Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Instituto Superior Politécnico de Songo Licenciatura em Engenharia Eléctrica NOTAS DE AULAS SOBRE CÓNICAS E SUPERFÍCIES QUÁDRICAS Alberto Daniel Songo, 29 de Outubro de 2018 1 Cónicas Definição 1.1 Cónicas são curvas planas obtidas por intersecção de um cone circular recto com um plano. Equação Geral das Cónicas Uma cónica pode ser representada por equação de 2◦ grau nas variáveis x e y: Ax2 + 2Bxy + Cy2 + 2Dx+ 2Ey + F = 0 (1) com A,B,C,D,E, F ∈ R, sendo A,B e C não simultaneamente nulos. Em casos particulares, no entanto, a equação (1) pode também representar uma recta (x2 = 0) ou duas rectas (xy = 0), ou um ponto (x2 + y2 = 0) ou o conjunto vazio (x2 + y2 = −1). Estes casos constituem as cónicas degeneradas. • Se B2 − AC < 0 a equação (1) representa uma elipse ou suas degenerações. • Se B2 − AC > 0 a equação (1) representa uma Hipérbole ou suas degenerações. • Se B2 − AC = 0 a equação (1) representa uma Parábola ou suas degenerações. 1.1 Elipse Definição 1.2 Elipse é o conjunto dos pontos do plano cuja soma das distâncias a dois pontos fixos (denominados focos) é constante e maior que a distância entre eles. 2 Equação Reduzida x2 a2 + y2 b2 = 1 (a > b) Focos: F (±c, 0), onde c2 = a2 − b2 Eixo maior: d(A1, A2) = 2a Eixo menor: d(B1, B2) = 2b Distância focal: d(F1, F2) = 2c Vértices: (±a, 0), (0,±b) Excentricidade: e = c a (0 < e < 1) Directrizes: x = ±a e Equação Reduzida x2 a2 + y2 b2 = 1 (a < b) Focos: F (0,±c), onde c2 = b2 − a2 Eixo maior: d(B1, B2) = 2b Eixo menor: d(A1, A2) = 2a Distância focal: d(F1, F2) = 2c Vértices: (±a, 0), (0,±b) Excentricidade: e = c b (0 < e < 1) Directrizes: y = ± b e Equação Reduzida da Elipse centrada em (x0, y0): (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 = 1 No caso a = b, a equação da elipse toma a forma x2 a2 + y2 a2 = 1⇐⇒ x2 + y2 = a2 e representa uma circunferência de centro (0, 0) e raio r = a. Se o centro da circunferência for (x0, y0), então a sua equação será da forma (x− x0)2 + (y − y0)2 = r2 1.2 Hipérbole Definição 1.3 Hipérbole é o conjunto dos pontos do plano tais que o módulo da diferença das distâncias a dois pontos fixos (focos) é constante e menor que a distância entre eles. 3 Equação Reduzida x2 a2 − y 2 b2 = 1 Focos: F (±c, 0), onde c2 = a2 + b2 Eixo Real: d(A1, A2) = 2a Eixo Imaginário: d(B1, B2) = 2b Distância Focal: d(F1, F2) = 2c Vértices: (±a, 0) Assímptotas: y = ± b a x Excentricidade: e = c a (e > 1) Directrizes: y = ±a e Equação Reduzida y2 b2 − x 2 a2 = 1 Focos: F (±c, 0), onde c2 = a2 + b2 Eixo Real: d(B1, B2) = 2b Eixo Imaginário: d(A1, A2) = 2a Distância Focal: d(F1, F2) = 2c Vértices: (0,±b) Assímptotas: y = ± b a x Excentricidade: e = c b (e > 1) Directrizes: y = ± b e Equação Reduzida da Hipérbole centrada em (x0, y0) (x− x0)2 a2 − (y − y0) 2 b2 = 1 1.3 Parábola Definição 1.4 Parábola é o conjunto dos pontos do plano equidistantes de um ponto fixo (denomi- nado foco) e de uma recta (directriz) que não contém o ponto. 4 Equação Reduzida y2 = 4px (p > 0) Foco: F (p, 0) Directriz: x = −p Vértice: V (0, 0) Equação Reduzida y2 = 4px (p < 0) Foco: F (p, 0) Directriz: x = −p Vértice: V (0, 0) Equação Reduzida x2 = 4py (p > 0) Foco: F (0, p) Directriz: y = −p Vértice: V (0, 0) Equação Reduzida x2 = 4py (p < 0) Foco: F (0, p) Directriz: y = −p Vértice: V (0, 0) A Equação Reduzida da Parábola com vértice em V (x0, y0) é dada por: • (y − y0)2 = 4p(x− x0) , onde F (x0+p, y0) e d : x = x0−p são foco e directriz, respectivamente. • (x− x0)2 = 4p(y − y0) , onde F (x0, y0+p) e d : y = y0−p são foco e directriz, respectivamente. 5 Exemplo 1.5 Determine a equação reduzida da hipérbole com focos F1(0,−5) e F2(0, 5) e um vértice no ponto P (0,−3). Resolução: O eixo real está sobre o eixo Y . O centro é a origem. Temos então: c2 = a2 + b2 a = 3 c = 5 ⇒ b2 = 52 − 32 = 25− 9⇒ b2 = 16 Portanto, a equação da hipérbole é: y2 16 − x 2 9 = 1. Exemplo 1.6 Encontre a equação da parábola de foco F (0, 3) e recta directriz de equação x = 2. Resolução: Como a directriz (x = 2) é paralela ao eixo Oy então a equação desta parábola tem a forma (y − y0)2 = 4p(x− x0), onde F (x0 + p, y0) é o foco e x = x0 − p é a directariz. Assim,{ (x0 + p, y0) = (0, 3) x0 − p = 2 ⇒ x0 + p = 0 y0 = 3 x0 − p = 2 ⇒ { 2x0 = 2 y0 = 3 ⇒ { x0 = 1 y0 = 3 Substituindo valor de x0 noutra equação, obtemos x0 + p = 0⇒ 1 + p = 0⇒ p = −1. Portanto, (y − 3)2 = 4(−1)(x− 1)⇐⇒ (y − 3)2 = −4(x− 1) Exemplo 1.7 Encontre a equação da parábola de foco F (−2, 5) e directriz y = 3. Resolução: Como a directriz é paralela ao eixo Ox então (x− x0)2 = 4p(y− y0), onde F (x0, y0 + p) é o foco e y = y0 − p é a directriz, assim:{ (x0, y0 + p) = (−2, 5) y0 − p = 3 ⇒ x0 = −2 y0 + p = 5 y0 − p = 3 ⇒ x0 = −2 y0 + p = 5 2y0 = 8 ⇒ x0 = −2 y0 + p = 5 y0 = 4 ⇒ x0 = −2 p = 1 y0 = 4 Portanto, o vértice da parabóla é V (−2, 4) e a equação será (x− (−2))2 = 4 · 1 · (y − 4)⇐⇒ (x+ 2)2 = 4(y − 4) 6 2 Classificação das cónicas a partir da equação geral Redução da equação geral de uma cónica 1◦ Dada a equação Ax2 + 2Bxy + Cy2 + 2Dx+ 2Ey + F = 0, calcule ∆ = ∣∣∣∣ A BB C ∣∣∣∣. 2◦ Para ∆ = 0: Encontre as raízes λ1 e λ2 = 0 da equação característica∣∣∣∣ A− λ BB C − λ ∣∣∣∣ = 0. Para ∆ 6= 0: Temos uma curva central. Efectue uma translação para O′ = (x0, y0), de modo que[ A B B C ] [ x0 y0 ] = [ −D −E ] 3◦ Encontre os autovectores v1 e v2 asso- ciados aos autovalores λ1 e λ2, respec- tivamente. Denotando Q(x, y) = Ax2 + 2Bxy + Cy2 + 2Dx+ 2Ey + F, calcule Q0 = Q(x0, y0), para obter a equação Ax′2 + 2Bx′y′ + Cy′2 +Q0 = 0 4◦ Determine a nova base ortonormal {u1,u2} do sistema de coordenadas fa- zendo u1 = v1 ‖v1‖ e u2 = v2 ‖v2‖ Agora forme a matriz P cujas as colu- nas são os autovectores normados u1 e u2. Encontre as raízes λ1 e λ2 da equação característica∣∣∣∣ A− λ BB C − λ ∣∣∣∣ = 0, para obter a equação reduzida λ1x ′′2 + λ2y′′2 +Q0 = 0 5◦ Substitua os valores de x e y dados pela rotação abaixo[ x y ] = P [ x′ y′ ] na equação inicial e reagrupe para obter a equação na forma: λ1x ′2 + 2D1x+ 2E1y + F = 0 As equações de rotação serão dadas por[ x′ y′ ] = P [ x′′ y′′ ] através dos passos 3◦ e 4◦ da coluna ao lado. 6◦ Por meio do completamento de quadra- dos, efectue uma translação para obter a equação reduzida na forma λ1x ′′2 + 2E1y′′ + F1 = 0 Exemplo 2.1 Identifique a cónica representada pela equação x2 − 6xy + y2 + 2x− 8y − 4 = 0. Resolução: Como o determinante da equação é ∆ = ∣∣∣∣ 1 −3−3 1 ∣∣∣∣ = −8 6= 0, então podemos inicialmente determinar o centro (α, β) tal que a translação pelo vector −→v = (α, β) elimina os termos 7 lineares. Para tal, reslovemos o seguinte sistema linear:{ Aα +Bβ = −D Bα + Cβ = −E ⇒ { α− 3β = −1 −3α + β = 4 { α = −11 8 β = −1 8 Denotando Q(x, y) := x2 − 6xy + y2 + 2x− 8y − 4, temos Q0 ( −11 8 ,−1 8 ) = ( −11 8 )2 −6· ( −11 8 )( −1 8 ) + ( −1 8 )2 +2· ( −11 8 ) −8· ( −1 8 ) −4 = −312 64 = −39 8 . Assim, reduzimos a equação inicial para equação do tipo x′2 − 6′x′y′ + y′2 − 39 8 = 0. Agora determinaremos λ1 e λ2, autovalores da matriz M = [ 1 −3 −3 1 ] . Temos, ∣∣∣∣ 1− λ −3−3 1− λ ∣∣∣∣ = 0⇔ (1− λ)(1− λ)− 9 = 0⇔ (1− λ)2 = 9⇔ λ1 = 4 ∨ λ2 = −2. Portanto 4x′′2 − 2y′′2 − 39 8 = 0 é a equação obtida após a eliminação dos termos lineares e do termo misto. Escrevendo-a na forma canónica, temos: 4x′′2 − 2y′′2− 39 8 = 0⇔ 4x′′2 − 2y′′2 = 39 8 ⇔ x ′′2 39 32 − y ′′2 39 16 = 1⇔ x ′′2(√ 39 32 )2 − y′′2(√ 39 16 )2 = 1 Portanto, a equação x2 − 6xy + y2 + 2x− 8y − 4 = 0 representa uma hipérbole. Exemplo 2.2 Identifique a curva representada pela equação x2 + 2xy + y2 − 3x+ 2y − 7 = 0. Resolução: Como o determinante ∆ = ∣∣∣∣ 1 11 1 ∣∣∣∣ = 0, não é possível eliminarmos primeiro os termos lineares por meio de uma translação. Neste caso devemos efectuar uma rotação nos eixos coordenados de modo a eliminar o termo misto. Para tal, calculamos os autovalores da matriz M = [ A B B C ] e os seus respectivos autovectores ortonormais: ∣∣∣∣ 1− λ 11 1− λ ∣∣∣∣ = 0⇔ (1− λ)2 − 1 = 0⇔ 1− λ = 1 ∨ 1− λ = −1⇔ λ = 0 ∨ λ = 2 Então, λ1 = 0 e λ2 = 2 são autovalores de M . Agora vamos determinar os respectivos autovectores, resolvendo a equação (M − λI)v = 0: Para λ1 = 0: [ 1− 0 1 1 1− 0 ] = [ 1 1 1 1 ] ∼ [ 1 1 0 0 ] ⇔ x+ y = 0⇔ x = −y Então, (x, y) = (−y, y) = y(−1, 1) e logo v1 = (−1, 1) é um autovector associado à λ1 = 0. Para λ2 = 2: [ 1− 2 1 1 1− 2 ] = [ −1 1 1 −1 ] ∼ [ −1 1 0 0 ] ⇔ −x+ y = 0⇔ x = y Então, (x, y) = (y, y) = y(1, 1) e logo v2 = (1, 1) é um autovector associado à λ2 = 2. 8 Como λ1 = 0 e λ2 = 2 são distintos, então os seus respectivos autovectores são ortogonais. Devemos então, apenas normalizar os autovectores: • u1 = v1‖v1‖ = (−1, 1) ‖(−1, 1)‖ = (−1, 1)√ 1 + 1 = (−1, 1)√ 2 = ( − √ 2 2 , √ 2 2 ) ; • u2 = v2‖v2‖ = (1, 1) ‖(1, 1)‖ = (1, 1)√ 1 + 1 = (1, 1)√ 2 = (√ 2 2 , √ 2 2 ) . E a matriz P cujas as colunas são os autovectores normalizados é P = [ − √ 2 2 √ 2 2√ 2 2 √ 2 2 ] . Então [ 2D 2E ] P [ x′ y′ ] + F = [ −2 6 ] [ −√22 √22√ 2 2 √ 2 2 ] [ x′ y′ ] − 7 = 4 √ 2x′ + 2 √ 2y′ − 7 Portanto, a equação da quádrica fica na forma λ1x ′2 + λ2y′2 + [ 2D 2E ] P [ x′ y′ ] + F = 0⇔ 2y′2 + 4 √ 2x′ + 2 √ 2y′ − 7 = 0 Aplicando a técnica de completar qudrados, teremos 2y′2 + 4 √ 2x′ + 2 √ 2y′ − 7 = 0 ⇔ 2(y′2 + √ 2y′) + 4 √ 2x′ − 7 = 0 ⇔ 2 ( y′2 + √ 2y′ + 1 2 − 1 2 ) + 4 √ 2x′ − 7 = 0 ⇔ 2 ( y′2 + √ 2y′ + 1 2 ) − 1 + 4 √ 2x′ − 7 = 0 ⇔ 2 ( y′ + √ 2 2 )2 + 4 √ 2x′ − 8 = 0 ⇔ 2 ( y′ + √ 2 2 )2 + 4 √ 2 ( x′ − √ 2 ) = 0 Efectuando a mudança de variáveis { x′′ = x′ −√2 y′′ = y′ + √ 2 2 , obtemos: 2y′′2 + 4 √ 2x′′ = 0⇐⇒ 2y′′2 = −4 √ 2x′′ ⇐⇒ y′′2 = −2 √ 2x′′ que é uma Parábola. 3 Superfícies Quádricas Definição 3.1 Chama-se quádrica qualquer conjunto de pontos de R3 que satisfazem a seguinte equação do segundo grau nas variáveis x, y e z: Ax2 +By2 + Cz2 + 2Dxy + 2Exz + 2Fyz + 2Gx+ 2Hy + 2Iz + J = 0 (2) onde A,B,C,D,E e F não são todos nulos. 9 Observação 3.2 Se a superfície (2) for cortada pelos planos coordenadores ou por planos paralelos a eles, a curva de intersecção será uma cónica. Essa interseccão é chamada de traço da superfície no plano. Exemplo 3.3 O traço da superfície (2) no plano z = 0 é a cónica Ax2 +By2 + 2Dxy + 2Exz + 2Gx+ 2Hy + J = 0 (3) contida no plano z = 0 e representa uma elípse, uma hipérbole ou uma parábola. Definição 3.4 Uma superfície de revolução é a superfície gerada por uma curva plana (chamada geratriz) que gira 360◦ em torno de uma recta (chamada eixo) situada no plano da curva. Observação 3.5 O traço da superfície de revolução num plano perpendicular ao eixo é uma circun- ferência e a equação da superfície de revolução é obtida a partir da equação da geratriz. Exemplo 3.6 Seja a superfície gerada pela revolução da parábola z2 = 4y em torno do eixo - y: Figura 1: Superfície de revolução onde • P (x, yz) é um ponto qualquer da superfície. • C(0, y, 0) é o centro da circunferência que é o traço da superfície no plano que passa por P e é perpendicular ao eixo - y. • Q(0, y, z) é a intersecção da circunferência com a parábola. • R é o pé da perpendicular traçada de P ao plano -xy. Note que |CP | = |CQ| = r, pois são raios da circunferência. O triângulo CRP é rectângulo em R, então: |CP | = √ |CR|2 + |RP |2 = √ x2 + z2 ou |CP | = |CQ| = z = √ 4y, pois Q pertence à parábola. Portanto, √ x2 + z2 = √ 4y ⇔ x2 + z2 = 4y → Equação da superfície. (4) 10 Observação 3.7 A equação (4) pode ser obtida imediatamente pela substituição de z por √ x2 + z2 na equação da geratriz z2 = 4y. Dessa forma, se a geratriz estiver contida num dos planos coordenados e girar 360◦ em torno de um dos eixos desse plano, a equação da superfície gerada será obtida da seguinte maneira: se a curva girar em torno: a) do eixo - x, substitui-se y ou z na equação da curva por √ y2 + z2; b) do eixo - y, substitui-se x ou z na equação da curva por √ x2 + z2; c) do eixo - z, substitui-se x ou y na equação da curva por √ x2 + y2. 3.1 Elipsóide Consideremos no plano x = 0 a elípse de equação y2 b2 + z2 c2 = 1. Figura 2: Elípse Ao girarmos essa elípse em torno do eixo - y, obtemos o elipsóide de revolução, cuja equação será obtida da equação da elípse, substituindo-se z por √ x2 + z2: y2 b2 + z2 c2 = 1⇔ y 2 b2 + x2 + z2 c2 = 1⇔ x 2 c2 + y2 b2 + z2 c2 = 1. Podemos também girar a elípse em torno do eixo - z e obter o elipsóide com equação x2 b2 + y2 b2 + z2 c2 = 1 Equação Canónica de um Elipsóide x2 a2 + y2 b2 + z2 c2 = 1, (5) onde a, b, c ∈ R+ e determinam as medidas dos semi-eixos do elipsóide. 11 Figura 3: Elipsóide No caso a = b = c, a equação (5) toma a forma x2 a2 + y2 a2 + z2 a2 = 1 ou x2 + y2 + z2 = a2 (6) e representa uma superfície esférica de centro (0, 0, 0) e raio a. Se o centro do elipsóide é o ponto (x0, y0, z0), a equação (5) assume a forma (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 + (z − z0)2 c2 = 1, obtida por uma translação de eixos: x = x′ + x0 y = y′ + y0 z = z′ + z0 Exemplo 3.8 Identifique a quádrica Q representada pela equação 4x2 + y2 + 4z2 − 8x− 4y − 8z + 8 = 0 Resolução Completando quadrados, teremos: 4x2 + y2 + 4z2 − 8x− 4y − 8z + 8 = 0 (4x2 − 8x) + (y2 − 4y) + (4z2 − 8z) = −8 4(x2 − 2x) + (y2 − 4y) + 4(z2 − 2z) = −8 4(x2 − 2x+ 1− 1) + (y2 − 4x+ 4− 4) + 4(z2 − 2z + 1− 1) = −8 4(x2 − 2x+ 1)− 4 + (y2 − 4x+ 4)− 4 + 4(z2 − 2z + 1)− 4 = −8 4(x− 1)2 + (y − 2)2 + (z2 − 1)2 = −8 + 4 + 4 + 4 4(x− 1)2 + (y − 2)2 + 4(z − 102 = 4 (x− 1)2 + (y − 2) 2 4 + (z − 1)2 = 1 Consideremos a seguinte mudança de coordenadas: x′ = x− 1 y′ = y − 2 z′ = z − 1 Portanto, Q : x′2 + y ′2 4 + z′2 = 1, que é um elipsóide. 12 3.2 Hiperbolóide Consideremos no plano x = 0 a hipérbole de equação y2 b2 − z 2 c2 = 1 Figura 4: Hipérbole Os hiperbolóides de revolução serão obtidos por rotações em torno de um de seus eixos: 3.2.1 Hiperbolóide de uma folha A rotação dessa hipérbole em torno do eixo-z resulta no hiperbolóide de uma folha, cuja equação será obtida da equação da hiperbóle substituindo-se y por √ x2 + z2: x2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1⇔ x 2 b2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1 Equação Canónica do Hiperbolóide de uma folha x2 a2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1 (7) Figura 5: Hiperbolóide de uma folha 13 As outras duas equações são x2 a2 − y 2 b2 + z2 c2 = 1 e − x 2 a2 + y2 b2 + z2 c2 = 1 e representam hiperbolóides de uma folha ao longo dos eixos-y e eixo-x, respectivamente. 3.2.2 Hiperbolóide de duas folhas A rotação da hiperbóle em torno do eixo-y resulta no hiperbolóide de duas folhas cuja equação será obtida da equação dessahiperbóle, substituindo-se z por √ x2 + z2: y2 b2 − x 2 + z2 c2 = 1⇔ y 2 b2 − x 2 c2 − z 2 c2 ⇔ −x 2 c2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1 Equação Canónica de um hiperbolóide de duas folhas: −x 2 a2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1 (8) Figura 6: Hiperbolóide de duas folhas As outras duas equações são x2 a2 − y 2 b2 − z 2 c2 = 1 e − x 2 a2 − y 2 b2 + z2 c2 = 1 e representam hiperbolóides de duas folhas ao longo dos eixos Ox e Oy, respectivamente. 3.3 Parabolóide 3.3.1 Parabolóide Elíptico Consideremos no plano x = 0 a parábola de equação z = y2 b2 : 14 Figura 7: Parábola A rotação dessa parábola em torno do eixo-z resulta no parabolóide de revolução cuja equação será obtida da equação da parabóla, substituindo-se y por √ x2 + y2 z = x2 b2 + y2 b2 Equação Canónica de um parabolóide elíptico: z = x2 a2 + y2 b2 (9) Figura 8: Parabolóide Elíptico As outras duas equações são y = x2 a2 + z2 c2 e x = y2 b2 + z2 c2 e representam parabolóides elípticos ao longo dos eixos y e x, respectivamente. 3.3.2 Parabolóide hiperbólico A superfície dada por uma equação do tipo z = y2 b2 − x 2 a2 (10) 15 é denominada parabolóide hiperbólico e esta equação é chamada forma canónica do parabo- lóide hiperbólico ao longo do eixo-z. Figura 9: Parabolóide Hiperbólico As outras duas formas são y = z2 c2 − x 2 a2 e x = z2 c2 − y 2 b2 e representam parabolóides hiperbólicos ao longo dos eixos y e x, respectivamente. 16 4 Classificação das quádricas a partir da equação geral Redução da equação geral de uma quádrica 1◦ Dada a equação Ax2 +By2 + Cz2 + 2Dxy + 2Exz + 2Fyz + 2Gx+ 2Hy + 2Iz + J = 0, calcule ∆ = ∣∣∣∣∣∣ A D E D B F E F C ∣∣∣∣∣∣. 2◦ Para ∆ = 0: Encontre as raízes λ1, λ2 e λ3 = 0 da equação característica∣∣∣∣∣∣ A− λ D E D B − λ F E F C − λ ∣∣∣∣∣∣ = 0. Para ∆ 6= 0: Temos uma quádrica central. Efectue uma translação para O′ = (x0, y0, z0), de modo que A D ED B F E F C x0y0 z0 = −G−H −I 3◦ Encontre os autovectores v1,v2 e v3 as- sociados aos autovalores λ1, λ2 e λ3, res- pectivamente. Denotando Q(x, y, z) = Ax2 + By2 + Cz2 + 2Dxy + 2Exz + 2Fyz + 2Gx+ 2Hy + 2Iz + J , calcule Q0 = Q(x0, y0, z0), para obter a equação Ax′2+By′2+Cz′2+2Dx′y′+2Ex′z′+2Fy′z′+Q0 = 0 4◦ Determine a nova base ortonormal {u1,u2,u3} do sistema de coordenadas fazendo u1 = v1 ‖v1‖ ,u2 = v2 ‖v2‖ e u3 = v3 ‖v3‖ Agora forme a matriz P cujas as co- lunas são os autovectores normados u1,u2 e u3. Encontre as raízes λ1, λ2 e λ3 da equação caracterís- tica ∣∣∣∣∣∣ A− λ D E D B − λ F E F C − λ ∣∣∣∣∣∣ = 0, para obter a equação reduzida λ1x ′′2 + λ2y′′2 + λ3z′′2 +Q0 = 0 5◦ Substitua os valores de x, y e z dados pela rotação abaixo xy z = P x′y′ z′ na equação inicial e reagrupe para obter a equação na forma: λ1x ′2+λ2y′2+G1x′+H1y′+I1z′+J = 0 As equações de rotação serão dadas por x′y′ z′ = P x′′y′′ z′′ através dos passos 3◦ e 4◦ da coluna ao lado. 6◦ Por meio do completamento de quadra- dos, efectue uma translação para obter a equação reduzida na forma λ1x ′′2 + λ2y′′2 + I1z′′ = 0 Exemplo 4.1 Identifique a quádrica representada pela equação geral dada abaixo: 2x2 + 2y2 + 2z2 + 2xy + 2xz + 2yz − 2x− 2y − 2z − 12z − 78 = 0 17 Resolução: Como o determinante da equação desta quádrica é ∆ = ∣∣∣∣∣∣ 2 1 1 1 2 1 1 1 2 ∣∣∣∣∣∣ = 4 6= 0, esta superfície representa uma quádrica central. Assim, devemos eliminar primeiro os termos do 1◦ grau por meio de uma translação. Para isso, devemos encontrar a nova origem (x0, y0, z0), de modo que: A D ED B F E F C x0y0 z0 = −G−H −I ⇒ 2 1 11 2 1 1 1 2 x0y0 z0 = 11 6 Escalonando o sistema obtemos 2 1 1 11 2 1 1 1 1 2 6 ∼ 2 1 1 10 −3 −1 −1 0 −1 −3 −11 ∼ 6 0 2 20 −3 −1 −1 0 0 8 32 ∼ 1 0 0 −10 1 0 −1 0 0 1 4 ⇒ x0 = −1 y0 = −1 z0 = 4 Assim, obtemos O′ = (−1,−1, 4) e denotando Q(x, y, z) = 2x2 + 2y2 + 2z2 + 2xy + 2xz + 2yz + 2x + 2y + 2z + 12z − 78, temos Q0 = Q(−1,−1, 4) = −4. Desta forma, a quádrica fica reduzida à forma: 2x2 + 2y2 + 2z2 + 2xy + 2xz + 2yz +Q0 = 0⇐⇒ 2x2 + 2y2 + 2z2 + 2xy + 2xz + 2yz − 4 = 0 Devemos então efectuar uma rotação nos eixos coordenados, de modo a eliminar os termos mistos. Para isso, calculamos os autovalores da matriz M = 2 1 11 2 1 1 1 2 : ∣∣∣∣∣∣ 2− λ 1 1 1 2− λ 1 1 1 2− λ ∣∣∣∣∣∣ = 0⇔ −λ3 +6λ2−9λ+4 = 0⇔ λ3−6λ2 +9λ−4 = 0⇔ (λ−1)2(λ−4) = 0 Assim obtemos os autovalores λ1 = λ2 = 1 e λ3 = 4, e a quádrica fica reduzida à forma: λ1x 2 + λ2y 2 + λ3z 2 +Q0 = 0⇔ x2 + y2 + 4z2 − 4 = 0⇔ x2 + y2 + 4z2 = 4⇔ x 2 4 + y2 4 + z2 = 1 Portanto, a quádrica 2x2 + 2y2 + 2z2 + 2xy + 2xz + 2yz + 2x + 2y + 2z + 12z − 78 = 0, após uma translação seguida de uma rotação é um Elipsóide. Exemplo 4.2 Identifique a quádrica x2 − z2 − 4xy + 4yz − 6x+ 6y − 24z − 45 = 0. Resolução: Como o determinante desta quádrica é ∆ = ∣∣∣∣∣∣ 1 −2 0 −2 0 2 0 2 −1 ∣∣∣∣∣∣ = 0, não é possível eliminarmos primeiro os termos do 1◦ grau por meio de uma translação. Neste caso devemos efectuar uma rotação nos eixos coordenados, de modo, a eliminarmos os termos mistos.∣∣∣∣∣∣ 1− λ −2 0 −2 −λ 2 0 2 −1− λ ∣∣∣∣∣∣ = 0⇔ −λ3+9λ = 0⇔ λ3−9λ = 0⇔ λ(λ−3)(λ+3) = 0⇔ λ = 0∨λ = 3∨λ = −3 Portanto, λ1 = 0, λ2 = 3 e λ3 = −3 são os autovalores da matriz M da quádrica. Agora vamos determinar os autovectores associados, resolvendo a equação (M − λI)v = 0: 18 Para λ1 = 0: 1 −2 0−2 0 2 0 2 −1 ∼ 1 −2 00 −4 2 0 2 −1 ∼ 1 0 −10 −4 2 0 0 0 ⇒ { x = z y = 1 2 z Então (x, y, z) = (z, 1 2 z, z) = z(1, 1 2 , 1) e v1 = (1, 1 2 , 1) é um autovector associado à λ1 = 0. Para λ2 = 3: −2 −2 0−2 −3 2 0 2 −4 ∼ −2 −2 00 −1 2 0 2 −4 ∼ 1 0 20 1 −2 0 0 0 ⇒ { x = −2z y = 2z Então (x, y, z) = (−2z, 2z, z) = z(−2, 2, 1) e v2 = (−2, 2, 1) é um autovector associado à λ2 = 3. Para λ3 = −3: 4 −2 0−2 3 2 0 2 2 ∼ 4 −2 00 4 4 0 2 2 ∼ 2 0 10 1 1 0 0 0 ⇒ { x = −12z y = −z Então v = (−1 2 z,−z, z) = z(−1 2 ,−1, 1) e v3 = (−12 ,−1, 1) é um autovector associado à λ3 =−3. Como os autovalores λ1 = 0, λ2 = 3 e λ3 = −3 são distintos dois a dois então os seus respectivos autovectores formam uma base ortogonal. Agora devemos apenas normalizar os autovectores. Temos: • u1 = v1‖v1‖ = ( 1, 1 2 , 1 ) ‖ (1, 1 2 , 1 ) ‖ = ( 1, 1 2 , 1 )√ 1 + 1 4 + 1 = ( 1, 1 2 , 1 ) 3 2 = 2 3 ( 1, 1 2 , 1 ) = ( 2 3 , 1 3 , 2 3 ) ; • u2 = v2‖v2‖ = (−2, 2, 1) ‖ (−2, 2, 1) ‖ = (−2, 2, 1)√ 4 + 4 + 1 = (−2, 2, 1) 3 = 1 3 (−2, 2, 1) = ( −2 3 , 2 3 , 1 3 ) ; • u3 = v3‖v3‖ = (−1 2 ,−1, 1) ‖ (−1 2 ,−1, 1) ‖ = (−1 2 ,−1, 1)√ 1 4 + 1 + 1 = (−1 2 ,−1, 1) 3 2 = 2 3 ( −1 2 ,−1, 1 ) = ( −1 3 ,−2 3 , 2 3 ) . Obtemos então, uma base ortonormal: B = {u1,u2,u3} e P = 23 −23 −131 3 2 3 −2 3 2 3 1 3 2 3 , portanto, [ 2G 2H 2I ] P x′y′ z′ + J = [ −6 6 −24 ] 23 −23 −131 3 2 3 −2 3 2 3 1 3 2 3 x′y′ z′ − 45 = −18x′ − 18z′ − 45. E a quádrica fica reduzida à forma λ1x ′2 + λ2y′2 + λ3z′2 + [ 2G 2H 2I ] P x′y′ z′ + J ⇐⇒ 3y′2 − 3z′2 − 18x′ − 18z′ − 45 = 0. Agora vamos agrupar os termos de mesma variável e aplicar a técnica de completar quadrados: 3y′2 − 3z′2 − 18x′ − 18z′ − 45 = 0 ⇔ 3y′2 − 3(z′2 + 6z′)− 18x′ − 45 = 0 ⇔ 3y′2 −3(z′2 + 6z′ + 9− 9)− 18x′ − 45 = 0 ⇔ 3y′2 − 3(z′2 + 6z′ + 9) + 27− 18x′ − 45 = 0 ⇔ 3y′2 − 3(z′ + 3)2 − 18(x′ + 1) = 0 19 Fazendo a mudança de variáveis x′′ = x′ + 1 y′′ = y′ z′′ = z′ + 3 teremos 3y′′2 − 3z′′2 − 18x′′ = 0⇔ 3y′′2 − 3z′′2 = 18x′′ ⇔ y ′′2 6 − z ′′2 6 = x′′ ⇔ y ′′2(√ 6 )2 − z′′2(√ 6 )2 = x′′ Finalmente, podemos comparar esta equação com as das quádricas obtidas nas secções anteriores e vemos que esta quádrica é um Parabolóide hiperbólico. Exemplo 4.3 Identifique a quádrica representada por 4x2 + 4y2 + 4z2 + 4xy + 4xz + 4yz − 3 = 0 Resolução: A equação quádrica em estudo não possui termos lineares, no entanto só precisamos eliminar os termos mistos calculando os autovalores da matriz da equação: ∣∣∣∣∣∣ 4− λ 2 2 2 4− λ 2 2 2 4− λ ∣∣∣∣∣∣ = 0⇔ −λ3+12λ2−36λ+32 = 0⇔ λ3−12λ2+36λ−32 = 0⇔ (λ−2)2(λ−8) = 0. Assim, λ1 = λ2 = 2 e λ3 = 8 são os autovalores da quádrica. Portanto, a quádrica fica na forma 2x′2+2y′2+8z2−3 = 0⇐⇒ 2x′2+2y′2+8z′2 = 3⇐⇒ x ′2 2 3 + y′2 2 3 + z′2 8 3 ⇐⇒ x ′2(√ 2 3 )2+ y′2(√ 2 3 )2+ z′2(√ 8 3 )2 = 1 que é uma equação de um Elipsóide. 20 Referências [1] CORREIA, Juliana Mauri. Superfícies quádricas. Transformação das coordenadas. 2010. 89 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, 2010. [2] CAMARGO, Ivan; BOULOS, Paulo. Geometria Analítica, um tratamento vetorial, 3a edição, São Paulo: Prentice Hall, 2005. [3] HOWARD, António; RORRES, Chris. Álgebra linear com aplicações, 8a edição, Porto Alegre: Bookman, 2001. [4] David C. Lay, Álgebra linear e suas aplicações, 2a edição,Brasil, 1997. [5] STEINBRUCH, Alfredo; WINTERLE, Paulo, Álgebra linear, 2a edição, São Paulo: McGraw-Hill, 1987, v.1. 21
Compartilhar