Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIOÉTICA E BIODIREITO Conceito, modelos e relações. 1. Relação: ética, moral e lei A moral explica e é explicada pelos costumes, ela pretende enunciar regras, normas e leis que regem, causam e determinam costumes e inclusive, enunciando consequências; a moral é prescritiva. A ética não a sobrepõe, na verdade, se coloca em uma plano de reflexão de posturas que devem ser compreendidas entre a moral e a imoralidade. A ética, portanto, refere-se a toda e qualquer relação que possa realizar-se no âmbito de uma sociedade; é a ciência do comportamento humano em relação aos valores, princípios e às normas morais. Estabelecendo-se num conjunto de regras, princípios e formas de pensar. A ética procura a justificativa para ações, a moral e a lei, por sua vez, estabelecem regras para as ações. Pode-se compreender essa relação tendo a ética, portanto, como aquilo que é bom em si mesmo; algo que deve ser feito ou evitado a todo custo e em todo o caso e a moral e lei, como aquelas que irão regular tais ações. Obs.: dentro de uma ética que se propõe filosófica, encontra- se outras éticas, a filosófica, normativa e a pratica. Iremos analisar a normativa, pois ela responde não só a vontade individual, bem como a social. Tem por objetivo esclarecer e definir razões que nos induzem a comportamentos, sendo assim, diz respeito ao estudo de regras para o comportamento humano, onde enuncia regras dentro das quais o ser humano pode ou deve desenvolver-se. Toda atitude pratica ou normativa deve ser antes embasada reflexivamente. Obs.: a ética deontológica tem a premissa de que as ações devem ser realizadas, independentemente de suas consequências. É uma ética centrada na noção dever e o valor moral dessa ação reside em si mesmo e não em suas consequências. A ética teológica é parte a qual destina-se a estudar as ações a fim de ordená-las em função da vontade de Deus. 2. Bioética É impossível separar os valores éticos dos fatos biológicos, decorre disto a composição grega neologista: “bio” representa a ciência dos sistemas vivantes e “ethos”, o conhecimento dos sistemas de valores humanos. Essa separação seria inviável, uma vez que a bioética para alcançar uma nova sabedoria, deve conciliar o conhecimento biológico e os valores humanos. A ideia de uma nova sabedoria decorre da urgente necessidade humana de adquirir conhecimento, para assim, usá-lo. Essa reflexão tem como justificativa a necessidade de uma “ética da vida” como forma racional para enfrentar o emprego de novas descobertas cientificas e a pressão demográfica. Essa reflexão acerca da “ética da vida” teve o ápice no século XX, quando veio mundialmente à tona as intervenções medicas e de pesquisadores alemães no período nazista. A bioética é compreendida como o estudo sistemático das dimensões éticas das ciências da vida e da saúde, utilizando-se de metodologias em um contexto interdisciplinar. Obs.: o termo bioética surge no início dos anos 70, proposto por Van Rensselaer como a “ciência da sobrevivência, uma nova sabedoria que é tão desesperadamente necessária”. O contexto dessa proposição tinha como visão original da bioética compromissada com o equilíbrio, à preservação do meio ambiente e à relação homem/natureza. Posteriormente a esse panorama, a bioética passará a se preocupar com o emergência dos avanços biotecnológicos. 2.1. Relatório Belmont O Relatório de Belmont foi promulgado em 1978 em reação institucional aos escândalos causados pelos experimentos da medicina desde o início da 2ª. Guerra Mundial. Em particular, três casos foram de notável relevância para sua criação: 1) em 1963, no Hospital Israelita de doenças crônicas de Nova York, foram injetadas células cancerosas vivas em idosos doentes; 2) entre 1950 e 1970, no hospital estatal de Willowbrook (NY), injetaram hepatite viral em crianças retardadas mentais; 3) desde os anos 40, mas descoberto apenas em 1972, no caso de Tuskegee study no Estado de Alabama, foram deixados sem tratamento quatrocentos negros sifilíticos para pesquisar a história natural da doença. Diante dos fatos ocorridos, o Governo e o Congresso norte- americano constituíram a National Comission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research. Que teve como objetivo principal identificar os princípios éticos “básicos” que deveriam conduzir a experimentação em seres humanos, o que ficou conhecido como Belmont Report, o qual apresenta os princípios éticos, considerados básicos, que deveriam nortear a pesquisa biomédica com seres humanos: a) o princípio do respeito às pessoas; b) o princípio da beneficência; c) o princípio da justiça. Obs.: a Declaração de Helsinque é um documento proposto em 1964 contendo um conjunto de princípios éticos, para fornecer orientações aos médicos e outros participantes da área. Obs.: o Código de Nuremberg é um conjunto de princípios éticos que regem a pesquisa com seres humanos, instaurado no pós- segunda guerra e estabelece um paciente falante, isto é, com autonomia de decisão. 2.2. Princípios bioéticos. O princípio da autonomia humana traduz-se na ideia respeito a pessoa humana tendo em vista os seus valores morais, a sua vontade e as suas crenças. E denota a responsabilidade para com seus atos, os quais implicam em decisões. O princípio da beneficência tem como lógica preponderante a promoção de fazer o bem ao paciente. Logo tem como máximas: fazer o bem; não causar dano; cuidar da saúde; favorecer a qualidade de vida e manter o sigilo médico. O princípio da justiça indica a obrigatoriedade de se garantir uma distribuição justa, equitativa e universal dos bens e serviços de saúde. Os princípios bioéticos não seguem uma hierarquia, visto que, eles seguem o caráter da prima facie. Obs.: o juramento de Hipócrates já tinha em seu conteúdo premissas sobre as quais deveriam os profissionais da medicina pautar suas atitudes profissionais. Obs.: cada sociedade possui ou possuiu seu próprio “código” de ética. 3. Modelos bioéticos Os modelos práticos da bioética, consistem em sistemas amplos e coerentes de enunciados explicativos da realidade tal como a biotecnologia a vem moldando, articulados a um conjunto de propostas de intervenção, fundamentadas na natureza da sua realidade e finalidade e na visão de melhorar a vida em sociedade. A discussão em torno das terapêuticas bioéticas não ficam restritas às revoluções terapêuticas envolvendo pesquisas em seres humanos 3.1. Ética descritiva e modelo sociobiológico A expressão “ética descritiva” procura indicar que a orientação moral e a escolha dos valores e princípios acontecem através da descrição, ou seja, da observância e relevância dos fatos; acontece um reducionismo (a redução do homem a um momento da história) e compreende que os princípios e valores se identificam com os costumes de um determinado grupo social em determinado contexto. 3.2. Modelo subjetivista ou liberal-radical Para esse modelo, os valores e as normas são criados pela “escolha” autônoma do sujeito. Dessa forma, o princípio da autonomia passa a assumir um sentido forte. Cada escolha é arbitraria, ditada pelo sujeito e a fundação moral última é a liberdade. Nesse modelo, o fundamento do ato moral não está na razão de reconhecer os valores, pois é a vontade que os determina. Assim tal modelo leva ao relativismo e uma supervalorização do “eu” em detrimento do “outro” ao exaltar a própria liberdade. 3.3. Modelo pragmático utilitarista Propõe uma justificação moral com base na utilidadeindividual, fazendo uso do critério de maximização do prazer e minimização da dor do maior número de pessoas. O cálculo da felicidade acontece a partir da consideração da utilidade social das pessoas, que prevalece em relação a utilidade individual – “ético é aquilo que é útil”. Esse modelo enaltece o lado público em que se avalia a relação custo X benefício. 3.4. Modelo principialista Modelo que estabelece princípios gerais, aos quais as ações devem se adequar. Esses princípios não admitem exceções e podem ser adaptados conforme a necessidade de uma demanda particular. Foi influenciado pelo relatório Belmont e estabelece princípios éticos gerias e capazes de formular e interpretar regras especificas. Obs.: Relatório Belmont • Autonomia • Justiça • Maleficência • Não-maleficência: obrigação de não infligir dano intencional. 3.5. Modelo personalista Este modelo possui em sua base a pessoa humana, constituída na unidade de corpo e espirito – a pessoa é uma unidade, um todo. É considerada ponto de referência e deve ser considerada em sua plenitude total de seu valor. O personalismo considera a pessoa uma “unitotalidade”, em que o prefixo uni está relacionado a unicidade (cada pessoa é única e a unidade de corpo e espirito. A liberdade é importante, mas tem como premissa anterior a vida. Não pode dissipar e dissolver a pessoa humana e os sus valores em escolhas, disso provem o aspecto objetivo e subjetivo da pessoa que se exigem e implicam no personalismo. O valor ético de um ato deverá ser considerado sob o perfil subjetivo da intencionalidade, mas deverá ser considerado também em seu conteúdo objetivo nas consequências. 3.5.1. Princípios do modelo personalista O princípio de defesa da vida física deduz que a vida é inviolável. O princípio da liberdade e responsabilidade se traduz na ideia do homem ser responsável por suas decisões autônomas. O princípio da solidariedade e subsidiariedade se reduz na ideia que cada um é responsável pelo seu próximo. O princípio da totalidade(terapêutico) diz que a violação do corpo humano é permitida desde que com uma justificação plausível. 4. Biodireito O Biodireito é o ramo do Direito que trata da teoria, legislação e jurisprudência relativas às normas reguladoras da conduta humana em face dos avanços da biologia, biotecnologia e da medicina. O Biodireito trata-se, nesta perspectiva, da soma das revoluções biotecnológicas, dos questionamentos jurídicos e dos direitos humanos. Assim a bioética seria o estágio inicial do Biodireito e sua fonte contínua. Além disso, pode ser visto como a tentativa positivação das normas bioéticas, no sentido de atribuir a elas a noção de permissão e obrigações que podem acarretar sanções e no mais, a busca pela adequação, restrição e ampliação dessas normas. Essa área tem como fonte a medicina, a bioética, a biotecnologia e os princípios constitucionais. 4.1. Biodireito e o Direito Constitucional Envolve a relação dos direitos fundamentais da pessoa humana, por exemplo, a sua dignidade. Além de outros direitos do ser humano como: à vida, a liberdade, igualdade e segurança. 4.2. Biodireito e o Direito Civil Traz a relação entre os direitos da personalidade (disposição do próprio corpo), o início desses direitos, a capacidade jurídica do ser humano e as consequência jurídicas da relação médico/paciente. 4.3. Biodireito e o Direito Penal Tipificação de condutas, por exemplo: aborto e eutanásia. 4.4. O Biodireito também se relaciona com outras áreas do Direito tais como o ambiental, o administrativo, o consumidor, bem como com ciências (biologia, filosofia e etc.). 5. Princípios do Biodireito • Autonomia • Beneficência • Justiça • Cooperação entre povos • Preservação da espécie humana • Sacrilidade e dignidade da vida humana • Ubiquidade Bem ambiental é onipresente; patrimônio genético da humidade e proteção a espécie humana. 6. Resolução nº 466/12 I – DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES: A presente Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, referenciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade, dentre outros, e visa a assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado. Projetos de pesquisa envolvendo seres humanos deverão atender a esta Resolução. III - DOS ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender aos fundamentos éticos e científicos pertinente, sendo eles: o respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia e a sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e permanecer ou não na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e esclarecida; a ponderação entre riscos e benefícios, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos. IV – DO PROCESSO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe com consentimento livre e esclarecido dos participantes. 7. Sistema CEP/CONEP O Conselho Nacional de Saúde identificou a necessidade de construir um sistema capaz de acompanhar as pesquisas em seres humanos no País, dessa forma foram aprovadas as “Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos”, consignadas na Resolução CNS 196/96. Essa resolução define a abrangência da norma e orienta sobre aspectos éticos a serem observados nos protocolos de pesquisa, contempla ainda aspectos operacionais quanto à estruturação de um sistema em rede, para acompanhamento da ética na pesquisa. Cria instâncias institucionais – os CEP’s – e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde, estabelecendo as respectivas atribuições e o fluxo de aprovação de projetos. Obs.: Experimentação clínica de medicamentos em humanos Fase I – pesquisas; ensaios pré-clínicos; estudos em animais Fase II – ensaios clínicos; estudos em humanos Fase III – submissão à ANVISA e registro Liberação para comercialização/uso Fase IV – estudos pós-comercialização. • Há um aumento gradativo do número de voluntários nas pesquisas. • Na fase de liberação ao comércio há um controle sanitário do medicamento (ANVISA) e também um controle de mercado
Compartilhar