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1º EDIÇÃO - 2019 SÃO PAULO - SP DIRETO AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO ELISANGELA SZCARD 1º EDIÇÃO - 2019 SÃO PAULO - SP DIRETO AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO Elisangela Szcard DIRETO AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO EXPEDIENTE COORDENAÇÃO GERAL Nelson Boni COORDENAÇÃO/ PROJETO GRÁFICO E CAPA João Guedes COORDENAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS Hikaro Queiroz COORDENAÇÃO DE REVISÃO ORTOGRÁFICA Esthela Malacrida AUTORA Elisangela Szcard DIAGRAMAÇÃO João Antônio P. A. Lima 1º EDIÇÃO - 2019 SÃO PAULO - SP Sumário UNIDADE 1 – DIREITO AMBIENTAL E MEIO AMBIENTE ������������������������������������������������� 5 CAPÍTULO 1 – DIREITO AMBIENTAL �����������������������������6 CAPÍTULO 2 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE ������������������������������������������������������28 UNIDADE 2 – POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE E RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS ����������������������������������� 55 CAPÍTULO 3 – POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE ������������������������������������������������������56 CAPÍTULO 4 – RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS ����������������������������������������78 UNIDADE 3 – LICENCIAMENTO E CRIMES AMBIENTAIS ������������������������������������������� 100 CAPÍTULO 5 – LICENÇAS AMBIENTAIS ��������������������� 101 CAPÍTULO 6 – CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO � 111 UNIDADE 4 – DIREITO AMBIENTAL E ECONÔMICO � 144 CAPÍTULO 7 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL E O DIREITO AMBIENTAL ECONÔMICO �������������������������������������� 145 CAPÍTULO 8 – INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS ������������������������������������������������������ 154 UNIDADE 1 DIREITO AMBIENTAL E MEIO AMBIENTE CAPÍTULO 1DIREITO AMBIENTAL –DIREITO AMBIENTAL– 7 O direito ambiental, ciência dotada de autonomia cien- tífica, apesar de apresentar caráter interdisciplinar, obedece a princípios específicos, pois, de outra forma, dificilmente se obteria a proteção eficaz pretendida sobre o meio ambiente. Nesse sentido, seus princípios caracterizadores têm como escopo fundamental orientar o desenvolvimento e a aplicação de políticas públicas que servem como instrumento fundamental de proteção ao meio ambiente e, consequente- mente, à vida humana. Direito ambiental é um ramo do Direito que estuda as relações jurídicas ambientais, observando a natureza cons- titucional, difusa e transindividual dos direitos e interesses ambientais, buscando a sua proteção e efetividade. Fundamenta-se em diversos princípios, tais como: aces- so equitativo aos recursos naturais, prevenção, reparação, qualidade, participação popular e publicidade. 1.1 Princípios do Direito Ambiental São princípios que permitem compreender a autonomia do Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito e que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema legislativo ambiental. É dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade e que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligência e interpreta- ção de todas as normas que compõem o sistema jurídico –DIREITO AMBIENTAL– 8 ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área. Podemos citar: a) Princípio do acesso equitativo Segundo o princípio do acesso equitativo aos recursos naturais, os bens ambientais devem ser utilizados de forma a satisfazer as necessidades comuns de todos os habitantes da Terra, orientando-se sempre pela igualdade de oportunidades na sua fruição. Além disso, devem ser explorados de tal modo que não haja risco de serem exauridos, resguardando-os para as futuras gerações. b) Princípio da prevenção ou precaução O princípio da prevenção ou precaução prescreve que as normas de direito ambiental devem sempre se orientar para o fato de que é necessário que o meio ambiente seja preservado e protegido como patrimônio público. A prevenção aplica-se tanto a situações onde há certeza, quanto aos riscos de danos ambientais e também às situações onde existem dúvidas e incertezas. A finalidade ou o objetivo final do princípio da pre- venção é evitar que o dano possa chegar a produzir-se. Para tanto, necessário se faz adotar medidas preventivas. A efetiva consolidação do princípio da precaução tem lugar a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. –DIREITO AMBIENTAL– 9 Este princípio afirma que no caso de ausência da certeza científica formal, a existência do risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever, minimizar e/ou evitar este dano. Assim, se, por exemplo, na permissão ou autorização de uma obra ou de um novo agrotóxico há incerteza sobre a existência ou probabilidade de danos à saúde pública ou à natureza, tal atividade, em observância ao princípio da pre- caução, não deverá ser autorizada ou, pelo menos, deverão ser tomadas medidas preventivas que afastem os riscos. Enfim, prevenir é agir antecipadamente a fim de evitar danos graves e irreparáveis ao meio ambiente. De outro lado, antes de ser colocada a questão “há cer- teza quanto a possibilidade de dano?”, deve ser feita outra pergunta, mais importante que a primeira: “precisamos real- mente desta atividade?”. Ou seja, deve ser questionado, antes de tudo, se a atividade atende ao bem comum e, apenas em caso afirmativo, questionar-se quanto aos impactos no meio ambiente e às formas de prevenção. O principal instrumento na aplicação deste princípio é o Estudo de Impacto Ambiental, analisado mais adiante. Diante de tais constatações, é possível delinear uma nítida diferença entre o princípio da prevenção e o princípio da precaução. O princípio da prevenção é aplicado quando são conhecidos os males provocados ao meio ambiente decor- rentes da atividade potencialmente predadora ou poluidora, possuindo elementos seguros para afirmar se a atividade é efetivamente perigosa (atividades sabidamente perigosas). –DIREITO AMBIENTAL– 10 Como exemplo, temos as atividades de mineração, nas quais os impactos sobre o meio ambiente são notórios. Por outro lado, quando não se conhece o impacto de atividades potencialmente causadoras de degradação ambiental, deve se aplicar o princípio da precaução, ou seja, como não se tem certeza quanto aos possíveis efeitos negativos, por pre- caução, impõem-se restrições ou impede-se a intervenção no meio ambiente até que se comprove que a atividade não acarreta efeitos adversos ao meio ambiente. Podemos citar, como exemplo, as discussões sobre os impactos, ainda des- conhecidos, dos alimentos transgênicos (OGM-Organismos Geneticamente Modificados) e da radiofrequência das antenas de telefonia celular ao meio ambiente e à saúde humana. c) Princípio da reparação O princípio da reparação, decorrente do princípio da prevenção, orienta que aquele que causar lesão a bens am- bientais deve ser responsabilizado por seus atos, reparando ou indenizando, de forma adequada, os danos causados. Evitar a incidência de danos ambientais é melhor que remediá-los. Essa é a ideia chave dos princípios da preven- ção e da precaução, já que as sequelas de um dano ao meio ambiente muitas vezes são graves e irreversíveis. Tais princípios se caracterizam como dois dos mais im- portantes em matéria ambiental, tendo em vista a tendência atual do direito internacional do meio ambiente, orientado mais no sentido da prevenção do que no da reparação. –DIREITO AMBIENTAL– 11 d) Princípio da qualidade O princípio da qualidade prescreve que as normas de direito ambiental devem se orientar para o fato de que o meio ambiente deve ter qualidade propícia a vida saudável e ecologicamente equilibrada. e) Princípio da participação popular O princípio da participação popular é também chamado de princípio democrático ou de princípioda gestão demo- crática e deve ser aplicado tanto em relação aos três Poderes ou funções do Estado. No que diz respeito ao Poder Executivo, esse princípio se manifesta por exemplo através da participação da sociedade civil nos Conselhos de Meio Ambiente e do controle social em relação a processos e procedimentos administrativos como o licenciamento ambiental e o estudo e relatório de impacto ambiental. Em relação ao Poder Legislativo, esse princípio se mani- festa por exemplo através de iniciativas populares, plebiscitos e referendos de caráter ambiental e da realização de audiên- cias públicas que tenham o intuito de discutir projetos de lei relacionados ao meio ambiente. No que concerne ao Poder Judiciário, esse princípio se manifesta por exemplo através da possibilidade dos ci- dadãos individualmente, por meio de ação popular, e do Ministério Público, da organizações não governamentais, de sindicatos e de movimentos sociais de uma forma geral, por meio de ação civil pública ou de mandado de segurança –DIREITO AMBIENTAL– 12 coletivo, questionarem judicialmente as ações ou omissões do Poder Público ou de particulares que possam repercutir negativamente sobre o meio ambiente. O princípio da gestão democrática, decorre da necessi- dade de uma democracia participativa, bem como do fato de que cuidar do meio ambiente não é tarefa apenas do Estado, mas de toda a sociedade civil. Assim, é fundamental um es- paço de diálogo e cooperação entre os diversos atores sociais, seja para a formulação e execução de uma política e de ações ambientais, seja para a solução de problemas. Como exemplo deste princípio temos as audiências públicas e os conselhos de recursos hídricos. Diz respeito não apenas ao meio ambiente, mas a tudo o que for de interesse público. Na verdade, a democracia participativa também é consagrada por diversos dispositivos da Constituição Federal, como o parágrafo único do art. 1º, que dispõe que o poder é exercido por meio de representantes eleitos ou diretamente pelo povo. Entretanto, no que diz respeito ao meio ambiente o prin- cípio da gestão democrática é ainda mais importante, visto que se trata de um direito difuso que em regra não pertence a nenhuma pessoa ou grupo individualmente considerado. A realidade tem mostrado que é praticamente impos- sível que o Poder Público consiga acabar ou diminuir a de- gradação ambiental sem a participação da sociedade civil. Por sua vez, o princípio da publicidade ou da informação decorre do princípio da participação e visa assegurar sua efi- cácia. Assim, toda a informação referente ao meio ambiente é –DIREITO AMBIENTAL– 13 pública, vale dizer, qualquer cidadão pode ter acesso a ela. A informação visa garantir ao cidadão a possibilidade de tomar posições ou intervir em determinada matéria, e refere-se tanto a documentos, como relatórios de impacto ambiental, até estudos realizados sobre o meio ambiente. Estes princípios se especializam nos seguintes mandamentos: I – Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimô- nio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II – Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III – Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV – Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V – Controle e zoneamento das atividades, potencial ou efetivamente, poluidoras; VI – Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologia orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; VII – Acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII – Recuperação de áreas degradadas; IX – Proteção de áreas ameaçadas de degradação; –DIREITO AMBIENTAL– 14 X – Educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a defesa ativa do meio ambiente. Esses princípios estão consolidados no art. 225 e pará- grafos da Constituição Federal e na Lei 6938/81, que esta- belece os objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente e tem sua execução regulamentada pelo Decreto 99.274/90. f) Princípio do Poluidor-Pagador (PPP) O objetivo do princípio do poluidor-pagador é forçar a iniciativa privada a internalizar os custos ambientais gerados pela produção e pelo consumo na forma de degradação e de escasseamento dos recursos ambientais. Esse princípio estabelece que quem utiliza o recurso ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na imposição de taxas abusivas, de maneira que nem Poder Público nem terceiros sofram com tais custos. Ao causar uma degradação ambiental, o indivíduo inva- de a propriedade de todos os que respeitam o meio ambiente e afronta o direito alheio. O princípio do poluidor-paga- dor foi introduzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 26 de maio de 1972 por meio da Recomendação C(72) 128 do Conselho Diretor, que trata da relação entre as políticas ambiental e econômica. A segunda parte do inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio do poluidor-pagador, ao deter- minar que a Política Nacional do Meio Ambiente, visará –DIREITO AMBIENTAL– 15 à imposição ao usuário de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento também dispôs sobre o princípio do po- luidor-pagador ao estabelecer no Princípio 16 que “Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais de- vem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais”. Embora no Direito Ambiental vigore o Princípio da Responsabilidade Civil, não podemos reduzir o princípio do poluidor-pagador a um princípio de responsabilidade. Isso porque as sanções civis têm efeito preventivo que pressupõe a ocorrência de um dano ao meio ambiente e, principalmente, porque as atividades poluidoras se apresentam lucrativas, seja pela possibilidade de não pagamento, seja pelo lucro líquido auferido com a atividade, mesmo que seja obrigado a indenizar. Contudo, o seu objetivo não é recuperar um bem lesado nem criminalizar uma conduta lesiva ao meio ambiente, e sim afastar o ônus econômico da coletividade e voltá-lo para a atividade econômica utilizadora de recursos ambientais. O PPP parte da constatação de que os recursos am- bientais são escassos e o seu uso na produção e no consumo acarretam a sua redução e degradação. Ora, se o custo da redução dos recursos naturais não for considerado no sistema –DIREITO AMBIENTAL– 16 de preços, o mercado não será capaz de refletir a escassez. Em assim sendo, são necessárias políticas públicas capazes de eliminar a falha de mercado, de forma a assegurar que os preços dos produtos reflitam os custos ambientais. O princípio do poluidor-pagador visa a fazer com que o empreendedor inclua nos custos de sua atividade todos as despesas relativas à proteção ambiental. A poluição dos recursos ambientais, de uma maneira geral, e especialmente em se tratando daqueles bens mais facilmente encontrados na natureza, como a água, o ar e o solo, por conta da natureza difusa, é normalmente custeada pelo Poder Público. Em termos econômicos, esse custo é um subsídio à ati- vidade econômica poluidora, já que não está sendo levado em conta os prejuízos sofridos pela sociedade que ocorrem tanto quando a coletividade sente os efeitos da poluição quando os cofres públicos deixam de aplicar seu dinheiro em outra finalidade para descontaminar uma determinada região ou um determinado recurso ambiental. O objetivo do princípio do poluidor-pagador é evitar que ocorra a simples privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos dentro de uma determinada atividadeeconômica. Os recursos ambientais, de uma forma geral, e prin- cipalmente aqueles encontrados em maior abundância na natureza, como a água (no caso de determinadas regiões do Brasil e do mundo), o ar e a areia, são historicamente degradados por determinados setores econômicos, que têm obtido o lucro à revelia do prejuízo sofrido pela coletividade. –DIREITO AMBIENTAL– 17 Trata-se de uma espécie de privatização dos lucros e socialização dos prejuízos, o que significa um enriqueci- mento ilícito, visto que, de acordo com o caput do art. 225 da Constituição Federal, o meio ambiente é um “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. O PPP leva em conta que os recursos ambientais são escassos, portanto, sua produção e consumo geram reflexos ora resultando sua degradação, ora resultando sua escassez. Além do mais, ao utilizar gratuitamente um recurso ambiental, está se gerando um enriquecimento ilícito, pois como o meio ambiente é um bem que pertence a todos. Boa parte da comunidade nem utiliza um determinado recurso ou, se utiliza, o faz em menor escala. g) Princípio da responsabilidade O princípio da responsabilidade faz com que os respon- sáveis pela degradação ao meio ambiente sejam obrigados a arcar com a responsabilidade e com os custos da reparação ou da compensação pelo dano causado. A responsabilidade ambiental, ou seja, a responsabili- dade pelos danos causados ao meio ambiente, tem expressa previsão constitucional, no parágrafo 3º do artigo 225, se- gundo o qual as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independente- mente da obrigação de reparar os danos causados. Deve ser implementada levando-se em conta os fa- tores de singularidade dos bens ambientais atingidos, da –DIREITO AMBIENTAL– 18 impossibilidade ética de se quantificar o preço da vida e, sobretudo, que a responsabilidade ambiental deve ter um sentido pedagógico tanto para o poluidor como para a própria sociedade, de forma que todos possamos aprender a respeitar ao meio ambiente. h) Princípio do limite A expressão mais notável da aplicação do princípio do limite faz-se quando a Administração Pública estabelece pa- drões de qualidade ambiental que se concretizam em limites de emissões de partículas, de limites aceitáveis de presença de determinados produtos na água etc. A Administração Pública tem a obrigação de fixar limi- tes máximos de emissões de matérias poluentes, de ruído, enfim, de tudo que possa implicar prejuízos para os recursos ambientais e à saúde humana. A violação dos limites fixados deve ser sancionada. Há uma importante questão a ser examinada, que é a de saber qual o parâmetro a ser adotado quando da ocasião da fixação dos padrões. A fixação de parâmetros de forma que estes possam estimular o desenvolvimento tecnológico, com vistas ao alcance de índices mais baixos de emissão de partículas, mais elevados de pureza da água e do ar, é um importante elemento para que se alcance a modernização tecnológica e a ampliação dos investimentos em pesquisas de proteção ambiental. –DIREITO AMBIENTAL– 19 i) Princípio do usuário pagador O referido princípio exige uma forma de limitação do uso de recursos ambientais mediante a cobrança de contra- prestação, de modo que a gratuidade possa ensejar o con- sumo exacerbado do bem ambiental passível de escassez. Pretende-se que ao ser cobrado pelo consumo, o usuário seja incentivado a utilização com moderação para que não haja diminuição significativa do recurso natural ou sua escassez no futuro. Esse princípio foi plenamente agasalhado pelo artigo 19 da Lei 9.433/97, que, de forma didática, demonstram os objetivos da cobrança de recursos hídricos, in verbis: Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva: I – reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor; II – incentivar a racionalização do uso da água; III – obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos. j) Princípio do desenvolvimento sustentável O princípio do desenvolvimento sustentável consiste na exploração do meio ambiente de forma a conservá-lo, procurando-se não esgotar os recursos naturais existentes, com vistas a sua manutenção em condições adequadas para o futuro. –DIREITO AMBIENTAL– 20 A Constituição Federal possui um dispositivo que foi redigido com base na concepção de um meio ambiente sus- tentável, qual seja, o art. 225, VII, que dispõe que devemos “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práti- cas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade” O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, en- contra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de ob- tenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre va- lores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamen- tais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser res- guardado em favor das presentes e futuras gerações (...). A atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente. k) Princípio da educação ambiental Tendo em vista a demanda por preservação ambiental em face dos grandes fenômenos que têm atormentado a sociedade, é pertinente se ressaltar o desafio que se impõe acerca de uma educação ambiental crítica e inovadora, que –DIREITO AMBIENTAL– 21 compreenda ainda dois níveis o formal e o informal, como preceitua a lei n° 9.795/99 que dispõe sobre a educação ambiental e cria a Política Nacional de Educação Ambiental no Brasil. Educação ambiental como ato político capaz de promover a transformação social. Contudo, entende-se a necessidade de uma ação que compreenda sociedade e meio ambiente como um todo in- decomponível, já que os recursos naturais são bens que, de certa forma, se esgotam e que o homem é o principal consu- midor dos mesmos e, ainda, o primeiro agente degradador. Logo, educação ambiental é entendida mais como um instrumento a serviço do poder, da colonização da subjeti- vidade e dos desejos humanos. Mais precisamente, a educação ambiental, hoje, é re- lacionada ao tema desenvolvimento sustentável e percebida como condição essencial para se modificar a estrutura econô- mica global, além, é claro, de se garantirem ações favoráveis à redução do quadro de degradação ambiental. Mas, insiste-se na premissa de que a educação ambien- tal, no atual contexto social, não seja suficiente, já que essa se mostra, justamente, como uma ferramenta aplicada na mediação entre culturas, comportamentos e interesses de grupos sociais diversos, a fim de se constituir transformações sociais pré-definidas, favorecendo, certamente, a determina- dos grupos políticos. No entanto, é oportuno que se ressaltem os princípios fundamentais da educação ambiental. Educar, nesse sentido, implica oferecer métodos efi- cazes e pertinentes ao desenvolvimento de práticas sociais –DIREITO AMBIENTAL– 22 centradas, essencialmente, no conceito de natureza, e não na lógica capitalista. Deve, ainda, a educação ambiental promo- ver a reflexão sobre as dimensões do progresso humano, sobre o impacto que este causa ao meio ambiente em detrimento do desenvolvimento tecnológico, em especial. Deve-se reconhecer a educação ambiental como um processo político dinâmico, em permanente construção, orientado por valores baseados na transformaçãosocial. Nesse sentido, a iniciativa das Nações Unidas de implementar a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014) e o de 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade, ano que reforçou mundialmente a susten- tabilidade a partir da educação. A educação ambiental deve ser uma concepção totali- zadora de Educação e que é possível quando resulta de um projeto político-pedagógico orgânico, construído coletiva- mente na interação escola e comunidade, e articulado com os movimentos populares organizados comprometidos com a preservação da vida em seu sentido mais profundo. Seria, portanto, com o auxílio da escola, que a educa- ção ambiental assumiria verdadeiramente a sua função, a de aprofundar conhecimentos sobre questões ambientais, como também criar espaços para a participação coletiva, ressaltando princípios e valores éticos que integrem o homem moderno à natureza. A educação ambiental tem por escopo desenvolver a hegemonia popular, a transformação do contexto social, e não o reproduzir de modo a fazer os cidadãos máquinas –DIREITO AMBIENTAL– 23 destrutivas da natureza. Então, como componente de cida- dania, a educação ambiental implica em novos métodos de ensino, novos saberes, que sejam proficientes e compreendam a complexa relação homem/natureza. 1.2 Estudos de Impactos Ambientais O princípio da prevenção é o maior alicerce, por exem- plo, do Estudo de Impacto Ambiental - E.IA. - (art. 225, parágrafo 1°, inciso IV, da Constituição de 1988) realizado pelos interessados antes de iniciada uma atividade poten- cialmente degradadora do meio ambiente, dentre outras medidas preventivas a serem exigidas pelos órgãos públicos. De acordo com a Associação Internacional para Avaliação de Impacto – IAIA (do inglês International Association for Impact Assessment), avaliação de impacto ambiental é o processo de identificar as consequências futuras de uma ação presente ou proposta. Trata-se de uma defini- ção bastante concisa, mas já revela uma das características fundamentais da Avaliação de impacto Ambiental - AIA, que é avaliação prévia dos impactos de um projeto, visando evi- tar ou prevenir a ocorrência de efeitos indesejáveis ao meio ambiente devido à implantação de um projeto. Outras características importantes da AIA são: • Trata-se de um processo sistemático de avaliação ambiental, que é composto por várias etapas caracte- rísticas, ou seja, triagem; definição de conteúdo dos estudos; descrição do projeto; descrição do ambiente –DIREITO AMBIENTAL– 24 a ser afetado; identificação, previsão e avaliação dos impactos significativos e das medidas mitigadoras; apresentação dos resultados; processo de revisão dos estudos e tomada de decisão. A AIA deve ser um processo cíclico, com interações consideráveis entre os vários passos; • A AIA é realizada para apoiar a tomada de decisão sobre a autorização ou licenciamento de um novo projeto, fornecendo aos tomadores de decisão infor- mações sobre as prováveis consequências de suas ações; • O processo de AIA prevê consulta e participação pública, isto é, o envolvimento público na realização dos estudos e na tomada de decisão. A AIA é uma ferramenta de gestão ambiental antecipa- tória e participativa, da qual o Estudo de Impacto Ambiental é apenas uma parte. No Brasil, projetos de grande porte, financiados por organismos multilaterais, foram submetidos à Avaliação de Impacto Ambiental, como por exemplo, a Usina Hidrelétrica de Sobradinho, a Usina Hidrelétrica de Tucuruí etc. Tais experiências promoveram a inclusão do AIA como um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6938/81, em associação ao licenciamento das atividades utilizadoras dos recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras. Em 1986, foi editada a Resolução Conama 01/86, esta- belecendo as definições, responsabilidades, critérios básicos –DIREITO AMBIENTAL– 25 e as diretrizes para o uso e implementação da avaliação de impacto ambiental, aplicado ao licenciamento ambiental de determinadas atividades modificadoras do meio ambiente. Entre os aspectos relevantes da citada resolução, podemos destacar: • prevê que o estudo de impacto ambiental contemple alternativas tecnológicas e de localização do projeto (inciso I do art. 5º); • define o conteúdo básico do Estudo de Impacto Ambiental, ou seja: diagnóstico, análise dos impac- tos ambientais, definição de medidas mitigadoras, e proposição de programas de monitoramento e acompanhamento (Art. 6º); • sugere a execução de audiência pública para infor- mação sobre o projeto e seus impactos ambientais e discussão do RIMA (parágrafo segundo do artigo 11º). No artigo 225 da Constituição Federal de 1988, dedicado ao meio ambiente, foi incluída a obrigação do Poder Público de exigir a elaboração de AIA para instalação de obra ou ati- vidade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente. Em 19 de dezembro de 1997, foi editada a Resolução do CONAMA nº 237, que regulamentou, em normas gerais, as competências para o licenciamento nas esferas federal, esta- dual e distrital e as etapas do procedimento de licenciamento. A Resolução CONAMA nº 237/97 conferiu ainda ao órgão ambiental a competência para a definição de outros estudos ambientais pertinentes ao processo de licenciamento, –DIREITO AMBIENTAL– 26 em se verificando que o empreendimento não é potencial- mente causador de significativa degradação ambiental. 1.2.1 Relevância ambiental e social De acordo com o Banco Mundial, a avaliação de impacto ambiental permite identificar problemas na etapa inicial do ciclo de um projeto; introduz melhorias ambientais no pro- jeto; evita, mitiga, e compensa os efeitos adversos do projeto. Com base em estudo realizado na Dinamarca com es- tudos de impacto ambiental realizados entre 1989 e 2004, a conclusão geral é que o EIA gera um número significativo de mudanças nos projetos. Em, aproximadamente, 50% dos casos estudados, modificações foram feitas antes da conclusão do estudo e sua apresentação ao órgão licenciador. Durante o processo de avaliação, modificações foram feitas em mais de 90% dos casos, embora em grande parte se tratassem de mudanças de pouca significância. As mudanças mais significativas eram feitas em obras de infraestrutura. A Convenção da Biodiversidade reconhece a avaliação de impac- to como uma ferramenta importante para garantir que o pla- nejamento do empreendimento contemple a biodiversidade. A avaliação de impactos sociais, que é geralmente rea- lizada no âmbito dos estudos ambientais, aumenta a legiti- midade do empreendimento, e pode facilitar o processo de implantação, removendo as incertezas do processo, tanto da comunidade como do empreendedor. Além desses benefícios, de acordo com a Agência Canadense de Avaliação Ambiental (Canadian Enviromental –DIREITO AMBIENTAL– 27 Assessment Agency), a avaliação de impacto permite uma melhor tomada de decisão sobre empreendimentos, com di- versos benefícios, incluindo oportunidade para participação pública, maior proteção para a saúde humana, redução de riscos de danos ou desastres ambientais, etc. 1.2.2 AIA e a gestão ambiental O objetivo da avaliação de impacto ambiental é assegu- rar a realização de gestão ambiental efetiva dos projetos de desenvolvimento. Para tanto, devem ser previstas no processo de licenciamento ambiental, ferramentas de gestão capazes de garantir que as medidas mitigadoras e compensatórias previstas na fase de aprovação da viabilidade ambiental do projeto, sejam efetivamente implementadas durante a im- plantação e operação do empreendimento. A prática tem mostrado que, considerando o grande porte, o alto investimento e o grande número de trabalhado- res envolvidos na execução e operação dos empreendimen- tos licenciados com AIA, para se ter a eficácia pretendida, é necessário que tais medidas venham compor Programas Ambientais. Nestes Programas são contempladosos prin- cípios de gestão ambiental, conforme a série ISO 14.000, ou seja, o planejamento, a definição de responsáveis, os procedimentos ambientalmente adequados; as formas de verificação e registros, incluindo as não conformidades, etc. CAPÍTULO 2CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 29 Na Constituição de 1988, o direito ao meio ambiente equilibrado está expresso no artigo 225, cujo caput prevê que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi- dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essen- ciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II – preservar a diversidade e a integridade do patri- mônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III – definir, em todas as unidades da Federação, espa- ços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somen- te através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degrada- ção do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o empre- go de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 30 VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Pela constituição, aquele que explorar recursos mine- rais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. A atual Constituição Federal, representou significativo avanço para área ambiental ao dedicar, de forma inédita, um capítulo especial para o meio ambiente e ao incluir a defesa deste entre os princípios da ordem econômica, buscando compatibilizar a promoção do crescimento econômico-social com a necessária proteção e preservação ambiental. A legislação, de modo amplo, engloba todas as normas jurídicas das três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), ou seja, reúne todas as leis, decretos, resolu- ções, portarias, medidas provisórias e outras normas que estabelecem os direitos e deveres da sociedade. A legislação –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 31 é instituída para colocar ordem nos mais variados assuntos de interesse social. Por meio dela, os cidadãos encontram respaldo nas legislações para receberem atenção de seus direitos e deve- res, das autoridades, da família, seu próximo, seu patrão, seu subordinado e assim por adiante. Dessa forma, dentro do Direito, existem vários ramos que englobam legislações específicas, reconhecidas muitas vezes como disciplinas se- paradas, como por exemplo: Direito Trabalhista, Direito da Família, Direito Internacional, Direito Ambiental, entre tantos outros. Para melhor ordenar essas áreas do Direito surgiram os Códigos, como: Código Civil, Código de Defesa do Consumidor, Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Código de Trânsito etc. A legislação brasileira, que diz respeito à defesa do meio ambiente, é composta por numerosas normas espar- sas. Dentro da amplitude de normas ambientais, algumas são bem recentes, outras já existem há décadas. Todas essas normas, até o presente, não se encontram reunidas em um Código Ambiental. Vale mencionar, no entanto, que existem propostas para organizar a ampla legislação ambiental bra- sileira num Código Ambiental Federal que estão tramitando no Congresso Federal há algum tempo. 2.1 Sociedade e o Direito Ambiental A constituição Federal de 1988, ao estabelecer em seus princípios fundamentais a dignidade da pessoa humana (art. 10, III) como fundamento destinado a interpretar todo –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 32 o sistema constitucional, adotou visão (necessariamente com reflexos em toda a legislação infraconstitucional – nela incluída toda a legislação ambiental) explicitamente antropo- cêntrica, atribuindo aos brasileiros e estrangeiros residentes no país (arts. 10, I e 50 da Carta Magna) uma posição de centralidade em relação ao nosso sistema de direito positivo. De acordo com esta visão, temos que o direito ao meio ambiente é voltado para a satisfação das necessidades hu- manas. Todavia, aludido fato, de forma alguma, impede que ele proteja a vida em todas as suas formas, conforme determina o art. 30 da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81). Se a Política Nacional do Meio Ambiente protege a vida em todas as suas formas, e não é só o homem que possui vida, então todos os que possuem são tutelados e protegidos pelo direito ambiental, sendo certo que um bem, ainda que não seja vivo, pode ser ambiental, na medida que possa ser essencial à sadia qualidade de vida de outrem, em face do que determina o art. 225 da Constituição Federal (bem material ou mesmo imaterial). Dessa forma, a vida que não seja humana só poderá ser tutelada pelo direito ambiental na medida que sua existência implique garantia da sadia qualidade de vida do homem, uma vez que numa sociedade organizada este é destinatário de toda e qualquer norma. Vale ressaltar nesse sentido o princípio n, 1 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992. “Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 33 sustentável. Têm o direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza”. 2.2 Meio Ambiente O conceito de meio ambiente, na legislação brasileira, está previsto no artigo 3º da Lei 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente), segundo o qual se entende por meio ambiente “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Podemos classificar os principais aspectos do meio ambiente sendo: • Meio ambiente natural: integra a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna, a flora, o patrimônio genético e a zona costeira (artigo 225 da CF); • Meio ambiente cultural: integra os bens da natureza material e imaterial, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (artigo 215 e 216 da CF); • Meio ambiente artificial: integra os equipamentos urbanos, os edifícios comunitários – arquivo, re- gistro, biblioteca, pinacoteca, museu e instalação científica ou similar (artigos 21, XX, 182 e s. e 225 da CF); –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 34 • Meio ambiente do trabalho: integra a proteção do homem em seu local de trabalho, com observância às normas de segurança (artigos200, VII e VIII, e 7º, XXII da CF). A divisão do meio ambiente em aspectos que o compõem busca facilitar a identificação da atividade degradante e do bem imediatamente agredido. Não se pode perder de vista que o direito ambiental tem como objeto maior tutelar a vida saudável, de modo que a classificação apenas identifica o aspecto do meio ambiente em que valores maiores foram aviltados. 2.2.1 Meio ambiente na legislação infraconstitucional A primeira preocupação significativa ambiental ocorreu no período republicano, ao tutelar o meio ambiente mediante a edição do Código Civil de 1916, tendo em vista os direitos privados de vizinhança, elencados em seus artigos nº 554 a 588, que atribuía o mau uso da propriedade. Posteriormente ao Diploma Civil de 1916, surgiram novas legislações tute- lando o meio ambiente, assim como: ◦ Decreto 23.793, de 23/01/1934 – denominado Código Florestal, dividiu as infrações penais em crimes e contravenções; ◦ Lei de Introdução ao Código Penal, art. 3º, dispôs que os fatos definidos como crimes no Código Florestal, quando não tipificados no Código Penal, passariam a ser contravenções; –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 35 ◦ O novo Código Florestal de 1965 introduziu várias infrações penais no art. 26, também consideradas contravenções; ◦ Lei 5.197 de Proteção à Fauna de 03/01/1967, que trouxe ao ordenamento jurídico a forma de proteção dos animais silvestres, como por exem- plo, a proibição da caça profissional; ◦ Código de Pesca de 28/02/1967; ◦ Lei 7.653 de 12/02/1988, que elevou a crimes, as contravenções da Lei de Proteção à Fauna e, relacionando a crimes fatos relacionados à pesca, criando novos tipos penais, proibindo a pesca no período entre 1º de outubro a 30 de janeiro, ou seja, na época da desova; ◦ Lei 7.679 de 23/11/1989, que descriminalizou algumas condutas referentes à lei anterior; por- tanto revogou alguns dispositivos da Lei 7.653; ◦ Lei 7.802 de 11/07/1989, que introduziu o crime de poluição sob qualquer forma, como consta em seu dispositivo, na forma de produção, embalagens e controle de agrotóxico, seus componentes e afins; ◦ Lei 6.938 de 31/08/1981, que trata da política nacional de meio ambiente, como mecanismo de formulação e aplicação, tendo como objetivo a preservação e a recuperação da qualidade am- biental propícia à vida; ◦ Lei 7.347 de 24/07/1985, da Ação Civil Pública, que disciplina a responsabilidade por danos –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 36 causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens etc; ◦ Lei 9.605 de 12/02/1988, que cuida da proteção penal, dispõe sobre sanções penais e adminis- trativas das condutas lesivas ao meio ambiente e suas providências (FREITAS, 2001, p77,104, 324.316, 329); ◦ Medida Provisória 571 de 25/05/2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; ◦ Lei 12.651 de 25/05/2012, que instituiu o Novo Código Florestal. Pode-se dizer que o Brasil saiu da posição de retarda- tário que ocupava no processo de conscientização socioam- biental, no início da década de 1970, para ocupar, na virada do século, uma posição de destaque. Hoje, o Brasil possui um conjunto complexo de leis e regulamentos que compõem a política nacional de meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Assim sendo, o país está plenamente amparado para evi- tar e punir danos ambientais. A legislação ambiental brasileira é a melhor do mundo e se não é eficaz é por falta de maior rigor na aplicação das punições e fiscalização. Se os órgãos ambientais tiverem mais condições de trabalho, com certeza o meio ambiente nacional estará garantido e preservado. 2.2.2 Bens públicos De acordo com a melhor doutrina administrativista, a influência exercida pelo Poder Público sobre os bens situados –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 37 em seu território decorre do seu “domínio eminente”, poder político que permite ao Estado, de forma geral, submeter à sua vontade todos os bens situados em seu território. O sentido da expressão alcança o poder geral do Estado, sobretudo quanto esteja em suas linhas territoriais, sendo esse poder decorrente de sua própria soberania. O domínio eminente abrange três categorias de bens: a) bens públicos; b) bens privados; c) os bens não sujeitos ao regime normal da proprie- dade, como, por exemplo, as águas. Desta forma, os bens naturais situados no território na- cional poderão sofrer, de alguma forma, influência do Poder Público, pois, ainda que não sendo proprietário de todos os bens, o Estado pode instituir regimes jurídicos específicos que afetem os recursos naturais. Nos termos da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), são recursos ambientais a atmos- fera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os es- tuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Importante classificar os recursos naturais em relação a dois critérios específicos: a) Destinação Os bens públicos podem ser classificados em “bens de uso comum do povo’’, “bens de uso especial” e “bens –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 38 dominicais”. Nos termos do artigo 99, do Código Civil, são bens públicos. I. os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II. de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da ad- ministração federal, estadual, territorial ou mu- nicipal, inclusive os de suas autarquias; III. os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Cabe ressaltar, desde já, que os bens naturais, objetos do Direito Ambiental, normalmente são classificados como “bens de uso comum do povo” ou como “bens de uso espe- cial”, em função de sua destinação ou afetação a fins públicos. Os bens de uso comum do povo são aqueles que, por determinação legal ou por sua própria natureza, podem ser utilizados por todos em igualdade de condições, sem ne- cessidade de consentimento individualizado por parte da Administração Pública. São bens públicos afetados (a uma destinação pública específica) e indisponíveis. Podemos citar, dentre os bens na- turais, os rios navegáveis, as águas do mar, as ilhas oceânicas e as praias. Já os bens de uso especial são todas as coisas, móveis ou imóveis, corpóreas ou incorpóreas, utilizadas pela –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 39 Administração Pública para a realização de suas atividades e consecução de seus fins. São exemplos os imóveis onde estão instaladas reparti- ções públicas e os veículos oficiais. Por possuírem destinação pública específica (bens afetados e indisponíveis), alguns bens naturais são classificados como de uso especial: as terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental (art. 20, II, CRFB/ 1988) e as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios (art. 20, XI, CRFB/ 1988) são exemplos clássicos. Os bens dominicais são todos aqueles que não se carac- terizam como de “uso comum do povo” ou de “uso especial”. Caso o bem sirva ao uso público em geral, ou se prestar à consecução das atividades administrativas, não será enqua- drado como dominical. Desse modo, são dominicais os bens sem destinação pública específica, como as terras devolutas estaduais, os prédios públicos desativados, os bens móveis inservíveis e a dívida ativa. São bens públicos desafetados (inservíveis ou sem uma destinação pública específica) e, portanto, disponí- veis. Importante frisar que a expressão “bem de uso comum do povo” utilizada no caput do artigo 225 da Constituição de 1988 não se refere à classificação dos bens públicos, analisada acima, elaborada pela doutrina do Direito Administrativo e inserida no artigo 99 do Código Civil. Ao atribuir a característica de bem de uso comum do povo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o intuito do legislador constituinte foi o de reforçar a ideia de interesse–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 40 transindividual no meio ambiente saudável, tendo em vista a titularidade coletiva dos bens naturais. O Poder Público é mero gestor do meio ambiente, que pode ser classificado como patrimônio público em sentido amplo, a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo. Os bens que integram o meio ambiente planetário, como água, ar e solo, devem satisfazer as necessidades comuns de todos os habitantes da Terra. Desde que utilizável o meio ambiente, adequado pensar-se em um meio ambiente como ‘bem de uso comum do povo’. Em se tratando de bem indisponível, de titularidade difusa, o meio ambiente não é passível de desafetação (di- ferentemente dos “bens de uso comum do povo” previstos no inciso I, do artigo 99, do Código Civil). Além disso, como analisado acima, há bens ambientais que, de acordo com a classificação do Código Civil, são “bens de uso especial”, e não “de uso comum do povo” (ex: terras tradicionalmente ocupadas pelos índios), mais um argumento para a consta- tação da diferença, ainda que sutil, entre os significados da expressão utilizada no caput do artigo 225 da Constituição e aquela utilizada no artigo 99 do Código Civil. b) Titularidade Classificam-se em federais, estaduais, distritais e muni- cipais. A Constituição de 1988 enumera, de maneira exempli- ficativa, os bens da União e dos Estados. O objetivo é deixar clara a partilha de alguns bens entre os entes federados. –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 41 Oportuno lembrar que ao atribuir a “titularidade” de alguns bens ambientais aos entes federados, a Constituição não está outorgando a eles o domínio de todos esses bens. Como já analisado, o meio ambiente é um bem de uso comum do povo, de titularidade coletiva. A União, os Estados ou os Municípios são os gestores dos recursos naturais elencados na Constituição, sendo res- ponsáveis, portanto, por sua administração e por zelar pela sua adequada utilização e preservação, em benefício de toda a sociedade. Segundo o artigo 20 da Constituição de 1988, são bens da União: I. as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções milita- res, das vias federais de comunicação e à preser- vação ambiental, definidas em lei; II. os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; III. as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade am- biental federal, e as referidas no art. 26, II; –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 42 IV. os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; V. o mar territorial; VI. os potenciais de energia hidráulica; VII. os recursos minerais, inclusive os do subsolo; VIII. as cavidades naturais subterrâneas e os sítios ar- queológicos e pré-históricos; IX. as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. § 1°- É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. As competências dos entes da Federação só a Constituição Federal pode instituir. Não podem as normas infraconstitucionais atribuir ou repartir atribuições e deve- res, exceto em virtude de previsão na própria Constituição Federal, como no art. 22, parágrafo único. Neste artigo estão competências para legislar em ma- térias privativas da União, e o parágrafo faz o adendo de que lei complementar à Constituição Federal poderá autorizar os estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas nesse artigo. Também quanto à competência para legislar, o texto do art. 24 da Constituição especificamente menciona um –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 43 conjunto de matérias como de competência concorrente da União, dos estados e do Distrito Federal. Os estados e o Distrito Federal, portanto, têm competência independente- mente de se demonstrar que o objeto é de interesse estadual e/ou regional. Contudo, quando houver norma geral federal, as normas estaduais deverão estar adequadas em relação àquela. Assim, o exercício da competência para legislar dos estados e do Distrito Federal, se na esfera federal já foi expedida norma geral em conformidade com a Constituição Federal, implica seguir tal regra geral estabelecida pela União, com respeito ao pacto federativo representado por essa União. Observa-se aí a ressalva da Constituição Federal (BRASIL, 1988, art. 24, § 2º): “a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados”. Fundamenta-se que, suplementar equivale a suprir uma carência, juntando parte a um todo para ampliá-lo ou para aperfeiçoá-lo, pressupondo a existência de algo a suprir. Assim, se não existir norma a ser suplementada, logicamente não haverá o exercício da competência suplementar. Doutro modo, obviamente não se estará suplementando a legislação geral quando se estiver contrariando seu sentido. No caso dos municípios, no entanto, estes poderão exercer sua competência suplementar “no que couber” (BRASIL, 1988, art. 30, inciso II), inclusive: • Legislando sobre assuntos de interesse local; • Promovendo adequado ordenamento territorial (ar- tigo 30, VIII, da Constituição Federal); –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 44 • Instituindo os tributos de sua competência; • Organizando e prestando, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local. De tal modo, algumas temáticas podem ser objeto de legislação nos planos: federal, estadual ou distrital e muni- cipal, não estando na competência privativa da União; com a ressalva de alguns temas específicos, tais como normas de Direito do Trabalho, em matéria nuclear e de trânsito que ficaram na competência privativa da União. Não se trata da existência de hierarquia entre as leis federais, estaduais e municipais, diferenciando-as quanto ao âmbito de sua abrangência. No art. 23 (competência admi- nistrativa), a Constituição Federal relaciona atividades que os poderes públicos devem exercer na competência comum para a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios. Nessas atividades administrativas, não há hierar- quia entre os três planos das administrações públicas. A Administração Pública federal não está num plano hierárqui- co superior ao da Administração Pública estadual, qual tam- bém não está situada em plano superior ao da Administração Pública municipal. Como cada ente operará, particularmente, fica ainda na dependência da organização de cada órgão público federal, estadual e municipal. –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 45 QUESTÕES DE APRENDIZAGEM UNIDADE 1 Questão 1 Considerando os trechos a seguir reproduzidos, iden- tifique o princípio de direito ambiental a que cada um deles se refere. I – “Sempre que houver perigo da ocorrência de um dano grave ou irreversível, a ausência de certeza cientifica absoluta não deverá ser utilizada como razão para se adiar a adoção de medidas eficazes a fim de impedir a degradação ambiental”. II – “Objetiva internalizar nas práticas produtivas (em última instância, no preço dos produtos e serviços) os custos ecológicos, evitando-se que os mesmos sejam suportados de modo indiscriminado (e, portanto, injusto) por toda a sociedade” III– “Incentiva economicamente quem protege uma área, deixando de utilizar seus recursos, estimulando assim a preservação”. IV – “...apesar de não se encontrar, com nome e sobre- nome, consagrado na nossa Constituição, nem em normas infraconstitucionais, e não obstante sua relativa imprecisão - compreensível em institutos de formulação recente e ainda em pleno processo de consolidação -, transformou-se em prin- cípio geral de Direito Ambiental, a ser invocado na avaliação –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 46 da legitimidade de iniciativas legislativas destinadas a reduzir o patamar de tutela legal do meio ambiente” (BENJAMIN). V – “visa proteger a quantidade dos bens ambientais, estabelecendo uma consciência ambiental de uso racional dos mesmos, permitindo uma socialização justa e igualitária de seu uso” (RODRIGUES). Na sequência, faça a devida identificação do princípio explicitado em cada doutrina. a) Prevenção, usuário-pagador, subsidiariedade, equi- dade intergeracional e poluidor-pagador. b) Usuário-pagador, protetor-recebedor, cooperação, vedação de retrocesso ambiental e sustentabilidade. c) Precaução, usuário-pagador, protetor-recebedor, desenvolvimento sustentável e equidade intergeracional. d) Precaução, poluidor-pagador, protetor-recebedor, vedação de retrocesso ambiental e usuário-pagador. e) Precaução, poluidor-pagador, intervenção estatal obrigatória, vedação de retrocesso ambiental. Questão 2 Ao se estabelecer que os danos ambientais devem gerar responsabilidade dos poluidores e indenização às vítimas do evento, está sendo utilizado o princípio do direito ambiental denominado: a) prevenção –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 47 b) precaução c) intervenção d) reparação e) acessão Questão 3 Por se tratar de bem de uso comum do povo e ser um direito de todos em terem direito ao meio ambiente ecologi- camente equilibrado, cumpre ao direito ambiental a tarefar de estabelecer normas que indiquem como devem ser utili- zados os bens ambientais, de modo que não aja, em médio ou longo espaço de tempo, o prejuízo ou a não renovação desses mesmos bens. Tal assertiva encontra-se substanciada no princípio: a) do Acesso equitativo dos recursos naturais b) da Precaução c) da Prevenção d) da Educação Ambiental e) do Usuário-pagador ou poluidor-pagador Questão 4 Assinale a opção correta quanto ao princípio da precaução. –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 48 a) Esse princípio foi criado na Conferência de Estocolmo, em resposta aos danos causados pelo vazamento de mercúrio na baía de Minamata e, por isso, os primeiros escritos doutrinários da época referiam-se a ele como o prin- cípio de Minamata. b) Tal princípio teve origem no princípio da incerteza, da física quântica, e foi o tema central da Carta da Terra, redigida na abertura da Eco-92, na qual o jurista alemão Reinhardt Sttifelmann defendeu que, na atual sociedade de risco, só se podem tomar medidas ambientalmente impac- tantes com respaldo da ciência. c) Fundado no princípio da prevenção, o princípio da precaução aponta a inexistência de certezas científicas como pressuposto para a adoção de política liberal pautada pelo caráter não intervencionista do poder público nas atividades econômicas. d) Esse princípio fundamenta-se no direito penal se- cundário e diferencia-se do princípio da prevenção geral e da prevenção específica, pois espelha os aspectos garantistas dos direitos de terceira geração. e) Tal princípio constitui a garantia contra os riscos potenciais que não podem ser ainda identificados devido à ausência da certeza científica formal, e baseia-se na ideia de que o risco de dano sério ou irreversível requer a implemen- tação de medidas que possam prever esse dano. –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 49 Questão 5 A mata atlântica, um dos mais importantes biomas do território brasileiro, dada sua riquíssima biodiversidade, foi erigida, pelo §4º do artigo 225 da Constituição Federal, à condição de patrimônio nacional, juntamente com a Floresta Amazônica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira. O Promotor de Justiça com atribuições para a defesa do meio ambiente da comarca de Manhumirim recebeu relatório da Polícia Militar Florestal local, dando conta da ocorrência de grave dano ambiental na zona rural do Município de Alto Caparaó, integrante da Comarca, consistente no desmata- mento de considerável área de mata atlântica no interior do Parque Nacional do Caparaó, unidade de preservação criada pelo Decreto Federal n.º 50.646/61. Nesse contexto, sabendo-se que Manhumirim não é sede de juízo federal, assinale a medida CORRETA a ser adotada pelo órgão de execução ministerial: a) Instaurar inquérito civil público para apurar os fa- tos e ajuizar a ação civil pública, uma vez que, por não ser a comarca de Manhumirim sede do juízo federal, a ação deve ser processada e julgada na justiça estadual, nos termos do §3º do artigo 109 da Constituição Federal. b) Encaminhar o relatório da polícia ambiental para o Ministério Público Federal com atuação junto à Subseção Judiciária da Justiça Federal mais próxima, para –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 50 conhecimento e adoção das medidas cabíveis, por se tratar de dano ambiental causado no interior de parque nacional. c) Instaurar inquérito civil público para apurar os fatos e ajuizar a ação civil pública, já que o fato de tratar-se a mata atlântica de patrimônio nacional, ou do dano ter ocorrido no interior de parque nacional, não atrai a competência da Justiça Federal. d) Encaminhar o relatório da polícia ambiental para o Ministério Público Federal com atuação junto à Subseção Judiciária da Justiça Federal mais próxima, para conhe- cimento e adoção das medidas cabíveis, por se tratar de dano à mata atlântica, considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal. Questão 6 Promotor de Justiça com atribuições para a defesa do meio ambiente da comarca de Manhumirim recebeu relatório da Polícia Militar Florestal local, dando conta da ocorrência de grave dano ambiental na zona rural do Município de Alto Caparaó, integrante da Comarca, consistente no desmata- mento de considerável área de mata atlântica no interior do Parque Nacional do Caparaó, unidade de preservação criada pelo Decreto Federal n.º 50.646/61. Nesse contexto, sabendo-se que Manhumirim não é sede de juízo federal, assinale a medida CORRETA a ser adotada pelo órgão de execução ministerial: –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 51 a) Instaurar inquérito civil público para apurar os fa- tos e ajuizar a ação civil pública, uma vez que, por não ser a comarca de Manhumirim sede do juízo federal, a ação deve ser processada e julgada na justiça estadual, nos termos do §3º do artigo 109 da Constituição Federal. b) Encaminhar o relatório da polícia ambiental para o Ministério Público Federal com atuação junto à Subseção Judiciária da Justiça Federal mais próxima, para conheci- mento e adoção das medidas cabíveis, por se tratar de dano ambiental causado no interior de parque nacional. c) Instaurar inquérito civil público para apurar os fatos e ajuizar a ação civil pública, já que o fato de tratar-se a mata atlântica de patrimônio nacional, ou do dano ter ocorrido no interior de parque nacional, não atrai a competência da Justiça Federal. d) Encaminhar o relatório da polícia ambiental para o Ministério Público Federal com atuação junto à Subseção Judiciária da Justiça Federal mais próxima, para conhe- cimento e adoção das medidas cabíveis, por se tratar de dano à mata atlântica, considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal. Questão 7 Acerca das disposições constitucionais referentes ao meio ambiente, assinale a assertiva correta: –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 52 a) São disponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos estados, por ações discriminatórias, necessárias à pro- teção dos ecossistemas naturais.b) Aquele que explorar recursos minerais fica obriga- do a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. c) As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei estadual, sem o que não poderão ser instaladas. d) As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídi- cas, a sanções penais e administrativas, dependentemente da obrigação de reparar os danos causados. e) Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso especial do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coleti- vidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Questão 8 Em relação ao que estabelece a Constituição Federal sobre o meio ambiente, assinale a alternativa correta: a) A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Cerrado são patrimônio nacional e sua –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 53 utilização far-se-á dentro de condições que assegurem a presença do meio ambiente. b) As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, estadual ou municipal, sem o que não poderão ser instaladas. c) Para assegurar a efetividade do direito ao meio am- biente ecologicamente equilibrado, incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental no plano federal e estadual, visando à conscientização pública para a preservação do meio ambiente. d) São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias para proteção dos ecossistemas naturais. e) Consideram-se cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, em qualquer tipo de manifestação. –CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE– 54 GABARITO 1 D 2 D 3 A 4 E 5 B 6 B 7 D UNIDADE 2 POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE E RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS CAPÍTULO 3POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 57 A Política Nacional do Meio Ambiente foi estabeleci- da em 1.981 mediante a edição da Lei 6.938/81, criando o SISAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente). Seu objetivo é o estabelecimento de padrões que tornem possível o desenvol- vimento sustentável, através de mecanismos e instrumentos capazes de conferir ao meio ambiente uma maior proteção. A Política Nacional de Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando a assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segu- rança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: I. Ação governamental na manutenção do equilí- brio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessaria- mente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III. planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V. controle E zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI. Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/lei3.htm –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 58 VII. acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII. recuperação de áreas degradadas; IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação; X. Educação ambiental em todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. XI. à imposição, ao poluidor e ao predador, da obriga- ção de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. As diretrizes desta política são elaboradas através de normas e planos destinados a orientar os entes públicos da federação, em conformidade com os princípios elencados no Art. 2º da Lei 6.938/81. Já os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, distintos dos instrumentos materiais noticiados pela Constituição, dos instrumentos processuais, legislati- vos e administrativos são apresentados pelo Art. 9º da Lei 6.938/81 destacando: a) Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental Estabelecer padrões de qualidade ambiental significa definir os parâmetros socialmente toleráveis para a utilização dos bens naturais. É cediço que praticamente toda atividade humana causa algum tipo de impacto ao meio ambiente. http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/lei3.htm http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/lei3.htm http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/lei3.htm –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 59 E nesse momento é relevante apresentar o conceito legal de “impacto ambiental” como sendo “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II) as atividades sociais e econômicas; III) a biota; IV) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e V) a qualidade dos recursos ambientais. Entretanto, qual o limite aceitável de impacto ambien- tal para determinadas atividades? A definição desse limite, através de análises técnicas e científicas, configura o padrão de qualidade ambiental. São as normas ambientais que estabelecem, portanto, os padrões de qualidade ambiental. Para o licenciamento das atividades que impactam o meio ambiente devem ser observados os padrões de emissão e os padrões de qualidade ambiental. Da mesma forma, em determinada situação fática, quando os níveis de impacto estiverem acima do padrão, serão considerados nocivos, configurando-se o dano ao meio ambiente, de acordo com o art. 3°, III, “e” da Lei 6.938/81. Exemplificativamente, pode-se citar a Resolução CONAMA 357/2005, que fixa os padrões de qualidade das águas dispondo sobre “a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 60 b) Zoneamento ambiental Zoneamento ambiental, também conhecido por “Zoneamento Ecológico-Econômico-ZEE”, é definido como o resultado de estudos conduzidos para o conhecimento siste- matizado de características, fragilidades e potencialidades do meio, a partir de aspectos ambientais escolhidos em espaço geográfico delimitado. O objetivo é conhecer a vocação ambiental e econô- mica de cada área, de cada região, através de levantamento geológico e estudos técnicos, para que se possa organizar, de maneira vinculada, as decisões dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais. Busca-se, com a realização do zoneamento ambiental, o uso racional dos recursos naturais. Os seres humanos, ao desenvolverem suas atividades, devem levar em conta as características ambientais de cada região, planejando e ordenando o uso e a ocupação do solo e a utilização dos recursos naturais. A ideia é dividir o território a ser analisado em zonas, de acordo com as necessidades de proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. O zoneamento consiste em dividir o território em par- celas nas quais se autorizam determinadas atividades ou interdita-se, de modo absoluto ou relativo, o exercício de outras atividades. –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 61 O ZEE, na distribuição espacial das atividades econô- micas, levará em conta a importância ecológica, as limitações e as fragilidades dos ecossistemas, estabelecendo vedações, restrições ealternativas de exploração do território e de- terminando, quando for o caso, inclusive a relocalização de atividades incompatíveis com suas diretrizes gerais. A Lei Complementar 140, de 08 de dezembro de 2011, reafirmou a competência dos entes federados para a elabo- ração do zoneamento ambiental. Compete à União elaborar o zoneamento ambiental de âmbito nacional ou regional e aos Estados o zoneamento de âmbito estadual. Já no âmbi- to local, ao Município cabe a elaboração do Plano Diretor, observando os zoneamentos ambientais. O Decreto 4.297 /02 (alterado pelo Decreto 6.288/07) regulamenta o art. 9°, II, da LPNMA, estabelecendo critérios mínimos a serem observados na elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico. Nos termos do artigo 4°, do Decreto, o processo de elaboração e implementação do ZEE: I. buscará a sustentabilidade ecológica, econômica e social, com vistas a compatibilizar o crescimento econômico e a proteção dos recursos naturais, em favor das presentes e futuras gerações, em decor- rência do reconhecimento de valor intrínseco à biodiversidade e a seus componentes; II. contará com ampla participação democrática, compartilhando suas ações e responsabilidades entre os diferentes níveis da administração pública e da sociedade civil; –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 62 III. valorizará o conhecimento cientí f ico multidisciplinar. Em respeito ao princípio da informação, deve o Poder Público Federal reunir e sistematizar as informações gera- das tanto no âmbito federal, quanto estadual e municipal, disponibilizando-as publicamente (ressalvados os dados de interesse estratégico para o País e os indispensáveis à segu- rança e integridade do território nacional). Convém assentar, por fim, que a definição das áre- as de utilização dos recursos naturais pelo instrumento do Zoneamento Ecológico-Econômico deve, por óbvio, respei- tar as normas específicas de proteção ambiental vigentes, como as que definem os espaços territoriais ambientalmente protegidos. Desta forma, a alteração do ZEE não poderá, por exem- plo, reduzir o percentual da área de reserva legal nem inter- ferir nas unidades de conservação da natureza. c) Avaliação de impactos ambientais; A implantação de qualquer atividade que de alguma forma cause impacto (modificação) ao meio ambiente é con- dicionada a uma avaliação prévia (AIA) para que se possa, primeiramente, autorizar ou não o empreendimento e, em um segundo momento, exigir do empreendedor as medidas necessárias para corrigir, mitigar e/ou compensar os efeitos negativos que elas poderão acarretar ao ecossistema. Os referidos estudos subsidiarão os órgãos ambien- tais competentes para a análise dos requerimentos de –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 63 licença ambiental. Pode-se conceituar Avaliação de Impacto Ambiental como instrumento de política ambiental, forma- do por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles considerados. Além disso, os procedimentos devem garantir a adoção das medidas de proteção do meio ambiente determinadas, no caso de decisão sobre a implantação do projeto. d) Licenciamento e a revisão de atividades efe- tiva ou potencialmente poluidoras A utilização dos recursos naturais, bens de uso comum do povo e essenciais à sadia qualidade de vida, depende de prévio consentimento do Poder Público. O meio ambiente é qualificado como patrimônio públi- co a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo e, portanto, inexiste direito subjetivo 8 sua livre utilização. O consentimento estatal para a utilização de recursos naturais é dado através do procedimento de licenciamento ambiental, importante instrumento de gestão ambiental, na medida em que, por meio dele, o Poder Público exerce o controle prévio sobre as atividades que possam de algu- ma forma impactar o meio ambiente, buscando com isso a –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 64 implementação dos princípios do desenvolvimento susten- tável, da prevenção e da precaução. e) Incentivos à produção e instalação de equi- pamentos e a criação ou absorção de tecno- logia, voltadas para a melhoria da qualidade ambiental f) Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, esta- dual e municipal Tamanha a relevância da preservação e a conserva- ção de ecossistemas naturais através da criação de espaços especialmente protegidos que a Constituição de 1988, de forma expressa no artigo 225, parágrafo 1°, determina como incumbência do Poder Público: III – definir, em todas as unidades da Federação, espa- ços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somen- te através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; Há uma série de espaços ambientalmente relevantes protegidos pelas normas ambientais nacionais e podemos destacar, dentre eles: • Áreas de Preservação Permanente - APP (artigo 3°, II, do Código Florestal); • Áreas de Reserva Legal (artigo 3°, III, do Código Florestal); –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 65 • Unidades de Conservação da Natureza (Lei 9.985/2000). Cumpre rememorar que o dever de utilizar o instru- mento da Política Nacional do Meio Ambiente previsto no inciso VI do artigo 9° da Lei 6.938/81 é do Poder Público. Conclui-se que todos os entes federados são compe- tentes para definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos. Consolidando tal enten- dimento, a Lei Complementar 140, de 08 de dezembro de 2011, reconhece como ação administrativa da União (art. 7°, inciso X), dos Estados (art. 8°, inciso X) e dos municípios (art. 9°, inciso X) definirem seus espaços protegidos no âmbito de sua competência. g) Sistema nacional de informações sobre o meio ambiente O SINIMA, instrumento responsável pela gestão da informação no âmbito do SISNAMA, é de fundamental im- portância tanto para o Poder Público, que precisa das infor- mações para implementar a gestão ambiental nas três esferas de governo, quanto para a sociedade, que terá subsídios para participar ativamente na proteção do meio ambiente, bem de interesse difuso. Trata-se de instrumento criado como expressão dos princípios da “obrigatoriedade de intervenção estatal”, da “informação” e do princípio “democrático”, em matéria am- biental. Sua função precípua é fortalecer o processo de pro- dução, sistematização e análise de estatísticas e indicadores –POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE– 66 ambientais; propiciar avaliações integradas sobre o meio ambiente e a sociedade; recomendar e definir a sistematiza- ção de um conjunto básico de indicadores; e estabelecer uma agenda com instituições que produzem informação ambiental. Nos termos da Lei Complementar 140, de 08 de de- zembro de 2011, compete à União organizar e manter, com a colaboração dos órgãos e entidades da administração pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (SINIMA). Já os Estados membros devem prestar informações à União para a formação e atualização do sistema, compe- tindo a eles, ainda, organizar e manter, com a colaboração dos órgãos municipais competentes, o Sistema Estadual de Informações sobre Meio Ambiente. Os Municípios, por sua vez, além de organizar e manter o Sistema Municipal de Informações sobre Meio Ambiente, devem também prestar informações aos Estados e à União para a formação e atualização dos Sistemas Estadual e Nacional de Informações sobre Meio Ambiente. Com tais determinações, que articulam o sistema de informações ambientais dos entes federados,
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