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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Serviço Social Fundamentos de Sociologia Autores clássicos da Sociologia: Émile Durkheim e seus conceitos fundamentais Aula 3 Prof. Everson Araújo Nauroski CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Dentre os clássicos da Sociologia, Durkheim ocupa lugar de destaque pela contribuição que deu à constituição dessa ciência e pela abrangência de seu pensamento. No tempo desse autor, havia muitos candidatos querendo se tornar o pai ou representante legítimo da Sociologia, façanha só alcançada por Durkheim. Ao longo desta aula descobriremos o porquê. Convido você a mergulhar nesse autor e por ora concordar, mesmo que temporariamente, com suas ideias. Esse é um recurso que ajuda na compreensão e apropriação de um autor, pois se a cada parágrafo ficamos discutindo e discordando do mesmo, o estudo não avança. No momento certo, traremos os aspectos críticos e problemáticos das ideias de Durkheim, deixando para você, leitor, a tarefa de julgar o que pode ser aproveitado e descartado desse grande clássico. Estamos diante do sujeito que tornou a sociologia uma ciência. Até o momento em que viveu Durkheim, havia muitas obras e autores que tentavam esse feito, mas nenhum conseguiu reunir com originalidade, abrangência e profundidade os elementos básicos para que um adquira status de científico, a saber: caracterização de seu objeto de estudo, metodologia própria de investigação e análise, e um corpo teórico denso e coerente para fundamentar suas conclusões. Como resultado de sua produção, Durkheim alcança grande notoriedade em sua época, ocupando a cadeira de ciência da educação e posteriormente introduzindo a Sociologia como matéria universitária, o que ajudou a consolidar a nova ciência. Vamos à aula! Para saber mais sobre o que será estudado nesta aula, acesse o material on-line e assista ao vídeo de introdução que o professor Everson preparou para você! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Contextualizando Existe um princípio muito repetido de que um autor, para ser compreendido, precisa ser lido a partir de seu tempo. Nossa leitura de Durkheim não foge desse princípio. O contexto em que viveu o fundador da ciência sociológica estava marcado pela memória histórica dos conflitos revolucionários de 1848 que abalaram a Europa e ordem social daquela época. Entre os anos de 1848 a 1851, a sociedade francesa viu a necessidade de o Estado estabelecer concessões aos pobres e trabalhadores para evitar o aumento das tensões e conflitos. Havia disputas políticas envolvendo republicanos, monarquistas e o clero, trabalhadores se mobilizavam em prol de mais direitos e um clima de insegurança colocava a necessidade de uma nova ordem social. O medo das elites burguesas e oligarcas de que houvesse uma revolução social nacional fez com que a repressão – a Comuna de Paris de 1871, um governo socialista de trabalhadores que tomou o poder por alguns meses – fosse cruel e violenta. Em nível internacional, a Tríplice Aliança arrefeceu as pequenas guerras entre países europeus e, por um tempo, o acordo entre Alemanha, Áustria e Itália trouxe uma paz armada para a Europa. Além desses fatores, a economia capitalista dava passos largos na construção de sua hegemonia. Problematização Em face ao contexto que acabamos de apresentar, havia ainda problemas a serem enfrentados de forma inadiável, tais como: a proletarização dos trabalhadores, urbanização desordenada das cidades, altas taxas de criminalidade, aumento da mortalidade infantil, prostituição, suicídios, proliferação de doenças e o risco de que, se nada fosse feito, a sociedade viesse a implodir. Pense um pouco sobre essas situações... Você acha que, comparativamente, a sociedade atual conseguiu melhorar, avançar? Que problemas permanecem, e quais foram superados? Que novos problemas surgiram, ou se agravaram ainda mais? CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Saiba mais Vamos conhecer um pouco mais da época industrial? Assista ao filme A classe operária vai ao paraíso – um filme de 1971, dirigido por Elio Petri, que mostra a trajetória de um operário que aos poucos vai se aburguesando: https://www.youtube.com/watch?v=mlZV3G_C8jg Com base no filme indicado, pesquise sobre a história da industrialização brasileira. Após sua pesquisa, tente responder a seguinte indagação: Quais as vantagens e desvantagens do processo industrial para a vida em sociedade? A seguir, outras fontes para te ajudar a responder essa questão. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 40141989000300003 http://zip.net/bysZVR No material on-line, você encontrará um vídeo no qual o professor Everson fala um pouco mais sobre as informações apresentadas. Não deixe de assistir! As bases epistemológicas da Sociologia de Durkheim O pensamento social de Durkheim se desenvolve num momento em que o saber científico tinha como escopo as ciências da natureza. Isso fez com que esse autor buscasse fundamentar a nova ciência em sólidas bases filosóficas e metodológicas. Sua teoria social nasce com o compromisso de se legitimar e sustentar por si mesma. Seu ponto de partida é o legado comteano e sua doutrina positivista da ciência. Outro elemento importante foi pensar a sociedade como um organismo vivo em evolução, uma noção tomada de empréstimo da biologia. Para Durkheim, o comportamento humano não é resultado da autonomia da vontade CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 como defendiam os filósofos, pelo contrário, a conduta humana é moldada a partir de fora, de onde vem sua noção de fato social como aquele construto macrossocial que se impõe aos homens como modelos de pensamento, sentimento e de ações com os quais precisam se conformar, sob pena de, se assim não o fizerem, sofrerem diferentes níveis e tipos de sanções pelo coletivo social do qual fazem parte. Partindo desse pressuposto, Durkheim estava convencido que a explicação dos fenômenos sociais e dos comportamentos dos indivíduos deveriam ser buscados na sociedade e não nos sujeitos, uma vez que, mesmo sendo criadas pelos homens, as estruturas e instituições sociais ganham vida própria e autonomia, sobrevivem às pessoas. A partir dessa ideia, encontrando os elementos comuns, o que ele chamou de regularidade social, o cientista social poderia compreender as leis ou princípios que explicariam os fatos sociais. A noção de sociedade desse autor redunda numa compreensão do social pela sua totalidade externa e objetiva, formada por partes individuais e subjetivas – as pessoas – existindo de modo funcional de forma a beneficiar o todo. Podemos dizer que a vida coletiva regula e produz a vida individual e que os indivíduos, são, em certa medida, um reflexo do seu meio social. Quanto mais ampla e forte for a consciência coletiva, isto é, quanto mais as pessoas compartilharem de valores, crenças, símbolos e ideias, tanto maior será a coesão e integração social. Assim, a grande preocupação de Durkheim era compreender e explicar as causas que atuam positiva ou negativamente para a manutenção da ordem social. Ao longo desta aula, vamos descobrir que suas descobertas indicaram que o bom funcionamento da sociedade depende do equilíbrio entre os indivíduos e estruturas sociais, bem como da eficiência dos processos de integração social que envolvem a educação, a ação do Estadoe a divisão social do trabalho. Em sua obra As regras do método sociológico, Durkheim estabelece os fundamentos da pesquisa social. Primeiramente é preciso considerar como CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 objeto de estudo o fato social. Entender que o fato social precisa ser visto como uma coisa, isto é, deve ser observado com distanciamento: Devemos, portanto, considerar os fenômenos sociais em si mesmos, desligados dos sujeitos conscientes que deles têm representações: É preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, por que é deste modo que se nos apresentam (DURKHEIM, citado por SELL, 2009, p. 83). Além dessa orientação, existem outras igualmente importantes ao cientista social: evitar que seus prejuízos interfiram em sua análise; ter como princípio que um fato social só pode ser explicado por outros, ou outros fatos sociais. Leitura obrigatória Para complementar seus estudos, faça a leitura indicada a seguir: A teoria do crime e da pena em Durkheim: uma concepção peculiar do delito http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/FDir/Artigos/humbertorevisado.p df Saiba mais Assista ao filme a Sociedade da Neve e reflita sobre a seguinte afirmação: o comportamento social humano e civilizado depende de condições e circunstâncias que o sustentem e reforcem. https://www.youtube.com/watch?v=ltdfC2zYcMY Leia o comentário a seguir: “Os sobreviventes – 29 logo após o acidente, 27 no dia seguinte, dezenove depois da avalanche, e por fim dezesseis – tiveram de construir uma comunidade regida pela incerteza e pelo pavor. Uma experiência radical numa disputa contra a adversidade, que preparava emboscadas seguidas e punha à prova toda sua capacidade de suportar a dor, a frustração e as humilhações. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Isso fez com que regredissem aos primórdios dos tempos, a estágios anteriores a qualquer civilização conhecida, para começar do princípio e aprender tudo de novo, deixando no caminho 29 companheiros, familiares e tripulantes.” Fonte: VIERCI, P. Disponível em: <http://zip.net/bpsZ1D> Acesso em 29/04/2016. Para tirar as dúvidas que possam ter surgido até aqui, assista ao vídeo que o professor Everson preparou para você! Acesse o material on-line! A modernidade explicada pela ótica funcionalista de Durkheim A perspectiva analítica de Durkheim passou para a história da Sociologia como funcionalismo positivista. Isso significa dizer que, para esse autor, a sociedade moderna é uma realidade complexa que se mantém em seus processos de integração tentando equilibrar a relação entre indivíduo e sociedade. Em sua famosa obra A divisão do trabalho social de 1893, Durkheim busca investigar os diferentes tipos de sociedade e os mecanismos que atuam em seu interior que podem contribuir para sua coesão e bom funcionamento, ou, para o que ele denominou de processos anômicos, nos quais os laços e vínculos de solidariedade enfraquecem, fazendo surgir todo tipo de problemas. É identificado um conjunto de dois tipos de sociedade: ■ Sociedades simples e tradicionais: podemos citas como exemplo as sociedades ancestrais, tribais, pequenas comunidades, nas quais predomina um tipo de solidariedade mecânica, com as seguintes características: proximidade entre os indivíduos com fortes laços e vínculo entre eles; compartilhamento de uma consciência coletiva integrada; pouca diferenciação entre os sujeitos; poucas tarefas a serem divididas e realizadas coletivamente. ■ Sociedades complexas e industriais: são aquelas nas quais o que mantém ou deveria manter os laços e vínculos entre as CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 pessoas é a divisão do trabalho social. Isso equivale dizer que nas sociedades complexas como a nossa, existe um conjunto diversificado de tarefas e atividades desenvolvidas por um vasto corpo social, formado por profissionais, grupos, classes, indivíduos e instituições. Essa realidade forma um tipo de solidariedade orgânica, isto é, existe uma relação de interdependência entre as pessoas, visto que não podemos prover tudo que precisamos para nossa vida. Durkheim acreditava que, quanto mais pessoas fossem envolvidas nesse processo, os vínculos seriam reforçados e a integração social mantida. Nas sociedades simples, a regulação das condutas passa pela consciência coletiva e pela força das normas morais do grupo. Tanto que quando algum membro do grupo fere essas normas, a punição é severa, às vezes fatal. Trata-se de uma noção de direito na qual o foco pedagógico da ação não é o indivíduo, mas o grupo. Já nas sociedades complexas as normas derivam da educação e da divisão do trabalho. O desvio é punido, visando o equilíbrio social e a reinserção do infrator, fazendo com que o direito tenha um caráter restritivo. Não podemos esquecer que a preocupação de Durkheim era com a manutenção da ordem social, de onde deriva a acusação de sua Sociologia ser tradicional e conservadora. Não faz parte do escopo do pensamento desse autor propor outro tipo de sociedade como fez Marx; sua preocupação central não era a transformação da sociedade, mas a condução orientada das mudanças sociais. Para Durkheim, considerando a realidade das sociedades complexas, os problemas sociais têm como causa comum a ampliação de processos anômicos. Assim, para esse autor, uma forma de evitar que ocorresse um estado de anomia generalizado, com potencial para destruir a sociedade, ele propôs três soluções a serem implementadas de modo integrado: a educação moral dos jovens e crianças, conforme seu grupo social; ação estratégica do Estado; e a progressiva divisão social do trabalho. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Leitura obrigatória Após ler o artigo e escutar a música indicados a seguir, tente analisar as causas dos problemas apresentados pela ótica de Durkheim, apontando quais seriam suas causas e as possibilidades de solução. A violência urbana é particularidade da sociedade brasileira? http://zip.net/bcsZpm Negro Drama (Racionais MC’s) https://www.youtube.com/watch?v=V_SECWDIgog Vamos continuar nos aprofundando nesses conhecimentos, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! O suicídio: tipologias e causas A análise social de Durkheim não deixou de fora um fenômeno social que desperta muito interesse em diversas áreas: o suicídio – fenômeno este, definido pelo autor como “todo caso de morte provocado direta ou indiretamente por um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia que devia provocar esse resultado” (SELL, 2009, p. 92). Associado aos problemas de integração nas sociedades modernas e ao peso maior ou menor dos processos anômicos, Durkheim mostrou em sua clássica obra O suicídio, publicada em 1897, que, embora se trate de um ato pessoal, o mesmo possui, também, causas sociais. A fim de compreender melhor o peso que os fatores sociais poderiam ter sobre o fenômeno do suicídio, Durkheim recorre a dados estatísticos, formando uma taxa indicativa, com aspectos diferenciados conforme a realidade de uma região ou país. O suicídio foi classificado em quatro tipos: ■ Suicídio egoísta: é aquele que resulta de um sentimento egoísta extremo, identificado como o mais comum em sociedades complexas com pouca integração social. A anomia se revela na sensação de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 estar à deriva, excluído, ou vivendo em isolamento, fora dos círculos familiares ou comunitários.■ Suicídio altruísta: o peso maior de vínculos, a força de certas normas e o comprometimento com certos valores e grupos podem conduzir o indivíduo a uma conformação e obediência extrema, ocasionando a decisão pela própria morte. Um exemplo desse tipo de suicídio são os mártires que decidem morrer por uma causa. ■ Suicídio anômico: acontece numa realidade social desagregada e adversa, nas quais as normas ou estão ausentes ou perderam sua razão de ser. Por exemplo, na época em que os brasileiros tiveram suas poupanças e aplicações confiscadas pelo governo, muitos empresários, ao verem seu modo de vida comprometido, recorreram ao suicídio. ■ Suicídio fatalista: com pouca incidência na sociedade, esse tipo de suicídio está associado ao excesso de regulação social, na qual as normas pela sua rigidez e determinismo deixam pouca margem para escolhas e opções. O estudo de Durkheim recoloca a centralidade da anomia comum, problema grave das sociedades complexas. No entanto, seu foco de análise restringe as causas desse problema à frouxidão dos valores e ensinamentos morais, deixando de considerar a relação entre os processos anômicos e o modelo de civilização vigente. Leitura obrigatória A partir do artigo e do vídeo indicados a seguir, reflita sobre o seguinte questionamento: quais são as causas sociais da depressão e do sofrimento humano? Aspectos biológicos e sociais da depressão http://revistas.unipar.br/?journal=saude&page=article&op=view&path%5 B%5D=240&path%5B%5D=213 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Novas subjetivações e o mal-estar na contemporaneidade https://www.youtube.com/watch?v=qDivpnjnntU Agora, as explicações são por conta do professor Everson! Acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! O sagrado e a Sociologia da religião Já numa fase mais tardia de sua produção, Durkheim interessou-se em compreender os aspetos sociais e culturais subjacentes ao fenômeno religioso. Em 1912, escreve sua obra As formas elementares da vida religiosa. Tomando como objeto de estudo a religiosidade aborígine de tribos australianas, Durkheim lança seu olhar sobre o totemismo e seu significado social tanto individual como coletivo. O estudo realizado colocou a expressão religiosa, com seus rituais e símbolos como consequência da vida social. Em outras palavras, para Durkheim a religião surge como uma justificativa cultural e intuitiva, uma esfera da vida social que une e aproxima os homens. A cerimônia religiosa transfigura em práticas ritualísticas aquilo que a sociedade representa, um espaço especial da vida humana, onde os homens recebem segurança, acolhimento e, a partir da qual, podem sobreviver em sua humanidade. O fato social religião funciona como um pretexto inconsciente para mediar a vida coletiva numa esfera singular e simbólica, algo que não acontece no ambiente social cotidiano, em função dos próprios limites que a coletividade impõe aos indivíduos. O estudo de Durkheim sobre a religião possibilitou a compreensão, por parte do fundador da Sociologia, que as representações humanas sobre a realidade dependem em grande parte dos referenciais oferecidos pela própria sociedade. Em uma palavra, a sociedade torna-se o modelo a partir do qual os homens constroem suas representações sobre o mundo e a natureza. O falar sobre o mundo é o falar sobre o próprio mundo. Tal premissa contribuiu para uma nova disciplina: a sociologia do conhecimento. A relação entre sujeito e objeto, entre a mente do sujeito e a realidade que o cerca é influenciada pelo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 conjunto das representações coletivas, pelas vivências, memórias, crenças, símbolos, valores estéticos, éticos e políticos. Todo contato com a realidade é sempre um contato mediado e o que resulta dessa conta, como conceitos e teorias é em última análise um reflexo da visão de mundo de quem o elabora. O conhecimento é uma projeção subjetiva do modo como os sujeitos percebem o mundo. O conhecimento objetivo existe somente como um horizonte utópico. A escolha do totemismo como objeto de estudo ocorreu por se tratar de uma expressão religiosa simples e das mais antigas, um fenômeno presente em diferentes povos em todo o mundo. Embora o contato de Durkheim com as tribos ancestrais da Austrália fosse indireto, por meio de estudos de outros autores sua teoria sociológica da religião captou um aspecto até então pouco estudado. A religião separa a realidade em duas dimensões: a sagrada e a profana. Essa dualidade serve como elemento integrador da vida. Enquanto no cotidiano a vida social é marcada por obrigações e deveres e seu significado fica restrito à imanência e à concretude do mundo, a dimensão sagrada transforma a cerimônia ritual num momento mais significativo e mais profundo de comunhão e unidade entre os indivíduos. Esses elementos são projetados a partir da própria vida social, pois de uma “maneira geral, não há dúvida de que uma sociedade tem tudo o que é preciso para despertar nos espíritos, pela simples ação que exerce sobre eles, a sensação do divino; pois ela é para seus membros o que um deus é para seus fiéis (DURKHEIM, citado por SELL, 2009, p. 94). Em certo sentido, a explicação de Durkheim não deixa de ser um reducionismo. Colocar a experiência religiosa e mística experimentada por toda humanidade ao longo de milênios como um mero reflexo da vida social parece ser uma conclusão apressada. Leitura obrigatória A partir da leitura e da análise dos textos indicados a seguir, explique como a religião pode ser usada para exercer controle social. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 A atualidade da teoria da religião de Durkheim e sua aplicabilidade no estudo das novas espiritualidades https://www.metodista.br/revistas/revistas- ims/index.php/ER/article/viewFile/3409/3210 Os demônios descem do norte http://zip.net/bfsZn7 Saiba mais Para saber mais, assista ao vídeo a seguir que fala sobre a concepção de sociedade de Durkheim, baseada na ideia de fato social e solidariedade. Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim https://www.youtube.com/watch?v=SMaxxNEqk7U No material on-line, você encontrará um vídeo com mais explicações do professor Everson. Aproveite para tirar as dúvidas pendentes! A educação como elemento social integrador Assim como a divisão do trabalho, a religião desempenha funções importantes para a coesão social. No âmbito da educação, Durkheim se posiciona de modo conservador, vendo na escola uma instituição voltada à promoção da integração social. A preocupação de Durkheim é com a ordem social futura, que se desenha no curso da modernidade. Não podemos esquecer que o modelo epistêmico do qual parte Durkheim é a biologia; dessa forma, a sociedade é concebida como um organismo, um todo que deveria funcionar harmonicamente, sendo as práticas escolares o óleo lubrificante para as engrenagens sociais. O processo de socialização, que tem início na família, é potencializado de modo sistemático e organizado pela educação formal, que acontece na escola. Assim, a criança vai sendo submetida a um processo que deverá transformá-la CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 em elemento integrado da sociedade. Tal processo terá sua eficiência garantida, mediante a centralização e o controle do Estado sobre os conteúdos e as diretrizes de ensino, visto ser o aparato político o elemento pensante, o cérebro da sociedade. Nessa lógica, a educaçãose apresenta como um fato social por excelência, instituição funcional ao sistema, desenvolvendo uma socialização conformadora. Nas palavras de Durkheim: A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine (DURKHEIM, 1955, p. 25). O papel do Estado enquanto instância racional é atuar como guardião e promotor da moral social. A centralização e hierarquização das funções de gestão e controle do Estado garantiriam a qualidade e a eficiência em todas as áreas, especialmente a educação. Nesse contexto, o professor é visto como um agente funcional do sistema social, exercendo um papel coadjuvante na educação dos indivíduos, Durkheim coloca que se deve evitar a todo custo a existência e proliferação de atitudes e condutas personalistas em relação aos professores, o que equivale dizer que os mesmos não estão autorizados a atuarem como indivíduos autônomos, com independência intelectual, cabendo- lhes desenvolver uma instrução mecânica. Para Durkheim, desta forma se evitaria a adoção de modismos pedagógicos ou práticas de instrução temerárias. No limite, o que este autor defende é que nada nem ninguém deve se tornar um obstáculo à plena socialização da criança, de modo que ela possa internalizar aqueles valores e condutas escolhidos pelas gerações adultas. Cabe ao professor, submeter à criança a uma pedagogia restritiva, visando a sua adaptação à disciplina, aos conteúdos e às expectativas da sociedade. A profissão docente assume contornos de um treinamento condicionado na medida em que busca por seus métodos e exercícios suprimir traços de individualidade e independência. Nessa lógica, os próprios professores CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 são objetificados pela formação implementada pelo Estado; eles próprios se tornam objetos, agindo como autômatos de um sistema impessoal e autoritário, agentes ideológicos do establishment 1. Leitura obrigatória Vamos continuar nossos estudos? Então faça a leitura do artigo indicado e assista ao vídeo a seguir. O pensamento educacional de Émile Durkheim http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/40/art18_40.pdf Émile Durkheim https://www.youtube.com/watch?v=BeK3FDE_Iy0 Acesse o material on-line e veja o que o professor Everson tem a dizer sobre este assunto, no vídeo que está disponível para você! Trocando ideias Depois de tudo que estudamos, das leituras e vídeos interessantes sobre o pensamento social de Durkheim, fica claro que se trata de um importante referencial para nos ajudar a pensar a nossa realidade social. Assim, vamos fazer uma pesquisa sobre uma das manifestações sociais mais impactantes: o suicídio. A pesquisa será no sentido de fazer um levantamento das regiões com maior incidência desse fenômeno. Outro aspecto que não pode faltar nessa 1 Establishment, ou ordem estabelecida, refere-se à ordem ideológica, política e social determinante numa dada época ou contexto. Característica definidora de uma sociedade ou de um Estado. Diz respeito ao conjunto geral dos valores culturais de uma classe ou grupo dominante. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 pesquisa é tentar identificar o perfil dos suicidas. Por fim, você irá comparar com a tipologia feita por Durkheim e ver se existem semelhanças, diferenças etc. Compartilhe suas descobertas no fórum da disciplina. Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem! Na prática A seguir você pode visualizar na imagem um tipo de esquema representativo dos principais conceitos de Durkheim. Observando bem veremos que a imagem traz elementos de um mapa conceitual no qual podemos ver os conceitos e suas relações e ligações. Fonte: Cultura Brasileira. Disponível em: <http://www.culturabrasil.org/durkheim.htm> Acesso em 29/04/2016. A proposta é a seguinte: 1. Identifique alguns dos conceitos que nós estudamos trazendo sua explicação; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 2. Após essa primeira atividade, identifique também os conceitos que não foram contemplados nessa aula; 3. Em seguida, busque fazer um novo esquema, do jeito que você achar melhor, trazendo uma breve explicação dos conceitos que você identificou. Agora, acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para saber o que o professor Everson tem a dizer sobre a atividade prática! Síntese Ao longo dessa aula tivemos um contato mais aprofundado com um dos clássicos fundadores da Sociologia, Émile Durkheim. No início de nosso estudo, mostramos que para compreender um autor é preciso estudá-lo a partir de seu tempo, atentando para o seu contexto e as influências que recebeu. Isso nos ajudou a perceber a influência do positivismo nas ideias de Durkheim e os fatores que contribuíram para o forte tom conservador em seu pensamento. Estudamos as bases epistemológicas de sua Sociologia, identificando algumas de suas noções, como o entendimento de que a sociedade é um organismo vivo em evolução, um todo formado por partes que devem funcionar para a integração social. Não podemos esquecer que Durkheim foi o fundador da Sociologia como ciência, apresentando três elementos importantes para a sustentação desse novo saber: olhar para os fatos sociais como coisas; ter presente que um fato social só pode ser explicado por outro fato social; e que o cientista social precisa afastar seus prejuízos, se distanciado de seu objeto de estudo, numa posição de racionalidade e objetividade. Um dos problemas sociais mais graves estudados por Durkheim foi a questão da anomia, isto é, da ausência de normas e vínculos de solidariedade social, algo com potencial destrutivo para a sociedade. Sobre esse problema o autor apresentou a educação moral das crianças e jovens, a divisão do trabalho CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 social e a ação racional do Estado como solução. Quando a sociedade falha no enfrentamento da anomia, um dos resultados mais trágicos para os indivíduos é o suicídio, conforme o autor mostrou em sua análise e tipologia. Vimos também que esse autor reservou um estudo importante sobre a religião, mostrando que o fenômeno religioso é um reflexo da vida social, e o modo como o homem explica o mundo depende em grande parte do contexto social em que ele vive. Nossa representação mental das coisas reflete a sociedade que existe dentro de nós. Por fim, pudemos entender que, se tratando de um clássico, temos muito a aprender com ele e que mesmo não concordando com sua posição, ou com sua metodologia, o fato é que a Sociologia deve muito a Durkheim, e estudar seu pensamento ajuda a qualificar nosso olhar para a sociedade. Para as considerações finais do professor Everson, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Referências FORACCHI, M. M.; MARTINS, J. de S. (org.). Sociologia e Sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC editora, 1994. MARTINS, C. B. O que é Sociologia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983. SELL, C. E. Sociologia clássica. Petrópolis: Vozes, 2009. TURNER, J. H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.
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