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3 2 • C I Ê N C I A H O J E • v o l . 3 0 • n º 17 9 BIOLOGIA MARINHA usado, por muitas dØcadas, para a iluminaçªo e, em menor escala, como lubrificante. A invençªo do mo- tor de combustªo interna e sua adoçªo rÆpida em todas as formas de transporte ampliaram o empre- go desse recurso natural, aumentando a demanda e com isso a produçªo, o transporte, a estocagem e a distribuiçªo tanto do óleo cru quanto de seus derivados. Todas essas atividades envolvem riscos de derrames acidentais, que podem ser minimizados, mas nªo totalmente eliminados. Felizmente, os grandes derrames que contami- nam oceanos e Æreas costeiras de forma significativa nªo ocorrem com freqüŒncia. Sªo exemplos desses desastres ambientais as 200 mil toneladas de óleo despejadas na costa da França pelo acidente com o navio petroleiro Amoco Cadiz (1978); as 40 mil 4 Explorado comercialmente desde meados do século 19, o petróleo foi 3 2 • C I Ê N C I A H O J E • vo l . 3 0 • n º 1 7 9 A poluição por petróleo e seus derivados, em ambientes marinhos, tem sido um dos principais problemas ambientais das últimas décadas. Diversas técnicas físicas e químicas foram desenvolvidas para a retirada do petróleo derramado no mar ou para a redução dos seus efeitos sobre o ecossistema. A descoberta de que certas bactérias que vivem nos sedimentos marinhos, inclusive na areia das praias, podem degradar os componentes do petróleo abriu a possibilidade de usar métodos biológicos para o tratamento dos derrames. Esses métodos, objeto de pesquisas recentes no Brasil, são chamados, em seu conjunto, de biorremediação. BIOLOGIA MARINHA TRATAMENTO PARA DERRAMES DE PETRÓLEO B I O R R EB I O R R E Mirian A. C. Crapez, Alexandre L. N. Borges, Maria das Graças S. Bispo e Daniella C. Pereira Programa de Pós-Graduação em Biologia Marinha, Universidade Federal Fluminense FOT O M A R IO M O S C A TE LL I j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 0 2 • C I Ê N C I A H O J E • 3 3 BIOLOGIA MARINHA M E D I A Ç Ã OM E D I A Ç Ã O BIOLOGIA MARINHA j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 0 2 • C I Ê N C I A H O J E • 3 3 34 • C I Ê N C I A H O J E • v o l . 3 0 • n º 17 9 BIOLOGIA MARINHA toneladas lançadas pelo Exxon Valdez no litoral do Alasca (1989); e o incŒndio do Haven, na costa da ItÆlia, com 140 mil toneladas de óleo a bordo (1991). TambØm em 1991, a Guerra do Golfo contaminou o Kuwait com 820 mil toneladas de óleo e, dois anos depois, o petroleiro Braer derramou 80 mil tonela- das de óleo nas Æguas costeiras das ilhas Shetland (Escócia). No Brasil, em março de 1975, um acidente rom- peu o casco do navio-tanque iraquiano Tarik Ibn Ziyad no canal central de navegaçªo da baía de Gua- nabara. VÆrias praias foram atingidas nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, tanto no interior da baía quanto na costa oceânica. O óleo provocou incŒn- dios em Æreas de manguezal, em torno da baía, e a contaminaçªo afetou seriamente as comunidades animais da zona entremarØs. Em agosto de 1997, um vazamento nas instala- çıes dos Dutos e Terminais do Sudeste (DTSE) atingiu o mangue adjacente à Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na baía de Guanabara. AlØm do mangue, o óleo espalhou-se pelas praias de Fregue- sia, Barªo, Pitangueiras, Bandeira e Zumbi, localiza- das na ilha do Governador. Em janeiro de 2000, outro vazamento de óleo ocorreu no mesmo local, atingindo inœmeras Æreas de manguezal, alØm da ilha de PaquetÆ e do norte e leste da ilha do Gover- nador. Esse vazamento foi considerado um dos maiores acidentes com petróleo jÆ ocorridos na baía de Guanabara (ver 500 anos de degradaçªo, em CH n” 158). Tratamento inicial das marés negras Tais desastres mostraram como o petróleo Ø danoso ao ambiente marinho, mas eles tambØm serviram para o desenvolvimento de tØcnicas para lidar com os derrames acidentais chamados de marØs negras no mar e nas praias. Essas tØcnicas incluem em geral mØtodos físicos e químicos, como barreiras de contençªo, aparelhos de sucçªo, uso de jatos dÆgua para dispersar o óleo, absorventes, formadores de gel, precipitantes e dispersantes químicos. As barreiras de contençªo e os aparelhos de suc- çªo sªo eficientes em Æguas calmas, onde as ondas Figura 1. A degradação do petróleo derramado é influenciada por inúmeros fatores químicos, físicos e biológicos nªo comprometem essas tØcni- cas. Uma variedade ampla de ma- teriais absorventes como espu- mas de polietileno ou poliuretano e palha sªo empregados para remoçªo do óleo derramado, prin- cipalmente na regiªo de quebra- mar. A aplicaçªo de agentes quí- micos sobre o óleo, para provocar a formaçªo de gel ou a coagula- çªo, diferentemente dos proces- sos anteriores, Ø feita na coluna dÆgua, distante da praia, o que aumenta o custo, devido aos gas- tos com embarcaçıes. Da mesma forma, a queima do óleo no mar nªo Ø considerada um tratamento satisfatório. Tan- to esse mØtodo quanto o uso de agentes químicos sªo danosos à fauna e à flora marinhas. De to- das as tØcnicas, apenas as de pre- cipitaçªo e dispersªo tŒm suces- so aparente em mar aberto. A precipitaçªo Ø realizada com o lançamento, sobre a camada de petróleo na superfície, de pós ou FATORES QUE AFETAM A DEGRADAÇÃO DO PETRÓLEO FATORES CARACTERÍSTICAS Composição Cerca de 60% a 90% são hidrocarbonetos alifáticos, passíveis química de biodegradação. Nessa classe, o fitano e o pristano são mais resistentes à degradação e podem ser usados como marcadores químicos em monitoramento. Entre os aromáticos, deve-se monitorar benzeno, tolueno e xileno (BTX), mais tóxicos aos seres vivos; hopano pode ser usado como marcador químico, em monitoramento. Nos seres vivos, o petróleo pode ser incorporado às gorduras, causar distúrbios metabólicos ou interromper a quimiorrecepção. Estado físico Condiciona agregação, espalhamento, dispersão ou adsorção no ambiente. Mudanças A composição química e o estado físico do óleo, associados químicas à temperatura, à radiação solar e ao batimento das ondas, induzem mudanças químicas, evaporação e fotooxidação. Água É essencial à vida bacteriana, mas é excluída dos agregados, porque o petróleo é hidrofóbico. Temperatura Determina a evaporação, constituindo um fator importante no processo de degradação. Oxigênio É fator decisivo para iniciar e sustentar a biodegradação. Nutrientes São essenciais nitrogênio (N) e fósforo (P). Teoricamente, para cada grama de óleo degradado são necessários 150 mg de N e 30 mg de P. Salinidade É desconhecida a biodegradação em ambientes hipersalinos. Microrganismos As bactérias hidrocarbonoclásticas podem estar ausentes ou em número insuficiente para desencadear a biodegradação. j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 0 2 • C I Ê N C I A H O J E • 3 5 BIOLOGIA MARINHA materiais de granulometria fina, mas com alta den- sidade. O óleo absorve essas partículas e sofre pre- cipitaçªo, depositando-se no sedimento. JÆ os dispersantes químicos fazem com que o óleo se espalhe de modo muito rÆpido, tornando-o menos visível. Nos dois casos, porØm, o material continua no ambiente, sendo assimilado pelos organismos marinhos e acumulado nos tecidos, em diferentes níveis da cadeia alimentar (desde os microrganis- mos atØ os grandes peixes, alØm das aves e mamífe- ros que se alimentam no mar e dependem dele). Tanto os mØtodos físicos quanto os químicos devem levar em conta que o óleo derramado no mar espalha-se na superfície da Ægua, formando uma camada fina e homogŒnea, semelhante a mousse de chocolate, e que esta camada pode ser degradada por fatores físicos, químicos e biológicos. Preocupação com o ambiente marinho Em 1946, o microbiólogo marinho norte-americano Claude E. ZoBell (1905-1989)identificou, pela pri- meira vez, microrganismos capazes de consumir petróleo, isto Ø, de usÆ-lo como fonte de carbono para a geraçªo de biomassa. Na Øpoca, porØm, os derrames de petróleo ainda nªo eram vistos como um problema ambiental sØrio. Apenas 21 anos de- pois, em 1967, o acidente com o superpetroleiro Torrey Canyon, na Inglaterra, e o desenvolvimento da exploraçªo de petróleo no `rtico serviram de alerta para o risco de outros acidentes. A partir daí, os cientistas passaram a se preocu- par em conhecer o destino do petróleo como poluen- te e uma atençªo especial foi dada ao ambiente marinho, o maior e œltimo receptor das marØs ne- gras. As pesquisas desenvolvidas desde entªo pro- curavam respostas para diversas perguntas sobre: 1. os componentes biodegradÆveis do petróleo; 2. os fatores ambientais que influenciariam a biode- gradaçªo dessa substância; e 3. a distribuiçªo das populaçıes de microrganismos capazes de degradar o petróleo. O petróleo, formado por processos biogeoquí- micos, Ø uma mistura complexa de hidrocarbonetos. Sua composiçªo varia em funçªo de sua localizaçªo geogrÆfica e das condiçıes físico-químicas e bioló- gicas que o originaram. Assim, grande parte de seus componentes (de 60% a 90%) Ø passível de biode- gradaçªo (figura 1). Entretanto, o restante bruto ou Figura 2. Colônias de três consórcios de bactérias hidrocarbonoclásticas (A, B, C) isoladas de sedimentos marinhos impactados por hidrocarbonetos de petróleo refinado Ø recalcitrante, isto Ø, demora a desapare- cer por meios naturais, após algum acidente em um ambiente. Mesmo tratando-se de uma fraçªo menor (de 10% a 40%), Ø preciso lembrar que isso significa toneladas de material poluente impactando o ambi- ente e podendo ser bioacumuladas nos seres vivos (ver Filtros biológicos, em CH n” 58). Assim, o des- tino dessa substância no ambiente, após um derra- me, dependerÆ da interaçªo de vÆrios fatores. A biodegradaçªo Ø um desses fatores. Pesquisas desenvolvidas em regiıes frias (como o `rtico) ou temperadas mostraram que diversos grupos de bac- tØrias e fungos tŒm habilidade para degradar os componentes de petróleo. As bactØrias, denomina- das hidrocarbonoclÆsticas, fazem parte da microflora presente no solo, na Ægua e no sedimento. Quando esses ambientes sªo expostos a marØs negras, ocorre um fenômeno de adaptaçªo ou aclimataçªo de cer- tas populaçıes de bactØrias, que passam a reconhe- cer os componentes do óleo como fonte de carbono, iniciando o processo de degradaçªo. 4 (B) (A) (C) IM A G EN S C ED ID A S P EL O S A U TO R ES 3 6 • C I Ê N C I A H O J E • v o l . 3 0 • n º 17 9 BIOLOGIA MARINHA A complexidade dos processos metabólicos ne- cessÆrios a essa degradaçªo leva à formaçªo de consórcios, com bactØrias de diferentes gŒneros e espØcies, cada uma especializada em degradar uma ou vÆrias fraçıes do óleo derramado (figura 2). Os principais gŒneros sªo Acidovorans, Acinetobacter, Agrobacterium, Alcaligenes, Aeromonas, Arthro- bacter, Beijemickia, Burkholderia, Bacillus, Co- momonas, Cycloclasticus, Flavobacterium, Goordo- na, Moraxella, Mycobacterium, Micrococcus, Neptu- nomonas, Nocardia, Pasteurella, Pseudomonas, Rho- dococcus, Streptomyces, Sphingomonas, Stenotro- phomonas e Vibrio. Derrames sucessivos no mesmo ambiente acele- ram cada vez mais o aumento da biomassa bacteriana hidrocarbonoclÆstica. A maior concentraçªo dessas bactØrias, portanto, serve como um indicador de ambiente impactado cronicamente por petróleo. Uma nova tecnologia atrai interesse Após o acidente com o petroleiro Exxon Valdez, em que o óleo derramado no mar atingiu 15% da costa do golfo do Alasca, e a Guerra no Golfo, que formou 330 lagos de óleo no Kuwait, os processos de degra- daçªo biológica chamados, em conjunto, de biorre- mediaçªo receberam maior atençªo. Tais proces- sos surgiram a partir de estudos de decomposiçªo e detoxificaçªo de pesticidas em solos e, mais tarde, foram propostos como promissores para a recupera- çªo de Æreas costeiras atingidas por derrames de petróleo. A tecnologia de biorremediaçªo usa, para a re- moçªo de poluentes, o potencial fisiológico de bac- tØrias. Estas transformam o petróleo em biomassa, Ægua, dióxido de carbono e outros compostos (figu- ra 3). O objetivo principal da biorremediaçªo Ø mi- nimizar o impacto das substâncias recalcitrantes no ambiente, criando condiçıes favorÆveis ao cres- cimento e à atividade bacterianas. A bioestimula- çªo (adiçªo de fertilizantes) e a bioamplificaçªo (semeadura de nœmero expressivo de bactØrias hidro- carbonoclÆsticas) podem ser consideradas aborda- gens gerais nessa tecnologia. Os trabalhos de biorremediaçªo devem ser feitos tanto no ambiente quanto em condiçıes controladas de laboratório, para obter informaçıes que permi- tam estimar custo, viabilidade e duraçªo do trata- mento, e para identificar os fatores limitantes do processo e as vias possíveis de superaçªo dos mes- mos. A eficÆcia da tecnologia Ø testada, em labora- tório, pela determinaçªo da biomassa da populaçªo bacteriana (total e hidrocarbonoclÆstica), o isola- mento e a manutençªo de consórcios das bactØrias que fazem a biodegradaçªo, a mediçªo da taxa de respiraçªo (consumo de oxigŒnio e/ou produçªo de gÆs carbônico), a quantificaçªo da atividade de enzimas ligadas à degradaçªo do óleo e a determina- çªo das taxas de degradaçªo do poluente. É bom ressaltar que todos esses parâmetros tam- bØm podem ser usados para avaliar ambientes impactados por óleo, exceto o consumo de O2 e/ou produçªo de CO2. No ambiente, mudanças quantita- tivas nesses fenômenos podem indicar tanto a mineralizaçªo da matØria orgânica quanto o consu- mo de óleo pelas bactØrias, levando a uma interpre- taçªo errônea dos resultados. Pesquisas sobre biorremediação no Brasil Os estudos de biorremediaçªo, no Brasil, ainda sªo incipientes. O Laboratório de Microbiologia Mari- nha, da Universidade Federal Fluminense, Ø pionei- ro nessa Ærea e vem desenvolvendo pesquisas para estabelecer as bases dessa tecnologia em funçªo das condiçıes ambientais brasileiras. As baías sªo ambientes de maior risco para aci- dentes com petróleo porque, alØm da intensa movi- mentaçªo de embarcaçıes em seu interior, em geral apresentam em seu entorno grande densidade demogrÆfica e maior concentraçªo de portos e in- dœstrias. As baías da ilha Grande e de Guanabara, no estado do Rio de Janeiro, sªo exemplos do tipo de ambiente com alto risco para acidentes de derrames de óleo, e em ambas foram realizadas pesquisas sobre biorremediaçªo. Figura 3. Degradação (da esquerda para a direita) dos hidrocarbonetos de petróleo por consórcio bioamplificado de bactérias hidrocarbonoclásticas e bioestimulados com fertilizante NPK IM A G EM C ED ID A P ELO S A U TO R ES j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 0 2 • C I Ê N C I A H O J E • 3 7 BIOLOGIA MARINHA Sugestões para leitura BALBA, M.T.; AL-AWADHI, N. and AL-DAHER, R. ‘Bioremediation of oil-contaminated soil: microbiological methods for feasibility assessment and field evaluation’, in Journal Microbiological Methods, v. 32, p. 155, 1998. CRAPEZ, M.A.C.; TOSTA, Z.T.; BISPO, M.G.S. & PEREIRA, D.C. ‘Acute and chronic impacts by aromatic hydrocarbons on bacterial communities at Boa Viagem and Forte do Rio Branco beaches, Guanabara Bay, Brazil’, in Environmental Pollution, v. 108/2, p. 291, 2000. CRAPEZ, M.A.C.; BORGES, A.L.N.; BISPO, M.G.S.; PEREIRA, D.C.; ALVES, P.H. & THIENGO, D.A. ‘Bioremediation utilizing three consortiums of Bacillus spp. hydrocarbon degraders, isolated from tropical beach sediment’, in 5th Congress on Marine Sciences (Marcuba, La Habana, Cuba), CD-Rom, 2000. CRAPEZ, M.A.C.; TOSTA, Z.T.; BISPO, M.G.S.; MESQUITA, A.C.; LOGULLO,C.J. & CORREA-JÚNIOR, J.D. ‘Biorremediação em sedimentos de praias arenosas utilizando Bacillus spp. isolados de solo de floresta’, in Oecologia Brasiliensis, v. 19, p. 28, 1997. Os estudos feitos na baía da ilha Grande consta- taram a presença de populaçıes hidrocarbonoclÆs- ticas capazes de consumir benzeno, tolueno e nafta- leno (alguns dos componentes do petróleo) na com- plexa comunidade bacteriana dos sedimentos de praias. Ensaios em laboratório com bactØrias desse tipo, isoladas e introduzidas em amostras de sedi- mento, aumentaram em mais de 200% a produçªo de CO2, tornando mais rÆpida e eficaz a degradaçªo do petróleo. BactØrias hidrocarbonoclÆsticas tambØm foram isoladas na baía de Guanabara, em amostras de sedimento superficial da ilha de `gua, e seu rendi- mento na degradaçªo do petróleo foi avaliado em laboratório. Para isso, as bactØrias foram bioampli- ficadas em meio de cultura contendo petróleo e depois submetidas a diferentes formulaçıes do bioestimulante NPK (baseado em nitrogŒnio, fósfo- ro e potÆssio). Outros projetos estudaram a influŒn- cia da matØria orgânica na degradaçªo de benzeno, tolueno e xileno, hidrocarbonetos extremamente tóxicos. Esses projetos serviram ainda para avaliar e monitorar Æreas de risco. Avaliaçıes desse tipo tambØm sªo importantes para verificar o potencial da microbiota hidrocar- bonoclÆstica em Æreas onde serªo implantados no- vos projetos ligados ao petróleo. Os estudos do Laboratório de Microbiologia Marinha tŒm aponta- do que a resposta da comunidade bacteriana a der- rames depende das características do ambiente impactado, do tipo do óleo e de sua concentraçªo, mas a quantidade e a qualidade da matØria orgânica disponível nos sedimentos do local tambØm Ø muito importante para a aclimataçªo e a bioamplificaçªo da microbiota hidrocarbonoclÆstica presente no ambiente. Na lagoa de Saquarema e na praia de Jurujuba, Æreas do estado do Rio de Janeiro onde grande quantidade de esgoto e de rejeitos de fÆbricas alimentícias chegam ao sedimento, nªo foi consta- tada a atividade de bactØrias hidrocarbonoclÆsticas. Nesses locais, uma marØ negra poderÆ acarretar sØ- rios prejuízos para a fauna e a flora locais. O tempo decorrido desde o derrame e o nœmero de exposiçıes do local ao óleo sªo fatores cruciais nos processos de biorremediaçªo e de recuperaçªo ambiental. Para verificar as respostas potenciais da microbiota aos efeitos agudo e crônico de hidrocar- bonetos de petróleo, foram realizados ensaios labora- toriais em amostras de sedimento das praias da Boa Viagem e do Forte do Rio Branco e da Ærea da Estaçªo HidroviÆria de Niterói (RJ). Na Estaçªo HidroviÆria de Niterói, que recebe considerÆvel volume de esgoto e de óleo, as bactØ- rias jÆ utilizam essas substâncias como fonte de car- bono, produzindo biomassa considerÆvel. Os en- saios feitos com sedimento das praias de Boa Via- gem e do Forte do Rio Branco, por sua vez, mostra- ram que, aumentando a freqüŒncia de entrada de benzeno, tolueno e xileno no sistema, as bactØrias tornam-se capazes de degradar quantidades cres- centes desses poluentes. Tal efeito depende das interaçıes ambientais entre os componentes do petróleo e as populaçıes bacterianas, que atuam em cometabolismo (alguns componentes do petróleo nªo sªo reconhecidos pelo sistema enzimÆtico das bactØrias, mas a repe- tiçªo da disponibilidade dessas substâncias faz com que as bactØrias sintetizem novas enzimas, capazes de degradar mesmo as mais recalcitrantes) e/ou de forma sinØrgica (degradaçªo seqüencial de diferen- tes componentes do petróleo, realizada por gŒneros ou espØcies diferentes do consórcio de bactØrias, em que o subproduto de cada etapa Ø fonte de carbono para a outra). Quando as bactØrias estªo aclimatadas, ou seja, jÆ sintetizaram as enzimas para degradar o óleo, sua concentraçªo pode atingir 10 bilhıes de cØlulas por mililitro, tanto no meio de cultura quanto no ambien- te natural. Ao consumirem o óleo, as bactØrias hidro- carbonoclÆsticas produzem biomassa, podendo au- mentar em mais de 1.000% seu conteœdo de lipídios e em 240% o de proteínas. Os resultados desses estudos e de inœmeros outros, ao redor do mundo deixam claro que as tØc- nicas convencionais de limpeza das marØs negras podem e devem ser complementadas com a biorre- mediaçªo. Em grandes acidentes, mesmo com a aplicaçªo adequada das tØcnicas mecânicas hoje existentes, ainda resta uma fraçªo de óleo oxidado pela luz solar. Essa fraçªo fica disponível para a biota e precisa ser degradada para que o ecossistema nªo fique impactado. A biorremediaçªo, portanto, multiplica a capacidade de depuraçªo do ambiente, alØm de permitir o restabelecimento da vida animal e vegetal e o mapeamento de Æreas de risco. nFOT O M A R IO M O S C A TE LL I
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