Buscar

LUGAR COMUM

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

LUGAR- COMUM
 LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
	Cada macaco está no seu galho e todos, todos olham o próprio rabo e deixam o rabo do vizinho. A chuva chove no molhado, o sol brilha para todos... Chuva e sol? Casamento de espanhol! Passam índios -ou serão hindus? - em fila indiana. Vacas vão para o brejo. Caçadores num mato sem cachorro
caçam com gatos, e todos os gatos são pardos no escuro. Rios correm para o mar. Paus nascem tortos, e assim permanecem. Semeadores de vento colhem tempestades enquanto, ao fundo, um grupo separa o joio do trigo e outro faz das tripas coração e um terceiro constrói castelos no ar e... Súbito, tudo para no lugar-comum. Os índios, as vacas, os caçadores, até os rios. A paisagem fica estática, as frases ficam suspensas. Só os mercadores fingem que não ouvem o silêncio ameaçador, mas em seguida também param, e esperam. Algo vai acontecer. Algo - ou alguém- vai chegar. E então ele aparece. É Gerúndio! O imperativo Gerúndio. Ele caminha pelo lugar-comum, as mãos entrelaçadas atrás como um inspetor. Examina as frases paradas e chuta alguns verbos como se fossem pneus. Depois, dá a ordem:
	- Circulando!
	E vê tudo recomeçando à sua volta. Cada macaco sentado no seu galho e olhando o próprio rabo em vez do rabo do vizinho. A chuva chovendo, o sol brilhando, a fila indiana passando, as vacas indo para o brejo, os caçadores caçando com gatos, os rios correndo para o mar... O mundo sendo ordeiro e previsível, como tem que ser.
LUGAR- COMUM
 LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
	Cada macaco está no seu galho e todos, todos olham o próprio rabo e deixam o rabo do vizinho. A chuva chove no molhado, o sol brilha para todos... Chuva e sol? Casamento de espanhol! Passam índios -ou serão hindus? - em fila indiana. Vacas vão para o brejo. Caçadores num mato sem cachorro
caçam com gatos, e todos os gatos são pardos no escuro. Rios correm para o mar. Paus nascem tortos, e assim permanecem. Semeadores de vento colhem tempestades enquanto, ao fundo, um grupo separa o joio do trigo e outro faz das tripas coração e um terceiro constrói castelos no ar e... Súbito, tudo para no lugar-comum. Os índios, as vacas, os caçadores, até os rios. A paisagem fica estática, as frases ficam suspensas. Só os mercadores fingem que não ouvem o silêncio ameaçador, mas em seguida também param, e esperam. Algo vai acontecer. Algo - ou alguém- vai chegar. E então ele aparece. É Gerúndio! O imperativo Gerúndio. Ele caminha pelo lugar-comum, as mãos entrelaçadas atrás como um inspetor. Examina as frases paradas e chuta alguns verbos como se fossem pneus. Depois, dá a ordem:
	- Circulando!
	E vê tudo recomeçando à sua volta. Cada macaco sentado no seu galho e olhando o próprio rabo em vez do rabo do vizinho. A chuva chovendo, o sol brilhando, a fila indiana passando, as vacas indo para o brejo, os caçadores caçando com gatos, os rios correndo para o mar... O mundo sendo ordeiro e previsível, como tem que ser.
LUGAR- COMUM
 LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
	Cada macaco está no seu galho e todos, todos olham o próprio rabo e deixam o rabo do vizinho. A chuva chove no molhado, o sol brilha para todos... Chuva e sol? Casamento de espanhol! Passam índios -ou serão hindus? - em fila indiana. Vacas vão para o brejo. Caçadores num mato sem cachorro
caçam com gatos, e todos os gatos são pardos no escuro. Rios correm para o mar. Paus nascem tortos, e assim permanecem. Semeadores de vento colhem tempestades enquanto, ao fundo, um grupo separa o joio do trigo e outro faz das tripas coração e um terceiro constrói castelos no ar e... Súbito, tudo para no lugar-comum. Os índios, as vacas, os caçadores, até os rios. A paisagem fica estática, as frases ficam suspensas. Só os mercadores fingem que não ouvem o silêncio ameaçador, mas em seguida também param, e esperam. Algo vai acontecer. Algo - ou alguém- vai chegar. E então ele aparece. É Gerúndio! O imperativo Gerúndio. Ele caminha pelo lugar-comum, as mãos entrelaçadas atrás como um inspetor. Examina as frases paradas e chuta alguns verbos como se fossem pneus. Depois, dá a ordem:
	- Circulando!
	E vê tudo recomeçando à sua volta. Cada macaco sentado no seu galho e olhando o próprio rabo em vez do rabo do vizinho. A chuva chovendo, o sol brilhando, a fila indiana passando, as vacas indo para o brejo, os caçadores caçando com gatos, os rios correndo para o mar... O mundo sendo ordeiro e previsível, como tem que ser.

Continue navegando