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CASO CONCRETO 02 PENAL - RESPOSTA (PROVA)

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DIREITO PENAL I - CCJ0007 
Título 
SEMANA 2 
Descrição 
Caso concreto. 
 
Leia a notícia abaixo e responda às questões formuladas. 
Plenário do Supremo julgará caso de furto de chinelo de R$ 16 
Homem foi condenado a um ano de prisão, mas ministro suspendeu punição. 
Mariana Oliveira 
 
Do G1, em Brasília, 05/08/2014, disponível em: 
http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/08/plenario-do-supremo-julgara-caso-
de-furtode- chinelo-de-r-16.html 
 
 O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar, em data a ser 
definida, um processo no qual um homem foi condenado a um ano de prisão e 
dez dias-multa pelo furto de um par de chinelos avaliado em R$ 16. Como era 
reincidente, a Justiça de Minas Gerais determinou que a punição deveria ser 
cumprida em regime semiaberto, pelo qual o preso pode deixar o presídio para 
trabalhar durante o dia. 
 
Com base nos estudos realizados sobre os princípios norteadores, limitadores 
e garantidores de Direito Penal, responda de forma objetiva e fundamentada: 
quais as possíveis teses defensivas a serem apresentadas? 
 
Inicialmente, diante do caso concreto há varias teses defensivas que 
teriam como base: o principio da bagatela penal, a característica do 
direito penal, visto por alguns autores como principio da 
fragmentariedade penal, o principio da intervenção penal mínima a baixa 
periculosidade do fato somado a mínima lesividade a tipicidade ocorrida, 
ao reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a orientação 
formulada pelo STF de que somente a reincidência, por si só, não deve 
impedir a aplicação do principio da insignificância. Esta somente deve ser 
afastada caso o réu possua em sua FAC ocorrência transitada em julgado 
de decisões condenatórias anteriores que devem ser necessariamente 
referentes a crimes da mesma espécie para que seja respeitado o 
principio do non bis in idem. 
 
Não obstante, nesse mesmo sentido há de se citar jurisprudência provida 
do Supremo Tribunal Federal de relatoria do Exmº Sr. Ministro RICARDO 
LEWANDOWSKI datado de 09 de junho de 2017 a qual concede HC em 
favor do réu de um caso concreto igualmente caracterizado com o 
apresentado acima. 
 
Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pela Defensoria 
Pública da União em favor de Washington Junior de Souza, contra decisão 
proferida pelos Ministros integrantes da Sexta Turma do Superior Tribunal de 
Justiça, que negaram provimento ao AgRg no Agravo no Recurso Especial 
988.022/MG (págs. 357-364 do documento eletrônico 2). Consta dos autos que 
o paciente foi condenado ao cumprimento de “ reprimenda de 01 (um) ano, 06 
(seis) meses e 15 (quinze) dias de reclusão, em regime inicial fechado, além do 
pagamento de 25 (vinte e cinco) dias-multa em valor mínimo unitário, pela 
prática do delito compendiado no art. 155, caput [furto simples], do CP” (pág. 
255 do documento eletrônico 2). A impetrante alega, em síntese, que “ [o] 
paciente foi denunciado pela prática do delito do art. 155, caput, do CP, 
consistente na subtração de bem avaliado em R$ 36,45 (trinta e seis reais e 
quarenta e cinco centavos) por entender o Tribunal de origem pela não 
incidência do princípio da insignificância. [...] No caso em análise, observa-se 
que o valor da res furtiva, dois pacotes de fraldas, foi avaliado em R$ 36,45 
(trinta e seis reais e quarenta e cinco centavos), quando o salário mínimo 
vigente na época era de R$ 350,00, conforme MP-288/2006. O bem não foi 
consumido e restituído integralmente à vítima, inexistindo prejuízo. A análise 
do caso talvez não devesse ser centrada na questão da reincidência (esse foi o 
motivo para não se aplicar o princípio da insignificância ao argumento do alto 
grau de reprovabilidade, eis que presente a reincidência específica). Nessa linha, 
o recorrente entende que o grau de reprovabilidade não deve estar vinculado a 
uma avaliação objetiva da existência ou não da reincidência, mas atentar a uma 
análise subjetiva do agente, considerando o seu contexto, circunstâncias de vida 
e as condições pessoais do agente. Pressupondo a aplicação da teoria 
consagrada no Supremo Tribunal Federal na qual contém os requisitos da a) 
mínima ofensividade da conduta do agente; b) ausência de periculosidade social 
da ação; c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e d) 
inexpressividade da lesão jurídica provocada. E que todos estão presentes, eis 
que o único motivo alegado, a ausência do reduzidíssimo grau de 
reprovabilidade do comportamento, também não pode ser aceito conforme 
argumentação supra, não se verifica a ocorrência do tipo, devendo ser absolvido 
o impetrante. E por fim, a rejeição a essa apreciação da matéria para entender 
que um valor definido peremptoriamente não configura insignificância, resulta 
na apreciação de matéria de prova, o não é permitido em sede de recurso 
especial” (págs. 2 e 6-7 do documento eletrônico 1). Ao final, requer “ a 
concessão da ORDEM DE HABEAS CORPUS para reconhecer a atipicidade 
do fato e trancar a ação penal” (pág. 8 do documento eletrônico 1 – grifos no 
original). Bem examinados os autos, destaco, inicialmente, que, embora o 
presente writ tenha sido impetrado em substituição a recurso extraordinário, esta 
Segunda Turma não opõe óbice ao seu conhecimento. Nesse sentido, cito os 
seguintes precedentes: HC 126.791-ED/RJ, HC 126.614/SP e HC 126.808-
AgR/PA, todos da relatoria do Ministro Dias Toffoli. Anote-se, também, que o 
art. 192 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal faculta ao Relator 
denegar ou conceder a ordem de habeas corpus, ainda que de ofício, quando a 
matéria for objeto de jurisprudência consolidada neste Supremo Tribunal. Por 
este motivo, passo ao exame do mérito desta impetração. No julgamento do HC 
123.108/MG, da Relatoria do Ministro Roberto Barroso, o Plenário desta 
Suprema Corte decidiu, por maioria de votos, que a “ aplicação do princípio da 
insignificância envolve um juízo amplo (conglobante), que vai além da simples 
aferição do resultado material da conduta, abrangendo também a reincidência 
ou contumácia do agente, elementos que, embora não determinantes, devem ser 
considerados” . Nesse sentido, as seguintes teses foram acolhidas: “ (i) a 
reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a 
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto; e (ii) na 
hipótese de o juiz da causa considerar penal ou socialmente indesejável a 
aplicação do princípio da insignificância por furto, em situações em que tal 
enquadramento seja cogitável, eventual sanção privativa de liberdade deverá ser 
fixada, como regra geral, em regime inicial aberto, paralisando-se a incidência 
do art. 33, § 2º, c, do CP no caso concreto, com base no princípio da 
proporcionalidade” . Muito bem. Ao julgarem a Apelação Criminal 2785351-
63.2014.8.13.0024, os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal do 
Tribunal de Minas Gerais proferiram decisão, cuja ementa é a seguinte: 
“ APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA 
INSIGNIFICÂNCIA. DESCABIMENTO. ACUSADO REINCIDENTE. 
RECONHECIMENTO DA TENTATIVA. IMPOSSIBILIDADE. REDUÇÃO 
DA REPRIMENDA IMPOSTA. VIABILIDADE. AGRAVANTE DA 
REINCIDÊNCIA E ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. 
COMPENSAÇÃO DEVIDA. REGIME INICIAL FECHADO. 
MANUTENÇÃO. DETRAÇÃO DA PENA. MATÉRIA AFETA AO JUÍZO 
DA EXECUÇÃO. RECURSO PROVIDO EM PARTE. - Consoante 
entendimento firmado pelos Tribunais Superiores, a condição de reincidente do 
réu constitui empeço à incidência do princípio da insignificância, perdendo a 
característica de bagatela constantes comportamentos contrários à lei devido à 
sua reprovabilidade. - Considera-se consumado o delito de furto com a simples 
inversão da posse do bem subtraído, nãosendo necessário que esta seja mansa e 
pacífica, tampouco que o bem saia da esfera de vigilância da vítima. - A 
agravante da reincidência e a atenuante da confissão espontânea, nos termos do 
art. 67 do Código Penal, são igualmente preponderantes, devendo, por tal razão, 
serem compensadas em segunda fase, conforme orientação trazida pelos 
tribunais superiores. - A detração, prevista no art. 387, § 2º, do CPP, apenas 
deverá ser realizada pelo juiz do processo de conhecimento quando importar em 
modificação do regime inicial de cumprimento de pena, sob pena de usurpação 
da competência do juízo da execução penal” (pág. 254 do documento 
eletrônico 2). Pois bem, quanto a inaplicabilidade do princípio da 
insignificância, impende afirmar que o decisum combatido está em consonância 
com a jurisprudência desta Suprema Corte. Com efeito, ao analisarem a 
possibilidade de aplicação do princípio da insignificância ao caso concreto, as 
instâncias inferiores, após aferirem o resultado material da conduta praticada 
pelo agente, ressaltaram a sua reincidência e contumácia na prática do delito em 
questão, elementos que, embora não determinantes, devem ser considerados. 
Tiveram em conta as 4 (quatro) condenações anteriores do paciente, todas 
transitadas em julgado: a) Ação Penal 1647497-78.2013.8.13.0024 – art. 155, § 
4º, II, do CP – trânsito em julgado em 13/8/2013 (pág. 166 do documento 
eletrônico 2); b) Ação Penal 5409520-07.2009.8.13.0024 – art. 155, § 2º, do 
CP – trânsito em julgado em 7/1/2010 (pág. 167 do documento eletrônico 2); c) 
Ação Penal 0608817-12.2011.8.13.0024 – art. 155, caput, do CP – trânsito em 
julgado em 25/8/2011 (pág. 169 do documento eletrônico 2); d) Ação Penal 
2465105-32.2008.8.13.0024 – art. 155, § 4º, IV, do CP – trânsito em julgado 
em 14/2/2011 (pág. 169 do documento eletrônico 2). Na esteira do que aqui 
decidido, cito o seguinte precedente: “ Agravo regimental em habeas corpus. 2. 
Furto. Insignificância. No julgamento conjunto dos HC 123.108, 123.533 e 
123.734, o STF fixou orientação sobre a aplicação do princípio da 
insignificância aos casos de furto – Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, julgados 
em 3.8.2015. Decidiu que, se a coisa subtraída é de valor ínfimo (i) a 
reincidência, a reiteração delitiva e a presença das qualificadoras do art. 155, § 
4º, devem ser levadas em consideração, podendo acarretar o afastamento da 
aplicação da insignificância; e (ii) nenhuma dessas circunstâncias determina, 
por si só, o afastamento da insignificância, cabendo ao juiz analisar se a 
aplicação de pena é necessária. Além disso, conclui que, (iii) uma vez aplicada 
pena privativa de liberdade inferior a quatro anos de reclusão ao reincidente, o 
juiz pode, se considerar suficiente, aplicar o regime inicial aberto, afastando a 
incidência do art. 33, § 2º, c, do CP. 3. As instâncias ordinárias têm margem 
larga para avaliação dos casos, concluindo pela aplicação ou não da sanção e, se 
houver condenação, fixando o regime. Essa atividade envolve análise do 
conjunto das circunstâncias e provas produzidas no caso concreto. Apenas em 
hipóteses excepcionais a via do habeas corpus será adequada a rever 
condenações. 4. Aplicação do princípio da insignificância. Subtração de 
aparelho celular, avaliado em R$ 72,00 (setenta e dois reais). Reincidência 
específica. O paciente registrava uma série de condenações e antecedentes, 
indicando que o furto em questão não fora uma ocorrência criminal isolada em 
sua vida. 5. Agravo regimental a que se nega provimento” (HC 126.174-
AgR/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 9/5/2016 - grifei). 
Todavia, é caso de conceder-se a ordem de habeas corpus quanto ao regime 
inicial de cumprimento de pena, que deverá ser o aberto, nos termos do que 
decidido pelo Plenário desta Corte no HC 123.108/MG. Nesse sentido, 
transcrevo a ementa do seguinte julgado: “ HABEAS CORPUS. FURTO 
QUALIFICADO. DETRAÇÃO PENAL NA SENTENÇA CONDENATÓRIA. 
ALTERAÇÃO ESTABELECIDA PELA LEI 12.736/2012. APLICAÇÃO 
IMEDIATA. IMPOSSIBILIDADE. JURISDIÇÃO ESGOTADA. REGIME 
PRISIONAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE EXECUÇÃO. FIXAÇÃO DO 
REGIME ABERTO. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. 1. Inaplicável a 
modificação estabelecida na legislação processual penal acerca da detração 
penal a sentença condenatória antes da entrada em vigor da Lei 12.736/2012. 2. 
Na hipótese, excepcionalmente considerados os bens furtados e a 
desproporcionalidade da fixação do regime semiaberto do paciente, acolho o 
entendimento sufragado pelo Plenário desta Suprema Corte, no julgamento do 
HC 123.108/MG e do HC 123.533/SP, ambos da relatoria do Ministro Roberto 
Barroso, para impor o regime inicial aberto de cumprimento da pena. 3. Ordem 
de habeas corpus concedida de ofício” (HC 128.714/SP, Rel. Min. Rosa 
Weber, Primeira Turma, DJ 16/12/2015 - grifei). Isso posto, concedo a ordem 
de habeas corpus (art. 192, caput, do RISTF), com fundamento diverso do que 
requerido, para determinar que a pena de reclusão do paciente seja cumprida 
inicialmente em regime aberto. Comunique-se, com urgência. Intime-se. 
Publique-se. Brasília, 9 de junho de 2017. Ministro Ricardo Lewandowski 
Relatório 
(STF - HC: 144186 MG - MINAS GERAIS 0005298-88.2017.1.00.0000, 
Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 09/06/2017, 
Data de Publicação: DJe-125 13/06/2017)

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