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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE DIREITO GABRIELA LAZZAROTTO A RESPONSABILIDADE DO DETENTO AGRESSOR E DO ESTADO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA INTERNA NO SISTEMA CARCERÁRIO: UM REFLEXO DA ATUAL CRISE PRISIONAL BRASILEIRA BLUMENAU 2019 GABRIELA LAZZAROTTO A RESPONSABILIDADE DO DETENTO AGRESSOR E DO ESTADO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA INTERNA NO SISTEMA CARCERÁRIO: UM REFLEXO DA ATUAL CRISE PRISIONAL BRASILEIRA Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Regional de Blumenau, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Prof. Me. Napoleão Bernardes – Orientador. BLUMENAU 2019 GABRIELA LAZZAROTTO A RESPONSABILIDADE DO DETENTO AGRESSOR E DO ESTADO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA INTERNA NO SISTEMA CARCERÁRIO: UM REFLEXO DA ATUAL CRISE PRISIONAL BRASILEIRA Trabalho de Conclusão de Curso apto à avaliação perante banca examinadora: ________________________________________________________________ Presidente: Prof.º Me. Napoleão Bernardes – Orientador, FURB ________________________________________________________________ Membro: Odair Tramontin, FURB ________________________________________________________________ Membro: Rodrigo Fernando Novelli, FURB Blumenau, 24 de junho de 2019. DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Por meio deste instrumento, isento meu Orientador e a Banca Examinadora de qualquer responsabilidade sobre o aporte ideológico conferido ao presente trabalho. ______________________________________ GABRIELA LAZZAROTTO AGRADECIMENTOS Inicialmente, agradeço aos meus pais que me incentivaram por todos os anos em que estive na Universidade, principalmente financeiramente; em especial a minha mãe, a qual sinto imensas saudades. Ao meu companheiro Juliano, que me incentivou a ingressar no curso de Direito e me acompanhou por toda esta trajetória de cinco anos; agradeço toda parceria e paciência. Por fim, agradeço as demais pessoas que indiretamente contribuíram para elaboração deste trabalho. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo compreender qual é a responsabilidade do Estado e do detento em casos de violência empregada dentro do sistema penitenciário. Analisa, em seu decorrer, que a violência empregada no estabelecimento carcerário tem como, uma das causas, a inaplicabilidade dos direitos inerentes à pessoa do segregado, direitos estes difíceis de serem fiscalizados perante a existência de outra problemática alarmante: a superlotação carcerária. Aborda o método dedutivo tendo em vista que o presente trabalho é embasado em doutrinas e legislações pertinentes ao tema e a técnica de pesquisa utilizada foi a pesquisa bibliográfica. Por fim, verifica que o Estado responde, em regra, objetivamente pela violência empregada dentro do estabelecimento penitenciário, independente de culpa, e que, ao detento recai penalidades e sanções – processo administrativo (PAD), bem como pode, se comprovada a prática do ato ilícito, responder à processo criminal pertinente ao crime praticado. Palavras-chaves: Responsabilidade. Lei de Execução Penal. Superlotação Carcerária. Violência Carcerária. Crise Prisional Brasileira. Direito do preso. ABSTRACT The present study aims to understand the responsibility of the State and the detainee in cases of violence used within the prison system. It analyzes, in its course, that the violence used in prison has as one of the causes, the inapplicability of the rights inherent to the person of the segregated person, rights that are difficult to be monitored in the face of another alarming problem: prison overcrowding. It approaches the deductive method in view that the present work is based on doctrines and legislation pertinent to the theme and the research technique used was the bibliographic research. Finally, it verifies that the State is, as a rule, objectively responsible for the violence used within the prison establishment, regardless of guilt, and that the detainee is subject to penalties and sanctions - administrative procedure (PAD), and may, if proven the practice of the illicit act, respond to criminal proceedings pertaining to the crime committed. Keywords: Responsibility. Criminal Enforcement Law. Prison overcrowding. Prison Violence. Brazilian Prison Crisis. Prisoner's Rights. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Art. – Artigo Arts. – Artigos CC – Código Civil CF – Constituição Federal CNJ – Conselho Nacional de Justiça CNPCP - Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária LEP – Lei de Execução Penal STJ – Superior Tribunal de Justiça STF – Supremo Tribunal Federal TJ – Tribunal de Justiça § - Parágrafo §§ - Parágrafos SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10 2 BREVE ANÁLISE ACERCA DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL .................... 12 2.1 QUANTO À NATUREZA ............................................................................... 12 2.2 QUANTO À FINALIDADE .............................................................................. 12 2.3 QUANTO AOS SEUS DIREITOS .................................................................. 13 2.3.1. REGRAS DE MANDELA ...................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 2.4 A INAPLICABILIDADE DOS DIREITOS INERENTES AO PRESO FRENTE A SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA ................................................................. 27 3 CRISE NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO: A VIOLÊNCIA INTERNA COMO UMA DE SUAS MAIS MANIFESTAS FACETAS ............................. 32 4 RESPONSABILIDADE DO DETENTO AGRESSOR E DO ESTADO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA INTRACARCERÁRIA ........................................... 35 4.1. NOÇÕES GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................... 35 4.2. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE ......................................................... 36 4.2.1. RESPONSABILIDADE CIVIL X RESPONSABILIDADE PENAL ................... 36 4.2.2. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL X EXTRACONTRATUAL ................. 37 4.2.3. RESPONSABILIDADE OBJETIVA X RESPONSABILIDADE SUBJETIVA ... 38 4.3. PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL .................................... 39 5. RESPONSABILIDADE DO ESTADO ........................................................... 44 5.1. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO ....................................................... 44 5.2. CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE ................................. 44 5.3. TEORIA DO RISCO INTEGRAL .................................................................... 45 5.4. RESPONSABILIDADE POR CONDUTA OMISSIVA ..................................... 46 5.5. POSIÇÃO DOS TRIBUNAIS ......................................................................... 47 6. RESPONSABILIDADE DO DETENTO ......................................................... 56 6.1. DAS FALTAS DISCIPLINARES .................................................................... 57 6.2. DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO............................................... 60 6.3. DAS SANÇÕES .............................................................................................61 6.4. POSIÇÃO DOS TRIBUNAIS ......................................................................... 62 7. CONCLUSÃO ............................................................................................... 65 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 67 10 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho buscará esclarecer quais são as responsabilidades do detento agressor e do Estado nos casos de violência interna dentro dos ergástulos brasileiros. No contexto atual, é inegável que o Brasil sofre hoje com uma de suas maiores crises penitenciárias da história. São inúmeros os problemas enfrentados por estes estabelecimentos, estando entre eles, a superlotação, a corrupção, a violência, entre outros. Para entender quais são as responsabilidades nos casos de violência empregada dentro do estabelecimento prisional, será necessário entender quais fatores levam os segregados a agir de tal maneira. À medida em que o presente trabalho for se desenvolvendo, serão analisados os diversos fatores que desencadeiam a violência dentro dos estabelecimentos penitenciários, dentre os quais podemos citar a ineficiência do Estado no que tange a aplicação dos direitos fundamentais dos presos e dos direitos previstos da Lei de Execução Penal e demais legislações bem como a superlotação exacerbada nos presídios de todo o país. Já no primeiro capítulo será abordada uma breve análise da Lei de Execução Penal, sua natureza, sua finalidade e quais são os direitos inerentes à pessoa do preso, bem como analisar se a superlotação carcerária limita a aplicabilidade da Lei de Execução Penal no âmbito dos direitos e garantias dos segregados. Em seu desenvolvimento o capítulo buscará situar o leitor sobre quais as problemáticas relacionadas ao atual cenário do sistema carcerário no que diz respeito a superlotação das prisões brasileiras e quais suas causas. Por conseguinte, no capítulo segundo, será abordado o tema da violência interna como um dos resultados da atual crise penitenciária brasileira. Será realizada uma exposição dos dados estatísticos acerca da real situação intracarcerária e os motivos pelos quais a violência é presente nos ergástulos brasileiros. Adiante, a partir do capitulo quarto até o sexto, será abordado qual é a responsabilidade detento agressor e do Estado nos casos de violência dentro do sistema penitenciário. Para tanto, será necessário expor algumas noções básicas de responsabilidade civil, diferença entre responsabilidade civil de responsabilidade 11 penal e demais elementos de suma importância para que ao final, possamos esclarecer qual é a responsabilidade. Assim por fim, de forma ampla, o objetivo do trabalho é que, em seu desenvolvimento e ao final, se tenha uma compreensão quanto quais são as responsabilidades – tanto do Estado quanto do agressor - quando, dentro do estabelecimento prisional, outrem tem sua integridade física e moral violada. 12 2 BREVE ANÁLISE ACERCA DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL 2.1 Quanto à Natureza SANTOS (1998, pg. 13) leciona que tem prevalecido tanto na doutrina quanto na jurisprudência, o entendimento de que a Execução Penal mantém hoje uma natureza predominantemente jurisdicional, o que significa dizer, é um procedimento complexo, com aspectos e características jurisdicionais e administrativas. Diz-se jurisdicional, sobretudo, “pelo fato de haver um processo, instaurado perante um juiz competente, além de contraditório, fundamentado nos princípios constitucionais vigentes” (SANTOS, 1998, pg. 13). Cunha, citado por MIRABETE (2004, pg. 20), ao tratar sobre a natureza da lei de execução penal pontua que: A natureza jurídica da execução penal não se confina no terreno do direito administrativo e a matéria é regulada à luz de outros ramos do ordenamento jurídico, especialmente o direito penal e o direito processual. Há uma parte da atividade da execução que se refere especificamente a providências administrativas e que fica a cargo das autoridades penitenciárias e, ao lado disso, desenvolve-se a atividade do juízo de execução ou atividade judicial de execução (Cunha, citado por MIRABETE (2004. pg. 20). Segundo leciona Limonad, citado por MIRABETE (2004, pg. 20): Como bem acentua Ada Pelegrini Groniver,não se nega que a execução penal é uma atividade complexa, que se desenvolve entrosadamente nos planos jurisdicional e administrativo, e não se desconhece que dessa atividade participam dois poderes: o Judiciário e o Executivo, por intermédio, respectivamente, dos órgãos jurisdicionais e estabelecimentos penais (Limonad, citado por MIRABETE, 2004, pg. 20). Neste sentido, conforme visto do entendimento doutrinário, predominantemente hoje a Execução Penal tem natureza jurisdicional, a qual contém características também administrativa, portanto, de natureza mista. 2.2 Quanto à Finalidade O artigo 1º da Lei de Execução Penal contém duas ordens de finalidade (MIRABETE, 2004, pg. 28).: 13 A primeira delas é a correta efetivação dos mandamentos existentes na sentença ou outra decisão criminal, destinados a reprimir e prevenir os direitos. A segunda é a de “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”, instrumentalizada por meio da oferta de meios pelos quais os apenados e os submetidos às medidas de segurança possam participar construtivamente da comunhão social (MIRABETE, 2004, pg. 28) Anota Paulo Fernando dos Santos (1998, pg. 13), que “a Execução Penal tem por finalidades básicas tanto o cumprimento efetivo da sentença condenatória como a recuperação do sentenciado e o seu retorno a convivência social”. Neste sentido, entende Luis Paulo Sirvinskas (2004, pg. 65): Há a necessidade da existência de um controle social eficaz exercido pelo Estado, que não pode ser o Estado absolutista que tudo pode, e sim um Estado comprometido com a proteção dos direitos e garantias individuais. O poder deve ser exercido pelo Estado Democrático de Direito, o qual se encontra compromissado com os direitos humanos. (Luis Paulo Sirvinskas, 2004, pg. 65). SANTOS (2016), por sua vez, leciona que a Lei de Execução Penal tem como finalidade efetivar os meios para o integral cumprimento da sentença penal, bem como propiciar condições para que o agente seja reintegrado socialmente. E, para tanto, o Estado deve recorrer à cooperação da comunidade e da sociedade, caso contrário, os objetivos do cumprimento da pena não serão atingidos. Neste sentido, o enfoque da Execução Penal é o da ressocialização, proteção de direitos e garantias bem como o cumprimento efetivo da sentença condenatória. 2.3 Quanto aos seus Direitos O Estado de Direito, entende Beneti (1996, pg. 10), que consiste no Estado de Direitos Fundamentais, ou seja, reconhecida a existência de valores que se agregam à organização jurídica da sociedade como direitos recorrentes da essência do ser humano, exige-se que o Estado forneça suficiente garantia de respeito a esses direitos no âmbito da própria eficácia normativa, respeito este que irradia em duas ordens harmônicas, ou seja, nas relações recíprocas dos integrantes da população do Estado e nas relações deste com a aludida população. 14 Assim, “interesse atual pelos direitos do preso é, de certa forma, um reflexo do movimento geral de defesa dos direitos da pessoa humana” (MIRABETE, 2004, pg. 118). Neste sentido, no Brasil discute-se atualmente o paradigma da execução penal alicerçado na Constituição Federal, difundido na Lei de Execução Penal, resguardando os direitos, reintegrando a pessoa física ao meio social e dando as cabíveis garantias de dignidade pelos seus delitos (MONTEIRO, 2016). A doutrina penitenciária moderna com acertado critério proclamaa tese de que o preso, mesmo após a condenação, continua titular de todos os direitos que não foram atingidos pelo internamento prisional decorrente da sentença condenatória em que se impôs uma pena privativa de liberdade (MIRABETE, 2004, pg. 118). Um dos artigos da Lei de Execução Penal que espelham a afirmação acima é o artigo 3º (BRASIL, 1984) que dispõe: Art. 3º: Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Por estar privado de liberdade, o preso encontra-se em uma situação especial que condiciona uma limitação dos direitos previstos na Constituição Federal e nas leis, mas isso não quer dizer que perde, além da liberdade, sua condição de pessoa humana e a titularidade dos direitos não atingidos pela condenação (MIRABETE, 2004, pg. 118). Assim, “como qualquer dos direitos humanos, os direitos do preso são invioláveis, imprescritíveis e irrenunciáveis” (MIRABETE, 2004, pg. 118). Com supremacia, a Constituição Federativa do Brasil, em seu artigo 5º inciso XLIX, garante ao cidadão-preso o respeito à integridade física e moral (BRASIL, 1988). No mesmo sentido, regulamenta sobre o tema a Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, no artigo 3º onde diz que é assegurado ao preso o respeito à sua individualidade, integridade física e dignidade pessoal (BRASIL, 1994). Preceitua ainda, o artigo 40 da Lei de Execução Penal, no entendimento de Júlio Fabbrini Mirabete: Se impõe a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios. Estão assim protegidos os direitos humanos fundamentais do homem (vida, saúde, integridade corporal e dignidade humana), os mais importantes, que servem de 15 suporte aos demais, que não existiriam sem aqueles (MIRABETE, p. 110, 2004). Anota neste sentido Albergaria (1995, pg. 71), onde afirma que “se incluem na primeira categoria dos direitos dos presos, não só os direitos civis e sociais, como também os direitos inerentes à pessoa humana, radicados pela lei natural”. Em virtude dessa declaração, que contém caráter constitucional, estão proibidos os maus tratos e castigos que, por sua crueldade ou conteúdo desumano, degradante, vexatório e humilhante, atentam contra a dignidade da pessoa, sua vida, sua integridade física e moral (MIRABETE, 2004, pg. 119). Os quinze incisos do artigo 41 da Lei de Execução Penal reúnem diversos direitos inerentes ao preso (BRASIL, 1984). Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário; II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social; IV - constituição de pecúlio; V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente. Vê-se a seguir alguns dos direitos previstos no referido artigo. I - Alimentação suficiente e vestuário: 16 Trata-se de regra em que se desdobra o princípio geral de preservação da vida e saúde do preso, fundamental para a existência dos demais direitos. Este direito possui norma legal também na Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994 (BRASIL, 1994): Art. 13. A administração do estabelecimento fornecerá água potável e alimentação aos presos. Parágrafo Único – A alimentação será preparada de acordo com as normas de higiene e de dieta, controlada por nutricionista, devendo apresentar valor nutritivo suficiente para manutenção da saúde e do vigor físico do preso. Deve a administração, assim de um lado, proporcionar ao preso alimentação controlada, convenientemente preparada e que corresponda em quantidade e qualidade às normas dietéticas e de higiene, tendo em conta o seu estado de saúde e, de outro, vestuário apropriado ao clima, para que não seja prejudicada a saúde ou a dignidade (MIRABETE, 2004, pg. 121). II - Atribuição de trabalho e sua remuneração: Também presente no artigo 59 e incisos da Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, o direito ao trabalho segundo ALBERGARIA (1995, pg. 73), como trabalho formativo, é ao lado do direito à educação um dos direitos sociais de grande significação. O trabalho é considerado do ponto de vista reeducativo e humanitário. Colabora na formação da personalidade do recluso, ao criar-lhe hábito de autodomínio e disciplina social, e dá ao recluso uma profissão a ser posta a serviço da comunidade livre. De igual modo, “o trabalho preso deve corresponder uma remuneração ‘equitativa’, como preconizam as Regras Mínimas da ONU” (MIRABETE, 2004, pg.121). III - Previdência Social: Também estão nos róis de direitos do segregado a obtenção dos benefícios da previdência social. Assim, “sendo o trabalho também um dever do preso e devendo ser ele similar ao trabalho livre, decorre também a necessidade de se dar o obreiro condenado as 17 condições para que ele possa gozar dos benefícios da previdência social, incluindo- se, nessa ordem, aqueles derivados de acidente de trabalho” (MIRABETE, 2004, pg. 121) Neste sentido entende Albergaria (1995, pg. 73) que “está inerente ao direito do trabalho o da remuneração e os benefícios da seguridade social, como direito adquirido, que não se suspende com a relação de emprego no meio livre”. IV – Constituição do pecúlio: Pontua Mirabete, que “sendo obrigatório o trabalho e devendo o trabalhador preso receber uma remuneração adequada, pode o Estado prever sua destinação” (MIRABETE, 2004, pg. 122): É o que faz no art. 29, § 1 da Lei de Execução Penal que prevê em caso de estarem satisfeitas as obrigações maiores (reparação do dano, assistência à família, etc), a possibilidade de constituição de pecúlio, mediante desconto da remuneração devida pelo trabalho prisional. Cumpre-se assim, o disposto do artigo 41, inciso IV da Lei de Execução Penal. Presente também no inciso VIII do artigo 59 da Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, “a constituição do pecúlio será entregue quando colocado em liberdade” (BRASIL, 1994). V - Descanso e recreação: Tendo em vista que o inciso II do referido artigo prevê que ao preso seja atribuído o direito ao trabalho, também é seu direito e necessário, seu momento de descanso e de lazer. Segundo Mirabete (2004, pg. 122), “os momentos de repouso são necessários, não se confundindo com a simples ociosidade, porque, diversamente dela, é tão somente uma necessária interrupção da atividade laborativa”. Todavia, “os momentos de recreação far-se-ão necessários tendo em vista a necessidade de ocupar o tempo livre dos segregados para atividades que os tirem do ócio” (MIRABETE, 2004, pg. 122): 18 Este, considerado a “mãe de todos os vícios”, produz efeitos deletérios (indolência, preguiça, egoísmo, desocupação, jogo, contágio moral, desequilíbrio), num conteúdo antiético que pode lançar por terra as esperanças do reajustamentosocial do condenado. Deve-se, portanto, ocupar o tempo livre do preso, impedindo o ócio, por meio da recreação. Neste sentido também dispõe o artigo 59, inciso VII da Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, que trata do descanso como parte do tratamento, com vistas a reinserção social (BRASIL, 1994). VI – Exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas: Leciona MIRABETE (2004, pg. 122) que, deu-se guarida na lei à recomendação prevista nas Regras Mínimas da ONU de serem organizadas atividades recreativas e culturais em todos os estabelecimentos para o bem-estar físico e mental dos presos. Assim, deve ser preenchido, o tempo do preso, sempre que possível, com atividade não só esportivas, já mencionadas, como também de ordem profissional, intelectual e artística. Essas atividades são importantes para que se estabeleça uma boa convivência entre os presos, bem como para que através das atividades, exercitem a imaginação e extravasem toda tensão que a prisão os proporciona no dia-a-dia. VII - Assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa: Conceitua Albergaria (1995, pg. 74) que, “na segunda categoria dos direitos do preso estão os direitos especificamente penitenciários”: São os direitos que derivam da sentença condenatória e integram a relação jurídico- penitenciária. São os direitos do condenado a que correspondem as obrigações do Estado previstas nos artigos 11 e notadamente os artigos 12, 14, 17 e 24 da LEP. Os direitos do preso à assistência material, à saúde, jurídica, educativa e religiosa estão implícitos no direito da personalidade, ou da pessoa humana à perfeição ou realização de sua vocação pessoal, centrado na lei natural. Conforme prevê o artigo 12 da Lei de Execução Penal, “a assistência material dos presos e internados consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas” (BRASIL, 1984). 19 Assistência material: A assistência material deverá obedecer às regras mínimas previstas em mandamentos internacionais sobre os direitos da pessoa presa, especialmente os que decorrem das Regras Mínimas da ONU, de 1955, que gizam que a alimentação deverá ocorrer em horas determinadas; deverá ser de boa qualidade; bem preparada e servida; cujo valor nutritivo seja suficiente para a manutenção da saúde do condenado e que todo preso deverá ter a possibilidade de dispor de água potável quando dela necessitar (Prado, 2017). Regulamenta acerca da alimentação dos segredos, o artigo 13 da Resolução nº 14 de 11-11-1994 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (BRASIL, 1994): Art. 13. A administração do estabelecimento fornecerá água potável e alimentação aos presos. Parágrafo Único – A alimentação será preparada de acordo com as normas de higiene e de dieta, controlada por nutricionista, devendo apresentar valor nutritivo suficiente para manutenção da saúde e do vigor físico do preso. Em relação ao vestuário, a Resolução supracitada dispõe que as mesmas “deverão ser apropriadas às condições climáticas, não afetando a dignidade do preso, devendo estarem limpas e em bom estado” (BRASIL, 1994). Pontua Mirabete (2004, pg. 67), que todo o preso que não tenha permissão de usar suas roupas pessoais deve receber um conjunto delas, apropriado ao clima e suficiente para mantê-lo em boa saúde. Todas as roupas devem ser mantidas limpas e em bom estado e as internas devem ser mudadas e lavadas tão frequentemente quanto possível para manter a higiene. Já, no que se refere à higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento, destaca a obrigação de que o condenado deverá ser alojado em cela individual, que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório, sendo requisitos básicos da unidade celular a salubridade do ambiente e área mínima de seis metros quadrados (Prado, 2017). É o que dispõe o artigo 88, § único “a” e “b” da LEP: Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; 20 b) área mínima de 6,00m² (seis metros quadrados). Dispõe ainda o art. 13 da referida Lei, que o estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração (BRASIL, 1984). Assistência à saúde: Elencada no artigo 6º e artigo 196 da Constituição Federal e regulamentada pelo artigo 15 da Resolução nº 14 de 11-11-1994 do CNPC, a saúde que é direito de todos e dever do Estado, também é um direito do recluso, conforme preceitua o art. 14 da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984): Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico. § 1º (Vetado). § 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento. § 3º Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém- nascido. As Regras Mínimas da ONU preconizam que cada estabelecimento penitenciário deve dispor dos serviços de, pelo menos, um médico, com conhecimento de psiquiatria e que os serviços médicos devem ter sua organização estreitamente relacionada com a administração geral dos serviços de saúde da comunidade ou nação, devendo todo preso poder valer-se dos cuidados de um dentista devidamente habilitado (MIRABETE, 2004, pg. 69). Assistência judiciária: A terceira assistência elencada trata da assistência judiciária, que também regrada pelo artigo 44 da Resolução nº 14 de 11-11-1994 do CNPC, é destinada exclusivamente aos presos que não possuem condições financeiras de custear advogado particular (BRASIL, 1994). MIRABETE (2004, pg. 72) leciona que: 21 Adequada assistência jurídica é de evidente importância para a população carcerária. Nos casos e que há ação penal em andamento, o advogado poderá interferir diretamente no andamento do processo e contribuir para uma sentença absolutória e, em havendo sentença condenatória, poderá propor e encaminhar devidamente a apelação. Na hipótese de condenação transitada em julgado, o advogado representa uma proteção importante na fase de execução das penas restritivas de liberdade (MIRABETE, 2004, pg. 72) Tal princípio faz com que sejam assegurados aos presos e internados as garantias do contraditório, ampla defesa, duplo grau de jurisdição, imparcialidade do juiz, devido processo legal, direito à produção de provas no curso do procedimento, direito de petição e autodefesa (Prado, 2017). Assistência Educacional: Além de ser uma norma Constitucional (artigo 205 da CF), dispõe a Lei de Execução Penal, entre os artigos 17 ao 21, que a assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado. É dever do Estado prestar o ensino de 1º grau, integrando o preso no sistema escolar da Universidade Federativa, podendo ser as atividades educacionais, objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou oferecem cursos especializados. (BRASIL, 1984). Vejamos: Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado. Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Universidade Federativa. [...] Art. 20. As atividades educacionais podem ser objetode convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou oferecem cursos especializados. Neste sentido, acrescenta Mirabete (2004, pg. 75) que assistência educacional deve ser uma das prestações básicas mais importantes não só para o homem livre, mas também àquele que está preso, constituindo-se, neste caso, em um elemento do tratamento penitenciário como meio para a reinserção social. Ademais, quanto aos desdobramentos do acesso ao ensino, a Lei Federal nº 12.433/2011 assegurou ao condenado que cumpre pena em regime fechado ou semiaberto a possibilidade de remir, pelo estudo, parte do tempo de pena, à proporção 22 de um dia de pena para cada doze horas de frequência escolar, divididas, no mínimo, em três dias. (Prado, 2017) A lei foi ao encontro do disposto da Súmula 341 do Superior Tribunal de Justiça que enfatiza que “a frequência a curso de ensino formal é causa de remição de parte do tempo de execução de pena sob o regime fechado ou semiaberto”. (Prado, 2017) Assistência social: A Lei de Execução Penal confere em seus artigos 22 e 23 a assistência social que “tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade” (BRASIL, 1984). As frustações relativas às necessidades de afeição, segurança, realização e aceitação em um grupo fundamentam a intervenção do Serviço Social. Os presos e internados sofrem dessas mesmas frustações, como pessoas que são, e tem as mesmas necessidades humanas básicas do homem livre, já que deste se distinguem apenas por sua situação vital e jurídica, e dele mais necessitam diante das maiores dificuldades ditadas pelas limitações decorrentes da privação de liberdade (MIRABETE, 2004, pg. 79). Para Prado (2017), a assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepara-los para o retorno à liberdade no seio comunitário. Essa assistência deve consistir no elo entre o ambiente carcerário e a comunidade, visando fornecer meios ao reeducando para se ajustar à realidade que o espera. Assistência religiosa: É também direito do segregado a assistência religiosa com liberdade de culto, permitindo a eles a participação nos serviços organizado no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa. Assim estabelece o artigo 24, §§ 1 e 2 da LEP (BRASIL, 1984): Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, permitindo-se lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa. § 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos. § 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa. 23 Neste sentido também estabelece a Resolução nº 14 de 11-11-1994 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (BRASIL, 1994): Art. 2º. Impõe-se o respeito às crenças religiosas, aos cultos e aos preceitos morais do preso. Ainda, anota MIRABETE (2004, pg. 84) que nas Regras da ONU, diz-se que, dentro do possível, deve ser autorizado a todo preso cumprir os preceitos de sua religião, permitindo-se que participe dos serviços organizados no estabelecimento e que senha seus livros religiosos ou de instrução religiosa de se credo. VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; Segundo MIRABETE (2004, pg. 123), “prejudicial tanto para o preso como para sociedade é o sensacionalismo que marca a atividade de certos meios de comunicação de massa (jornais, revistas, rádios, televisão, etc)”. Determina-se por isso, como direito do preso, a proteção contra qualquer forma de sensacionalismo (art. 41, VIII), sendo defesa ao integrante dos órgãos de execução penal, e ao servidor, a divulgação de ocorrência que exponha o preso a inconveniente notoriedade, durante o cumprimento da pena (art. 198) (MIRABETE, 2004, pg. 123). IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado: MIRABETE 2004, pg. 124) aponta, que “trata-se de direito que tem seu fundamento no âmbito da Constituição Federal (art. 5º, LV), assinalando ainda que a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual (art. 5º, XXXV)”. Destaca o doutrinador, que as comunicações do preso com seu advogado têm especial importância no meio penitenciário, dada a importância que tem para esta essa relação profissional, tanto no caso de estar respondendo a uma ação penal, como na hipótese de execução pena (MIRABETE, 2004, pg. 124): Assim devem ser concedidas as maiores facilidades para essa comunicação pessoal que, por ser reservada, exige que se lhe destine lugar apropriado e digno no estabelecimento penitenciário, garantindo o sigilo que deve presidir as relações do cliente com seu procurador judicial MIRABETE (2004, pg. 124). 24 X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos: Fundamental ao regime penitenciário é o princípio de que o preso não deve romper seus contatos com o mundo exterior e que não sejam debilitadas as relações que o unem aos familiares e amigos (MIRABETE, 2004, pg. 124). O direito de visitas é um direito previsto também na Resolução nº 14 de 11-11- 1994 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. In verbis: Art. 33. O preso estará autorizado a comunicar-se periodicamente, sob vigilância, com sua família, parentes, amigos ou instituições idôneas, por correspondência ou por meio de visitas. Pontua MIRABETE (2004, pg. 125) que deve a segurança do estabelecimento, porém, submeter as visitas e o material que transportam a busca pessoal rigorosa, a fim de evitar a entrada de armas, drogas ou objeto que possam comprometer a ordem, a disciplina e a segurança do presídio. XI - chamamento nominal: Assim como direito previsto na LEP, também é direito previsto no artigo 4º da Resolução nº 14 de 11-11-1994 do CNPCP. Anota MIRABETE (2004, pg. 127) que o sentido da ressocialização do sistema penitenciário exige que o preso seja tratado como pessoa e não coisa, com rótulos que têm, por si mesmos, conteúdos vexatório e humilhante. Trata-se de um direito que corresponde ao preso como pessoa, em razão da dignidade inerente a tal condição. XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena: É um direito presente no artigo 7º da Resolução nº 14 de 11-11-1994 do CNPCP. Há que haver uma igualdade de tratamento, “salvo quanto a exigência da individualização da pena, e todos os presos devem ter os mesmos direitos e deveres “ (MIRABETE, 2004, pg. 127). 25 Sendo assim, “qualquer limitação que não se refira as medidas e situações referentes à individualização da pena previstas na própria legislação está vedada” (MIRABETE, 2004, pg. 127). XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento: Havendo qualquer aviso, comunicação ou reclamação, será permitido que o preso entre em contato com o diretor do estabelecimento. A efetiva observação deste direito possibilita a diminuição de discriminações e abuso de poder dos guardas carcerários, e o diretor poderá ter maior controle do que se passa no estabelecimento que dirige (MIRABETE, 2004, pg. 127). XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; Pode o preso dirigir-se à autoridade judiciária ou a outras competentes, sem censura, para solicitação ou encaminhamento de algumas pretensões ou reclamação, de acordo com a vida legalmente (MIRABETE, 2004, pg. 128): É muito comum, nas prisões, a elaboração de petições de habeas corpus, de pedidos de revisão ou de benefícios, muitos deles atendidos, complementando-se a assistência jurídica que, em muitos presídios, é extremamente insuficiente. XV - contato como mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes: Tendo em vista que após a segregação o apenado volta a conviver em sociedade, não pode ele deixar de manter, enquanto encarcerado, contato com o mundo exterior. Os contatos que pode manter com o mundo exterior, por meio de correspondência, imprensa escrita e outros meios de comunicação, como o rádio, o cinema, a televisão, etc., contribuem para mantê-lo informado e tem como fim que não se sinta excluído da sociedade. São eles uma forma de preparação do condenado para sua futura reinserção social (MIRABETE, 2004, pg. 129). 26 XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente: Estabelece o inciso XVI do artigo 41 da LEP, que o preso tem direito ao atestado anual de pena a cumprir. Assim, complementa MIRABETE (2004, pg. 128) que, tem o preso direito de ser imitado de todas as decisões judiciais que ensejam alterações da pena que lhe foi imposta. Pode também, a qualquer tempo requerer certidão relativa à sua exata situação no curso da execução, inclusive quanto tempo de pena a cumprir. 2.3.1. Regras de Mandela Ademais, em que pese a existência de todos estes direitos elencados tanto na Lei de Execução Penal, Constituição Federal quanto nas Resoluções, os Estados, no longo muitos anos, também fizeram uso das “Regras Mínimas para o Tratamento de Presos”, como um guia para estruturar sua Justiça e sistemas penais. Segundo o CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (2006), o estatuto reformulado em meados de 2015 pelas Nações Unidas, incorporou novas doutrinas de direitos humanos para tomá‑las como parâmetros na reestruturação do atual modelo de sistema penal e percepção do papel do encarceramento para a sociedade. Chamado assim de “Regras de Mandela”, o novo Estatuto levou em consideração instrumentos internacionais vigentes no país, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes e seu Protocolo Facultativo (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2006) Segundo o que dispõe a “Regra de Mandela” do CNJ (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2006): Todos os presos devem ser tratados com respeito, devido a seu valor e dignidade inerentes ao ser humano. Nenhum preso deverá ser submetido a tortura ou tratamentos ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes e deverá ser protegido de tais atos, não sendo estes justificáveis em qualquer circunstância. A segurança dos presos, dos servidores prisionais, dos prestadores de serviço e dos visitantes deve ser sempre assegurada (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2006). 27 Embora a realidade nos mostre outro paradigma, todos estes direitos elencados durante o capítulo devem ser respeitados para que possa ser cumprida a definição de ressocialização imposta pela Constituição Federal, respeitando o princípio da dignidade humana e direitos fundamentais. A garantia mínima destes direitos será um avanço para se conseguir a humanização e cidadania destes presidiários (SOUSA, 2018). 2.4 A Inaplicabilidade dos direitos inerentes ao preso frente a superlotação carcerária A superlotação hoje, é um dos aspectos característicos da maioria dos presídios brasileiros. Segundo Machado (2009), “o que se percebe é a queda acintosa de um modelo estatal, cuja falência já vem sido admitida há tempo, em virtude de tantas barbáries e mazelas que ainda se fazem presentes no cárcere”. Desta forma, em que pese a Lei de Execução Penal, amparada pela Constituição Federativa do Brasil e demais legislações, terem artigos que tratam exclusivamente dos direitos e garantias dos presos, os quais são foram devidamente expostos acima, na prática, o Sistema Penitenciário Brasileiro esbarra em inúmeras deficiências, entre elas, a inaplicabilidade dos direitos dos encarcerados. As manchetes de jornais e revistas noticiam constantemente as barbáries que ocorrem no interior das penitenciárias, tais como assassinatos, além de divulgarem a real situação dos apenados e presos provisórios, bem aquém da ideal. Uma das causas da superlotação carcerária dar-se-á pelo excesso de presos provisórios e a falta de vaga para o cumprimento da pena (RANGEL, 2014). Atentando-se a estas causas citadas por Rangel, é que veremos alguns dados penitenciários extraídos do Banco de Dados do Conselho Nacional de Justiça. Alarmantemente, dados estatísticos mostram que, o sistema prisional brasileiro é o quarto do mundo em número de pessoas, perdendo apenas para Estados Unidos da América (2.228.424), China (1.657.812) e Rússia (673.818) (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2017). Na última estimativa do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões, em agosto de 2018, estimou-se que há 602.217 pessoas cadastradas no sistema como privadas de liberdade, incluídas as prisões civis e internações como medidas de 28 segurança, distribuídas nas unidades da Federação (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2018). Conquanto o número de pessoas privadas de liberdade no Brasil ultrapasse a marca das seiscentos mil pessoas, só existem 376.669 vagas no sistema penitenciário. A taxa de encarceramento nacional é 300 presos para cada cem mil habitantes no país. A quantidade de encarcerados é consideravelmente superior às quase 376 mil vagas do sistema penitenciário, alcançando um déficit superior a 230.000 vagas. A taxa de ocupação média dos estabelecimentos é de 161%, a quinta maior entre os países que se apresentam com contingente prisional elevado. Em média, em espaços concebidos para acomodarem 10 pessoas, existem por volta de 16 encarcerados (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2017). Destas 602.217 pessoas privadas de liberdade, aproximadamente 24,72% (148.472 mil) de presos em execução provisória e 40,14% (241,090) presos sem condenação (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2018) Ou seja, mais da metade da população carcerária está presa, sem justa condenação e sem que o processo de conhecimento tenha transitado em julgado, contribuindo assim para que cada vez mais, os estabelecimentos carcerários fiquem superlotados e para que os direitos inerentes aos presos e a garantia do devido processo legal sejam violados. Acrescenta BLUME (2017), que “além do grande contingente de presos provisórios, existe o problema das condenações a regime fechado sem necessidade”: Em casos de condenações a menos de oito anos de reclusão, o condenado pode cumprir pena no regime semiaberto ou aberto desde o início, segundo o Código Penal. Enquanto 53% dos presos foram condenados nesses termos, apenas 18% cumprem pena em regimes mais brandos – a maior parte cumpre regime fechado, apesar das possibilidades dadas em lei (BLUME, 2017). Também há milhares de casos de presos que continuam no regime fechado mesmo quando poderiam passar para o semiaberto, segundo dados do Depen. Menos pessoas cumprindo regime fechado significariam menos pessoas nas celas brasileiras (BLUME, 2017). Ou seja, com o sistema penitenciário superlotado, os direitos previstos da LEP serão sempre violados, uma vez que o Estado não consegue fiscalizar o efetivo cumprimento da lei. 29 Embora o acesso à educação seja um direito previsto na Constituição, na LEP e demais legislações, extrai-se de dados do Conselho Nacional do Ministério Público, que 43,82% dos estabelecimentos penais não oferecem a assistência educacional aos seus segregados, enquanto 56,18% oferecem a devida assistência (CNMP, 2017). No que tange ao direito à saúde, um direito fundamental já debatido nos capítulos anteriores, dados do CNMP (2017) mostram a taxa de assistência médicapor região dos estabelecimentos penais brasileiros, os quais o Centro Oeste conta com 29,29% de estabelecimentos sem assistência médica, enquanto o Nordeste com 56,85%, Norte com 32,96%, Sudeste com 28,40% e Sul com 26,46%. Em relação ao direito ao trabalho, vejamos as seguintes espécies para após analisarmos os dados estatísticos: trabalho interno, trabalho externo, trabalho remunerado e trabalho voluntário. Trabalho interno: Não são todos os estabelecimentos penais que fornecem esta assistência. Dados mostram que hoje, o Sudeste conta com 49,60% das unidades prisionais sem oficina de trabalho, enquanto Sul com 61,38%, o Centro-Oeste com 74,90%, o Norte com 84,26% e o Nordeste com 81,96%. Com isto, somando todas regiões do Brasil, temos o percentual de apenas 14,97% homens e 25,79% mulheres trabalhando em oficinas internas de trabalho (CNMP, 2017). Trabalho externo: Não muito diferente do trabalho interno, os números são baixíssimos: o Sudeste conta com 49,60% de segregados sem acesso ao trabalho externo, enquanto o Sul com 61,38%, o Centro Oeste com 74,90%, o Norte com 84,36% e o Nordeste com 81,96%. Somando todas as regiões brasileiras, o percentual é de apenas 3,74 homens e 3,88% de mulheres trabalhando. (CNMP, 2017) Trabalho remunerado: Dados mostram que 49,60% dos estabelecimentos do Sudeste não fornecem assistência ao trabalho remunerado, bem como o Sul (61,38%), o Centro Oeste (74,90%), o Norte (84,36%) e o Nordeste (81,96). Assim fazendo uma estimativa em percentual, atualmente, apenas 11,67% dos homens e 17,03% das mulheres encarceradas possuem acesso ao trabalho remunerado. (CNMP, 2017) Trabalho voluntário: Os números não poderiam ser muito diferentes dos que já foram expostos acima. Em relação ao Sudeste, 49,60% dos estabelecimentos não oferecem a assistência ao trabalho voluntário, enquanto no Sul conta com 61,38%, o Centro Oeste com 74,90%, o Norte com 84,36% e o Nordeste com 81,96. Ao todo, 30 são apenas 2,51% de homens e 2,97% de mulheres trabalhando em serviço voluntário. (CNMP, 2017) A condição de uma oportunidade de trabalho aos presos, educação e lazer seria essencial para trazer oportunidades quando estes retornarem ao ambiente social. Mais uma vez o sistema carcerário sofre com a dificuldade de incorporar os detentos a um trabalho remunerado, o que condiciona a superlotação, por dificultar a redução das penas pelos presos através de um trabalho digno, humanitário e ressocializador (SOUTTO, 2015). Pontua Soutto (2015) que embora a Lei de Execução penal busque o aspecto da ressocialização, em que os presos devem ter acesso ao caráter humanitário da pena, garantido por assistência médica, jurídica, acompanhamento social, não elimina a dificuldade de efetivação desses direitos. Além da violência entre os presos, a sensação de impunidade é inerente à sociedade, o que proporciona uma desqualificação da adoção da LEP no sistema penitenciário. Celas pequenas, sem condições de albergar dignamente sequer cinco detentos, são ocupadas por quinze, ou até vinte deles, num flagrante desrespeito às condições mínimas estabelecidas, tanto na Lei de Execução Penal Brasileira, quanto nos documentos internacionais relativos à matéria (RANGEL, 2014). Para a grande e esmagadora maioria, não só a cela não é individual, como é excessivamente coletiva, muitas vezes ultrapassando o número de trinta, quarenta condenados, testando os limites de acomodação, e de sobrevivência dos condenados (DANTAS, 2018) Ou seja, “a superlotação dificulta toda a aplicação da pena, tendo em vista seu caráter ideológico – de seu projeto inicial, daquilo que foi imaginado como adequado em termos de punição e ressocialização -, no que diz respeito ao seu cumprimento” (DANTAS, 2018). Destaca-se neste sentido, que entre as literaturas especializadas no assunto, são constatadas as seguintes deficiências e problemas mais marcantes do sistema penitenciário brasileiro (MACHADO, 2009): I)superlotação carcerária; II)elevado índice de reincidência; III)condições de vida e de higiene precárias; IV)negação de acesso à assistência jurídica e de atendimento médico, dentário e psicológico aos reclusos; V)ambiente propício à violência sexual e física, sendo esta ocorrida tanto entre os 31 próprios detentos quanto entre estes e o pessoal carcerário; VI)ociosidade ou inatividade forçada; VII)grande consumo de drogas; VIII)efeitos sociológicos e psicológicos negativos produzidos pela prisão Apresentando a superlotação carcerária dos estabelecimentos penitenciários no ranking número um dos primeiros problemas elencados pelos doutrinadores, esta é tão grave que alguns os descrevem como um castigo e/ou tortura. Leciona Richard, citado por BITTENCOURT (1993, p.209), “que a superlotação das prisões, a alimentação deficiente, o mau estado das instalações, pessoal técnico despreparado, falta de orçamento, todos esses fatores convertem a prisão em um castigo desumano”. CAPPELARI (2017) por sua vez, acrescenta que “a prisão é um dos principais fatores de criminalidade, na medida em que fortalece o crime e revitaliza o seu ciclo, uma vez que a violência não é um desvio da prisão, mas é ela própria”. Anota Bittencourt (1993), que “a maior parte das rebeliões que ocorrem nas prisões são causadas pelas deploráveis condições materiais em que a vida carcerária se desenvolve”. Neste mesmo sentido leciona Richard, citado por BITTENCOURT (1993, 209): A imensa maioria dos protestos reivindicatórios massivos produzidos na prisão têm sua origem nas deficiências efetivas do regime penitenciário. As deficiências são tão graves, que qualquer pessoa que conheça certos detalhes da vida carcerária fica profundamente comovida (Richard, citado por BITTENCOURT, 1993, 209). Segundo CAPPELLARI (2017), “a prisão é um dos principais fatores de criminalidade, na medida em que fortalece o crime e revitaliza o seu ciclo, uma vez que a violência não é um desvio da prisão, mas é ela própria”. Assim, diante dos números ora apresentados e dos entendimentos doutrinários, o real problema da superlotação carcerária diz respeito a inaplicabilidade das garantias e direitos previstos na Lei de Execução Penal e demais legislações, que diante ao crescimento exacerbado de segregados é praticamente impossível coloca- los em prática e principalmente, fiscaliza-los para que seu cumprimento seja efetivo. 32 3 CRISE NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO: A VIOLÊNCIA INTERNA COMO UMA DE SUAS MAIS MANIFESTAS FACETAS Quando a prisão converteu-se na resposta penológica principal, especialmente a partir do século XIX, acreditou-se que poderia ser um meio adequado para conseguir a reforma do delinquente (BITTENCOURT, 1993, pg. 143). Durante muitos anos imperou um ambiente otimista, predominando a firme convicção de que a prisão poderia ser um meio idôneo para realizar todas as finalidades da pena e que, dentro de certas condições, seria possível reabilitar o delinquente (BITTENCOURT, 1993, pg. 143). Este otimismo inicial desapareceu e atualmente predomina uma certa atitude pessimista, que já não tem muitas esperanças sobre os resultados que se possa conseguir com a prisão tradicional. A crítica tem sido tão persistente que se pode afirmar, sem exagero, que a prisão está em crise (BITTENCOURT, 1993, pg. 143). Ademais, é importante atentar-se que, esta crise não se limita apenas ao sistema penitenciário brasileiro, mas sim, está presente em diversas nações do mundo todo. Consoante Gomez, citado por BITTENCOURT (1993, pg. 144): As graves deficiências das prisões não se limitam a narrações de alguns países, ao contrário, existem centros penitenciários em que a ofensa a dignidade humana é rotineira, tanto em nações desenvolvidas, como em subdesenvolvidas. As mazelas da prisão não sãoprivilégios apenas em países de terceiro mundo (Alfonso Serrano Gomez, citado por BITTENCOURT, 1993, pg. 144). Sabe-se que, a separação dos presos por natureza do crime, cor, escolaridade e periculosidade, não acontece, pois, o Estado obsoleto não está preocupado em qualidade e retorno a sociedade como indivíduos com sede de mudança, e sim com mais encarceramento e marginalização. (RODRIGUES e CACAU, 2018) Estes fatores, aliados as demais perturbações tanto psicológicas, quanto morais e até físicas que as prisões executam nos segregados, fazem com que a violência se potencialize nos estabelecimentos penitenciários como forma de reinvindicação pelos direitos violados e não aplicados (BITTENCOURT, 1993). 33 Dados mostram que, no ano de 2017, contabilizando as mortes em todos os estabelecimentos penitenciários do País, aproximadamente 1.545 presos foram mortos dentro dos estabelecimentos prisionais do nosso País (CNMP, 2017). Leciona Christiane Russomano Freire (2005) que: Os problema estruturais do sistema prisional brasileiro – como a superlotação, a inexistência de programas capazes de redução de danos, as práticas de tortura – potencializaram permanentemente soluções permeadas pela violência (FREIRE, 2005). Neste aspecto, retoma-se a afirmativa de que o arcabouço disciplinar baseado no sistema meritório, em nenhum momento conseguiu plena efetivação no interior das prisões, uma vez que, além de não resguardar minimamente os direitos e garantias constitucionais dos presos, sempre se manteve associado às formas de controle violentas e arbitrárias (FREIRE, 2005). A generalização das rebeliões, das fugas, dos casos de torturas e das mortes no interior do sistema penitenciário serve como demonstrativo da fragilidade dos dispositivos no controle disciplinar. Um dos fatores para a contribuição da violência, pontua RODRIGUES e CACAU (2018), é o grau de escolaridade dos presos. Em dados mais recentes, cerca de 24,92% possuem ensino médio incompleto; até ensino fundamental completo 75,08%; menos de 1% tem graduação, ou seja, conclui-se um déficit de educação e, quanto menor o grau de escolaridade, mais chance de o indivíduo cometer delitos. Para BITENCOURT (1993, pg. 206), é necessária uma discussão racional sobre a violência produzida na prisão, que deve ser acompanhada de uma clara compreensão de que essa violência tem causas que se original no sistema e na sociedade, como totalidade. Segundo o doutrinador, “o recluso que ingressa na prisão também traz consigo a deformação que a sociedade produz na agressividade do homem” (BITENCOURT, 1993, pg. 206): Não se ignora que as frustações originadas pela prisão são um fator que influenciem nas situações violentas que surgem no cárcere; porém também não se pode ignorar que estes internos encontram-se contaminados por outros fatores anteriores, como a violência que experimentaram em sua vida familiar ou na sociedade (BITENCOURT, 1993, pg. 206). 34 McCorkle e Korns, citados por BITENCOURT (1993, pg. 207) lecionam que, “os internos tendem a manter o mesmo nível de frustação, apesar de as condições penitenciárias item melhorando”: As inevitáveis limitações que a reclusão impõe faz com que os remédios institucionais tenham um efeito muito reduzido. Na medida em que melhora as condições do sistema carcerário, os internos vão aumentando sua esperança e expectativas, de tal sorte que, apesar de em termos absolutos ter havido uma melhora, sob um ponto de vista relativo, isto é subjetivamente, continuem experimentando a mesma frustação. Este sentimento é um dos fatores que mais favorece o ambiente de conflitividade, especialmente em relação às autoridades penitenciárias (McCorkle e Korns, citados por BITENCOURT, 1993, pg. 207). Em geral, sabe-se que os segregados vivem em condições precárias, e que as celas que deveriam ser individuais, quase que sempre são um amontoado de “gente”, sendo difícil que a administração forneça supervisão, fiscalização e vigilância interna. Por esta razão e diversos outros motivos, acaba por gerar dentro do estabelecimento um espaço de conflito entre os próprios encarcerados e também autoridades penitenciárias. Leciona CARVALHO (2008, pg.221) que, ciente das consequências do ato sedicioso, a massa carcerária acaba por encontrar em condutas ilícitas (fugas, rebeliões e motins) a única maneira eficaz de romper o silêncio totalitário dos muros prisionais. Tais manifestações geram o fenômeno da ‘conflitividade carcerária’. Neste sentido entende BITENCOURT (1993, pg. 205), que os motins carcerários são os fatos que mais dramaticamente evidenciam as deficiências da pena privativa de liberdade. É o acontecimento que causa o maior impacto e o que permite à sociedade tomar consciência, infelizmente por pouco tempo, das condições desumanas em que a vida carcerária se desenvolve. O doutrinador complementa: Infelizmente, pouco depois de desaparecido o conflito carcerário, a sociedade volta a construir um muro de silencia e de indiferença, que se manterá até que outro acontecimento dramático comova, transitoriamente, a consciência social. Este ciclo é fatal, cuja interrupção é muito difícil, é um dos fatores que mais influem para que a problemática carcerária não encontre solução satisfatória na maior parte da sociedade (BITENCOURT,1993, pg. 205-206). 35 Ou seja, a grande conflitividade existente no meio carcerário, cuja expressão genuína é o motim, tem origem de uma multiplicidade de fatores. Provavelmente as deficientes condições materiais em que se desenvolve a vida carcerária seja o fator mais importante (BITENCOURT, 1993, pg. 206). Anota CARVALHO (2008, pg. 222) que, em realidade percebe-se que os atos de transgressão às regras impostas no ambiente carcerário indicam, na maioria dos casos, a única possibilidade de manifestação da massa carcerária contra a constante lesão de seus direitos. Ou seja, a causa da violência e da conflitualidade nos ergástulos brasileiros, além de ter relação direta por fatores psicológicos e sociais, dar-se-á principalmente pelo não cumprimento da lei, no que concerne aos direitos e garantias dos segregados, direitos estes que, diante a superlotação exacerbada dos estabelecimentos prisionais torna-se muito difíceis de serem fiscalizados e impostos. 4 RESPONSABILIDADE DO DETENTO AGRESSOR E DO ESTADO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA INTRACARCERÁRIA 4.1. Noções Gerais da Responsabilidade Civil A palavra responsabilidade tem sua origem na raiz latina spondeo, pela qual se vinculava o devedor, solenemente, nos contratos verbais do direito romano. Dentre as várias acepções existentes, algumas fundadas na doutrina do livre-arbítrio, outras em motivação psicológicas, destaca-se a noção de responsabilidade como aspecto da realidade social (GONÇALVES, 2009). Anota o doutrinador, que toda atividade que acarreta prejuízo traz em seu nojo, como fato social, o problema da responsabilidade. Destina-se ela a restaurar o equilíbrio moral e patrimonial provocado pelo autor do dano. Exatamente o interesse em restabelecer a harmonia e o equilíbrio violados pelo dano constitui a fonte geradora de responsabilidade civil (GONÇALVES, 2009). Segundo Neto (2000, pg. 11), a Responsabilidade Civil é um dos temas da Teoria Geral do Direito que mais tem evoluído nos últimos anos. Temas como a responsabilidade do médico, a responsabilidade por danos ambientais, ao consumidor e nucleares, dentre tantos outros tem instigado nossa doutrina. 36 A responsabilidade do Estado corresponde a um desses temas intrigantes que se tem feito frequente em nossos Tribunais, na atualidade, carecendo, portanto, de aprofundamento doutrinário (NETO, 2000, pg. 12). 4.2. Espécies de Responsabilidade 4.2.1. Responsabilidade Civil X Responsabilidade PenalA distinção entre responsabilidade penal e responsabilidade civil liga-se à própria distinção entre ilícito civil e ilícito penal. Neste sentido, a lição dos irmãos Mazeaud: “a diferença entre a responsabilidade civil e a responsabilidade penal é a distinção entre direito penal e direito civil” (Mazeud, citado por NETO, 2000, pg. 44). Segundo Inácio de Carvalho Neto (2000, pg. 44) esta distinção é feita recorrendo-se ao critério da norma atingida. Afirmar-se que, no ilícito penal, o agente infringe uma norma de ordem pública, perturbando a ordem social, enquanto no ilícito civil, a norma atingida é de direito privado, sendo lesado apenas o interesse da vítima. No caso da responsabilidade penal, o agente infringe uma norma de direito público. O interesse lesado é o da sociedade. Na responsabilidade civil, o interesse é privado. O prejudicado poderá pleitear ou não a reparação (GONÇALVES, 2009, pg. 24). Assim, quando coincidem, a responsabilidade penal e a responsabilidade civil proporcionam as respectivas ações, isto é, as formas de se fazerem efetivas: uma, exercível pela sociedade; outra, pela vítima; uma, tendente à punição; outra, à reparação – a ação civil aí sofre, em larga proporção, a influência da ação penal (Dias, citado por GONÇALVES, 2009, pg. 25). Ou seja, “a esfera penal é dirigida ao sujeito que cometeu o ato ilícito, ao passo que o direito civil dirige sua atenção para o dano causado” (NETO, 2000, pg. 47). Sobre outros aspectos distinguem-se, ainda, a responsabilidade civil e a responsabilidade penal. Esta é pessoa, intransferível. Responde o réu com a privação de sua liberdade. Por isso deve estar cercado de todas as garantias contra o Estado. A este incumbe reprimir o crime e arcar sempre com o ônus da prova (GONÇALVES, 2009). Acrescenta GONÇALVES, (2009, pg. 25), que na esfera civil, porém, é diferente: 37 A regra actori incumbit probatio, aplicada a generalidade dos casos, sofre hoje muitas exceções, não sendo tão rigorosa como no processo penal. Na responsabilidade civil não é o réu, mas a vítima que, em muitos casos, tem que enfrentar entidades poderosas, como as empresas multinacionais e o próprio Estado. Por isso, mecanismos de ordem legal e jurisprudencial têm sido desenvolvidos para cerca-la de todas as garantias e possibilitar-lhe a obtenção do ressarcimento do dano. Anota VENOSA (2013, pg. 20), “que a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível quanto ao dever de indenizar o dano decorrente da conduta criminal na forma dos arts. 91, I do Código Penal e 63 do CPP”. Complementa o doutrinador que, embora as jurisdições penal e civil em nosso país serem independentes, há reflexos no juízo cível, não só sob o mencionado aspecto da sentença penal condenatória, como também porque não podemos discutir no cível a existência do fato e da autoria do ato ilícito, se essas questões foram decididas no juízo criminal e encontram-se sob o manto da coisa julgada (art. 64 do CPP, art. 935 do Código Civil)(VENOSA, 2013, pg. 20). 4.2.2. Responsabilidade Contratual x Extracontratual Os dois tipos de responsabilidade, contratual e a extracontratual, possuem previsão legal no Código Civil, sendo a contratual no artigo 389 e s. e 195 e s., e a extracontratual no artigo 186 a 188 e 927 a 954. A responsabilidade civil é chamada de contratual quando derivar de um descumprimento contratual. Será ela extracontratual, ou aquiliana, quando o ato ilícito não derivar de nenhum contrato (NETO, 2000). Para a configuração da responsabilidade são estas a três condições: o dano, o ato ilícito e a causalidade, isto é, o nexo de causa e efeito entre os primeiros elementos (Dias, citado por GONÇALVES, 2009, pg. 27). Leciona Rodrigues, citado por NETO (2000, pg. 50): Na hipótese de responsabilidade contratual antes da obrigação de indenizar emergir, existe, entre o inadimplente e seu co-contratante, um vínculo jurídico derivado da convenção; na hipótese da responsabilidade aquiliana, nenhum liame jurídico existe entre o agente causador do dano e a vítima, até que o ato daquele ponha em ação os princípios geradores de sua obrigação de indenizar (Rodrigues, citado por NETO, 2000, pg. 50). 38 A responsabilidade contratual abrange o inadimplemento ou mora relativos a qualquer obrigação, ainda que proveniente de um negócio unilateral (como o testamento, a procuração ou a promessa de recompensa) ou da lei (como a obrigação de prestar alimentos). E a responsabilidade extracontratual compreende, por seu turno, a violação dos deveres ferais de abstenção ou omissão, como os que correspondem aos direitos reais, aos direitos da personalidade ou aos direitos de autor (à chamada propriedade literária, científica ou artística, aos direitos de parente ou de invenções às marcas) (Varela, citado por GONÇALVES, 2009, pg. 27) Outro elemento de diferenciação poderia ser apontado no tocante à gradação da culpa. Em regra, a responsabilidade, seja extracontratual, seja contratual, funda- se na culpa. A obrigação de indenizar, em se tratando de delito, deflui de lei, que vale erga omnis (GONÇALVES, 2009, pg. 29). 4.2.3. Responsabilidade Objetiva x Responsabilidade Subjetiva A responsabilidade objetiva encontra fundamento no artigo 37 § 6 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), in verbis: § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Anota GONÇALVES (2009, pg. 30), que “em relação a responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do agente para que seja obrigado a repara o dano. Em alguns ela é presumida pela lei. Em outros, é de todo prescindível”. A classificação corrente e tradicional, porém, denomina objetiva a responsabilidade que independe de culpa. Esta pode ou não existir, mas será sempre irrelevante para a configuração do dever de indenizar. Indispensável será a relação de causalidade, uma vez que, mesmo no caso de responsabilidade objetiva, não se pode acusar quem não tenha dado causa ao evento. Nessa classificação, os casos de culpa presumida são considerados hipóteses de responsabilidade subjetiva, pois se fundam na culpa, mesmo que presumidas (GONÇALVES, 2009, pg. 31). Gonçalves (2009, pg. 31) leciona, que “quanto a responsabilidade objetiva, esta prescinde-se totalmente da prova da culpa. Ela é reconhecida, como mencionado, 39 independentemente de culpa. Basta assim, que haja relação de causalidade entre a ação e o dano”. Portanto, no entendimento de ORTEGA (2016), quando se fala que a responsabilidade do Estado é objetiva, isso significa que a pessoa que sofreu um dano causado por um agente público terá que provar apenas três elementos: a) conduta praticada por um agente público, nesta qualidade; b) dano; c) nexo de causalidade (demonstração de que o dano foi causado pela conduta). Já em relação a responsabilidade subjetiva, além da prova da ação ou omissão do agente, do dano experimentado pela vítima e da relação de causalidade entre um e outro, faz-se mister provar a culpa com que agiu o agente (NETO, 2000. pg. 56). 4.3. Pressupostos da Responsabilidade Civil Segundo estabelece o artigo 186 do Código Civil, aquele que causa dano a outrem é obrigado a repara-lo. Assim estabelece (BRASIL, 2002): Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Verifica-se assim, “que são três os elementos da responsabilidade civil: ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, o nexo de causalidade e o dano” (GONÇALVES, 2009, pg. 35). a) Ação ou Omissão: Esta responsabilidadepode derivar de ato próprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda danos causados por coisas e animais que lhe pertençam (GONÇALVES, 2009, pg. 35). Acrescenta NETO (2000, pg. 62), que “obrigação de o agente reparar o dano pode ser ocasionada, também, por ato de terceiro que esteja sob sua responsabilidade, bem como por danos causados por coisas que estejam sob sua guarda”. TARTUCE (2011, pg. 364) anota que, “a conduta humana pode ser causada por uma ação (conduta positiva) ou omissão (conduta negativa) voluntária ou por 40 negligência, imprudência ou imperícia, modelos jurídicos que caracterizam o dolo e a culpa respectivamente”. Logo, a regra é a ação ou a conduta positiva; já para a configuração da omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado ato, bem como a prova de que a conduta não foi praticada. Em reforço para a omissão é necessária ainda a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado (TARTUCE, 2011, pg. 364). b) Culpa ou dolo do agente: O dolo constitui uma violação intencional do dever jurídico com o objetivo de prejudicar outrem. Trata-se de ação ou omissão voluntária mencionada do artigo 186 do CC (TARTUCE, 2011, pg. 367). Acrescenta GOLÇALVES (2009, g. 35) que “dolo é a violação deliberada, consciente, intencional, do dever jurídico”. Diferenciando culpa e dolo, leciona NETO (2000, pg. 65) que “o dolo ocorre quando o resultado danoso foi deliberadamente buscado pelo agente. No ato culposo, o agente não visou ao resultado alcançado, mas este resultou de uma atitude de negligência, imprudência ou imperícia.” O Código Penal distingue o dolo direito do dolo eventual em seu artigo 18, I, quando afirma ser o crime doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. No primeiro caso, ter-se-ia o dolo direto. No segundo, o dolo eventual (NETO, 2000, pg. 65). Já para o Direito Civil, anota TARTUCE (2011, pg. 368) que “não interessa o estudo da classificação do Direito Penal quanto ao dolo e, consequentemente, dos conceitos de dolo eventual, dolo não eventual e preterdolo”. Em todos estes casos, o agente deverá arcar integralmente quanto a todos os prejuízos causados ao ofendido. Em suma, presente o dolo, a indenização a ser paga pelo agente deve ser integral. O princípio da reparação integral dos danos pode ser retirado do art. 944, caput, do CC e do art. 6º, VI, do CDC (TARTUCE, 2011, pg. 368). Neste sentido, para a obtenção a reparação do dano, a vítima geralmente tem que provar dolo ou culpa stricto sensu do agente, segundo a teoria subjetiva adotada em nosso diploma civil. Entretanto, como essa prova muitas vezes se torna difícil de 41 ser conseguida, o nosso direito positivo admite, em hipóteses específicas, alguns casos de responsabilidade sem culpa: a responsabilidade objetiva, com base especificamente na teoria do risco, abrangendo também casos de culpa presumida (GONÇALVES, 2009, pg. 35). Em relação a culpa, GONÇALVES (2009, pg. 36) acrescenta que, ela pode ser in elegendo: decorre da má escolha do representante, do preposto; in vigilando: decorre da ausência de fiscalização; in committendo: decorre de uma ação, de um ato positivo; In ommittendo: decorre de uma omissão, quando havia o dever de não se abster; in custodiendo: decorre da falta de cuidados na guarda de algum animal ou de alguém objeto. c) Nexo de causalidade: O nexo de causalidade ou nexo causal constitui o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil, constituindo a relação de causa e efeito entre a conduta culposa ou o risco criado e o dano suportado por alguém. Neste sentido, a responsabilidade civil, mesmo objetiva, não pode existir sem a relação de causalidade entre o dano e a conduta do agente (TARTUCE, 2011, pg. 377): Se houver dano sem que a sua causa esteja relacionada com o comportamento do suposto ofensor, inexiste a relação de causalidade, não havendo obrigação de indenizar. Fundamentam, para tanto, conceber a seguinte lógica: Na responsabilidade subjetiva o nexo de causalidade é formado pela culpa genérica ou lato sensu, que inclui o dolo e a culpa estrita (art. 186 do CC). Na responsabilidade objetiva o nexo de causalidade é formado pela conduta, cumulada com a previsão legal de responsabilização sem culpa ou pela atividade de risco (art. 927, parágrafo único do CC). Ademais, “não se pode esquecer do estudo dos excludentes totais do nexo de causalidade, que obstam sua existência e que deverão ser analisadas pelo aplicador do direito no caso concreto” (TARTUCE, 2011, pg. 384). Neste sentido, em relação as excludentes de nexo de causalidade e de responsabilidade, as mesmas serão tratadas mais adiante no decorrer dos subcapítulos. 42 d) Dano A palavra dano é derivada do latim damnum e quer dizer, num sentido amplo, o prejuízo experimentado por uma pessoa no meu patrimônio material ou moral (QUEIROGA, 2003, pg. 37) Cahali, citado por VENDRAMEL (2000, pg. 72) leciona que, o pressuposto da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual é o dano. A pratica de atos ilegais sem a ocorrência de prejuízos não induz a pretensão indenizatória; portanto, para que a responsabilidade estatal seja invocada, numa pretensão indenizatória, há de existir o dano. O dano, fato jurídico ilícito, poderá resultar de um ato doloso ou culposo do agente público, ou de um ato injusto lesivo ao direito subjetivo do particular (VENDRAMEL, 2000, pg. 72): O dano figura como ponto de incidência da responsabilidade do Estado e a imposição da indenização dos prejuízos suportados pelo particular, em contrapartida, é a resposta do ordenamento jurídico do Estado de Direito, em nome do princípio da proteção jurídica (VENDRAMEL, 2000, pg. 72). Conceitua Venosa (2013, pg. 38), que o dano ou interesse deve ser atual e certo; não sendo indenizáveis, a princípio, danos hipotéticos. Sem dano ou sem interesse violado, patrimonial ou moral, não se corporifica a indenização. A materialização do dano ocorre com a definição do efetivo prejuízo suportado pela vítima. d.1) Dano Material O dano material é o dano patrimonial e será sempre indenizável, salvo quando da ocorrência de excludentes. Os danos materiais deverão ser calculados sobre o que, efetivamente, o particular perdeu, o que deixou de ganhar e o que poderia ter ganho no futuro; noutras palavras, deverão abranger os danos emergentes, os lucros cessantes e os danos futuros (VENDRAMEL, 2000, pg. 76). 43 Venosa (2013, pg. 42), conceitua dano emergente aquele que se realça à primeira vista, o chamado dano positivo, traduz uma diminuição de patrimônio, uma perda por parte da vítima: aquilo que efetivamente perdeu. O lucro cessante traduz a dicção legal, o que a vítima razoavelmente deixou de lucrar (VENOSA, 2013, pg. 42): Trata-se de uma projeção contábil nem sempre muito fácil de ser avaliada. Nesta hipótese, deve ser consideração o que a vítima teria recebido se não tivesse ocorrido o dano. O termo razoavelmente posto na lei lembra, mais uma vez, que a indenização não pode converter- se em um instrumento de lucro. Os danos futuros, não exigem para sua comprovação “a certeza absoluta”, e, muito embora não se condicionem a uma “mera possibilidade” deverão ser fixados a partir de “uma probabilidade objetiva”, que poderá ser aferida ante as circunstancias que envolvem o caso concreto (VENDRALMEL, 2000, pg. 76). d.2) Dano Moral Conceitua VENOSA (2013, pg. 47): Dano moral é o prejuízo que afeta o animo psíquico, moral e intelectual da vítima. Sua atenção é dentro dos direitos de personalidade. Neste campo, o prejuízo transita pelo imponderável, daí por que aumentam as dificuldades de se
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