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e um quadro normativo internacional que reafirma e exemplifica que todas as categorias de direitos e liberdades fundamentais também se aplicam a pessoas com incapacidades. Em linha com a visão de incapacidade da Convenção das Nações Unidas, a CIF tem um amplo escopo e requer a consideração dos fatores ambientais que influenciam a funcionalidade juntamente com os outros fatores. Assim, a CIF é uma ferramenta potencialmente poderosa para a advocay baseada em evidências. As evidências de discriminação e barreiras ambientais podem ser coletadas entre grupos de incapacidades e situações da vida para criar argumentos em prol da mudança social ou da prestação de serviços acessíveis. O uso da CIF dá suporte a uma mudança de um modelo de advocay baseado em "caridade" para um modelo baseado em "direitos humanos". A linguagem utilizada para a advocay é um indicador, ou um meio de transmissão, de valores e atitudes. As atividades de advocay devem se concentrar na promoção da participação e não na busca de caridade ou promoção da pena de indivíduos com incapacidades. A estrutura e modelo da CIF podem ajudar a reconceitualizar filosofias de organizações privadas que trabalham em nome de pessoas com incapacidades para estarem alinhadas com uma abordagem baseada em direitos. Organizações doadoras devem auxiliar as organizações de pessoas com incapacidades a se capacitarem para que todos os indivíduos possam viver com dignidade e contribuir ativamente para o desenvolvimento da sua sociedade. De forma similar, a CIF pode ajudar a destacar a situação de pessoas com incapacidades dentro de questões políticas mais amplas como pobreza, discriminação de gênero ou desemprego e ilustrar os efeitos de políticas públicas sobre as pessoas com incapacidades e a necessidades de uma abordagem mais ampla às reformas. O Relatório Mundial sobre Incapacidade (OMS, Banco Mundial 2011) é um bom exemplo de uma abordagem abrangente e ampla adotada em relação à incapacidade que, desde sua publicação, tem sido mencionado amplamente também por organizações de pessoas com incapacidades. A CIF fornece uma linguagem comum para discussões entre ativistas de incapacidades, legisladores, profissionais de saúde e o público mais amplo para destacar as questões importantes em todos os domínios da vida. Os ativistas de incapacidade podem usar a CIF para identificar e comunicar barreiras criadas por serviços, sistemas e políticas além da discriminação resultante das práticas associadas a eles. A CIF também pode abrir o caminho para ampliar as discussões e para se alinhar com as pessoas que habitualmente usam linguagem técnica, p.ex. profissionais da área médica e para desafiá-los a pensar em termos mais amplos sobre a saúde. O uso da CIF como uma linguagem comum também facilita a criação de redes entre países ou regiões linguísticas. 8.2 A CIF pode ser usada para medir atitudes e mudanças de atitudes? O Capítulo 4 dos fatores ambientais da CIF concentra-se nas atitudes que indivíduos com incapacidades encontram em todos os níveis da sociedade. Ele fornece um mapa para explorar atitudes conforme vivenciadas pelos indivíduos com incapacidades em diferentes domínios da vida, e para identificar e medir atitudes positivas e negativas, normas sociais, e práticas ou ideologias. Além disso, a CIF pode facilitar o desenvolvimento de ferramentas para relatar experiências de discriminação. Em pesquisas, a CIF pode ser usada para capturar crenças e atitudes relacionadas à incapacidade na população geral. Um exemplo disso é se a incapacidade é vista meramente como um transtorno, ou como uma deficiência, ou se ela é entendida como o resultado de uma interação entre o meio ambiente e a condição de saúde. Combinada com medidas de outros fatores ambientais, incluindo serviços ou suportes disponíveis e acessíveis e seu impacto sobre a participação, a CIF pode auxiliar a mapear a discriminação e também mudanças de atitudes. A CIF pode ser usada para capturar crenças e atitudes relacionadas à incapacidade na população geral. 85 8.3 A CIF pode dar suporte ao empoderamento e à vida independente? A participação reflete a funcionalidade da perspectiva do indivíduo na sociedade e, portanto, fornece um construto útil para dar suporte ao processo de empoderamento. A CIF pode ser usada para desenvolver uma abordagem baseada em direitos para criar indicadores de participação em todos os domínios da vida ou áreas de políticas que dão suporte ao processo de empoderamento. A CIF ajudar a focar nas áreas de participação que são vitais para uma vida independente, tais como cuidar da própria saúde ou segurança, ilustrando ao mesmo tempo que a incapacidade não está ligada diretamente a uma condição de saúde específica. Por exemplo, as necessidades de assistência médica existem independentemente das incapacidades ou limitações de atividade. Há um reconhecimento crescente de que pessoas com deficiências intelectuais são fragilizadas quando profissionais de saúde 'veem a incapacidade' em vez da pessoa. A CIF ajuda a focar nas áreas de participação que são vitais para uma vida independente. Para facilitar o empoderamento e a vida independente, a CIF possibilita a identificação de barreiras ambientais e pode destacar a necessidade de adaptações no ambiente atual. Além disso, a CIF pode ser muito útil na priorização de serviços de acordo com as necessidades e preferências do indivíduo, e para trazer o indivíduo para o foco, em vez de quaisquer preferências profissionais ou requisitos organizacionais. Ela também pode ajudar a desenvolver planos personalizados de suporte de incapacidade e pode ser usada como uma ferramenta de comunicação com assistentes pessoais. Por último, a CIF pode ajudar a desenvolver uma abordagem centrada na pessoa nos serviços de saúde e nos serviços relacionados com a participação na educação, emprego ou engajamento da comunidade. Quadro 22: Usando a CIF para um programa de educação de pacientes Na Universidade Ludwig Maximilians de Munique, um programa de educação de pacientes baseado na CIF foi desenvolvido usando os cinco passos abaixo: (1) Definição das áreas relevantes de funcionalidade, (2) Desenvolvimento de estratégias para aumentar a auto eficiência nessas áreas, (3) Desenvolvimento de materiais e instruções, (4) Definição de módulos e de metas; e (5) Realização de teste piloto voltado para a aceitabilidade e viabilidade do programa. O treinamento é realizado em grupos de 4 indivíduos, com cinco sessões com duração de 60 minutos cada, distribuídas ao longo de cinco dias. O módulo 1 está direcionado para a compreensão pelo indivíduo do seu nível atual de funcionalidade. O módulo 2 está direcionado para a identificação de problemas concretos e soluções correspondentes relativas a áreas limitadas. O módulo 3 é uma sessão de revisão dos módulos 1 e 2. A viabilidade e aceitabilidade dessa intervenção foram verificadas e uma versão final do programa de educação do paciente foi desenvolvida. Onze pacientes com acidente vascular cerebral foram inscritos no teste piloto. A intervenção foi bem aceita pelos participantes. A eficácia do programa será avaliada em um ensaio controlado randomizado. Devido à universalidade da CIF e à disponibilidade das ferramentas da CIF, é possível adaptar a intervenção para diferentes condições crônicas. Neubert et al 2011 8.4 A CIF pode ser usada para aconselhamento de pares? A CIF pode ser usada como uma ferramenta de treinamento de e por consultores pares para destacar os domínios da vida nos quais os indivíduos com incapacidades