre apresentam um forte desejo de manter a estabilidade dos preços. E por esse motivo que a rigidez de preços pode se tornar uma característica dos setores oligopolistas. Mesmo que os custos ou a demanda sofram alterações, as empresas se mostram relutantes em modificar os preços. Essa rigidez de preços é à base do modelo da o modelo de Sweezy para o oligopólio. Esse modelo também é conhecido como o modelo da “curva de demanda quebrada”. Foi desenvolvido buscando explicar por que os preços dos oligopólios são relativamente estáveis, isto é, permanecem constantes por longos períodos de tempo, mesmo quando os custos mudam. O modelo supõe que cada oligopolista tem uma curva de demanda “quebrada”. De acordo com esse modelo, cada empresa estaria diante de uma curva de demanda quebrada no preço P* que prevalece atualmente. Para preços acima de P*, a curva de demanda é bastante elástica. Isso ocorre porque a empresa crê que, se ela aumentar seu preço além de P*, as outras não a acompanharão e, assim, ela poderá perder vendas e uma boa fatia do mercado. Por outro lado, a empresa acredita que, caso torne seu preço menor do que P*, as demais empresas a acompanharão porque não desejam ver reduzidas suas respectivas fatias de mercado. Nesse caso, as vendas aumentarão apenas à medida que o preço de mercado mais baixo elevar a demanda total de mercado (ou seja, à medida que os preços menores atraírem novos consumidores para o mercado). Como a curva de demanda da empresa é quebrada, sua curva da receita marginal (RMg) não é contínua (a parte de baixo da curva da receita marginal corresponde à parte menos elástica da curva de demanda), mas também possui uma quebra de acordo com a quebra da demanda. Consequentemente, os custos da empresa podem variar sem que ocorram correspondentes variações no preço. Como mostra a Figura acima, o custo marginal (CMg) pode apresentar uma elevação, mas ainda assim ele será igual à receita marginal (RMg) para um mesmo nível de produção, de modo que o preço permanecerá inalterado e o oligopólio continua maximizando seu lucro. Síntese Neste tópico, vimos que os mercados obedecem a estruturas bastante variadas. Embora o modelo de concorrência perfeita seja simplificado, ele é bastante restrito nas economias contemporâneas. Por outro lado, observamos mercados que se organizam como monopólio, oligopólio e a concorrência monopolística. Os dois primeiros casos, especialmente, produzem tantas distorções no funcionamento dos mercados que são usados para justificar a ação dos governos no sentido de criar regras inibidoras da ação dessas empresas no sentido de prejudicar seus respectivos consumidores (ou fornecedores). Simplificadamente, o modelo de Sweezy constitui uma razoável explicação para a estabilidade de preços em situações de oligopólio. Ramo inelástico RMg CMg1 Q* P* Ramo elástico D P Q CMg0
Compartilhar