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O processo de comunicação: a linguagem escrita Cris Oliveira Introdução Nesta aula, entenderemos qual a relação que se estabelece entre a comunicação e a lingua- gem escrita, compreendendo a sua necessidade como uma das formas utilizadas para expressar e transmitir mensagens duradouras (MORAES, 2008). Você sabia que é por meio da escrita que conseguimos registrar a nossa história? E que a primeira grande utilidade da escrita foi gravar informações de interesses governamentais entre as cidades? No decorrer deste texto, faremos um trajeto para compreender a escrita como um legado e veremos que nem todas as línguas que existem no mundo apresentam esta modalidade como meio de comunicação. Objetivos de Aprendizagem Ao final da aula, você estará apto a: • entender que a escrita é a representação gráfica da fala; • compreender a escrita como função social. 1 A linguagem escrita A linguagem é composta por elementos distintos, sendo que o mais marcante, e imediato, é a fala. Porém, devemos nos atentar a outro elemento, que está igualmente presente em nossa comunicação: a escrita. FIQUE ATENTO! A primeira questão que devemos entender sobre a escrita é que ela é uma modalida- de arbitrária, ou seja, é uma criação humana, um sistema que foi convencionado a partir da fala, logo, a sua representação é gráfica. Não confunda língua com escrita. Em certo momento da história da humanidade, houve a necessidade da criação de um sis- tema que representasse as ideias e as palavras e, deste modo, permitisse a preservação das infor- mações trocadas, de modo não tão aleatório (TERRA, 1997). SAIBA MAIS! A língua, como vimos, é viva e muda conforme os tempos. Este processo também acontece na escrita. Para se aprofundar no assunto, leia “A linguagem escrita na era da tecnologia: Investigando a informalidade nas comunicações on line”, acesse: <http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/A-LINGUAGEM- ESCRITA-NA-ERA-DA-TECNOLOGIA-neilane.pdf>. Figura 1 – Dos símbolos à representação gráfica dos sons das palavras Fonte: In Green/Shutterstock.com EXEMPLO Imagine uma sociedade que comercializa seus produtos apenas de forma verbal, de uma pessoa para outra. Como fazer valer os acordos se eles não forem escritos? A escrita possibilita um registro permanente tanto para quem se compromete a vender quanto a pagar. Evolutivamente, os primeiros a criarem um sistema gráfico de representação da fala foram os mesopotâmicos, há mais de 5 mil anos. Em seguida, vieram os famosos hieróglifos egípcios e, na sequência, os fenícios, que desenvolveram o que há de mais próximo ao nosso alfabeto. Figura 2– A escrita é a representação gráfica da fala Fonte: Kalomirael/Shutterstock.com Como você pôde observar até aqui, a escrita se consolidou aos poucos, atendendo às neces- sidades de cada povo, em diferentes contextos e tempos. A escrita foi sendo adaptada conforme a “fala” local, por isso, os idiomas costumam possuir influências de diferentes ramificações – como o português, que tem influências notórias do idioma árabe, posto que este povo circulava pela região do Lácio, onde era falado o Latim, precursor das línguas românicas. Esse processo era realizado a partir das necessidades linguísticas e, por consequência, passou por certas normatiza- ções. Dessa forma, ao passo que as primeiras representações gráficas da língua foram surgindo, apareciam também as primeiras gramáticas. No próximo item, vamos entender como se desenvolve a representação gráfica da língua e a sua relação com o signo linguístico. 1.1 O signo linguístico e a representação gráfica da língua Ao utilizarmos a linguagem, percebemos que um dos elementos fundamentais para a efe- tivação do propósito comunicativo é a palavra, cuja representação se dá por meio do signo linguístico (TERRA, 1997). EXEMPLO Imagine um quadro contendo a imagem de um gato, animal quadrúpede, perten- cente à família dos felinos. O que se vê é um signo e não um gato, ou seja, olhamos a imagem. Assim, o signo passa a ter duas unidades distintas, ligadas de maneira arbitrária pelo seu significado e significante. O signo linguístico, conceito que irá auxiliar em nossa compreensão sobre a linguagem escrita, é a representação gráfica e sonora, concretizada com a ajuda de fonemas e letras do alfa- beto, ou seja, realizada a partir dos principais elementos da escrita (TERRA, 1997). Temos, então, que distinguir que a língua falada se faz por meio de uma representação sonora que, de maneira convencionada, concretizou-se por meio da escrita dos símbolos organizados a que chamamos de letras do alfabeto. Observe: GATO = Significado - imagem / representação psíquica Significante - G-A-T-O / sonoro e gráfico FIQUE ATENTO! Os signos linguísticos são visuais, isto é, possibilitam a expressão de uma ideia. Além de serem componentes básicos dos códigos, eles são arbitrários, convencio- nados, como já vimos. Da composição do signo linguístico, o nosso maior interesse é o significante, ou seja, a representação gráfica da palavra. Figura 3 – Signo: representação sonora e gráfica Fonte: Undrey/Shutterstock.com Como vimos, há uma relação de sentido entre o significado e o significante.<B> <B>Não podemos escrever “banana” quando queremos expressar a ideia de um meio de transporte, por exemplo. O mesmo se dá quando pensamos no significado da palavra “cadeira”, que, convencio- nada pelo homem, mantém relação significativa direta com a sua função, que é, a princípio, a de “acomodar as cadeiras; a região dos quadris”. Alguns signos são universais. Veja que ao fazermos um aceno de mão, ele será entendido universalmente. O que muda é o significante, de acordo com a língua pelo qual ele é representado. Os signos ainda podem ser classificados como ícone (guardam semelhança com o que represen- tam, como as fotografias), índice (mantém relação contínua com o que representam, como as marcas de pegadas, ou as nuvens negras sinalizando tempestades) e símbolo (marcas, logotipos, símbolos matemáticos, por exemplo). O símbolo é o que se fundamenta de maneira social, ou seja, há uma relação de sentido entre significante e significado (TERRA, 1997). Aqui, ainda, é importante reforçar que os aspectos não verbais (ou paralinguísticos) que constituem os signos, acompanhando a comunicação verbal, também devem ser diferencia- dos da linguagem escrita. SAIBA MAIS! Na obra De onde vêm as palavras, de Deonísio da Silva, encontramos uma verdadeira viagem pela Língua Portuguesa, além de curiosidades sobre como certas palavras e expressões foram grafadas e, assim, ganharam outros significados. Agora que já compreendemos que o signo linguístico é arbitrário, convencionado pelo homem, e que na linguagem escrita o que mais nos interessa é o seu significante, vamos entender como ele se manifesta socialmente na linguagem escrita. 1.2 A importância social da linguagem escrita A escrita é a modalidade que representa a fala, mas diferente desta, ela é rígida e não conta com os recursos e elementos que auxiliam na comunicação oral. Em geral, ambas são confundidas em seus respectivos usos pelos falantes, o que acaba sempre comprometendo a comunicação. Em outros termos, oralidade e escrita não se misturam, pois não escrevemos como falamos, uma vez que a linguagem escrita possui regras rígidas e definidas (MORAES, 2008). Assim, fala e escrita se distinguem justamente no momento em que fazemos o uso das duas modalidades linguísticas. Figura 4 – A linguagem escrita e suas regras Fonte: Wavebreakmedia/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! A escrita necessita de regras as quais devem ser seguidas – sujeito, verbo e com- plementos, ou, em termos textuais, introdução, desenvolvimento e conclusão – para que o leitor da mensagem, não ouvinte, consigaidentificar com exatidão e clareza o que se pretende com aquele ato comunicativo (MORAES, 2008). Sem dominar as articulações da linguagem escrita é muito difícil expressarmos com clareza, objetividade, eficiência e, principalmente, conseguirmos alcançar as intencionalidades que são propostas e planejadas durante a produção da comunicação escrita. Deste modo, devemos compreender que a escrita apresenta uma função social. Adequar a linguagem escrita a contextos, como em uma proposta de trabalho, carta de amor, e-mail, entre outros, é fundamental para a comunicação humana. Sem esta adequação, as mensagens trans- mitidas e a relação entre emissor e receptor ficam comprometidas. Vale lembrar que não há certo ou errado em linguagem, mas o que está adequado ou inadequado ao contexto (TERRA, 1997). No processo comunicativo escrito há outro fator que promove interferência, tanto na clareza das mensagens emitidas quanto na recepção e entendimento delas: a intertextualidade. Pois, ao dominar as articulações da escrita, podemos “colocar um texto dentro do outro”, reescrevendo-os, reinventando-os, de modo que a própria escrita vai ganhando novos contornos e significações. Vimos, então, que a escrita é objetiva, possui articulações arbitrárias, mas que convém domi- ná-las, uma vez que este é o meio de linguagem que possui maior prestígio social. Fechamento Com a compreensão do que é a linguagem escrita, concluímos o estudo relativo ao processo de comunicação. Agora, você já entende que a escrita é a representação gráfica da fala e, certa- mente, compreende que a escrita possui uma função social. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer a história do surgimento da escrita; • aprender que o signo linguístico é arbitrário e se forma a partir de um significado e significante; • identificar que o significante do signo é a representação gráfica da fala; • compreender que a escrita se distingue da fala, embora tenha surgido dela; • entender que a escrita estrutura-se de maneira rígida; • aprender que a linguagem escrita possui uma função social. Referências MORAES, Augusta Magalhães Carvalho et al. Enciclopedia do Estudante: redação e comunicação; técnicas de pesquisa, expressão oral, e escrita. São Paulo: Moderna, 2008. TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997. HORCADES, Carlos Martins. A evolução da escrita: uma história ilustrada. São Paulo: SENAC, 2004. SILVA, Deonísio. De onde vêm as palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Mandarim, 1997. VIANA, Neilane de Souza. A linguagem escrita na era da tecnologia: Investigando a informalidade nas comunicações on line. Revistas Vozes dos Vales: Universidade Federal dos Vales dos Jequitinhonha e Mucuri. n. 02. Ano 1. out. 2012. Disponível em: <site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/ A-LINGUAGEM-ESCRITA-NA-ERA-DA-TECNOLOGIA-neilane.pdf>. Acesso em: 19 jul 2016.
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