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ESTÁGIO EM GESTÃO NOS CURSOS DE PEDAGOGIA: INDISSOCIABILIDADE ENTRE TEORIA E PRÁTICA Os trabalhos que compõem o painel problematizam o Estágio Supervisionado em Gestão Educacional, tendo como perspectiva a unidade entre atividade teórica e atividade prática, ou seja, a práxis educativa. Discutem propostas de estágio em gestão desenvolvidas em contextos e experiências de formação de professores em cursos de Pedagogia do Paraná e Santa Catarina, os quais apontam a necessidade de buscar a unidade entre teoria e prática tendo como ponto de partida a prática social, o real como expressão da totalidade em todas as suas múltiplas determinações. Nessa perspectiva, defendem que os cursos de Pedagogia, mais precisamente o estágio em gestão, necessita ter como propósito/metodologia uma formação que capta, analisa, problematiza e confronta o campo de atuação entre a realidade que está posta e a realidade que se quer. Este movimento pressupõe a ruptura com visões mecanicistas, fragmentadas e empiristas que concebem o estágio apenas como um campo de instrumentalização e desenvolvimento de habilidades. Os resultados dos trabalhos destacam que o estágio possibilita a produção de sínteses teórico-práticas, de transformação do processo existente e formação profissional no campo da gestão escolar. Palavras-Chave: Curso De Pedagogia, Estágio Supervisionado Gestão , Práxis XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1767ISSN 2177-336X 2 PEDAGOGIA DE PROJETOS: POSSIBILIDADE ARTICULADORA DA PRÁXIS DOCENTE NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA PELOSO, Franciele Clara – UTFPR – Pato Branco JUNGES, Kelen dos Santos – UNESPAR – União da Vitória Resumo: A formação inicial docente objetiva, sobretudo, proporcionar ao futuro professor apreender os fundamentos e princípios básicos da profissão e fornecer instrumentais científicos e pedagógicos para tomar decisões e assumir a tarefa educativa em sua plenitude. Entende-se que o Estágio Supervisionado é elemento de fundamental importância nesse processo de formação inicial, uma vez que possibilita que teoria e prática se relacionem e culminem na práxis educativa. Assim, o que se apresenta nesse estudo é a compreensão do Estágio como subsídio basilar para a formação inicial e elemento que contribui para a construção da identidade docente, igualmente a compreensão de que a prática pedagógica decorrente da utilização da Pedagogia de Projeto possibilita a articulação entre teoria e prática. Para tanto, nosso objetivo é o de tecer ponderações sobre a o Estágio Supervisionado curricular e a Pedagogia de Projetos como metodologia articuladora entre a teoria e prática, ou seja, da práxis docente, durante o planejamento e execução do estágio. Trata-se de um estudo teórico. Destacamos que no desenvolvimento do Estágio Supervisionado curricular, a Pedagogia de Projetos oportuniza uma relação fiel entre teoria e prática, de forma a culminar na práxis docente, uma vez que fomenta uma prática coerente com a teoria, porque é construída coletivamente, porque envolve pesquisa e compromisso com a realidade que se apresenta. Nesta perspectiva, no desenvolvimento do Estágio Supervisionado curricular, a Pedagogia de Projetos viabiliza a relação teoria e prática; não uma relação que compreende a prática como a “experimentação” das teorias, mas teoria e prática como práxis pedagógica. Palavras-chave: Estágio Supervisionado Curricular, Pedagogia de Projetos, Práxis docente. 1 INTRODUÇÃO A formação inicial docente objetiva, sobretudo, proporcionar ao futuro/a professor/a apreender os fundamentos e princípios básicos da profissão e fornecer instrumentais científicos e pedagógicos para tomar decisões e assumir a tarefa educativa em sua plenitude. Entende-se que o Estágio Supervisionado é elemento de fundamental importância nesse processo de formação inicial, uma vez que possibilita que teoria e prática se relacionem e culminem na práxis educativa. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1768ISSN 2177-336X 3 Nesse sentido, especificamente ao que diz respeito ao curso de Pedagogia, conforme a Resolução CNE/CP nº 1/2006 que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso, a docência é concebida como a base da formação do pedagogo, portanto o Estágio Supervisionado, em suas diferentes modalidades, propicia ao estudante do Curso de Pedagogia o contato direto com a realidade educacional e pressupõe as atividades que os estagiários deverão realizar durante seu curso de formação inicial junto a uma de suas áreas de atuação, de forma a ter a possibilidade de articular e associar com a prática elementos e saberes teóricos explorados no Curso. Dessa maneira, o Estágio Supervisionado pode ser considerado como uma “[...] oportunidade de aprendizagem da profissão docente e da construção da identidade profissional” (PIMENTA; LIMA, 2012, p.99-100). Sendo assim, não se trata da mera aquisição de habilidades técnicas ou do “saber fazer”, mas a prática do Estágio Supervisionado possibilitará ao acadêmico estagiário um espaço de ação-reflexão-ação sobre a realidade escolar concreta e, por consequência, sobre a construção e a afirmação de seu “ser” professor. Assim, o que se apresenta nesse texto é a compreensão do Estágio como subsídio basilar para a formação inicial e elemento que contribui para a construção da identidade docente. Para tanto, nosso objetivo é o de tecer ponderações sobre a o Estágio Supervisionado curricular e a Pedagogia de Projetos como metodologia articuladora entre a teoria e prática, ou seja, da práxis docente, durante o planejamento e execução do estágio. A primeira seção apresenta breves considerações a respeito da formação inicial docente e do Estágio Supervisionado nessa etapa formativa. A segunda seção trata, de forma geral, da Pedagogia de Projetos enquanto metodologia para o planejamento e a execução das atividades de estágio e sua função articuladora entre teoria e prática. Por fim, nas considerações finais retomamos destaques da discussão realizada e afirmamos que o Estágio Supervisionado, a partir da Pedagogia de Projetos, representa uma oportunidade que possibilita a apropriação e experiência do cotidiano escolar, tornando- se um caminho consubstancial para a apropriação do conhecimento pedagógico. 2 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE De forma geral, a formação docente pode ser entendida como a ação de preparar os professores para o exercício da docência e a formação inicial é o primeiro espaço XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1769ISSN 2177-336X 4 formal no qual essa ação acontece, precedendo à atuação profissional. É o contato inicial do formando com elementos inerentes à docência, que se dá, em geral, nos cursos de licenciatura no Ensino Superior, no caso da formação de professores para atuarem na Educação Básica. De acordo com Piconez (1998), a disciplina de Estágio Supervisionado foi sendo definida nos currículos dos cursos de licenciatura até a vigência da LDB 9394/96 como uma disciplina de complementação, ou seja, seu papel era de apenas oportunizar que o/a licenciando/a colocasse em prática o que foi aprendido para, “complementar” a sua formação. Isso perdurou enfaticamente até a homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básicaem 2002 e, em seguida, para o curso de Pedagogia, no ano de 2006 com a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais específicas para o referido curso. A legislação brasileira, especificamente a Resolução CNE/CP nº 2/2015 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada em Nível Superior de Profissionais do Magistério para Educação Básica, salienta que a formação inicial e continuada de professores para atuar na Educação Básica deve ter como princípios norteadores para o preparo do exercício profissional docente: I - a formação docente para todas as etapas e modalidades da educação básica como compromisso público de Estado, buscando assegurar o direito das crianças, jovens e adultos à educação de qualidade, construída em bases científicas e técnicas sólidas em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica; II - a formação dos profissionais do magistério (formadores e estudantes) como compromisso com projeto social, político e ético que contribua para a consolidação de uma nação soberana, democrática, justa, inclusiva e que promova a emancipação dos indivíduos e grupos sociais, atenta ao reconhecimento e à valorização da diversidade e, portanto, contrária a toda forma de discriminação; III - a colaboração constante entre os entes federados na consecução dos objetivos da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, articulada entre o Ministério da Educação (MEC), as instituições formadoras e os sistemas e redes de ensino e suas instituições; IV - a garantia de padrão de qualidade dos cursos de formação de docentes ofertados pelas instituições formadoras; V - a articulação entre a teoria e a prática no processo de formação docente, fundada no domínio dos conhecimentos científicos e didáticos, contemplando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; VI - o reconhecimento das instituições de educação básica como espaços necessários à formação dos profissionais do magistério; XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1770ISSN 2177-336X 5 VII - um projeto formativo nas instituições de educação sob uma sólida base teórica e interdisciplinar que reflita a especificidade da formação docente, assegurando organicidade ao trabalho das diferentes unidades que concorrem para essa formação; VIII - a equidade no acesso à formação inicial e continuada, contribuindo para a redução das desigualdades sociais, regionais e locais; IX - a articulação entre formação inicial e formação continuada, bem como entre os diferentes níveis e modalidades de educação; X - a compreensão da formação continuada como componente essencial da profissionalização inspirado nos diferentes saberes e na experiência docente, integrando-a ao cotidiano da instituição educativa, bem como ao projeto pedagógico da instituição de educação básica; XI - a compreensão dos profissionais do magistério como agentes formativos de cultura e da necessidade de seu acesso permanente às informações, vivência e atualização culturais. A Resolução CNE/CP nº 02/2015, com relação aos estágios e à prática do ensino, determina que o estágio curricular supervisionado é componente obrigatório da organização curricular das licenciaturas. Nesse sentido, é uma atividade específica diretamente articulada com a prática e as demais atividades curriculares acadêmicas. Sob esta ótica, Piconez (1998, p.30), afirma que: A disciplina Estágio Supervisionado pertence ao currículo do curso de formação de professores e deve ser pensada nesse âmbito. O preparo para o exercício do magistério não pode constituir-se tarefa exclusiva desta disciplina. Ela precisa estar articulada com os demais componentes curriculares do curso. Não pode ser isoladamente responsável pela qualificação profissional do professor, deve, portanto, estar articulada ao projeto pedagógico do curso. Esses princípios norteadores pretendem evitar que o professor iniciante ao chegar à escola e assumir uma sala de aula, não se depare com uma diferença entre o que aprendeu no ensino de graduação com o que, de fato, encontrou na realidade escolar, como uma dicotomização da teoria com a prática. Por isso é necessário que as instituições formadoras de professores percorram caminhos que levem à unicidade entre a teoria e a prática, que trabalhem a partir da conexão dos conteúdos científicos e pedagógicos, acrescidos da observação e reflexão do cotidiano escolar. Portanto, o Estágio Supervisionado curricular, enquanto primeiro contato do futuro professor com o seu campo de atuação que é a sala de aula e, também um XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1771ISSN 2177-336X 6 momento de experienciar a docência, tem papel essencial na formação inicial desse profissional de modo a vislumbrar uma práxis educativa. Pimenta e Lima (2012) sinalizam a distinção entre teoria e prática nos cursos de formação inicial e apontam para compreensão desses conceitos como fundamentais para a compreensão e desenvolvimento da práxis. Essas autoras defendem que o Estágio Supervisionado deve se constituir como atividade da práxis, por isso entendido como atividade de caráter teórico, de investigação e de ação. Quando o Estágio Supervisionado é concebido como “atividade teórica” como denomina Pimenta (1997), articulado e validado junto às demais disciplinas dentro do projeto de curso e no fazer docente das pessoas responsáveis pelo curso como sugere Piconez (1998), ele permite que a atividade docente seja entendida como práxis e como profissão que se efetiva em tempos e espaços específicos, por isso é ação planejada e intencional. Torna-se assim, condição fundamental para preparar os/as estudantes estagiários/as para transformar a realidade, pelo seu trabalho, por sua atividade prática, fazendo do seu exercício profissional uma práxis transformadora. Portanto, a atividade docente é sempre práxis como afirmam Pimenta e Lima (2006), uma vez que esta envolve necessariamente: o estabelecimento de uma intencionalidade, que dirige e dá sentido à ação; o conhecimento do objeto que se quer transformar, na direção de sua intencionalidade que já é determinada em função desse conhecimento e a intervenção planejada e científica sobre o objeto com vistas à transformação da realidade social. Com efeito, pode-se afirmar que a atividade docente que se organiza de modo mecânico, casual, espontâneo, sem explicitação das intencionalidades, deixa de ser práxis educativa, logo não se caracteriza como atividade docente. Freire (1996, p.32) afirma que “[...] faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, porque pesquisador. ” Pérez-Gómez (1998, p.101) afirma que, diferentemente das ciências naturais, o objetivo da investigação educativa “[...] não pode reduzir-se à produção de conhecimento para incrementar o corpo teórico do saber pedagógico”, mas, que este conhecimento deverá incorporar-se no pensamento e ação dos envolvidos no processo, uma vez que “[...] a intencionalidade e o sentido de toda investigação educativa é a transformação e aperfeiçoamento da prática. ” XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1772ISSN 2177-336X 7 Segundo Barreiro e Gebran (2006) o Estágio é capaz de proporcionar formação de identidade docentenos/nas estudantes. Nesse sentido, é importante ressaltar que as atividades de Estágio Supervisionado acompanham as orientações dos tempos históricos em que se dão. Sendo assim, pode-se entender o Estágio Supervisionado na formação inicial docente como um campo de aprendizagem e de construção de sentidos. Diante dessa afirmação, é preciso considerar e elucidar que historicamente os modelos tecnicistas e não críticos nos processos de formação de professores/as foram dominantes. Tal fato incidiu diretamente na concepção dos Estágios Supervisionados, os quais apresentavam, de acordo com Mendes (2006), um caráter fragmentado e burocrático, em que o principal objetivo era o do domínio técnico, do conhecimento instrumental sobre o fazer docente, ou seja, reproduzir modelos e aplicar “manuais”. É importante assinalar que essa concepção não permitia que a formação se efetivasse numa dimensão crítica e transformadora dos processos educativos, bem como do próprio fazer docente. Nessa perspectiva, é necessário situar escola no tempo histórico e reconhecer as transformações culturais, políticas, sociais e econômicas que influenciam o fazer docente e o cotidiano escolar e por isso solicitam um processo formativo que contemple as especificidades do contexto atual. O processo formativo a que nos referimos faz menção à atual demanda de um profissional da educação que seja capaz de reflexão, de ação e de pesquisa. A esse respeito, Veiga (2006, p.30) destaca que: É possível afirmar que o ensino não corresponde somente a um tipo de ação específica. Ao contrário, o ato de ensinar recorre constantemente a uma diversa gama de ações heterogêneas. Isso exige do professor um conhecimento consistente da disciplina que vai desenvolver, conhecimento sobre como os alunos aprendem, sobre as abordagens metodológicas de ensino, de investigação e de avaliação. Ensinar efetivamente exige uma série de habilidades fundamentais, que podem ser desenvolvidas no processo de formação. Sob esta ótica, o Estágio Supervisionado se constitui como oportunidade de inserção profissional ligado a um processo de elaboração de saberes docentes, de efetivação da práxis educativa, de compreensão e organização do espaço de atuação. E, para se concretizar como tal, exige uma metodologia que articule estes saberes de forma reflexiva e formativa e que, ao mesmo tempo, atenda as demandas da escola campo de estágio. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1773ISSN 2177-336X 8 3 A PEDAGOGIA DE PROJETOS COMO PROPOSTA ARTICULADORA ENTRE TEORIA E PRÁTICA NO PROCESSO DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURRICULAR O Estágio Supervisionado curricular se configura como um dos momentos que possibilita a aproximação e a inserção junto à realidade de atuação dos/das futuros/as docentes. É possível pela experiência do Estágio, elaborar reflexões sobre a prática pedagógica. Sob essa perspectiva, Pimenta e Lima (2012) afirmam que a aproximação com a realidade só é significativa quando acompanhada de intencionalidade. As mesmas autoras afirmam ainda, que os estágios, muitas vezes, se tornam burocratizados, cheios de fichas de observação e acompanhamento, se tornam míopes. Para evitar que isso aconteça é necessário aprofundamento conceitual dos estágios, das atividades a serem realizadas, bem como uma proposta didático-metodológica que se queira formadora. Com efeito, consideramos que a metodologia proposta pela Pedagogia de Projetos pode se apresentar como instrumento formador no processo de Estágio na medida em que “vincula as atividades escolares à vida real, tentando que se pareçam com ela o máximo possível. ” (ZABALLA, 2002, p.205) A Pedagogia de Projetos ganha projeção, no Brasil, na segunda metade da década de 1990, com a publicação de três autores espanhóis, sejam eles: Hernández (1998), Hernández e Ventura (1998) e Santomé (1998). Esses autores são consonantes em afirmar que o Projeto que se desenvolve na escola é uma atividade didática de ensino-aprendizagem com sentido crítico e problematizador. Para tanto, Figueiredo (2000) e Abrantes (1995) indicam as principais características de um projeto e expõe que: 1) os projetos em geral, são realizados a partir de questões ou demandas específicas; 2) Têm começo e término programados; 3) Implicam em objetivos significativos para os/as estudantes e são sustentados em problemáticas reais; 4) São desenvolvidos de modo a considerar os contextos e as condições existentes e os recursos disponíveis para a sua realização; 5) Pressupõe o envolvimento ativo e o trabalho coletivo dos/das educandos/as, educadores/as e, por vezes, a participação da comunidade escolar; 6) Exigem uma antecipação das fases do seu desenvolvimento, ou seja, exige planejamento dos trabalhos e 7) Requerem a XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1774ISSN 2177-336X 9 apresentação de um produto final que permita aplicar conceitos e desenvolver capacidades. Percebe-se que a Pedagogia de Projetos apresenta uma organização didática e metodológica própria. A organização didática e metodológica prevê que as atividades sejam programadas a partir de problematização e de planejamento, que inclui: os trabalhos de campo, a organização e o tratamento dos dados, a partir de referencial teórico, a apresentação de trabalhos e produto final, numa espiral cíclica, que requer flexibilidade e constante avaliação e retroalimentação. De acordo com Faria e Salles (2007), nessa forma de trabalho as ações são organizadas de maneira conjunta e cooperativa, envolvendo educadores, educadoras e estudantes. No caso do Estágio Supervisionado, tais ações do projeto, com começo, meio e fim, são voltadas para responder questões ou necessidades que tenham sido levantadas pela curiosidade e observação dos estudantes ou pela percepção dos educadores/as em relação a algum problema ou dificuldade da realidade do campo de estágio. Por tratar de um problema real e concreto, os estudantes, futuros professores, se envolvem e se comprometem com o seu processo formativo e passam a investir no projeto em função de sua própria aprendizagem e não apenas para cumprir a exigência legal do Estágio. Com efeito, é sabido que no decorrer das atividades de estágio, é comum que o/a estagiário/a identifique teoria e prática como algo distante e inatingível, o que causa frustração, dúvidas e angústias. No entanto, na Pedagogia de Projetos, ao elaborar seu projeto de intervenção na escola durante o Estágio Supervisionado, o estudante atende as demandas da escola lançando mão do conhecimento produzido (teoria) e, ao mesmo tempo, aproveita-se delas para construir seu saber-fazer (prática), exercitando habilidades próprias da docência, num processo formativo, aproximando teoria e prática, estabelecendo um diálogo significativo entre a universidade e a escola. Nesta perspectiva, no desenvolvimento do Estágio Supervisionado curricular, a Pedagogia de Projetos oportuniza uma relação fiel entre teoria e prática; não uma relação que compreende a prática como a “experimentação” das teorias, mas teoria e prática formatando o que Pimenta (1997) denomina de práxis pedagógica. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES... XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1775ISSN 2177-336X 10 Entendemos que a discussão realizada a respeito do Estágio Supervisionado é ampla, por isso, com esse texto não tivemos a intenção de descrever e explorar exaustivamente as concepções deEstágio Supervisionado e de Pedagogia de Projetos presentes na literatura da área. Mas, sim objetivamos apresentar a compreensão do Estágio como componente estrutural para a formação inicial e elemento que contribui para a construção da identidade docente. Para tanto, tecemos ponderações sobre a o Estágio Supervisionado Curricular e a Pedagogia de Projetos como metodologia articuladora entre a teoria e prática durante o planejamento e execução do estágio. Sob a perspectiva de formação apresentada, acreditamos que a formação inicial é elemento fundamental para o processo de formação da identidade docente de professoras e professores. Uma formação inicial de qualidade, que objetiva e efetiva articular teoria e prática, ou seja, uma formação inicial que prepara os estudantes para o “que fazer” pedagógico na perspectiva da práxis exerce real função formadora. Nesse sentido, o Estágio Supervisionado não pode ser visto apenas como uma obrigação legal, mas representa uma possibilidade de apropriação e de vivência do cotidiano escolar, tornando-se um caminho consubstancial para a construção do conhecimento pedagógico. A prática do Estágio no período de formação inicial estimula aprendizagens acerca do saber fazer docente. Essas aprendizagens colaboram efetivamente para as reflexões acerca do desenvolvimento profissional docente no que se refere à identidade profissional e sua constituição. Portanto, entendemos que a disciplina mantém uma relação muito estreita com a constituição da identidade profissional docente para promover uma formação de professores com alicerces sob as bases da qualidade e compromisso profissional. Relativo à Pedagogia de Projetos, acreditamos que essa metodologia pode ser aplicada nas diferentes modalidades de estágio, sejam elas: na educação infantil, nos anos iniciais do ensino fundamental e na gestão educacional. Compreendemos que o potencial didático metodológico dessa proposta fomenta uma prática coerente com a teoria, porque é construída coletivamente, porque envolve pesquisa e compromisso com a realidade que se apresenta. Destacamos que na última década há um movimento crescente direcionado a repensar a formação de professores da educação básica. Sendo assim, sublinhamos que encaramos esse texto como uma parcela de contribuição para a sistematização e discussão acerca do Estágio Supervisionado que, por sua dinâmica, representa um XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1776ISSN 2177-336X 11 processo contínuo e inacabado, que merece constante atenção no sentido de aprimorar a práxis docente. REFERÊNCIAS ABRANTES, Paulo. O trabalho de projecto e a relação dos alunos com a matemática. Associação de Professores de Matemática, 1995. BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Resolução CNE/CP nº 1 de 15 de maio de 2006. Brasília, DF, 15 maio 2006. Disponível em: <http://meclegis.mec.gov.br/tipo- norma/index/norma/21/page/1>. Acesso em 31 de jan. 2014. BRASIL. Ministério da Educação. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial, em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Resolução CNE/CP nº 2 de 01 de julho de 2015. Brasília, DF, 01 jul. 2015. Disponível em: www.ilape.edu.br/.../778-resolucao-cne-cp-2-2015. Acesso em 4 de fev. 2015. BRASIL. Presidência da República. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96 de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 3 fev. 2014. FARIA, Vitória; SALLES, Fátima. Currículo na educação infantil: diálogo com os demais elementos da proposta pedagógica. São Paulo: Scipione, 2007. Figueiredo, Carla. Cibele. Área-Escola: sete vozes, sete percursos em escolas básicas e secundárias. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 2000 FREIRE, Paulo. 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Tivemos como propósito apresentar a estruturação do referido estágio identificando a presença dos princípios da interdisciplinaridade, da contextualização e da pertinência e relevância social conforme proposição das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Pedagogia – licenciatura (DCNCP, 2006). Para tanto, realizamos um estudo documental tendo como principais fontes o Projeto Pedagógico do Cursode Licenciatura em Pedagogia, o Regulamento de Estágio do Curso de Licenciatura em Pedagogia, o Plano de Ensino da disciplina de Estágio Supervisionado – Gestão e quinze relatórios de Estágio Supervisionado – Gestão dos anos de 2014 e 2015, além de outros documentos e legislações. As análises realizadas e as reflexões delas decorrentes nos permitem inferir que há um empenho significativo na busca da articulação entre teoria e prática no desenvolvimento do Estágio Supervisionado – Gestão no curso analisado. Percebemos que há uma preocupação em contemplar não só os princípios constantes nas DCNCP, mas também tomar a gestão democrática como alicerce para a condução dos trabalhos nesta disciplina articuladora da formação do Licenciado em Pedagogia. Importa destacar ainda que o Estágio Supervisionado – Gestão possui interfaces com outras disciplinas do curso, entre as quais destacam-se: Política Educacional, Gestão Educacional, Gestão Escolar e Pesquisa e Processos Educativos (esta última considerada fio condutor da formação dos licenciados em Pedagogia e ofertada nos oito semestres do curso), além de outras disciplinas como Didática I e II e os Fundamentos Metodológicos que subsidiam as reflexões acerca das temáticas de intervenção demandadas pelas instituições concedentes do referido estágio. Palavras-chave: Estágio Supervisionado – Gestão. Formação do Pedagogo. Práxis. Introdução: Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia foram criados por meio da Lei 11.892/2008 de 29 de dezembro de 2008 e constituem-se em um novo modelo de instituição de educação profissional e tecnológica que atua em diferentes níveis e modalidades de oferta de educação visando dar suporte aos arranjos produtivos locais. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1779ISSN 2177-336X 14 O Instituto Federal Catarinense (IFC), cuja reitoria está instalada no município de Blumenau, tem sua origem na integração das escolas agrotécnicas de Concórdia, Rio do Sul e Sombrio, além dos colégios agrícolas de Araquari e Camboriú, que eram vinculados à Universidade Federal de Santa Catarina. Sua expansão iniciou quase que imediatamente a sua criação e, em pouco mais sete anos, dez novos campi foram criados: Abelardo Luz, Blumenau, Brusque, Fraiburgo, Ibirama, Luzerna, Santa Rosa do Sul, São Bento do Sul, São Francisco do Sul e Videira (PDI, 2014). Os cursos oferecidos pelo IFC, em seus diferentes níveis e modalidades alinham- se ao proposto no art. 7º da Lei 11.892/2008, sendo: educação profissional técnica de nível médio tanto para os concluintes do ensino fundamental quanto para o público da educação de jovens e adultos; cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores; ensino superior (licenciatura, programas especiais de formação pedagógica, tecnólogos, bacharelado e engenharias), cursos de pós-graduação lato e stricto sensu. De acordo com o art. 8º da referida lei, no mínimo de 50% (cinquenta por cento) de suas vagas devem ser destinadas a formação de nível médio na modalidade integrada e 20% (vinte por cento) para cursos de licenciatura e programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática e para a educação profissional. Objetivando atender ao disposto na legislação e considerando a carência de formação de professores em instituições públicas de ensino no estado de Santa Catarina, o IFC, a partir de consultas públicas à comunidade, oferta os seguintes cursos de licenciatura: Matemática (Camboriú, Concórdia, Rio do Sul, Sombrio); Física (Concórdia e Rio do Sul); Química e Ciências Agrícolas (Araquari) e Pedagogia (Blumenau, Camboriú, Rio do Sul e Videira). Os cursos de pós-graduação lato sensu, voltados para a formação de professores, são ofertados cursos nos Campus de Abelardo Luz, Concórdia, Fraiburgo e Videira. Apesar do esforço realizado, importa dizer que, conforme os dados constantes no Censo Interno datado de 30 de novembro de 2015, o IFC oferece 2.355 vagas iv para a formação de professores nos cursos citados, correspondendo a 8,7% da oferta das vagas da instituição. Isso significa que, embora considerando a expansão realizada, ainda há a necessidade de se ampliar consideravelmente a oferta de formação de professores no IFC para atender a legislação vigente. Outro aspecto importante a ser mencionado refere-se ao fato de que, apesar da inferência feita na legislação em se priorizar a formação nas áreas de ciências e XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1780ISSN 2177-336X 15 matemática nos institutos federais, o IFC, a partir das audiências públicas entendeu que a carência de ofertas de vagas públicas para a formação abrange também a Licenciatura em Pedagogia e que tal demanda deve ser atendida pela instituição. Daí a importância de se construir e implementar um projeto pedagógico que possa não só atender as demandas de formação, mas que o perfil de egresso resulte de um percurso formativo diferenciado (procurando romper com a tradição da racionalidade técnica e instrumental), fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Pedagogia, e, portanto, nos princípios da interdisciplinaridade, contextualização, pertinência e relevância social, tendo como horizonte uma educação de qualidade sociocultural referenciada e a formação de sujeitos emancipados. O curso de Licenciatura em Pedagogia do IFC-Campus Camboriú O Curso de Licenciatura em Pedagogia do IFC-Campus Camboriú possui Carga- horária total de 3210 distribuídas em 2805 horas de Atividades Formativas, 300 horas de Estágio Supervisionado e 105 horas de Atividades de Aprofundamento (Atividades Curriculares Complementares). Sua duração mínima é de 08 semestres (4 anos), com entrada anual de 40 vagas. (IFC, 2010, p.16). A atual forma de ingresso é o ENEM/SiSU e as vagas não ocupadas são preenchidas por meio de edital próprio/chamada pública. De acordo com o Projeto Pedagógico do curso de Licenciatura em Pedagogia do IFC-Campus Camboriú (IFC, 2010, p. 23), o egresso desse curso deverá ser um profissional com perfil de pesquisador-crítico-reflexivo habilitado a atuar no ensino, na pesquisa, na organização e gestão de projetos educacionais e na produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da educação, tendo a docência como base de sua formação e identidade profissional. A análise do projeto pedagógico nos permite aferir que os princípios da interdisciplinaridade, contextualização, pertinência e relevância social presentes nas Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação em Pedagogia aparecem como elementos importantes para pensar a estruturação do curso de Licenciatura em Pedagogia, e, portanto, a formação desses licenciandos. Tal afirmação é subsidiada tanto pelas inferências existentes no Projeto Pedagógico do Curso, quanto no Plano de XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1781ISSN 2177-336X 16 Ensino da Disciplina de Estágio Supervisionado em Gestão e, demais documentos analisados neste trabalho. Em relação ao princípio da contextualização, compreendemos que a inferência existente no projeto pedagógico acerca da indissociabilidade entre a Teoria e a Prática fundamentada nas concepções de Vázquez e Kuenzer, indica que o curso possui a preocupação de tornar os conhecimentos historicamente acumulados significativos para os acadêmicos. Assume-se, por exemplo, que a perspectiva de transformaçãotanto da natureza quanto da sociedade ocorre a partir das relações que são estabelecidas dialeticamente entre ambos e que a articulação entre os conhecimentos teóricos e a prática social exige um exercício complexo, um fazer reflexivo. (idem, p.27). Quanto a interdisciplinaridade o Projeto Pedagógico do Curso infere que esta deve compreendida horizontal e verticalmente entre os conhecimentos de cada ciência e localizados dentro de uma concepção epistemológica, histórica e crítica da realidade em estamos inseridos, e, portanto, os modos de produção, garantindo assim uma perspectiva de totalidade. Desse modo, a perspectiva de interdisciplinaridade no processo de formação dos licenciandos em pedagogia, ser dará, tanto pelas relações dialógicas entre as disciplinas e entre os semestres, o que exige a articulação do corpo docente por meio do planejamento coletivo e sistemático, quanto pelo princípio interdisciplinar que algumas disciplinas possuem no curso. (idem, p. 27:28) Entre essas disciplinas estão Pesquisa e Processos Educativos que transversaliza o curso em seus oito semestres, os fundamentos metodológicos e os quatro estágios supervisionados que cada acadêmico deverá realizar, além das disciplinas que possuem uma relação mais direta com cada um dos estágios realizados no curso. O estágio supervisionado como instância de articulação da práxis A concepção de Estágio Supervisionado adotada no curso em análise é de que o mesmo se constitui em uma „instância privilegiada que permite a articulação entre os estudos teórico-práticos – práxis, e tem como propósito a inserção do futuro egresso do curso de Pedagogia no mundo do trabalho‟. (idem, p. 41). Neste sentido, a prática de estágio supervisionado possui como propósitos: Complementar e ampliar o processo ensino-aprendizagem a partir da inserção na e com a realidade das escolas e demais instituições campos de estágio; b) Inserir o futuro educador à realidade educacional brasileira; c) Avaliar a prática pedagógica como educador XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1782ISSN 2177-336X 17 em construção e; d) Possibilitar a compreensão da relação teoria e prática. (idem, p. 41) Consideradas tais finalidades e de acordo com o Art. 2º do Regulamento de Estágio do curso de Licenciatura em Pedagogia do IFC-Campus Camboriú, Art. 2º - O Curso de Pedagogia do Instituto Federal Catarinense - IFC, Campus Camboriú, considera o estágio como processo interdisciplinar e avaliativo, articulador da indissociabilidade da teoria e prática, conteúdo e forma, ensino, pesquisa e extensão, objetivando proporcionar aos acadêmicos espaços que possibilitem a formação de profissionais em educação teoricamente fundamentados, historicamente situados e politicamente comprometidos, a partir da organização de momentos de integração dos conteúdos ministrados com a realidade dos campos de estágios, com base nos preceitos regidos pela lei n. 11.788 de 25 de setembro de 2008, que dispõe sobre o estágio de acadêmicos, bem como da Resolução CNE/CP nº 1, 15 de maio de 2006, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura. (IFC, s/d, p. 2) Quanto a sua operacionalização, as 300 horas do estágio supervisionado estão distribuídas em quatro etapas distintas, todas com 75 horas de duração, sendo: Estágio Supervisionado – Educação Infantil, Estágio Supervisionados – Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Estágio Supervisionado – Modalidades da Educação Básica e Estágio Supervisionado – Gestão. O Estágio Supervisionado – Gestão, realizado no oitavo período do curso, procura estabelecer articulações com várias disciplinas do curso visando possibilitar aos acadêmicos uma visão de totalidade a partir dos princípios da interdisciplinaridade, da contextualização e da pertinência e relevância social. De uma forma bastante resumida podemos dizer que essas articulações se iniciam ainda no primeiro semestre com a disciplina de Pedagogia e Profissão Docente ao discutir as possibilidades de atuação do pedagogo, bem como a constituição do campo profissional por meio das narrativas e histórias de vidas de professores, que em articulação com a disciplina de Pesquisa e Processos Educativos realiza uma pesquisa com professores em início, meio e fim de carreira buscando compreender a constituição da sua identidade profissional a partir da cultura, da formação inicial e continuada e da inserção no mundo do trabalho. No segundo e terceiro períodos, na disciplina de Pesquisa e Processos Educativos, os acadêmicos realizam uma inserção nas quatro áreas de realização dos estágios supervisionados. O objetivo desta atividade é oferecer elementos para a aproximação dos acadêmicos com o cotidiano das escolas conhecendo as diferentes XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1783ISSN 2177-336X 18 possibilidades de atuação profissional em espaços escolares como também auxiliá-los na definição da temática de investigação do Trabalho de Conclusão de Curso. Além disso, entre o quarto e o sétimo período os acadêmicos cursam disciplinas de Fundamentos Metodológicos (da Língua Portuguesa, da Matemática, das Ciências Naturais, das Ciências Sociais e da Arte) e Didática I e II que, dependendo da temática de intervenção demandada pela instituição concedente do Estágio Supervisionado – Gestão, são fundamentais para subsidiá-los teoricamente nas reflexões que realizarão. As disciplinas de Política Educacional, cursada no sexto período do curso, Gestão Educacional no sétimo período e Gestão Escolar no oitavo período possuem uma relação ainda mais direta com esse estágio. Diz-se isso a partir da verificação de que suas ementas e referenciais teóricos permitem aos acadêmicos que se apropriem de elementos importantes para a reflexão acerca da elaboração e implementação das políticas educacionais e a gestão da educação a partir das influências dos organismos multilaterais e das forças sociais que estão permanentemente em disputa e cujos projetos societários e a concepção de sujeito diferem significativamente, inclusive no que se refere ao exercício pleno da sua cidadania. A disciplina de Gestão Escolar, por sua vez, que ocorre simultaneamente à realização do Estágio Supervisionado – Gestão, se mostra imprescindível para subsidiar os acadêmicos na reflexão sobre a gestão em uma perspectiva democrática conhecendo e compreendendo a importância dos órgãos colegiados de gestão (Associação de Pais e Professores, Conselhos Deliberativos Escolares e Grêmios Estudantis) e os documentos orientadores da gestão das instituições concedentes do estágio. De acordo com os Planos de Ensino da disciplina de Estágio Supervisionado – Gestão dos anos de 2014 e 2015, seu objetivo geral é oportunizar aos acadêmicos do curso de Licenciatura em Pedagogia o conhecimento e a compreensão do campo da atuação profissional do pedagogo na gestão v . Em termos específicos a disciplina objetiva compreender o campo de estágio como espaço de vivência, de coleta de dados e de reflexão crítica acerca da gestão e ainda oportunizar aos futuros pedagogos a possibilidade de planejarem e proporem estratégias de ação na gestão das instituições concedentes do estágio a partir das demandas sinalizadas pelas escolas no período de observação. Além disso, por meio da socialização das experiências vivenciadas nesse período de inserção no contexto da prática da Gestão, a disciplina se propõe a refletir sobre os desafios e as potencialidades desse campo de atuaçãodos pedagogos. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1784ISSN 2177-336X 19 A partir da análise do plano de ensino e das orientações acerca do Estágio Supervisionado – Gestão identificamos que a dinâmica de organização das suas atividades contempla: orientações gerais acerca do estágio; um período de observação de 25 horas; a elaboração do projeto de intervenção, a coleta de dados e revisão de literatura acerca da temática demandada pela escola; a socialização dos resultados na instituição concedente do estágio; um Seminário de Socialização dos Estágios no IFC- Campus Camboriú e a elaboração do relatório final. O período de observação nas escolas destina-se ao acompanhamento das rotinas da gestão escolar (junto aos gestores e coordenadores pedagógicos) e coleta de dados da escola (projeto pedagógico, planos de gestão, dados estatísticos e demais informações para caracterização da escola). É nesse momento também que os acadêmicos identificam junto da Equipe Gestora e Coordenação Pedagógica qual a temática do projeto de intervenção, de acordo com as demandas da escola. Para a elaboração do projeto de intervenção, percebemos a preocupação de além da revisão de literatura acerca da temática, serem elaborados e aplicados instrumentos de coleta de dados junto aos sujeitos envolvidos em cada temática. Poderão ser convidados a contribuir com esta coleta tanto os gestores e órgãos colegiados de gestão (grêmio estudantil e na sua inexistência com alguns estudantes, Conselho Escolar e Associação de Pais e Professores e na sua inexistência com professores e pais), como os pais, os professores e os próprios estudantes. As formas de participação variam de acordo com a temática de intervenção elegida pela instituição concedente do estágio e da disponibilidade em contribuir com os acadêmicos na sua busca por uma atuação que contemple a perspectiva da gestão democrática e que atenda aos princípios da contextualização, pertinência e relevância social, tendo como horizonte uma educação de qualidade sociocultural referenciada e a formação de sujeitos emancipados, conforme já mencionado. Passado o período da coleta de dados, os mesmos são analisados a partir do referencial teórico utilizado na fundamentação teórica do projeto de intervenção e socializados com a instituição concedente do estágio (tal socialização ocorre de maneira distinta, conforme a disponibilidade da escola ou exigência da temática). A título de ilustração, sistematizamos no quadro abaixo as temáticas e as atividades desenvolvidas/formas de intervenção realizadas pelos acadêmicos nos anos de 2014 e 2015. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1785ISSN 2177-336X 20 Tabela ilustrativa das atividades desenvolvidas no Estágio Supervisionado – Gestão do IFC- Campus Camboriú Temáticas Atividades desenvolvidas/formas de intervenção Ano 1. Razões que interferem na participação dos pais dos alunos do Ensino Médio na escola Obs.: temática trabalhada em dois projetos de intervenção. Revisão de literatura Elaboração de um instrumento de coleta de dados (questionário) a ser aplicado junto aos pais. Tabulação e análise dos dados coletados Devolutiva para a equipe gestora da escola 2014 2. Violência e indisciplina no contexto escolar Revisão de literatura Elaboração e aplicação de questionário junto dos professores, membros do Grêmio Estudantil e Conselho Deliberativo Escolar. Tabulação e análise dos dados. Devolutiva para a equipe gestora da escola. 2014 3. Utilização de novas metodologias para dinamizar o processo de ensino e aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental Revisão de literatura Levantamento de estratégias e metodologias que pudessem contribuir despertar o interesse dos estudantes nas aulas Confecção de jogos e materiais didáticos Oficina de socialização com a coordenação pedagógica da instituição concedente do estágio. 2014 4. Utilização de novas metodologias para dinamizar o processo de ensino e aprendizagem nos anos finais do ensino fundamental Revisão de literatura Elaboração de questionário e aplicação de questionário aplicado aos estudantes visando levantar quais as metodologias e estratégias de ensino facilitam sua aprendizagem. Tabulação e análise dos dados coletados. Levantamento de estratégias e metodologias que pudessem contribuir despertar o interesse dos estudantes nas aulas. Oficina de socialização com a coordenação pedagógica da instituição concedente do estágio. 2014 5. Traçar o perfil dos discentes do Centro de Educação de Jovens e Adultos da Rede Estadual de Balneário Camboriú Revisão de literatura sobre os sujeitos da EJA Elaboração e aplicação de 229 questionários aos estudantes Tabulação e análise dos dados Oficina de socialização dos resultados com a equipe gestora. 2014 6. Desafios e dilemas do Movimento Estudantil na periferia urbana de Camboriú Revisão de literatura acerca das dificuldades estruturais do espaço escolar e seus impactos sobre a vivência da sociabilidade juvenil e a possibilidade da ampliação da permanência dos jovens na escola. Aplicação de questionário e realização de grupo focal com os representantes de turma e membros do Grêmio Estudantil da escola Análise dos dados coletados Oficina de socialização dos resultados junto da equipe gestora da escola 2014 7. Violência e indisciplina na escola: ética e moral como elementos da reflexão Revisão de literatura Elaboração e aplicação de questionários para os segmentos da Escola: alunos, professores, gestores e Conselho Deliberativo Escolar. Realização de grupo focal com os representantes de turma. Análise dos dados coletados Oficina de socialização dos resultados junto da equipe gestora da escola. 2014 8. Os sujeitos do ensino médio e as metodologias de ensino e Revisão de literatura acerca da temática Elaboração e aplicação dos questionários com 90 estudantes do Ensino Médio da instituição concedente do estágio. 2015 XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1786ISSN 2177-336X 21 aprendizagem Tabulação e análise dos dados coletados; Oficina de socialização do estágio com a equipe gestora e pedagógica da escola. 9. O fracasso escolar sob o olhar dos estudantes Revisão de literatura acerca da temática Elaboração e aplicação de questionário com estudantes Realização de Grupo Focal com o Grêmio Estudantil e representantes de turma Análise e discussão dos resultados Socialização dos resultados com a equipe gestora da escola 2015 10. A importância da utilização do material concreto no processo de ensino e aprendizagem dos estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental Revisão de literatura acerca da temática. Análise dos Planos de Ensino dos professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da instituição concedente do estágio. Análise dos materiais didáticos e pedagógicos disponíveis na instituição. Confecção de jogos e materiais didáticos adequados a cada série considerando os conteúdos e objetivos dos planos de ensino dos professores dos anos iniciais da instituição concedente do estágio. Realização de oficina com os professores dos anos iniciais. 2015 11. Recreio orientado: diversão, interação e socialização Revisão de literatura acerca da temáticaElaboração e aplicação de questionário junto aos estudantes visando coletar sugestões de jogos e brincadeiras de seu interesse. Confecção de jogos e materiais para serem disponibilizados aos estudantes durante o recreio. Oficina de socialização junto a coordenação pedagógica da instituição concedente do estágio. 2015 12. Educação inclusiva e gestão: documentos oficiais, acesso, permanência e êxito dos estudantes com deficiência na rede regular de ensino. Revisão de literatura acerca da temática Levantamento de dados na escola identificando os tipos de deficiência existentes entre os estudantes incluídos na rede regular de ensino. Oficina de socialização com gestores e coordenadores pedagógicos indicando estratégias e metodologias que contribuem para melhorar o êxito na aprendizagem e socialização dos estudantes com deficiência. 2015 13. Escolarização, trabalho e sociabilidade juvenil Revisão de literatura acerca da temática de intervenção. Elaboração e aplicação de questionários junto aos estudantes do Ensino Médio dos segundo e terceiros anos, nos períodos matutino, vespertino e noturno visando identificar as razões do abandono e do retorno à escola. Tabulação e análise dos resultados. Socialização dos resultados junto a equipe gestora da escola. 2015 14. Protagonismo juvenil e Grêmio Estudantil Revisão de literatura acerca da temática. Elaboração e aplicação dos questionários para gestores, assistentes técnicos pedagógicos, especialistas em assuntos educacionais e professores instituição concedente do estágio. Realização de grupo focal com os representantes de turma visando compreender a concepção de protagonismo juvenil na escola e a relevância atribuída a participação dos estudantes na gestão da escola. Análise dos dados coletados. Socialização dos resultados junto aos professores, equipe gestora e pedagógica da instituição concedente do estágio. 2015 Fonte: Relatórios do Estágio Supervisionado – Gestão do curso de Licenciatura em Pedagogia do IFC- Campus Camboriú dos anos de 2014 e 2015. Considerações Finais: XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1787ISSN 2177-336X 22 A investigação realizada para a escrita deste trabalho coopera para o entendimento de que os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, assim como as universidades, possuem grandes desafios para garantir a formação de professores, e no caso analisado, a formação de pedagogos que estejam comprometidos com uma perspectiva de docência e de gestão que tenha como horizonte uma sociedade mais justa. Em que pese especificamente à reflexão acerca da estruturação do Estágio Supervisionado em Gestão no curso de Licenciatura em Pedagogia, identificamos nas temáticas demandadas pelas instituições concedentes do Estágio em questão especialmente nas atividades desenvolvidas que há um empenho no sentido de garantir que a atuação dos acadêmicos se respalde na perspectiva da práxis. Apontamos isso considerando que a temática de cada instituição concedente de estágio exigiu ações e grupos sujeitos distintos para que a intervenção pudesse contribuir de alguma forma com a demanda apresentada pela instituição. Dito isso, compreendemos que foram as temáticas elegidas pelas instituições concedentes do estágio que demandaram dos acadêmicos uma postura interdisciplinar para a compreensão do problema a que estão subsumidos na prática do Estágio Supervisionado – Gestão. Além disso, entendemos que as atividades realizadas sinalizam que a forma como o referido estágio está estruturado converge tanto para o atendimento dos princípios da interdisciplinaridade, da contextualização, da pertinência e da relevância social, conforme estabelecem as Diretrizes Curriculares para os cursos de Licenciatura em Pedagogia, quanto para o perfil de egresso que o curso analisado se propõe formar. Referências: BRASIL. Lei 11.892 de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm Acesso em 06 de março de 2016. COSTA, C. T., FONSECA, R. R. S. C. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2015. 43 p. Não publicado. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1788ISSN 2177-336X 23 CUNHA, J., GONÇALVES, J. B. L. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2015. 59 p. Não publicado. ESPÍNDOLA, A. S., ANZZANELLO, R. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2014. 42 p. Não publicado. IFC. Plano de Desenvolvimento Institucional do Instituto Federal Catarinense: 2014-2018. 2014. Acesso em 26/02/2016. Disponível em http://ifc.edu.br/wp- content/uploads/2015/02/PDI-2014_2018.pdf IFC. Plano de Ensino da disciplina de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: 2014. Não Publicado. IFC. Plano de Ensino da disciplina de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: 2015. Não publicado. IFC. Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Pedagogia. Camboriú: 2010. IFC. Regulamento de Estagio Supervisionado do Curso de Licenciatura em Pedagogia. Camboriú: s/d. 18p. Não publicado. IFC. Relatório de Pesquisa Institucional: Censo Interno. Data de referência 30/11/2015. Acesso em 26/02/2016. Disponível em http://ifc.edu.br/2014/08/11/censo- interno/ JACOMELLI, A. Z. C., VIEIRA, C. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2015. 36 p. Não publicado. LIBANIO, C. C. C., FARIAS, D. A. M. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2014. 31 p. Não publicado. MILLER, F. U., ALBINO, J. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2014. 36 p. Não publicado. PEREIRA, A., CATARINA, E., TABORDA, M. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2014. 46 p. Não publicado. REIS, M. C. C., CORDEIRO, S. P. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2015. 56 p. Não publicado. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1789ISSN 2177-336X 24 RITTER, D. V., VANZUITA, F., GOMES, M. M. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2014. 57 p. Não publicado. ROCHA, E. R., OLIVEIRA, J. F., REIS, L. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2015. 50 p. Não publicado. SANTOS, A. M. C.; ALVES, E. S. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2014. 41 p. Não publicado. SANTOS, E. A., NICHELE, T. C., SANTOS, V. A. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2015. 49 p. Não publicado. SCHULTZ, C. M., QUADROS, S. F. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2014. 42 p. Não publicado. SERPA, D. M., VIANNA,F. R. D. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2015. 58 p. Não publicado. SILVA, G. D., NEMETH, V. C. C. S. Relatório de Estágio Supervisionado – Gestão. Camboriú: Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, 2014. 35 p. Não publicado. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1790ISSN 2177-336X 25 O ESTÁGIO E A FORMAÇÃO EM GESTÃO EDUCACIONAL NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDAD ESTADUAL DE PONTA GROSSA (PR) Beatriz, Gomes Nadal vi ZAIAS, Elismara vii MARCOCCIA, Patrícia Correia de Paula Marcoccia viii Resumo: O presente trabalho tematiza o estágio na formação em gestão no Curso de Pedagogia. Considera que a formação para atuação no campo da gestão educacional foi historicamente assumida pelo Curso, o que pressupõe uma formação profissional capaz de responder aos conhecimentos específicos deste campo, assim como de desenvolver tal identidade ao longo da formação. Reconhece o estágio como dimensão essencial nesse processo pelas possibilidades de produção de sínteses teórico-práticas que sua dinâmica viabiliza. O objetivo do artigo é discutir o papel do estágio na formação das equipes de gestão no âmbito do Curso de Pedagogia na Universidade Estadual de Ponta Grossa, problematizando o modo pelo qual situações didáticas podem mediar as relações teórico-práticas, o estabelecimento de sínteses, o desenvolvimento de aprendizagens e formação profissional no campo da gestão escolar. Palavras-chave: Formação de Professores. Curso de Pedagogia. Gestão educacional e escolar. Estágio. Práxis. Introdução Um debate permanente marca a trajetória histórica do Curso de Pedagogia no Brasil, envolvido num conflito de identidade em torno da formação do pesquisador da educação, do docente dos anos iniciais, da docência para a educação em diferentes níveis e modalidades e, também, da formação de profissionais para atuação na gestão educacional. Há consenso de que o foco fundamental do Curso de Pedagogia, sua base, é a docência. É possível afirmar, também, que, seja pela formação pedagógica que propicia, seja pela tradição, o curso assumiu formalmente, frente às demais licenciaturas, a responsabilidade pela formação de diretores e coordenadores pedagógicos, formação esta que também possui uma especificidade. Na perspectiva de uma formação profissional pautada na superação de problemas históricos – a separação teoria e prática, o distanciamento entre universidade e escola, a desarticulação entre disciplinas de conhecimento específico e pedagógico, a XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1791ISSN 2177-336X 26 fraca consolidação de identidades profissionais – , reconhece-se o estágio como momento formativo por excelência, uma atividade de conhecimento e compreensão das finalidades que compõem o processo de formação docente, “instrumentalizadora da práxis educacional (...) de transformação da realidade existente” (PIMENTA, 1995, p. 122). O objetivo do presente trabalho, então, é discutir o papel do estágio na formação das equipes de gestão no âmbito do Curso de Pedagogia na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), problematizando o modo pelo qual situações didáticas podem mediar as relações teórico-práticas, o estabelecimento de sínteses, o desenvolvimento de aprendizagens e formação profissional no campo da gestão escolar. A formação em gestão educacional no Curso de Pedagogia da UEPG O Curso de Pedagogia objeto de discussão no presente trabalho iniciou suas atividades em 1962, voltado à formação de professores para atuação nos cursos de magistério de segundo grau. Sua organização curricular envolvia, basicamente, disciplinas dos fundamentos da educação (Filosofia, Sociologia, Psicologia, História), Matemática e Estatística, Biologia e Estrutura e Funcionamento do Ensino, dentre outras. (PAPI, 2005). O debate que decorria no país em torno de sua identidade fez com que dez anos depois, em decorrência da lei 5540/68, a instituição o reestruturasse acrescentando, além da formação para o magistério de 2 o grau, as habilitações em supervisão escolar, administração escolar e orientação educacional, conforme opção do acadêmico. Este currículo ficou vigente até 1989 e contribuiu para uma forte identificação, na Instituição, entre o Curso de Pedagogia e a formação dos então chamados “especialistas da educação”. O debate crítico que passou a ser estabelecido no país a partir da abertura política dos anos 80 envolveu também o Curso de Pedagogia. Além de sua problemática identidade, refletida em organizações curriculares fragmentadas pela formação em habilitações, críticas contundentes apontavam a atuação racionalista, cientificista e conservadora dos “especialistas” os quais atuavam na administração das escolas operando uma divisão do trabalho que tolhia a autonomia política e pedagógica dos professores e contribuía para o alinhamento dos fins educativos aos interesses do capital (PARO, 2010). XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1792ISSN 2177-336X 27 A forte crítica à atuação de diretores, supervisores e orientadores educacionais, a defesa da docência como base da formação do pedagogo, as críticas estabelecidas ao Curso de Pedagogia pela problemática relação teórico-prática, com as escolas e a realidade educativa as novas normas de organização de curso adotas pela IES desde 1989, contribuíram para que, em 1990, o Curso se reformulasse para formar, central e unicamente, o docente. (SANTOS, 1999). Além de um corpo comum de disciplinas, o acadêmico faria a opção por uma habilitação docente no campo da docência: Magistério das Matérias Pedagógicas do 2 o grau, Magistério das Séries Iniciais de 1 o . Grau, Magistério das Classes de Alfabetização e Magistério para a Pré-Escola, ficando extintas as habilitações do campo da gestão escolar (diretor, supervisor, orientador). Um elemento a ser destacado na reformulação foi a introdução, no currículo do Curso, da Disciplina “Práxis Educativa”. No esforço de superar as críticas de separação entre as disciplinas (fundamentos da educação, metodologia de ensino e estágio), de dissociação entre a universidade e a realidade educativa e de fragilidade teórica dos estudantes diante das problemáticas que emergiam do trabalho educativo, introduziu-se nas duas primeiras séries do Curso a Disciplina de Práxis que objetivou articular, por meio de uma reflexão crítica e do confronto persistente entre teoria e prática, o conjuntos de elementos e realidades formativas: disciplinas da série, disciplinas do Curso, universidade e escola, realidade educativa e formação inicial (SANTOS, 1999). No que tange à formação em gestão, dois anos depois de sua extinção e por pressão de acadêmicos e redes de ensino, as habilitações são reinseridas no currículo junto das demais existentes. As críticas persistentes ao Curso (apontadas por processos avaliativos e associadas à carga-horária insuficiente diante da quantidade de demandas formativas) motivaram novas alterações curriculares em 1996: buscando reafirmar a identidade em torno da formação do professor, o Curso de Pedagogia assumiu-se como formador de professores para o magistério das séries iniciais do 1 o grau e as matérias pedagógicas do 2 o grau. Todas as demais habilitações existentes, inclusive as relativas à formação dasequipes gestão educacional, foram cursadas após a graduação como complementação ou pós-graduação. A oferta, pela própria Instituição, do Curso Normal Superior para também formar professores das séries iniciais, fez com que a formação no curso de pedagogia passasse a ser questionada pelos alunos, dada a duplicidade (por eles entendida como XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1793ISSN 2177-336X 28 similaridade) de instâncias formativas. Em 2000, diante da pressão, procedeu-se nova alteração e a formação dos “especialistas” da educação voltou para corpo curricular, agora integrada em torno de uma só disciplina ofertada na última série: Fundamentos Teórico-Metodológicos de Supervisão Escolar, Administração Escolar e Orientação Educacional, além do estágio em tal área. A trajetória tratada torna clara a identificação do Curso com a formação das equipes de gestão educacional e, ao mesmo tempo, a crise identitária vivida. A reintrodução do estudo sobre o trabalho das equipes de gestão na última série certamente recolocou tal problemática, pois a junção das três disciplinas anteriormente ofertadas em separado (Pressupostos de Administração Escolar, Pressupostos de Orientação Educacional e Pressupostos de Supervisão Escolar) numa única disciplina voltada a formar o gestor, não garantiu, por si só, a superação do caráter fragmentário na formação do professor x gestor e da própria identidade deste gestor nos papeis de supervisor, orientador e diretor. Infere-se que o esforço para dar aos educadores uma formação com caráter de totalidade continuou a confrontar-se com dificuldades históricas, em especial a fragmentação. Um longo período de debates e novas diretrizes legais culminou com a reformulação de 2006. Nesta, a inserção, desde a 1ª série, das disciplinas de Didática e metodologias de ensino e de Gestão Educacional ao lado dos Fundamentos da Educação e demais campos de conhecimento, representou um avanço efetivo em direção a uma maior organicidade na proposta curricular, articulando já no início da formação as identidades de pesquisador, docente da educação infantil, dos anos iniciais do ensino fundamental e das disciplinas pedagógicas no ensino médio (magistério) e gestor. Também podem ser identificados ganhos na busca pela construção de relações teórico- práticas via ampliação do campo da prática educativa ao longo dos 4 anos do Curso na forma de seminários que envolveram também as áreas de seminário das disciplinas pedagógicas do ensino médio e de gestão educacional, constituindo um eixo investigativo cuja finalização se deu pela elaboração de trabalho do Trabalho de Conclusão de curso (uma inserção deste currículo). Processos de avaliação institucional levaram o Colegiado de Curso a propor, em 2012, a última reformulação curricular, cuja implantação ainda está em processo. Dentre as alterações feitas é possível destacar maior ênfase às metodologias de ensino, extinção da formação para o magistério de nível médio e desdobramento dos estágios, permitindo inserir, de forma separada, estágios na docência da educação infantil e anos iniciais e na XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1794ISSN 2177-336X 29 gestão em escolas de educação infantil ou de anos iniciais e em escolas de anos finais do ensino fundamental e/ou médio. No que tange à Gestão, o Curso de Pedagogia da UEPG tem, assim, sua formação estruturada, de forma mais específica, nas seguintes disciplinas: 1º ano – Gestão Educacional I 2º ano – Gestão Educacional II e Política Educacional 3º ano – Estágio Curricular Supervisionado na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental 4º ano - Estágio Curricular Supervisionado nos Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, Seminário de Docência e Gestão e Planejamento e Avaliação. Na medida em que, na proposta curricular, a formação em Gestão Educacional se apresenta de forma a articular em seu conjunto de disciplinas e ao lado da formação de docentes e do pesquisador, problematiza-se o papel do estágio no processo de constituição da identidade e dos conhecimentos em tal área. Ao ser implementado no 3º ano, buscou-se conferir ao estágio em gestão uma configuração crítica e reflexiva, pautada num movimento de problematização-teorização-práticas e produções de sínteses, conforme trataremos a seguir O estágio em gestão educacional O trabalho docente possui um caráter de permanente construção e exige capacidade analítica, crítica e de decisão propositiva, para além de uma atuação técnico- aplicadora. Considerando a formação de professores a partir desse pressuposto, recai sobre o estágio uma perspectiva de articulação teórico-prática a fim de que permita aos estudantes estagiários [...] desenvolverem postura e habilidades de pesquisador a partir das situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam. Esse estágio pressupõe outra abordagem diante do conhecimento, que passe a considera-lo não mais como verdade capaz de explicar toda e qualquer situação observada, o que tem conduzido estagiários a dizer o que os professores podem fazer. Supõe que se busque novo conhecimento na relação entre as explicações existentes e os dados novos que a realidade impõe e que são percebidos na postura investigativa. (PIMENTA; LIMA, 2012, p. 46). XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 1795ISSN 2177-336X 30 As dificuldades históricas enfrentadas na formação de professores e no Curso de Pedagogia, em especial no que tange à uma formação com caráter de organicidade e totalidade, superando o tradicional isolamento entre disciplinas e áreas, teoria e prática, universidade e escola, formação de professores e de profissionais da gestão escolar (SANTOS, 1999), impulsionou para que se organizasse o Estágio em Gestão Educacional numa proposta de caráter crítico e reflexivo. A mobilização para o sentido pedagógico do estágio se fez pelo estudo de seu papel no processo de desenvolvimento profissional dos estudantes, sensibilizando-os para o esforço teórico-prático implicado. Formulada uma concepção de estágio com os estudantes, estes organizaram-se em duplas e trios e definiram escolas para o início dos trabalhos. Os estágios tiveram início com a inserção em campo. O conhecimento da realidade - condição para os decorrentes planejamento e intervenção – tem a finalidade de viabilizar a construção de diagnósticos que apontem, em seguida, demandas para a intervenção dos estudantes. Há a tendência de que a aproximação do campo se faça de forma técnica, com diagnósticos formais de caracterização material ou factual e com definição de temáticas de trabalho pelas escolas restringindo-se a temas periféricos que limitam a possibilidade dos estudantes de problematizar, analisar e intervir propositivamente, “sem proceder a uma análise crítica fundamentada teoricamente e legitimada na realidade social em que o ensino se processa”. (PIMENTA; LIMA, 2012, p. 36). Tomando a realidade como ponto de partida da articulação teórico-prática a ser construída no decorrer do ano letivo, buscou-se desencadear o trabalho dos estudantes numa perspectiva de problematização. O escasso tempo letivo e de inserção nas escolas, assim como a necessária teorização e construção de sínteses frente ao real a ser problematizado, levaram à estruturação do estágio em torno de um tema comum para todas as equipes. A escolha,
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