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Artigo DesignProduto_Bancada_Ourives

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Design de Produto – Estação de Trabalho: Bancada de Ourives para Pequenos Produtores 
Design of Product – Workstation: Bench of Goldsmith for Small Producers 
 
CORDEIRO, Ana Paula dos Anjos 
Especialista em Design de Produto - Universidade do Estado da Bahia 
Espec. em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação - Universidade do Estado da Bahia 
NEUHAUS, Dora 
Especialista em Design de Produto - Universidade do Estado da Bahia 
PICHETH, Tânia 
Especialista em Design de Produto - Universidade do Estado da Bahia 
 PINA, Suzana Angélica 
Especialista em Design de Produto - Universidade do Estado da Bahia 
Especialista em Artes Visuais - Universidade do Estado da Bahia 
SANTOS, Neymar Leonardo dos 
Especialista em Design de Produto - Universidade do Estado da Bahia 
 
 
Palavras-chave: estação de trabalho, ourives, ergonomia. 
 
Projeto acadêmico de estação de trabalho adequada às necessidades do ourives para a confecção, o restauro e a reforma 
de jóias, com maior conforto e segurança, através de uma estação de trabalho ergonômica, funcional, estética e 
economicamente viável. 
 
Words key: workstation, goldsmith, ergonomics. 
 
An academic project of workstation adapted to the goldsmith's needs in order to make, restore and reform of jewels, 
with larger comfort and safety, through an ergonomic, functional, aesthetics and economically viable workstation. 
 
 
 
Introdução 
O projeto “Bancada de Ourives para Pequenos Produtores” é resultado do curso de Especialização em 
Design de Produto. 
 
A partir da observação de alguns ourives em sua jornada de trabalho, foi detectado que o principal problema 
enfrentado por estes profissionais é a postura inadequada. Fatores como a falta de apoio para os braços, 
assento inadequado, dentre outros, contribuem para o desconforto físico, causando uma série de 
constrangimentos à coluna vertebral. 
 
Em busca de uma solução para os problemas encontrados, este projeto pretende possibilitar maior conforto e 
segurança aos ourives na confecção, no restauro e na reforma de jóias, através de uma estação de trabalho 
ergonômica, funcional, estética e economicamente viável. 
 
Etapas de Desenvolvimento do Produto 
1 - Problematização e Conceituação 
Etapa que consistiu no levantamento e análise dos dados, na análise ergonômica e na geração dos parâmetros 
projetuais. É considerada de grande importância, uma vez que norteia todo o projeto. Para facilitar a fase 
seguinte, de análise das informações obtidas, dividimos a pesquisa em três aspectos: 
 
Quanto aos aspectos formais/ funcionais - os aspectos formais/funcionais foram levantados a partir de 
pesquisa de similares em catálogos, internet e revistas do setor joalheiro, além de fotografias e filmagens 
feitas das bancadas existentes, buscando informações referentes a espaço físico, equipamentos e mobiliário 
utilizado. 
 
Quanto aos aspectos de uso – foram investigadas as características do usuário, identificando as posturas 
assumidas no desenvolvimento das atividades e freqüência de utilização dos equipamentos. Realizamos 
 
 
entrevistas e aplicamos questionários a fim de coletar informações sobre jornada de trabalho, desconforto 
físico e mental e constrangimentos referentes às estações de trabalho atuais. 
 
Quanto aos aspectos técnicos - os aspectos técnicos referentes aos produtos existentes, foram levantados 
relacionando o material, sistemas moventes, de segurança e processo de fabricação. Foram consultados: a 
Norma Técnica NR-17, sobre estação de trabalho, revistas do setor e catálogos de produtos similares, onde 
foram colhidos os dados sobre materiais e acessórios utilizados nas bancadas. 
 
Com relação a análise ergonômica, para que o projeto obtenha resultados satisfatórios (atenda aos requisitos 
e observe as restrições), se fizeram necessárias as análises da tarefa e do sistema, ou seja, do trabalho a ser 
realizado e do ambiente ao qual se destina. A partir daí foram gerados vários quadros, inclusive o quadro 
Caracterização do Sistema à seguir: 
 
 I - Quadro de análise da tarefa e caracterização do sistema 
 
A análise dos dados seguiu o mesmo critério da fase de pesquisa. Foi feita de acordo com os três aspectos 
citados anteriormente: 
 
Análise quanto aos aspectos formais/ funcionais - a maioria das bancadas de ourives apresenta formas 
simples, com linhas retas e algumas vezes curvas que tentam criar uma conformação de modo a adaptar 
melhor o móvel à forma humana. Possui uma estileira, à frente, onde é feito basicamente todo o trabalho. 
Uma gaveta logo abaixo para colher a limalha de ouro ou prata, sendo que algumas também apresentam 
gavetas para guardar objetos pessoais e ferramentas. 
 
Análise quanto aos aspectos de uso - todos os ourives têm uma longa jornada de trabalho em sua bancada, 
88% trabalha entre 9:30h e 15h diárias, o que leva a constrangimentos devido ao cansaço e longa 
permanência na postura sentada, além de apresentar ansiedade devido à exigência do cumprimento de prazos 
na execução das tarefas. 
 
 
 II – Posturas adotadas pelos ourives durante o cumprimento de tarefas. 
 
 
Análise quanto aos aspectos técnicos - todas as bancadas avaliadas são em madeira e a grande maioria dos 
ourives considera o material adequado. Algumas apresentam o tampo revestido com laminado melamínico, 
outras com tampo e gavetas em madeira, podendo também estar revestidas com laminado ou com papel. 
 
Podem ser encontradas no mercado, bancadas nacionais e importadas. A maioria, considerada simples, é 
fabricada totalmente em madeira pela própria loja que as comercializa e apenas uma minoria apresenta sua 
estrutura em metal e com bom acabamento. Todas elas se apresentam fixas sem qualquer preocupação 
quanto à ergonomia. 
 
 
III – Bancadas Similares 
 
Vale ressaltar que existe uma preocupação com o material da gaveta de coleta de limalha, pois esta não deve 
absorver o ouro, e deve amortecer a queda de pedras no momento da cravação para evitar perdas. 
 
Após análise das informações obtidas, foi feito um brainstorm1 com o objetivo de buscar as causas 
relacionadas ao problema postura inadequada identificada na estação de trabalho do ourives. 
 
A partir daí geramos o Diagrama de Causa e Efeito, também chamado de Diagrama Espinha de Peixe, que 
apresentou as seis causas de maior relevância para o problema: 
 
 IV - Diagrama de causa e efeito ou Espinha de peixe 
 
Foi aplicada uma matriz de prioridades2 de forma a ordenar as causas de acordo com sua importância para 
auxiliar na solução do problema exposto no Diagrama. 
 
Somente após o levantamento de dados (através de fotografias, filmagens, observações sistemáticas e da 
aplicação do questionário estruturado), a tabulação e análise dos mesmos, e a identificação do principal 
problema e suas respectivas causas é que foram gerados os seguintes parâmetros para o desenvolvimento do 
projeto: 
 
!" local para guardar ferramentas de maneira organizada e de fácil alcance; 
!" tampo com corte semicircular que possibilite ao ourives melhor aproximação à bancada; 
!" recipiente para coleta da limalha com curvatura frontal para permitir melhor aproximação ao posto de 
trabalho, além de ser isento de frestas; 
 
 
!" suporte lateral para a água e os produtos químicos de forma a evitar que estes sejam colocados sobre a 
bancada e atendam ao envelope de alcance; 
!" apoio para os braços de modo a permitir ao usuário melhor conforto, segurança e estabilidade no 
momento das diversas atividades; 
!" regulagem de altura da bancada para cada usuário. 
 
2 - Desenvolvimento 
Esta etapa compreendeu as fases de geração e seleção de alternativas, bem como a construção de mock-ups3 eavaliação dos mesmos. 
 
Primeiramente foram elaboradas diversas alternativas de bancada de ourives, por cada membro da equipe, 
partindo dos parâmetros projetuais definidos na etapa anterior. Após análise dos desenhos foram 
selecionadas nove alternativas: 
 
 
 V - Geração de Alternativas (croqui) 
 
Foram novamente avaliadas e selecionadas três delas através do processo de votação livre pelos 
componentes da equipe. Essas três alternativas foram transformadas em modelos reduzidos para avaliação da 
forma e proporção: 
 
 
 VI - Geração de Alternativas (modelos, respectivamente, A, B e C) 
 
 
Através da matriz de decisão4, foram aplicados pesos de 3 a 5 para cada critério que o produto deveria 
apresentar e cada componente da equipe aferiu notas, tendo sido escolhido o modelo “C”. 
Definido o modelo, foi feito um 1º mock-up em papelão para estudo da volumetria e a compatibilização dos 
usuários extremos, com os quais foram feitos testes em diferentes posições de alcance, simulando usuários 
com os percentis 5 e 95. 
 
 
 
 VII - Análise do 1º mock-up (em papelão) usuários 5 % il e 95% il,respectivamente. 
 
O estudo apontou problemas que deveriam ser reestudados e modificados para atender à funcionalidade do 
produto. A falta de estabilidade, o apoio fixo para os braços e a fragilidade do material, não facilitou a 
simulação de todos os testes ergonômicos, nem a adaptação da bandeja lateral, prevista no projeto. Somente 
o display atendeu às necessidades não havendo problemas quanto a sua volumetria e funcionalidade. 
 
Após a avaliação da equipe foi construído um 2º mock-up, em material resistente e com sistemas de 
regulagem de altura para o tampo e para o apoio dos braços. 
 
Na análise do 2º mock-up, através da simulação de utilização da bancada com os usuários extremos, foram 
detectados os seguintes problemas: 
 
!" o usuário 5% il, não alcança confortavelmente a prateleira localizada sobre o display (foto VIII); 
!" os usuários extremos têm dificuldade ao alcance confortável da bandeja lateral (fotos X e XI); 
 
 VIII – Teste 5% il IX – Teste 95% il X – Teste 5% il XI – Teste 95% il 
 
!" altura inadequada do coletor de limália em relação à prancha para ambos os percentis (fotos XII e XIII); 
 
 
 
 
 
 XII – Teste 5% il XIII – Teste 95% il 
 
!" os pés de apoio do móvel não estavam inseridos de modo harmonioso no produto. 
 
A partir das primeiras observações, houve a necessidade de elaborar uma planilha para nova análise do 
modelo, onde foram listados os problemas e de que maneiras poderiam ser resolvidos. Após novos testes 
com o mock-up, foram discutidos os problemas detectados e avaliadas as sugestões, sendo definidas as 
soluções da seguinte forma: 
 
!" a bandeja para ácidos foi deslocada para frente, até o limite do tampo da bancada, para atender ao 
alcance dos usuários extremos à parte posterior da mesma; 
!" para atender ao usuário 5 %il a altura da prateleira superior foi reduzida devido à modificação no 
display, que passou a ser apoiado sobre a bancada, desconsiderando o afastamento inicial; 
!" o trilho corrediço do coletor de limalha foi deslocado para baixo de modo a aumentar o espaço entre a 
prancha e o coletor, o qual também sofreu intervenção na borda frontal para facilitar o desenvolvimento 
das atividades sem comprometimento de espaço; 
!" a manivela ficou localizada na parte posterior da lateral direita da bancada, sendo acrescido o tamanho 
da haste de fixação da manivela no mancal do sistema de elevação da bancada; 
!" para resolver a instabilidade dos apoios, os dois pés frontais foram modificados, sendo executados em 
tubo de ferro, com arco maior que o inicial e haste intermediária, além de painel frontal entre os dois pés 
posteriores; 
!" para diminuir o deslizamento de ferramentas no display foi reduzida a inclinação da parte frontal, a qual 
também foi dividida em três partes com peças de chapa metálica fixadas em diagonal; 
!" quanto à questão da falta de apoio para os braços quando da elevação dos cotovelos à altura dos ombros, 
esta foi adiada para a fase de testes, sendo considerada a resolver em um posterior aperfeiçoamento do 
projeto da bancada. 
 
3 - Considerações 
Nesta etapa partimos para a construção de um protótipo em escala 1:1 para a realização de testes com os 
ourives e mais uma avaliação. Desde já fizemos algumas considerações a respeito do projeto. 
 
Durante a construção do 2º mock-up, que nos possibilitou chegar à concepção final do projeto, foram revistos 
os pés de apoio, o coletor de limália, e o apoio para os braços. O rendering permitiu a visualização da 
aparência desejada. E o protótipo nos possibilitará a realização dos testes. 
 
 
 XIV – O Rendering 
 
 
 
 XIV – O Protótipo 
 
No que se refere aos itens iluminação e assento: 
!" indicamos a utilização de luminária existente no mercado, regulável, que permita ao ourives a escolha 
daquela que propicie a iluminação adequada em todos os planos de trabalho e o melhor ajuste para os 
destros ou canhotos; 
!" o assento, por sua vez, também disponível em grande variedade no mercado, não foi alvo do nosso 
projeto, ficando a critério do usuário a adequação de um produto regulável (encosto e altura do assento), 
permitindo o ajuste ao seu percentil. 
 
Quanto ao ácido sulfúrico ou sal branqueador, elementos necessários ao desenvolvimento das tarefas dos 
ourives, constitui-se em um vício de trabalho colocá-lo em recipientes sobre a superfície da bancada, para 
evitar a perda de tempo e, conseqüentemente, aumentar a produtividade. A utilização destes produtos libera 
gases tóxicos, prejudiciais à saúde, além de acelerar a oxidação das ferramentas. O correto seria utilizá-lo 
longe do posto de trabalho, próximo à água corrente. 
 
Como solução de compromisso adotamos uma prateleira lateral, dentro do envelope de alcance, de forma a 
minimizar os riscos de acidentes e as agressões causadas pelos produtos ao organismo do usuário, mantendo 
a produtividade esperada. 
 
O próximo passo, portanto, será a realização de testes com ourives. Consideramos esta etapa de extrema 
importância para a obtenção de resultados, uma vez que auxilia na avaliação dos objetivos propostos (se 
foram alcançados ou não) e no aperfeiçoamento da estação de trabalho, em relação à tarefa (uso). 
Pretendemos dar continuidade ao projeto, fazer uma estimativa dos Custos de Produção e uma pesquisa com 
o objetivo de indicar alternativas de materiais, no intuito de aperfeiçoar a Bancada de Ourives para atender 
melhor ao pequeno produtor, nosso público-alvo. 
 
1
 Brainstorm: técnica de conclaves com o objetivo de gerar idéias em torno de um assunto ou problema de forma 
criativa. 
2
 Matriz de prioridades: técnica de conclaves com o objetivo de priorizar alternativas com base em determinados 
critérios. 
3
 Mock-up: modelo em escala 1:1 em material que possibilite a realização de simulação. 
4
 Matriz de decisão: técnica de conclaves com o objetivo de selecionar alternativa (s) com base em critérios. 
 
4 – Referências Bibliográficas 
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industrial. São Paulo: FIESP/CIESP, 1997. 
 
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BARROS, Aidil de J. P. de; LEHFELD, Neide A. de S. Projeto de Pesquisa: Propostas Metodológicas. Rio 
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BAXTER, Mike. Projeto de produto: Guia práticopara o design de novos produtos. 2. ed. São Paulo: Edgar 
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CHAFFIN, Don B.; ANDERSSON, Gunnar B. J.; MARTIN, Bernard J. Biomecânica ocupacional. 3.ed. 
Belo Horizonte: Ergo, 2001. 
 
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Data for design safety. Nottingham: Government Cosumer Safety Research, DTI Department of Trade 
and Industry, 1994. 
 
COUTO, Hudson de A. Ergonomia aplicada ao trabalho: manual técnico da máquina humana. Belo 
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DIFFERIENT, Niels; TILLEY, Alvin; HARMAN, David. Human scale. Massachusetts: Henry Dreyfuss 
Associates, 1981. V. 1 - 9. 
 
GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996. 
 
GIL, Antônio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. 
 
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgar Blucher, 1990. 465 p. 
 
BRASIL. Ministério do Trabalho. Técnicas de conclave. Rio de Janeiro, 1995. 
 
MORAES, Anamaria de; PEQUINI, Suzi Mariño. Ergodesign para trabalho com terminais informatizados. 
Rio de Janeiro: 2AB, 2000, 117 g. 
 
MORAES, Anamaria de; MONT’ALVÃO, Cláudia. Ergonomia conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: 
2AB, 2000. 
 
MORAES, Dijon de. Limites do design. São Paulo: Studio Nobel, 1999. 
 
NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: origens e instalação. 3. ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2000. 
 
SIMÕES, Darcilia. A ciência, a pesquisa, o método: implicações semióticas. Icaraí: IBSEI, 2000. 
 
OS AUTORES: 
ANA PAULA DOS ANJOS CORDEIRO - email: paulacordeiro@terra.com.br 
DORA NEUHAUS - email: dora.neuhaus@terra.com.br 
NEYMAR LEONARDO DOS SANTOS - email: neymarleonardo@hotmail.com 
SUZANA ANGÉLICA PINA - email: supina@ig.com.br 
TÂNIA PICHETH - email:tapicheth@terra.com.br

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