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CASOS HISTÓRICOS 27 Foto 1 - Vista geral aérea dos dois vertedouros Dourada para 620 MW. Nesta etapa estava prevista a elevação da cota do lago em 1,0 m, objetivando aumentar a produção de energia nas máquinas existentes e compensar parcialmente a perda de energia causada pelo afogamento do canal de fuga provocado pelo remanso da UHE São Simão. A Figura 1 ilustra a seção original do vertedouro e a cota do lago. Face ao aumento do N.A da El.430,50 m para El.431,50 m, tornou-se necessário altear a crista da barragem de gravidade da margem direita além das soleiras de todos os vãos de vertedouros. As cotas finais de alteamento estão indicadas abaixo: • crista da barragem 434,00 m • soleira do vertedouro esquerdo 421,50 m • soleira do vertedouro direito 424,50 m O alteamento das soleiras foi adotado pelo projetista, devido á impossibilidade de aumentar as comportas de segmento, visto que o aumento de carga nas comportas não poderia ser absorvido pelas vigas munhão metálicas existentes, ancoradas aos pilares por parafusos convencionais. O alteamento foi executado mediante a construção de uma camada de concreto de altura variável sendo 1,0 metro a espessura no local de apoio da comporta de segmento. O ALTEAMENTO DO VERTEDOURO DA BARRAGEM DE CACHOEIRA DOURADA 1. INTRODUÇÃO A Usina Hidrelétrica de Cachoeira Dourada localiza- se no Rio Paranaíba, Bacia do Rio Paraná, na divisa dos Estados de Goiás e Minas Gerais, a jusante da barragem de Itumbiara (FURNAS) e a montante da barragem de São Simão (CEMIG). Esta usina a fio d’água, que pertencia a CELG – CENTRAIS ELÉTRICAS DE GOIAS na época dos trabalhos em objeto, está agora sob controle da ENDESA . As três primeiras etapas foram construídas de 1959 a 1977, com oito unidades totalizando 430 MW. Durante a segunda etapa, com o primeiro barramento do Rio Paranaíba, formou-se um lago de 70 km², com o nível máximo na El.430,50 m e foram construídos dois vertedouros, um na margem direita e outro na margem esquerda com 10 vãos cada (Foto 1). Cada um dos dois vertedouros tem uma largura de 196 m e a bacia de dissipação, escavada na rocha basáltica, não foi revestida. A partir de 1984 foram iniciadas as obras civis da quarta etapa, para abrigar mais três unidades Kaplan, porém foram montadas apenas 2 unidades com 95 MW cada, aumentando a capacidade total da UHE Cachoeira Autor: Luiz Fernando Prata Fernandes (Construtora Norberto Odebrecht S/A) Grandes Vertedouros Brasileiros 28 Figura 1 - Seção original do vertedouro Foto 2 - Início da montagem da comporta Batel, podendo-se notar a viga de sustentação e operação e as articulações de manobra e giro 2. MÉTODO EXECUTIVO UTILIZADO A tradicional construção de ensecadeiras de argila não seria possível pois reduziria drasticamente a capacidade dos vertedouros para descarregar enchentes de grandes proporções. Com as comportas ensecadeiras fechadas e com a abertura da comporta de segmento, seria possível concretar somente a jusante da soleira do stoplog. Assim foi projetada uma comporta especial, capaz de ensecar o recinto a montante dos stoplogs, através da vedação entre as superfícies laterais dos pilares do vertedouro . Esta comporta flutuante chamada de comporta Batel, cujas dimensões externas são de aproximadamente 15x15 m foi construída através da montagem de módulos individuais, sendo que alguns podiam ser enchidos de água através de dispositivos especiais e uso de ar comprimido, o que possibilitava a submersão da mesma, girando acoplada a uma viga de sustentação até a posição vertical. Esta viga afixada no topo dos pilares permitia a rotação citada anteriormente e a vedação era feita através de juntas de borracha. Para a montagem da comporta Batel, foi necessário o ensecamento de uma pequena área na margem do lago, que após esgotamento e limpeza, permitiu a acoplagem dos módulos individuais, com a utilização de solda elétrica (Foto 2). Concluída a montagem, a ensecadeira foi removida, inundando o recinto ensecado fazendo flutuar a comporta. Foi confeccionado um artefato na obra, para a acoplagem da comporta a um barco rebocador que foi utilizado para movimentações e montagens nos 20 vãos do vertedouro. A comporta foi desmontada após a conclusão dos serviços. Grandes Vertedouros Brasileiros 29 Figura 2 - Concretagem da camada intermediária Foto 3 - Vista da comporta Batel sendo montada em um dos vãos da margem esquerda. Operação de giro da Batel para submergência e ajuste nas laterais dos pilares. Observar o ressalto do pilar, onde se apoiava a Batel 3. SEQÜÊNCIA EXECUTIVA Foram utilizadas diferentes seqüências executivas para cada vertedouro, sendo dada prioridade para utilização da comporta Batel no Vertedouro da Margem Esquerda. Para agilização do uso da comporta, foi introduzida uma junta de construção longitudinal, dividindo o trecho de montante, em duas camadas, e desta forma obteve- se maior flexibilização no planejamento do alteamento . Desta forma a soleira de concreto foi dividida em 3 camadas (Figuras 2, 3 e 4): • 1ª camada, de montante, contendo a soleira metálica das comportas ensecadeiras . • 2ª camada, intermediária, contendo a soleira metálica da comporta de segmento. • 3ª camada, de jusante, com a parte da soleira, sem embutidos metálicos, e possível de ser executada, a qualquer tempo somente com uso dos stoplogs, sem uso da Batel. Na margem direita, com o uso dos stoplogs e elevação da comporta de segmento, foram executadas as 2ª e 3ª camadas simultaneamente, incluindo a ranhura dos embutidos da comporta de segmento, sendo feita a concretagem da ranhura em 2º estágio após a montagem da soleira metálica. Para a execução da 1ª camada, após fechamento da comporta de segmento sobre a soleira metálica alteada removia-se os stoplogs, montava-se a comporta Batel, esgotava-se o recinto. A concretagem da ranhura em 2º estágio foi feita após montagem da soleira metálica das comportas ensecadeiras. Foram executados diversos vãos com esta seqüência, pois havia tempo para esperar a liberação da Batel, devido a prioridade dada à margem esquerda. Na margem esquerda, após montagem da comporta Batel no vão (Foto 3), executava-se as 1ª e 2ª camadas simultaneamente, e após as montagens/concretagens das novas soleiras, fechava-se a comporta de segmento, removia-se a Batel, e a 3ª camada era executada de acordo com a disponibilidade da mão de obra para concretagem. Houve casos em que, estando a Batel sendo utilizada em um vão, e com a disponibilidade dos stoplogs, concretava-se apenas a 2ª camada, deixando a 3ª camada independente, e a 1ª camada dentro da disponibilidade de uso da Batel. Grandes Vertedouros Brasileiros 30 Figura 3 - Concretagem da camada de montante Figura 4 - Seção do vertedouro com alteamento concluído 4. CRITÉRIOS E CONDICIONAMENTOS TÉCNICOS Os serviços de alteamento das soleiras dos vertedouros, seguiram os critérios básicos da boa execução de concreto armado, valendo ressaltar algumas particularidades e condicionamentos técnicos impostos pela particularidade dos serviços: • Para a perfeita aderência entre o concreto antigo e novo foram observados os seguintes cuidados: • Colocação de chumbadores distribuídos em toda a superfície de contato. • Ancoragem da armação nova com a existente nos pilares. Neste caso houve a necessidade de executar- se a demolição de uma faixa de concreto na base dos pilares a fim de descobrir a armadura existente, serviço que foi executado com a utilização de marteletes pneumáticos. • O preparo da superfície era feito com jato de areia. • O concreto foi lançado com apoio de guindaste de pneus e caçambas convencionais, e o acabamento da superfície foi feito com o uso de desempenadeiras e camurçadas, o que exigia um grande trabalho manual, devido às tolerânciasexigidas para soleiras . • Em cada etapa de concretagem utilizou-se um sistema de formas: • Na 1ª camada, foram utilizadas formas fixas de madeira revestidas de compensado. • Na 2ª camada, foram utilizadas guias de madeira e régua deslizante. • Na 3ª camada, foram utilizadas fôrmas temporariamente fixas, e guias de madeira com régua deslizante. • Considerando-se que as soleiras originais de cada vão eram divididas por uma junta de construção transversal, as etapas do alteamento também foram divididas e executadas em duas fases, mediante a colocação de fôrmas comuns e interrupção da armadura na junta, além da colocação de junta elástica tipo “fugenband”. • O reparo da face do pilar junto à linha superior da soleira, foi feito com epóxi. • Os 10 vãos da margem esquerda tinham capacidade de escoar uma vazão de 10.100 m³/s, e os 10 vãos da margem direita 5.900 m³/s, num total de 16.000 m³/s com o lago na El.430,50 m. • Com a elevação do nível do reservatório para El.431,50 m os vertedouros ficaram submetidos a uma carga superior em 1,0 m elevando a capacidade máxima de escoamento para 18.920 m³/s sendo 11.710 m³/s na margem esquerda e 7.210 m³/s na margem direita. As Fotos 4 a 7 ilustram as diversas fases do trabalho. 5. QUANTITATIVOS DE SERVIÇOS Os trabalhos, iniciados em 1986 e concluídos em1992, foram realizados pela Construtora Norberto Odebrecht S/A. As quantidades aproximadas das obras alteamento são indicadas abaixo: • Concreto Margem Direita 10 x 320 m³/vão = 3.200 m³ Margem Esquerda 10 x 400 m³/vão = 4.000 m³ 7.200 m³ • Armadura Margem Direita 10 x 21 t /vão = 210 t Margem Esquerda 10 x 25 t/ vão = 250 t 460 t • Fôrmas Margem Direita 10 x 380 m²/vão = 3.800 m² Margem Esquerda 10 x 420 m²/vão = 4.200 m² 8.000 m² Grandes Vertedouros Brasileiros 31 Foto 4 - Vista da soleira original. Notar os chumbadores para a ligação com a nova soleira e a faixa demolida de concreto na lateral do pilar para ancoragem da armação Foto 5 - Segunda e terceira camadas prontas para concretagem simultânea. Notar o engaste da armadura da soleira na lateral do pilar Grandes Vertedouros Brasileiros 32 Foto 7 - Vista de jusante do vertedouro da margem esquerda. Notar da esquerda para a direita a Batel montada no 2º vão. No 3º vão estão prontas a 1ª e 2ª camadas e a comporta de segmento está fechada sobre a soleira alteada. No 6º vão, notar a junta da 1ª fase de concretagem da 3ª camada Foto 6 - Vista de jusante da comporta Batel (montada), notando-se a 2ª camada de concretagem executada e a junta para a execução da 3ª camada. Notar a viga munhão metálica e seus respectivos parafusos de ancoragem no pilar