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Direito Ambiental

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Universidade Católica de Brasília
Curso de Biomedicina
Disciplina de Ciências do Ambiente
Professor: Luiz Fernando Kitajima
Direito Ambiental Aplicado
Fontes: 
Pedro, AFP e Frangetto, FW. in Curso de Gestão Ambiental. Phillipi Jr et al., 2004 (eds.) USP. / Introdução à Engenharia Ambiental. 
Mota, 2006, 4ª edição. ABES 
Colapso – como as sociedades escolhem entre o fracasso ou o sucesso, Diamond, J.. Record, 2005. 
Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki.
Esse texto é um resumo do Capítulo 17 do livro Curso de gestão Ambiental de Phillipi Jr et al. (2004).
1 Raízes do Direito Ambiental 
1.1 O condicionamento econômico na formulação das leis ambientais
	O ser humano, como todo organismo vivo, necessita de recursos naturais para sobreviver. Sua condição de ser inteligente e social levou-o a desenvolver técnicas que necessitavam de suporte dos recursos naturais para garantir a sobrevivência nos períodos de escassez. Com o crescimento da população, foi preciso administrar estes recursos, que podiam se configurar escassos, para garantir a perpetuação da espécie para o futuro. A administração, por sua vez, exige a necessidade de um princípio de autoridade, pois isso implica no planejamento do uso da matéria prima e da mão de obra.
	A administração é confiada pelo coletivo a um ou a um grupo, que em teoria exerce este poder com o uso de normas (vide Rousseau, o Contrato Social), e que garante o exercício do ser humano de uso dos recursos naturais. Na escassez destes recursos, novas técnicas são desenvolvidas, com o melhor aproveitamento destes recursos ou na procura de novas alternativas, e estas novas técnicas ou alternativas podem ser garantidas mediante a organização das forças intelectuais e produtivas da coletividade. Assim, o desenvolvimento econômico e social necessita de uma administração.
	Torna-se necessário o uso da autoridade não apenas para administrar o uso do recurso para o desenvolvimento, mas também para administrar os efeitos negativos causados pelas ações humanas. Para o exercício da autoridade são necessárias normas ou leis bem definidas. Assim, forma-se a ligação entre a economia, o meio ambiente e o direito. A economia tem como objeto a administração do escasso, que no caso são os recursos naturais; quando um recurso natural vira um recurso econômico, torna-se um recurso escasso; e isso exige a autoridade, que irá definir as normas de seu aproveitamento para garantir sua disponibilidade para os descendentes.
1.2 Histórico e tendências atuais
	A formação do Direito Ambiental é dividida em duas fases: a primeira, em que não se especifica o meio ambiente como algo a ser protegido, e a segunda, em que ocorre a especificação da proteção do meio ambiente.
	O Código de Hamurábi (Mesopotâmia, 2067-2025 aC), o Código de Manu (Índia, 1300-800 aC) e as Leis das XII Tábuas (Roma, 451-450 aC) definiam entre outras coisas o controle da caça, pesca, uso da terra, água e árvores. A primeira Constituição moderna, a Carta magna da Inglaterra (1215) possuía cláusulas controlando o uso de recursos florestais, mais tarde editadas em separado como um Código Florestal (o primeiro da história). 
	Em Portugal, já no século XIV as Ordenações Alfonsinas declaravam o corte ilegal de árvores como um delito grave; as Ordenações Manoelinas (século XVI) impediam a crueldade na caça aos animais; as Ordenações Filipinas do século XVIII controlavam a pesca e a poluição das águas. Já no Brasil, em 1760, baixou-se um Alvará Real para Proteção dos manguezais, que protegia os mangues.
	No Brasil, apesar destas legislações, o sistema econômico vigente não impediu o desenvolvimento de um modelo econômico que muitas ocasiões provocou, principalmente a partir do século XIX, a redução da cobertura vegetal no país, em particular na Mata Atlântica. 
	A partir da Revolução Industrial começa-se a desenvolver maiores estudos sobre os mecanismos de impactos ambientais e sua avaliação. A partir desta época, e com mais força a partir do século XX, o acelerado desenvolvimento econômico e a globalização política, cultural e econômica levou a problemas ambientais que não se restringiam mais a um único país. Por isso, ocorreram duas grandes tendências:
Internacionalização da tutela dos recursos ambientais
Publicização dos recursos ambientais, em que os recursos ambientais tornam-se bens de interesse público (ficam sob controle do poder público).
	Os problemas ambientais passaram a ser tratados em acordos internacionais, como o caso das convenções sobre o clima que levaram ao Protocolo de Kyoto. A internacionalização também levou a disseminação dos conceitos e preceitos de proteção ambiental, permitindo assim a definição da atual fase do direito ambiental, em que ocorre a proteção específica dos recursos naturais. Convém lembrar que o Direito, como tem entre suas funções a harmonização dos interesses conflitantes, deve agir também para que estas tendências não evoluam para um Poder Público forte demais ou para um comportamento que afronte à soberania. Além disso, procura-se colocar o Direito Ambiental dentro de um contexto de atender as necessidades básicas do cidadão e promover a democracia, entre outros.
2 Enquadramento Ideológico do Direito Ambiental e seus princípios
	O Direito Ambiental baseia-se na chamada defesa dos Interesses Difusos. Os Interesses Difusos são definidos como interesses divididos entre vários componentes da comunidade, sem saber quantos; interesses em que não é possível quantificar ou qualificar ou mesmo definir sua divisão. Isso significa que o Direito Ambiental não representa a defesa de um interesse do indivíduo, mas sim de vários, espalhados pela sociedade. O Meio Ambiente torna-se um bem único e indivisível, destinado a atender a estes interesses difusos, e torna-se assim de aplicação universal.
	Os comportamentos ideais diante dos problemas ambientais que apresentam as soluções ao mesmo são definidos como princípios ambientais, que são incorporados às normas ou leis ambientais que tornam obrigatórios estes comportamentos. Estes princípios são importantes na orientação da gênese das leis ambientais posteriormente ratificadas pelos governos nacionais. 
	Os princípios de orientação são aqueles que aportam para todo o planeta. São controversos, pois devem procurar dar a liberdade de soberania aos países; ela procura oferecer a necessidade de um tratamento integrado e internacional dos problemas ambientais.
	Os princípios de ação procuram definir que a ação deve ser voltada para um desenvolvimento sustentável.
	O princípio do desenvolvimento sustentável, que norteia os princípios determinados em Estocolmo (1972) e da Eco-92 (1992). Ela propõe um uso racional e equilibrado dos recursos naturais, e que também implica na cooperação dos países para garantir um desenvolvimento equilibrado e socialmente justo. Deste princípio existem mais três princípios: o da prevenção e precaução, da participação e do poluidor-pagador.
	O princípio da prevenção e precaução procura determinar ações que evitem a ocorrência do dano ambiental. 
	 O princípio do poluidor-pagador determina que aquele que usa um recurso torna-se responsável pelo mesmo e que venha a assumir os danos a ela realizados. 
	O princípio da participação procura promover a participação do cidadão nos diversos níveis dos processos decisórios sobre a preservação dos recursos naturais.
	O princípio da informação indica que o cidadão tem o direito de se informar sobre as condições e características ambientais existentes.
	O princípio da notificação indica o dever de uma nação informar a outra sobre impactos que se propaguem além das fronteiras.
	Princípio da Educação Ambiental, que capacita a sociedade a ser um elemento ativo na preservação dos recursos.
	Princípio do acesso à Justiça em assuntos ambientais.
3 Conceito e Constitucionalidade do Direito Ambiental – a a Constituição Federal e a Especificidade do Direito Ambiental – a Transdiciplinariedade do Direito AmbientalO Brasil, ao lado de países como Portugal, peru, Grécia e Holanda, possui explícito em sua Carta Magna o reconhecimento da defesa do meio ambiente e de seus recursos e dispõe sobre o assunto as ações e medidas necessárias para que o fim, o desenvolvimento sustentável e o respeito ao meio ambiente, seja alcançado. Muito das leis e normas, começando pela Constituição, foram influenciadas pelas diversas conferências e outros eventos no Brasil e no Mundo que discutiram o problema ambiental.
	O Artigo 225 da Constituição Federal de 1988, caput (caput – o que vem primeiro no artigo. Depois do caput vem os parágrafos, alíneas, etc..), é similar ao Princípio 1 da Declaração de Estocolmo (firmada após a Conferência de 1972), e define que:
	“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” 
	A legislação que daí começa procura, inclusive, promover a capacitação profissional e o conhecimento aberto a todos para que o objetivo do Direito Ambiental, que é o Desenvolvimento Sustentável, possa ser alcançado. No entanto, deve-se enfatizar que tal como a ecologia e outros ramos dos estudos do meio ambiente, o Direito Ambiental é freqüentemente um apanhado dos diversos ramos do Direito.
	Sendo assim, o Direito Ambiental é dotado de transdiciplinariedade. Ela incorpora o conhecimento de diversas disciplinas simultaneamente. Comissões e Conselhos ambientais são compostos por pessoas de diversas especialidades que aplicam seus conhecimentos específicos dentro de uma causa ou meta comum. Esta forma conjunta de participação de diversas pessoas é denominada de função jurídica ambiental, sendo que pela lei 225 são titulares desta função o Poder Público e a coletividade. Em geral o poder de exercer esta função deve ser dividida de forma adequada, e os que exercem determinam uma relação jurídica ambiental, em que, como primeira parte (parte ativa) podem exigir prestações da parte passiva (segunda parte).
4 Definição e Amplitude do Bem Jurídico Ambiental – a Titulariedade e beneficiários do Bem Jurídico Ambiental
	O objeto da relação jurídica ambiental é o meio ambiente ecologicamente equilibrado e o desenvolvimento sustentável, aplicados tanto à universalidade dos bens naturais quanto a uma porção dela, mas todos tem o direito de usufruir deste objetivo, e a visualização destes beneficiários é uma parte importante da relação jurídica. 
	Os beneficiários da função ambiental são aqueles aos quais cabe o encargo que lhes é imposto de garantir a ação do Direito Ambiental e a tutela do patrimônio ambiental, que inclui os titulares ao direito de um ambiente ecologicamente equilibrado e as futuras gerações. 
	Os beneficiários da proteção dada pela norma jurídica ambiental são, além dos citados anteriormente, são os estrangeiros não-residentes e todos os demais seres vivos dos biomas e ecossistemas existentes.
	Os beneficiários do uso exclusivo do bem ambiental são os usuários que devem prestar suas funções jurídicas ao ambiente: propriedade, ordem econômica, bens públicos, a tríplice responsabilidade pelo dano ambiental e as competências legislativa e funcional dos entes federados.
	Um ponto importante é que podem ocorrer conflitos de interesses causados pelo fato de que na aplicação da lei e na definição dos beneficiários ocorram dúvidas causadas pela posse da propriedade, já que ela pode ser pública ou particular, nos diversos graus de posse, e que tenha de atender suas funções específicas. Além disso, a Constituição prevê dispositivos de fiscalização e punição para a realização da gestão ambiental do meio ambiente e recursos naturais.
	Assim, há artigos e demais dispositivos que definem o campo de atribuições à União, estados, municípios e do Distrito Federal para proteger o meio ambiente, controlar a poluição e resguardar os recursos naturais, promovendo sua conservação, preservação e recuperação, bem como normas para a responsabilização de violações das leis. (como os artigos 23 e o parágrafo 3 do artigo 225).
	Mesmo razões mais imateriais para a proteção do meio ambiente formaram razões para se garantir leis específicas, como a beleza de uma região ou sua importância para a cultura de um grupo.
5 As leis ambientais e a Política nacional do Meio Ambiente
	Existem diversos tipos de lei que podem ser distinguidas quanto a sua elaboração e ao campo de atuação. Não existe necessariamente uma lei “maior” ou “mais forte” que outra; elas são em essência diferentes e atuam em áreas próprias.
	 As principais leis são do tipo ordinária (ato normativo primário com normas gerais ou abstratas, e que podem ser criadas por membros dos Três Poderes e cidadãos), que são regulamentadas por decretos. Exemplos:
	Lei 6.803 de 2/7/1980 – Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento de áreas críticas de poluição industrial.
	Lei 7.661 de 16/5/1988 – Institui o Plano Nacional de Gerenciamento, prevendo o zoneamento das atividades e usos da Zona Costeira, regulamentada pelos Decretos 9193 de 27/3/1990 e 99540 de 21/9/1990, que dispõem sobre as atividades relacionadas ao Zoneamento Ecológico-econômico e institui a Comissão Coordenadora do Zonemanto Ecológico-Econômico do Território nacional.
	Lei 9.605 de 12/2/1998 – Lei de Crimes Ambientais (LCA), regulamentada pelo Decreto 3.179 de 21/9/1999.
	Lei 6.938 de 31/08/1981 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA), que define seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e define outras providências, regulamentada pelo Decreto 99.274 de 6/6/1990.
	Esta última apresenta uma série de bases para muitas das atividades jurídico-ambientais atuais e será descrita com mais detalhe a seguir.
5.1 Conceitos legais de meio ambiente, poluição e poluidor
	A Lei 6.938 de 31/8/1981 (Lei da Política nacional do Meio Ambiente) fornece os conceitos legais para meio ambiente, poluidor e poluição.
	Meio ambiente. O artigo 1º, inciso I define meio ambiente como “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
	Poluidor. O artigo 3º, inciso IV, define poluidor como “a pessoa física ou jurídica de direito público, responsável direta ou indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental”.
	Degradação da qualidade ambiental. O artigo 3º, inciso II define a degradação da qualidade ambiental como “a alteração adversa das características do ambiente”.
	Poluição. A poluição é definida no artigo 3º, inciso III como a “degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d)afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e)lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais exigidos”.
	A Constituição de 1988, em seu Artigo 225, dá a esta lei uma abrangência jurídica muito grande, quando se prova que uma atividade fere os preceitos previstos em lei. 
5.2 O Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama.
	A Lei 6.938/81 instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama – constituído por órgãos e entidades da União, Distrito Federal e estados, Municípios e fundações instituídas pelo Poder Público para a proteção e melhoria da qualidade ambiental. O Artigo 6º assim o organiza: 
Órgão Superior do Sisnama é formado pelo Conselho de Governo, que assessora o Presidente da República na formulação da política nacional e diretrizes governamentais para o meio ambiente e recursos naturais.
O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) assessora o Conselho de Governo e é um órgão consultivo e deliberativo. Tem a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo diretrizes de políticas governamentaispara o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, dentro de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.
O Órgão Central é composto pelo Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal e o Órgão Executor é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos naturais Renováveis (IBAMA). 
Os Órgãos setoriais são os órgãos ou entidades integrantes da Administração Federal direta ou indireta, bem como fundações instituídas pelo Poder Público, cujas atividades estejam associadas às de proteção de qualidade ambiental ou aquelas de disciplinamento do uso de recursos ambientais.
Os Órgãos Seccionais são aqueles órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução dos programas, projetos e controle e fiscalização da atividades capazes de provocar degradação ambiental.
Os Órgãos Locais são compostos por órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle ou fiscalização em suas respectivas jurisdições. 
	As unidades da Federação poderão, dentro de suas competências e observadas as normas do Conama, emitir normas extras, supletivas ou complementares, e devem repassar informações necessárias a qualquer pessoa legitimamente interessada.
	Este Sistema tem tido problemas de implantação devido a distribuição das atividades e responsabilidades. O Conama acaba tendo atividades demais e o IBAMA de menos, sendo que leis posteriores procuram dar melhor organização ao Sisnama. 
	Também deve ser observado que, devido ao risco de ocorrer choque entre interesses municipais com estaduais ou federais, deve-se tomar uma abordagem integrada entre a gestão local com a regional, havendo emissão de normas procurando organizar este ponto. Por exemplo, a lei do Estatuto das Cidades (Lei 10.257 de 10/7/2001) estabelece diretrizes gerais da política urbana e outras providências, reforçando o papel dos municípios na avaliação dos fatores ambientais da cidade.
6 Institutos da Política Nacional do Meio Ambiente
	O artigo 9º da Lei 6938/81 define os seguintes institutos ou instrumentos da PNMA:
	I – Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental
	II – zoneamento ambiental
	III – avaliação dos impactos ambientais
	IV – licenciamento ou revisão das atividades efetiva ou potencialmente poluidoras
	V – os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental
	VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas
	VII – o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente
	VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental
	IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental
	X – a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente a ser divulgado anualmente pelo IBAMA
	XI – a garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las quando inexistentes
	XII – o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
	
6.1 Avaliação de Impacto Ambiental e Licenciamento Ambiental 
	A Avaliação de Impacto Ambiental é um importante instrumento da PNMA e opera dentro do Princípio de Prevenção e Precaução. O EIA e o seu relatório, RIMA, necessários para a emissão de Licenciamento Ambiental, estão descritos com um pouco mais de detalhes mais adiante.
	O Licenciamento Ambiental (integrado na Avaliação Ambiental) é um procedimento administrativo pelo qual o órgão competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos naturais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, ou daquelas que, de qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas para cada caso.
	A emissão da licença tem sido um assunto controverso, mas a Resolução n 237 de 19/11/1997 do Conama definiu o licenciamento único. Neste caso, o IBAMA (empreendimentos e atividades com impacto ambiental regional ou nacional); órgãos ambientais estaduais ou do Distrito Federal e municipais. Em caso de conflito, se mais de uma entidade exigir a emissão da licença, o caso deve ser levado à Justiça.
6.2 Zoneamento Ambiental e Espaços Territoriais Protegidos 
	A legislação ambiental define usos para o espaço territorial existente com base em uma série de parâmetros. Utilizar este espaço fora dos usos aos quais foi permitido incorre em ilegalidade. Este processo de organizar o espaço a um uso ambiental é denominado de Zoneamento Ambiental. A atenção é dada para a proteção na dimensão natural e também humana. 
	A Lei 9.985 de 18/7/2000 regulamentou a questão de definir os parâmetros para se declarar uma área de proteção, ou área protegida, que significa “uma área definida geograficamente que é destinada, ou regulamentada, e administrada para alcançar objetivos específicos de conservação”. A mesma lei instituiu o Sistema nacional de Unidades de Conservação da natureza (Snuc), que define unidade de conservação como o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.
	As áreas protegidas, pela legislação, podem ser classificadas em Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável, e são criadas por ato do Poder Público, desde que com estudos técnicos prévios.
	As Unidades de Proteção Integral têm como objetivo básico a proteção da natureza, e são representadas pelas: Estações Ecológicas, Reservas Biológicas, Parques Nacionais (Estaduais ou Municipais), Monumentos naturais e Refúgios da Vida Silvestre. Os dois últimos podem ser particulares, e em todos os casos há controles e restrições quanto às atividades ali desenvolvidas.
	As Unidades de Uso Sustentável são as Áreas de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional (Estadual ou Municipal), Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Reserva Particular do Patrimônio Natural. O uso é mais diversificado que no caso anterior, permitindo que atividades sócio-econômicas sejam desenvolvidas dentro delas, desde que o objetivo final seja a preservação dos recursos naturais.
6.3 O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto do meio Ambiente (RIMA) (Resumido de Mota, 2004 – Introdução à Engenharia Ambiental, cap. 8)
	O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) tem como objetivo a identificação e a avaliação das conseqüências de uma atividade humana sobre o meio físico, biótico e antrópico, no sentido de propor medidas mitigadoras para os impactos negativos, promovendo o aumento dos benefícios. Suas atividades foram previstas pela Lei 6938/81 e regulamentadas pela Resolução Conama 001 de 1986 e Resolução 237 de 1997. Além disso, a Constituição de 1988 define, em seu Artigo 225, que atividades potencialmente poluidoras tenham de ter um EIA para poder ser licenciadas.
	A mesma Resolução 001 de 1986 do Conama define uma lista de atividades que devem ser licenciadas, assim exigindo o EIA. Estas atividades podem ser resumidas no quadro indicado em Motta (2004): Uso e transformação do solo, extração e renovação de recursos, processos agrícolas e industriais, Transporte, Energia, Tratamento e disposição de resíduos, Tratamento Químico e Recreação. Exemplos são: Aeroportos, Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos, aterros sanitários, projetos urbanísticos acima de 100 hectares ou em áreasde relevante interesse ambiental, etc..
	Para executar um EIA são necessários vários passos (Jain 1993 em Motta 2004, e Resolução Conama 001/86), que podem ser resumidos no roteiro para o EIA, elaborado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (1992). Este roteiro indica que para um EIA deve constar de:
Informações Gerais - identificação do empreendedor, informações gerais sobre o empreendimento, atividades a serem desenvolvidas, localização, justificativa e objetivos, estapas de implantação.
Caracterização do Empreendimento 
Áreas de Influência - limites geográficos das áreas afetadas direta ou indiretamente.
Diagnóstico Ambiental
Qualidade Ambiental – quadro com as interações dos fatores ambientais físicos, biológicos e sócio-econômicos.
Fatores Ambientais:
Meio físico: Clima, condições meteorológicas, ar, ruído, geologia e geomorfologia, solo e recursos hídricos.
Meio biológico: Ecossistemas terrestres, aquáticos e de transição.
Meio Antrópico: Dinâmica Populacional, uso e ocupação do solo, nível de vida, estrutura produtiva e de serviços, organização social.
Análise dos impactos ambientais – Identificação, valoração e interpretação dos prováveis impactos ambientais, em todas as fases (planejamento, implantação, operação e desativação, se for o caso). Deve sintetizar os impactos de cada fase e do impacto em si sobre o meio físico, biológico e antrópico. A metodologia (técnicas e critérios de identificação, previsão de magnitude e interpretação dos dados).
Proposição de medidas mitigadoras – natureza das medidas (preventivas ou corretivas), fases do empreendimento a serem aplicadas, fatores ambientais aos quais são destinados, prazos de permanência e responsabilidade.
Programa de Acompanhamento e monitoramento dos impactos – indicação e justificativa dos parâmetros selecionados para acompanhamento, periodicidade, amostragem e métodos.
	Por sua vez, o RIMA – Relatório de Impacto Ambiental – é o documento que apresenta as conclusões dos estudos de avaliação do impacto ambiental. Deve esclarecer todos os aspectos envolvidos no estudo e deve ser divulgado para apreciação dos grupos interessados, como a comunidade. Deve ser escrito de modo acessível e de fácil compreensão, mostrando todos os aspectos dos impactos e das medidas mitigadoras. O Conama indica um RIMA deve conter:
Objetivo e justificativas do projeto, relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas ambientais;
Descrição do projeto e alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação, a mão de obra, matéria prima e área de influência, fontes de energia, técnicas, prováveis efluentes, emissões, resíduos, empregos a serem gerados;
Síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambientais da área de influência do projeto;
Descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto, alternativas, o tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios utilizados para sua identificação, quantificação e interpretação;
Caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como a hipótese de não realização;
Descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderem ser evitados e o grau de alteração esperado;
O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
Recomendações quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral).
	Os principais métodos de avaliação de impacto são:
Métodos “ad hoc” – abordagem inicial dos impactos com especialistas.
Listagens de controle – Relação de impactos possíveis para o empreendimento em questão.
Matrizes de interação – Associação das ações de um empreendimento às características da área. Para cada cruzamento ação, característica, associa-se um peso ou um valor, positivo ou negativo, ou um símbolo alfanumérico, para indicar o peso do impacto.
Redes de interação – Relação da cadeia e rede de impactos a partir de uma dada ação.
Superposição de cartas – Criam-se mapas da região, cada um para uma característica ambiental, e o cruzamento ou superposição dos mapas irá orientar a determinação do grau do impacto. Esta técnica têm sido facilitado pelo uso de programas de computador específicos como o ARCGis.
Modelos de simulação – modelos matemáticos simulam o comportamento do meio ambiente ao longo de um impacto.
	
7 Sanções Administrativas – o processo administrativo
 	As sanções administrativas podem ser premiais, que premiam a atividade que concorda com ou respeita a lei, e há as punitivas, para aqueles que desrespeitam ou não observam a lei. Neste caso, implica em recorrer à medida de responsabilização interna junto à Administração, ou seja, aquele que faz algo fora da lei é responsabilizado ante a autoridade competente. 
	Isso se dá por meio de um conjunto de ações (procedimento jurídico, podendo ser dividido em penal e civil) que definem se houve ou não o desrespeito e qual a punição cabível dentro dos limites da lei e que permita o direito de defesa da parte acusada. Convém lembrar que o tipo de punição pode variar de acordo com o legislador, circunstâncias, etc..
	Este procedimento jurídico têm um conjunto de leis para orientá-la. Uma delas é a Lei 7347 de 24/7/1985 que disciplina a Ação Civil Pública de Responsabilidade por Danos Causados ao Meio Ambiente. Outra é a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605 de 12/2/1998) que dispõe sobre as sanções penais e administrativas. Esta lei define o que é crime ambiental (ou infração administrativa ambiental) toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente, e determina as autoridades competentes e órgãos para lavrar auto de infração e instituir o processo administrativo.
	As punições podem ser: advertência, multas, apreensão (dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, apetrechos, equipamentos ou veículos), destruição ou inutilização do produto, suspensão de venda ou fabricação do produto, embargo de obra ou atividade, demolição, suspensão parcial ou total de atividades ou restrição de direitos. 
8 Instrumentos de Tutela Jurisdicional do Meio Ambiente – Responsabilidade Ambiental
	O Princípio 13 da Rio-92 afirma que o Estado deve elaborar uma legislação ou conjunto de normas para a responsabilidade pelos danos ao ambiente e indenização. O Artigo 225 da Constituição de 1988, por sua vez, define a responsabilidade penal, administrativa e civil, bem como as condutas lesivas ao meio ambiente e as punições ou sanções administrativas e penais. Esta responsabilização ambiental é um meio encontrado pelo Direito para forçar um responsável (pessoa física ou jurídica) a adotar procedimentos compatíveis com o desenvolvimento sustentável ou com o ambiente ecologicamente equilibrado.
	O processo ou procedimento jurídico, uma vez verificada e registrada a infração, corre dentro do Poder Judiciário e a aplicação da sanção ocorre por meio de ato judicial. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente define que o agente poluidor deve indenizar o estrago feito, mesmo que ele (o poluidor) não tenha tido a intenção de poluir, bastando ocorrer um nexo entre o ato e a conseqüência. 
	Por outro lado, o Direito permite propor ações que indiquem a responsabilidade de alguém ou algo em ações lesivas ao meio ambiente, para a proteção deste patrimônio natural. Se a proteção está atrelada a um processo penal, diz-se que é uma tutela penal, e se é a um processo civil, é tutela civil.
	A tutela penal é controlada pela Lei de Crimes Ambientais. Os processos da tutela civil são a Ação Civil Pública, Ação Popular e Ações de Vizinhança.

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