Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O DESIGN GRÁFICO COMO FERRAMENTA NA DIVULGAÇÃO DE DADOS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS Simone Thereza Alexandrino Maffei UNESP, Programa de Pós-graduação em Design simone.maffei@hotmail.com Marizilda dos Santos Menezes UNESP, Programa de Pós-graduação em Design zilmenezes@uol.com.br Maria João Durão UTL, Laboratório da Cor, Faculdade de Arquitetura mjdurao@fa.utl.pt Resumo O design é uma área do conhecimento de grande interdisciplinaridade. Enquanto foco de estudo, tem suas publicações consultadas por pesquisadores de diversas áreas e em vários níveis de pesquisa. Por isso, o designer deve preocupar-se com a apresentação dos resultados de um trabalho. Os dados devem ser corretamente interpretados por quem os lê, ou seja, o modo como são apresentados deve ser claro e a mensagem, geralmente mostrada em gráficos ou texto, deve ser compreendida. Assim como em produtos comerciais, o designer precisa ter atenção quanto ao estar ou não comunicando e atingindo seu público alvo no âmbito acadêmico-científico. Tomando por base tal necessidade, este artigo apresenta uma reflexão sobre técnicas de apresentação da informação, da área editorial, que podem e devem ser usadas em apresentação de dados de pesquisas científicas. As afirmações são exemplificadas por um estudo de caso em design de moda, onde os resultados foram ilustrados. Palavras-chave: Design gráfico, Design de Moda, Desenho, Infografia, Acessibilidade. Abstract / resumen The design is an area of great interdisciplinary knowledge. While the focus of study, have their publications consulted by researchers from various fields and at various levels of research. Therefore, the designer must be concerned with the presentation of the results of a research. Data must be correctly interpreted by those who read them, that is, how they are presented must be clear and the message, usually presented in graphical or text, must be understood. Just as in commercial products, the designer needs to pay attention whether the communication is occurring or not and reaching your target audience in the academic and scientific field. Based on this need, this article focuses on techniques of editorial presentation that can and should be used in the presentation of scientific data. Affirmations are exemplified by a case study in fashion design, where the results were illustrated. Key words: Graphic Design, Fashion Design, Illustration, Infographics, Accessibility. 1 Introdução O design, atualmente, divide-se em diversas subáreas. A todo o momento surgem novas especialidades para cada função do designer. Embora a denominação seja relativamente recente, o design gráfico encarrega-se da comunicação e produção impressa desde o surgimento das artes gráficas. Cartazes, folhetos, embalagens, logotipos, revistas, livros e demais peças compõem o universo de produtos que o designer gráfico produz no intuito de comunicar algo ao seu público alvo. Dentre as inúmeras funções de um produto gráfico, a comunicação é uma das mais importantes. Não há qualquer razão de um cartaz existir se seus elementos não formam uma mensagem legível e compreensível para o observador, por exemplo. O mesmo vale para uma embalagem. O utilizador não vai se interessar pela mesma se não lhe for claro para si como abri-la, ou ainda, se não tiver acessibilidade ao conteúdo. O designer é, portanto, responsável por comunicar-se de modo eficaz e eficiente com o usuário, por meio de seus produtos, e responder às suas necessidades. Levando esse pensamento para o campo acadêmico- científico, pode-se dizer que as produções bibliográficas também são produtos de design. Toda a informação contida em artigos, livros ou revistas devem comunicar de forma clara e compreensível. Porém, isso nem sempre ocorre. Por vezes, a produção teórica em design não tem seus resultados ou demais dados apresentados de modo que a comunicação com o leitor aconteça. A força de um produto gráfico, seja comercial ou acadêmico, bem como em seu discurso, está no modo como as linguagens estão conjugadas. Depende das informações direcionadas à correta interpretação de seu público leitor e os elementos visuais trabalhados e organizados de modo eficaz e eficiente. Por isso é necessário levantar a seguinte reflexão: por que os designers não utilizam recursos gráficos, como o desenho e o infografismo, na apresentação de dados acadêmicos- científicos? A revisão bibliográfica corrobora essa reflexão. O estudo de caso apresentado na sequência visa exemplificar a importância do uso de recursos do design gráfico em trabalhos acadêmico-científicos. 2 Ferramentas para a comunicação O processo de comunicação tem início a partir do momento em que a atenção do observador/leitor é despertada. O olho humano só direciona o olhar para o que causa desejo e os elementos visuais são ferramentas para tal. Segundo Silva (1985) quando um estímulo atinge a retina, dá início o chamado percurso da mensagem visual. A imagem se forma na retina, é interpretada pelo cérebro, mas só vai ter significado após essa interpretação, onde entra em contato com memórias de objetos ou informações antes vistos. Talvez se apresente aí um ponto importante a sabermos: o porquê pode-se demorar mais tempo para interpretar um gráfico em comparação a interpretação de uma ilustração de um objeto. Cabe ressaltar que a percepção não é um processo fotográfico e é preciso que haja um ajuste das informações no cérebro para que ocorra a cognição. É como já afirmado na Psicologia da Gestalt: a percepção é a organização das partes num todo, compondo um mosaico que contenha um sentido. Por isso a dinâmica do desenho valoriza a mensagem e os elementos visuais podem conferir melhor a significação, por meio de formas e cores. Silva (1985) afirma também que a comunicação não se limita à conquista da atenção do leitor, mas apenas acontece quando o estímulo visual produz uma reação, quer seja emocional ou intelectual. O estilo da apresentação da mensagem, ou seja, o layout garante a reação mais intensa ou diminuída. O trabalho do designer gráfico pode ser incluído nesse pensamento. Quando o projeto gráfico se torna produto, tem início o processo de percepção do observador. Este passa a ser o novo “projetista” da mensagem, pois a constrói segundo seu repertório memorial e de acordo com o que compreende. Algumas mensagens não podem ficar à mercê de diferentes interpretações. É o caso do jornalismo impresso, por exemplo. Há algumas décadas, o uso de símbolos gráficos junto ao texto conduz o observador a entender corretamente a mensagem, pois atuam na sensibilidade do receptor. Esses símbolos gráficos podem ser desde uma simples ilustração ou charge até um complexo infográfico – junção de texto e imagens em um mesmo quadro com o intuito de informar – como mostram as Figuras 1 e 2, respectivamente. Figura 1: Charge/Ilustração. Fonte: Caruso, Chico. Jornal O Globo, 2012. Figura 2: Infográfico. Fonte: Superinteressante, 2012. Módolo (2007) cita que em nível de leitura, os infográficos equiparam- se às fotografias. Alinhando texto e imagem, são portas de entrada da percepção visual e com isso atingem maior número de leitores de modo mais eficaz. No infográfico a mensagem não-verbal protagoniza juntamente com a verbal, ambas apresentando informação. A conectividade do texto com a ilustração nesse tipo de material gráfico facilita a comunicação, amplia o potencial de compreensão da informação e detalha informações menos familiares. Ribas (2004) cita que seria necessário maior complexidade e quantidadede texto para informar da mesma forma que a combinação de ilustrações e textos consegue. Um infográfico, por exemplo, comunica o que em mensagem verbal precisaria de várias páginas. Mas é preciso que se consiga uma fusão de tipos verbais e icônicos e não somente uma justaposição destes. A comunicação visual pode ser uma simples organização de pequenos textos e ilustrações, no modo arte-texto (organograma/fluxograma, tabela, lista, frases, escore, sobe-desce, testes, glossário/cronologia, perguntas e respostas, resumo, fac-símile, ficha), no modo gráfico-texto, texto-mapa, e o visual, que é uma combinação dos modos anteriores (KANNO e BRANDÃO, 1998). Durão (2010) cita que a comunicação via visualização gráfica é uma orientação cognitiva da mensagem. É um processo que vincula tanto quanto necessário o pensamento visual, sua idealização e sua percepção. O desenho tem o poder de mediar: traduz observações, concretiza processos cognitivos, viabiliza a interação entre a percepção e a reflexão. A visualização gráfica, ao captar fenômenos ou ao torná-los mais claros, serve de veículo para a construção do pensamento visual bem como para a compreensão do processo da sua evolução. Os fenômenos cognitivos desse pensamento condicionam o desenvolvimento de uma abordagem didática do desenho formulada cognitivamente, não confinada a uma orientação para o produto ou o resultado imediato (DURÃO, 2010). Todos os elementos visuais onde o fenômeno espaço-tempo completa a significação constitui uma comunicação visual, ou ainda, uma comunicação intencional. Nesse caso, segundo Silva (1985) o receptor deve captar a mensagem com o exato significado que foi atribuído pelo emissor. E é esse objetivo que os pesquisadores e teóricos do Design almejam atingir com suas publicações. A seguir é apresentado um estudo de caso, onde o uso de ilustrações permitiu alcançar o citado objetivo. 3 Estudo de caso Entre os anos de 2008 e 2010, foi desenvolvida a pesquisa de mestrado intitulada “O produto de moda para o portador de deficiência física: análise de desconforto”. O objetivo era avaliar a existência de desconforto em relação ao vestuário que o mercado brasileiro de moda oferece ao público em geral. Foi avaliado todo o processo de uso, desde o vestir até o despir, do usuário portador de deficiência física cadeirante. Foi possível assim, gerar parâmetros que contribuíssem com o design ergonômico e de moda. Para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, a investigação dos objetivos se deu com a abordagem da casuística definida segundo critérios de análise para pesquisa qualitativa, por amostragem, onde os dados não foram relatados de modo estatístico, mas sim serão operacionalizados causas e efeitos. A amostra foi composta por sujeitos com deficiência física, congênita ou adquirida, cadeirantes. Por meio de entrevista aberta e individual, foi avaliada a existência de desconforto no vestir, no uso, e no despir das vestimentas. Houve a aplicação de protocolo com o intuito de quantificar o desconforto nas diferentes peças analisadas pelos usuários. Assim foi possível comprovar se a modelagem e os materiais utilizados em produtos do design de moda são desconfortáveis ou não para os portadores de deficiência física que utilizam cadeiras de rodas. O uso de ilustrações foi bastante importante durante todas as fases da pesquisa. Primeiramente, o questionário foi elaborado em linguagem acessível, para fácil compreensão do entrevistado, considerando que os indivíduos em questão poderiam apresentar deficiências mentais (não severas). As questões foram elaboradas no modo de múltipla escolha, tendo uma tabela de desenhos das vestimentas como apoio, caso ocorressem dúvidas durante o preenchimento do questionário. Mais que apoio, as ilustrações das vestimentas foram o meio que possibilitou as respostas, uma vez que os participantes, não sabendo as nomenclaturas das peças, apontavam as regiões onde sentiam a problemática. A Figura 3 mostra um fragmento dessa tabela ilustrativa. Figura 3: Fragmento da tabela ilustrativa. Fonte: Maffei, 2010. Os dados coletados não passaram por análise estatística, uma vez que a pesquisa usava metodologia qualitativa. Estes foram organizados em gráficos ilustrados, visando maior compreensão das respostas, para apresentar o número de pessoas que respondeu cada uma das alternativas. Os relatos dos indivíduos entrevistados foram anotados e utilizados nas discussões dos resultados. A figura 4 apresenta parte dos infográficos gerados no referido estudo. Figura 4: Infográficos dos resultados da pesquisa. Fonte: Maffei, 2010. Os infográficos permitem visualizar sobre o que os números tratam. Quando analisada a porcentagem de desconforto estético, por exemplo, fica claro para quem lê sobre como seria a referida estética, pois a palavra poderia proporcionar diferentes interpretações se apenas aparecesse como informação textual. Também é possível perceber o porquê do grande número de sensações de desconforto no processo de vestir-despir, onde há a ilustração do cadeirante realizando a ação. Visualiza-se a dificuldade sentida no caso de vestir ou despir uma peça de tecido pesado. Enfim, a organização dos dados em infográficos confirma a importância de usar recursos do design gráfico no âmbito acadêmico- científico. É mantida a veracidade e seriedade da pesquisa, porém a leitura e interpretação das informações são mais dinâmicas e claras. Por meio das ilustrações pode-se evitar imensas descrições textuais e interpretações errôneas. 4 Considerações Finais A informação textual é a mais utilizada nas publicações acadêmico- científicas. Em alguns materiais, encontram-se também os gráficos. Quando fazemos a leitura de um texto, o cérebro humano encarrega-se de transformar a informação em mensagens significativas, tomando por base a referência memorial. Se a leitura é sobre algo cuja referência não exista, o processo de cognição demanda mais tempo ou ainda fica passível de erros na interpretação da informação. A leitura visual de ilustrações, ou seja, a não-verbal, facilita o processamento cognitivo, uma vez que já apresenta a referência imagética que o cérebro buscaria em suas memórias. Assim, o uso de texto ilustrativo ou infográficos garantem melhor explicação de alguns aspectos tratados em grandes massas de textos. A comunicação por meio de infográficos garante eficiência no entendimento de diferentes conteúdos. Esse recurso utilizado em produtos do design gráfico tem espaço também no âmbito acadêmico-científico, uma vez que contribui com o tratamento visual das informações, com a correta interpretação dos dados e garante a comunicação em diferentes níveis na diversidade de leitores. Agradecimentos Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – Processo no. 13845-12-8 Referências CARUSO, Chico. Jornal O Globo, 2012. Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/posts/2012/07/28/o-mensalao-em-21- charges-de-chico-caruso-uma-foto-de-stuckert-457580.asp DURÃO, Maria João. “O Olho Pensante: Metáforas da Imaginação”. Linha do Horizonte. Universidade Técnica de Lisboa. Revista da Faculdade de Arquitetura, nº 1, 2010. KANNO, Mário, BRANDÃO, Renato. Manual de Infografia. Folha de São Paulo, 1998. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/8448371/Tipo- Infografia-Kanno. Acesso em Abril/2013. MAFFEI, Simone Thereza Alexandrino. O produto de moda para o portador de deficiência física: análise de desconforto. Dissertação(Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Design – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Bauru, SP: UNESP, 2010. MÓDOLO, Cristiane Machado. Infográficos: características, conceitos e princípios básicos. XII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Sudeste. Juiz de Fora, 2007. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2007/lista_area_1.htm. Acesso em: Abril/2013. RIBAS, Beatriz. Infografia Multimídia: um modelo narrativo para o web jornalismo. V Congresso Ibero-americano de Periodismo em Internet. Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, 2004. Disponível em: http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2004_ribas_infografia_multimidia.pdf. Acesso em Abril/2013. SILVA, Rafael Souza. Diagramação: o planejamento visual gráfico na comunicação impressa. São Paulo: Summus, 1985. Superinteressante. São Paulo: Abril, 2013. Disponível em: http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/files/2013/01/info4.jpg
Compartilhar