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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL HUMBERTO SOARES DA ROCHA NETO AVALIAÇÃO DOS ÍNDICES DE DESPERDÍCIOS DE MATERIAIS: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA DE EDIFICAÇÃO NA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA-BA. FEIRA DE SANTANA 2010 HUMBERTO SOARES DA ROCHA NETO AVALIAÇÃO DOS ÍNDICES DE DESPERDÍCIOS DE MATERIAIS: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA DE EDIFICAÇÃO NA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA-BA. FEIRA DE SANTANA 2010 Monografia apresentada ao Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil, sob coordenação da Profª. MSc. Eufrosina de Azevedo Cerqueira. Orientador: Prof. MSc. Cristóvão César Carneiro Cordeiro HUMBERTO SOARES DA ROCHA NETO AVALIAÇÃO DOS ÍNDICES DE DESPERDÍCIOS DE MATERIAIS: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA DE EDIFICAÇÃO NA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA-BA. Monografia apresentada ao Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Profª. MSc. Eufrosina de Azevedo Cerqueira Coordenadora das disciplinas Projeto final I e II/ UEFS _______________________________________ Prof. MSc. Cristóvão César Carneiro Cordeiro (Orientador-UEFS) Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal Fluminense UFF ________________________________________ Prof. MSc. Eduardo Antônio Lima Costa (Membro convidado-UEFS) Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS ________________________________________ Prof. Esp. Carlos Antônio Alves de Queirós (Membro convidado-UEFS) Especialista em Gerenciamento da Construção pela Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS Feira de Santana, 21 de janeiro de 2010. Ao meu afilhado João Em Memória. AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a Deus pela proteção em toda a minha jornada. À minha família (meus pais, Miguel e Iracema, minhas irmãs, Bárbara e Malu a minha avó Araci e ao meu avô Eudes) por suas empolgações e por sempre acreditarem em mim, me apoiando nos momentos mais difíceis. Ao meu orientador, Professor Mestre Cristóvão César Carneiro Cordeiro, pela dedicação no desenvolvimento deste trabalho. À minha namorada, Caroline, pela paciência, dedicação e cuidados, e pelo total apoio, principalmente na reta final deste trabalho. A todos os amigos que se fizeram presente no decorrer de minha vida acadêmica, em especial a família da casa 50 e os Sutras. À empresa que gentilmente colocou seu canteiro de obras a disposição deste trabalho. E aos amigos de infância Francisco Xavier, David Lima e Yuri Sollua pela impaciência demonstrada nestes últimos meses. RESUMO Devido à alta competitividade do mercado, um fator que venha a interferir na qualidade e no custo final do empreendimento, tem suma importância. Sabe-se que grande parcela das perdas são previsíveis e evitáveis. Esta pesquisa consiste em uma análise sobre desperdícios de materiais na construção civil, mais especificamente em uma obra de edificação na cidade de Feira de Santana-Ba. Inicialmente é apresentada uma revisão bibliográfica, onde são classificados os diferentes tipos de perdas de materiais e as possíveis origens de perdas detectadas em estudos anteriores. O objetivo principal deste trabalho consiste em determinar os índices de perdas na obra em estudo. O levantamento de dados ocorreu em uma única obra e num intervalo de tempo de aproximadamente sete meses. Os índices de perdas foram determinados através da razão entre a quantidade teoricamente necessária, calculada em projeto, e a quantidade realmente utilizada, verificada em campo. A pesquisa realizada demonstrou a variação dos índices de perdas para os diferentes tipos de insumos estudados no canteiro da obra. Os índices encontrados nesta pesquisa ficaram abaixo que os previstos na literatura. Este estudo demonstrou, também, que existem oportunidades de redução das perdas de materiais através de melhorias no manuseio e estocagem de materiais e, principalmente, através de aplicação de métodos que possibilitem a identificação e o controle das perdas durante o processo construtivo, porém nesta pesquisa ficou evidenciado que alguns desperdícios são inevitáveis devido a atualizações de projetos e mudanças de especificações no decorrer do processo executivo. Por fim, é apresentado um conjunto de diretrizes para a implementação de um sistema de controle de perdas de materiais, visando a redução das mesmas a patamares aceitáveis, bem como uma entrevista com o engenheiro residente avaliando o “feedback” do estudo tanto para obra quanto para a empresa estudada. Palavras-Chave: Desperdício, perdas de materiais de construção, indicadores globais. ABSTRACT Due to the highly competitive market, a factor that may interfere with the quality and the final cost of the project, a critical component. It is known that a large portion of the losses are predictable and preventable. This research is an analysis of waste materials in construction, more specifically in a work of building the city of Feira de Santana-Ba. The article begins by reviewing the literature, which are classified in different types of losses of materials and the possible sources of losses detected in previous studies. The objective of this study is to determine the rates of loss in our study. Data collection occurred in a single work and a time interval of about seven months. The loss ratios were determined by the ratio of the amount theoretically necessary, calculated on the project, and the amount actually used, observed in the field. The survey showed the variation in losses for different types of inputs studied in the bed of the work. The rates found in this study were below those provided in the literature. This study also showed that there are opportunities for reducing losses of materials through improvements in handling and storage of materials and mainly through the application of methods that allow the identification and control of losses during the construction process, but this research was shown that some waste is inevitable due to project updates and changes in specifications during the enforcement process. Finally, it presents a set of guidelines for the implementation of a system for loss control materials, aimed at reducing them to acceptable levels, as well as an interview with the resident engineer evaluating the feedback from the study for both work and for the company studied. Keywords: Waste, loss of building materials, indicators global. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Diferentes fases de um empreendimento e as perdas de materiais ......... 18 Figura 2 - Etapas do processo da Construção Civil que originam desperdício ......... 27 Figura 3 - Etapas do processo de produção em canteiros de obra .......................... 29 Figura 4 - As perdas segundo seu momento de incidência e suaorigem................. 33 Figura 5 - Piso cerâmico 41x41cm - Assentamento com juntas diagonais. Piso cerâmico 31x31cm utilizado como acabamento em tabeiras (encontro da parede com o piso) ................................................................................................................ 52 Figura 6 - Vista da laje nivelada com mestras de madeira, provável causador de variação de espessura ............................................................................................... 55 Figura 7 - Acabamento da superfície da laje com régua de alumínio ....................... 56 Figura 8 - Concreto usinado lançado através de bomba-lança (não havendo qualquer conferência do volume recebido) ................................................................ 58 Figura 9 - Aplicação de contrapiso em argamassa de cimento usinada (acabamento e nivelamento executados com régua de alumínio) .................................................. 59 Figura 10 - Empilhamento de bloco cerâmico acima de 1,50m, e estocado em local provisório ................................................................................................................... 66 Figura 11 - Corte de bloco cerâmico realizado com ferramenta não apropriada ...... 67 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tipos de perdas segundo sua natureza, origem e incidência .................. 34 Tabela 2 - Comparação dos índices de perdas em diferentes estudos .................... 50 Tabela 3 - Avaliação de placas cerâmicas 41 x 41cm, em piso ................................ 51 Tabela 4 - Avaliação de placas cerâmicas 31 x 31cm, em piso ................................ 53 Tabela 5 - Avaliação de placas cerâmicas 31 x 31cm, em parede interna ................ 54 Tabela 6 - Avaliação do concreto usinado ................................................................ 57 Tabela 7 - Avaliação do contrapiso usinado .............................................................. 60 Tabela 8 - Avaliação do bloco de 9x19x24cm ........................................................... 62 Tabela 9 - Avaliação do bloco de 11,5x19x24cm ..................................................... 63 Tabela 10 - Avaliação do bloco de 14x19x24cm ....................................................... 65 Tabela 11 - Causadores e inibidores de perdas do concreto usinado ...................... 68 Tabela 12 - Causadores e inibidores de perdas do bloco cerâmico .......................... 69 Tabela 13 - Causadores e inibidores de perdas do contrapiso usinado .............. 70 Tabela 14 - Causadores e inibidores de perdas das placas cerâmicas .............. 71 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12 1.1 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 13 1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 15 1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................. 15 1.2.2 Objetivos Específicos....................................................................... 15 1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................... 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 17 2.1 DESPERDÍCIO E PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL ............................... 17 2.2 ORIGEM DAS PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................... 26 2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL ...................... 30 2.4 INDICADORES DE PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL ............................ 35 3 MÉTODOS DA PESQUISA ............................................................................... 40 3.1 TIPO DE ESTUDO ...................................................................................... 40 3.2 ETAPAS DA PESQUISA ............................................................................. 42 3.3 CRITÉRIOS DE MEDIÇÃO .......................................................................... 46 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 49 4.1 PLACA CERÂMICA ..................................................................................... 50 4.2 CONCRETO USINADO ............................................................................... 55 4.3 CONTRAPISO USINADO ............................................................................ 59 4.4 BLOCO CERÂMICO .................................................................................... 61 4.5 LEVANTAMENTO DE CAUSAS E PROPOSIÇÃO DE DIETRIZES ............ 67 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 74 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 77 ANEXO A - DADOS E PLANILHAS REFERENTES À ANÁLISE DO BLOCO CERÂMICO ............................................................................................................... 80 ANEXO B - DADOS E PLANILHAS REFERENTES À ANÁLISE DO REVESTIMENTO CERÂMICO (PAREDE E PISO)....................................................89 ANEXO C - DADOS E PLANILHAS REFERENTES À ANÁLISE CONCRETO USINADO, VIGAS E LAJES.....................................................................................101 ANEXO D - DADOS E PLANILHAS REFERENTES À ANÁLISE DO CONTRAPISO..........................................................................................................118 ANEXO E – CROQUIS 01 E 02, PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO E SUPERIOR ..............................................................................................................128 ANEXO F – ENTREVISTA DE AVALIAÇÃO DO ESTUDO DE CASO.......................................................................................................................130 1 INTRODUÇÃO A engenharia civil é um ramo de grande amplitude dentro das engenharias, desenvolvendo diversas atividades em benefício da civilização. Talvez por este aspecto exerça significativa influência na organização da sociedade (COLOMBO; BAZZO, 1999). Estima-se que o setor da Construção Civil seja responsável por aproximadamente 40% dos resíduos gerados em toda economia, por 75% de todo o resíduo sólido, por consumir 2/3 da madeira natural extraída e, por 20% a 50% do consumo dos recursos naturais totais extraídos no planeta (PIOVEZAN JÚNIOR; SILVA, 2007). De acordo com Zordan (1997), o grande consumo de matérias-primas está diretamente ligado ao grande desperdício de material que ocorre nos empreendimentos, a vida útil das estruturas construídas e devido às obras de reparos e adaptações das edificações existentes. Segundo Meseguer (1991), o desperdício advém, ou se origina, de todas as etapas do processo de construção civil, que são: planejamento, projeto, fabricação de materiais e componentes, execução e uso e manutenção. A preocupação quanto ao uso excessivo de materiais e componentes em obras de construção de edifícios, há muito tempo, faz parte de debates quantoa este segmento industrial. O real conhecimento da situação vigente e uma proposta de caminhos para melhorar o desempenho do setor quanto ao eventual desperdício existente tornam-se indispensáveis no contexto atual de acirramento da competição entre as empresas e de crescentes exigências por parte dos consumidores de obras de edifícios (AGOPYAN et al, 2003). Kuster (2007) afirma que o setor da construção civil deve pensar na diminuição do impacto ambiental causado pelos resíduos, através da adoção da reciclagem ou reuso dos resíduos gerados. Mas com a enorme quantidade de resíduos gerados atualmente, o autor afirma que precisa-se ter mais alternativas. A redução da geração de resíduos não ocorre mais através da solução de um problema localizado que proporciona, se solucionado, grandes economias. Assim, existe a necessidade de atuar de forma global no empreendimento, desde seu projeto até sua execução final, passando pelos fornecedores e serviços terceirizados contratados. Preocupações simples na fase de projeto, como modulação de alvenaria e acabamentos, reaproveitamento de fôrmas e caminhamento de sistemas prediais podem reduzir bastante a geração de resíduos. A redução da quantidade de resíduos gerados tem como principais objetivos a redução de custo do material, já que com essa diminuição necessariamente, diminui- se a quantidade de material utilizado para executar a mesma tarefa. Quanto menos resíduo for gerado, menos trabalho será necessário para gerenciar e tratar o mesmo, o que leva ao critério relacionado ao ganho ambiental, pois diminui a quantidade de resíduos a serem depositados no meio ambiente. Este trabalho tem como intuito discorrer acerca do elevado desperdício que ocorre no ramo da construção civil, na cidade de Feira de Santana, demonstrando a importância da diminuição dos níveis de perda de recursos em canteiro. O trabalho a ser realizado abordará uma análise da situação existente na construção de um templo religioso, avaliando para este empreendimento os seus respectivos níveis de desperdício e dificuldades existentes para controlá-los. 1.1 JUSTIFICATIVA O debate quanto à detecção de caminhos para minimizar o consumo de recursos físicos de nosso planeta tem sido uma constante nos meios de comunicação. É assim que ações visando o reaproveitamento do lixo urbano, políticas para um aproveitamento mais racional da água, campanhas para a redução do consumo de eletricidade, entre outras, têm sido cada vez mais valorizadas. No que diz respeito à construção civil, tecnologias para o reaproveitamento dos resíduos gerados também têm sido discutidas. Há, no entanto, um caminho anterior a ser abordado, qual seja: o da redução do desperdício de materiais/componentes inerente ao próprio processo construtivo (SOUZA, 1994). Devido à alta competitividade do mercado, uma avaliação sobre um fator que venha a interferir sobre custos e prazos do empreendimento tem suma importância para o ramo da construção civil. A identificação das causas reais de desperdício de insumos, constitui-se num dos pontos essenciais para a melhoria da qualidade e produtividade. Grande parcela das perdas são previsíveis e podem ser evitadas através de medidas de prevenção, por isso é importante que o setor da construção civil mobilize-se no sentido de reduzir as perdas existentes, através da introdução de novos métodos e filosofias de gestão (AGOPYAN et. al, 1998) Dessa forma, o trabalho tem sua importância pelo fato de que irá promover uma visão geral dos índices de desperdício para este tipo de empreendimento, observando as principais causas das perdas, propor um conjunto de diretrizes que venham a obter uma melhor racionalização de insumos. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar o estado atual dos índices de desperdícios de materiais em canteiros de obras de edificações de uso público em Feira de Santana, Bahia. 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS � Determinar os índices de perda dos materiais analisados na obra em estudo: bloco cerâmico, concreto usinado, placas cerâmicas e contrapiso usinado; � Identificar e analisar criticamente as possíveis causas e formas de desperdício, comparando com as sugestões previstas na literatura técnica; � Apresentar um conjunto de diretrizes para um melhor aproveitamento dos recursos, prevenindo a ocorrência de desperdícios. 1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO O trabalho está estruturado em cinco capítulos. O primeiro capítulo apresenta uma breve introdução acerca do tema do trabalho, apresenta sua justificativa e seus objetivos. O segundo capítulo, intitulado de referencial teórico, apresenta uma revisão da literatura acerca do tema, onde, serão abordados os seguintes tópicos: desperdício e perdas na construção civil; origem das perdas na construção civil; classificação das perdas na construção civil e indicadores de perdas na construção civil. O terceiro capítulo apresenta os métodos de pesquisa utilizados neste trabalho, dividida em oito etapas as quais serão descritas detalhadamente. O quarto capítulo expõe os resultados da pesquisa de campo e a discussão desses resultados e observações apresentando prováveis causas e um conjunto de diretrizes que visem inibi-las. E por fim, o quinto capítulo apresenta as considerações finais e sugestões para estudos futuros. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 DESPERDÍCIO E PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL Sabe-se que a Construção Civil destaca-se por ser um dos setores onde o desperdício é maior. Chega-se a afirmar que com a quantidade de materiais e mão- de-obra desperdiçados em três obras, é possível a construção de outra idêntica, ou seja, o desperdício atingiria um índice de 33% (GROHMANN, 1998). Apesar dos progressos oriundos dos investimentos feitos nos últimos anos, o setor da Construção Civil ainda possui índices de desperdícios consideráveis. Pinto (1995) identifica que os acréscimos nos custos da construção, advindos do desperdício, são de 6% e os acréscimos na massa de materiais atingem os 20%. O mesmo autor afirma que: na Bélgica, o acréscimo nos custos advindos do desperdício é de 17%; na França de 12%; e, no Brasil, de cerca de 30%. Vargas et al (1997) apresenta outros dados alarmantes: o tempo de perda da mão-de-obra dos serventes pode atingir 50% do tempo total, 100% da argamassa é perdida; e, 30% dos tijolos e elementos de vedação se transformam em entulho. Estes dados demonstram e reforçam a gravidade do problema em questão. Agopyan et. al (1998) ao contrário dos demais autores, constata em sua pesquisa que não existe um único valor que represente um índice de desperdício para diferentes materiais e serviços, pois para cada material e serviço existe uma faixa de índice de perda associado. A preocupação quanto ao uso excessivo de materiais e componentes em obras de construção, há muito tempo, faz parte de debates quanto a este segmento industrial. O real conhecimento da situação vigente e uma proposta de caminhos para melhorar o desempenho do setor quanto ao eventual desperdício existente tornam-se indispensáveis no contexto atual de acirramento da competição entre as empresas e de crescentes exigências por parte dos consumidores de obras (AGOPYAN et al. 2003). Apesar disso, as perdas de material são destaque quando se trata de desperdício na construção civil, por ser a parcela visível e também porque o consumo desnecessário de material resulta numa alta produção de resíduos, causatranstornos nas cidades, reduz a disponibilidade futura de materiais e energia e provoca uma demanda desnecessária no sistema de transporte (COLOMBO; BAZZO, 1999). Souza et al (1994) afirma é importante perceber que o consumo excessivo de materiais pode ocorrer em diferentes fases do empreendimento, de acordo com o autor existe a possibilidade de ocorrências de perdas em todas as fases numa obra em execução. A Figura 1 ilustra as diferentes fases citadas pelo autor, as perdas verificadas e as classifica de acordo com sua natureza. Figura 1 – Diferentes fases de um empreendimento e as perdas de materiais. Fonte: Adaptado de Souza et al (1994). A falta de uniformização de nomenclatura e, principalmente, de uma metodologia consistente e disseminada, aliadas à escassez de dados confiáveis, têm gerado uma série de controvérsias relativas à quantificação e, especialmente, quanto à proposição de alternativas para se combater eventuais desperdícios existentes (SOUZA, 1997). O autor considera que o primeiro passo para romper tais barreiras é identificar de onde é gerado tal desperdício e quais fatores influenciam na produtividade do setor. O conceito de perdas na construção civil é, com freqüência, associado unicamente aos desperdícios de materiais. No entanto, as perdas estendem-se além deste conceito e devem ser entendidas como qualquer ineficiência que se reflita no uso de equipamentos, materiais, mão de obra e capital em quantidades superiores àquelas necessárias à produção da edificação. Neste caso, as perdas englobam tanto a ocorrência de desperdícios de materiais quanto a execução de tarefas desnecessárias que geram custos adicionais e não agregam valor. Tais perdas são conseqüência de um processo de baixa qualidade, que traz como resultado não só uma elevação de custos, mas também um produto final de qualidade deficiente (FORMOSO et al, 1996). Com efeito, desperdício não pode ser visto apenas como o material refugado no canteiro (rejeitos), mas sim como toda e qualquer perda durante o processo. Portanto, qualquer utilização de recursos além do necessário à produção de determinado produto é caracterizada como perda classificadas conforme: seu controle, sua natureza e sua origem (COLOMBO; BAZZO, 1999). Para Vargas et al (1997), perda é todo e qualquer recurso que se gasta na execução de um produto ou serviço além do estritamente necessário (mão de obra, matéria-prima, materiais, tempo, dinheiro, energia, etc.). É um dispêndio extra acrescentado aos custos normais do produto. No caso da construção civil, o conceito de perdas envolve não só o desperdício de materiais, mas também qualquer ineficiência no uso de equipamentos, materiais e mão-de-obra. Neste sentido, a construção enxuta apresenta uma nova visão das perdas. A produção enxuta é considerada uma combinação de práticas de produção contidas em diversas filosofias, ferramentas e técnicas, que quando orientadas segundo os fundamentos da definição de valor de um produto e da determinação da cadeia de valor, do fluxo dos recursos produtivos, da produção puxada e da melhoria contínua, dentre outros aspectos, produzem resultados majorados, devido à sinergia obtida através da interação destes fatores (MACHADO; HEINECK, 1991). Produção Enxuta, Mentalidade Enxuta e Sistema Toyota de Produção são de certa forma, termos associados, às vezes complementares e, em geral, dificilmente diferenciados na literatura e no uso corrente. A Produção Enxuta tem como base os conceitos, princípios e técnicas do Sistema Toyota de Produção. Quando se fala em Sistema Toyota de Produção associa-se Produção Enxuta e vice-versa. A forma de raciocínio em ambos os casos, ou seja, o conjunto de princípios, conceitos e técnicas formadoras dessa maneira particular de pensar, sobre administração da produção, é referido como Mentalidade Enxuta (SARCINELLI, 2008). Womack et al (1990) definem essa filosofia de produção como sendo um sistema produtivo integrado, com enfoque no fluxo de produção, produção em pequenos lotes segundo a filosofia just-in-time e um nível reduzido de estoques; um sistema que envolve ações de prevenção de defeitos em vez da correção; que trabalha com produção puxada em vez da produção empurrada baseada em previsões de demanda; que é flexível, sendo organizada através de times de trabalho formados por mão-de-obra polivalente; uma filosofia que pratica um envolvimento ativo na solução das causas de problemas com vistas à maximização da agregação de valor ao produto final e que trabalha com um relacionamento de parceria intensivo desde o primeiro fornecedor até o cliente final. Koskela (1992) afirma que esta nova filosofia de produção trata-se de uma síntese e da generalização de diferentes modelos de administração, oriundos de diversas propostas sustentadas fundamentalmente pelos movimentos do just-in-time e da qualidade. Para Koskela, este novo modelo de produção pode ser definido da seguinte forma: A produção é um fluxo de materiais e/ou informações desde a matéria -prima até o produto acabado. Nesse fluxo o material pode estar sendo processado, inspecionado ou movimentado, ou ainda estar esperando - pelo processamento, inspeção ou movimentação. Tais atividades às quais o material pode ser submetido são inerentemente diferentes. O processamento representa o aspecto de conversão do sistema de produção; a inspeção, a movimentação e a espera representam os aspectos de fluxo da produção. Os processos referentes a fluxos podem ser caracterizados por tempo, custo e valor. Valor refere-se ao atendimento das necessidades dos clientes. Em grande parte dos casos, somente as atividades de processamento proporcionam a agregação de valor ao produto (KOSKELA, 1992). Existem cinco princípios necessários para orientar a configuração de um sistema enxuto de produção: 1. A definição detalhada do significado de valor de um produto a partir da perspectiva do cliente final, em termos das especificações que este deveria ter, considerando aspectos relacionados às suas capabilidades, ao seu preço e ao tempo de produção; 2. A identificação da cadeia de valor para cada produto ou família de produtos e a eliminação das perdas; 3. A geração de um fluxo de valor com base na cadeia de valor obtida; 4. A configuração do sistema produtivo de forma que o acionamento da cadeia de valor seja iniciado a partir do pedido do cliente ou; em outras palavras, a utilização de uma programação puxada; 5. A busca incessante da melhoria da cadeia de valor através de um processo contínuo de redução de perdas. Na Construção Enxuta a idéia central é perceber que os custos totais de qualquer produto levam consigo uma parte que é o custo que não agregam valor algum na percepção do cliente. O desafio da construção enxuta é eliminar tudo que não agrega valor, reduzindo assim os custos e gerando maior lucro. Encontramos na construção civil muitas atividades entendidas como não geradoras de valor. Tais perdas estão escondidas em movimentos e transportes desnecessários, retrabalhos, entre outros (SARCINELLI, 2008). Sua origem ocorre desde os projetos mal concebidos, desenvolvimento do planejamento executivo coordenado através de princípios obsoletos, predominância da individualidade de ações no canteiro, sendo essa manifestada por grupos ou pessoas, não havendo a idéia de conjunto. A noção pela gerência é que obtendo ganhos individuais, estarão somando um ganho maior do todo. De acordo com Koskela (1992) a construção deve considerar fundamentalmente os requerimentos esperados pelos consumidoresdos produtos. Dessa forma a produção deve evitar a variabilidade, a inconstância em seus processos, de forma e evitar perdas. Os processos deverão ser simples e, esta simplificação deve ser buscada através de menor quantidade de componentes dos produtos e pela redução de etapas dos fluxos de materiais e informações (SARCINELLI, 2008). Sabendo que tudo deve ser feito sem prejudicar a produção. Como mudanças geram desconforto para a maioria das pessoas, com relação aos conceitos de produção não é diferente. Passar do sistema tradicional para uma nova versão conceitual sobre como fazer, controlar e mudar a crença sobre o que é realmente importante, mudar paradigmas, é realmente um desafio. De maneira geral, pode-se dizer que os problemas enfrentados, tanto na manufatura quanto na construção, são os mesmos. A falta da visão sistêmica e os altos índices de desperdícios resultam nos altos custos, na baixa qualidade e nos atrasos na entrega dos produtos. No campo teórico, a Construção Enxuta tem evoluído significativamente ao longo dos anos, com estudos que contemplam diferentes enfoques, que vão desde aspectos técnicos, que incluem o desenvolvimento de métodos de controle da produção ao longo de todos os empreendimentos (BALLARD; HOWELL, 1997), até aspectos político-sociais, como a identificação de barreiras para a introdução da Construção Enxuta (HIROTA; FORMOSO, 2000) e a identificação de aspectos promotores da Construção Enxuta (ALARCON; SEGUEL, 2002). Já no campo prático, a difusão da Construção Enxuta ainda é limitada. Como são poucas as construtoras envolvidas no processo de implementação, os esforços estão voltados, em grande parte, para o desenvolvimento de ferramentas de controle de produção. Assim, para os teóricos da Construção Enxuta, as perdas estão relacionadas às atividades que tomam tempo, recursos e espaço, mas não agregam valor. Esse autor argumenta, porém, que os esforços direcionados para evitar as perdas devem ser realizados com certa cautela, pois algumas atividades tais como planejamento, contabilidade e prevenção de acidentes, não agregam valor, porém produzem valor para os clientes internos (KOSKELA, 1992). Mesmo os teóricos do Sistema Toyota de Produção, como Ohno (1997) e Shingo (1996) citado por Sacomano et al (2004), argumentam que o movimento dos trabalhadores pode ser dividido em duas dimensões: a do trabalho e a das perdas. As perdas constituem-se dos movimentos realizados nas atividades desnecessárias. Já o trabalho pode ser subdividido em trabalho que agrega valor e trabalho que não agrega valor. O primeiro consiste em algum tipo de processamento, ou seja, mudar a forma da matéria-prima visando à obtenção dos produtos. Outro autor ligado à construção enxuta, Alarcón (1997), de uma forma geral, associa as perdas a todas as atividades que produzem custos diretos ou indiretos, sem adicionar valor ou ajudar no avanço de um empreendimento. Esse autor também menciona um outro tipo de perda, relacionado com a eficiência dos processos e utilização dos equipamentos e pessoal, que é mais difícil de definir e medir, pois requer o conhecimento da eficiência máxima que pode ser atingida, e isto nem sempre é possível. Já para os autores ligados ao aspecto contábil, como Martins (1996), as perdas não são um sacrifício financeiro realizado com intenção de obter receitas, apresentando, portanto, uma característica de anormalidade e involuntariedade. O mesmo autor afirma que o gasto com mão-de-obra durante um período de greve, por exemplo, consiste numa perda e não num custo de produção. A indústria da construção civil, de acordo com Sarcinelli (2008) é um setor conhecido como sendo atrasado em relação aos processos produtivos e técnicas de gestão que usa, e por ser grande gerador de desperdícios, precisou adaptar-se para assimilar e difundir as premissas da produção enxuta, mesmo considerando as características peculiares que possui, tais como: � Característica nômade - a estrutura de produção produz e logo após é transferida para outro local; � É um setor muito resistente a mudanças, conservando métodos e processos antigos; � Na maior parte produtos únicos, devido a grande dificuldade para a produção em cadeia, pois a estrutura produtiva movimenta-se em torno do produto; � A mão de obra usada no setor não encontra motivação para produzir com alta qualidade e produtividade; � Elevados números de insumos, materiais e componentes; � Alto grau de rotatividade da mão de obra; � Dificuldade de padronização de procedimentos e existência de grande tolerância quanto à precisão de orçamento, dados de projetos, planejamento, tornando o sistema flexível demais. � O cliente deste setor geralmente adquire um único produto ao longo de sua vida; � Responsabilidade dispersa e pouco definida; Meseguer (1991) define os principais intervenientes do processo construtivo em uma obra, ressaltando que esses intervenientes participam de muitos setores com diferentes funções, gerando grande número de interfaces, definidas pelo autor como zonas de vulnerabilidade para a qualidade. Tais intervenientes são: o promotor da obra, o projetista, os fabricantes de materiais, o construtor, o empreiteiro, a empresa de gerenciamento, o proprietário, os laboratórios, as organizações de controle, a segurança na construção, a forma de contratação, a formação dos profissionais, e outros. A atividade produtiva da construção de empreendimentos possui uma série de peculiaridades que, combinadas ao paradigma de produção tradicionalmente utilizado pelas empresas do subsetor, apresentam uma série de ineficiências. Como resultado dessas ineficiências, a construção de empreendimentos ficou muito conhecida devido aos altos índices de desperdícios, resultando em altos custos, baixa qualidade dos produtos e baixa capacidade de inovação. Por fim, cabe ressaltar ainda a necessidade de buscar formas de minimizar e gerenciar os resíduos gerados na construção. Kuster (2007) afirma que o setor da construção civil deve pensar na diminuição do impacto ambiental causado pelos resíduos, através da adoção da reciclagem ou reuso dos resíduos gerados. Mas com a enorme quantidade de resíduos gerados atualmente, o autor afirma que há a necessidade de outras alternativas, tais como: � Redução de resíduos gerados, reduzindo tanto a massa a ser tratada como o consumo de materiais; � Do resíduo gerado anteriormente, reduzir a quantidade encaminhada para deposição final, reduzindo assim o impacto ao meio ambiente. Isso é feito através da limpeza e conseqüente segregação do resíduo para reciclagem, cuja avaliação será feita pela porcentagem do volume de resíduos enviado para reciclagem em relação ao volume total de resíduo; � Rastreabilidade, através de documentação, para que o envio de todo o resíduo para reciclagem ou deposição final foi feito cumprindo a legislação; � Redução do custo de tratamento do resíduo como um todo, mostrando a sua viabilidade financeira. A redução da geração de resíduos não ocorre mais através da solução de um problema localizado que proporciona, se solucionado, grandes economias. Assim, existe a necessidade de atuar de forma global no empreendimento, desde seu projeto até sua execução final, passando pelos fornecedores e serviços terceirizados contratados. Preocupações simples na fase de projeto, como modulação de alvenaria e acabamentos, reaproveitamento de fôrmas e caminhamento de sistemas prediais podem reduzir bastante a geração de resíduos. Da mesma forma,através da conscientização dos fornecedores e equipes de trabalho, aliada a novos métodos construtivos, existe a possibilidade de reduzir ainda mais a geração de resíduos inerente à atividade. A redução da quantidade de resíduos gerado assume três principais objetivos. Inicialmente, é a redução de custo do material, já que com essa diminuição, necessariamente diminui-se a quantidade de material utilizado para executar a mesma tarefa. Quanto menos resíduo for gerado, menos trabalho será necessário para gerenciar e tratar o mesmo, o que leva ao critério relacionado ao ganho ambiental, pois diminui a quantidade de resíduos a serem depositados no meio ambiente. 2.2 ORIGEM DAS PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL As perdas são o resultado de um processo de má qualidade, que tem como conseqüência tanto a elevação do custo da construção quanto a redução da qualidade do produto final (FORMOSO et al, 2007). O processo de produção na construção que apresenta má qualidade e organização precária tem seu início na base técnica insuficiente, que se reflete nos desencontros das equipes de trabalho e no desperdício de materiais (SOIBELMAN, 1993). No processo tradicional de produção da construção civil, cada etapa da obra interfere em outras subseqüentes. Qualquer ineficiência que eleve o valor da obra por falta de cronograma, mal uso de equipamentos e materiais ou mão de obra ruim, também são considerados como desperdício. Ou seja, alem da perda de materiais, a falta de planejamento e a execução de tarefas de qualquer maneira também geram custos adicionais (KÜSTER, 2007). Segundo Meseguer (1991), o desperdício advém, ou se origina, de todas as etapas do processo de construção civil, que são: planejamento, projeto, fabricação de materiais e componentes, execução e uso e manutenção. A Figura 2 demonstra as etapas do processo de construção civil e seus respectivos responsáveis: Figura 2 - Etapas do Processo da Construção Civil que originam desperdício. Fonte: GROHMANN, 1998. Na execução das obras da Construção Civil, os fatores que influenciam a produtividade e que, conseqüentemente, acarretam desperdícios, foram identificados como: a) Deficiências de projeto e planejamento que dificultam a construtibilidade da obra e que, normalmente, são causados pela falta de detalhamento no projeto; b) Ineficiência da gestão administrativa que enfatiza a correção dos problemas ao invés da prevenção dos mesmos. Isto ocorre devido ao pouco envolvimento dos administradores com o processo produtivo; c) Métodos ultrapassados e/ou inadequados de trabalho que não observam as experiências advindas de projetos anteriores, o que ocasiona a repetição dos erros; d) Pouca vinculação da obra com as atividades denominadas de apoio, como: compras, estoques e manutenção; e) Problemas com os recursos humanos decorrentes da pouca especialização da mão de obra e alta taxa de turnover do setor; f) Problemas com a segurança dos trabalhadores gerados, principalmente, pelo não fornecimento e/ou uso dos equipamentos de proteção individual ou coletivo; g) Deficiências dos métodos utilizados para o controle de custos projetados e executados. Para a melhor compreender esses conceitos, deve-se conhecer a natureza das atividades que compõem o processo de produção. Um processo pode ser entendido como um fluxo de materiais e informações desde a matéria prima até o produto final. Neste fluxo, os materiais são processados, inspecionados, movimentados ou estão em espera (GROHMANN, 1998). Assim, as atividades componentes de um processo podem ser classificadas em duas principais categorias: � Atividades de conversão: envolvem o processamento dos materiais em produtos acabados. � Atividades de fluxo: relacionam-se às tarefas de inspeção, movimento e espera dos materiais. As novas filosofias de produção indicam que a eficiência dos processos pode ser melhorada e as suas perdas reduzidas não só através da melhoria da eficiência das atividades de conversão e de fluxo, mas também pela eliminação de algumas das atividades de fluxo (KOSKELA, 1992). Por exemplo, quando se desenvolve uma inovação tecnológica na construção deve-se eliminar ao máximo a necessidade de atividades de transporte, espera e inspeção de materiais (GROHMANN, 1998). As atividades de fluxo são freqüentemente negligenciadas no processo de produção de edificações. Em geral. não são devidamente analisadas nas tarefas de orçamento e planejamento e nas iniciativas de melhorias de processo. O esforço para melhoria do desempenho na construção civil deve considerar o conceito mais amplo de perdas, isto é, visar à minimização do dispêndio de quaisquer recursos que não agregam valor ao produto, sejam eles vinculados às atividades de conversão ou fluxo (GROHMANN, 1998). Küster (2007) afirma que em muitas obras os trabalhadores trabalham, param para esperar materiais, trabalham, desfazem o que fizeram, continuam trabalhando, e assim sucessivamente. Um dos aspectos mais importantes a ser considerado num estudo sobre perdas consiste na necessidade de se estabelecer a situação prevista, a partir da qual todo o consumo excedente de recursos seja considerado como sendo perda, pois, dependendo da situação adotada podem assumir valores distintos. Isso pode ser visualizado no esquema da Figura 3. Figura 3 - Etapas do processo de produção em canteiros de obra. FONTE: Küster (2007). Por isso, numa classificação paralela as comumente encontradas, Grohmann (1998) utiliza uma abordagem simplificada, o autor divide as formas de desperdício em: desperdício de materiais e desperdício de mão-de-obra. O desperdício de materiais engloba os entulhos e os materiais incorporados à obra. Tacla (1984) define entulho em uma obra de Construção Civil como sendo todo o volume de materiais que sai da obra, sem nenhuma perspectiva de utilização futura. Englobam as sobras de concreto, argamassa, ferro, blocos de cerâmica, etc. O desperdício de materiais incorporados à obra refere-se ao excesso de materiais utilizados que, ao final do obra, não são percebidos ou pouco se percebe. O desperdício de mão-de-obra refere-se ao tempo empregado pelos trabalhadores em atividades que não incorporam valor ao produto final e que podem, facilmente, ser reduzidos ou eliminados sem causar nenhum prejuízo. Englobam: tempo de espera, de retrabalho, de transporte, etc. 2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL As perdas na construção civil englobam tanto a ocorrência de desperdício de materiais quanto qualquer ineficiência relativa ao uso de equipamentos, mão de obra e execução de tarefas desnecessárias que geram custos adicionais e não agregam valor (SACOMANO et al, 2004). A literatura disponível acerca do tema em estudo apresenta diversas classificações, portanto as perdas podem ser classificadas de acordo com sua natureza, segundo a etapa onde ocorrem e onde se originam, segundo o controle, de acordo com o tipo de recurso consumido, de acordo com a unidade para sua medição, forma de manifestação, entre outras (FRANCHI et al, 1993; VARGAS et al, 1997; FORMOSO et al, 1996; COSTA, 1999; SOUZA, 2005; ROSÁRIO, 2008). Sacomano et al (2004) afirma que foram identificadas nove categorias de perdas partindo-se da classificação proposta por Shingo, seriam as sete perdas de Shingo. As nove categorias são as perdas por superprodução, por substituição (de material), por espera, por transporte, no procedimento (a própria natureza das atividades do processo ou na execução),nos estoques, no movimento, pela elaboração de produtos defeituosos e outros (roubos, acidentes): a) Perdas por superprodução: refere-se às perdas que ocorrem devido à produção em quantidades superiores às necessárias, como, por exemplo: produção de argamassa em quantidade superior à necessária para um dia de trabalho ou o excesso de espessura de lajes de concreto armado; b) Perdas por substituição: decorrem da utilização de um material de valor ou características de desempenho superiores ao especificado, tais como: utilização de argamassa com traços de maior resistência que a especificada ou a utilização de tijolos maciços no lugar de blocos cerâmicos furados. c) Perdas por espera: relacionadas com a sincronização e o nivelamento dos fluxos de materiais e as atividades dos trabalhadores. Podem envolver tanto perdas de mão de obra quanto de equipamentos, como, por exemplo, paradas nos serviços originadas por falta de disponibilidade de equipamentos ou de materiais. d) Perdas por transporte: as perdas por transporte estão associadas ao manuseio excessivo ou inadequado dos materiais e componentes em função de uma má programação das atividades ou de um layout ineficiente, como, por exemplo: tempo excessivo despendido em transporte devido a grandes distâncias entre estoques e o guincho, quebra de materiais devido ao seu duplo manuseio ou ao uso de equipamento de transporte inadequado. e) Perdas no processamento em si: têm origem na própria natureza das atividades do processo ou na execução inadequada dos mesmos. Decorrem da falta de procedimentos padronizados e ineficiências nos métodos de trabalho, da falta de treinamento da mão de obra ou de deficiências no detalhamento e construtividade dos projetos. São exemplos deste tipo de perdas: quebra de paredes rebocadas para viabilizar a execução das instalações; quebra manual de blocos devido à falta de meios-blocos. f) Perdas nos estoques: estão associadas à existência de estoques excessivos, em função da programação inadequada na entrega dos materiais ou de erros na orçamentação, podendo gerar situações de falta de locais adequados para a estocagem dos mesmos. Também decorrem da falta de cuidados no armazenamento dos materiais. Podem resultar tanto em perdas de materiais quanto de capital, como por exemplo: custo financeiro dos estoques, deterioração do cimento devido ao armazenamento em contato com o solo e ou em pilhas muito altas. g) Perdas no movimento: decorrem da realização de movimentos desnecessários por parte dos trabalhadores, durante a execução das suas atividades. São exemplos deste tipo de perda: tempo excessivo de movimentação entre postos de trabalho ou o esforço excessivo do trabalhador. h) Perdas pela elaboração de produtos defeituosos: ocorrem quando são fabricados produtos que não atendem aos requisitos de qualidade especificados. Geralmente, originam-se da falta de integração entre o projeto e a execução, das deficiências do planejamento e controle do processo produtivo; da utilização de materiais defeituosos e da falta de treinamento dos operários. Resultam em retrabalhos ou em redução do desempenho do produto final, como, por exemplo: falhas nas impermeabilizações e pinturas, descolamento de azulejos. i) Outras: existem ainda tipos de perdas de natureza diferente dos anteriores, tais como roubo, vandalismo, acidentes, etc. Por terem suas origens em disfunções dos processos produtivos, os sete tipos de perdas normalmente são vinculados entre si, motivo pelo qual estas devem ser atacadas de forma articulada e simultânea. Colombo e Bazzo (1999) afirmam que, em todos os casos, a qualificação do trabalhador está presente como importante elemento a ser considerado. A origem das perdas pode estar tanto no próprio processo de produção quanto nos processos que o antecedem como fabricação de materiais, preparação dos recursos humanos, projeto, suprimentos e planejamento (FORMOSO et al, 1996). A Figura 4 apresenta um conjunto de exemplos de perdas, indicando a sua natureza, origem e momento de incidência. Figura 4 - As perdas segundo seu momento de incidência e sua origem. Fonte: FORMOSO et al, 1996. As perdas podem ainda ser classificadas em aparentes (ou diretas) e de natureza oculta (indiretas). Enquanto as diretas representam as “perdas que saem” (entulho), as indiretas, que representam as “perdas que ficam”, podem ser subdivididas em perdas por substituição, por imprevisão e por negligência. Quanto às perdas há ainda que se aplicar um raciocínio de caráter mais econômico ao se distinguir entre aquelas que são evitáveis das consideradas inevitáveis. Quanto a este último aspecto é que se define o desperdício de materiais, que é considerado a parcela de perdas evitáveis (SOUZA, 1994). Vargas et al (1997) resume a classificação de perdas na Tabela 1 e traz um exemplo para cada tipo de perda. T ab el a 1 – T ip os d e p e rd a s e g un d o su a n a tu re za , or ig em e in ci d ê n ci a . F O N T E : V ar ga s et a l, 19 9 7 . T IP O D E P E R D A C O N C E IT O E X E M P L O S u p er p ro d u çã o P ro du çã o a lé m d o n e ce ss á rio d e u m d et er m in ad o se rv iç o . P ro d u çã o d e vo lu m e d e co nc re to a ci m a do n ec es sá rio p a ra a co n cr et ag e m d e u m a la je . E st oq u e E st oq u e e m e xc e ss o, d e vi d o a fa lh a d e pr o g ra m a çã o n a en tr e g a d o m a te ri al . A rm a ze n am en to d e m a te ri ai s na o br a m u ito a nt es d a su a u til iz aç ão . E sp er a P ro du to s ou s er vi ço s em f ila e sp er a n do p ar a se re m ex e cu ta d os . P o de m e n vo lv er ta nt o pe rd a s de m ã o- de -o br a qu a n to d e e qu ip a m en to s. E sp er a p ar a fa ze r u m d e te rm in ad o se rv iç o d e vi do a f a lta d e u m d et e rm in ad o m at er ia l. T ra n sp or te D es p er dí ci o d e te m po q u e n ã o a gr eg a va lo r e g e ra c u st o s e xt ra s. E st á as so ci a do a o m an u se io e xc es si vo e in a d eq ua do de m at er ia is . D is pê n d io d e te m po n o tr a ns p or te d e m at er ia is e nt re o lo ca l d e e st oc a ge m e o d e tr an sf or m aç ão . M ov im en to Q ua nd o o pr oc es so d e tr ab a lh o nã o é ad e q u ad o os o p e rá rio s ac a ba m tr ab al h a n do e m e xc e ss o, c om m e no r pr o du tiv id a de . M ai or e sf orç o d o o pe rá ri o p ar a fa ze r u m a de te rm in ad a ta re fa d e vi do às c o nd iç õ es e rg o nô m ic a s de sf a vo rá ve is . P ro ce ss a m e n to E rr o n a co nc ep çã o do p ro d ut o e /o u n a s d iv er sa s et a p as d e su a el a bo ra çã o , a ca rr et a nd o g ra nd e s pe rd a s de : m at er ia is , t e m p o, ho ra /h om e m , ho ra /m áq ui n a , e le va n do o s cu st o s. R e tr ab a lh o d e u m a d e te rm in ad a t ar ef a d ev id o à f al ta d e de ta lh am en to e co n st ru tib ili da d e d o p ro je to . E la bo ra çã o de p ro d ut o s d ef e itu o so s Q ua nd o o s pr o d ut o s fa br ic ad o s n ão a te n de m à q ua lid a d e es p er a d a. A ca ba m r es ul ta n do e m r et ra b a lh o ou r e du çã o d e de se m p en h o d o pr o d ut o fi n al . E rr o na e st ru tu ra d e vi do à f al ta d e in te gr a çã o en tr e o p ro je to e a e xe cu çã o, t en d o q u e pa rt e d es ta s er d e sf e ita . Existem métodos de intervenção para a redução de perda e de tempos improdutivos em canteiros de obras. A realização dos diagnósticos pode envolver indicadores de qualidade e de produtividade, como detalhados no capítulo a seguir (SACOMANO et al, 2004). 2.4 INDICADORES DE PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL Após ter conceituado e classificado as perdas na construção civil, e tendo se detectado suas possíveis fontes, a próxima questão que surge, de acordo com Souza (1994) é como avaliar as perdas? Segundo o autor uma alternativa á a geração de indicadores de perdas. Tais indicadores são normalmente expressões quantitativas que, com base em dados levantados a partir do processo construtivo, permitem sua avaliação de uma maneira objetiva. Os indicadores representam informações quantitativas ou qualitativas que medem e avaliam o comportamento de diferentes aspectos do objeto do estudo. Seu levantamento cria um sistema de informações que pode ser útil para ajudar no processo de tomada de decisões (SOUZA, 1994). Neste estudo os indicadores foram utilizados tanto para expressar quantitativamente a magnitude das perdas quanto para discutir as razões para sua manifestação. Devido ao importante papel de indicadores de desempenho cumprido pelos indicadores de perdas, eles podem ser utilizados para diversos fins. Sua utilização mais comum é a de dar visibilidade ao baixo desempenho da construção civil em termos de qualidade e produtividade, permitindo o estabelecimento de prioridades em programas de melhoria da qualidade, indicando os setores da empresa nos quais intervenções são mais importantes e viáveis. Uma segunda função de um indicador é estabelecer o controle de um processo em relação a um padrão estabelecido (ROSÁRIO, 2008). Este controle é feito a partir da elaboração de um planejamento que inclui o monitoramento de um indicador ao longo do tempo, permitindo a avaliação do desempenho do processo, identificando desvios e corrigindo, em tempo hábil, as causas dos mesmos. Uma terceira função é o de estabelecer metas ao longo de um processo de melhorias, sendo indispensável num programa de melhoria da qualidade, permitindo a identificação das oportunidades de melhorias e a verificação dos impactos causados por intervenções no processo (FORMOSO, et al 1996). Os índices de perdas cumprem um importante papel de indicadores de desempenho dos processos produtivos e, como tal, podem ser empregados para diferentes finalidades. A utilização mais comum dada aos índices de perdas de materiais na construção civil tem sido apenas chamar a atenção para o baixo desempenho global do setor construção em termos de qualidade e produtividade (FORMOSO et al, 1996). Formoso et al (1996) afirma que um indicador pode ter a função de visibilidade, ou seja, demonstrar o desempenho atual de uma organização, indicando seus pontos fortes ou fracos ou chamando a atenção para suas disfunções. Este tipo de avaliação permite estabelecer prioridades em programas de melhoria da qualidade, indicando os setores da empresa nos quais intervenções são mais importantes ou viáveis. Ainda para o autor, a segunda função de um indicador é o controle de um processo em relação a um padrão estabelecido. A partir da elaboração de um planejamento, o monitoramento de um indicador ao longo do tempo permite avaliar o desempenho do processo, identificando desvios e corrigindo a tempo as causas dos mesmos. Ou seja, um indicador é um instrumento indispensável para o estabelecimento de metas ao longo de um processo de melhoria contínua, componente indispensável de um programa para melhoria da qualidade. Este tipo de medição visa a identificar as oportunidades de melhorias e verificar o impacto de intervenções no processo. Finalmente, os indicadores de desempenho cumprem um papel de fundamental na motivação das pessoas envolvidas no processo. Sempre que uma melhoria está sendo implantada é importante que um ou mais indicadores de desempenho associados à mesma sejam monitorados e sua evolução amplamente divulgada na organização. Neste sentido, um projeto de melhoria visando à redução de perdas de materiais poderia inclusive ser empregado como um instrumento de marketing interno para um programa da qualidade (FORMOSO et al, 1996). Assim, a incidência de perdas deve ser monitorada através de diversos indicadores, os quais podem ou não ser relacionados ao desperdícios de materiais. Entre os diversos indicadores de perdas na construção civil, podem ser citados como exemplos os seguintes: (a) Percentual de material adquirido em relação à quantidade teoricamente necessária; (b) Espessura média de revestimentos de argamassa; (c) Tempo de rotação de estoques; (d) Percentual de tempos improdutivos em relação ao tempo total, horas- homem gastas em retrabalho em relação ao consumo total, etc. Cada processo, em geral, necessita de um ou mais indicadores para ter o seu desempenho avaliado. Quando se mede um indicador de perdas é necessário ter valores de referência ou benchmarks para avaliar o desempenho em relação a outras empresas. Neste sentido, ao se divulgar um indicador de perdas, deve-se explicitar claramente o seu significado, isto é, o conceito adotado e o método de cálculo e os critérios de medição utilizados. É também necessário identificar as causas reais (não as aparentes) dos problemas que resultam em perdas, de forma a atuar de forma corretiva (FORMOSO et al, 1996). Souza (1994) propõe que os indicadores de perdas podem ser compostos de diversas maneiras. Na maior parte das vezes se definirá uma situação de referência, se quantificará a situação real, e o indicador será constituído por uma relação percentual da discrepância da situação real com relação à de referência, como demonstrado na equação abaixo: IND (%) = SREAL – SREFx 100 SREF Onde: IND = indicador de perdas, SREAL = situação real, SREF = situação de referência. O autor ainda afirma que os indicadores podem ter caráter mais abrangente, sendo então chamados de “globais”, ou mais específico, sendo denominados “parciais”. Os indicadores de perdas podem ser utilizados de diversas maneiras: para comparação relativa entre situações semelhantes em obras diferentes; para avaliação e como subsídio para correção de indicadores de orçamento; para comparação entre diferentes “tecnologias”; etc. (SOUZA, 1994). Agopyan et al (2003) afirma que os indicadores de perdas e consumos de materiais podem ser classificados segundo a sua abrangência, que está relacionada ao escopo do fluxograma elaborado e à natureza do material estudado. Esse aspecto fica evidenciado ao se compararem, por exemplo, o estudo das perdas do cimento e o do concreto usinado. Enquanto o fluxograma dos processos relativo ao segundo material contempla as etapas de recebimento, transporte e aplicação, o do primeiro contém, além destas etapas, a de estocagem e processamento intermediário para a conformação de uma argamassa ou concreto produzidos em obra. De acordo com o autor, além desse fato, a argamassa, a qual possui cimento em sua constituição, pode ser utilizada em vários serviços simultaneamente. A partir de tais especificidades, a mensuração das perdas e consumos de materiais pode ser feita levando-se em consideração todas as etapas do fluxograma dos processos ou, ainda, levando-se em consideração apenas parte do mesmo. Isso significa dizer que se pode estabelecer indicadores abrangentes ou específicos, denominados, respectivamente, no presente trabalho, de globais e parciais. Os indicadores globais podem expressar os valores de perdas de um determinado material na obra como um todo, apenas em um serviço ou, ainda, apenas nas etapas subseqüentes à sua estocagem. Tal abrangência depende da complexidade do fluxograma dos processos, conforme exemplificado anteriormente. Nesse sentido, define-se indicador parcial como a expressão dos valores de consumo ou perda de materiais associados apenas a uma etapa do fluxograma dos processos. A expressão dos valores das perdas e consumos associada a mais de uma etapa do fluxograma dos processos denomina-se indicador global (AGOPYAN et al, 2003). O indicador global pode ainda ser classificado em: (a) Indicador global de perda de material por obra: consiste na expressão da perda total considerando o uso do material em todos os serviços executados durante o período de coleta, como, por exemplo, a perda de cimento em toda a obra; (b) Indicador global de perda ou consumo de material por serviço: consiste na expressão da perda ou do consumo de material num único serviço, abrangendo desde a etapa de recebimento até a de aplicação final, como, por exemplo, a perda de bloco no serviço de alvenaria ou o consumo de blocos por metro quadrado de alvenaria executada; (c) Indicador global de perda ou consumo de material por serviço pós- estocagem: consiste na expressão do valor da perda ou de consumo de material considerando apenas as etapas do fluxograma subseqüentes ao estoque. Por exemplo, o caso das perdas de cimento no serviço de contrapiso, ou o consumo de cimento por metro quadrado de revestimento interno (emboço). 3. MÉTODOS DA PESQUISA O presente trabalho trata-se de uma pesquisa a respeito da avaliação dos índices de desperdícios de materiais na construção de edificação para uso público. Para tanto, foi realizado um estudo de caso em uma obra de edificação a ser utilizada como templo religioso na cidade de Feira de Santana - Ba. 3.1 TIPO DE ESTUDO Metodologicamente este trabalho caracteriza-se por ser um estudo de caso que segundo Yin (2005), representa uma investigação empírica que pesquisa um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real e que compreende um método abrangente, com a lógica do planejamento, da coleta e da análise de dados. O estudo de caso de acordo Silva (2001) é quando uma pesquisa envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento acerca do tema estudado. Esta pesquisa monográfica consiste de um estudo de caso do tipo descritivo, que consiste na análise e descrição de características ou propriedades, ou ainda das relações entre estas propriedades em determinado fenômeno. Assim, para sua elaboração foram coletados e analisados dados através do levantamento de dados em uma obra de edificação na cidade de Feira de Santana; através da aplicação de planilhas para avaliação e quantificação dos índices de perdas reais existentes no canteiro de obra. De acordo com Roesch (1996), neste tipo de projeto, é feita a realização de uma avaliação formativa, cujo propósito é melhorar ou aperfeiçoar sistemas ou processos. A avaliação formativa normalmente implica um diagnóstico do sistema atual e sugestões para sua reformulação; por isso requer certa familiaridade com o sistema, e idealmente, a possibilidade de implementar mudanças sugeridas e observar seus efeitos. Este trabalho se restringiu apenas a diagnosticar as causas e inibidores das perdas dos materiais estudados na obra, não sendo possível a aplicação das mudanças sugeridas afim de minimizar os índices de perdas. Inicialmente foi necessário realizar uma revisão bibliográfica utilizando-se livros, artigos e informações de sites oficias a fim de fundamentar o tema teoricamente. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, caracterizando a pesquisa exploratória, que, de acordo com Gil (2007), tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema em pesquisa, com vistas a torná-lo mais explícito e que na maioria dos casos assume a forma de pesquisa bibliográfica. Como se fez necessário efetuar a análise de dados da obra em estudo, este trabalho consistiu de uma pesquisa documental que segundo Lakatos e Marconi (2006), caracteriza-se por ser uma pesquisa em que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos escritos ou não. Para contemplar de forma mais completa a coleta dos dados durante a realização do estudo foi realizada uma entrevista com o engenheiro responsável pela execução e acompanhamento da obra, visando avaliar o retorno da pesquisa para a empresa e para a obra e obter informações sobre precauções e metodologias utilizadas para o controle de desperdícios. A ferramenta básica de coleta de dados considerada na elaboração desta metodologia consistiu na observação crítica do uso dos materiais ao longo das etapas percorridas pelos mesmos, desde sua chegada até a sua aplicação final, no canteiro da obra em estudo. Mesmo tendo acompanhado todas as etapas de processamento dos materiais em estudo, os indicadores mensurados neste trabalho são apenas de caráter global, procurando estabelecer números relativos a um conjunto de etapas percorridas por estes materiais. No entanto, algumas verificações foram feitas na tentativa de indicar possíveis causadores de perda em algumas etapas do processo, como por exemplo, variações de espessura de laje e contra-piso, e variações de largura de vigas. Para a obtenção das informações quantitativas elaborou-se um conjunto de planilhas (instrumento de coleta de dados), e para a obtenção de informações qualitativas utilizou-se planilhas de caracterizaçãode serviços da pesquisa Alternativas para a Redução do Desperdício de Materiais em Canteiros de Obras conforme Agopyan et.al.(1998), garantindo assim a padronização do estudo. Todas as ações necessárias para a aplicação da metodologia assim como os principais instrumentos de coleta de dados serão descritos no decorrer deste capítulo. 3.2 ETAPAS DA PESQUISA A pesquisa foi divida em oito etapas, primeiro foi realizada a identificação da empresa e da obra, onde foi desenvolvido o estudo de caso, também foi realizada a escolha dos materiais a serem analisados, a caracterização dos serviços, o levantamento quantitativo em projeto dos serviços em estudo, o controle de recebimento de material (a coleta dos dados ,consumo real dos materiais), e por último a analise dos dados para mensuração das perdas. 3.2.1 Identificação da empresa e da obra A empresa onde foi desenvolvido o estudo de caso foi fundada em 1998, e é uma empresa de engenharia especializada principalmente na área de edificações. É uma empresa de médio porte segundo os critérios SEBRAE, composta atualmente de 288 funcionários com carteira assinada, e mais de 10 empresas terceirizadas. Possui aproximadamente 55.000,00 m² construídos, e conta atualmente com quatro obras em andamento. Possui os níveis de certificação de qualidade, QUALIOP, PBPQH, ISSO 9001. A empresa trabalha com construções de edificações para terceiros, principalmente em obras comerciais e hospitalares, iniciando também em construção de condomínios residenciais. A obra consiste na construção de uma edificação de dois pavimentos a ser usada como templo religioso com aproximadamente 5000 m² construídos, o que inclui um auditório para 3 mil pessoas, aqui neste trabalho denominado como nave, um anexo de fundo onde se encontra toda a área administrativa, um anexo lateral com escolas divididas por faixa etária no pavimento térreo e apartamentos no pavimento superior, conforme croquis 01, 02 Anexo E. Possui atualmente 105 funcionários registrados pela própria empresa, e com oito empresas terceirizadas para serviços especializados como refrigeração, sonorização, cobertura em estrutura metálica, forro em gesso acartonado e fibra mineral e circuito fechado de televisão, com 30 funcionários no total. É uma obra de tecnologias convencionais, com vedações em alvenaria de bloco cerâmico, estrutura em concreto armado moldado no local e cobertura em estrutura metálica e telha metálica. Todo transporte horizontal é feito a mão ou com carrinho de mão, e o transporte vertical é feito a mão ou com carrinho de mão através de rampas, ou por roldanas e guinchos foguetes. 3.2.2 Materiais investigados A escolha dos materiais analisados foi definida de acordo com os critérios listados abaixo: � Período de estudo: o material a ser avaliado deveria estar em execução no período em que foi realizada a coleta de dados; � Grau de significância (Custo): optou-se por estudar os materiais que incorporassem mais valores a obra, obedecendo à ordem decrescente da curva de insumos ABC; � Índices de perdas já estudados e relevantes: os materiais também foram escolhidos dando-se preferência aos materiais que supostamente tivessem índices de perdas relevantes, os quais já foram sido estudados e mensurados por Skoyles (1976) na Inglaterra, por Pinto (1989), Picchi (1993), Soibelman (1993) e Agopyan (1998) no Brasil e pela Hong Kong Polytechnic (1993). Os materiais analisados neste estudo foram: bloco cerâmico, concreto usinado, placa cerâmica e contrapiso usinado que serão descritos abaixo. 3.2.2.1 Bloco cerâmico Na obra em estudo, existia especificação de três diferentes tipos de bloco cerâmico. O bloco de 9 x 19 x 24cm foi utilizado para vedação interna, o bloco de 11,5 x 19 x 24 foi utilizado para vedações externas e o bloco de 14 x 19 x 24cm para a vedação de nave. Foram analisados todos os tipos de blocos, desde o início até o final do levante. 3.2.2.2 Concreto usinado: Foi estudado neste estudo o lançamento de concreto usinado bombeável 25 Mpa, com abatimento do tronco de cone 100-+ 10mm em vigas e lajes, não sendo avaliado o índice de perda na concretagem de pilares, o motivo pelo qual será comentado no tópico 3.3.2.2 (cálculo da quantidade executada). 3.2.2.3 Placas cerâmicas O revestimento cerâmico utilizado em obra foi em maior parte para piso, e nos cômodos com áreas molhadas também foi analisado o revestimento em paredes. As placas cerâmicas analisadas neste trabalho foram, para paredes, cerâmica 31 x 31cm, e para piso, cerâmica 41 x 41cm. Não foi possível estudar toda aplicação de cerâmica da obra, o detalhamento do motivo para tal acontecimento será explicado no tópico 3.3, intitulado de critérios de medição. 3.2.2.4 Contrapiso usinado Consiste em uma argamassa de regularização para posterior assentamento cerâmico. Toda argamassa de contrapiso utilizado na obra em estudo foi usinada, constituído de, cimento e areia lavada na proporção 1:4. 3.2.3 Caracterização dos serviços Para obtenção de uma análise qualitativa, aplicou-se para cada material estudado, uma ficha de verificação de serviços obtida da pesquisa “Alternativas para a Redução do Desperdício de Materiais em Canteiros de Obras” conforme Agopyan et.al.(1998). Os serviços e materiais avaliados na obra serão descritos no tópico referente ao detalhamento dos critérios de medição utilizados no presente estudo. 3.2.4 Levantamento quantitativo dos serviços em projeto Este procedimento nada mais foi do que a realização dos cálculos de um consumo referência baseada em informações de projeto. Vale salientar que não foi investigada aqui a perda que pode existir desde a execução do projeto, que diz respeito à perda por super dimensionamento. 3.2.5 Controle de recebimento de material Os materiais selecionados para realização do estudo não sofriam nenhum processamento intermediário, apenas duplo manuseio devido a estocagem em locais provisórios e recortes necessários para adequações em blocos e placas cerâmicas, assim sendo, da mesma forma que os materiais eram recebidos na obra destinavam-se a sua aplicação final. Nesta pesquisa o controle de recebimento de material diz respeito tanto a uma análise qualitativa e quantitativa. Este item será mais detalhado no tópico critérios de medição, análise quantitativa e análise qualitativa. 3.2.6 Análise dos resultados Esta fase do estudo consistiu basicamente em avaliar os resultados encontrados, mensurando as perdas verificadas no canteiro de obras, as quais foram obtidas através da relação entre a variação do consumo executado e o consumo teórico, dividida pelo consumo teórico. 3.2.7 Entrevista Foi elaborada uma entrevista semi-estruturada com o objetivo de identificar o aproveitamento da pesquisa tanto para a empresa como para a obra em estudo. A entrevista foi realizada com o engenheiro residente, que acompanhou passo a passo o andamento da pesquisa. 3.2.8 Levantamento de causas e proposição de diretrizes Esta fase da pesquisa foi, possivelmente, a mais importante do trabalho. Consistiu, depois de mensuradas as perdas, na caracterização das possíveis causas de perdas de materiais, bem como da elaboração de um conjunto de diretrizes que visaram a redução das mesmas a patamares aceitáveis. Os valores encontrados foram comparados com os existentes na teoria, na tentativa de obtenção de valores razoavelmente próximos. Paralelamente a todas as etapas da pesquisa,
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