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dificuldade para as mulheres negras terem seus direitos básicos respeitados

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Por que mulheres negras e pobres enfrentam dificuldades para terem seus direitos básicos respeitados no Brasil?
situação social
As mulheres negras representam o principal grupo em situação de pobreza. Somente 26.3% das mulheres negras viviam entre os não pobres, enquanto que 52.5% das mulheres
brancas e 52.8% dos homens brancos estavam na mesma condição (IPEA,2011). A maioria das mulheres negras reside nas regiões com menor acesso a água encanada, esgotamento sanitário e coleta regular de lixo. Por isso, estão mais expostas a fatores patogênicos ambientais e também àqueles fatores decorrentes de sobrecarga de tarefas de cuidado com o domicílio, o ambiente, com seus residentes e a comunidade, sob condições adversas
e sem anteparo de políticas públicas adequadas. E ainda, apresentam risco aumentado de acidentes domésticos, de trajeto e no ambiente de trabalho.
Outras informações demonstram que 53.6% das famílias chefiadas por mulheres no país são lideradas por mulheres negras (IPEA, 2013). Dessas, 63.4% das mulheres negras estão ocupadas no trabalho doméstico (IPEA, 2012), recebendo 86% dos rendimentos das mulheres brancas com a mesma ocupação. As mulheres negras são o principal grupo atuante no mercado informal: 26.5% das mulheres negras trabalhadoras atuavam no
mercado informal em 2012, chegando a 46.7% nas seis maiores Regiões Metropolitanas do país (IBGE, PME,agosto de 2012). Em relação ao desemprego, as mulheres negras apresentam as maiores taxas ao longo dos anos e das diferentes situações econômicas do país.
A VIOLÊNCIA NA VIDA DAS MULHERES NEGRAS BRASILEIRAS
No Brasil, os assassinatos de mulheres negras tiveram um aumento de 54.2% em 10 anos (2002-2013). No mesmo período, houve redução de 9.3% dos assassinatos de mulheres
brancas. No período 2011-2013, 16 mulheres morreram assassinadas por
dia, 488 por mês, 5.860 por ano. 45% eram mulheres jovens (10 a 29 anos).
As taxas de homicídios de mulheres 2 foram mais altas nas Regiões Centro-
-Oeste (7.81), Nordeste (7.31) e Norte (7. 26), entre estas, a maioria era
negra. As taxas das Regiões Sudeste (4.82) e Sul (4.26), foram também extremamente
altas. Em todas as Regiões, as mulheres negras foram as principais vítimas de assassinatos de mulheres, à exceção da Região Sul: 87% na Região Nordeste, 81% na Região Norte, 71% na Região Centro-Oeste, 55% na Região Sudeste e 18% na Região Sul.
A taxa de homicídios de mulheres negras em todo o país é 2.25 vezes mais alta do que a taxa de homicídios de mulheres brancas. Apesar de o Brasil ser signatário de Pactos Internacionais contra a violência contra as mulheres e de possuir legislação específica avançada, como a Lei 11.340 de 2006 (Lei Maria da Penha), além de políticas, programas
e redes de serviços voltados para o enfrentamento do grave problema , não existe qualquer mecanismo voltado para o enfrentamento ao racismo, seus impactos na produção da
violência contra as mulheres negras, e ao racismo institucional incorporado a estas ações.
Em 2015 o Brasil aprovou a Lei 13.104 sobre feminicídios, que destaca os assassinatos
de mulheres relacionados às desigualdades de gênero no país. No entanto, estas Leis e demais instrumentos relativos à violência contra mulher negligenciam as iniquidades
provocadas pelo racismo e a complexidade da violência enfrentada pelas mulheres negras.
MARIA JULIA COUTINHO
Em julho deste ano, uma foto de Maria Julia Coutinho, também conhecida como Maju, apresentadora do Jornal Nacional da TV Globo, principal programa de notícias da televi
são brasileira, foi alvo de dezenas de ofensas racistas. “Macaca”, “volta para a senzala”, “fundo de frigideira”, “tapete de mecânico” e “Estou vendendo essa escrava a R$ 200” foram alguns dos comentários - que geraram indignação entre internautas e colegas de emissora, que criaram a hashtag #SomosTodosMajuCoutinho em defesa da jornalista.
Esse fato gerou a Campanha “Racismo Virtual. As consequências são reais, produzida pela ONG Criola (www.racismovirtual.com.br).
Os ataques a mulheres negras notórias atuantes na televisão brasileira atingiram várias atrizes vinculadas ao mesmo canal de televisão. Nestes casos, o empenho da polícia levou a prisão de um grupo organizado voltado para a produção de ataques racistas na internet e também a pedofilia. No caso das mulheres negras comuns, não ligadas ao mundo
artístico, tal atuação da polícia não se repetiu.
FONTE: http://fopir.org.br/wp-content/uploads/2017/01/Dossie-Mulheres-Negras-.pdf 
Como os conceitos de gênero e raça ajudam a explicar a pouca representatividade dessa parcela da população?
A desigualdade de gênero é um problema antigo na sociedade e até hoje há quem acredite que as mulheres são inferiores aos homens e que seu único papel na sociedade é o de cuidar da casa e dos filhos. Uma pesquisa divulgada agora em março pela Ipsos mostrou que, em média, 18% das pessoas no mundo acreditam na inferioridade feminina.
Para mudar esse tipo de visão, surgiu o feminismo, que defende que as mulheres são iguais aos homens, capazes de exercer as mesmas funções que eles, assim como eles são capazes de exercer as mesmas funções que elas, como os trabalhos domésticos, por exemplo.
O erro mais comum é classificar o feminismo como uma ação que tem o ideal de que as mulheres são melhores que os homens. Os movimentos feministas falam de igualdade e não de superioridade de um ou de outro gênero.
“Essa visão social dos papéis estruturantes do feminino e do masculino traz algo fundamental para a reação negativa das pessoas, principalmente dos homens. É um privilégio ser homem no Brasil e a maioria deles reage de forma não amigável ao feminismo”, disse Jacira Mello, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão.
Diferença salarial
Na busca pelo empoderamento e independência da mulher, a percepção da desigualdade começou a se tornar mais presente na vida da população. A cada geração, o conceito de ‘mulher submissa’ do século passado está se esvaindo, o que permite que as mulheres lutem e conquistem seu espaço na sociedade.
“A percepção da desigualdade de gênero no Brasil é algo recente, mas já consolidado na sociedade. Cada geração de mulheres jovens tem uma maior consciência dessa desigualdade nas relações pessoais, no trabalho, em escolas e universidades”, afirma Jacira.
De acordo com a Comissão Econômica das Nações Unidas (CEPAL), as mulheres podem ganhar até cerca de 30% menos que os homens no mercado de trabalho estando em condições semelhantes, ou seja, realizando as mesmas funções.
Além de ganhar menos, a mulher ainda enfrenta a dupla jornada de trabalho, que se estende ao voltar para a casa e realizar as tarefas domésticas. Injusto? Sim.
Jacira Mello também falou que as pessoas até entendem racionalmente essa diferença de gênero, mas que o conceito de família “normal” onde o homem trabalha e a mulher faz as tarefas domésticas é tão forte e enraizado no dia a dia que as pessoas deixam de refletir sobre o assunto quando mais precisam.
Essa diferença se torna ainda maior quando se trata de mulheres negras.
Duplo preconceito
Ser mulher negra é algo que aflige parte da população. Elas normalmente são discriminadas tanto por serem mulheres, quanto por serem negras; além de serem estereotipadas de mulheres pobres, que geralmente trabalham como empregadas domésticas.
“As mulheres negras além de sofrerem com o machismo sofrem com o racismo. Essa dupla pressão coloca as mulheres negras numa situação muito maior de vulnerabilidade social”, afirma Djamila Ribeiro, pesquisadora da área de filosofia política e feminista.
Esses estereótipos da sociedade fazem parte do processo cultural. Desde a abolição da escravatura, os negros não tiveram o auxilio necessário para reinserção na vida social, com oportunidades iguais às dos brancos. Consequentemente, essa falta de socialização tornou os negros vítimas de racismos e injúrias raciais. E, claro, a mulher negra é a que mais sofre.
“O racismo é algo muito perverso, porque nem sempre ele é declarado, e as mulheres negras sãotratadas de forma diferente. Não importa o nível cultural ou social que ela tenha, o racismo continua”, disse a advogada e presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP, Carmen Dora.
Fonte: https://observatorio3setor.org.br/carrossel/mulher-no-brasil-luta-pela-igualdade-de-genero-e-raca/

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