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Fichamento - Ciro Flamarion: Palácios, templos e aldeias: o "modo de produção asiático".

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Palácios, templos e aldeias: o "modo de produção asiático" 
 FICHAMENTO 
 
Sávio Soares Câmara Castilho 
Curso de Licenciatura em História – Centro Universitário São José 
283XX-XXX – Itaperuna – RJ – Brasil 
castsavio@gmail.com 
 
Até o século XIX os escritores europeus produziam seus textos com o pensamento 
envolvendo o social daquela época. Manifestavam seus interesses prioritariamente aos 
aspectos políticos. “A idéia de que a política não passa de uma parte do todo social, do qual 
só aparentemente é o princípio condutor, não começou a se desenvolver antes do século 
XIX”. [SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 5-6]. Até o século XVII as 
informações não eram muito precisas, porém após esse período, as publicações de escritores 
multiplicaram-se devido aos viajantes, mercadores, navegantes etc que iam atrás de “ganho 
mercantil, de vantagens comerciais para si próprios ou para os países que os enviavam.” 
[SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 6]. Foi no século XIX que as 
sociedades da Ásia puderam ser vistas em sua heterogeneidade e vistas como objeto de 
estudo em si mesmas. Naquela época devido às questões pertinentes da Europa, os 
pensadores tentavam entendê-las e respondê-las de forma que o Estado oriental fosse 
antítese da monarquia européia. Para Machiavelli, o Império Turco tinha apenas um único 
senhor que tinha todos os outros homens como seus servidores e após algum tempo sua 
ideia foi retomada por Francis Bacon. Já Bodin, fez uma comparação da monarquia real 
européia com a monarquia senhorial do Oriente com as diferenças de que em um os súditos 
deviam obedecer às leis do rei e às leis naturais e noutro o senhor “governava seus súditos 
como um chefe de família romano governava seus escravos.” [SOCIEDADES DO ANTIGO 
ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 7]. Já em 1650 surgiu um termo chamado de “reino despótico” 
que era uma influência grega, tal termo foi criado por Thomas Hobbes que havia se espelhado 
nas ideias de Bodin. Ao entrarem em contato com os europeus, eles notaram uma enorme 
diferença entre a riqueza e a pobreza que confirmava a visão de Machiavelli e Bacon em 
torno da falta de mediações sociais. No século XVIII a China faz sua aparição com meio 
intelectual dividindo a oposição em sinófilos e sinófobos. Montesquieu considerava 
despotismo como uma das formas fundamentais de governo, dizendo “todos os súditos são 
“nada” diante do governante todo-poderoso. Uma sociedade despótica carece de leis políticas 
fundamentais e de comércio; nos casos extremos, o déspota monopoliza a propriedade da 
terra.” [SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 8]. Voltaire entrava no 
perfil dos sinófilos e por sua vez via a China como o país de reis filósofos fazendo duras 
críticas a Montesquieu. Os sinófolos foram os primeiros a perceberem a economia como uma 
totalidade coerente. Ainda no século XVIII surgiu Adam Smith que afirmava que a agricultura 
e não a manufatura era altamente considerada e favorecida na China e na Índia. “O estado - 
proprietário de todo o solo - interessava-se em promover a agricultura, manter os caminhos e 
os canais de irrigação.” [SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 9]. 
Em meados do século XIX houveram diversos estudos das sociedades orientais a partir de 
suas unidades aldeãs e suas instituições que dividiam esse estudo em duas vertentes. Uma 
em que acreditava-se na “unidade institucional indo-européia” e a outra se reconhecia ou não 
as famílias com direito de usufruto a propriedade coletiva sobre o solo. Entre 1857 e 1859 
houve um manuscrito chamado Grundrisse feito por Marx que abordava o processo da 
separação do trabalhador com relação às condições da produção e da sua vida baseada na 
comunidade oriental. Ele explica que por mais que uma comunidade trabalhe em uma 
propriedade, ela não viria a ser dona daquele solo, visto que uma parte era destinada a quem 
tinha os direitos sobre aquele território que se apresentava como único proprietário do solo - o 
déspota. Ali também dentro daquele pragmático sistema não existia o intercâmbio mercantil, 
apenas trocas entre as comunidades. “Em 1859, no prefácio à sua Contribuição à crítica da 
economia política, Marx afirmou que, de maneira geral, os modos de produção asiático, 
antigo, feudal e burguês moderno podem ser encarados como épocas que marcam 
sucessivos progressos ao desenvolvimento econômico da sociedade.” [SOCIEDADES DO 
ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 14]. Em O capital, obra de Marx, nos Estados da 
Ásia, dá-se uma consciência entre renda e tributo e já nas sociedades asiáticas a extorsão do 
trabalho só se daria pela utilização de pressão militar, mecanismos judiciais, ideologia etc. Já 
Engels que possuía um papel bem menor que o de Marx no modo de produção asiático, 
afirmou que o despotismo oriental era a forma mais primitiva do Estado por basear a renda 
em trabalho. Em 1931 “concluíram pela inexistência de um modo de produção asiático 
específico, havendo apenas uma “variante asiática” do escravismo ou do feudalismo” 
[SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 17]. Seus defensores como 
Riazanov e Madiar desapareceram na repressão nos anos de 1930 e seu conceito foi quase 
que abandonado por várias décadas. Wittfogel diz que para o surgimento de uma sociedade 
hidráulica tornar-se possível é preciso adotar alguns requisitos que são eles: “1. A reação do 
grupo humano diante de uma paisagem deficitária em água. 2. Tal grupo tem de estar acima 
do nível de uma estrita economia de subsistência. 3. O grupo deve estar distante da influência 
de centros importantes da agricultura de chuva. 4. O nível do grupo precisa ser inferior ao de 
uma cultura industrial baseada na propriedade privada.” [SOCIEDADES DO ANTIGO 
ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 18]. Pois o trabalho realizado precisa ser coordenado, 
disciplinado e dirigido impondo subordinação à autoridade reguladora de um Estado forte e 
eficaz. Para Wittfogel se as possibilidades de desenvolvimento e mudanças no modelo da 
sociedade hidráulica fossem esgotadas, haveria uma repetição estereotipada chamada de 
epigonismo ou até mesmo decadência. “O seu ciclo completo seria: formação, crescimento, 
maturidade, estagnação, epigonismo e retrocesso institucional. “[SOCIEDADES DO ANTIGO 
ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 19]. Com suas ideias, ele teve diversos seguidores em 
destaque a A. Palerm que procurava provar aquilo que Wittfogel havia dito, mas que durante 
suas pesquisas acabou provando o contrário, que o Estado apenas desenvolveu uma política 
de grandes obras públicas do tipo hidráulico muito tempo depois. A bibliografia sobre o modo 
de produção asiático foi vasto e com isso deu oportunidade a ativa troca de ideias entre os 
pensadores. Uns ficaram contra, concluindo pela inexistência desse modo como forma 
específica da sociedade e outros salientaram a importância desse conceito numa visão 
multilinear do desenvolvimento das sociedades humanas. Goblot, foialém e ficou contra as 
duas perspectivas. Para ele a evolução da sociedade não é linear, mas também não é 
multilinear, mas sim que cada uma possui uma continuidade temporal regida por diferentes 
processos evolutivos numa unidade superior. Antes do surgimento do modelo de produção 
asiático, houve, segundo o Liverani, um modo de produção doméstico e o modo de produção 
palatino. “O primeiro seria uma estruturação social cuja origem remonta à “revolução neolítica” 
[...] O modo de produção palatino, por sua vez, resulta da “revolução urbana”. [SOCIEDADES 
DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 24]. No primeiro modo, havia uma ausência de 
uma diferenciação em classes sociais, propriedade comunitária sobre a terra. No segundo 
modo, a economia passava por uma transformação e redistribuição dos excedentes extraídos 
por meio de coação fiscal, tributos, corveias e trabalhos forçados por tempo limitado. 
Zaccagnini diz que graças a esses modelos que é possível constituir o modo de produção 
asiático ou tributário. É possível dizer que a transição de aldeias indiferenciadas à situação 
de desigualdade e domínio para um modelo de produção asiático se deu pelo controle das 
famílias mais ricas e pelo comércio intracomunitário. Quem tivesse posições mais vantajosas 
iriam querer garantir elas para seus filhos e com o tempo foi estabelecendo a diferença entre 
os que trabalham e os que dirigem o trabalho alheio. “Quando as mudanças desembocam 
plenamente na urbanização e na organização estatal, três setores sociais básicos são 
perceptíveis: 1. A imensa maioria da população dedica-se às atividades agropecuárias, 
consumindo diretamente parte do que produz e entregando o resto ao poder central; tal 
população não participa das decisões comuns. 2. Um grupo muito minoritário se ocupa com 
atividades artesanais, de troca, de administração, religiosas; é mantido pela redistribuição dos 
excedentes extraídos das aldeias, e não participa das decisões comuns. 3. Um grupo ínfimo 
organiza o trabalho das comunidades, pelas quais é sustentado, e decide por todos; este 
poder de decisão tende a personalizar-se, a ter como expoente uma só pessoa.” 
[SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, 2005, p. 27]. Com o modo palatino, o 
governante supremo ficava situado em um plano diferente. Ele, sendo rei ou governante, era 
garantidor da justiça e da fertilidade da terra e dos rebanhos. Quando a aldeia entrava no 
sistema palatino, ele já não era mais uma aldeia autônoma do Neolítico. Pois sendo, havia 
uma tentativa de difundir em que todos do mais pobre ao melhor funcionário eram servos do 
monarca, que estava ali por direito divino, sendo senhor das suas vidas e dispensador da 
abundância.

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