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1 ESTRUTURA DIDÁTICA Disciplina: GESTÃO DE TALENTOS E DESENVOLVIMENTO HUMANO Apresentação Para sobreviver, as organizações passam por um contínuo processo de mudanças em seus objetivos, estruturas e modos de operar que refletem as constantes transformações do contexto sócio‐político‐econômico em que estão inseridas. Hoje, o ambiente de negócios é caracterizado por competição em escala global. A capacidade de responder rapidamente ao cliente, desenvolver com agilidade novos produtos, criar novos mercados e dominar novas tecnologias se tornou fator essencial para colocar a empresa numa posição de vantagem em relação à concorrência. Nesse cenário, mudam o papel da função recursos humanos e a qualificação para o trabalho. A função de RH evoluiu de um papel administrativo para uma função estratégica capaz de criar políticas e processos de gestão de pessoas que sustentem o crescimento da capacidade organizacional e, ao mesmo tempo, promovam o desenvolvimento pessoal e profissional do colaborador e a qualidade de vida no trabalho. A qualificação profissional se tornou mais complexa do que a exigida para o exercício de tarefas estáticas e predefinidas. Cada vez mais, o trabalhador necessita adquirir competências diferenciadas para atuar em ambientes de trabalho flexíveis e de baixa previsibilidade. Além da qualificação técnica, habilidades cognitivas e atributos atitudinais, tais como, capacidade de análise e solução de problemas, iniciativa, disposição em colaborar e aprender em grupo, ganham relevância para o desempenho competente e a geração de resultados. As unidades da disciplina Gestão de Talentos e Desenvolvimento Humano foram estruturadas de modo a contemplar os desafios contemporâneos da gestão estratégica de pessoas, com ênfase na gestão integrada da aprendizagem, do desenvolvimento na carreira e o desenvolvimento organizacional. Minicurrículo Cristina Saraiva Amaral, mestre em Psicologia pela New York University – EUA (título reconhecido pela UFMG). Pós‐graduação e aperfeiçoamento em Recursos Humanos – FACE‐UFMG. Graduação em Psicologia pela FAFICH‐UFMG. Formação em Habilidades de Consultoria pela ERGON Consultores Associados. Formação em Coaching pela Núcleo RH – Consultoria e Desenvolvimento. Professora de pós‐graduação. Coordenou o programa de pós‐graduação em Gestão Estratégica de Recursos Humanos do Centro Universitário FUMEC e o MBA em Gestão Estratégica de Pessoas do Centro Universitário Una. Consultora em gestão de pessoas. Coach de executivos e de trainees em programas de desenvolvimento de líderes. Facilitadora em programas de desenvolvimento de equipe e de formação gerencial em empresas de Minas Gerais e São Paulo. Instrutora em programas de treinamento em empresas públicas e privadas. Consultora técnica na adaptação de material instrucional para treinamento a distância da parceria SEBRAE‐MG e The Open University ‐ GB. Membro fundador da International Coaching Federation – ICF, Capítulo Minas. Unidade 1 Modelos estratégicos de gestão de pessoas Nesta unidade de estudo iremos analisar os princípios e práticas que sustentam os modelos de gestão estratégica de pessoas, com destaque para o modelo de múltiplos papéis de RH desenvolvido por Dave Ulrich e a abordagem da gestão de pessoas como fonte de vantagem competitiva. O objetivo da análise desses modelos é apresentar uma referência conceitual que será a base para trabalharmos os demais temas das outras unidades da disciplina. Para lembrar Tópicos abordados nesta unidade: 1) Modelo de múltiplos papéis do RH estratégico 1.1) O modelo de múltiplos papéis de RH 1.2) Parceiro estratégico 1.3) Especialista administrativo 1.4) Defensor dos funcionários 1.5) Agente de mudanças 2) Gestão de pessoas e vantagem competitiva 2.1) Competência organizacional e diferencial competitivo 2.2) Gestão de pessoas como diferencial competitivo 3) Considerações finais Estimule seu conhecimento prévio refletindo sobre as questões abaixo: • O que caracteriza um modelo estratégico de gestão de pessoas? • Qual é a importância de um modelo estratégico para o desenvolvimento de pessoas? • Quais são os papéis que cabem ao RH, aos gestores e aos colaboradores em um modelo de gestão estratégica de pessoas? Para compreender Unidade 1 ‐ Seção 1 1) Modelo de múltiplos papéis do RH estratégico Há cerca de trinta anos o norte‐americano Dave Ulrich, um dos principais autores e consultores na área de RH, lançou um desafio para dirigentes e especialistas da área: transformar a administração de recursos humanos de uma função meramente administrativa para uma função estratégica, capaz de contribuir para a geração de resultados de negócio. As ideias de Ulrich tornaram‐se uma referência para teorias e estudos brasileiros, além de provocar reflexões e debates entre os especialistas da área, os quais passaram a rever suas práticas de RH e a incorporar novos papéis na gestão de pessoas. O RH passou por diversas transformações até se consolidar como uma função estratégica. Nunca o capital humano foi tão importante para as empresas competirem em um mercado global cada vez mais conectado. A dinâmica da inovação, que impulsiona e alimenta o sistema capitalista, não permite a nenhuma empresa descansar sobre suas conquistas. As estratégias empresariais dependem cada vez mais do fortalecimento da competitividade e da formação de equipes, qualificadas e comprometidas com os objetivos da organização. Isso coloca a gestão de pessoas em posição central. É preciso um sistema de RH mais efetivo, com práticas que incluem contratação de profissionais talentosos, treinamento continuado, descentralização de decisões, compartilhamento de conhecimentos entre equipes, sistemas de carreira e remuneração que valorizem as contribuições para os resultados da empresa. Na gestão estratégica de pessoas, a ideia de reciprocidade passa a guiar as relações de trabalho. O desenvolvimento mútuo da empresa e dos colaboradores é reconhecido como fator crucial para atuar em uma realidade de negócios complexa, que exige de empresas e colaboradores competências diferenciadas para atender às exigências de mercado. Outro princípio norteador das relações empresa e trabalhador é a satisfação mútua. O desempenho competente, voltado para a entrega de resultados que sustentam o negócio requer a contrapartida da realização de projetos profissionais e a preservação da qualidade de vida no trabalho. Tudo isso precisa ser construído sobre uma base que reconheça a importância do fator humano para o alcance dos resultados do negócio e uma cultura corporativa que, de fato, adote essa crença. 1.1) O modelo de múltiplos papéis de RH O modelo de múltiplos papéis desenvolvido por Ulrich (2002) busca a resposta para uma demanda de pensar a função de RH como geradora de resultados, com menos enfoque nas atividades que os profissionais executam e mais ênfase nas contribuições que a função pode gerar. O modelo de Ulrich propõe quatro papéis de RH que fornecem as bases para uma gestão estratégica de pessoas: • Parceiro estratégico: construção de uma infraestrutura de apoio para a realização da estratégia organizacional; • Especialista administrativo: planejamento e gestão de processos eficientes e integrados de gestão de pessoas; • Defensor de funcionários: meios de assegurar a contribuição dos funcionários; • Agente de mudanças: necessidades de transformação ao longo do tempo. Alguns pontos do modelo de Ulrich serão discutidos a seguir. 1.2) Parceiro estratégico O redirecionamento estratégicoda gestão de pessoas parte de uma visão de parceria de negócios, cujo papel essencial é criar uma infraestrutura que ofereça o suporte necessário para a realização da estratégia empresarial. Essa relação de parceria coloca o profissional de RH numa posição de consultor interno, que prestará serviços para a organização, fornecendo ferramentas e instrumentos que auxiliem os gestores de área a gerenciar suas respectivas equipes. A parceria estratégica pressupõe uma visão de longo prazo que leve em conta o impacto do cenário de negócios e do mercado de trabalho sobre a gestão empresarial e, consequentemente, sobre a gestão de pessoas. Nesse sentido, algumas questões fundamentais precisam ser respondidas pelo responsável pela área: • Quais são as competências essenciais da organização e quais serão necessárias para competir com sucesso no futuro? • Como planejar e implementar processos de captação, desenvolvimento e valorização das pessoas para apoiar a realização da estratégia empresarial? • Quais as políticas e práticas de RH que devem ser desenvolvidas no presente para sustentar o futuro? • Quais são as necessidades de desenvolvimento dos gestores para assumir a liderança de suas equipes? Sem dúvida, o exercício da parceria estratégica exige do profissional de RH posicionamentos e competências diferenciados, que vão além do domínio de habilidades técnico‐operacionais. Em resumo, ele precisa incorporar novas perspectivas e papéis: • Visão de longo prazo para antecipar necessidades futuras de RH a partir dos condicionantes do mercado e dos fatores internos da empresa; • Foco no negócio para planejar políticas e processos de RH de modo a conciliar a realização dos objetivos organizacionais e dos colaboradores; • Papel consultivo para fornecer suporte aos demais gestores na liderança de suas equipes de trabalho; • Foco em resultados no sentido de que os instrumentos disponibilizados pelo RH sejam um meio de gerar valor para o negócio. 1.3) Especialista administrativo No papel de especialista administrativo, o RH tem o desafio de reverter a imagem arraigada de centro de custos para se tornar uma função que agrega valor ao negócio. Suas decisões e práticas devem se guiar pelos mesmos princípios de eficiência e eficácia que regem a gestão de negócios. Isso implica em uma revisão crítica dos processos da área, que devem ser igualmente submetidos aos critérios de custo‐benefício dos investimentos. Nesse sentido, as questões‐chave são: • Como organizar a área para prestar serviços descentralizados de gestão de pessoas à organização? • Quais os custos operacionais que podem ser reduzidos por meio de terceirização de atividades e implantação de tecnologias de informação? • Como gerenciar informações que facilitem e agilizem as decisões, e comunicações internas? • Como estruturar e gerenciar os processos de gestão de pessoas de maneira sistêmica e sinérgica? Por exemplo, a gestão de talentos requer sistemas integrados de captação, desenvolvimento, carreira e valorização que assegurem a contribuição e a retenção de profissionais talentosos. • Como transmitir o know‐how de gestão de pessoas para a equipe gerencial, de modo a prepará‐ la para gerenciar o clima de trabalho, a motivação e o desempenho de suas equipes? • O que deve ser contemplado no planejamento operacional da área de RH? Prioridades e metas, recursos, indicadores e instrumentos de mensuração dos resultados. A figura 1 ilustra o alinhamento dos processos de RH à estratégia organizacional. FIGURA 1 ‐ Alinhamento interno e estratégico dos processos de RH Fonte: Elaborada pela autora. Em síntese, no papel de especialista administrativo, o RH concebe uma estrutura de gestão de pessoas com processos interdependentes, alinhados entre si e à estratégia organizacional. De executor de processos ele passa a atuar como consultor interno, no sentido de fornecer à equipe gerencial instrumentos e ferramentas que possibilitem implementar práticas de gestão de pessoas no cotidiano de suas equipes. No planejamento de suas ações deve incluir definição de metas e instrumentos de mensuração de investimentos, e resultados alcançados. 1.4) Defensor dos funcionários No papel de gerenciar a contribuição dos funcionários, muitas vezes os profissionais de RH lidam com ambiguidades e contradições. Até que ponto é possível conciliar os objetivos da empresa com as necessidades dos colaboradores? Historicamente, o RH tende a reagir de maneira ambivalente no equacionamento dessa questão. Ora se posiciona na defesa dos interesses corporativos, ora na defesa das necessidades do trabalhador. Não é novidade o fato de que o mercado consumidor cada vez mais exige a entrega de produtos e serviços com maior qualidade, menor preço e maior rapidez. Inevitavelmente, a concorrência pressiona as empresas a produzir com mais eficiência e eficácia, o que implica em fazer mais com menos recursos. Por óbvio, o novo paradigma gerou a reestruturação produtiva – downsizing, empowerment , redução de quadro de pessoal – e o aumento de demandas sobre a atividade do funcionário. E não é pouca coisa. Além de produtividade, é preciso ter iniciativa, ser flexível, lidar com novas tecnologias, estar disposto a aprender, contribuir mais e trabalhar em equipe. Ao argumentar sobre o papel de defensor do funcionário, Ulrich (2002) ressalta que o excesso de demandas, inegavelmente, tem repercussões sobre a saúde do trabalhador quando não há a adequada contrapartida de recursos. Conforme essas demandas se elevam, pode ocorrer a depressão do funcionário, cuja evidência inclui uma série de sintomas, alguns dos quais são descritos no Quadro 5‐1. Esses sintomas podem ter uma causa subjacente: os funcionários sentem que as demandas que lhes são feitas excedem os recursos que são colocados à sua disposição. (ULRICH, 2002, p. 161) A pressão por resultados propicia ainda um terreno fértil para a emergência de desvios de conduta e violação de direitos nas relações entre chefes e subordinados: cobrança de metas impossíveis de serem alcançadas, discriminação e situações de assédio moral. Ao analisar a tortura psicológica e o assédio moral nos ambientes de trabalho, Bom Sucesso (2012) alerta que não é raro encontrar casos em que a direção das empresas fecha os olhos para abusos de poder, humilhações e hostilidades nas relações entre chefes e subordinados, e entre colegas. As consequências são o mal‐estar, a tensão e o adoecimento: De certa forma, líderes “mão de ferro” são até mesmo bem vistos por alguns acionistas e proprietários de empresas. E não é fácil entender por que estas pessoas demoram tanto a entender que equipes insatisfeitas erram mais, adoecem mais, faltam mais ao trabalho do que o empregado que atua sob um clima motivador e propenso à qualidade de vida. (BOM SUCESSO, 2012, p. 57) A reestruturação produtiva provocou não só a redução dos quadros de pessoal e o aumento das exigências de desempenho. Novas relações de trabalho deram lugar ao tradicional contrato de emprego baseado na promessa de segurança em troca da lealdade do empregado. A empresa não promete mais estabilidade e nem amplas possibilidades de ascensão vertical em estruturas cada vez mais horizontalizadas. PERGUNTA Coloca‐se então o desafio para o RH. Como conquistar o engajamento do funcionário, mobilizar altos níveis de desempenho e reter talentos, sem a segurança do emprego? Profissionais jovens, talentosos e disputados no mercado já assimilaram o “discurso” da empregabilidade – já não planejam sua carreira movidos pelo vínculo de lealdadea uma única organização. As prioridades de carreira passaram a ser a perspectiva de ampliar o leque de competências no próprio campo profissional, a possibilidade de obter recompensas materiais e psicológicas em ambientes de trabalho que propiciam qualidade de vida. Ao argumentar em favor do papel de defensor do funcionário, Ulrich alerta para o fato de que a parceria estratégica do RH não se dá exclusivamente na “arena estratégica”. As exigências crescentes de desempenho da realidade competitiva não podem ser ignoradas. Ao contrário, a empresa deve criar uma cultura que trabalhe em favor da contribuição do funcionário, por meio de disponibilidade de recursos, políticas de RH e práticas gerenciais que possam sustentar e recompensar níveis elevados de desempenho e, consequentemente, viabilizar a realização da estratégia empresarial. As questões‐chave são: • Como dimensionar condições e recursos para que o colaborador corresponda às demandas que lhe são exigidas? • Que tecnologias e mudanças podem ser implantadas, de modo a racionalizar os processos de trabalho, facilitar a execução das tarefas, suprimir burocracia desnecessária, agilizar decisões e fomentar a integração entre as áreas? • Como assegurar, ao longo do tempo, consistência e transparência das práticas de RH, de modo a oferecer igualdade de oportunidades para os colaboradores, garantindo o reconhecimento do talento e do mérito? • Que perfil gerencial deve nortear a escolha de líderes que possam trabalhar alinhados à cultura da empresa e dispostos a aplicar na prática os princípios de gestão de pessoas assumidos pela organização? • Como preparar os líderes para gerenciar a motivação, o clima de trabalho e o desempenho de suas equipes? O RH dispõe de uma série de instrumentos – pesquisa de clima, índices de produtividade, entrevista de desligamento, índices de rotatividade e absenteísmo – que podem auxiliá‐lo na mensuração dos fatores de satisfação/insatisfação que incidem sobre a motivação, o desempenho e também a retenção dos colaboradores. Esses levantamentos fornecem dados bem embasados para atuar na defesa da contribuição do funcionário. Em síntese, a gestão de pessoas tem o desafio de convencer a direção da empresa de que defender a contribuição dos funcionários não significa caminhar na direção contrária dos objetivos de resultados e lucratividade dos negócios. Para isso, o RH precisa se municiar de argumentos sólidos, com dados consistentes, que apontem distorções e lacunas da gestão de pessoas que possam colocar em risco a concretização dos planos estratégicos. SAIBA MAIS Consulte o capítulo 5, Defensor dos Funcionários em Os Campeões de Recursos Humanos (Ulrich, 2002) para conhecer indicadores de sinais de depressão no trabalho e fatores que contribuem para a satisfação dos colaboradores. 1.5) Agente de mudanças No universo da competição global, inovação tornou‐se um imperativo para a sustentabilidade das empresas. Conforme já discutido nas sessões anteriores, as inovações são de toda ordem: produtos novos, novos métodos e tecnologias de produção e distribuição, novas relações de trabalho, novas fontes de energia e matéria‐prima, novos mercados, etc. O discurso da inevitabilidade da mudança já se tornou lugar comum na literatura da administração e no dia a dia das empresas. Mas nem sempre as iniciativas de mudança alcançam o êxito esperado, ou este se mostra passageiro – não se sustenta ao longo do tempo. Ulrich ressalta que a mudança não deve ser encarada como um evento isolado, pontual, desvinculado do contexto de negócios da empresa e de sua cultura. Certas iniciativas, motivadas por modismos gerenciais ou influenciadas por práticas de empresas de prestígio, têm consequências previsíveis: provocam “mudanças que não produzem mudanças”. Analogamente, o impulso de derrubar barreiras para renovar a estrutura e o funcionamento de uma empresa tem grande chance de gerar recuos, reduzir a produtividade e colocar em risco a credibilidade do gestor. Ao longo da sua história, as organizações constroem uma percepção comum de como as ‘coisas funcionam’ no seu contexto. As percepções compartilhadas que formam a cultura organizacional não são facilmente desconstruídas. O caminho da transformação não é linear, esbarra em obstáculos imprevistos e está sujeito a eventuais retrocessos. Mudanças estratégicas, com amplo impacto na estrutura e na cultura da empresa, são difíceis de absorver. Projetos incrementais, concentrados em algumas poucas prioridades, têm mais chance de sucesso e consolidam os passos para mudanças de maior amplitude. No papel de agente de mudanças, as iniciativas do RH devem se orientar, essencialmente, pela visão de futuro da empresa e de sua estratégia de negócios. Suas atividades se concentram na identificação de problemas e prioridades de mudança que bloqueiam os projetos atuais e futuros. São alguns dos questionamentos principais para o agente de mudanças: • Como antecipar as necessidades de gestão de pessoas para atender às mudanças de rumos estratégicos da empresa? • Como assegurar que um projeto de mudança tenha continuidade e alcance os resultados esperados? • Como lidar com bloqueios e possíveis resistências que dificultam as mudanças? • Como engajar os gestores no sentido de contribuir para o alinhamento da estratégia de negócios? • Como estruturar programas corporativos que representem o ponto de partida para mudanças culturais mais amplas? • Como selecionar e desenvolver colaboradores que tenham potencial para gerenciar equipes e promover mudanças? Qualquer mudança implica mudar um ponto de vista acerca de determinada forma de ser, agir e ver o mundo. Porém, os projetos de mudança não se consolidam apenas à base de slogans e exortações. As equipes precisam perceber a mudança na prática. Para isso, é necessário criar um plano de ação com etapas bem estabelecidas, monitoradas e asseguradas. Além de identificar um líder com um bom grau de tolerância à frustração, que possa superar os obstáculos do caminho. O quadro a seguir apresenta uma síntese dos fatores necessários para assegurar uma condução bem sucedida de projetos de mudança. QUADRO 1 ‐ Fatores‐chave para a condução das mudanças Fonte: ULRICH, 2002, p. 200. (Adaptado). Em síntese, o tema da mudança permeia todos os papéis do RH discutidos por Ulrich, a começar pela redefinição do próprio papel da gestão de pessoas. Para atuar como parceiro estratégico, o profissional de RH precisa adquirir competências que vão além do know‐how técnico da área. Conhecimentos sobre a gestão de negócios como um todo – marketing , operações, gestão estratégica, cenários macro e microeconômico – são igualmente necessários para que o gestor de RH possa dialogar com os demais gestores corporativos e consolidar sua posição de parceiro na equação da estratégia de negócios. Para avaliar o desempenho dos quatro papéis de RH em sua empresa, consulte a pesquisa desenvolvida por Ulrich (2002), que se encontra na página 70. 2) Gestão de pessoas e vantagem competitiva Analisamos a abordagem de Dave Ulrich, que representa uma renovação na forma de conceber e administrar a função recursos humanos. Como vimos, o modelo de múltiplos papéis coloca em destaque o impacto do fator humano para o alcance de resultados empresariais e prescreve novas responsabilidades para os envolvidos com a gestão estratégica de pessoas, em especial, líderes de equipes e profissionais de RH. Neste tópico vamos explorar a noção de competência essencialda organização como fonte de vantagem competitiva e o papel da gestão de pessoas para o desenvolvimento das competências corporativas. Na medida em que se intensifica a competitividade no mercado, o trabalho do conhecimento se torna fundamental para garantir a inovação de produtos e serviços. Já se tornou lugar comum afirmar que o conhecimento é a única fonte segura de vantagem competitiva em economias de mercado. Milhares de empresas, laboratórios e centros de pesquisa competem entre si, continuamente, para criar e oferecer ao mercado soluções que ninguém é capaz de antever. A inovação tem dois lados – cria e destrói. Graças a ela, conquistamos avanços em várias esferas da vida: saúde, comunicação, fontes alternativas de energia, bem‐estar, lazer e tantos outros. Por outro lado, seus impactos sociais são consideráveis. Pelo menos de início, as inovações técnicas provocam desequilíbrios: desemprego, desaparecimento de profissões e rupturas em modos de viver e produzir. Assim tem sido ao longo da história moderna. Os indivíduos que se beneficiam de imediato com as grandes mutações são os que têm acesso a uma boa formação, enxergam oportunidades onde outros não veem e têm disposição para empreender. Com as empresas não é diferente. Para ser bem‐sucedida e manter uma posição diferenciada no mercado, a empresa precisa saber explorar bem seus recursos, estimular uma cultura de aprendizagem, inovando e criando novas oportunidades de competição. 2.1) Competência organizacional e diferencial competitivo PERGUNTA Para começar, o que caracteriza uma vantagem competitiva? Quais são os fatores que asseguram o desempenho superior de uma empresa? Até há pouco tempo, algumas condições, como economia de escala, regulamentação de mercados, registros de patentes e acesso ao capital favoreciam o sucesso do negócio. Porém, na economia globalizada essas condições passaram a ter uma importância relativa. A capacidade de responder rapidamente ao cliente, desenvolver com agilidade novos produtos, criar novos mercados e dominar novas tecnologias tornaram‐se fatores essenciais para colocar a empresa numa posição de vantagem em relação à concorrência. Os estudos mais recentes apontam que a vantagem competitiva resulta de uma combinação de recursos da empresa e à sua dinâmica interna. Entende‐se por recursos qualquer ativo, tangível ou intangível, disponível na empresa. Por dinâmica, a maneira como os recursos são explorados: os processos de trabalho, os sistemas de gestão de pessoas e a maneira como a tecnologia é aplicada. Essa dinâmica interna é fruto de uma construção da própria organização, desenvolvida ao longo de sua história para desenvolver competências valiosas no mercado. A disponibilidade de um conjunto de recursos – financeiros, físicos, tecnológicos e humanos – é o que possibilita à empresa implantar estratégias diferenciadas. Porém, nenhum desses recursos, isoladamente, é suficiente para sustentar a vantagem competitiva. Além disso, nem todos os recursos controlados e desenvolvidos pela empresa podem ser considerados estratégicos; eles podem simplesmente colocar a empresa em patamar de igualdade em relação ao setor, ou seja, previnem uma situação de desvantagem em relação à concorrência. SAIBA MAIS Prahalad e Hamel (1990) desenvolveram a noção de competências essenciais (core competencies) para explicar o desempenho superior de determinadas organizações. Para os autores, a definição de uma estratégia competitiva não pode prescindir de uma análise das capacidades internas da empresa. Na realidade, essas capacidades é que devem constituir a base para a atuação estratégica. Os aspectos distintivos e os pontos fortes do negócio constituem a competência essencial da organização, que deve satisfazer três critérios para ser validada como tal: • Oferecer benefícios ao consumidor, seja em termos de preço, qualidade, disponibilidade ou seletividade; • Possibilitar uma diferenciação em relação à concorrência; • Ser de difícil imitação. Em síntese, a competência organizacional consiste de um conjunto integrado de recursos – humanos, tecnológicos, organizacionais – inerentes à empresa, que são construídos e aplicados no dia a dia dos processos produtivos. Ela resulta de uma articulação de recursos valiosos, difícil de ser imitada pela concorrência por ser fruto de um saber fazer individual e coletivo, integrado a sistemas diferenciados de produção, informação e comunicação que conferem vantagem competitiva à empresa. Le Boterf (2003), Prahalad e Hamel (1990) ressaltam que a competência organizacional não pode ser vista como a mera soma das competências de seus membros, mas sim como a qualidade da combinação dos vários recursos. À medida que a organização desenvolve continuamente sua competência essencial, ela pode expandir sua atuação no mercado, criar novos espaços de competição e sustentar níveis elevados de desempenho. 2.2) Gestão de pessoas como diferencial competitivo A abordagem de competência organizacional como diferencial competitivo tem exercido bastante atratividade sobre a gestão empresarial e a gestão estratégica de pessoas. A competência individual e a competência organizacional formam uma via de mão dupla. Desenvolvimento organizacional e desenvolvimento humano decorrem de um processo contínuo e circular de retroalimentação. Conforme Dutra (2002), empresas e indivíduos trocam competências continuamente: A organização transfere seu patrimônio de conhecimentos para as pessoas enriquecendo‐as e preparando‐as para novas situações profissionais e pessoais, quer na organização, quer fora dela. As pessoas, ao desenvolverem sua capacidade individual, transferem para a organização seu aprendizado, capacitando a organização para enfrentar novos desafios. (DUTRA, 2002, p. 126) Diversas empresas têm recorrido à utilização do modelo de gestão de competências como um princípio unificador para gerenciar as capacidades internas. Estas devem ser mobilizadas e desenvolvidas para sustentar a estratégia de negócios. A partir das competências organizacionais são definidas as competências requeridas pelas unidades ou áreas funcionais, as quais, por sua vez, são desdobradas em competências requeridas pelos indivíduos, aí incluídas as competências gerenciais. É na dimensão competência individual que os sistemas de gestão de pessoas, por mérito, estruturam os processos e práticas de RH. A figura a seguir ilustra o alinhamento entre competência organizacional, competência funcional e competência individual. FIGURA 2 ‐ Alinhamento de competências Fonte: MASCARENHAS, 2009, p. 192. No modelo de gestão de competências, os processos de gestão de pessoas devem oferecer práticas consistentes que possam mobilizar o comportamento e o engajamento das pessoas, no sentido de alcançar patamares elevados de desempenho. O tradicional modelo de descrição de cargos, que antes organizava os subsistemas de RH, sofreu transformações substanciais e progressivamente vem sendo substituído por metodologias alternativas que enfatizam resultados, comportamentos, desenvolvimento e carreira baseados em complexidade de entregas. Para muitos autores, a emergência do modelo de competências se deve à necessidade de corrigir distorções entre os sistemas fechados de gestão de pessoas, às exigências de novas formas de trabalhar, de se relacionar com parceiros e clientes organizacionais. Em ambientes de trabalho flexíveis e de baixa previsibilidade, as qualificações profissionais tornam‐se mais complexas do que as exigidas por tarefas rotineirase estáticas. As empresas precisam de funcionários polivalentes e multifuncionais, com poder de agir para responder aos desafios crescentes do trabalho. A qualificação formal e a experiência passada passam a ter uma importância relativa, pois, a priori, não são garantia de entrega de resultados. Como aponta Ruas (2005), o que tem valor é o “fazer acontecer”. O colaborador precisa saber utilizar suas capacidades e querer convertê‐las em resultados valiosos para a empresa. Com isso, habilidades cognitivas e atributos atitudinais, tais como, capacidade de análise e solução de problemas, iniciativa, disposição em colaborar e aprender em grupo, ganham relevância para o desempenho competente. A capacidade de entrega passa a ser o critério para a tomada de decisões em relação ao funcionário, e não a descrição formal de suas funções ou tarefas. Por exemplo, no sistema de cargos não é possível valorizar de forma diferenciada dois empregados que exercem uma mesma função, uma vez que um deles tem capacidade e iniciativa para prevenir problemas, enquanto o outro cumpre estritamente as tarefas do cargo e as ordens do chefe. Como vimos acima, a vantagem competitiva é fruto de um saber fazer organizacional difícil de ser imitado. É possível introduzir novas tecnologias, importar melhores práticas, contratar profissionais talentosos e, ainda assim, não se construir uma competência organizacional capaz de gerar um diferencial competitivo. A geração de resultados superiores por meio do capital humano só se realiza se as pessoas se envolverem nos processos produtivos e aplicarem suas competências para buscar soluções criativas, integrando‐as às rotinas organizacionais. O espaço, por excelência, de construção de capacidades organizacionais é o contexto específico de trabalho no qual indivíduos atuam, aprendem, identificam oportunidades de melhoria e inovação, em contato direto com desafios e problemas. Processos interativos e colaborativos de trabalho viabilizam a exploração de recursos valiosos para desenvolver novas competências, alavancar as já consolidadas. Dessa forma é possível sustentar níveis elevados de resultados empresariais. A expertise individual, isolada, não é suficiente para assegurar a vantagem competitiva. Embora pareça óbvio, vale ressaltar que para a construção da competência organizacional, a ética da colaboração e da confiança deve ser incorporada às políticas e práticas corporativas. É preciso que o profissional passe a pensar para além dos limites da sua função e do seu exclusivo ganho pessoal, e assimile a perspectiva de propósito comum e de benefício mútuo. Essa mudança de modelo mental não é fácil de ser trabalhada, uma vez que a lógica da competição que alimenta o mercado se reproduz nos ambientes de trabalho, onde, muitas vezes, a busca do benefício pessoal acaba se sobrepondo ao ganho coletivo. Em síntese, a vantagem competitiva de uma empresa depende de complexas inter‐relações entre diversos recursos, imbricados na arquitetura e no fazer organizacional, que resulta em uma espécie de barreira contra a cópia ou transferência para outras empresas. 3) Considerações finais A discussão sobre os modelos estratégicos de gestão de pessoas mostra que o grande desafio para a gestão empresarial é adaptar‐se a uma nova ordem econômica, baseada em conhecimento. A grande tarefa da gestão de pessoas é superar os desafios para conduzir a transição de um modelo gerencial baseado em comando e controle, produção em série, trabalho repetitivo e estável, para a construção de uma estrutura de negócios sustentada por conhecimento, inovação e aprendizagem continuada. Na ampla categoria do “trabalho do conhecimento”, a tradicional empresa eficiente, voltada para a manutenção das rotinas e da máquina empresarial, se vê agora diante da necessidade de se transformar na organização que aprende. É necessário articular estratégia de negócios e recursos organizacionais a processos de trabalho que facilitem a aplicação das competências individuais, criando uma cultura de aprendizagem que sustente a competitividade. Nesse cenário, novos papéis e responsabilidades se impõem aos diversos fatores organizacionais. IMPORTANTE Os gestores necessitam de conhecimentos e competências para lidar com ambientes de negócio instáveis e gerar resultados por meio do trabalho de suas equipes. Um novo papel se faz necessário: o do líder educador, que apoia, estimula as pessoas a assumirem responsabilidades, tomarem iniciativas, entregarem resultados e crescerem. Ao indivíduo, cabe a responsabilidade de gerenciar sua própria carreira, hoje entendida como educação para a vida toda e não como emprego para a vida toda. A motivação para gerar resultados e desenvolver competências depende muito do próprio trabalhador. A organização não é mais a única responsável pela carreira e o crescimento dos seus profissionais. Finalmente, aos gestores de RH cabe essencialmente o papel de promover a capacidade de mudança da empresa, a fim de incorporar modelos de gestão de pessoas que possam sustentar a performance do negócio, promover a vantagem competitiva e fidelizar os clientes. O RH tem impacto estratégico se for capaz de: aumentar a capacidade de aprendizagem e o conhecimento dos colaboradores; desenvolver as competências do negócio; preparar líderes para o futuro; articular e aperfeiçoar os sistemas da empresa. Referências: BOM SUCESSO, Edina. Até quando? Tortura psicológica e assédio moral no trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2012. DUTRA, Joel Souza. Gestão de pessoas: Modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2002. LE BOTERF, Guy. Desenvolvendo as competências dos profissionais. Porto Alegre: Bookman, 2003. MASCARENHAS, André Ofenhejm. Gestão estratégica de pessoas: Evolução, teoria e crítica. São Paulo: Cengage Learning, 2009. PRAHALAD, C. K; HAMEL, Gary. The core competence of the corporation. Harvard Business Review , v. 68, n. 3, p. 79‐91, May/June 1990. RUAS, Roberto. Gestão por competências: Uma contribuição à perspectiva estratégica da gestão de pessoas. In: RUAS, Roberto. et al. Aprendizagem organizacional e competências. Porto Alegre: Bookman, 2005. ULRICH, Dave. Os campeões de recursos humanos: Inovando para obter os melhores resultados. São Paulo: Futura, 2002. Unidade 1 ‐ Seção 2 Podcast: Conhecimento e desempenho “Não importa o quanto os funcionários pareçam saber, o difícil é conseguir que façam o que é preciso ser feito”! Essa é uma queixa bastante comum entre gestores e profissionais de RH. Por que isso acontece com frequência? Quais os fatores de ordem individual, gerencial e organizacional que podem interferir na entrega de resultados? Veja em: https://player.vimeo.com/video/136609426 Unidade 1 ‐ Seção 3 Vídeo: Modelos estratégicos de gestão de pessoas Nesta unidade vamos trabalhar os princípios da gestão estratégica de pessoas e sua importância para a geração de resultados organizacionais, e a obtenção de vantagens competitivas. A conquista de uma posição no mercado exige da organização e de seus gestores um esforço considerável para alcançar resultados econômicos e manter um desenvolvimento sustentável ao longo do tempo. Já se tornou lugar comum afirmar que a inovação contínua depende de um modelo de gestão baseado em conhecimentos, desenvolvidos pelos membros da organização. Para conquistar um diferencial competitivo, é necessário articular estratégia de negócios, recursos organizacionais e processos de trabalho que facilitema aplicação das competências dos indivíduos. Quanto mais competitivo o ambiente de negócios, maior a necessidade de profissionais qualificados e comprometidos em gerar resultados para organização, e motivados a aprender e trabalhar em equipe. Como desenvolver competências e mobilizar o comprometimento das pessoas na direção dos resultados organizacionais? Esse é o grande desafio para a gestão estratégica de pessoas: conciliar as expectativas e os anseios dos indivíduos com os objetivos organizacionais. Pensar e atuar estrategicamente exige mais do que competência técnica. É necessário gerenciar processos e promover o desenvolvimento de indivíduos, e equipes nos ambientes de trabalho. Isso representa um desafio pessoal, mesmo para gestores experientes. Ao assumir um papel estratégico, o RH passa a atuar como um parceiro de negócios e um agente de mudanças. Sua principal tarefa é criar uma arquitetura organizacional, ou seja, uma infraestrutura de processos de trabalho eficientes, sistemas integrados de gestão de pessoas e competências gerenciais que possam dar suporte à realização da estratégia empresarial. Veja em: https://player.vimeo.com/video/136609427 Unidade 2 Desenvolvimento de pessoas e desenvolvimento organizacional Conforme estudamos na Unidade 1, em um modelo de gestão de pessoas com foco estratégico, os processos de RH são concebidos e gerenciados de modo a conciliar as necessidades do negócio com as necessidades decorrentes em termos de pessoas, incluindo: competências individuais necessárias para sustentar a capacidade organizacional, processos integrados de captação, desenvolvimento e valorização das pessoas. Na Unidade 2 iremos trabalhar os elementos que compõem um sistema de desenvolvimento de pessoas, estrutura de carreira, critérios de acesso e progressão, avaliação de desempenho, carreira e autodesenvolvimento, papel do gestor no engajamento e desenvolvimento de colaboradores. O objetivo da unidade é analisar procedimentos que articulam o desenvolvimento das pessoas aos objetivos estratégicos do negócio, de modo a sustentar a capacidade organizacional. Para lembrar Tópicos abordados nesta unidade: 1) Introdução 1.1) O sistema de gestão de carreira 1.2) Estrutura de carreira 1.3) Novas concepções de desenvolvimento e carreira 2) Construção de um sistema de desenvolvimento 2.1) A avaliação de desempenho 2.2) Carreira e autodesenvolvimento 2.3) Etapas do planejamento da carreira 2.3.1) Aspirações, conquistas e qualidades pessoais 3) Papel do gestor no desenvolvimento do colaborador 3.1) O papel de coach 3.2) Crenças e atitudes do gestor no papel de coach 3.3) Considerações finais Estimule seu conhecimento prévio refletindo sobre as questões abaixo: Quais são as expectativas das pessoas em relação à sua carreira e seu desenvolvimento profissional? Como a própria pessoa pode construir seu crescimento profissional? Como o gestor pode promover o desenvolvimento de seus colaboradores? Para compreender Unidade 2 ‐ Seção 1 1)Introdução O tema desenvolvimento humano nas organizações deve ser compreendido sob uma perspectiva de desenvolvimento mútuo. A fim de garantir sua capacidade de competir e se diferenciar no mercado, as organizações necessitam investir no desenvolvimento das pessoas e na retenção dos colaboradores talentosos, com desempenho elevado e dispostos a aprender e crescer. Do lado dos indivíduos, cada vez mais crescem as expectativas de aprendizagem e de oportunidades de desenvolvimento profissional que possam sustentar a carreira, e aumentar as possibilidades de inserção no mercado de trabalho. Mesmo em cenários cada vez mais voláteis e imprevisíveis, é preciso que a organização defina diretrizes e procedimentos para gerenciar, de forma consistente, um sistema de desenvolvimento e carreira. Este deve comunicar com clareza as perspectivas de crescimento profissional, os critérios para avançar na carreira e os instrumentos formais, e informais, que disponibiliza para o desenvolvimento de seu pessoal. Em síntese, um sistema de desenvolvimento deve incluir os seguintes elementos: Uma estrutura consistente de carreira. Instrumentos para gerenciar a carreira dos indivíduos. Critérios para planejar o processo de sucessão. Ações formais e informais para promover o desenvolvimento das pessoas. Em resumo, o sistema de desenvolvimento das pessoas deve ser capaz de gerar ganhos recíprocos para a organização e para os colaboradores. A construção desse sistema deve ser pautada pela transparência dos critérios do que é esperado do colaborador, a mensuração de sua contribuição e suas perspectivas de crescimento. 1.1) O sistema de gestão de carreira O caso a seguir mostra o desafio de uma empresa em crescimento que se viu diante da necessidade de criar processos sistematizados de gestão de pessoas. Caso contrário, perderia profissionais talentosos, com alto nível de capacitação, que representavam um recurso‐chave para o sucesso do negócio. A empresa X atua no setor de projetos de engenharia e conta com uma imagem de excelência junto a clientes e concorrentes, fruto da expertise técnica de seus fundadores, alta qualidade e valor tecnológico agregado dos serviços prestados, que a colocam em situação de vantagem no seu segmento de mercado. Com um corpo técnico de altíssimo nível, composto de profissionais especialistas, mestres e doutores, a capacitação é um fator‐ chave para sua sustentabilidade. Além do alto nível técnico de suas equipes, a empresa investe continuamente em inovação e tecnologia de ponta, que lhe garantem potencial competitivo. Uma extensa pesquisa de clima, aplicada em todos os grupos funcionais da empresa, revelou um grau elevado de insatisfação com várias dimensões da gestão de pessoas. Sobretudo no que se refere à carreira, reconhecimento e remuneração. Os profissionais do grupo técnico apontaram como um fator altamente positivo as oportunidades de aprendizagem com a experiência prática e o acesso à novas tecnologias. A orientação e o repasse de conhecimentos, por parte do pessoal sênior da empresa, representavam um diferencial de mercado muito atrativo para esse grupo. Contudo, a falta de um plano de carreira e de critérios transparentes de remuneração, e acesso a seminários e cursos representaram os fatores mais negativos para esses profissionais. Sem dispor de diretrizes e procedimentos consistentes para gerenciar a carreira e o desenvolvimento de seus profissionais, os dirigentes da empresa tomavam decisões subjetivas, pontuais e casuísticas, que geravam enorme frustração junto ao seu pessoal. O caso da empresa X ilustra bem os dilemas e desafios de uma empresa de pequeno porte em fase de crescimento acelerado. Apesar do poder da empresa em atrair profissionais altamente qualificados, os desequilíbrios internos na gestão de pessoas representavam uma ameaça para a retenção do corpo técnico e, consequentemente, um risco para a manutenção de seus resultados e sustentação de sua vantagem competitiva. 1.2) Estrutura de carreira A estrutura de carreira é o que dá forma e consistência ao sistema de desenvolvimento das pessoas. Ela define o conjunto de posições, os requisitos de acesso a essas posições, as trajetórias possíveis ‐ carreira gerencial, técnica, operacional ‐ os níveis de progressão e as formas de remuneração. No tradicional sistema de cargos e salários, as trajetórias de carreira se pautam pelo conceito de linha hierárquica, no qual o crescimento profissional é assegurado pelaascensão a cargos de maior complexidade, culminando com os cargos de nível gerencial. No entanto, esse sistema é rígido e não atende à complexidade dos contextos de negócios, nem às demandas de flexibilidade e de respostas rápidas. Entre os problemas e disfunções da gestão de carreiras e desenvolvimento baseada no sistema de cargos, pode‐se apontar: O desenho das carreiras é definido pela estrutura organizacional. O foco é nas atribuições descritas nos cargos. A estrutura de cargos não é articulada com os objetivos organizacionais. As pessoas tendem a se apegar às suas funções, o que dificulta a flexibilidade. O cargo é mais valorizado (remuneração, benefícios, participação em lucros) do que o desempenho e a contribuição para resultados. Em resumo, a estrutura de carreira baseada em linha hierárquica provoca fragmentação do trabalho, dificuldades de integração entre áreas e distorções nos sistemas de remuneração e desenvolvimento. A ênfase no mercado, somada à introdução da tecnologia, provocaram transformações na maneira como o trabalho é organizado e coordenado, e no modo como as pessoas produzem e se relacionam. As empresas são pressionadas a rever seus processos de trabalho, seus sistemas de gestão de pessoas e buscar alternativas compatíveis com os valores de proximidade do cliente, empreendedorismo, foco em inovação e resultados. Um dos mantras da gestão contemporânea é o famoso “pense fora do quadrado”, que significa ver a carreira e o trabalho para além das fronteiras do cargo. Essa mensagem vale tanto para dirigentes que pretendem implantar uma cultura de inovação, quanto para colaboradores que desejam aumentar sua empregabilidade. 1.3) Novas concepções de desenvolvimento e carreira SAIBA MAIS Peter Drucker, pioneiro nos estudos sobre o trabalho do conhecimento, afirmou em seu livro, The Age of Discontinuity, de 1969: “Tornar o trabalhador do conhecimento produtivo será a grande missão da administração deste século, assim como tornar produtiva a mão‐de‐ obra braçal foi o principal desafio do século passado.” Hoje está em funcionamento um modelo de organização com princípios de produção bem diferentes do modelo de produção em massa que caracterizou a era industrial, em que preponderava a lógica da oferta de produtos: primeiro se produzia para depois vender. Na economia atual a lógica inverteu, a demanda vem primeiro: é preciso vender para depois produzir. O consumidor final é quem “comanda” a produção. A capacidade de diferenciação de produtos e serviços, e a velocidade de resposta às demandas de inovação e qualidade têm obrigado as empresas a buscarem novas formas de organizar o trabalho. O cliente torna‐se o foco central das decisões de planejamento, execução e do controle dos resultados. A relação entre chefes e subordinados modifica‐se: os colaboradores ganham mais autonomia e os processos de trabalho passam a ser projetados de forma a favorecer o trabalho em equipe, em substituição ao trabalho fragmentado, individualizado, com posições especializadas e hierarquias bem definidas. Em ambientes voláteis da nova economia, o desenvolvimento profissional e a carreira não podem mais ser planejados em termos de uma progressão estável, previsível, baseada unicamente em critérios de antiguidade ou realização de cursos que enriquecem o currículo, mas que não têm, necessariamente, uma relação com o desempenho competente. Dutra (2002, p.102) ressalta que as pessoas precisam ser preparadas para trabalhar em ambientes cada vez mais complexos e exigentes: “Podemos definir o desenvolvimento das pessoas como capacidade para assumir atribuições e responsabilidades em níveis crescentes de complexidade”. 2) Construção de um sistema de desenvolvimento As pessoas representam, cada vez mais, um fator de sustentação da competitividade da organização. Com isso, cresce a necessidade de modelos de gestão que possam alinhar desenvolvimento pessoal e profissional ao desenvolvimento das capacidades da organização. Isso representa um desafio especial para a gestão de pessoas, principalmente para a gestão de carreiras e da remuneração que devem contemplar, de forma conjunta, os interesses corporativos e os individuais. O caso da empresa X ilustrou bem esse desafio. Se durante décadas o conceito de carreiras e remuneração esteve associado a uma sequência de cargos ocupados ao longo da vida, hoje ela vem sendo associada à ideia de capacidades que se desenvolvem para níveis mais elevados de complexidade, como define Dutra (2002). O modelo de competência, mencionado na Unidade 1, vem sendo progressivamente incorporado à gestão estratégica de pessoas por sua natureza integradora dos processos de RH ao desenvolvimento organizacional. As competências individuais são derivadas da estratégia organizacional e a carreira não está atrelada à estrutura organizacional. Comparado com o plano de cargos, na gestão por competência o foco é na capacidade de entrega, ou seja, o quanto a pessoa realiza e o quanto agrega valor. No quadro abaixo apresentamos uma visão geral de como os processos de gestão de pessoas se articulariam nesse modelo. QUADRO 1 ‐ Articulação dos processos de gestão de pessoas por competências Fonte: MASCARENHAS, 2008, p. 200. (Adaptado). Em síntese, como mostra o quadro acima, o sistema de desenvolvimento baseado em competências articula, de forma integrada, os processos de gestão de desenvolvimento com base na capacidade de entrega e na contribuição para resultados. 2.1) A avaliação de desempenho Os processos de avaliação de desempenho sempre fizeram parte da gestão de RH. Nos moldes tradicionais, as metas individuais ou grupais eram definidas pelas chefias. Ao final de um determinado período, o desempenho do subordinado era avaliado pelo próprio chefe. Em geral, as conclusões sobre o desempenho eram registradas em um formulário e encaminhadas ao RH. Este, por sua vez, tomava as decisões sobre os funcionários, promoção, remuneração, treinamento, desligamento, etc, dependendo do sistema adotado pela empresa. Essa tradição sempre esbarrou em resistências e obstáculos para sua operacionalização. Os gerentes das áreas, responsáveis pelas avaliações, enfrentavam dificuldades e dilemas ao julgar os resultados e os comportamentos de seus subordinados, sobretudo ao comunicar‐lhes suas conclusões. Soma‐se a isso o alto grau de subjetividade dos procedimentos e ferramentas de avaliação o que, necessariamente, gerava questionamentos sobre a validade do processo, colocando em cheque sua utilidade. Em consequência, o processo tornava‐se uma formalidade incômoda, a ser cumprida para atender às exigências do RH. PERGUNTA O que muda no sistema de avaliação com base no conceito de competências? Essencialmente, a aplicação prática dos resultados para o desenvolvimento futuro e também a maneira como o processo é conduzido. O objetivo é identificar as lacunas entre a competência esperada e a competência apresentada. Tanto gestores quanto colaboradores têm conhecimento dos critérios que são utilizados para mensurar o desempenho, o que reduz a subjetividade do processo. O importante é compreender o que facilita e o que limita a entrega efetiva. A partir dessa compreensão são definidas as ações de desenvolvimento necessárias para promover a excelência no desempenho. De acordo com Mascarenhas (2009): Se a avaliação de desempenho tradicional enfatiza (mesmo que implicitamente) a “avaliação” e o “controle” dos comportamentos dos indivíduos (que deveriamadotar os papéis organizacionais que lhes eram prescritos), a avaliação de competências enfatizaria a “análise” e a promoção do “desenvolvimento”. Na realidade, pesquisas mostram que a aprendizagem e as melhorias no desempenho podem ser mais diretamente associadas à construção de expectativas positivas decorrentes da negociação conjunta de metas e do estímulo ao desenvolvimento do que da avaliação do desempenho passado. (MASCARENHAS, 2009, p. 208) Uma ferramenta que vem sendo bastante utilizada na avaliação de competências é a metodologia 360 graus. Essa ferramenta já é amplamente conhecida e vem sendo progressivamente incorporada aos sistemas de gestão de desempenho do RH, sobretudo os que dão ênfase ao desenvolvimento e à aprendizagem. SAIBA MAIS Por meio da avalição 360 graus, o colaborador tem um quadro ampliado sobre seu desempenho a partir da perspectiva daqueles que fazem parte da sua rede de relacionamentos: superiores, colegas de equipe, subordinados, fornecedores e clientes. Os parceiros de trabalho que interagem diretamente com o profissional podem observar e, principalmente, vivenciar o seu desempenho, entendido como as características e a qualidade de suas entregas para o desempenho coletivo. É certo que os “olhares externos” não estão isentos de subjetividade e nem imunes às distorções inerentes à percepção humana. Mas, à medida que há um consenso sobre as competências requeridas para determinada função, e, principalmente, se estas podem ser observadas e vivenciadas nos processos de trabalho, o colaborador poderá dispor de informações válidas. Isso lhe permite comparar sua auto avaliação com a percepção dos colaboradores diretos. A metodologia 360 graus diminui o peso da avaliação do chefe e contribui com uma riqueza de subsídios que ajudam a identificar pontos de melhoria e traçar ações de desenvolvimento. Na prática, a avaliação de competências é um conjunto de procedimentos que estimula o colaborador a construir um plano de desenvolvimento de suas competências. Tal conjunto será negociado e implementado concomitantemente com o seu líder e, em alguns casos, com o apoio de um coach externo. Para efeito de desenvolvimento e carreira, o que conta é a entrega de resultados que têm valor para a alavancagem das capacidades da organização. Do ponto de vista do indivíduo, o amadurecimento e a aprendizagem são as alavancas da carreira. À medida que desenvolve seu repertório de competências, o indivíduo ascende a níveis mais complexos de carreira. O quadro a seguir mostra a descrição da competência, identificada como competência essencial para a estratégia de negócios de uma organização do segmento industrial. Essa competência foi graduada em cinco níveis de complexidade de entrega, desde o nível inicial, de aquisição, até o nível de excelência. QUADRO 2 ‐ Orientação para o cliente Fonte: Elaborado pela autora. Em resumo, a avaliação de desempenho ocupa uma posição central na gestão do desenvolvimento do indivíduo. A graduação em níveis de complexidade das entregas sinaliza, de forma clara, o que é esperado em termos de contribuição para os resultados e, consequentemente, os critérios para o crescimento na carreira. As ferramentas de avaliação de desempenho têm um foco na identificação de lacunas de desempenho e sobretudo no planejamento de ações necessárias para supri‐las. 2.2) Carreira e autodesenvolvimento Como vimos nos tópicos anteriores, cabe à organização definir uma estrutura de carreira que dê forma e consistência ao sistema de desenvolvimento das pessoas, que comunique com clareza as perspectivas de crescimento do profissional e os requisitos necessários para que isso ocorra. Vimos também que a progressão na carreira está cada vez mais vinculada à capacidade do profissional de converter seus conhecimentos e habilidades em resultados de valor para a empresa. Se de um lado a organização é responsável pela definição de um sistema de administração de carreiras, cabe ao colaborador a responsabilidade pela gestão da sua carreira e do seu desenvolvimento profissional. No novo contrato de trabalho, o caminho do desenvolvimento não está mais associado a um vínculo de emprego estabelecido com uma única organização. Assim, o direcionamento da carreira não pode ser pensado a partir do organograma de uma empresa e de sua estrutura de cargos. A estrutura de hoje provavelmente não será a mesma no futuro. A carreira, atualmente, tem origem nos próprios interesses, competências e objetivos do indivíduo. Quanto mais consciente de suas capacidades, aspirações e valores, maior a possibilidade do profissional se engajar em uma organização alinhada ao seu perfil, no qual os interesses das duas partes poderão ser contemplados e trabalhados em conjunto. Muitas pessoas resistem ao planejamento da carreira e só se conscientizam da necessidade de refletir sobre seu futuro e suas escolhas profissionais quando confrontadas com situações extremas: perda do emprego, desgaste emocional, cobranças, pressões de familiares e parceiros. IMPORTANTE Não importa se a motivação para construir um projeto profissional venha de pressões externas ou de um desejo espontâneo da própria pessoa. O importante é dar início ao processo e construir um projeto consciente, que tenha como ponto de partida as próprias referências da pessoa: competências, interesses e valores. Para isso, é necessário percorrer algumas etapas que incluem: autoconhecimento, definição de objetivos de carreira e construção de um plano de autodesenvolvimento. 2.3) Etapas do planejamento da carreira Um projeto consistente de carreira depende do autoconhecimento, da definição dos próprios objetivos profissionais e da definição de metas de desenvolvimento. Esses elementos‐chave serão analisados nos tópicos a seguir. Etapa 1: Autoconhecimento A etapa de autoconhecimento consiste na reflexão sobre o significado do trabalho na vida pessoal, nas conquistas e aprendizagens significativas que marcaram a trajetória profissional e na descoberta sobre o que, de fato, é determinante para a satisfação na carreira. Por exemplo: autonomia, segurança, possibilidade de criar, equilíbrio trabalho e vida pessoal, aperfeiçoamento em um campo de especialização, contribuição para causas sociais, dentre outras tantas possibilidades. FIGURA 1 ‐ Conhece‐te a ti mesmo Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Una, 2015. 2.3.1) Aspirações, conquistas e qualidades pessoais Nem sempre nossas aspirações profissionais são de fato nossas, sintonizadas com as nossas convicções e desejos mais profundos. A quem pertencem nossos sonhos? À família? À empresa? À cultura oficial? Muitas frustrações e decepções pessoais se devem à escolhas de carreira motivadas por ideais da família ou por padrões culturais de realização e sucesso que entram em conflito com o modo de ser da pessoa, seu projeto de vida e sua satisfação subjetiva. É preciso coragem e determinação para descobrir aonde se quer chegar, o que se quer ser e os caminhos que o conduzem até lá. SAIBA MAIS O pesquisador e consultor Edgard Schein, em seus estudos sobre a dinâmica da carreira, argumenta que esta deve ser entendida como um processo de interação da pessoa com outros espaços da vida. Ele desenvolveu o conceito de âncora de carreira, que é uma combinação de competências, valores e interesses que identificamos em nós mesmos e que sustentam nossa identidade profissional. Através desseconceito pode‐se contribuir para as reflexões sobre o nosso perfil e auxiliar em nossas decisões de carreira. SAIBA MAIS Conheça suas âncoras de carreira. Você pode baixar o questionário no Google: Âncoras de Carreira. O projeto de carreira deve ser construído sobre uma base de forças pessoais e profissionais. Assim como as organizações definem sua estratégia de negócios a partir de seus pontos fortes e distintivos, pode‐se aplicar o mesmo princípio de forças e qualidades pessoais para a construção do projeto profissional. O ponto de partida é a identificação desses recursos pessoais: competências, características, conhecimentos que mais contribuíram para as conquistas pessoais e profissionais até o momento atual. Nesta etapa é importante identificar e descrever experiências de trabalho, vivências acadêmicas e participação em projetos (remunerados ou não) em que a aplicação desses recursos pessoais foi decisiva para o êxito dessas ações. A consciência das próprias forças fortalece a autoestima e propicia um foco para as decisões sobre a carreira. Antes de empreendermos uma ação importante, assumir uma nova posição na carreira, por exemplo, é preciso colocar nossas forças a serviço dos nossos propósitos e gerenciá‐ las de modo produtivo. Por mais paradoxal que possa parecer, existe uma relação muito estreita entre forças e fraquezas, entre o comportamento produtivo e o ineficaz. Nossas forças tornam‐se improdutivas quando usadas de forma exagerada. Por exemplo, o cuidado com a qualidade, com o capricho, com o fazer bem feito é uma virtude muito bem vinda nos contextos profissionais. No entanto, essa virtude em excesso transforma‐se em perfeccionismo que, muitas vezes, inibe a delegação de tarefas ou impõe, a quem convive com a pessoa, padrões de excelência inatingíveis. O comportamento excessivo pode ter consequências indesejáveis quando não se reconhece. Discernir como usamos nossas forças e compreender o efeito delas sobre os outros é essencial para gerenciá‐las produtivamente. Etapa 2: Estabelecimento de objetivos.de carreira A questão fundamental nesta etapa é indagar‐se sobre a própria missão profissional: “A que me proponho na minha carreira?” “Onde e em que tipo de atividade posso usar minhas forças de forma produtiva e realizar meus objetivos pessoais e profissionais?” “Em que áreas preciso concentrar minhas aprendizagens, a fim de me preparar para alcançar meus objetivos de carreira?” Como vimos no tópico anterior, o autoconhecimento é o ponto de partida para responder a essas indagações. A reflexão sobre os propósitos de carreira propicia um ponto de partida consistente para definir objetivos, traçar planos de desenvolvimento e identificar oportunidades coerentes com esses propósitos, seja em uma organização, seja como prestador de serviços, ou ainda, como empreendedor do próprio negócio. Quando o projeto de carreira inclui a empresa atual, é importante tomar conhecimento das oportunidades que a empresa oferece e dos requisitos exigidos para o desempenho da função almejada. O passo seguinte consiste na análise de lacunas entre as competências atuais e as exigidas para a nova função, ou para o próximo nível de um determinado eixo de carreira. A transição para a carreira gerencial é a que apresenta os maiores desafios. A passagem de gerenciar a si mesmo para gerenciar os outros exige o domínio de competências mais complexas e, ao mesmo tempo, o desapego das tarefas e atividades próprias do nível anterior de um colaborador individual. Hoje as empresas buscam definir com clareza: os critérios de acesso à carreira gerencial, os procedimentos para identificar profissionais com potencial para progredir na carreira, o conjunto de habilidades específicas para cada estágio da carreira gerencial, as experiências e aprendizagens necessárias para desenvolver as competências ao longo do tempo. Etapa 3: Definição de metas de desenvolvimento Definidos os objetivos de carreira e analisadas as competências necessárias para a nova função, é o momento de traçar um plano de desenvolvimento visando à aquisição das competências requeridas para assumir novas responsabilidades e atribuições. Alguns passos são necessários para identificar, com clareza, o que precisa ser desenvolvido: Quais são os resultados que devo gerar na nova posição: Resultados operacionais? Resultados relativos a relacionamentos internos e externos? Resultados relativos à gestão de pessoas? Resultados relativos ao aperfeiçoamento técnico? Quais são as minhas forças em cada uma das áreas de resultados? Em quais áreas críticas devo concentrar meu aprendizado, a fim de apresentar resultados efetivos? A partir das análises acima, é necessário selecionar alguns pontos críticos que serão as metas prioritárias a serem alcançadas. O plano de ação deve conter as ações concretas para alcançar as metas, os prazos e os critérios de mensuração dos resultados. O plano de ação deverá ser negociado com o superior imediato, o qual poderá contribuir para a revisão das prioridades de desenvolvimento e programar, em conjunto, as ações e oportunidades de aprendizagem. 3) Papel do gestor no desenvolvimento do colaborador As organizações de sucesso sabem que o desenvolvimento contínuo de suas equipes é um objetivo a ser constantemente perseguido. Para elas, o foco da gestão não está somente no alcance de resultados financeiros de curto prazo, mas no desenvolvimento sustentado de sua competitividade, que exige visão de médio e longo prazo, e investimento na aprendizagem de seus colaboradores. PERGUNTA Como a organização pode promover o aprendizado de suas equipes? Quem é o responsável pelo desenvolvimento das pessoas? Em parte, esse é um papel do RH. Porém, grande parte do aprendizado profissional se dá no próprio contexto de trabalho, por meio de práticas e iniciativas do líder em contato direto com os membros de suas equipes. O exercício desse papel depende da capacidade do gestor de motivar seus colaboradores e estruturar ações de desenvolvimento que preparem as pessoas para atender às demandas atuais e futuras do negócio. 3.1) O papel de coach Os resultados das pesquisas sobre satisfação no trabalho confirmam, cada vez mais, que os funcionários sentem‐se satisfeitos e engajados com suas atividades quando desenvolvem uma relação de confiança e parceria com seus líderes, podendo contar com seu apoio para aprender e se desenvolver na carreira. IMPORTANTE Cada pessoa tem motivações e formas de aprender que lhes são particulares e exclusivas. O papel fundamental de um líder‐coach é ajudar o colaborador a descobrir sua própria motivação, orientá‐lo nos seus objetivos de desenvolvimento e encorajá‐lo a atingir o seu pleno potencial. O contexto do trabalho é um espaço por excelência de desenvolvimento e aprendizagem. Por meio de ações educativas constantes e inerentes ao seu dia a dia, o gestor pode criar oportunidades de desenvolvimento contínuo dos colaboradores e apoiá‐los no sentido de maior autonomia, responsabilidade e eficácia. O aprendizado deve ser visto como uma maneira de trabalhar e adquirir conhecimentos, e não como uma atividade isolada que só acontece em ambientes de sala de aula. Um gestor, que também é coach, cria oportunidades de desenvolvimento quando: Estabelece padrões de excelência para o desempenho. Orienta o colaborador para os valores e estratégia de negócios da empresa. Fornece informações sobre a empresa e o papel do colaborador na realizaçãodas metas da organização. Esclarece as expectativas de desempenho e as prioridades. Cria um ambiente de abertura para novas ideias. Responsabiliza o colaborador pelo seu autodesenvolvimento. Investe nos pontos fortes do colaborador. Incentiva o profissional quando ele está desestimulado ou prestes a se engajar em uma missão nova ou difícil. Oferece treinamento adequado e apoio quando necessário. Fornece ao colaborador feedback regular sobre seu desempenho. Em resumo, o ambiente de trabalho se torna mais satisfatório e estimulante quando o gestor se interessa pela carreira dos seus colaboradores, reconhece suas competências e cria oportunidades para que eles apliquem conhecimentos e aprendam continuamente. Para contar com a capacidade e o comprometimento dos colaboradores, é necessário conhecê‐los bem: seus interesses, competências e necessidades de desenvolvimento, para que possam assumir responsabilidades mais complexas. 3.2) Crenças e atitudes do gestor no papel de coach Desempenhar um papel de coach requer do gestor comprometimento e entusiasmo genuíno com o desenvolvimento das pessoas. Assim, seus valores e crenças são os pilares que sustentam a coerência e a autenticidade do seu papel de educador. Um ambiente de aprendizagem tem a ver com o entusiasmo em compartilhar experiências e conhecimentos. Culturas organizacionais baseadas no poder levam as pessoas a reter informações, a competir com colegas pelos incentivos e benefícios ao invés de compartilhá‐las, e colocá‐las a serviço da aprendizagem coletiva. O líder‐coach acredita na capacidade das pessoas em assumir responsabilidades e em crescer no plano pessoal e profissional e, sobretudo, vê seus colaboradores como parceiros e elementos fundamentais para o sucesso da área e da empresa. SAIBA MAIS Alguns gestores sentem dificuldades de agir como coaches porque acreditam que as pessoas precisam ser tuteladas e controladas. Outros não delegam autoridade porque têm receio de perder poder ou não confiam na capacidade das pessoas de caminharem com autonomia e responsabilidade. Outros têm uma necessidade compulsiva de estar sempre na ação e, por isso, não conseguem reservar tempo para ouvir e orientar o colaborador. Ao assumir o compromisso com o desenvolvimento das pessoas, o gestor constrói as bases para o desenvolvimento sustentado da empresa. Ele tem consciência de que a construção da capacidade organizacional não depende apenas de suas conquistas e resultados individuais, mas da capacidade e do comprometimento de suas equipes em gerar resultados superiores. Seu foco de desenvolvimento se orienta para o presente e para o futuro. Sua visão de negócios inspira e motiva as pessoas a caminharem com autonomia em busca de objetivos comuns e de melhoria contínua. Reconhece sua responsabilidade de construir o futuro. Empenha‐se em formar sucessores e tem consciência de seu papel‐chave: identificar e desenvolver talentos para ocupar posições estratégicas, sendo assim, construir uma base de capacidades para atender às necessidades futuras do negócio. 3.3) Considerações Finais Nessa unidade trabalhamos a interdependência entre desenvolvimento das pessoas e desenvolvimento da organização. Essa relação é circular e contínua. Quanto mais os indivíduos se desenvolvem, maior a capacidade da organização de alavancar sua vantagem competitiva. Os indivíduos, por sua vez, se beneficiam do patrimônio de conhecimentos de uma organização que é capaz de se manter competitiva, à medida que aumenta seu repertório de competências e suas oportunidades de carreira dentro ou fora da empresa. No fechamento dessa unidade, alguns pontos‐chave merecem ser destacados: Um sistema de desenvolvimento deve conciliar os interesses corporativos e os interesses das pessoas. Cabe à organização definir uma estrutura de carreira que dê forma e consistência ao sistema de desenvolvimento das pessoas, além de comunicar com transparência as perspectivas de crescimento do profissional e os requisitos necessários para a progressão na carreira. No atual sistema de gestão da carreira a progressão profissional depende da capacidade do indivíduo de assumir responsabilidades em níveis crescentes de complexidade, o que não coincide, necessariamente, com a progressão na estrutura hierárquica da empresa. O indivíduo tem um papel central na gestão de sua carreira. Cabe a ele a responsabilidade pelo autodesenvolvimento, o que implica construir um projeto profissional a partir de suas próprias referências: interesses pessoais, competências e valores. O gestor tem um papel fundamental no desenvolvimento dos membros de sua equipe. No próprio contexto de trabalho ele pode identificar e criar oportunidades de desenvolvimento contínuo dos colaboradores, e também apoiá‐los, no sentido de maior autonomia, responsabilidade e eficácia. Referências DRUCKER, Peter. The Ageof Discontinuity: guidelines to our changing society. New York: Harper & Row, 1969. DUTRA, Joel Souza. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2002. MASCARENHAS, André Ofenhejm. Gestão estratégica de pessoas. Evolução, teoria e crítica. São Paulo: Cengage Learning, 2009. Unidade 2 ‐ Seção 2 Animação:O que os profissionais desejam para suas carreiras? A relação entre educação e trabalho vem passando por uma transformação significativa. No modelo tradicional, com base em uma única profissão pela vida toda, o aprendizado ficava restrito a um período de formação seguido por anos de prática. Hoje a ‘educação para a vida toda’ está substituindo ‘um emprego para a vida toda’ como modelo dominante de carreira. As competências profissionais também se modificam. As novas formas de organização do trabalho exigem dos profissionais altos níveis de desempenho. Por isso as organizações valorizam profissionais com capacidade de autodireção, autocontrole, iniciativa, domínio tecnológico, orientação para o mercado e visão sistêmica de seu processo de trabalho. Os indivídos, por sua vez, buscam empresas onde possam adquirir experiências significativas de aprendizagem e possibilidades de crescimento na carreira, sobretudo os mais jovens. Veja em: http://player.vimeo.com/video/136609429 Unidade 2 ‐ Seção 3 Vídeo:Desenvolvimento de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional. A relação entre educação e trabalho vem passando por uma transformação significativa. No modelo tradicional, com base em uma única profissão pela vida toda, o aprendizado ficava restrito a um período de formação seguido por anos de prática. Hoje a ‘educação para a vida toda’ está substituindo ‘um emprego para a vida toda’ como modelo dominante de carreira. Para muitos, um emprego não dura a vida toda. As relações entre chefes e subordinados se modificaram. Além de competência técnica as empresas valorizam profissionais com capacidade de autodireção, autocontrole, iniciativa, domínio tecnológico, orientação para o mercado e visão sistêmica de seu processo de trabalho. A carreira não pode ser pensada em função da estrutura hierárquica de cargos, mas a partir da própria pessoa: seus interesses, seus pontos fortes, suas características, seu projeto de vida. Ela é responsável pelo planejamento da própria carreira. As organizações passam a usar outros tipos de carreira. O profissional cresce à medida que contribui com resultados que agregam valor para o negócio. É a ideia de ganhos recíprocos. Que orientam a carreira: desenvolvimento da pessoa e desenvolvimento organizacional. Veja em: http://player.vimeo.com/video/136609431 Unidade 3 Condições individuais e organizacionais
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