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Primeiro de Maio - Mário de Andrade resenha

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Primeiro de Maio
Este conto exibe o conflito de um jovem operário, identificado como "chapinha 35", com o momento histórico do Estado Novo. Em “Primeiro de Maio”, a personagem 35 acorda feliz e determinado a celebrar o seu dia. 35 é trabalhador, carrega malas na Estação da Luz, em São Paulo, e naquele dia, se orgulhava disso. 
Ele acorda cedo, toma banho, faz a barba e veste sua melhor roupa, revelando seu patriotismo ingênuo. E ele é inocente também em outros momentos, como quando ele percebe a quantidade de policiais nas ruas, achando que é para impedir roubos, e nem imagina que seja para impedir as manifestações. Ainda que tenha lido nos jornais sobre tais protestos em outras grandes cidades, ele não ligava muito para isso. Essa é outra característica de 35: ele sabe superficialmente sobre o que acontece no mundo pois lê mais ou menos os jornais. Ao ler um desses periódicos, uma notícia sobre “os operários da nação” que lhe comoveu. Seguindo com a leitura do jornal, descobre que haverá uma comemoração com os deputados trabalhistas. 35 saiu apressado, pois não poderia perder tal festividade. Chegou às 9h15 em seu destino, um pouquinho atrasado, e se decepcionou. Não tinha nenhuma pessoa, nem mesmo os deputados. Logo começa o desânimo de 35: começa a perceber que apenas ele estava comemorando esse dia.
Quando voltava para casa, encontrou o guarda-noturno e amigo 486, “grilo”, que se denominava anarquista, e por causa do 1º de maio, também não estava trabalhando naquele dia. Fizeram uma parada em frente ao Palácio das Indústrias, onde havia uma multidão de pessoas muito bem vestidas. 35 concluiu que poderiam ser os deputados. No local também havia muitos policiais que discretamente tentavam se esconder nas esquinas, para não revelarem o motivo de estarem lá. Um grupo de três homens de dentro do Palácio convidou de longe os operários que estavam ali reunidos: alguns foram, outros, assim como 35 e seu amigo, não. 
Daí em diante o receio invade o corpo de 35, que abandona o local. Foi-se à Estação da Luz, sem ânimo; mas lá, ao menos conhecia as pessoas, sentia-se calmo. Ao avistar 22, um senhor de idade, que trabalhava por aquela hora, notou que estava ajudando uma família a se instalar, mas como não cabia tudo, acabaram deixando quatro malas pesadíssimas para o pobre 22 carregar. Frustrado, 35 vê aquela cena e, com prontidão vai ajudar: pega as malas do 22 e, num gesto de camaradagem, ajuda o amigo mais velho, finalizando o conto.
Há alguns aspectos que podemos observar nesse conto, como a utilização de linguagem popular, em expressões como “turumbamba macota” e sugestões freudianas espalhadas pelo texto, comuns na obra de Mário. Outro detalhe que merece destaque é o foco narrativo: o narrador flutua entre estar fora e dentro da cabeça do 35, procurando o verso e o reverso daquela experiência. Observamos 35 sofrer uma transformação psicológica: vai da visão ingênua sobre o feriado até a noção desencantada e decepcionada com a realidade. Acha estranho que o feriado seja comemorado por um grupo de políticos encasacados, enquanto os trabalhadores são impedidos pela polícia de se agruparem. A maneira como as personagens são nomeadas, por meio de números, não só indica a desumanização por que passam dentro do sistema capitalista, como também faz referência a datas importantes, como 35, ano em que foi decretado o feriado de Primeiro de Maio e 22, ano de fundação do Partido Comunista Brasileiro. O conto “Primeiro de Maio”, de Mário de Andrade, é um objeto artístico que, ao longo de oito anos (1934-1942) e onze páginas, expõe “deformando” o real da classe operária paulistana durante o período do Estado Novo e, desse modo, contribui para a reflexão do leitor, talvez sua transformação. Consequentemente, para a reflexão e talvez transformação da sociedade.

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